Oitava edição Vírus Planetário

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porque neutro nem sabonete, nem a Suíça edição nº 8 outubro/novembro de 2010

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Eleições são democráticas Num país em que não haja compra de voto, o Supremo tribunal federal respeite a lei ficha-limpa e mídia tenha participação popular

“Proponho um plebiscito democrático”

Afirmou Marina Silva para se decidir sobre o aborto, o casamento homossexual, a roupa que vestirá em locais públicos, se prefere viajar pro campo ou pra praia e se apoia serra ou dilma no segundo turno

Exclusivo! Descobertas ligações secretas entre Joaquim Roriz, Marcelo Itagiba e Gilmar Mendes! (pág.18)

Eleições 2010 • As caras por trás dos sorrisos, • O segundo turno com a ofensiva tucana • Entrevista Inclusiva com candidatos da esquerda

Limite da terra

Entenda como o latifúndio tomou conta do Brasil

Que fim de guerra é esse?

O legado americano no Iraque após sete anos de invasão


Cuidado! Por Maurício Machado No Rio e em outras grandes cidades brasileiras, motoristas de microônibus acumulam função de cobradores. São os chamados motoristas jr, que por dirigirem um ônibus “menor” recebem um salário menor do que o motorista “normal”, apesar de terem dupla função!

Se, segundo o código de trânsito brasileiro, é proibido dirigir e falar ao celular, imagine dirigir e contar dinheiro! É pra

você.

Todos sabem como essa “economia de mão-de-obra pode acabar...

Anda logo Motorista!

ô, molenga! Tô atrasado, pô!

Que tragédia!

Isso mesmo: tragédia! E você, Sr. Dono de empresa de ônibus, não tem medo de que isso aconteça?

Claro que tenho!

*No Rio de Janeiro, muitos candidatos a deputado receberam doações da Fetranspor, empresa concessionária que administra os ônibus no estado. Como enfrentar esses desmandos com os políticos comprometidos até o pescoço com os interesses dessas empresas?

O motorista, coitado, se parar o ônibus toda vez que for fazer troco, vai levar horas pra chegar ao seu destino.

É por isso que eu passo

bem longe das rotas dos meus

Afinal, o que é a Vírus Planetário?

microônibus.

Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principalmente o nome. Então, fazemos essa explicação massante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário: “Há 400 mil anos, nos tornamos Homo Sapiens. Desde então, nos diferenciamos uns dos outros. Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade.” Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos voz a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opressão. A mídia de grande porte só reproduz a lógica do

individualismo transmitindo preconceitos contra os mais pobres escondidos sob uma falsa imparcialidade. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano. A sociedade capitalista é o vírus do homem, que, com essa metalidade, se torna um vírus planetário autodestrutivo. Mesmo assim, acreditamos que com mobilização social, um mundo em que haja felicidade para todos e todas é possível.


Sumário

Editorial Na Raiz É muito comum, quando se tenta desqualificar a fala de alguém, afirmar “Você é muito radical!”, como se a proposta fosse absurda - mas sem se debater efetivamente o tema. O significado original da palavra ‘radical’ quer dizer raiz, que enquanto argumento nada mais é do que propor uma mudança nos pontos geradores da dominação e da miséria. E não algumas melhorias superficiais de uma realidade social, à moda da maquiagem e do glitter, enquanto em seu subsolo não-televisionado, há não só a opressão do povo pobre como também o violento homicídio dos direitos dos ‘diferentes’ numa prevalência fascista. Segundo dados da consultoria Economática, levantados a pedido do jornal O Globo, o lucro líquido dos três maiores bancos do país - Banco do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco somou R$ 167,471 bilhões desde o começo do Governo Lula, contra R$ 32,262 bilhões no governo anterior (incluindo correção pelo IPCA). Mesmo tendo o governo petista diminuído a pobreza com mais eficiência que o tucano, esse avanço é marginal em relação à extensão da lógica capitalista no Brasil – segundo o Banco Internacional de Desenvolvimento, podemos chegar a 2050 como a quarta economia do mundo. Porém, considerando o âmbito mundial, mantêm-se como constante um terço da população vivendo na miséria e mais um terço na pobreza. Para uma mudança efetiva nessa lógica, é necessário repensar as formas de desenvolvimento da sociedade. Trazemos nessa oitava edição, três Entrevistas Inclusivas com candidatos a presidentes da esquerda: Zé Maria (PSTU), Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) e Ivan Pinheiro (PCB). Apesar da baixa votação que tiveram no dia 3 de outubro, propõem a luta pela mudança social permanente, discutem os rumos da esquerda e desmistificam a ideia de que ser radical é ser irresponsável ou infantil. Independentemente de partido político, é necessário plantar sonhos de uma nova humanidade em que haja justiça social, fraternidade entre os povos e liberdade. Falando em sementes e raiz, nossa reportagem principal é sobre a questão agrária no Brasil e a campanha pelo limite da propriedade de terra organizada pelos movimentos sociais. Ainda trazemos reportagens e análises sobre a guerra do Iraque, o sistema educacional em São Paulo e os resultados das eleições. Em tempo: quando não há possibilidade de, nos jardins inférteis da precária democracia plantarmos nossa semente de esperança, é preferível escolher a jardineira do que a moto-Serra. Uma bula cultural recheada de recomendações, Passatempos virais, o Sensacional repórter sensacionalista, tudo isso e muito mais nessa 8ª edição.

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Post do mês_Entre urnas e #hashtags

5 Cá entre nós...Depois do fogo, as cinzas 6 Mundo_O legado americano no Iraque 8

Bula Cultural_ Recomendações médico-artísticas

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Colunista da Vez_ Leonardo Sakamoto

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Eleições 2010_Um perfil

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Brasília_Bastidores da produção de alimentos

16 O que pensa a grande imprensa?!_Irã 17 Sórdidos Detalhes_notinhas quentes! 18 Passatemos Virais 19 O sensacional repórter sensacionalista 20 Entrevista Inclusiva_A esquerda nas eleições: Zé Maria, Plínio Sampaio e Ivan Pinheiro

24 Eleições 2010_Dois pra lá, dois pra cá 26 Brasil_O latifúndio e o agronegócio num país dividido por capitanias hereditárias

30 Garoando na Vírus_ Educação maquiada 31 O sensacional repórter sensacionalista 2

EQUIPE:

*Essa edição é em homengem a Zender Lopes, fã e leitora

Editores: Caio Amorim, Mariana Gomes, Seiji Nomura, Júlia Bertolini, Artur Romeu e Maria Luiza Valois Redação: Rio de Janeiro - Artur Romeu, Caio Amorim, Flávia Villa Verde, Júlia Bertolini, Maria Luiza Valois, Mariana Gomes, Mariana Reis, Seiji Nomura | Brasília - Elis Tanajura| São Paulo - Giovanna Arruda Diagramação: Caio Amorim e Mariana Gomes Ilustrações: Clóvis Lima (capa), Carlos Latuff, Diego Novaes e Maurício Machado Site: Artur Romeu, Maria Luiza Valois e Thiago Vilela Colaborações: Leandro Uchoas, Leonardo Sakamoto e Rodrigo Rodriguez

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post do mês

Entre urnas e #hashtags A mobilização para o plebiscito que decidiu pelo fim dos cursos pagos e por uma UFF 100% gratuita Por Mariana Reis e Mariana Gomes Entre os dias 30 de agosto e 3 de setembro, a Universidade Federal Fluminense (UFF) passou por um momento marcante na sua história política:: a realização de um plebiscito, que fez parte do processo estatuinte da universidade, teve voto universal e decidiu sobre a gratuidade na instituição. Muitos alunos, professores e técnicos administrativos se perguntaram qual era a razão do plebiscito, já que a UFF é uma instituição federal, pública e gratuita.Mas a situação é um pouco mais complicada. Atualmente, a UFF abriga mais de 150 cursos de pós graduação pagos: que utilizam espaço e recursos da universidade, professores concursados,muitos de dedicação exclusiva, e cobram mensalidades que podem chegar até 1.500 reais. Além da cobrança, esses cursos vêm se mostrando um foco de corrupção: não há presta-

ção de contas – motivo pelo qual a universidade vem sendo investigada pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas da União – e são administrados pela FEC, que é uma fundação de apoio que não precisa fazer licitações nem prestar contas de como gerencia o seu dinheiro.

No Brasil, as mobilizações divulgadas A permanência ou não dos cursos pagos fez parte da reformulação do Estatuto da universidade, processo que já se prolonga há 12 anos. Depois deste longo O assunto não chegou aos período de divergências, foi TTs, mas ganhou a universidade decidido levar a comunidade com a hashtag #uffgratuita.” acadêmica a questão, através do voto direto. A decisão era entre duas propostas de texto, um elaborado pela Comissão via twitter não tem histórico muito positivo. Estatuinte que previa a gratuidade do enO movimento #forasarney, por exemplo, sino em todos os níveis e sob responsabipassou dias e mais dias entre os assuntos lidade da União; e outro apresentado pela mais falados da rede. Em alta nos TrenComissão de Sistematização do Conselho ding Topics, em baixa nas ruas, esse foi o Universitário, que garantia a gratuidade resultado. Algumas das manifestações do apenas para os cursos de graduação e movimento Fora Sarney, nem chegaram a pós graduação scrito sensu, excluindo, acontecer, outras, contaram com cerca de dessa forma, os cursos lato sensu. O ple40, 50 pessoas. Triste, não? biscito movimentou a universidade: muitos estudantes, professores e servidores Mas esse não foi o caso do plebisciusaram adesivos pela gratuidade com o to da UFF. Com a hashtag #uffgratuita, a porquinho rosa, que se tornou o mascote campanha ganhou os estudantes interda campanha, e colaboraram divulgando nautas, que divulgavam e retuitavam a através de redes sociais como o twitter. todo momento notícias sobre a campanha

O twitter tem se mostrado uma importante ferramenta de mobilização desde o ano passado. No plano macro, a principal demonstração da capacidade de aglutinação do site, as denúncias de fraude nas eleições iranianas chegaram ao mundo todo através da hashtag #iranelection. No período, a imprensa do Irã vinha sofrendo censura por parte do governo do país, o que dificultava ainda mais a mobilização popular. Embora não tenha tido êxito polí-

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tico, os iranianos deixaram um legado do uso exemplar das redes sociais com o objetivo de driblar a censura, no caso deles. No caso brasileiro, a maior censura a ser driblada, é a da grande mídia. A lição deixada pelos militantes do Irã é: a internet é impossível de ser censurada.

e convites, chamando cada estudante às urnas. O resultado não poderia ser outro: o pleito teve um total de 13.248 votos válidos,mais que a última eleição para reitor da mesma universidade,, a apuração das urnas, que aconteceu durante todo o dia 4 de setembro na quadra da Faculdade de Direito, apenas comprovou o que clima já indicava. Com 86,7% dos votos no Sim, a comunidade acadêmica decidiu por uma UFF 100% gratuita.


cá entre nós...

Por Seiji Nomura

Incêndio em Camelódromo da Central do Brasil nos ajuda a ver como funciona o progresso em um Brasil de ‘primeiro mundo’.

Reprodução

Depois do fogo, as cinzas

Segundo o presidente da Associação de Comércio Alternativo da Central do Brasil (ACACD) Everardo Rocha, os bombeiros foram chamados no começo do incêndio e só duas horas depois chegaram, apesar de serem praticamente vizinhos da Central. “E quando vieram, foi sem água no caminhão”, ressaltou Rogério, um dos responsáveis pela manutenção do Centro Comercial Popular. “Também não tinha água nos hidrantes, ficaram muito tempo sem fazer nada. Um absurdo!”, continuou.

Não era apenas a madeira das lojas e as milhares de presilhas made in china que pegavam fogo naquela tarde de 26 de abril. Era o sonho da filha de Neide de se tornar enfermeira e a garantia que seu Roberto tinha de uma velhice tranqüila. Era o começo da morte de um lugar de encontros, um camelódromo no coração da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, onde conviviam quase dois mil camelôs e passavam dezenas de milhares de pessoas por dia. Amplamente noticiado pelos jornais, o incêndio devastou metade do camelódromo. O Globo logo assinalou, “Depois do incêndio, ordem na central”. Dois dias após o incêndio, os principais jornais cariocas publicaram matérias sobre um projeto da Companhia de Desenvolvimento Rodoviário e Terminais do Estado do Rio de Janeiro (Coderte) expandindo o Terminal Rodoviário Américo Fontenelle, essencial para as Olimpíadas 2016 por causa dos corredores expressos para o uso de ônibus articulados (os BrTs).

usando o incêndio”, lembrou o especialista. “Isso foi apenas uma das ilegalidades. A juíza responsável não pode ordenar a demolição do camelódromo sem o fim do processo”, continuou ele. “O contrato da Coderte apresentava condições exploratórias para o uso do espaço, que era vazio no começo do Centro Comercial – tudo o que os camelôs construíram pertence à companhia, segundo ele”, lamentou o advogado. “Esse tipo de contrato é proibido por lei”.

Ainda não está decidido o destino dos camelôs. Por enquanto, a deles se espreme em barPor enquanto, os camelôs se maioria racas montadas em torno das cinespremem nas cinzas.” zas do antigo camelódromo, onde tentam recuperar parte do prejuízo. Volta e meia surgem promessas de um novo camelódromo, mas há uma senO comandante do Quartel Central do sação de desesperança quanto à atuação Corpo de Bombeiros, Roberto Sobral, do governo para resolver o caso. contestou essa versão. “Viemos assim que foi possível, pois estávamos atendenObservando o projeto da expansão da do outras regiões. Como o camelódromo rodoviária, podemos ver que a tendência é, em grande parte, feito de madeira, as é que os escombros do camelódromo se chamas se espalham rápido. O trabalho tornem praticamente um Shopping Center. foi o melhor que poderia ser feito”, inforNão haverá espaço para os quase dois mil mou. Ainda segundo o comandante, para trabalhadores do camelódromo, mas sim combater o incêndio seriam necessários para um gigantesco estacionamento. Pouseis ou sete caminhões – um número bem co a pouco, através de supostos ‘projetos diferente dos dois veículos presentes no de revitalização’, se estabelece uma espéinício do incêndio. cie de ‘progresso’ no Rio de Janeiro que

O episódio lembra os incêndios de ‘queima de arquivo’ ou os promovidos secretamente pelo governo Lacerda e na ditadura militar em favelas como a do Pasmado (apesar dos livros de história que li não darem certeza sobre o caso, conheci um militar que participou de alguns desses crimes). Não está aqui se acusando os governos de atear fogo ao camelódromo, mas certas características da atuação do Estado constituem, no mínimo, negligência.

O advogado dos camelôs, Venceslau Peres, observou que, inicialmente, havia um processo da Coderte para despejo devido a uma dívida dos camelôs pelo aluguel do espaço. “A dívida foi paga, mas o processo serviu para retirar os camelôs

exclui os mais pobres e maquia os problemas da cidade, em favor de interesses comerciais, sobretudo na área de turismo. Que cidade nós queremos? Uma que seja feita para os moradores ou um parque de diversões para gringo ver?

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mundo

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Que fi f im de guerra e esse?

Por Rodrigo Rodriguez-Arnaiz

No dia 31 de agosto de 2010, o presidente norte americano Barack Obama sentou-se no Salão Oval da Casa Branca e declarou o fim oficial da Guerra do Iraque, iniciada em 2003 por seu antecessor George W. Bush. A penúltima etapa do Acordo de Status das Forças entre Estados Unidos e Iraque (SOFA, na sigla em inglês) acabava de ser cumprida. Assinado em 2008, o acordo que legitimou a presença de tropas estrangeiras no país, também estabeleceu um cronograma para a retirada gradual das forças de ocupação. O atual estágio do tratado determina a retirada das tropas de combate, mas prevê a permanência de quase 50 mil soldados norte americanos para treinar e apoiar as forças iraquianas, proteger os projetos de reconstrução e conduzir pequenas operações de antiterrorismo. A guerra que começou com uma mentira não poderia acabar de outra forma: o “fim da guerra” é apenas o último retoque de maquiagem na ocupação militar do Iraque. Sai a “Operação Liberdade Iraquiana”, entra a “Operação Novo Amanhecer”, e assim as “tropas de combate” viram “pequenas operações anti terrorismo”. Mas o que ninguém consegue esconder é que em 7 anos de invasão, mais de 100 mil civis ira-

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quianos morreram, 5 milhões ficaram desalojados, 30 mil foram detidos, 3 milhões sofrem de alguma forma de incapacidade física ou mental, cerca de 35% da população está desempregada, 25% não tem acesso a água potável, e várias cidades só tem seis horas de eletricidade por dia. Do lado dos EUA, os dados incluem 4,4 mil soldados mortos, aproximadamente 694 bilhões de dólares gastos até 2009, nenhuma arma de destruição em massa encontrada e um Estado iraquiano dividido, cujo governo é um dos mais corruptos do mundo. Os quase 50 mil soldados norte americanos que ficarão no Iraque terão que conviver com 170 mil funcionários de empresas de segurança particular que abundam no país. Pois as forças ocupantes não acharam armas de destruição em massa, mas encontraram medo e insegurança, e uma oportunidade única para a indústria militar privada florescer.

Os mercenários É quase uma lei de Física no Iraque. Quando o número de soldados diminui, o número de mercenários aumenta. Eles preferem ser chamados de “managers de risco”, “assistentes de segurança” ou

Reprodução

Após sete anos de invasão , legado americano no Iraque é desolador.

simplesmente de “soldados particulares”: são os empregados das mais de 150 companhias militares privadas presentes em território iraquiano. Essas empresas se encarregam de proteger edifícios e infra-estrutura, prestam serviços de guarda-costas, patrulham certas áreas e até gerenciam prisões. Desde que Obama anunciou a retirada das tropas, em 2009, a indústria de segurança cresceu em 25%. O jornalista Jeremy Scahill investigou uma das principais empresas do setor, conhecida por protagonizar uma chacina na praça Nisour em Bagdá. A Blackwater, fundada em 1997, possui um exército particular com mais de 20 mil homens ao redor do mundo, 20 aviões de combate e um aeroporto próprio perto da capital do Iraque. Seu conjunto de mercenários é composto por militares oriundos e treinados em países com histórico de violência como Chile, El Salvador e África do Sul. “Estes sujeitos ficam soltos naquele país e fazem coisas estúpidas. Não há autoridade sobre eles, e portanto não se pode repreendê-los quando se excedem no uso da força”, explica o coronel brigadeiro dos Estados Unidos, Thomas X Hammes, no livro “Blackwater”.


Desde que Obama anunciou a retirada das tropas, a indústria da segurança cresceu 25%”

O bom desempenho do setor de segurança mascarou o fracasso, até o momento, da tentativa de controle da indústria petrolífera local. Muitos consideram a guerra do Iraque como uma luta pelo domínio dos recursos energéticos. A existência de relatórios do grupo de estudo de energias do vice-presidente de Bush, Dick Cheney, alimentavam essa tese, mas o fato é que as empresas petrolíferas americanas e europeias não conseguiram o que queriam. As empresas estrangeiras enfrentam a resistência dos técnicos especializados e dos operários iraquianos, insatisfeitos com perda de seus empregos, e não conseguem usar a tecnologia petrolífera nacional. A primeira licitação de campos de petróleo após a invasão, realizada em 2009, não tinha condições vantajosas para os grupos estrangeiros, já que o controle da produção e uma alta porcentagem do lucro ficariam com o governo iraquiano. Venceram a disputa estatais petrolíferas de países como China, Rússia, Japão e Noruega. Do grupo de empresas tradicionais do setor, apenas Shell e Exxon conseguiram uma participação na exploração desses campos.

As consequências tóxicas da guerra Armas com urânio empobrecido, bombas com fósforo branco e resíduos tóxicos pesados: eis as verdadeiras armas químicas encontradas no Iraque, todas pertencentes aos Estados Unidos. O urânio empobrecido, por exemplo, que é amplamente usado pelo exército americano devido a sua alta densidade, libera pe-

quenas partículas radioativas. Após sete anos de combate constante, é natural encontrar um nível de radiação elevado em cidades como Fallujah, onde o legado de resíduo tóxico está concentrado (cerca de 25% dos focos de contaminação estão em Fallujah e Basra). O lixo tóxico militar é um assunto pouco debatido, mas as jovens mulheres iraquianas sofrem as conseqüências desse desastre ambiental. Em 2009, diversos relatórios médicos apontaram para um aumento significativo do número de crianças que nascem com deformidades. O repertório de doenças congênitas é amplo e assustador: bebês de 3 cabeças e crianças com apenas 1 olho, além de tumores múltiplos, escamas, colunas expostas e doenças no sistema nervoso. As deformações grotescas que atingem uma parcela dos recém nascidos da cidade são um fenômeno pós 2003, que só pode ser explicado pela contaminação e radiação provenientes do uso de armas tóxicas.

Uma guerra sem fim “O objetivo é ter um sócio dos Estados Unidos no Oriente Médio a longo prazo”, declarou o general Raymond Odierno, Comandante das forças Americanas em solo iraquiano, reconhecido por ser um dos artífices da captura de Saddam Hussein em 2004. O cenário político atual do Iraque, paralisado desde as eleições parlamentares em fevereiro de 2010, parece ser um problema para o sucesso da missão de Odierno. O grupo de base sunita ficou com 91 cadeiras, enquanto a coligação de base

xiita ficou com 89, números insuficientes para atingir os 163 votos necessários para eleição do chefe de governo. Iyad Allawi e Nouri Al-Maliki, respectivamente antigo e atual primeiro ministro iraquianos, disputam o posto. Negociações intermináveis aconteceram e os pequenos partidos viraram elementos determinantes na política local. O país está dividido e setorizado por etnias, e Al-Maliki, eleito para o cargo de primeiro-ministro em 2006, continuará no cargo até o fim de 2010. Apesar de os sunitas terem se recusado a votar nas primeiras eleições após a invasão, desta vez 63% da população compareceu às urnas em 2010. Seria uma vitória do processo democrático se o país não tivesse sido tão dividido pelo conflito. Os Estados Unidos não conseguem conciliar os diferentes grupos rivais e ainda têm que lidar com um governo iraquiano considerado o quinto mais corrupto do mundo, de acordo com a ONG Transparência Internacional. Em um país que valoriza a cultura do vencedor, o fracasso em missões militares nunca é bem visto. Por isso, o governo grita vitória mesmo quando 72% da população norte americana considera que a guerra do Iraque não valeu a pena. Ao declarar o fim da guerra Obama se juntou a George W.Bush no hall de discursos de fachada. Em maio de 2003, a bordo do porta aviões Abraham Lincoln, Bush tinha proferido as seguintes palavras: “Missão cumprida”. Não importa se os objetivos eram eliminar as armas de destruição em massa, controlar o petróleo ou democratizar um Estado no Oriente Médio, a única missão cumprida no Iraque foi a destruição.

Tropas combatde e Ilustração: Carlos Latuff

Tropas de pacificação

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Bula cultural

algumas recomendações médico-artísticas

5x Favela,

5x Humano, 5x Carioca

O filme que conquistou Cannes, Paulínia e até a Barra!

O longa, que é um remake de “5x favela”, feito no anos 60 por Cacá Diegues, Leon Hirszman, Joaquim Pedro de Andrade, Marcos Farias e Miguel Borges, membros ativos do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, o CPC da UNE. Desta vez, o filme foi dirigido por cinco moradores de favelas e bairros pobres do Rio de Janeiro e produzido por Cacá Diegues e Renata Magalhães. O resultado foi uma seleção para a mostra não competitiva do Festival de Cannes, onde foi ovacionado, e sete prêmios no Festival de Cinema de Paulínia-SP. Os diretores Manaíra Carneiro, de apenas 23 anos, Luciano Vidigal, Luciana Bezerra, Rodrigo Felha, Wagner Novais e Cadu Barcellos deram um show. Nenhum deles havia dirigido um filme de grande orçamento antes, apenas curtas amadores. Sensibilidade é a palavra que resume o longa repartido “5x favela – Agora por Nós Mesmos”. O filme narra cinco histórias belíssimas, algumas cheias de clichê, mas todas muito bem produzidas e dirigidas. Uma delas em especial arrancou risos do

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cinema inteiro pela fofura. A aventura de Wesley e Orelha, dois meninos super companheiros e inteligentes que só querem conseguir um frango para o aniversário do pai de Wesley, dá ao filme a leveza das crianças, que, por sinal, roubam a cena. Aliás, os atores parecem ter sido escolhidos a dedo. Adequaram-se completamente ao roteiro e, com raras exceções, mandaram muito bem. Talvez pela falta de experiência do pessoal, alguns roteiros eram quase fábulas completas, principalmente o “Fonte de Renda”. O episódio não perde seu valor artístico por isso, os enquadramentos continuam singulares, os atores te fazem mergulhar nos diálogos, mas a lição de moral ainda incomoda. Talvez mais a mim, porque não acho que é isso que a favela precisa. Eu poderia ter aproveitado cada cena do filme, não fosse um simples detalhe: fui assisti-lo no UCI New York City Center, na Barra. Foi quase uma experiência antropológica. Não foi só assistir ao filme, foi assistir um filme sobre favela em um cinema na Barra. Levi Strauss me invejaria.

Por Mariana Gomes

Algumas cenas do filme, mesmo as mais óbvias, eram explicadas por essas pessoas aos amigos sentados ao lado como se estivessem assistindo a um documentário super complexo. E pelo volume da voz, em casa. O mais impressionante foi o comentário sobre uma menina tocando violino na favela “ah, até parece”. Já imaginou ver uma pessoa sendo queimada viva numa tela enorme e alguém rindo disso? Pois é, na Barra tem. Não sei se é uma completa falta de noção da realidade, como se a favela ficasse muito distante da casa deles, ou se é simplesmente não saber que isso pode acontecer no lugar onde a faxineira deles trabalha. Em termos de linguagem, o filme prova que tem muita gente boa por aí pelo Brasil querendo investimento em seus potenciais. E não falo só de investimento financeiro, ele é importante sim, mas não é tudo. Digo isso porque, mesmo com Cacá Diegues dando aos diretores todo o mérito do projeto, o filme continua sendo dele. E é ele, o global Cacá, que tem legitimidade neste filme. Não só ele, é cla-


O filme narra cinco histórias belíssimas, algumas cheias de clichê, mas todas muito bem produzidas e dirigidas.”

Arte Jovem Brasileira Por Flavia Villa Verde

Vale dizer que 5x favela não é um filme estilo ONG. Não foi um projeto social, e sim um projeto cinematográfico sério e consistente, e com novas vozes. Não tem a intenção de apelar para mostrar um tal “outro lado” da favela carioca. Apesar das insistentes lições de moral presentes nas histórias, o filme traz um olhar diferente e natural dos costumes e dos modos de viver das pessoas. Embora um dos episódios também force um pouco a barra, exagerando nas relações entre moradores de favelas dominadas por facções rivais, como se um morador da Rocinha jamais pudesse visitar uma favela controlada pelo Comando Vermelho sem ser visto como um “alemão” e tratado com hostilidade. O filme é bom, só poderia ter sido mais combativo quanto aos problemas básicos da favela. Acho que essa não era a proposta, mas se fosse, seria ótimo. Até porque, quando o filme acaba, a sensação é a de querer mais!

Fotos: Divulgação

ro, a trilha sonora, por exemplo, é de Guto Graça Mello. Isso me cutuca, me deixa pensando “será que este filme só teve todo este espaço porque tem o ‘respaldo’ de profissionais consolidados?”; ou “será que se o filme fosse feito apenas a partir das oficinas idealizadas por Cacá, mas não levasse seu nome, estaria no grande circuito?”. Não sei. Mas isso me leva a outra dúvida: algum dia vamos ver excelentes cineastas, como esses revelados por Cacá, sem precisar de sua “tutela”? Não estou dizendo aqui que isso é demérito, mas não seria ótimo não dar apenas voz aos favelados, mas sim, legitimidade para narrar suas próprias histórias?

O Arte Jovem Brasileira (AJB) é um movimento pela valorização da cultura brasileira e difusão de suas mais variadas expressões, principalmente através da arte, literatura e comunicação social. Aberto, articulado, múltiplo e auto-gerido, integra uma comunidade de interesses que pensa e atua em rede. Utilizam as mídias, meios físicos e virtuais disponíveis para discutir, produzir e divulgar idéias, conteúdos e produtos culturais. Com isso, promovem e integram ações que proporcionam o intercâmbio cultural em diferentes níveis e a interação entre pessoas interessadas na cultura. O AJB também atua em espaços institucionais e oficiais de cultura, juventude, educação e comunicação, como o Conselho Municipal de Cultura e o Fórum Cultural de Niterói. Integra, ainda, uma rede local que promove atos políticos, discussões e eventos voltados diretamente para esta questão, liderada pela rádio POP Goiaba. Dentre as principais atividades continuadas, destacamos as seguintes: Informativo AJB – jornal virtual que divulga as atividades do movimento e apresenta textos reflexivos sobre arte, produção cultural e atualidades da política cultural local e global; Programa para a TV universitária de Niterói e para a Rádio Comunitária POP Goiaba, também veiculados na internet; e a Mostra de Arte Sincera – evento quinzenal que acontece no Espaço Convés (Rua Cel. Tamarindo 137, Gragoatá, Niterói – RJ) e mistura música, teatro, poesia, cineclube, fotografia, exposição, espaço interativo literário e de artes visuais. O ingresso custa R$1,99, e é revertido para os artistas agendados. O AJB abre os palcos e a alma para qualquer tipo de arte! Vale à pena conferir mais sobre esse movimento no site: www.artejovem.org

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Bula cultural

algumas recomendações médico-artísticas

Um Grito pela Paz

Dos Pés de Café às Nações Unidas “Guerra e Paz”, obra prima de Candido Portinari, vem pela primeira vez ao Brasil e será exibida no Teatro Municipal do Rio este ano. Acervo pessoal

Por Artur Romeu

Portinari na confecção da obra

“Guerra e Paz”, a obra prima de Candido Portinari, vem pela primeira ao Brasil e vai ser exibida no Teatro Municipal do Rio de Janeiro ainda em dezembro deste ano. Os dois gigantescos painéis, cada um com 140m2, vão ser desmontados da sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, e começar uma série de exposições ao redor do mundo. A obra foi encomendada ao pintor Candido Portinari em 1952, pelo governo brasileiro, para ser doada ao então novo edifício da ONU, onde permanece desde 1957. Os painéis que retratam o sofrimento da guerra e o bem-estar social da paz vão ser expostos no Rio de Janeiro, em Brasília, em São Paulo e em Belo Horizonte e darão a volta ao mundo antes de retornar ao seu merecido lugar. Após a exibição no Teatro Municipal, os murais vão passar por um período de restauro no Palácio Capanema, no Centro do Rio, e seguir viagem para o Museu da República, em Brasília – ainda a tempo de celebrar o encerramento do cinqüentenário da capital. Antes de serem expostos em São Paulo e Belo Horizonte, os painéis vão para o Grand Palais, em Paris, ainda em 2011. No roteiro internacional, estão países como a China, Irã, Israel, Palestina, Alemanha, Noruega, entre outros.

Apesar dos conflitos políticos da época, o pintor não teria hesitado quando convidado pelo Itamaraty para decorar as duas paredes que se defrontam no hall de entrada dos delegados da ONU. “Quando ele recebeu a incumbência de fazer os murais, tenho certeza que ele sentiu que era a maior oportunidade da vida dele para dar um grito pela paz. Ele não hesitou em sacrificar a saúde para fazer isso”, conta João Portinari.

Os médicos haviam proibido o pintor de trabalhar por sofrer com a intoxicação pelas tintas que usava. Apesar da restrição, o principal assistente do pintor, Enrico Bianco, contou que Portinari trabalhou “naqueles dois A pintura que se monstros, de 14 metros de altura, durante quatro anos, como se fosdesvincula do povo sem quadros de cavalete”. Apenas não é arte.” seis anos após terminar os murais, o pintor morre, em 1962, vítima do seu próprio material de trabalho.

Diretor da Fundação Portinari, e filho do pintor, João Portinari conta que a idéia é encarar o projeto como algo que vá além de uma exposição de arte. “Nosso objetivo é criar situações que mobilizem o debate pela paz mundial através do poderoso simbolismo da obra”. De fato, a defesa da justiça social e a luta contra a violência permearam todo o trabalho de Candido Portinari. Ele chega a afirmar num discurso feito em 1947

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que “a pintura que se desvincula do povo não é arte”. Filiado ao Partido Comunista, Portinari exercia sua militância além do pincel e esta ligação fez com que tivesse seu visto negado para entrar nos EUA na inauguração do “Guerra e Paz”.

Para João Portinari, o diálogo entre o drama e a poesia, entre o regional e o universal, presentes nos painéis “Guerra e Paz”, tem um grande poder de síntese da obra do pintor. “Ele realizou na prática o que o escritor russo Tolstoi disse certa vez: se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”.


Indicações

Contraindicações Programa de bolsas “Jornalist a de Visão”

Filme “Luto como Mãe” ”, de Luis Carlos NasciO documentário “Luto como mãe às mães que prederam ade mento, pretende dar visibilid Acari, da Candelária, de a o com s seus filhos em chacina e outras.São mulheres revelando que, por trás das belezas naturais do Rio, está a dor de quem perdeu seus filhos para aqueles que, por ironia, deveriam protegê-los. Veja no site as datas e locais de exibição: www.lutocomomae.com

CD “Imagens”, de Severino Honorato s o CD Sutileza. Assim descreveríamo auprio pró pelo as tad reci de poesias s emo fôss tor, Severino Honorato, se pala a um em lo obrigados a resumide a form na itos escr , mas vra. Os poe resistêncordéis, são uma espécie de uinal, maq , ana cia à modernidade urb qualtra con te pan cha cinzenta e aca niomo har r vive se de va tati quer ten ons dem o samente. O poeta Severin ular pop ura cult da a forç tra mais uma vez a beleza e e social. À venda pelo contra-hegemônica pela igualdad . om ail.c @gm email ds.honorato disponível uma faixa do No site Portal Guaratiba, está frgpO .gd/ cd, acesse pelo link: http://is

Humanos e “Segurança Pública, Direitos Violência”, de Rafael Fortes gos de jornalistas, proO livro reúne entrevistas e arti e pesfessores, políticos, militantes nça ura seg de s área das ores quisad crique s, ano pública e direitos hum de tica polí a te men ticaram publica lecia esp Rio, do lica púb segurança Ale do mente o episódio da Chacina ta des tir par A 7. 200 mão, em julho de o vérobra, o professor abre um nov oca, cari ia ênc viol da ar trat a par tice . nais icio fugindo das visões trad ultiÀ venda no site: www.editoram .br .com foco

O Instituto Ling, criado para apoiar jovens que compartilhem os valores da família (palavras deles), com apoio do Instituto Millenium (ou seria Opus Dei da comunicação?), seleciona cinco jove ns para bolsas de mestrado em jornalismo e de Liderança Competitiva em universidades nos EUA . Ambos os institutos dizem apoiar jovens com espírito de liderança, independência e excelência intelectual, e que reconheçam que seu sucesso decorrerá do próprio mérito. Já diz tudo. É só para a juventude do DEM ou do PP. Para saber mais, vá no site dos institutos: www.institutoling.org. br/ e www.imil.org.br

Jornalismo impresso no Rio de Janeiro O agonizante fim do Jornal do Brasil ressalta uma triste realidade para a imprensa bras ileira. Segundo maior estado do país, o Rio de Janeiro conten tase agora com apenas um jornal diário dito de qualidade. A posição privilegiada parece dar licença poética para O Glo bo, que manipula discursos sob re a imparcialidade da mídia e a defesa da liberdade de expressão. Liberdade de exp ressão para o jornal (e seus comparsas paulistas e radiotelevisivos da mídia oligárquica) significa imp unidade ao ser preconceituoso e atacar quem luta contra a opressão nesse sistema defendido e con solidado por essas empresas de mídia.

POSOLOGIA ingerir em caso de marasmo ingerir em caso de repetição cultural ingerir em caso de alienação

manter fora do alcance das crianças nocivo, ingerir apenas com acompanhamento médico extremamente nocivo, não ingerir nem com prescrição médica 11


colunista da vez Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Trabalhou em diversos veículos de comunicação, cobrindo os problemas sociais brasileiros, hoje, ministra aulas na pós-graduação da PUC-SP. É coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo. Seu blog www.blogdosakamoto.com. br é um dos mais bem referenciados na luta midiática contrahegemônica.

, 9 0 / 1 1 No uma cara de terrorista e os

reféns do medo

Por Leonardo Sakamoto

Quando viajo para fora, uma das únicas certezas que tenho é de que serei longamente sabatinado nos postos de imigração – quando não barrado. Não há uma única vez, que passei ileso. Tenho certeza de que, naquela tela de computador do pessoal de fronteira, quando digitado o número do meu passaporte, pula um aviso FEOP – “Faça esse Otário Pastar”.

E por aí vai…Tudo isso leva, em média, quatro vezes mais tempo que um “cidadão de bem” levaria. Fora a falta de educação, grosserias, ironias, prepotências. Pele bronzeada, olhos puxados, enfim, cara de terrorista, claro! Por isso, desisti de ser sincero e muitas vezes digo o que eles querem ouvir e ponto. Em outra ocasião, estava em conexão em Londres indo para o Sul da Ásia e teria varias horas livres para gastar na cidade. Mas não pude deixar o aeroporto, pois não confiaram no que eu estava dizendo.

Estava em Manchester na Inglaterra e precisava ir para Amsterdã na Holanda. Chegando no aeroBem, não fui o primeiro nem serei o último a ser rejeitado pelos súditos da porto, me lembrei que hoje é 11 de setembro – anirainha. Ao menos, não me perseguiram pelas ruas e me alvejaram no metrô. versário da queda de Salvador Allende, e, mais reA família de Jean Charles que o dia. centemente, do ataque às torres gêmeas em Nova (Parênteses no assunto: O aumento da imigração de pessoas que procuIorque. A segurança estava reforçada, claro, não ram uma vida melhor em um país com maior oportunidade de por conta da celebração da memória do golpe emprego tem mostrado o que certas nações têm de pior. no Chile – mesmo que este tenha Os EUA erguem uma cerca entre eles e o México, uma sido levado a cabo com o apoio vez que o fluxo de faxineiros, operários e serventes já está do Tio Sam, superior hierárquico Triste é o país que maior do que o dede Elizabeth II. Afinal, os países se torna refém do sejado. Mesmo que fazem ou fizeram parte da assim, o pesmedo. ” grande coalizão norte-americana soal continua para invadir o Afeganistão e o Iratentando entrar que sempre dão aquela tremida de e é chacinado por traficantes. pernas nesta época do ano. Como se Em muitos cantos da Europa, os atentados de 11 de março de 2004, em Madri, na os africanos, sul-americanos e Espanha, não tivessem demonstrado que um raio asiáticos são carne de segunnão precisa cair duas vezes na mesma data… da. Não precisamos ir muito Para mim, as perguntas são sempre as mesmas: longe. No Brasil, considera- O senhor é brasileiro mesmo? Sakamoto não mos os vizinhos bolivianos, é nome brasileiro… (Não, tô mentindo só porque é que tentam ganhar a vida em cool ser brasileiro e ser japonês não tá com nada. nossa terra, como trabalhadores Quantos sobrenomes “brasileiros” ele conhece…?) descartáveis. E não é raro o trabalho escravo e degradante nas - O que quer dizer este visto do Paquistão no tecelagens da capital paulista seu passaporte? (Você não conta para ninguém? que os empregam, ou melhor, os Significa que eu estive lá!) exploram). - E esse visto da Colômbia? (Ah, não, esse aí é Guerra ao terror dizem. Guerra de mentira. Coloquei porque era bonito o nome do para preservar um estilo de vida. Se pais. Co-lôm-bia termina em ditongo, não é legal?) acham que fico triste em ser tratado - Tem alguma documentação que prove que é como bicho na imigração, esqueçam. jornalista mesmo? (Diploma, via Sedex 10, serve?) Fico com pena. Triste é o país que - O que fez nos Estados Unidos no ano passado? se torna refém do medo den(Tentei desestabilizar o modo de produção capitatro do seu próprio território. lista através da implosão de redes de globais de Medo de si mesmo, a bem distribuição… isso cola?) da verdade.

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eleições

As caras por trás dos sorrisos O dia de Luciana e Ilda, seguradoras de cartaz na campanha eleitoral na praia de Botafogo

Por Maria Luiza Valois Ainda está escuro quando Ilda do Nascimento deixa a favela do Jacarezinho na Penha serpenteando morro abaixo, até o ponto de vans para Olaria. Lá fica o comitê da campanha de Rodrigo Bethlem, onde recebe as instruções e material diário. Munida de um cavalete promocional que ostenta a foto do candidato sorridente ao lado do governador Sérgio Cabral, Ilda está pronta para começar seu dia de trabalho.

na campanha do PSDB. Os candidatos são de partidos rivais, mas Ilda e Luciana jogam do mesmo lado. Elas estão entre as 13.343 pessoas empregadas pelas campanhas eleitorais este ano. Ambas já eram parte desta estatística em eleições anteriores. “Todas as eleições eu tento pegar esse trabalho para ganhar um extra,” conta Luciana. No entanto, o extra, às vezes, vira o único.

Luciana vive com seus onze filhos na favela Cerro-corá no Cosme Velho. Trabalha normalmente como diarista, pulando de faxina em faxina “sem horário muito certo”. Agora tem apenas as manhãs ocupadas na campanha do candidato tucano que mal sabe pronunciar o nome (e quem sabe?) Gerson Bergher. Ela recebe 25 reais por meio período de trabalho a cada dia, sem dinheiro extra para transporte e alimentação. Assim como Ilda, Luciana nunca viu o candidato para qual trabalha, tampouco sabe suas principais propostas e até mesmo o partido. “Nem faço questão de conhecer ele. Isso para mim é um trabalho como outro qualquer. Não me importa quem é o patrão, eu só faço o partidos rivais, serviço”.

Uma van sai lotada do comitê deixando duplas de pessoas e cartazes em pontos estratégicos na Zona Sul. Ilda desembarca na praia de Botafogo por volta seis e meia da manhã. Posiciona o cavalete, ao lado de um banquinho, eventualmente deixado de lado para “esticar as pernas”, e começa a ler um jornal Meiahora. “A gente tem que se informar, né?” Informada e inconformada com o que viu nos seus 53 anos de vida, ela afirma, com uma certeza categórica, que vai anular seu voto. “São todos iguais. Eu tô aqui só pela grana, Os candidatos mesmo. Já cansei dessa ladainha.” Ela divide a opinião e a calçada da agulha entre a praia de botafogo e a São Clemente com Luciana Ferreira, 37 anos, que faz o mesmo trabalho

são de mas Ilda e Luciana jogam do mesmo lado.”

Candidatos emporcalham a cidade com seus ideais sujos

Foto: Felipe Sodré

Entre papos, buzinadas e congestionamentos, a manhã chega ao fim e logo está na hora de Luciana se despedir. Para Ilda é a hora do almoço. O carro da campanha de Bethlem volta a passar na praia, deixando a quentinha: arroz, feijão e carne moída. Filha de mineiros, Ilda não acha a comida lá essas coisas e reclama da falta de legumes, mas diz que em casa ela recompensa quando cozinha o jantar. Ela ganha o dobro da sua companheira, pois trabalha em período integral, mas diz que a hora de trabalho mais bem paga na campanha eleitoral é a boca de urna. Às cinco horas, a van passa pela última vez na Praia de Botafogo para levar Ilda e o cartaz de volta à Olaria. Para continuar seu caminho até em casa, ela desembolsa a passagem até a Penha e uma corrida de moto-taxi para subir a favela. “Eu moro muito alto. Ninguém é de ferro, né? A volta só de moto-taxi mesmo.”

*Sobre o tema, assista ao documentário “Homem Cartaz” de Felipe Sodré em nosso site: virusplanetario.com.br

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Direto de Brasília

Mas você come o quê? O vegetarianismo como militância e o que está por trás da produção de alimentos

Por Elis Tanajura e Mariana Gomes

Ovolactovegetarianos, veganos, vegetarianos estritos, crudívoros, frudívoros, macrobióticos, alimentação sutil, lactovegetarianos... Cada dieta é baseada em filosofias e crenças distintas, que vai desde religião, preservação do meio ambiente, cuidados com a saúde ou ainda direitos dos animais. Cada um com sua bandeira, com sua dieta e seus argumentos. Mas o que todos tem em comum é o desejo de ver sua filosofia multiplicada. O respeito aos animais é um argumento muito utilizado pelos vegetarianos, mas não é o único. Há quem diga que o vegetarianismo vai além deste debate e que, nos dias de hoje, não há como ter uma alimentação saudável com carne. É o que relata o site The Meatrix. Voltado a públicos do mundo inteiro, o site ficou famoso em 2003 após produzir um vídeo sobre a indústria da carne. Empenhados em mostrar de onde e como vem a carne que chega às nossas mesas, o vídeo fala sobre a quantidade de hormônios e medicamentos ingeridos pelos animais consumidos por nós. O vídeo também mostra que esses medicamentos podem ser responsáveis pela produção de bactérias super resistentes, causando doenças, inclusive, nos humanos. Para o The Meatrix, a solução seria sabermos a procedência da carne que comemos, ou deixarmos de comê-la.

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Vegetarianismo X Agrotóxicos A questão da alimentação saudável vai além da discussão sobre vegetarianismo, já que nos vegetais, também encontramos grande quantidade de químicas indesejáveis. O volume de agrotóxicos utilizados no Brasil é alarmante. O país, hoje, ultrapassou os Estados Unidos no uso desse tipo de produto. Segundo o economista João Pedro Stédile, foram despejados 713 milhões de toneladas de venenos agrícolas. Média de 3.700 quilos por pessoa. “Esses venenos são de origem química e permanecem na natureza. Degradam o solo, contaminam a água, e, sobretudo, se acumulam nos alimentos” – declara Stédile. Para os ativistas contra o agronegócio, o que poderia ser uma alternativa contra o consumo exagerado de agrotóxicos, é a agricultura familiar. “Defender a agricultura familiar, que é uma forma de produzir alimentos sadios, é uma questão nacional, de toda sociedade” – destaca Stédile. Segundo especialistas, o brasileiro consome, em média, 3 vezes mais carne que o necessário para uma alimentação balanceada. Diante disso, não há vegetarianismo que combata a exploração agropecuária. Ainda segundo especialistas, escolha da dieta deve basear-se não só na saúde do corpo, mas também em


questões éticas. Entretanto, é importante sabermos que deixar de consumir carne não é uma opção para acabar com os abusos praticados pelos grandes pecuaristas. É uma opção de quem não quer compactuar com esse tipo de exploração. Afinal, é inocente pensar que parar de comer carne fará com quem os produtores deixem de vender, e, com isso, a exploração animal termine.

Gráfico feito pela Sociedade Vegetaria Brasileira demonstram, para além dos custos financeiros, os recursos naturais despendidos na produção de 1kg de carne.

Dietas diferentes, dificuldades iguais Leonardo Fontes, 15 anos, nunca havia ido à um restaurante vegetariano. A ausência de carne no cardápio, entretanto, não o assustou. “A comida aqui é muito boa, quem fala mal é por preconceito, porque nunca experimentou”, relata. O convite foi feito pelo seu amigo Lucas Meirelles, que não come carne desde que nasceu. Aos 16 anos de idade, ele já está na segunda geração ovolactovegetariana da família, sem nunca ter experimentado carne. Tem se tornado cada vez mais comum pais e filhos vegetarianos. Na terceira geração da família, Vânio Santana é contador de um restaurante vegetariano de Brasília. “Meus avós viraram vegetarianos quando entraram para a Igreja Adventista. Eu, meus pais e irmãos nunca comemos carne”, afirma o contador. “Meu irmão caçula um dia ficou doente e meus pais o levaram ao médico, que disse que ele estava fraco porque não comia carne. Quando o médico soube que eu, saudável e forte, também era vegetariano, ficou surpreso e sem saber o que falar”, relata Vânio.

Segundo especialistas, o brasileiro consome, em média, 3 vezes mais carne que o necessário para uma alimentação balanceada.”

100% Saúde A Organização Mundial de Saúde afirma que o corpo humano necessita de 10 a 15% de proteínas diárias, o que pode ser facilmente conseguido em leite, ovos e leguminosas. Portanto não há falta de nutrientes ou proteínas em uma alimentação sem carne como muitos afirmam erroneamente, mas, como qualquer pessoa saudável, um vegetariano também deve ir ao nutricionista e procurar ter uma alimentação bastante variada. Às pessoas que não consomem leite, ovos, mel, e nem qualquer alimento de origem animal, conhecidos como vegetarianos estritos, recomenda-se a reposição de vitamina B-12. Isso porque este nutriente está presente em quantidade expressiva apenas em alimentos de origem animal.

Paródia do filme “The Matrix”, vídeo “The Meatrix” mostra os métodos artificiais de produção de carne. A versão em português está disponível no site www.themeatrix.com/intl/brazil e no YouTube.

“Eu achava que ser vegetariano era coisa de hippie, loucos ou de pessoas sensíveis, mas depois que eu conheci melhor alguns vegetarianos e comecei a questionar meus próprios atos”, explica Kamilla Pacheco, estudante de Letras-Espanhol da Universidade de Brasília. Kamilla é vegetariana há três anos, mas a estudante conta que se sentia incompleta, por isso decidiu se tornar vegana: parou de comer ovos e derivados do leite nos últimos dois anos. “Todo mundo deve fazer uma auto-crítica a sua alimentação e não ter medo de mudar se acha esse tipo de alimentação mais ética”, afirma.

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O que pensa a grande imprensa?!

Sakineh ou Irã, quem esta em julgamento? Por Seiji Nomura

recebem bem menos atenção, como demonstra a negligência da imprensa em geral diante dos abusos da força policial carioca – a que mais mata no mundo. Jogar com nossos sentimentos, nos identificando com a jovem mulher por trás do véu, pode ser uma forma de controle mais eficaz que qualquer censura.

ada a n e d n o c m e v O caso da jo ís condenado a ser a morte e do p ixo do mal” do “E Você acha que seu país deve estabelecer diálogo com um Estado que promova a tortura e cruéis penas de morte? É justo que sua nação tenha boas relações com governos que violam os direitos humanos e ameaçam a paz mundial? A essas perguntas, que servem geralmente para criticar a posição do Brasil em relação ao Irã, parece ser até revoltante dar outra resposta que não seja um maiúsculo “NÃO”. Mas eis então a ambiguidade da questão: não seria possível fazer as mesmas perguntas em relação aos Estados Unidos e suas guerras e Guantánamos mal-explicados? Sem dúvida, é difícil para nós – brasileiros e ocidentais – olharmos para o caso de Sakineh Ashtiani sem achar seu destino cruel ou seus algozes monstruosos. Sua condenação à morte nos tribunais iranianos por apedrejamento devido ao adultério e uma suposta participação no assassinato do seu então marido não deixa de comover. É importante notar, porém, que situações igualmente ou mais abomináveis

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O que está sendo debatido não é apenas se o Brasil dará ou não asilo à Sakineh ou se a pena é justa. Os meios de comunicação utilizam estratégias que mexem com os nossos corações e nossa solidariedade para tratar do tema das relações internacionais. Sem dúvida a sensibilidade é uma parte importante do nosso pensamento, mas ver o noticiário sobre o caso mais parece com um capítulo de telenovela, em que os roteiristas nos fazem acreditar em mocinhos e vilões. Só que no palco da vida real não é bem assim. Não é uma questão de renegar o que aparece como o grande mal iraniano e abraçar o bem ocidental. Pondo em números, os EUA executam mais penas de morte e fazem mais vítimas civis na guerra nos últimos anos que o Irã em toda sua história — só que nunca ouvimos essas histórias trágicas da mesma forma que a de Sakineh. Cabe a nós repensarmos aquela res-

posta fácil que demos no começo. Não estaria a imprensa grande – e muitos de nós – usando de dois pesos e duas medidas? Um editorial do jornal “O Globo” de 16 de maio de 2010 nos dá uma pista. Metendo o bedelho na tentativa do presidente Lula de mediar um acordo para a crise nuclear como Irão o jornal faz uma afirmação reveladora: “As vantagens econômicas que o Brasil possa tirar de uma aproximação com o Irã não são nem a sombra do que podemos perder se optarmos por uma atitude de confronto face a Washington” Nesse simples parágrafo revelam-se as engrenagens que estão por trás de uma falsa moral – a discussão não é de direitos humanos, é política e econômica. Ora, mesmo olhando por esse lado, o editorial se mostra anacrônico e frágil. O papel que o Brasil exerce é um embrião de uma possível mudança no jogo de forças mundial. A tendência é que mais países dividam a importância que os EUA tiveram. Neste momento de diversificação, deixar de fora a cooperação entre países do sul é repetir a história de exclusão do mundo enquanto, na verdade, não representa sequer uma vantagem econômica. Não depender tanto de um pequeno grupo de países é também se blindar contra crises localizadas como a que afeta os EUA neste momento. Nota: Até o fechamento desta edição, a sentença que determinava a morte por apedrejamento de Sakineh estava suspensa. Circularam informações de que ela seria condenada à forca pelo assassinato de seu então marido, mas o Ministro de Relações internacionais Celso Amorim afirmou que autoridades iranianas sinalizaram que o caso ainda não fora decidido


s o d i d sór . . . s e h l deta A Mentira varrida pra debaixo do tapete Já é barbárie Israel, que se diz Estado laico, comprova mais uma vez que representa o terrorismo do estado com maestria. O premiê Benjamin Netanyahu expulsou, no começo do mês, 400 crianças do país por não serem judias. Segundo o ministro do Interior e líder do ultrarreligioso partido Shas, Eli Yishai, a presença dessas crianças, filhos de trabalhadores vindos das Filipinas, Tailândia, do Sudão e Egito, representam uma "ameaça a totalidade da empreitada sionista". Hitler ficaria com inveja.

No calor de um inverno que não existiu... ...Meninos ficavam no sinal, embaixo de 40º, pedindo “tia, deixa eu colar esse adesivo no seu carro pra eu poder sair desse sol, por favor”. Adivinha de quem era o adesivo? Estamos juntos é uma frase muito subjetiva. Afinal, Cabral estava e está junto de quem? De mim é que não é!

Ilustração: Carlos Latuff

E o Lindberg, com apoio de Cabral, Dilma, Lula, e até RR Soares, conseguiu chegar ao senado. O que será que vai dar a mistura dele com o extremista religioso Crivella? Veremos cenas dos próximos capítulos nas páginas sobre escândalos do senado? Vamos aguardar. O Cesar Maia, que antes quebrou a firma, quebraram a firma dele. Nem Caetano salvou. Vá de retro!

pois vemos isso. Tá difícil. Acho que mil de cada agora tá bom, depois negociamos o resto”. O primeiro destaca: “Mas mil não é nada pra eles! Vou dar dois mil pra um candidato a deputado, e mil pra majoritária”. O segundo discorda: “Ué, a gente fala que é o que dá pra dar agora. No segundo turno a gente conversa de novo”. E piadinhas como “Na verdade, a Dilma não foi se tratar de câncer, foi operar a fimose! HAHAHAHA”. Esse é o nível de empresariado ao qual a maioria dos políticos brasileiros se vende. Dizem que a democracia não pode ser comprada. No Brasil, desde 1500 a história prova que tudo se pode comprar. E não. Não inventamos essa história. Infelizmente.

No bar verdinho, o papo era sobre as verdinhas... Estávamos nós esperando o candidato a presidente pelo PSTU, Zé Maria, para fazermos a entrevista dessa edição. Eis que na mesa ao lado, três homens começam a conversar: “Mas será que não é melhor dar mais?”. E o outro: “Não. Deixa para o segundo turno. Será que não tem chance do Serra passar a Dilma no segundo turno?”. E o terceiro: “Calma, de-

(diegonovaes.blogspot.com)

Parece que não funciona muito para quem criou. O ex-secretário de ordem pública, Rodrigo Bethlem, foi considerado um dos candidatos com maior número de placas irregulares na cidade. E pare-

Quero ser seu senador

Ilustração: Diego Novaes

E o choque de ordem, hein?

ce que essa coisa de porquice vem de família. A família Picciani foi eleita a que mais suja a cidade. Deve ser por isso que Picciani diz tanto que economiza dinheiro da Alerj, pra contratar mais gente pra limpar as sujeiras que ele deixa tanto na rua, como em sua fazenda, suspeita de utilizar trabalho escravo.

Ilustração: Carlos Latuff

“Tá achando que é pra fazer o quê? Jornalismo?” Essa vem direto do túnel do tempo. O ano era 1989, o jornal era um dos maiores do Brasil e era época de cobertura eleitoral para a campanha presidencial entre Lula e Collor no segundo turno. Combinação explosiva, não? Eis que um repórter coloca o título para sua reportagem: “Lula cresce nas pesquisas.” Um editor do jornal, hoje ainda um dos manda-chuvas do períodico carioca, o chama em sua mesa e lhe dá o esporro: “Vem cá, fulano, você acha que é pra fazer o que, aqui? Jornalismo? É pra eleger Collor.” 21 anos depois o que mudou na nossa gloriosa grande imprensa imparcial, plural, democrática e equilibrada, hein?!

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passatempos virais

Por Caio Amorim

Ligue os pontos

e descubra as conexões periculosas Ligue os pontos e descubra qual a principal política pública a ser intensificada nas periferias brasileiras (especialmente no Rio com a “tão benéfica” reeleição de Cabral para governador) para a Copa de 2014 e Olímpiadas de 2016 O Festival SWU, cujo ingresso mais barato custa R$210,00, patrocinado por empresas gigantescas e poluidoras como Oi e Coca-Cola, faz uma grande piada ao se dizer “por um mundo sustentável”. O problema é que a maioria das pessoas acha que eles não estão brincando quando dizem isso. 1 67 66 65

*algumas paradas têm bônus interligados em conexões mega periculosas. Percorra o pontilhado e seja feliz.

Mesma piada que faz Marina Silva quando diz ser possível conciliar preservação da natureza com economia regulada pelo mercado. Assim como seu partido, o PV,

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Mesmo partido de Fernando Gabeira, que participou da luta armada e hoje joga do lado das forças representadas pelo embaixador que sequestrou em 69,

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Tal qual fez Alfredo Sirkis que atualmente defende remoções de favela em nome da “““preservação ambiental””””

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Joaquim Roriz, ex-governador e candidato ao governo do Distrito Federal, que, por precaução colocou sua mulher, Weslian Roriz (a inteligência em pessoa) como candidata. Uma pessoa com um discurso quase tão esquizofrênico quanto a incoerência presente no

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UPPs. “Unidades de Polícia Pacificadora”

que para o governador Sérgio Cabral pacificaram as favelas em que estão instaladas, mesmo que tenham espancamentos e outras agressões aos moradores.

Coisa que teoricamente também fez Rodrigo Bethlem a frente do “choque de ordem”, mas que como candidato a deputado federal foi campeão de placas colocadas em locais irregulares

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Prática policial semelhante aplicada no governo de São Paulo por José Serra. Tucano que ligou para Gilmar Mendes – ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) – para votar a favor da obrigatoriedade de apresentação do título de eleitor para votação. Mendes, do STF, votou contra a impugnação de

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Como também defende Eduardo Paes, prefeito que teoricamente colocou “ordem” no Rio de Janeiro

Assim como Wagner Montes que apesar de se dizer defensor dos pobres, comemora gritando “Escraaacha!” quando há invasão policial nas favelas com direito à caveirão e tiro pra todo lado que continuam a ocorrer em favelas que não têm

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Como gostou de fazer o também candidato a deputado federal (não eleito) Marcelo Itagiba que, apesar de ter fortes suspeitas de ligação com as milícias, teve como um dos lemas: “Não eleja corruptos!”. Não foi eleito. E não é que o slogan deu certo?!

Cidinha CamHipocrisia compartipos que é do PDT lhada pelo candidato ao senado Jorge Picciani que afirma que foi ele que combateu as milícias, apesar de ter tipo apoio delas e que, em seu programa de tv, contou com apoio de


Andanças

Por Seiji Nomura

Severino Brecht

Vou avisando que não sou candidato, mas não deixo de me apresentar. Severino Brecht, ao seu dispor, 12 anos de rebento nas costas, cinco de bóia-fria e sete de doutô. Filho do Sertão, vim de mala e cuia na mão e meu bem mais precioso, meu diploma de teatro, no bolso. Acabou que se aposentou no bolso mesmo e não trabalho com arte, mas nessa coluna, nas terras do Rio de Janeiro.

Felicidade pros mineiro (ou pra nóis?)

Na minha chegada, a Lapa

Fui chegando aqui e já me seqüestraram para aquelas rotas turísticas que a gente vê na televisão. Sonambulei de ponto a ponto desse “Vale a Pena ver de novo”, tava quase com os óio fechado quando cheguei à Lapa. Espantei dos ombros o cansaço porque aquilo ali me interessava. E num é que conjuguei o verbo bem conjugado? Interessava mesmo, no passado, que aquilo ali estava por demais mudado. Vixe, que a terra de boemia, dos malandros e do samba mais parece um jardim inglês? Com mais polícia que muita delegacia, expulsaram os camelôs e – vejam só – o estacionamento e a cerveja tão com preço de shópi. Pra quem acha que exagero no recado, tem até uma bandeira da prefeitura dando sinal de território conquistado. Expulsaram os moradores de uma ocupação e ainda puseram à vista seus estandartes, orgulhosos do prédio vazio. Daqui a pouco a terra de madame Satã e de outras bonecas mais parece a Oscar Freire de Sampaulo.

Felicidade: 3 por 1 real

Dei uma olhada na boneca – não naquela de tromba e sorriso aberto, mas no rascunho do jornal de mesmo nome – e vi que só se fala de política... Pra dar uma esparecida, vamos falar de felicidade, essa tal coisa que custa R$11 mil. Achou caro? Pois trate de reclamar com os cientista de Princeton, universidade americana que fez a pesquisa que apontou esta como a renda ideal para ser feliz. Quem ganha mais não arrecada alegria em troca e quem tem menos que se vire. Forçação de barra danada, né, meus calangos? Mandem estes hómis frouxos tirar satisfação com a outra tal pesquisa que coloca a Colômbia como o segundo país mais feliz do mundo (da Universidade de Michigan).

Um grupo de mineradores não está nada feliz. Faltam os R$11 mil, mas também falta muito mais. Os cabra foram soterrado pra dentro da caverna onde trabalhavam no Chile e ficarão de rabo sentado até as perfuradoras os alcançarem em dezembro. Caso triste pra uns, oportunidade pra outros: virou o mais novo reality show da imprensa. É uma febre que não tem tamanho em torno dos vídeos dos chilenos no noticiário dos telejornais brasileiros. Fatos miúdos como o da seleção chilena apoiando os mineiros nos fazem sentir próximos dos nossos heróis, como diria o Pedro Bial.

Mas num é que no meio desta novela, aparece algo interessante? O governo chileno censurou o troca-troca de cartas das famílias para os mineiros, pois só querem que eles recebam mensagens positivas pra manter o índice de felicidade. E eu achando que auto-ajuda era coisa que só minha vó Lia! Eita, se é pra evitar a depressão (caso grave pra quem fica soterrado) vão dar outro jeito, mesmo falar com a família. Do jeito que tá, só piora – os soterrados se revoltaram com o engodo. Quer dizer piora pra eles, que pra televisão a audiência só melhora!

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Entrevista INclusiva:

Presidenciáveis Foto: Caio Amorim

Foto: Maria Luiza Valois

Foto: Caio Amorim

da esquerda Zé Maria

Plínio Ivan Sampaio Pinheiro

A pior das críticas é o silêncio. A mídia oligárquica na sua escalada ofensiva contra os lutadores sociais, como era de se esperar, excluiu de sua cobertura ‘jornalística’ os candidatos da esquerda. Por isso, entrevistamos os três candidatos que se contrapõe ao sistema vigente. O primeiro entrevistado foi Zé Maria, do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), que é sindicalista e milita no ABC - o mesmo berço de lutas do presidente Lula - até hoje. Zé Maria tem 53 anos, nasceu em Santa Albertina, interior de São Paulo, e foi estudar em Santo André aos 20 anos. Hoje, após mais de 30 anos de luta sindical, o militante se candidatou à presidência pela terceira vez e falou à Vírus Planetário sobre as centrais sindicais que ajudou a construir, as propostas do PSTU e as bandeiras dos trabalhadores. Tuiteiro de carteirinha, Plínio Sampaio tem 80 anos, nasceu em São Paulo e começou sua militância cedo, aos 20 anos. Elaborou o polêmico - para a direita - projeto de reforma agrária do governo João Goulart. Foi eleito deputado federal pelo Partido 20

Democrata Cristão aos 31 anos e, antes de terminar o mandato, teve seus direitos políticos cassados pela ditadura militar. Exilado no Chile, teve contato com vários exilados, organizou encontros e filiou-se ao MDB. Nos anos 80, após romper com o MDB, ajudou a fundar o PT e, em 1986, foi o deputado federal mais votado. Em 2005, Plínio saiu do PT e filiou-se ao PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), partido pelo qual se candidatou a governador de São Paulo em 2006 e, em 2010, à presidência. Ivan Pinheiro, do PCB (Partido Comunista Brasileiro), nasceu no Rio e tem 64 anos. Jovem inquieto começou sua militância no grêmio do Colégio Pedro II época em que foi preso por sua “rebeldia”. Ivan sempre foi simpatizante do PCB, que existe desde 1922, mas durante parte do período da ditadura militar, fez parte da luta armada. Nos anos 80, Ivan se filiou ao PCB, do qual hoje é secretário geral e um importante quadro político. Após muitas crises do Partidão - como era chamado o PCB antigamente -, Ivan fala sobre novas perspectivas e o desejo pela unidade da esquerda.


eNTREVISTA iNcLUSIVA

Zé Maria PSTU

Foto: Caio Amorim

Vírus Planetário: Fale um pouco sobre

sua trajetória política.

Zé Maria Comecei no ABC paulista, em santo Andre, em meados de 70, no sindicato dos metalúrgicos, participei da fundação do PT e da CUT, fui um dos dirigentes das greves em 78, 79, 80 e 81, minha militância já nasceu vinculada à luta dos trabalhadores, e permanece assim até hoje. Minha militância sempre foi ao lado dos sindicatos, dos trabalhadores e das lutados populares no Brasile permanece assim até hoje. Fui fundador do PT, militamos no PT até 1992, fomos afastados devido ao acirramento das diferenças no interior do partido. Em 1994 fundamos o PSTU, e sou dirigente do partido desde então. Fui dirigente da CUT de 1991 até 2004, quando a CUT se integra de vez ao governo e perde sua autonomia e seu caráter de luta. E aí nós fundamos uma outra organização, a Conlutas, e sou dirigente dessa organização até hoje. VP: Como foi o processo de escolha da sua candidatura? Quais foram os problemas para unir a esquerda?

ZM: O PSTU apresentou proposta de construção de uma frente ao PSOL e ao PCB. Diante das condições adversas dessas eleições, achamos melhor uma candidatura única da esquerda socialista. Mas isso não foi possível. O PCB decidiu lançar sua própria candidatura, porque é um partido muito pequeno e precisa aparecer. Com o PSOL, não tivemos acordo nem programá-

tico nem no critério de financiamento de campanha. Quando o PSOL procurou a Marina Silva para fazer um acordo eleitoral, liquidou a possibilidade de fazer aliança conosco. Achamos que o objetivo da campanha é apresentar uma proposta socialista para o país, e Marina é de um partido da burguesia. Em 2008, quando o PSOL aceitou dinheiro de empresas para a campanha, nós temos debatido que isso é um divisor de águas.

VP: O que você acha sobre as centrais sindicais apoiarem a Dilma formalmente?

ZM: Esse setor do movimento sindical

PT assumiu o programa do PSDB. E numa conjuntura econômica mais favorável, aplicou esse programa com mais competência. Banqueiro ganhou mais dinheiro no governo lula do que com o FHC. Os grandes empresários também. O que o Serra vai defender? Ele vai dizer que tem que mudar o que? Então, seja Serra Dilma, ou Marina, vão dar continuidade ao que está aí. Pra classe trabalhadora não muda nada, são só estilos diferentes de governar. Como não há nenhuma candidatura da esquerda socialista no segundo turno, nós vamos votar nulo. VP: Uma crítica que os petistas fazem ao PSTU e ao PSOL é de fazerem o jogo da direita ao igualar PSDB e PT.

foi cooptado e comprado desde o início do mandato do Lula. A CUT se integrou à ZM: Faz parte. Tem gente que faz política base de sustentação do governo, abandoanalisando os fatos, e tem gente que faz a nando qualquer perspectiva de defender partir da opinião que definiu. Era preciso os interesses dos trabalhadores. Por isso, que esses companheiros apontassem na é natural que eles se vinculem à candirealidade onde estão essas diferenças. Há datura da Dilma, a tragédia é pra classe mais concentração de renda hoje do que trabalhadora. Isso havia antes. O salário demonstra a esterilimínimo aumentou 57%, zação da maioria do mas o lucro dos bancos movimento sindical aumentou 500%. No Como não há no que diz respeito passado, foram 11 nenhuma candidatura ano à defesa dos interesbilhões pro bolsa famíses da classe trabada esquerda socialista lia, e a bolsa banqueiro lhadora. Na mesma de 380 bilhões. Onde no segundo turno, nós foi manifestação que está a prioridade enanunciaram apoio tão? Nas famílias mais vamos votar nulo.” à Dilma, o eixo era pobres? Não, está nos a redução da jorbancos. Houve menos nada de trabalho, estão pedindo agora o reforma agrária no governo Lula do que compromisso dela nesse sentido. Ora, por no governo FHC. que uma central sindical não denuncia um governo que teve 8 anos para reduzir VP: Quais são as principais propostas a jornada de trabalho e não fez? E Dilma do PSTU? já disse que não vai reduzir, mas eles não ZM: As medidas que nós defendemos retiram o apoio, porque a questão não é o para a mudança da estrutura econômiprograma, é o dinheiro que as centrais reca do país são a estatização de todas as cebem do governo. empresas, a nacionalização da terra, es-

VP: Seria o mesmo ganhar Serra ou

Dilma? No segundo turno, apoiaria alguém?

ZM: Seria a mesma coisa. A crise que a candidatura do Serra vive hoje, é porque o

tatização dos bancos. São propostas que vão no contra-senso daquilo que é o senso comum, e isso pode dificultar para eleger parlamentares, mas nós não achamos razoável abrir mão de dizer o que pensamos para ganhar votos.

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eNTREVISTA iNcLUSIVA Foto: Maria Luiza Valois

Plínio Sampaio PSOL

Eu farei dentro do PSOL uma luta para o voto nulo no segundo turno. Não vejo diferença entre Serra e Dilma.” Vírus Planetário: Porque não houve

uma união da esquerda para essas eleições como houve em 2006?

Plínio Sampaio: Eu acho que a culpa disso é do PSOL. Demoramos muito tempo para definir o candidato. Os outros partidos não podiam esperar, porque se não parecia uma subordinação ao PSOL. Eu cheguei a falar com o pessoal: vamos apressar esse processo. Mas os outros partidos tem o direito de lançar candidatos. É importante que a gente não dê para a direita o gostinho de ver a gente brigar. Nesta eleição não deu, mas vamos dar uma outra informação para o povo. Toda vez que eu exijo minha presença nos debates eu exijo a presença deles.

VP: Serra e Dilma ganhando é a mesma coisa? Apoiaria um dos dois num segundo turno? PS: Meu voto é nulo. Eu farei dentro do

PSOL uma luta para o voto nulo. Não vejo diferença entre um e outro. VP: Qual é a sua concepção de socialismo hoje?

PS: O socialismo é um processo, é um movimento que se realiza em partes. Neste momento não temos condições para fazer uma ruptura socialista no Bra-

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sil. Qual é o avanço possível para agora? Uma proposta socialista, o partido se volta para os problemas reais e as soluções reais. Qual é a solução para o problema da educação? Investir em educação pública. Mas eu não estou falando em acabar com a iniciativa privada, com a propriedade privada. Não estou pensando em planificar a economia brasileira inteira agora. VP: Quais são suas propostas para a economia? PS: Simples! Auditoria da dívida

externa e suspensão do pagamento. E aí vamos negociar da seguinte maneira: quem tem crédito grande vai ter que esperar. Porque se você auditar, metade desses créditos caem fora, porque não são verdadeiros. Então esse não paga. De resto, vamos ver os que podem esperar. Só aí já temos recursos para triplicar os orçamentos da saúde e da educação. VP: Porque a reforma agrária que já existe em muitos países virou um tabu no Brasil? E como fazer a reforma agrária hoje?

PS: Bom, primeiro por causa da força brutal do latifúndio. O latifúndio tem uma força no Brasil imensa e uma representação desproporcional no congresso. E eles tem uma bancada unificada que é chave para as votações dos projetos do governo. Então, na verdade, eles chantageiam o governo e tem força para isso. A mídia está com eles. Se o PSOL ganhar a eleição é uma mudança brutal na correlação de forças. Então é fazer um decreto imediato. VP: Nós vimos a mudança de postura de candidatos que eram de esquerda e que hoje passaram para a direita. Inclusive dizem que quem se manteve na esquerda tem um “comportamento adolescente”. O que você, já com 80 anos, pensa sobre isso? PS: Vivam os adolescentes! Esse é o tal

negócio, a mosca azul picou. Na verdade eram carreiristas que estavam equivocados na esquerda. Quem é de esquerda mesmo não está preocupado com ganhar eleições ou perder. Está preocupado em fazer uma campanha e fazer o debate. Eles não tiveram coragem de fazer isso e estão se afundando na lama da burguesia. VP: Você acha que o Lula teria apoio popular para concretizar as propostas socialistas? Quando eleito em 2002? E por que não houve a ação dele?

PS: Em 2002 teria. Eu falei isso a ele quando ele tinha 50 dias de governo. Eu falei ‘Lula, é agora, chama o povo’. Mas ele quer ser presidente, o Brasil não precisa de um presidente, e sim de um líder.

VP: Você sempre diz que não esconde o jogo, como outros candidatos. Mesmo que isso traga prejuízo eleitoral? PS: Nesses 60 anos de vida pública eu a preocupação de dizer aquilo que para mim é o bem do povo. Acho que nisso eu realmente nunca fracassei. Todas as vezes eu digo aquilo que eu acho que é. Então eu disse para os católicos, alguns vão entender, outros não, mas eu não quero ter nenhum voto enganado, nenhum. Se tiver um sujeito que vai votar em mim e ele me disser a razão e eu não achar boa, eu vou dizer ‘olha, isso não é razão para você votar em mim não, vota em outro’. Eu não quero desapontar ninguém, se eu for eleito, vocês sabem o que eu vou fazer.

VP: Você tem alguma mensagem para passar para as pessoas?

PS: A marca minha nessa campanha é a igualdade, o problema mais fundamental nesse país é a distância brutal que existe entre os ricos e os pobres. Esse é um estado terrorista, é um estado dos ricos contra os pobres, e isso é que precisa passar. Ao mesmo tempo em que ele aterroriza o mais pobre ele anestesia com um tipo de programa que é insustentável para o direito das pessoas.


PCB Vírus Planetário: Por que não houve Frente de Esquerda nesta eleição?

Ivan Pinheiro: Nós lutamos muito pra que acontecesse a Frente não só nas eleições. Queríamos evitar essa bipolarização artificial que estamos vendo entre Dilma e Serra. A esquerda não pode participar apenas de eleições porque elas não mudam nada. O que muda alguma coisa é a mobilização popular. Nós Não quero culpar o PSOL, mas por muitas dificuldades que ele teve de estabelecer uma linha eleitoral, passou por muito meses indefinido eleitoralmente. Tentaram se aliar com Marina, e hoje reconhecem que foi um erro, porque talvez pela sua história, eles acreditavam nela. Mas o capitalismo muda muitas pessoas, quantos Gabeiras, Dilmas temos por aí. Marina defende FHC e Lula ao mesmo tempo, parece que é candidata a ministra, ganhe quem ganhar. Plínio é um excelente candidato, apoiaríamos o Plínio se não tivéssemos candidato próprio. Quando o PSOL nos procurou não tivemos tempo de conversar. VP: Numa suposta vitória do Serra ou da Dilma, seria a mesma coisa, na opinião do PCB? No segundo turno, apoiaria alguém?

IP: Não é a mesma coisa, mas é muito parecido. Em 2006, PSOL e PSTU diziam que Lula e Alckmin eram farinha do mesmo saco. Nós do PCB dissemos: não, são farinhas, mas não do mesmo saco. Então decidimos votar no Lula, mas fazendo a crítica e dizendo que ele era o menos pior. O título do nosso documento de apoio ao Lula era “Derrotar Alckimin e continuar em oposição ao Lula”. Posso te antecipar que hoje o sentimento não é o mesmo de 2006. As diferenças entre o PSDB e o PT em 2002 eram grandes, em 2006 pequenas, e em 2010 quase não existem. Principalmente porque o vice da Dilma é o Michel Temer e o PT está na mão do

Foto: Caio Amorim

Ivan Pinheiro

PMDB. O PT está ajudando o PMDB a eleger vários governadores. Vai ser um governo do capital. VP: Você apóia a política externa do Lula?

IP: A política externa do Lula não teve nada de revolucionária, nem de esquerdista, foi malandra. Eu pensava que pelo menos a política externa da Dilma fosse ser parecida com a do Lula, mas não. Ela disse que a guerrilha colombiana é narcoterrorista quando o presidente da Colômbia, que é um bandido, esteve aqui. Nós defendemos uma negociação democrática e com justiça social na Colômbia, para acabar com o conflito. A Colômbia se tornou na América Latina o que Israel é no Oriente Médio, uma grande base militar americana que ameaça o continente, inclusive o Brasil. E tudo que a oligarquia colombiana não quer, é uma negociação de paz, e para evitar, denominaram as FARC como narcoterroristas. Lula nunca fez isso, por isso votamos nele e não no PSDB. Se fosse Alckimin, poderia ter sido aliado do Uribe, do Calderón. Respeito os companheiros do PT, muitos voltarão a ser de esquerda porque o governo da Dilma vai ser um horror. VP: Qual a proposta prioritária da

sua campanha?

IP: A nossa proposta principal é a mu-

dança do caráter do estado brasileiro, porque é um estado à serviço da burguesia e não dos interesses populares. O BNDES, por exemplo, serve à burguesia. A especialidade dele é alavancar grandes empresas brasileiras. Nossa proposta principal é a re-estatização do Estado. A re-estatização da Petrobras para nós é muito importante, para que o dinheiro do petróleo não vá para o bolso dos investidores, e sim para o povo.

O PMDB achou muito esquerdista o programa da Dilma. Às pressas, foi mudado para ser registrado.”

VP: Você é a favor da redução da jornada de trabalho? E a campanha pelo limite do tamanho da propriedade de terra?

IP: Sim, completamente. Nós preferimos que a jornada seja reduzida para 36 horas, sem redução de salários. O movimento sindical defende 40 horas, mas nós achamos recuado. Na França, com um parlamento conservador, passou a proposta de 36 horas. Mas também podemos fazer um processo gradual. A questão agrária é um dos maiores escândalos brasileiros. A nossa solidariedade ao MST é irrestrita porque se eles ficassem esperando uma lei no Congresso para fazer a reforma agrária, não seria desapropriado um latifúndio no Brasil, porque a maioria do Congresso é de latifundiários. VP: Alguma mensagem final? IP: Acreditamos que o primeiro turno é

feito para você votar em quem você realmente quer, e no segundo turno você pode votar no menos pior. É a mesma coisa se eu chegasse aqui, sendo torcedor do América e odiando o Flamengo, ficasse torcendo pro Vasco só para ganhar do Flamengo. Não, vou torcer para o América. O segundo turno está aí para isso e ele é uma inovação democrática muito positiva. Nele, os dois tem o mesmo tempo de televisão, vão para os debates. Existem coligações de 17 partidos em alguns lugares, esses 17 partidos pensam igual? PT e PMDB conseguem ter o mesmo programa? O programa da Dilma foi registrado às 15h, nós estávamos lá registrando nosso programa no cartório. Aí o PMDB achou muito esquerdista, e depois registrou outro, substituiu.

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eleições

s i o D , á l pra dois pra cá

Eleições em análise: a guinada sutil do Congresso à esquerda e o segundo turno com a ofensiva tucana da mídia grande. As Eleições 2010 ficarão marcadas por quatro principais peculiaridades – duas positivas, duas negativas. Por um lado, impressionaram a completa ausência de discussão das grandes questões nacionais e a mais vergonhosa e partidarizada cobertura jornalística da história do país. Por outro, conseguimos eleger um Congresso Nacional ligeiramente mais progressista, e um partido começa a surgir como eventual alternativa de futuro. Desde o início da campanha, os três candidatos de maior visibilidade na mídia priorizaram discussões técnicas. Parecia que só se deveria discutir quem seria o melhor gestor dos programas que, embora diferentes, assemelham-se nos eixos essenciais. Essa tendência só seria revertida ao final do primeiro turno, quando a baixaria e o denuncismo prevaleceram. A generalizada imponência verbal afastava o cidadão de um debate de país e mascarava a ausência de ca-

risma – em especial dos dois candidatos que, agora, estão no segundo turno.

Ilustrações: Clóvis Lima

Por Leandro Uchoas* Putz, Não acredito! segundo turno...

Quando a candidata do PT, Dilma Roussef, disparou nas pesquisas, alavancada pelo apoio do presidente Lula e pelos erros grosseiros de Serra, a mídia corporativa se desesperou. Saudosa dos tempos gordos do tucanato, período de ouro dos coronéis e banqueiros, passou a apoiar escancaradamente seu candidato. No papel ou na TV, o ataque ao governo era diário. Uma denúncia contra o braço direito de Dilma surgiu – veja que coincidência – a um mês das eleições. A uma semana da abertura das urnas, a estratégia mudou. A candidatura de

E aí!

Pronto pra repetir a dose?

...Não vejo a hora de tirar essa fantasia!

Marina Silva, do PV, foi incensada, com a invenção de uma tal “onda verde”, e com cobertura maciça. Acabou dando resultado, e o candidato do PSDB, José Serra, foi ao segundo turno. Dilma – que, convenhamos, não representa nenhuma grande ameaça aos podres poderes – tende a abrandar, ainda mais, seu discurso.

O segundo turno também promete um acirramento ainda maior da campanha pró-Serra dos meios de comunicação de grande porte. Até a votação no dia 31 de outubro, são 4 capas da Veja, 27 edições da Folha de São Paulo, 27 manchetes manipuladoras d’O Globo e 24 “Boa Noites” de William Debate realizado pela CNBB na Universidade Católica de Brasília entre os presidenciáveis

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Golpe

no Equador “

A generalizada imponência verbal afastava o cidadão de um debate de país.”

Bonner e William Waack. A mídia tradicional, apesar de seu respaldo, vê sua credibilidade em baixa, o que pode fazer com que a campanha tucana tenha um efeito reverso. Por outro lado, há de se comemorar a sutil guinada à esquerda do Congresso Nacional. Partidos centristas, como o PT, aumentaram a bancada, e a direita, de PSDB e DEM, teve sua força reduzida. A mudança – que, repita-se, é pequena – pode fazer com que algumas pautas progressistas avancem nos próximos quatro anos. A grande surpresa, entretanto, talvez tenha sido o PSOL. O partido não veio à eleição presidencial com um discurso udenista – preferiu a campanha pedagógica, didática. Apresentou-se como alternativa de fato que, uma vez enraizada socialmente, pode dar samba. O PSOL não cresceu, até porque a sensação popular predominante é de continuísmo. Mas se solidificou no imaginário social como um partido necessário. Aqui, no Rio de Janeiro, a proposta psolista teve seus momentos mais notórios. Quem acompanhou a campanha de Chico Alencar, deputado federal, e Marcelo Freixo, estadual, à reeleição, emocionou-se. Foto: Cristiano Magalhães

Aeroportos fechados, prédios ocupados por policiais militares, marchas nas ruas. O cenário no dia 30 de setembro em Quito, Equador, chamou a atenção de toda a comunidade internacional para o que poderia ser um novo golpe de Estado na América Latina. Governos como o de Hugo Chávez, da Venezuela, declararam que a manifestação policial, teria, sim, por trás, a intenção de ferir a democracia equatoriana. Rafael Correa resiste ao golpe

Para o presidente Rafael Correa, essas ações são parte de uma tentativa de golpe que estava sendo preparada há meses pela oposição. Mesmo com os ataques, o mandatário anunciou que continuará com suas posições. "Eu não vou retroceder, se querem, venham me buscar aqui", afirmou. As ações protagonizadas pelos policiais não ficaram sem respostas. Organizações sociais equatorianas, assim como organismos internacionais e autoridades latino-americanas, declararam apoio ao presidente e demonstraram preocupação com a democracia do país. Sob o lema "defendemos a democracia e apoiamos a gestão do Presidente da República Rafael Correa", milhares de equatorianos foram à Praça da Independência apoiar o presidente. A comunidade internacional também está preocupada com a situação do país. A Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou reunião extraordinária do Conselho Permanente para discutir o caso. A União das Nações SulAmericanas (Unasul) declarou estar ao lado de Correa, e convocou uma reunião de urgência em Buenos Aires. Em comunicado, Néstor Kirchner, secretário-geral do organismo, destacou que os países sul-americanos não podem "tolerar, sob nenhum aspecto, que os governos eleitos democraticamente se vejam pressionados e ameaçados por setores que não querem perder privilégios".

Uma militância engajada e alegre, nas ruas, buscava o voto politizado e consciente, apresentava as conquistas dos dois mandatos, vestia a camisa e balançava sua bandeira com afeto. No dia da eleição, cada bairro do Rio estava infestado por bandeiras da dupla. O resultado foi uma avalanche de votos capaz de dobrar a representação local do partido. Era o ressurgimento da utopia na face dos jovens, o renascimento da esperança na política. Em que isso vai dar? Quem viver, verá. *Leandro Uchoas é jornalista correspondente do jornal Brasil de Fato (www.brasildefato.com.br) no Rio de Janeiro.

É interessante notar que a mídia golpista brasileira, como era de se esperar, não considerou a ação uma tentativa de golpe. É notável a campanha desse tipo de imprensa para derrubar os governos mais progressistas da América Latina, até porque essa mídia é sustentada pelo grande empresariado que não aceita perder seus privilégios. No momento em que escrevemos, Rafael Correa está no poder, mas afirma que a tentativa de golpe não terminou. *Com informações da Adital/ Karol Assunção

Ilustração: Carlos Latuff

Cerca de mil pessoas comemoram na sede do PSOL, na Lapa, a eleição com recorde de votação de Chico Alencar e Marcelo Freixo

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Foto: SXC

Brasil

i a v e d n o é t A ? a c r e ac O latifúndio, suas implicações e a luta pela reforma agrária em um país dividido por capitanias hereditárias Por Júlia Bertolini sim açúcar, isso já no século XVI. Para a Apesar de cultivar uma área menor com O Brasil tem, ainda hoje, mais de 30 época era uma manufatura muito desenlavouras e pastagens, a produção familiar milhões de pessoas vivendo no campo, volvida, porque o que existia era comeré responsável pelos principais alimentos de acordo com o último censo democialização de especiarias”, afirma. presentes na mesa do brasileiro. Respongráfico do IBGE, consolidado em 2000. de por mais de 85% da produção nacional Ao todo, são mais de quatro milhões de de mandioca, 70% da produção de feijão, estabelecimentos que se sustentam, baO peso do agronegócio 38% de café e 34% de arroz, consumidos sicamente, da agricultura familiar, o que Hoje o agronegócio continua com um no mercado interno. A cultura com menor representa 84,4% do total de estabelecipeso forte na economia brasileira, mais participação na agricultura familiar é a da mentos rurais cadastrados no país. Ende um quarto do Produto Interno Bruto soja (16%), um dos principais produtos do tretanto, ao verificarmos a área que estes (PIB) está vinculado a ele. Atualmente, o agronegócio exportador brasileiro (IBGE, estabelecimentos ocupam no total de Brasil também exporta mais do que im2006). terras do Brasil, a realidade desigual do porta, mantendo um saldo positivo na bacampo fica evidente. Os quase 85% dos Para Carlos Walter, professor de Geolança comercial. Em 2008, esse saldo foi estabelecimentos rurais que vivem de grafia da Universidade Federal Fluminende 24,7 milhões de dólares (Fonagricultura familiar de pequena te: MDIC. Secex). escala não chegam a ocupar nem 25% das terras agricultáEsse modelo de desenvolvi15% das propriedades do país ocuveis do Brasil, enquanto 15% mento adotado pelo país visa a das propriedades do país ocuobtenção de lucro através de expam 75% das terra agricultáveis.” pam mais de 75% dessas terportações e explora os recursos ras. naturais disponíveis no Brasil de maneira descontrolada e perigoDados do mesmo censo sa. Para o geógrafo Carlos Walter, o agrose (UFF), toda a história do Brasil está ba(2006) indicam que 2,8% do número total negócio no país tem quase 500 anos. seada na exportação agrícola: “O que a de propriedades rurais que o país possui,

é de latifúndios que ocupam mais da metade da extensão agricultável do país. Ou seja, um pequeno número de proprietários controla a maior parte das terras produtíveis do Brasil, detendo poder econômico e político.

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gente tem é a reprodução do mesmo. Na verdade o Brasil foi muito pouco exportador de matéria prima, principalmente no que se trata de produtos agrícolas, mas sim exportador de manufaturados, o Brasil nunca exportou cana-de-açúcar, mas

“O Brasil é um país que consegue crescer fortemente, mas que tem um índice de desigualdade profundo. Quer dizer, o Brasil sempre utilizou as tecnologias de ponta para agricultura e ao mesmo tempo, ainda hoje, se descobre


Foto: Samuel Tosta (Agência Petroleira de Notícias)

o Brasil usando trabalho escravo. Essa relação entre modernidade tecnológica e desigualdade social é a principal marca do modelo de desenvolvimento brasileiro nestes cinco séculos, e este modelo do agronegócio que seguimos hoje só faz atualizar essa realidade”, afirma o geógrafo.

Produção para consumo interno e geração de empregos Além de produzir para o mercado interno, as pequenas propriedades empregam mais mão de obra do que o agronegócio. O Censo Agropecuário do IBGE (2006) registrou 12,3 milhões de pessoas vinculadas à agricultura familiar e 4,2 milhões de pessoas envolvidas na agricultura não familiar, o que corresponde a 25,6% da mão de obra ocupada. O Censo também apontou que a agricultura familiar gera, em média, 15 empregos em cada 100 hectares e o agronegócio gera menos de 2 empregos a cada 100 hectares. Os dados do IBGE mostram que a agricultura familiar gera mais emprego e alimento para a população brasileira. Ao mesmo tempo, é o agronegócio que vem dominando a estrutura agrária no país e intensificando ainda mais a desigualdade no campo. Na década de 90, o Brasil

Intervenção feita pela campanha do plebiscito pelo limite da propriedade de terra no ato de abertura denuncia a avalanche da alimentação industrializada.

Ainda hoje se descobre trabalho escravo no Brasil.”

abriu completamente sua economia para a entrada de empresas transnacionais, o que agravou ainda mais esta desigualdade: “A vinda das grandes empresas transnacionais, na verdade, agrava uma situação que já era grave. O Brasil já tinha uma estrutura de poder e de concentração fundiária que facilitou a entrada dos grandes capitais. Se o país tivesse uma estrutura fundiária democratizada isso já inibiria as grandes empresas, mas hoje a pessoa consegue comprar de uma vez só 10 mil, 50 mil hectares, então a estrutura agrária e fundiária concentrada acaba sendo um grande atrativo para os grandes investimentos internacionais.”, destaca Carlos Walter.

CLASSIFICAÇÃO DAS MICRORREGIÕES SEGUNDO A ESTRUTURA FUNDIÁRIA - 2003

LEGENDA Classes de área predominantes na área total dos imóveis em 2003

até 100ha 50 a menos de 1.000ha 500 até 10.000ha 1.000 até 100.000ha

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ATLAS DA QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA

2008 - Eduardo Paulon Girardi

Histograma

5.000ha ou mais

Dados: DATALUTA - Estrutura Fundiária - Cadastro do INCRA

A luta pela reforma agrária Ao longo do desenvolvimento econômico brasileiro, do crescimento do agronegócio e do processo de crescimento dos centros urbanos, os movimentos sociais também perceberam as mudanças no país e passaram a travar a luta pela reforma agrária. Já no período anterior ao golpe de 1964 os movimentos sociais e do campo articulavam uma mobilização em torno desta questão, que culminaria com o anúncio do plano de reforma agrária do governo de João Goulart. Logo em seguida, porém, veio o golpe militar e o retrocesso na política agrária do país. Para Paulo Alentejano, professor de geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e diretor da Associação de Geógrafos Brasileiros, a reforma agrária passou por dois momentos históricos marcantes: “Primeiro, nos anos 50 e 60, com a guerra fria, os setores conservadores atribuíam a reforma agrária ao comunismo, e, segundo, no final dos anos 90, quando houve uma onda favorável à reforma agrária.” Paulo afirma que a “onda favorável” ocorreu, em grande parte, depois que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) efetuou uma série de ocupações de terras e denunciou a violência no campo, período em que ocorreu o massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996. “Depois desse momento, começou um processo de bombardeio da grande mídia conservadora sobre os movimentos sociais, em especial o MST. Aí veio uma onde de glorificação do agronegócio, e de dizer que a reforma agrária não presta para nada, é ultrapassada”, completa o pesquisador.

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Reprodução

Limite para o agronegócio

Tamanho da Propriedade da Terra, que começou em todo o Brasil no dia 1º de setembro e durou até o dia 7, 10 ou 12 do mesmo mês, dependendo do estado. Ainda segundo Paulo Alentejano: “O que está posto em questão é a luta pela reforma agrária e o estabelecimento de um limite para o tamanho da propriedade da terra é um instrumento a mais para a luta pela reforma agrária e justiça no campo

A partir desta realidade e da percepção da importância da reforma agrária para a construção de um país mais democrático, foi organizada a Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra. Criada em 2000, pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo (FNRA), a campanha tem o objetivo de sensibilizar a sociedade brasileira e trazer a tona o debate sobre a reforma agrária e a soberania alimentar. A campanha pretende, através da Para a Campanha, o mobilização social, incluir um inciso na Constituição Federal que agronegócio não implica limite as propriedades rurais ao necessariamente na produção tamanho máximo de 35 módulos de alimentos e ainda fiscais, de 175 a 3.500 hectares. O módulo fiscal é uma medida desrespeita o meio ambiente.” usada pelo INCRA que considera uma série de características da terra e calcula o tamanho do módulo a partir do tamanho suficiente para promover o sustento de uma família de trabrasileiro. A limitação do tamanho da probalhadores rurais. Um módulo fiscal vapriedade é uma ação importante, porque ria de tamanho de acordo com a região você poderia, atingindo 2% dos imóveis do Brasil e com a proximidade ou de um cadastrados no INCRA como imóveis centro urbano.

A ação nacional mais recente e de grande mobilização da campanha foi a realização do Plebiscito Sobre o

Invasão de Terras pelo Agronegócio Na região Centro oeste e norte existe uma grande predominância de estabelecimentos voltados para o agronegócio. No centro oeste, cerca de 9 milhões de hectares são ocupados pela agricultura familiar enquanto mais de 94 milhões são destinados a agricultura não familiar. O estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Pará e Rondônia são os estados com maior concentração de terra no Brasil.

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Sepultamento de 19 trabalhadores sem-terra assassinados pela polícia do estado do Pará no Massacre de Eldorado dos Carajás em 17 de abril de 1996. 14 anos depois, os homicídios de sem-terras continuam a ocorrer no interior brasileiro.

rurais, ter um universo de mais de 200 milhões de hectares colocados à disposição da Reforma Agrária no Brasil”. A proposta da Campanha é que as terras maiores do que o limite de 35 módulos fiscais tenham uma parcela direcionada para a reforma agrária. De acordo com a legislação brasileira as terras que tem de um a quatro módulos fiscais são consideradas pequenas propriedades, de cinco a 15 módulos são médias, e acima de 15 módulos são grandes propriedades. A proposta, portanto, não é considerada radical. Aprovado o limite máximo de 35 módulos fiscais, ainda vão continuar existindo grandes propriedades no Brasil: “A proposta da campanha não é acabar com as grandes propriedades e sim com as gigantescas”, frisa Paulo. O processo de desapropriação e direcionamento da parcela destas propriedades para a reforma agrária cumpriria com o que já está previsto na constituição brasileira. Ou seja, cada proprietário teria o direito de receber uma quantia em dinheiro ou em títulos da dívida agrária, como pagamento pela parcela desapropriada. De acordo com a legislação, o único caso em que terras podem ser confiscadas sem que haja uma compensação financeira é em caso de plantio de drogas, o que caracteriza uma ação criminosa. “Outra luta que está colocada pela campanha é a reivindicação da PEC 438, que está parada há muito tempo na câmera dos deputados, e que prevê que as terras onde haja trabalho escravo também sejam destinadas para fins de reforma agrária sem indenização, porque também seria caracterizado como ação criminosa submeter alguém a trabalho escravo”, explica o professor.


Foto: Raphaella Bernardes

Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra Os resultados do Plebiscito serão divulgados dias 18 e 19 de outubro. Mas a Campanha continua avançando além do plebiscito. Também roda pelo Brasil o abaixo assinado pelo limite da propriedade da terra. Mais informações em: www.limitedaterra.org.br

Soberania alimentar X Agronegócio Além do esforço em mobilizar a sociedade para o tema da reforma agrária, a Campanha pelo Limite da Terra toca na questão da soberania alimentar. Para a Campanha, o modelo de desenvolvimento voltado para o agronegócio implica cada vez mais no uso de grande parcela de terras para a produção de gêneros agrícolas, mas não necessariamente de alimentos. O objetivo do agronegócio é a exportação, e os principais produtos são a soja, majoritariamente para produção de ração animal; cana-de-açúcar, para produção de agro combustíveis; eucalipto e pinos, para produção de papel; e uso de terras para criação extensiva de gado. Só em 2008, o Brasil produziu mais de 600 mil toneladas de cana-de-açúcar e cerca de 60 mil toneladas de soja e milho, enquanto feijão e batata não alcançaram 4 mil toneladas. No mesmo período, a produção de arroz só chegou a cerca de 12 mil toneladas. Esse cenário deixa evidente o avanço do agronegócio, ao mesmo tempo em que revela um risco para a população brasileira. Além de consumir

uma parcela enorme das terras brasileiras, o agronegócio utiliza cada vez mais produtos químicos e sementes transgênicas na sua produção, colocando em risco a qualidade do solo, da água e a saúde do trabalhador do campo. “A cultura camponesa constrói, inventa e cria um diálogo com a natureza. Ao contrário dos organismos geneticamente modificados em laboratório. A cultura camponesa propõe para a natureza alguma coisa, se der certo, ela continua aquele processo. É uma relação dialógica com a natureza, ela tem direito de opinar. No agronegócio não, ele produz a sua semente e a natureza tem que se adaptar aquilo que ele quer, e aí vem todo um pacote junto, para forçar essa adaptação da natureza.”, afirma Carlos Walter.

Plebiscito pelo limite da propriedade de terra Para Paulo Alentejano, que participou da organização do plebiscito no Rio de Janeiro, o modelo agrário que o Brasil vem seguindo só se sustenta com largo uso de agrotóxicos, o que colocou o Brasil hoje na posição de maior consumidor mundial de agrotóxicos do mundo, ultrapassando os Estados Unidos. “A reforma

Qual o limite em outros países? Segundo o Fórum Nacional pela Reforma Agrária (FNRA) a proposta de reforma agrária para o Brasil não é radical. Outros países aprovaram limites mais rigoroso, como no caso do Japão onde o limite máximo é de 12 hectares e da Índia, de 21,9 hectares. Na América Latina, os limites no Peru, El Salvador e Nicarágua são de 150 hectares, 500 hectares e 700 hectares, respectivamente.

agrária não apenas democratiza o acesso a terra, ela pode reverter este modelo, voltando a produção para os alimentos e com menor uso destes produtos que implicam em risco para a saúde do trabalhador”, concluiu o geógrafo. Paulo ainda completa: “A agricultura familiar gera mais emprego e maior capacidade produtiva da terra, um modelo que gera mais renda, mas que não vai beneficiar as grandes empresas transnacionais que estão no Brasil, mas sim os trabalhadores do campo e da cidade”. A avaliação da Campanha, no Rio de Janeiro, é que o plebiscito cumpriu a função de trazer à tona o debate sobre a reforma agrária e a soberania alimentar no Brasil. Para a estudante de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e militante do Núcleo Estudantil de Apoio a Reforma Agrária (NEARA), Luna Arouca, o plebiscito foi positivo: “Ele traz também o debate para os movimentos sociais de que tipo democracia queremos construir, os movimentos decidem participar porque acreditam na importância do debate e, principalmente, na importância de pensar a sociedade junto com a população”, declara a estudante. O geógrafo Carlos Walter também avalia positivamente a mobilização e ressalta: “A gente precisa estar sempre buscando novas formas de reinventar, de estar se aproximando do povo, de discutir com o povo, acho que neste sentido, para quem quer construir uma sociedade que não imponha as coisas para as pessoas, mas que vá discutir com elas, acho que essa campanha cumpriu um papel fundamental. Mesmo que não tenha alcançado o mesmo patamar que outras consultas, acho que a gente tem que insistir em dialogar com a população sempre”, conclui.

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Garoando na Vírus

Direto de Sampa

Educação O problema da educação de São Paulo vai muito além da aprovação continuada ou dos professores Por Giovanna Arruda Offer Reprodução

Greve dos professores do estado de São Paulo que durou de março até abril deste ano

com a prova por mérito implantada, que pressupõe premiar os professores mais bem avaliados com aumentos progressivos dos salários. Mas o aumento não é congruente, pois limita aos 20% melhores, ou seja, se todos tirarem nota 10 só 20% receberão o aumento e estes deixam de receber vale-alimentação. Aumenta aqui, tira ali.

salários, carga “Baixos horária altíssima e No início da década de 90, em São Paulo, o índice de evasão escolar e da repetência era alarmante. Os governantes começaram a perceber que o sistema de seriação, em que os alunos são aprovados ou reprovados a cada ano, poderia ser extremamente prejudicial por desconsiderar a realidade dos estudantes. Por vezes, problemas familiares ou financeiros acabam atrapalhando o desempenho, além do fato de que separar grupos de amigos pode desestimular os alunos. Havia também queixas de que a repetência em apenas uma matéria levava o estudante a repetir completamente toda a série – o que poderia ser facilmente resolvido em aulas de reforço. O então governador de São Paulo Mario Covas, em 1997, implantou o sistema de progressão continuada, baseado na ideia de ciclos em vez de séries, respeitando os ritmos escolares, entendendo que o estudante está em constante processo de aprendizagem. A ideia em si é boa, mas não poderia ter sido implementada sem uma mudança radical na infra-estrutura educacional. Funcionaria melhor se o professor pudesse conhecer o aluno em sua totalidade, sua história, sua vida em família, seus problemas emocionais, e a partir daí ter material pedagógico eficiente para desenvolver atividades que atendessem a esses problemas. A educação seria, então, para tornar o aluno um cidadão.

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Os professores temporários também têm suas respectivas provas. Eles são avaliados e escolhem suas turmas de acordo com a nota. Como o Estado não quer ter nenhum tipo de vínculo trabalhista nem nenhum compromisso com a formação do profissional, se o professor for mal na prova é despedido e sai sem ter nenhum direito previsto pela CLT.

a péssima estrutura das escolas fazem do cotidiano do professor uma verdadeira batalha.”

O sistema de progressão continuada há muito tempo apresenta sinais de que não vem dando muito certo, mas o governo de São Paulo não só não resolveu, como agravou o problema . O ex-governador José Serra conseguiu piorar o que já era ruim. Para não colocar a culpa no sistema, coloca a culpa nos professores, “se esquecendo” de que os recursos oferecidos a eles são precários. Baixos salários, carga horária altíssima e a péssima condição estrutural das escolas fazem do cotidiano do professor uma batalha.

Se não bastasse essa situação, inicia-se a implantação do “Caderno do Aluno”. O livreto apresenta ponto a ponto o conteúdo que será cobrado no SARESP (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo) - uma tentativa de maquiar os péssimos resultados obtidos. O professor, além de ser responsabilizado pela má qualidade da educação, passa a ser um aplicador de um conteúdo que já vem pronto e embalado. Daqui a pouco vai parecer comida congelada – é somente requentar e enfiar pela boca dos estudantes, na esperança de que eles repitam tudo na provinha. É a escola perdendo sua autonomia e a robotização do ensino. A desvalorização do professor vai além

Nem mesmo o trololó mais repetido pela campanha do presidenciável José Serra, o de dois professores por sala, é verdade. O que há é um estagiário e um professor, nunca dois professores. E mesmo que tivesse dois professores, ainda teríamos o grave problema da superlotação em sala de aula. Por que, então, não colocar 20 alunos em cada sala com um professor cada? Mas aí não haveria material para propaganda, não é mesmo? Tudo não passa de uma boa propaganda e um pouco de maquiagem – e diga-se de passagem, cara – para enganar quem está distante desta realidade paulista, que é muito diferente do que José Serra quer nos fazer acreditar. *Giovanna Arruda Offer é estudante do 3º ano do ensino médio na Escola Estadual Prefeito Antonio Pratici em Guarulhos - São Paulo e vive na pele o que governo tucano não fez, mas diz que fez na propaganda eleitoral.


Alô, Chics! GLÓRIA KAIU

Genteem! Bafão! Por mais demodê que essa revista furreca seja, minha coluna fez um super sucesso! Mas, agora me deram menos de meia-página. Estão cerceando minha liberdade de expressão. Um absurdo! Uma demonstração óbvia de que o barbudo grosseirão do Lula quer censurar a nossa liberdade de imprensa. Os excelentes jornais Folha de São Paulo, O Globo e a fofíssima revista Veja estão sofrendo com essa censura. Só se vê notícia boa do governo Lula. Abaixo a ditadura!

Ó, dúvida cruel!

É ou não é super chic?

deselegante do que isso?

O nosso queridíssimo Cabralzinho está super in! Imagine que ele é tão bonzinho que está dando R$1200 como recompensa para quem, espontaneamente, ajuda em sua campanha! Ele é um querido, não é mesmo?! Que coração. Dar a aqueles fedorentos 1200 reais! Não por acaso que ganhou no primeiro turno. Até por que ninguém merece o Gabeira com sua sunga de crochê, né? Quer coisa mais

Se tem uma coisa pela qual essa eleição vai ficar marcada é pelo magnífico trabalho de nossos super stylists dos 3 candidatos a presidente. Marina arra-sou com seu look casual-chic-naturaurbana. Ai, tadinha né, gente? Até torci por ela. Imagina, afinal sou super amiga do civilizadíssimo Guilherme Desleal que está fazendo um trabalho social super bacana, permitindo que muitas mulheres humildes sejam suas próprias chefes, não é o must? Mas, e agora pessoal? Quem escolher? Ferra ou Vilma? Nossa, que dúvida, chics do meu Brasil, parece até que tenho que escolher meu figurino pra um desfile de Dior!

Por um lado, todos meus amigos empresários me mandam votar na Vilma porque o Lula ajudou muito eles a desenvolver o Brasil com responsabilidade (e quem diria isso em 2002, hein? Confesso que estava com medo também junto com a Regininha Dumarte, mas o Lula provou que é tendência). Só que um grande amigo meu da área de comunicação me falou que a Dilma não vai segurar o PT e eles vão censurar a imprensa! Só vai poder veicular propaganda comunista! Gentem! Imagina que horror? Acho até que vou de Ferra, sempre estarei ao lado da liberdade de imprensa! Beijocas e Stay chics (& Free)!

Por uma PETROBRAS 100% estatal e pública! Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias limpas. Notícias da campanha: www.apn.org.br

Participe do abaixo-assinado: www.sindipetro.org.br

organização:

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