Prévia edição 33

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Entrevista_Adriana Penna_O “Não vai ter copa!” - é um grito democrático

R$5 edição nº 33 junho/julho 2014

Jornalismo pela diferença, contra a desigualdade

25 0 m il m orad ia s re m ov id as , R$ 2 bi llh õe s em re pr es sã o m ilit ar, im en so s ga sto s em es tá di os , ing re ss os ca ro s...

copa para

quem?

Fora dos estádios, a bola rola na Copa das Opressões

O Pirikart está na Vírus!

ISSN 2236-7969

Edição Digital reduzida

Confira a estreia da reportagem “O Legado da Copa” em quadrinhos por Adriano Kitani e Enio Lourenço

“Revitalização” dos centros urbanos Qual o direito à cidade das prostitutas?

nº33

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Com conteúdo

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Greve unificada da educação suspensa

foto: Samuel Tosta

Luta em defesa da educ é prioridade da ca

37 ANOS NA LUTA EM DEFESA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA


cação pública ategoria e da população Os profissionais de educação das redes estadual e municipal decidiram suspender a greve unificada destas categorias em assembleia, realizada no Clube Hebraica, no dia 27 de junho. A greve unificada foi um marco histórico na luta em defesa da educação pública do Rio de Janeiro. Durante 47 dias, os profissionais realizaram atos públicos e manifestações de rua para denunciar à população a falta de investimentos na educação pública. Principalmente num ano em que as diversas instâncias de governo (federal, estadual e municipais) gastaram bilhões de reais em obras superfaturadas para a realização da Copa do Mundo no país. Mesmo com a ameaça de repressão ao movimento, com ataques da PM, prisões de profissionais em ma-

nifestação e abertura de inquéritos administrativos contra profissionais da rede estadual e lançamento de conceito “inapto” para professores em estágio probatório nas escolas municipais a greve se constituiu num significativo marco contra a opressão e as tentativas dos governos de criminalização dos movimentos sociais. Com relação às punições contra os grevistas, a direção do Sepe está se mobilizando junto ao movimento civil, lideranças políticas, além da entrada na Justiça para reverter a situação e obrigar o governador e o prefeito a recuarem dessas decisões arbitrárias que ferem o direito constitucional de todo o trabalhador de realizar greve.

>>>Greve também em outros municípios do Estado Em 2014, a luta por melhores condições de trabalho e valorização profissional também foi destaque em diversos municípios do estado do Rio de Janeiro. Em cidades como Niterói, São Gonçalo, Duque de Caxias, Nova Friburgo, Cachoeiras de Macacu, os profissionais das escolas municipais realizaram greves. Em outros municípios como Búzios, Itaguaí, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras, Mendes, Paulo de Frontin, Vassouras, Angra dos Reis, Nova Iguaçu, Belford Roxo, São João de Meriti, Petrópolis, entre outras, a categoria realizou mobilizações de rua e fez paralisações durante todo o primeiro semestre. Uma clara demonstração de que a luta pela escola pública de qualidade está na pauta do dia dos profissionais e da população.

www.seperj.org.br


o i e rr ral o C Vi >Envie colaborações (textos, desenhos, fotos), críticas, dúvidas, sugestões, opiniões gerais e sobre nossas reportagens para

contato@virusplanetario.net Queremos sua participação!

Afinal, o que é a Vírus Planetário? Muitos não entendem o que é a Vírus Planetário, principalmente o nome. Então, fazemos essa explicação maçante, mas necessária para os virgens de Vírus Planetário: Jornalismo pela diferença, não pela desigualdade. Esse é nosso lema. Em nosso primeiro editorial, anunciamos nosso estilo; usar primeira pessoa do singular, assumir nossa parcialidade, afinal “Neutro nem sabonete, nem a Suíça.” Somos, sim, parciais, com orgulho de darmos visibilidade a pessoas excluídas, de batalharmos contra as mais diversas formas de opressão. Rimos de nossa própria desgraça e sempre que possível gozamos com a cara de alguns algozes do povo. O bom humor é necessário para enfrentarmos com alegria as mais árduas batalhas do cotidiano.

O homem é o vírus do homem e do planeta. Daí, vem o nome da revista, que faz a provocação de que mesmo a humanidade destruindo a Terra e sua própria espécie, acreditamos que com mobilização social, uma sociedade em que haja felicidade para todos e todas é possível.

Recentemente, unificamos os esforços com o jornal alternativo Fazendo Media (www.fazendomedia.com) e nos tornamos um único coletivo e uma única publicação impressa. Seguimos, assim, mais fortes na luta pela democratização da comunicação para a construção de um jornalismo pela diferença, contra a desigualdade.

Expediente: Rio de Janeiro: Alexandre Kubrusly, Ana Chagas, André Camilo, Artur Romeu, Bruna Barlach, Bruno Costa, Caio Amorim, Camille Perrisé, Catherine Lira, Chico Motta, Débora Nunes, Didi Helene, Diego Novaes, Eduardo Sá, Fernanda Alves, Joyce Abbade, Julia Campos, Livia Valle, Mariana Adão, Mariana Moraes, Raquel Junia, Thales Messentier | São Paulo: Ana Carolina Gomes, Duna Rodríguez, Gustavo Morais, Hamilton Octávio de Souza, Jamille Nunes, Jéssica Ipólito, Luka Franca, Marcelo Araújo e Sueli Feliziani | Brasília: Alina Freitas, Diogo Cardeal, Edemilson Paraná, João Apolinário Passos, Maiara Zaupa e Thiago Vilela | Minas Gerais: Ana Malaco, Laura Ralola e Paulo Dias | Ceará: Caio Erick, Joana Vidal, Livino Neto e Lucas Moreira | Piauí: André Café, Diego Barbosa, Mariana Duarte, Nadja Carvalho e Sarah Fontenelle | Bahia: Mariana Ferreira | Paraíba: Iarlyson Santana e Mariana Sales | Paraná: Elisa Riemer | Mato Grosso do Sul: Eva Cruz, Fernanda Palheta, Jones Mário, Marina Duarte e Tainá Jara | Rio Grande do Sul: João Victor Moura, Maiara Marinho e Rafael Balbueno Diagramação: Caio Amorim | Capa: Ilustração de Adriano Kitani (Pirikart)

Conselho Editorial: Adriana Facina, Amanda Gurgel, Ana Enne, André Guimarães, Claudia Santiago, Dênis de Moraes, Eduardo Sá, Gizele Martins, Gustavo Barreto, Henrique Carneiro, João Roberto Pinto, João Tancredo, Larissa Dahmer, Leon Diniz, MC Leonardo, Marcelo Yuka, Marcos Alvito, Mauro Iasi, Michael Löwy, Miguel Baldez, Orlando Zaccone, Oswaldo Munteal, Paulo Passarinho, Repper Fiell, Sandra Quintela, Tarcisio Carvalho, Virginia Fontes, Vito Gianotti e Diretoria de Imprensa do Sindicato Estadual dos Profissionais de Edução do Rio de Janeiro (SEPE-RJ) Siga-nos: twitter.com/virusplanetario

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Comunicação e Editora A Revista Vírus Planetário - ISSN 2236-7969 é uma publicação da Malungo Comunicação e Editora com sede no Rio de Janeiro. Telefone: 3164-3716


Sumário

(da edição completa)

Editorial Todos os olhos do mundo voltam sua atenção para o Brasil! É isso mesmo! As pessoas não param, a luta não cessa e as ruas continuam cheias de brados, de força e sonhos por uma outra sociedade possível. O sentimento gerado desde as jornadas de junho de 2013 mantém-se firme e, mesmo em tempos de Copa (mas será que houve copa? E pra quem mesmo?) categorias, coletivos e movimentos seguem ocupando avenidas no combate às opressões e desigualdades inerentes do sistema. As mídias contra-hegemônicas maximizam sua importância e responsabilidade, noticiando e denunciando abusos, perseguições e uso da força coercitiva ao extremo contra livres e legítimas manifestações, em suma: tudo aquilo que mídias grandes não mostram, pois o interesse destas está concentrado apenas em copa no café, no almoço e jantar. Não temos fome de bola, mas sim fome e sede de revolucionar o mundo! Como não poderia ser diferente, nós da Vírus construímos esse caminho, mas também estendemos nossos olhares para além do evento esportivo, pois, com ele ou não, ainda persistem os padrões de comportamentos estabelecidos e impostos por esferas políticas, sociais e culturais, como vemos na matéria sobre a relação mulher, corpo e tatuagens e na matéria sobre a repressão às prostitutas de Niterói. Entretanto, persistem as lutas de coletivos e grupos culturais, que fomentam o uso dos espaços públicos para a livre expressão artística, como com a banda gaúcha Geringonça; persistem os problemas, mas também toda contracultura de resistência e de ação coletiva. Nesta edição trazemos um especial do que essa Copa significa para o país de forma crítica em artigos, na matéria de capa e na entrevista Inclusiva. É também um marco o lançamento da nossa primeira reportagem em quadrinhos que aborda O Legado da Copa, realizada por Adriano Kitani (o Pirikart) e Enio Lourenço, que está realmente imperdível. Agora a Vírus também conta com conteúdos da revista o Viés, de Santa Maria - Rio Grande do Sul. Materiais da revista gaúcha, que já tem quase cinco anos de existência na internet, já vinham saindo nas últimas edições, e agora essa parceria fica ainda mais firme, com destaque para ‘o Viés’ na nossa capa. Acesse e conheça também na internet: www.revistaovies.com.

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Hamilton Octávio de Souza_A disputa pelo legado da copa vai além das eleições

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Reportagem em Quadrinhos Pirikart_O Legado da Copa

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O Sensacional Reporter Sensacionalista

18 Entrevista Inclusiva_Adriana Penna 22 CAPA_Reporagem_Copa Pra Quem? 29 Sórdidos Detalhes 32 Fazendo Media_Ser rico e dono da mídia 34 Bula Cultural_Banda Geringonça 38 Bula Cultural_Indicações e Contraindicações

39 Reportagem_Tatuagem é coisa de mulher, sim!

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Reportagem_Qual o direito à cidade das prostitutas?

46 Traço Livre

Edição Digital reduzida Clique aqui - www.tinyurl.com/33impressa para adquirir a edição impressa pela internet e receber em casa Clique aqui - www.tinyurl.com/33digital para comprar a edição digital completa. Clique aqui - www.tinyurl.com/revistavirusplanetario para assinar a Vírus!


hamilton

octávio de souza Hamilton é jornalista e professor na Pontifícia Univerdade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro da equipe da Revista Vírus Planetário

Ilustração: Tiago Silva | facebook.com/quadrinhosimpossiveis

Disputa por legado da Copa vai além das eleições Os efeitos do campeonato de futebol independem da polarização retórica, afetam concretamente o povo e deixam marcas profundas nos conflitos políticos dos próximos anos Independentemente da seleção campeã da Copa do Mundo, o Brasil vive acirrada disputa em torno do legado do torneio organizado pela FIFA, entidade privada que convenceu o governo brasileiro a investir a bagatela de 30 bilhões de reais em ações e obras como a remoção de comunidades pobres, ocupação militar de bairros populares, construção de aeroportos e estádios de futebol, e forte aparato de segurança para proteger os segmentos mais privilegiados da sociedade. 6

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O legado, pelo lado do governo, seria um amontoado de coisas positivas. A começar dos próprios aeroportos e estádios, as obras da chamada mobilidade urbana, os gastos de milhares de turistas, a divulgação do país nas redes mundiais de comunicação, até a ação articulada das Forças Armadas – treinadas no Haiti – com as polícias federais, estaduais e municipais. Na defesa do evento, a presidente da República enfatizou que o

legado está no fato de que a FIFA e os turistas não poderão levar na bagagem as obras dos estádios, aeroportos e da mobilidade urbana. Elas ficarão no país para os brasileiros. É evidente que a FIFA e seus patrocinadores não colocaram na bagagem as mazelas do caos social, político e jurídico que causaram ao país, como, por exemplo, corromper os poderes da República para a aprovação de leis e normas que


contrariam o regime jurídico existente. As forças da situação, em especial de sustentação do governo federal, querem tirar o máximo proveito político do futebol para fins eleitorais, como já aconteceu inúmeras vezes no Brasil e em muitos outros países.

Legado social As oposições no campo da esquerda e os movimentos sociais populares criticam principalmente os danos sociais e políticos da Copa para o país. Nunca antes neste país se ocupou bairros inteiros com tropas militares e policiais como aconteceu no complexo da Maré, no Rio de Janeiro, com autorização genérica do Poder Judiciário para a realização de operações de busca e apreensão em 40 mil residências, uma violência sem precedentes e em flagrante violação dos direitos democráticos e humanos previstos na Constituição Federal. Ainda precisam ser computados no legado social os incentivos ao turismo sexual, a exploração da prostituição infantil e o aumento da

Ilustração: Gustavo Morais

O legado revela também a fragilidade intelectual de importantes setores da esquerda, em especial de pesquisadores universitários, acadêmicos e de jornalistas que acompanharam o desenrolar do circo da FIFA sem se posicionar de forma clara e sem fazer críticas, apenas para manter o alinhamento automático com um governo de composição com o que há de mais atrasado no país. Ao contrário, muitos intelectuais que outrora criticavam o futebol como sendo o ópio do povo, agora silenciam na covardia.

que fizeram obras e das empresas que gozaram de isenções de impostos e outros benefícios previstos nas leis especiais para o campeonato de futebol.

As oposições neoliberal e de centro-direita têm grande interesse em desgastar o atual governo (uma composição de PT, PMDB, PTB, PP e mais uma dezena de siglas) com vistas às eleições gerais de 5 de outubro, mas atuam basicamente no campo institucional, no Congresso Nacional, nas redes sociais e na grande mídia empresarial – que nutre simpatias pelas candidaturas lançadas pelo PSDB e pelo PSB, na expectativa de uma decisão no segundo turno. Para essas oposições, o maior legado da Copa do Mundo está na incapacidade gerencial do governo federal, na incompetência de planejar e executar um projeto de tamanha grandiosidade dentro dos orçamentos e prazos estabelecidos. Os neoliberais centram a crítica nos aspectos relativos ao desvio de recursos públicos, superfaturamento das obras e na denúncia da corrupção – ou pelo menos na suspeita de financiamento das campanhas eleitorais com propinas das empreiteiras

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copa das opressões

O maior legado esportivo e cultural é mesmo a expulsão dos pobres e negros dos estádios”

segregação dos que podem frequentar os novos estádios de futebol no padrão FIFA e os que ficarão de fora do espetáculo depois da Copa. Tudo indica que o maior legado esportivo e cultural é mesmo a expulsão dos pobres e negros dos estádios, no processo de seleção pelo poder aquisitivo, na busca de um novo público eleito – notadamente branco. Para os anunciantes e patrocinadores já estava na hora dos estádios serem ocupados pelas classes médias, “limpas e educadas”, sem a ameaça das torcidas integradas pelas “classes perigosas”.

Legado econômico Ainda que o governo comemore a injeção de dinheiro advinda do turismo, a verdade é que a maior parte da grana fica mesmo com a FIFA e seus associados, que recolhem o caixa dos estádios e dos pacotes internacionais. No bojo desse legado estão também as empreiteiras, os patrocinadores e, muito provavelmente, alguns espertinhos que descobriram brechas para tirar algum trocado da FIFA. Nunca antes neste país se inaugurou tantas obras inacabadas. Na véspera da abertura do mundial pelo menos 50% das obras estavam inconclusas. O problema desse legado não é apenas o custo financeiro futuro para que tais obras sejam devidamente entregues. O legado está no reforço de uma prática política que remete aos tempos de mando absolutista do coronelismo e das oligarquias. Imaginar que isso tudo está sendo comandado pelo PT e pelo PCdoB, outrora partidos comprometidos com a transformação cultural e política, é mesmo um grande retrocesso. Como legado para o povo brasileiro vai ficar a conta de tudo aquilo que a administração direta gastou com o evento, aquilo que foi financiado de forma subsidiada, e aquilo que teve isenção tributária e aumentou a evasão dos cofres públicos, sem contar o risco de picos de inflação em função de um brutal aumento nos preços em aluguéis e na alimentação. Uma coisa é certa: o trabalhador brasileiro vai sentir na própria carne o legado da Copa ainda por vários anos. Um exemplo bastante singelo é comparar o custo do estádio do Real Club Deportivo Espanyol, em Barcelona – inaugurado recentemente, no valor total de 100 milhões de euros (aproximadamente 300 milhões de reais), um estádio moderno, confortável, para 60 mil lugares, com sistemas de energia solar e captação e reaproveitamento de água da chuva – com o custo do Itaquerão, um estádio bem acanhado e inacabado, que já custou mais de 1,1 bilhão de reais, quase quatro vezes mais do que o estádio espanhol. Isso significa que a nação corintiana terá que saldar a dívida com o estádio nos próximos anos não apenas 8

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com o repasse dos preços dos ingressos, mas também com o endividamento do clube.

Legado político Sem maiores chances nas eleições de outubro e com espaços reduzidos no jogo institucional, as oposições de esquerda apostam que o maior legado da Copa será, em primeiro lugar, tirar mais algumas máscaras do governo federal, que de um lado exerce forte influência nas classes trabalhadoras e nas camadas de menor renda (devido a programas sociais e alianças com diferentes setores políticos), e de outro lado continua favorecendo o grande capital, nacional e internacional, com políticas neoliberais, com pagamento de juros altos e a total liberdade dos mercados e do fluxo dos capitais. Além disso, as oposições de esquerda e os movimentos populares apostam também no ascenso das lutas sociais. O legado da Copa, para as oposições de esquerda, é a possibilidade de um salto quantitativo e qualitativo de conscientização e organização das lutas populares, com cobranças cada vez mais firmes junto aos governos e poderes públicos. Essa disputa extrapola o discurso e a perspectiva puramente eleitoral. Independente de quem ganhe o pleito de 5 de outubro, o que importa para os setores mais combativos da esquerda é manter e ampliar os caminhos alternativos para a construção de uma outra sociedade – mais democrática, mais justa e mais igualitária. Esse legado não se confunde com a retórica ufanista e enganadora da crônica oficial e nem com a crítica superficial e oportunista das oposições neoliberais e de direita. As verdadeiras batalhas políticas vão muito além do jogo eleitoral.


O D A G E L O COPA DA

i tan o Ki o n a i ç adr ren por io lou n e e

Desde as “Jornadas De Junho”, a Juventude brasileira não mais se aquietou frente ao que consiDera problema social Do país. se em 2013, a priori, as lutas estavam associadas às melhorias Do transporte público, neste ano, as reivindicações Difusas (saúDe, educação, moradia, etc.) canalizaram-se no antagonismo à realização Da copa Do mundo Da fifa. os manifestantes, Dessa vez, saíram às ruas para Denunciar os gastos excessivos Dos governos com o evento privado transnacional, feito sem consulta pública, e os impactos em populações Já marginalizadas.


De 25 De Janeiro até 12 Junho, Data De abertura Da copa Do mundo, coletivos e entiDades De esquerda organizaram 10 atos na ciDade De são paulo, para protestar contra a realização Do evento esportivo. reclamando melhorias nos serviços públicos e contestando as imposições Da fifa no brasil, milhares De pessoas ousaram retomar as ruas, como fora feito em 2013, sob a palavra De ordem: “não vai ter copa”. aparentemente, o movimento parecia mais simbólico Do que efetivo a barrar o mundial De futebol, pretendendo Dar visibiliDade as reivindicações, principalmente com os holofotes Da imprensa estrangeira que Desembarcava no país. porém, os Discursos e as ações Dos manifestantes atemorizaram radicalmente os governantes, que não titubearam em orquestrar forte repressão policial, inclusive testando novos métodos e equipamentos - sobrando também para os profissionais Da imprensa. nesses seis meses, uma série De Direitos civis foi violada, como afirmaram organizações internacionais De Direitos humanos. militantes foram feriDos e presos em nome Dos lucros Das grandes empresas envolviDas com a copa, endossados por antigos íDolos Do esporte bretão, como ronalDo e pelé, que contemporizaram a violência Do estado e a morte Dos trabalhadores na construção Dos estáDios.

e a força Das ruas era tão assustadora aos mandatários, mesmo tendo reuniDo no máximo cinco mil pessoas em um único ato (bem menos Do que em 2013), que uma segunDa narrativa foi forJada para contrapor aqueles que eram contrários a copa: o “vai ter copa”. seJa pelos iDeológicos ou pelos amantes Do futebol, criou-se uma DualiDade similar aos anos mais obscuros De nossa história recente: “brasil, ame-o ou Deixe-o”.

esta reportagem em quadrinhos foi baseaDa no “9o ato - se não tiver Direitos, não vai ter copa”, realizado no Dia 31 De maio. como a Dinâmica Dos protestos envolveram Diversos protagonistas, pretendemos ilustrar aqui algumas Das proposições Dos manifestantes, que seguiram firmes aos seus obJetivos até o Dia Do Jogo De abertura na arena corinthians. 10

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theatro municipal 31/05/2014, 15h

chegamos ao ponto De encontro Da manifestação, onde cerca De 200 pessoas pintavam cartazes, entregavam panfletos e se revezavam em um megafone Durante a concentração Do ato intitulado “indignação popular”.

a copa nem começa e Já acabou. não tem Dinheiro pra hospital.

isso é realiDade e não Dá pra acreditar. eu sou brasileiro, Desculpa aí neymar.

reconhecemos um militante Da corrente território livre, que está presente Desde as primeiras manifestações contra a copa. pedimos para ele fazer um balanço Da conJuntura política Do momento.

existe uma situação concreta para aliar as lutas econômicas Dos trabalhadores, por salários e empregos, com uma luta política contrária aos governos, uma vez que se está Descendo o cacete para fazer a copa. o pessoal aqui está ciente Dos riscos. muita gente Já foi presa ou está respondendo processo, mas ninguém vai sair Das ruas por causa Da repressão. existe uma sensação De revolta que alguma hora vai estourar.

rafael padial, 26 anos

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ainda antes Das 16 horas, vários pelotões Da polícia militar surgiram Das ruas paralelas ao theatro municipal e exibiram suas novas armaduras para os paulistanos que circulavam na região Da praça ramos De azevedo. aproximadamente 500 policiais foram saudaDos por intensas vaias e xingamentos Dos manifestantes.

eu quero que a copa se Dane. o povo está sendo humilhado. um monte De pai De família morre na mão De bandiDo e nunca tem policial. olha o tanto que tem aqui.

estou vendo pela primeira vez esse grupo paramentado, que parece uma legião romana perfeita: sanguinários, violentos, exibindo uma força Do Descomunal Do estado.

padre Júlio lancellotti 65 anos

vãnia 53 anos

pra que? pra calar a boca Da gente? tá errado! não Deveria acontecer a copa. se DepenDesse Do povo, não aconteceria.

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esse é o símbolo Da covardia, Do medo Do povo, Do medo Daqueles que Dizem não! É assustador De ver o tamanho Da covardia.


há um Descontentamento muito grande Da população, mesmo que nem todos se manifestem. a gente percebe a exorbitância Dos gastos. o povo Da rua é o primeiro eliminado Da copa Do mundo. ele está sendo varriDo, afastado Dos centros, trataDo com extrema cruelDade e violência. para a nossa realiDade, para a nossa consciência, não vai ter copa. vai ter um grande circo e uma grande palhaçada. nós não podemos entrar na gramática Deles. não vai ter copa. e se esse bolo estava com a cereJinha, nós vamos chutar essa cereJinha.

enquanto entrevistávamos o padre, um morador De rua chamou a atenção De todos ao redor para Dizer que Júlio lancellotti o acolheu em sua casa, auxiliando-o com alimentação e roupas Durante um momento De maior DificuldaDe.

logo na sequência, os manifestantes entoaram: “Ô, o seu José chegou, o seu José chegou”. o aposentado é referência pela Disposição e argumentação.

eu vou a todos os atos contra a copa Do mundo. a copa Dos empresários, Dos ricos, Dos Demagogos, que o povo não vai participar. o ouro ninguém sabe para onde foi. não vamos barrar a copa, mas vai ser tumultuaDo. o mundo inteiro está sabenDo o que aconteceu aqui. temos que conquistar avanços sociais com as manifestações, porque só em estáDios foram gastos mais De rsi 9 bilhões. estáDio que agora mudou o nome para arena. arena era no tempo Do homero. a humaniDade não mudou em nada...

José De freitas, 87 anos

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por volta Das 17h30, cerca De 500 manifestantes iniciaram a passeata pelas ruas Do centro De são paulo.

mas um pouco antes Da saíDa, um Jovem nos chamou atenção com uma bandeira vermelha e preto, símbolo Do anarcossindicalismo. ele preferiu não se iDentificar, mas falou porque estava ali.

a míDia brasileira mente quando fala Dos protestos

tacham a gente De vândalos e ignoram as nossas causas

nos primeiros metros percorriDos, o rapaz que cantava funK na concentração nos relata que a polícia Disse que vai pegá-lo “quando o pau comer”.

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aqui se faz De tudo para Deslegitimar os movimentos populares.

querem Jogar o povo contra o povo

o ato toma as ruas com grande fôlego e uma bateria que não para De tocar. porém, os próprios manifestantes reconheciam entre si que havia DiminuíDo o número De pessoas em relação aos protestos anteriores.


carioca, militante Da corrente proletária estudantil, comentou o esvaziamento Da manifestação.

contra o governo, fifa e o patrão.

pela luta, pela mobilização.

esse é um ato legítimo, expressão Da revolta Da população pelas várias DemanDas, como saúDe, educação, trabalho. infelizmente, alguns movimentos que aJudaram a organizar os atos no início não estão mais participando. se todas as manifestações contra a copa tivessem siDo feitas em conJunto, teríamos 30, 40 mil pessoas nas ruas.

greve geral, piquete e ocupação.

fora pm, não à repressão.

em certo momento, os manifestantes avistaram uma repórter Da rede globo, que foi rechaçada pela imensa maioria até a sua saíDa escoltada pela pm.

perto Do final, as liDeranças pediram para todos se abaixarem e realizaram um Jogral, explicando as motivações Do protesto e anunciando seus inimigos.

a mensagem é clara: quem não nos representar vai cair. os interesses Das empreiteiras não são os nossos. os interesses Dos governos são os Das empreiteiras, não nossos. viemos pela nona vez gritar contra a copa Do mundo, contra a fifa, contra a globo. o brasil se transformou em uma nação De indignados. não tem arrego. se não tiver Direitos, não vai ter copa.

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o ato ocorreu sem repressão policial. o encerramento foi em frente à federação paulista De futebol, no bairro Da barra funda, com uma performance em homenagem aos oito operários mortos nas obras Dos estáDios. independentemente Dos balanços econômicos que os especialistas farão, os 10 atos contra a copa Do mundo Já Deixaram um legado: a consoliDação Das ruas como novo espaço De se fazer política no brasil.

oito operários foram mortos nas obras Dos estáDios Da copa sp: fábio hamilton Da cruz, 23, ronalDo oliveira Dos santos, 43, fábio luiz pereira, 41 am: marcleudo De melo ferreira, 22, antônio José pita martins, 55, raimundo nonato lima Da costa, 49 mt: muhammad’ali maciel afonso, 32 Df: José afonço De oliveira rodrigues, 21

e ainda rolou um “catracaço” no metrô barra funda. a história não para...

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*Improvável, mas não impossível.

A mAré vermelha cada vez mais forte.

Por Rodrigo de Constantinopla

Fuja enquanto é tempo! Parece impossível de acreditar, mas parece que eles estão cada dia mais perto de conseguir o sucesso no #golpecomunista2014. Se você acha que tudo parece igual quando olha a sua volta e anda bastante satisfeito com os jogos da Copa do Mundo, leia com muita atenção e esse artigo. Depois dele você nunca mais verá o Brasil da mesma forma. Depois de conseguirem emplacar o vermelho do PT na nossa TV todos os dias com a desculpa de transmitir a Copa (reparem no 2014 no logo da Copa, qual a cor dele?), tenho notado diversos indícios inquestionáveis de que os petralhas estão perto de conseguir

dar o golpe derradeiro. Acompanhem comigo os 5 motivos irrefutáveis que comprovam que o marxismo cultural está vencendo. 1) Mc Donald’s, patrocinador oficial da Copa tem como sua cor predominante o vermelho. Com propagandas repetitivas e uma música que gruda como chiclete na cabeça e diz “eu estou feliz porque você veio” o restaurante fast food preferido dos vermelhinhos não engana: ele está se referindo à felicidade da chegada do golpe comunista! 2) Budweiser, outra marca patrocinadora da Copa é também... vermelha! O objetivo, é claro, é embebedar o maior número de brasileiros honestos para que não consigamos resistir ao golpe que se aproxime. Já tivemos um confrade que ao beber a cerveja com almadiçoada com a cor diabólica na logo quase foi capturado para trabalhar como escravo no Gulag que fica escondido nos subterrâneos do estádio Itaquerão. Não acredita? Leia com seus próprios olhos o relato – www.tinyurl.com/relatocopa , a fonte consegue ser mais confiável do que a nossa linda, maravilhosa e querida VEJA. Querem uma dica de irmão? Não bebam Budweiser! Ou vocês acham que o slogan “Rise as one” não é um código para que os comunazi se levantem e façam o golpe? 3) Nem a Veja está a salvo! Ao que parece os editores da nossa grande revista, que detém a moral e os bons Vermelho, estão vendo? Os comunistas estão chegando!

Rodrigo de Constantinopla é imperador-privatista, já privatizou o ar, o mar e os rios, entre outros.

costumes da nossa pátria varonil também sofreram um golpe. O logo da melhor publicação do país é também vermelho. Já dei um ultimato, se a revista sair mais uma vez com a cor vermelha, peço demissão. 4) Pacientes atendidos pelos médicos cubanos relatam estar sofrendo estranhas inquietações durante a noite. Nossas pesquisas revelam que eles tem implantado chips nos pacientes e, depois do atendimento, eles se tornam soldados da revolução comunista. Fique atento! Melhor morrer do que se render aos PTralhas! 5) Só não vê quem não quer: as seleções da América Latina têm conseguido resultados inexplicáveis na Copa. Não acredite em coincidências nem na desculpa dos investimentos dessas seleções no futebol. Está claro que a Copa foi comprada pelos PTismo-chavista-bolivarianista-esquedólatra. Assim, qualquer um dos times que ganhe poderá implantar o comunismo internacional no continente das bananas. Imprima esse artigo antes que ele seja excluído de todas as mídias. Só a verdade poderá nos salvar e a verdade é que eles estão ganhando. A escolha é sua: ou você foge pra Miami ou vai viver na ditadura comunista. Eu fui!


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VĂ­rus PlanetĂĄrio - junho/julho 2014


Confira a reportagem na edição completa digital ou impressa Vírus Planetário - junho/julho 2014

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traço livre

Por Adriano Kitani | Veja mais em: www.pirikart.com.br

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Vírus Planetário - junho/julho 2014


dilma, Leilão

d

contra l o g é l a -S é o Pr

o Brasil!

Em defesa do projeto dos movimentos sociais para o petróleo, com monopólio estatal, Petrobrás 100% pública e investimento em energias limpas. Notícias da campanha:

organização:

www.apn.org.br www.tvpetroleira.tv

www.sindipetro.org.br


Contra a precarização da Educação do Rio de Janeiro!

o ã ç a m r o A transf

m o c só vem

o ã ç a educ

! e d a d i de qual 37 anos

Uma educação de qualidade só vem com a valorização do educador e com infra-estrutura. Confira notícias sobre nossa luta:

Sindicato Estadual dos Profissionais

de Educação do Rio de Janeiro

www.seperj.org.br


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