“Somos todos Guarani-Kaiowá”
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Violação dos direitos indígenas em pauta
Vírus Porque neutro nem sabonete, nem a Suíça
R$5 edição nº 18 dezembro 2012
Planetário
maracanã à venda Projeto de concessão do Maracanã prevê demolição de centros esportivos, escola municipal e antigo Museu do Índio
EXCLUSIV O!!
UM PERFIL DE REGINA DU ARTE E CIBELE BA G INSKI JOV
(A EM DE 23 ANOS QUE ESTÁ REF UNDANDO O PA RTIDO DA DITA D URA MILIT A R)
Edição Digital reduzida
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FAZENDO
MEDIA
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Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias limpas. Notícias da campanha: www.apn.org.br www.tvpetroleira.tv organização: Participe do abaixo-assinado: www.sindipetro.org.br
traço livre
Por Adriano Kitani | Veja mais em: pirikart.tumblr.com/
o i e r l r a o C Vir >Envie colaborações (textos, desenhos, fotos), críticas, dúvidas, sugestões, opiniões gerais e sobre nossas reportagens para contato@virusplanetario.net
Queremos sua participação!
Tiago Simões: Quero vocês na minha Bahia de todos os santos, conheci a revista 2 meses atrás, e curto muito o trabalho de vocês, tá ótimo, notícia de verdade, aquilo que realmente deve se lido!
Afinal, o que é a Vírus Planetário? Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principalmente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário: Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos visibilidade a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano.
O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acreditamos que com mobilização social, uma sociedade em que haja felicidade para todos e todas é possível.
Recentemente, unificamos os esforços com o jornal alternativo Fazendo Media (www.fazendomedia.com) e nos tornamos um único coletivo e uma única publicação impressa. Seguimos, assim, mais fortes na luta pela democratização da comunicação para a construção de um jornalismo pela diferença, contra a desigualdade.
Expediente: Rio de Janeiro: Aline Rochedo, Ana Chagas, Artur Romeu, Beatriz Noronha, Caio Amorim, Chico Motta, Eduardo Sá, Gabriel
Bernardo, Ingrid Simpson, José Roberto Medeiros, Julia Maria Ferreira, Maria Luiza Baldez, Mariana Gomes, Miguel Tiriba, Noelia Pereira, Raquel Junia, Seiji Nomura e William Alexandre | Campo Grande (MS): Marina Duarte, Tainá Jara, Jones Mário, Fernanda Palheta e Rafael de Abreu | Brasília: Alina Freitas, Ana Ribeiro Malaco, Mariane Sanches, Luana Luizy e Thiago Vilela Diagramação e projeto gráfico: Caio Amorim Ilustrações: Vila Velha (ES): Laíssa Gamaro (CAPA), Santo André (SP): Adriano Kitani, Belo Horizonte (MG): Paulo Marcelo Oz, Maceió (AL): Pedro Lucena, Rio de Janeiro: Carlos Latuff e Carlos D Medeiros Revisão: Bruna Barlach Colaborações: João Roberto Pinto e Maíra Fainguelernt
Conselho Editorial: Adriana Facina, Amanda Gurgel, Ana Enne, André Guimarães, Carlos Latuff, Claudia Santiago, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, Henrique Carneiro, João Roberto Pinto, João Tancredo, Larissa Dahmer, Leon Diniz, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Mauro Iasi, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal, Paulo Passarinho, Repper Fiell, Sandra Quintela, Tarcisio Carvalho, Virginia Fontes, Vito Gianotti e Diretoria de Imprensa do Sindicato Estadual dos Profissionais de Edução do Rio de Janeiro (SEPE-RJ) Siga-nos: twitter.com/virusplanetario Curta nossa página! facebook.com/virusplanetario
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Comunicação e Editora A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação e Editora com sede no Rio de Janeiro. Telefone: 3164-3716
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Editorial O Maracanã da discórdia Em vésperas de Olimpíadas, o governo do estado do Rio de Janeiro prevê a demolição de dois dos melhores centros esportivos do país. Então porque não aproveitar e demolir logo uma escola modelo do município? Mas não se preocupem minha gente, é por um bom motivo. Tudo vai virar um grande estacionamento. Afinal, como seria possível conceder o Maracanã, templo do esporte brasileiro, à iniciativa privada sem que houvessem vagas para estacionar o carro? Não bastava ter investido mais de um bilhão de reais com dinheiro público em reformas no estádio nos últimos 15 anos. Na verdade, a concessionária responsável pela gestão do Complexo do Maracanã estará fazendo um favor a todos nós, já que administrar um espaço como aquele é muito caro. Por isso, nada faz mais sentido do que garantir aos investidores que a empreitada, arriscada, seja de fato rentável. Quando a cidade passa a ser gerenciada como uma empresa, quem melhor do que os empresários para definir o que é melhor para a cidade? Ironias à parte, é disso que se trata. A situação do Complexo do Maracanã não é um caso isolado, mas se torna emblemática do seqüestro da política por interesses econômicos na cidade do Rio de Janeiro. Nunca se fez tanto dinheiro aqui e a previsão é que os investimentos continuem vindo de todas as partes, alimentando o discurso do progresso. Um discurso que nos torna reféns do nosso próprio governo, porque ao tentar nos convencer que sabe o que é melhor para nós, limita nossa participação nas decisões sobre os rumos que queremos seguir enquanto sociedade. Os canais para a democracia ficam mais estreitos a cada vez que nos deixamos convencer de que o Rio está melhor porque o Rio está mais limpo. Procure não ser o protagonista do seu próprio Show de Truman. A nova moda jovem conservadora Com estatuto do partido já publicado no Diário Oficial da União, a ARENA (partido da ditadura militar) está prestes a ser refundada. E a líder é Cibele Baginski, jovem de 23 anos, estudante de direito da Universidade Caxias do Sul. Gótica, neo-pagã (wicca), jogadora de RPG, roqueira, com piercing no lábio e cabelos vermelhos, a gaúcha diz não estar brincando e agora segue com mais 150 pessoas por todo o Brasil para recolher as 491 mil assinaturas necessárias, Cibele diz já ter mais de 40 mil, para fundar o partido. Dedicamos nossas páginas de humor (p. 36 a p.39) a essa fofurinha de pessoa. Novidades editoriais Temos o prazer de anunciar que a partir desta edição a Vírus Planetário e o Fazendo Media (www.fazendomedia.com) vão seguir juntos no fortalecimento da comunicação alternativa e independente com uma publicação impressa unificada. Pela primeira vez desde 2008, quando começamos nossa caminhada, conseguimos publicar seis edições no mesmo ano. Por isso, gostaríamos de agradecer a você, nosso leitor, e aos nossos parceiros – o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE/RJ), do Sindicato dos Petroleiros (Sindipetro/ RJ), a Associação dos Docentes da UFF (ADUFF/SSind) e a Associação dos Docentes da UFRJ (ADUFRJ/SSind) – pelo apoio. Para 2013 estamos com projetos ambiciosos. Vamos nos tornar uma publicação mensal e você vai poder receber a Vírus na porta de casa. É só você correr para o nosso site e fechar com a gente durante os próximos quatro meses. Informe-se e mobilize-se!
Sumário
(da edição completa)
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Ana Enne_Uma Consciência Negra
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Mato Grosso do Sul_Somos todos Guarani-Kaiowá
10 Bula Cultural_Zona Oeste 14 Bula Cultural 15 São Paulo_Uma visão aérea dos incêndios nas favelas
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Quem são os proprietários do Brasil?
18 Fazendo Media 22 CAPA_Rio de Janeiro_ Cartão Vermelho
26 Entrevista Inclusiva_Dominic Barter 30 Brasil_Mais de 20 milhões de escravos
34 Traço Livre 36
O sensacional repórter sensacionalista
38 Passatempos Virais
Ana Enne Ana Enne é professora do departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF), jornalista formada pela PUC-Rio e doutora em Antropologia pelo Museu Nacional (UFRJ).
Por que precisamos falar muito sobre , cotas e outros pontos polêmicos?
consciência negra
Em novembro de 2012, marcos importantes acerca da luta contra o racismo no Brasil foram assinalados: “Dia da Consciëncia Negra”, com a realização de diversos eventos; posse do primeiro negro como presidente do Supremo Tribunal Federal; visita da filha de Martin Luther King à Faculdade Zumbi dos Palmares em São Paulo; os 102 anos da Revolta da Chibata. A partir dessa listagem, cabe uma pergunta incômoda: o quanto você ouviu falar desses marcos, o que leu ou discutiu a respeito, que consciência formou acerca desse quadro, a não ser a referência mais do que badalada de que dia 20 de novembro seria feriado? Uma rápida consulta ao Google acerca da temática “Dia da Consciência Negra 2012” já evidencia o quanto esta questão é problemática. As primeiras referências são todas relativas ao feriado. No meio da primeira página, há um link para o portal Brasil, do governo federal. Em termos noticiosos, encontramos entre as primeiras referências somente duas entradas para o G1, sendo uma das duas voltada para noticiar que “concurso de beleza marca o Dia da Consciência Negra em Montes Claros”. Convenhamos: constrangedor e revelador! É muito pouco. O silenciar acerca da temática do racismo no Brasil, em especial em torno de marcos comemorativos, é ensurdecedor. Claro que encontramos referências em mídias especializadas e alterna6
Vírus Planetário - dEZEMBro 2012
tivas; da mesma forma, as temáticas circularam nas redes sociais. Mas em volume e repercussão, em comparação com outras datas e temas, de forma tímida e quase marginal. A luta, portanto, é claramente também discursiva e em torno da representação. A questão do racismo e da condição dos negros no Brasil é de uma relevância indiscutível. Por isso a importância da afirmação de cotas, como política de representação agressiva e imediata. Hoje, dados recentes mostram que os negros são expressivos, talvez maioria, na classe média brasileira. E, ao mesmo tempo, são maioria entre a população carcerária no Brasil, formam o maior contingente populacional das favelas e são continuamente vítima de situações de violência e constrangimento por questões raciais. Ou seja, são maioria em muitas coisas, algumas boas, outras evidências contundentes da manutenção da desigualdade e da injustiça social. Mas não se encontram representados nos espaços hegemonicamente ocupados por essa classe média, nem de forma positiva nem de forma crítica. As universidades são um desses lugares. A mídia e as redes sociais outros. A luta política, portanto, passa também pela disputa por visibilidade e representação, e é sempre urgente e justificada.
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O silenciar acerca da temática do racismo no Brasil, em especial em torno de marcos comemorativos, é ensurdecedor”
mato grosso do sul
Somos tod@s
Guarani-Kaiowá Por Fernanda Palheta, Jones Mário e Marina Duarte “Queremos / Encher a terra de vida Nós os poucos que sobramos / Nossos netos todos / Os abandonados todos Queremos que todos vejam / Como a terra se abre como flor” Diegues, Douglas (Org.). Kosmofonia Mbya-Guarani. São Paulo, Mendonça & Provazi editores, 2006.
Foto: Carol Caco
Denúncias e solidariedade nas redes sociais escancaram um conflito histórico
Confira a reportagem na edição completa digital ou impressa Vírus Planetário - DEZEMBro 2012
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Bula cultural
algumas recomendações médico-artísticas
O Chorinho no final do Píer na Pedra de Guaratiba é ponto de encontro dos artistas e moradores locais nos domingos de sol. Fotos: Julia Maria
Zona Oeste,
o Rio para além dos braços do Redentor
Por Aline Rochedo e Julia Maria “Do Leme ao Pontal não há nada igual”. Quando Tim Maia compôs uma de suas canções mais famosas, ele simplesmente esqueceu a maior região do Rio de Janeiro. A imagem do cartão postal continua emoldurando apenas as praias da Zona Sul, o Corcovado e o Pão de Açúcar. Muitas vezes a Zona Oeste é considerada uma grande periferia,
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Vírus Planetário - dEZEMBro 2012
sinônimo de milícias e trânsitos quilométricos. Queremos apresentar a você a beleza geográfica dessa região, a importância de seus artistas, as memórias das pessoas que lá residem, suas histórias e mistérios. Afinal, a melhor forma de valorizar um lugar é o conhecendo para então admirá-lo. Ninguém pode amar o que não conhece e isso é fato.
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brasil
Mais de 20 milhões de
escravos
Pobreza, trabalho degradante, dívida fabricada e violência são as correntes do seu cativeiro
Por Alina Freitas, Ana Malaco e Artur Romeu A escravidão é proibida em todos os países do mundo, mas o trabalho escravo é uma realidade em praticamente todos eles. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 21 milhões de pessoas no planeta vivem em condições de trabalho forçado. A ONG Free the Slave (Liberte os Escravos), uma das entidades internacionais mais respeitadas por sua luta na erradicação desse mal, aponta que o número de pessoas em condições de
escravidão é de 27 milhões. Mais de um milhão apenas na América Latina. No Brasil, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) reúne denúncias e números de trabalho escravo desde os anos 70. De acordo com os dados da CPT, 43.641 trabalhadores que viviam em condições análogas a escravidão foram resgatados no país nos últimos 16 anos. A organização estima que pelo menos outros 40 mil trabalhadores ainda são mantidos como escravos no Brasil.
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João Roberto L. Pinto e Maíra Fainguelernt
Quem são os
João Roberto Pinto é cientista político, professor universitário e coordenador do Instituto Mais Democracia. Maíra Fainguelernt é geógrafa, pesquisadora e membro da equipe técnica do Instituto Mais Democracia
À primeira vista, a resposta parece fácil: as grandes empresas privadas tal como a Vale, Gerdau, Odebrecht, Camargo Correa, Andrade Gutierrez, JBS/Friboi , Votorantim, o Grupo Ultra, Bradesco, Itaú, Grupo Vicunha, Grupo Pão de Açúcar... Sem dúvida, estas e outras grandes empresas concentram poder econômico e político na sociedade brasileira. Mas, a interrogação permanece... Quem, de fato, controla e acumula todo esse poder? A economia política clássica sempre tratou as empresas como atores individuais. Contudo, estas empresas se constituem hoje em grupos econômicos, ou seja, conjunto de empresas juridicamente independentes, mas que se encontram conectadas pelo patrimônio, por laços familiares e etc. Exemplo: o grupo Odebrecht, controla empresas como Braskem, Norquisa e Odebrecht Construtora e é controlado pela Kieppe Patrimonial Ltda, que, por sua vez, é controlada por dezenove pessoas da família Odebrecht. Abrir a cadeia de controladores e controladas destes grupos econômicos talvez seja o maior desafio da democracia brasileira. Não apenas porque tais grupos concentram, através da cadeia de controles, a maior parte da riqueza do país, mas, principalmente, porque realizam esta concentração em conexão com o Estado brasileiro, por meio de participações acionárias
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proprietários
do Brasil?
de estatais e fundos de pensão, financiamentos de bancos públicos, renúncias fiscais, participações de agentes públicos nos conselhos de administração das empresas e etc. É notório o caso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-
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permanente relação com o Estado brasileiro. Alavancados pelo investimento público no período desenvolvimentista, consolidados com a transferência de patrimônio público nas privatizações e expandidos pela transferência massiva de recursos
Abrir a cadeia de controladores e controladas destes grupos econômicos talvez seja o maior desafio da democracia brasileira.”
mico e Social (BNDES), banco 100% estatal, cuja metade da receita é proveniente do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O BNDES não apenas financia de modo subsidiado estes grupos, como também participa, através do BNDESPar, na composição acionária da maior parte deles. O Estado, portanto, compõe a estrutura de poder destes grupos, sendo sócio e compartilhando em boa medida das estratégias destas empresas. Na verdade tais grupos privados, verdadeiras redes oligopolistas atuando particularmente nos setores de commodities e infraestrutura, foram forjados historicamente e em
públicos na última década. O resultado é a concentração brutal do poder econômico no país. A estreita e histórica conexão de frações da burocracia pública com os grupos privados impõe para a democracia brasileira questões absolutamente decisivas. Quais sãos os verdadeiros centros do poder no país? Como e onde as decisões sobre políticas de investimento público são tomadas? Os investimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foram definidos pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão em função de um planejamento estratégico de desenvolvimento para
o país ou traçados a partir de demandas de infraestrutura e logística dos grupos privados? Como o BNDES, que tem participação cruzada em vários dos grupos privados, tem atuado nos processos de fusão e aquisição de empresas que temos assistido no Brasil? A política externa brasileira é definida mais pelo Itamaraty ou pela exigência de internacionalização dos capitais da Vale, Odebrecht, Gerdau e etc? A urgência e necessidade deste debate contrastam com o silêncio dos órgãos de imprensa e mesmo da academia sobre o tema. Mais do que silêncio, trata-se, na maioria dos casos, de consentimento e reforço desta concentração econômica. Disseminam o consenso social sobre a necessidade de crescimento econômico, onde as grandes empresas são apresentadas como os “homens bons” da sociedade. Quebrar este consenso não é tarefa fácil. O Instituto Mais Democracia (IMD) tomou a iniciativa, juntamente com a cooperativa Educação, Informação e Tecnologia para a Autogestão (EITA), de produzir o primeiro ranking dos proprietários do Brasil. Com o ranking, nomearemos as empresas controladoras últimas dos grupos privados, ordenando-as pelo grau de poder acumulado em termos de faturamento e participações acionárias. Com isso, chegaremos também aos nomes dos donos destas empresas, contrariando a tese de que o capitalismo contemporâneo não tem nome nem tampouco sobrenome. Junte-se a nós! Lançamento do Ranking dos Proprietários do Brasil
Dia: 13 de dezembro de 2012 Local: Auditório 71 - 7º andar - UERJ Horário: 17h30 horas
dezembro de 2012 | Ano 9 | Número 101 | www.fazendomedia.com | contato@fazendomedia.com
a média que a mídia faz
As reservas extrativistas brasileiras a partir do Amapá Por Eduardo Sá
Dona Maria das Graças com as suas netas na produção dos biscoitos de castanha Fotos: Eduardo Sá
Macapá (AP) – Os moradores mais antigos dizem que toda a região do Rio Cajarí, no sul do Amapá, região Amazônica, era dominada por um cearense chamado José Julio de Andrade, antigo coronel que detinha a posse das terras e mandava em todos. Em proveito dos seus mandatos de deputado federal e senador, o seringalista utilizou manobras cartoriais para se apropriar de terras até o Pará, somando ao todo, segundo o histórico no Ibama, mais de 3 milhões de hectares. Depois do enfraquecimento político dos coronéis as terras ainda foram vendidas para a empresa Jarí Celulose, controlada por um americano, que até hoje tem poder na região. Foi através de muita luta, que se desencadeou a criação de cooperativas e associações, que hoje exploram com liberdade as terras locais. Atualmente a Reserva do Rio Cajarí, que é dividida nas áreas baixa, alta e média, é utilizada pelos extrativistas para sobrevivência da população local. A regularização fundiária continua sendo o principal desafio dos extrativistas como um todo, não só no Amapá. Ocupada a partir do ciclo da borracha por nordestinos e caboclos, em meados do século passado, foi a resistência da população junto com o sindicato dos trabalhadores rurais local que lhes garantiu a criação da Reserva Extrativista do Rio Cajarí, em março de 1990. O Conse-
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lho Nacional dos Seringueiros (CNS), criado em 1985, é hoje o maior movimento nacional das populações extrativistas, atualmente chamado de Conselho Nacional de Populações Extrativistas. A cerca de 190 km de Macapá, a reserva engloba diversas comunidades e municípios. Três associações auxiliam os trabalhadores na região, além de sindicatos e cooperativas. Todos distantes um dos outros, algumas vezes com acessos precários e muita dificuldade de locomoção. Numa vila chamada Santa Clara, no alto Cajarí, vivem aproximadamente 11 famílias. Somente uma não é descendente de seu Sebastião Ro-
drigues, mais conhecido como Sabazinho, que está com 64 anos e é castanheiro desde que nasceu. Isolados, a rua tem umas sete casas, ao final passa um rio raso, galinhas e frutas típicas por toda parte. Não há miséria ou pobreza extrema, como em quase todas as reservas extrativistas no Brasil, mas as condições de vida não são fáceis. Não há luz, telefone (alguns têm celular), esgoto, pavimentação ou recursos tecnológicos modernos. A bomba de energia está ruim, e exige a aquisição frequente de diesel, que não é tão barato em relação à renda da família. Todo o esforço é direcionado para o funcionamen-
Seu Sebastião Rodrigues andando na vila Santa Clara, com o trator danificado à direita e o atual ao fundo
FAZENDO
*É isso mesmo, caro leitor, para você que passou direto pelo editorial e ainda não viu esta bela notícia, agora a Vìrus e o Fazendo Media são um veículo único!
MEDIA
to da geladeira. As casas são de madeira. O posto de saúde mais próximo fica em Água Branca, que é a maior vila nos arredores, mas é longe. As plantas medicinais cultivadas pela família ajudam, mas são insuficientes na cura. A escola vai somente até a quarta série, o que leva adolescentes para longe de suas origens, e o funcionamento é precário: professores ficam dias sem ir, não há regularidade nas aulas, além da falta de condições na própria escola. Os moradores relatam que é muito difícil ter uma semana inteira de aula. Esses elementos também podem caracterizar outras reservas extrativistas. A família vive com a agricultura de subsistência (macaxeira, milho, cará, laranja, pupunha, etc), a caça e a pesca também auxiliam, às vezes, na dieta. Mas a principal atividade é o extrativismo da castanha, é de sua colheita e produtos a principal fonte de renda. A safra é entre janeiro e julho, época em quem eles ficam semanas dentro das matas. Nos outros períodos a
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A produção envolve toda a família, desde a extração até a embalagem”
extração continua em ritmo mais desacelerado. Têm uma casa dentro da floresta, mas bem simples e extremamente funcional. As castanheiras ficam a 6 horas de trator da comunidade, o que de carro não dá nem 2 horas. “Na época do patrão a gente ficava mais de quatro meses trabalhando direto, era até terminar a safra. Passamos ainda muita dificuldade com a saúde, educação e transporte. Para escoar nossa produção é um sério problema, a gente traz pouco porque não cabe no trator, que anda devagar e leva até 6 horas”, explica Sebastião. A família é articulada com a cooperativa do Alto Cajarí (Cooperalca). Há 11 anos fez um convênio com o governo do estado para conseguir um trator (muitas famílias não dispõem desse recurso até hoje). Por falta de manutenção e combustível para mantê-lo em uso está inutilizado, mas há 4 anos outro trator tem auxiliado a família. Eles alegam, no entanto, que as ferramentas já vieram com problemas e são culpados por tudo que acontece nas máquinas sem receber qualquer apoio. A associação compra o diesel, que sai da renda da castanha. O trator carrega até 25 barricas, que é como eles chamam uma recipiente que armazena seis latas de 20 litros, o que dá em torno de 3 mil litros de castanha.
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FAZENDO
MEDIA Fábricas de castanhas da Cooperativa do Alto Cajari (Cooperalca) Fotos: Eduardo Sá
“Vendemos o biscoito para a escola do Laranjal do Jarí, a diretora faz o mapa da compra. Era um projeto até dezembro, nos ajuda muito, tomara que continue. Falaram que ia ter uma cozinha para as mulheres do curso, mas não bancaram e algumas estamos fazendo em casa. Assim preservamos mais a natureza também, porque sem isso tem que mexer mais na floresta”, destacou a mãe da família.
“O preço na cidade varia muito, agora está uns R$ 35,00. Na época da safra voltamos de duas em duas semanas. A cooperativa não dá conta de comprar tudo e nunca participamos do lucro, o resto vendemos na feira de Macapá ou aos atravessadores. Todo mês vem um ônibus do estado para levar, a gente aproveita e vende em Macapá o que sobra do que a gente planta”, diz.
“
Eles entregam duas vezes ao mês, de acordo com a encomenda. Vendem cerca de 70kg, cuja unidade vale de R$ 15,00, e arrecadam cerca de mil reais ao mês. O biscoito gasta menos castanha, 8kg do alimento exigem menos de dois litros do fruto. O lucro é tirado com base nos gastos com trigo, óleo, açúcar, manteiga, embalagem e o forno, além de todo o custo que envolve a castanha. O mais importante nesse cenário, é destacar que toda a cadeia envolve os demais integrantes da família, inclusive as crianças. Então a renda acaba sendo dividida por mais pessoas, o retorno é coletivo, assim como tudo nas reser-
Foi a resistência da população que lhes garantiu a criação da Reserva Extrativista”
Como a castanha é o que mais dá dinheiro, eles sempre armazenam um pouco em casa porque não é fácil a travessia. A partir de 2001 passaram a contar com a fábrica do Alto Cajarí, que no mês passado processou 151 barricas na região, o que equivale a quase 100 toneladas. É fundamental na secagem e descascamento da castanha, procedimentos que a mão são muito demorados. Mas também fazem isso em casa, principalmente agora com um novo empreendimento: graças a um curso de capacitação na região há dois anos, dona Maria das Graças, esposa de Sabazinho, aprendeu a fazer biscoito com as castanhas, de modo a agregar valor e ser mais uma fonte de renda. Eles ainda conseguiram entrar no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do governo federal, que garante a compra dos seus produtos. A produção envolve toda a família, desde a extração até a embalagem dos biscoitos.
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vas. Os extrativistas recebem, por exemplo, a Concessão Real de Uso (CRU) da terra do governo federal, que outorga toda a responsabilidade à associação. As pessoas não recebem título de propriedade e não podem vender para outras de fora da comunidade, é um direito comunitário. O grande problema das famílias extrativistas é o acesso às políticas públicas, seja por falta de conhecimento ou de informação
Balde com os biscoitos produzidos pela família
devido ao isolamento. Com o apoio na logística da castanha, as famílias teriam melhores condições de vida. Isso se estende ao açaí e a borracha, também produtos típicos do extrativismo da Amazônia. “Não procuram a gente, e os caras ficam engolindo a gente, são cobras criadas. Se beneficiam uns aos outros entre eles mesmos. O cabra tem que encher o saco para saber, porque mesmo indo atrás já é difícil e eles não trazem nada para a gente”, criticou o chefe da família. Existem hoje no Brasil 59 reservas extrativistas decretadas pela Presidência da República, embora ainda não tenham sido regularizadas, e mais de 200 processos impedidos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Os movimentos, por sua vez, estimam 70 mil famílias em reservas extrativistas, mas ainda não há censo direcionado aos povos da florestas. Ocorreu entre os dias 05 e 08 de novembro, em
Macapá, o III Congresso Nacional de Populações Extrativistas. Mais de 300 pessoas participaram das atividades, que contaram na abertura com a presença dos ministros do Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário, além de vários secretários. Na ocasião foram anunciadas a criação de mais cinco reservas extra-
“
A educação não pode promover o êxodo rural da nossa juventude.”
tivistas pelo governo federal, e um Plano Nacional de Extrativismo. Os movimentos construíram um documento com propostas e reivindicações, principalmente relacionado à regularização fundiária, que pautará a luta dos extrativistas nos próxi-
mos anos. Foi eleita a nova diretoria do CNS para os próximos três anos, cuja presidência ficou sob responsabilidade de Joaquim Belo. “Nossa primeira estratégia é continuar lutando para criar reservas, e de forma que inicie o processo de regularização. Na criação do decreto já defina o perímetro, e depois regularize para garantir nossos direitos. Depois tem o plano de manejo, que é o nosso zoneamento, como vai organizar nossa posição e pacotes de produtos dentro daquele espaço. Tem também a educação, que é o bem mais precioso que podemos dar a esse povo e precisamos adequá-la. A educação não pode promover o êxodo rural da nossa juventude. Precisamos também fazer com que essa política pública que já existe chegue, construir novas ou aperfeiçoar algumas já existentes. Se chegasse a gente avançaria muito”, ressaltou Belo, que tomará posse em janeiro de 2013.
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rio de janeiro
Manifestação ocorrida no dia 1º de dezembro reuniu mais de mil pessoas na Tijuca contra o projeto de concessão do Maracanã Foto: Artur Romeu
Cartão Vermelho Por Artur Romeu e Miguel Tiriba O governo do estado do Rio de Janeiro quer conceder o Maracanã para a iniciativa privada durante os próximos 35 anos. O anúncio veio a público com a minuta do edital lançada no dia 22 de outubro. O documento prevê a demolição da Escola Municipal Friedenreich, do prédio do antigo Museu do Índio, do estádio de atletismo Célio de Barros e do Parque Aquático Julio Delamare – todas construções localizadas no entorno do estádio. Indignados com a proposta do governo, mais de 500 pessoas representando diversos grupos da sociedade se manifestaram contrárias ao projeto de concessão apresentado durante Audiência Pública realizada no dia 8 de novembro. O Secretário Estadu16
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Projeto do Governo do Estado prevê a demolição de escola municipal, centros esportivos e antigo Museu do Índio para conceder o Complexo do Maracanã à iniciativa privada al da Casa Civil, Régis Fitchner, responsável por conduzir a audiência, afirmou ao final do encontro que as pessoas ali presentes representavam uma minoria que demonstrou postura “antidemocrática” e que o projeto não seria alterado. Os argumentos utilizados pelo Secretário para defender o projeto foram que o Maracanã precisava ser gerido por uma concessionária privada para ter sustentabilidade econômica e ser modernizado para se adequar às exigências dos padrões internacionais da FIFA, assim garantindo maior conforto aos torcedores.
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Entrevista INclusiva:
Dominic Barter Comunicação não violenta e os círculos restaurativos
Dominic Barter nasceu na Inglaterra no final dos anos 60 e passou a juventude combatendo a política neoliberal de Margareth Thatcher, ao mesmo tempo em que explorava a efervescência do movimento de contra cultura da época. Participou de atos de sabotagem em bases norte-americanas e do movimento de ocupações urbanas que buscavam desenvolver novas formas de se relacionar com o outro e com o mundo. Ele veio morar no Rio de Janeiro há 20 anos, desembarcando durante a Eco 92, “quando a divisão social característica da cidade veio explicitamente à tona, com tanque de guerra estacionado na Praia de Botafogo, apontando para as favelas”. Nas duas últimas décadas, Dominic vem desenvolvendo modelos alternativos de resolução de conflito, inspirados em princípios da não-violência e no movimento de justiça restaurativa. Essa lógica se opõe ao modelo tradicional de justiça punitiva e promove um sistema cooperativo para lidar com os problemas sociais. Dominic foi convidado a trabalhar num projeto piloto de justiça restaurativa do Ministério da Justiça e começou a espalhar os Círculos Restaurativos em escolas, prisões e comunidades. Em entrevista para a Vírus Planetário, ele conta mais sobre o projeto e revela a lógica transformadora da nãoviolência.
Por Artur Romeu
Confira a entrevista na edição completa digital ou impressa
Fotos: Arquivo pessoal Vírus Planetário - DEZEMBro 2012
17
35 anos
Educação Estadual
Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro
na luta!
Veja a lógica dos ataques do governo Cabral contra a Educação: - O atual secretário estadual de Educação , Wilson Risolia, é um economista e, não, um educador. Ele já chegou à Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC) com o objetivo de implementar uma lógica economicista, por meio da consolidação da Meritocracia. - A SEEDUC fechou dezenas de escolas desde o início do ano. - Para acelerar as aprovações e enxugar gastos com salários, a SEEDUC criou o Projeto Autonomia, onde apenas um professor leciona todas as matérias. - A SEEDUC quer trocar o nosso reajuste por um bônus. É o projeto de Certificação, que prevê até R$ 4 mil de bônus no caso de aprovação em exames anuais. Para isto, o governo anunciou que dispõe de R$ 100 milhões, valor menor do que o gasto com o Nova Escola. Isto fará com que fiquem de fora mais de 50 mil professores da ativa, cerca de 40 mil aposentados, 16 mil funcionários administrativos e 400 animadores culturais. - Risolia fez uma parceria com o Banco Mundial (BIRD), para colocar avaliadores para supervisionar os professores em sala de aula e medir a sua “eficiência”. - A Lei Orçamentária Estadual para 2013 não prevê reajuste para os educadores. - Cabral enviou uma Ação de Inconstitucionalidade (ADIN4782) para o STF para acabar com os triênios dos servidores. - Distribuiu milhares de livros de auto-ajuda a um custo não revelado para todos os professores. - As escolas continuam sem eleição direta para diretores.
Calendário da Rede Estadual: Dia 23 de fevereiro: Todos à assembleia geral da rede estadual! Fique atento e participe da luta contra os ataques de Cabral e Risolia!
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