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Fernando Denti :: Bs wallride • São Paulo-SP • f: Renato Custódio





T R A K I N A S





expediente

editorial

A REVISTA VISTA É UM PRODUTO DA VISTA S/A NOSSA PROPOSTA É DISSEMINAR E REALIZAR BOAS INICIATIVAS EM PROL DO MOVIMENTO DAS PESSOAS, GERANDO EXPERIÊNCIAS DE CONTEÚDO QUE ELEVEM AS RELAÇÕES E RESULTADOS PARA ALÉM DO IMAGINADO.

Abaixo reproduzimos o texto que o Flavio Samelo nos enviou com o depoimento de um fotógrafo de skate relatando uma missão na rua, como essas que todos fazemos todos os dias, mesmo quando não estamos sobre o skate. Uma lição tão válida que achamos por bem ceder o espaço nobre do editorial para contar:

vista s/a XANDE MARTEN TOBIAS SKLAR FLAVIO SAMELO FERNANDO TESCH GUSTAVO TESCH EDITOR JEFE XANDE MARTEN XANDE@VISTA.ART.BR CONTEÚDO TOBIAS SKLAR TOBIAS@VISTA.ART.BR DESIGNER FREDERICO ANTUNES OI@FREDERICOANTUNES.COM EDITOR FOTOGRAFIA FLAVIO SAMELO SAMELO@VISTASA.COM.BR FOTOGRAFIA RENATO CUSTÓDIO RENATOCUSTODIO@GMAIL.COM DIGITAL FERNANDO ARRIENTI FARRIENTI@GMAIL.COM COMERCIAL XANDE MARTEN 0 (XX) 11 9837 16304 & 0 (XX) 11 3360 3277 ADMINISTRATIVO JULIANA SPOSITO ADM@VISTA.ART.BR DISTRIBUIÇÃO VINÍCIUS MELO LEIA@VISTA.ART.BR DISTRIBUIÇÃO GRATUITA REALIZADA EM BOARDSHOPS, GALERIAS DE ARTE, BLITZ & ASSINATURA. FAÇA SUA ASSINATURA, SAIBA COMO: LEIA@VISTA.ART.BR PERIODICIDADE BIMESTRAL IMPRESSÃO: GRÁFICA PALLOTTI FALE CONOSCO LEIA@VISTA.ART.BR CONFIRA OS CANAIS DA VISTA NO SITE VISTA.ART.BR CAPA COLAGEM FERNANDO DENTI COLABORADORES DE TEXTO SAMUEL LL JEFFMAN COLABORADORES DE FOTO SATILA CHOPA, CARLOS TAPARELLI, FERNANDO MARTINS, MARCOS MYARA, PEDRO VAZ & RICARDO NAPOLI COLABORADORES ESPECIAL POMB AGRADECIMENTOS QUASAR DA BENEVOLÊNCIA DIVINA DO ORIENTE SUSPENSO EM UNIVERSO EXPANDIDO

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Tobias Sklar

Esses dias o Marcos Myara, do site Layback. tv, me mandou um email com fotos de uma história que não dá pra deixar passar batido. Ao invés de eu dizer o que ele mandou, achamos melhor deixar ele mesmo contar, sem filtros: “Um menor de Recife estava aqui no Rio e eu recebi uma ligação do Leandrinho Chami (Duó) no início da tarde convocando para uma missão de última hora no infame corrimão da Rocinha. O corrimão da escadaria que sai da passarela ali, todo mundo conhece, passa do lado e só fica imaginando, mas ninguém se atreveu a tentar nada ali, só de patins mesmo. O Marcello Gouvea falou que era suicídio, tem a lenda de que um tentou mas não tem provas, enfim, é um pico meio psico, cano fino, longo e íngreme pra cacete (se não me engano são 18 degraus). No carro estava o Leandrinho, Waguinho (Duó), Lennon (Ademafia) e o videomaker Renan Carvalho. O molequinho de 17 anos (Marcello Batista, ou Shrek) foi com a gente até a Duó e pra treinar e jogou 15 fifties seguidos na escadinha da praça em papo de 20 minutos, tipo robozinho, e aí fomos pro pico. Chegando lá eu só olhei o cano lá de cima pra tentar imaginar se ia rolar mesmo e a minha ressaca tomou outra proporção. Leandrinho já estava suando frio também! Resumindo tudo, depois de olhar um bom tempo ele se tacou 3x de lá, a vaca é assustadora ali, na quarta ele voltou. Muita gente acumulou na passarela pra assistir. Na primeira ele abortou na metade porque encaixou meio errado, na segunda correu um pouco mais, na terceira voltou mas com o skate espirrando quase lá na rua, e na quarta voltou como se nada fosse. Foi o primeiro a descer esse corrimão e só eu fotografei, o Renan filmou lá debaixo e o

resultado vai sair num filme que ele já vem produzindo a uns 3 anos que sai em breve. Entre o movimento intenso de gente passando, duas tentativas renderam os moments bons. A terceira tentativa, com a galera olhando lá de cima da passarela, e a quarta, que ele acertou e eu já fiz em profile por conta da pilha da galera emocionada em ver isso numa capa. Pensei em fazer algo com a foto que desse um conceito legal pro moleque, que representou brabo. Sendo totalmente sincero aqui com vcs hehehe não tenho intenção de publicar fotos em revista de skate pela grana, até porque as minhas fotos vão só pra Layback, mas acho que vcs dariam um valor que esse lance merece. Queria ver o q vcs acham da parada e o q pensam, se pensam, em fazer com isso etc. To escrevendo do celular então foi mal o português chulo. Abssss!!” A gente achou bem legal, Marcos. Na real bem louco mesmo! Esperamos que vocês também curtam.


Marcello Batista 50-50 RJ/RJ f: Marcos Myara


osrev.ni 12


in.verso 13

Renato Custรณdio


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O importante não é o destino, mas sim, a jornada. O caminho percorrido desde a primeira inspiração até a realização do sonho. Em alguns casos estas sentenças são ainda mais marcantes, como em um filme de skateboard.

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Away Days, o longa metragem da adidas Skateboarding, teve uma trajetória de cerca de 3 anos de produção, contando com 25 skatistas espalhados, e em alguns breves e históricos momentos unidos, pelo mundo em busca daquela imagem. Mas o que seria aquela imagem? Algo único e inexplicável. Um instante para sentir, mais do que para assistir.

Estivemos trazendo todo o ambiente desta produção tanto aqui na revista, quanto no site e em nossas redes sociais (deem uma buscada que o conteúdo vale muito a pena) e não perderíamos de forma alguma a chance de mostrar para vocês a inesquecível festa que reuniu milhares de skatistas no histórico vão do MASP (Museu de Arte de São Paulo) em plena Avenida Paulista, numa das maiores metrópoles do mundo.


Klaus Bohms, Benny Fairfax, Nestor Judkins e Pete Eldridge foram os embaixadores da Texto: Renato Custódio marca presentes em SP, ao lado do Presidente Rodrigo TX e subiram ao palco, ocupado pelo ProjetoNave um pouco antes, para falar sobre o Away Days e da felicidade de estarem ali: “o simbolismo gente estarskatistas passando um O Denti édadaqueles vídeo de skate no Museu de Artecomply de São Paulo que dão wallride e no é muito Nesse que a gente nãogrande. porque estátempo na moda, discute se skate é esporte, masOlímpiadas, sim porque foi isso que ose skate é arte... Eureservou fico muito para feliz de ver ele que caminho que a gente está aqui reunido para assistir aprendesse. O erro, como eleum vídeo de skate no M-U-S-E-U-D-E-A-R-T-E diz, a complexidade dentro da comsimplicidade, A maiúsculo” disse o Klaus não o slide e para os recortes deixar dúvida doeque estamos falando. pelas ruas nos papéis. Quando

assisti no vídeo do Peu aquele slide de back e depois um ss no comply, pelo estilo que foi, tive a certeza que aquilo vem da essência dele. O mais legal, tanto no skate como nas artes, é saber que a pessoa faz aquilo porque é com o que ela se identifica de verdade, nasce no âmago dela. Ele diz que o rolê dele é tipo um esboço, como no desenho não importa se vai sair perfeito.

A música na sua adolescência foi o seu estilo de vida, como era essa época e como você começou a andar de skate? O meu primeiro contato com qualquer forma de contra cultura foi através da música. Era final dos anos 90 e morava em Blumenau/SC e havia um pessoal na cidade que escutava punk e hardcore. Um dos meus melhores amigos de infância conhecia alguns sons desse tipo e logo com 11 anos fomos ver os primeiros shows em porões e bares toscos.. Eu era uma criança, escutava todo tipo de som e não tinha muita referência. A energia daqueles momentos eram tão fortes que eu precisava fazer aquilo que estava vendo. Eu queria ter uma banda e poder tocar em lugares como aqueles. Enquanto isso eu via que os caras mais velhos andavam de skate, mas era cedo pra entender a relação entre as duas coisas. Não demorou muito e eu já estava correndo atrás de uma guitarra mas ao mesmo tempo os meus amigos do

Perguntado pelo apresentador da noite, Kamau, sobre a importância de um filme comocomeçaram esse, Nestor alevanta os olhos e bairro se interessar sacode braços como querendo abraçar em os andar de skate. Eu não tinha a todos e diz “olhe emos volta, a coisa mais condições de ter dois,éentão nesse louca que eu já pude experimentar”. primeiro momento escolhi a música. E Benny afirmou muitas evezes apontando Os anos se passaram eu fui levando o comlance o dedo o chão por depara tocar mais imaginado a sério e também Lina Bo Bardi “esse é meu lugaras preferido comecei a entender melhor história para se estar momento”. e as fases nesse do punk e do hardcore, assim como os esquemas de produção do “São é meu ninho, onde eu nasci itPaulo yourself, os álbuns, as artes, os e cresci. E poder participar umfez vídeo adidas e zines. Tudo issode tudo meda interessar trazer estreia aqui para o coração de São políticas e ideológicas poressa questões também. Fiquei mais chato! (risos) Tínhamos uma banda e organizavámos alguns roles para amigos, para poder tocar e levar nossas idéias adiante. Logo surgiu a necessidade de fazer os posters dos shows, as artes dos álbums etc. Eu já sabia desenhar desde cedo, mas eram coisas treinadas, sem muita personalidade. Então eu vi ali um espaço que eu poderia me expressar livremente e tentar me encontrar. No final do ensino médio, já com 17 ou 18 anos, eu tinha um grande amigo daqueles de falar sobre o mundo no fundo da sala. Nós íamos nos shows, ele levava o skate e as vezes eu tentava dar um role. O cara era sangue bom, mas por outro lado também exagerava quanto ao orgulho que sentia das suas origens. Quando vi o cara estava começando a idolatrar pensamentos preconceituosos, separatistas e por fim se assumiu nazista. Eu não tinha como continuar sendo amigo de alguém que se sentia superior a qualquer outra pessoa. Passou-se um tempo e um dia eu percebo no canto da minha casa que ele tinha esquecido o skate e nunca veio buscar. Eu queria aprender algo novo e assim comecei a andar. Olhando a cena de longe seria: “O meu primeiro skate foi de um amigo que se tornou um inimigo ideológico”.

Paulo e ver essa galera toda aqui que colou aqui pra presenciar, só o que eu posso dizer é muito todos... Salve a rua!” Vocêobrigado disse quea quando começou andar, colava em um galpão do Oktoberfest, Discursos empolgados, público ansioso, montavam uns obstáculos a favor? (risos) pipoca na mãotinha e telãorecém aguardando play. Blumenau passadoo por Seguimos busca do nosso destino, sem algunsem anos de uma lei incostitucional nunca esquecer dos lindos dias fora casa. aplicada somente na cidade, quede proibia o ato de andar de skate nas ruas. A gente corria o risco de ter o skate confiscado. A lei caiu e uns tempos depois fiquei sabendo que um pessoal estava andando dentro de um setor desocupado que antes acontecia a Oktoberfest e alguns jogos esportivos. Não era legalizado, mas nós usamos o espaço enquanto era possível. Lá fizemos objetos improvisados com coisas que encontrávamos nas ruas como caixotes, jogadas, pole jams e outros. Na minha cabeça penso que não eram obstáculos. Estes já bastavam no mundo lá de fora. Ali construíamos coisas a nosso favor. E foi nesse lugar que aprendi as primeiras manobras e trocar as primeiras idéias sobre cultura skate.

A maioria dos skatistas conheceram várias bandas nos vídeos e você conheceu várias manobras através das bandas. Então você tem o boneless na essência. Quando eu comecei a procurar as músicas que eu ouvia dentro dos vídeos de skate tive contato com a cultura dos anos 80 e então o style, o flow, a expressão e a plasticidade das manobras tomaram minha atenção. Foi bem assim, eu aprendi primeiro o Ollie e logo em seguida eu queria saber como era o Boneless, só mais tarde eu fui saber um Pop Shove It ou um Flip.

Seu interesse na arte veio também através da música e você pesquisava de alguma forma pra fazer os posters, ou era intuitivo? Quais suas referências na época? No início acredito que era uma intuição limitada, pois fazia algo sem regras, mas ao mesmo tempo acabava me encaixando estéticamente dentro das artes dos albúms e dos posters que eu tinha acesso. As primeiras referências foram mais


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clássicas como Raymond Pettibon, Tim Kerr, Winston Smith. Mas os caras que abriram minha mente atráves da arte punk foram aqueles que eu frequentava os mesmos shows e outros com quem eu acabei fazendo as primeiras tours, como o Bira e Flávio Bá. Depois conhecendo mais bandas tive acesso a outras visões que continuaram a me inspirar quanto a produção, idéias e estilo como o Farofa, Carlinhos e o Tomas Spicolli. Só mais tarde eu fui procurar saber da história da arte e outros artistas.

E quando você começou a se interessar pelo lixo das ruas e trazer isso pra sua arte? Como é a energia que você sente do lixo? Faz 5 anos que eu mudei do Sul para São Paulo e todos os dias eu preciso passar por lugares sujos do bairro Bom Retiro para ir trabalhar. No caminho de volta para casa eu passo a uma quadra da cracolândia. Nessa experiência diária eu comecei a observar a situação de moradores de rua que viviam em meio ao lixo e também sobreviviam através dele. Esse cenário me deixava intrigado a respeito de quão diferentes níveis de sociedade conseguimos organizar mesmo em meio ao caos, a sujeira e a miséria. Percebia que essa nossa capacidade infinita existia também ali, mas era invisível para maioria das pessoas. A energia que eu sentia era que esses moradores foram deixadas de lado, assim como o lixo, que nós botamos numa sacola que logo depois nos livra da responsabilidade de onde aquilo vai parar. Essa perspectiva de um ser quase primitivo que vive dentro da cidade me apresentou uma forma de produção. A idéia inicial foi de produzir artes a custo zero, isto é, usando materiais que foram coletados, encontrados ou ganhos. Assim eu comecei a interpretar o universo de um homem-animal-lixo que utiliza de tudo que está em sua volta para criar um mundo improvisado.

Comecei deixar a arte andar mais perto da música, sem esboço para o traço e queria andar de skate desta forma também, no improviso.

O que você diz da beleza do erro? Com o tempo nós criamos regras baseadas sobre o que achamos ser o certo e vamos limitando tanto nossos caminhos que ficamos treinados em acertar. Os erros nos mostram que podem existir outros rumos e novas possibilidades. As vezes esses momentos parecem ser uma conversa com nós mesmos a respeito de onde podemos seguir. É como na música, que podemos usar o erro a nosso favor. Quando acontecem, e se soubermos usa-lo, ele não chega atrapalhar e podem nos levar pra outras notas.

Você se expressa no skate como uma união do erro que você sente, como é isso? Acredito que para certas pessoas qualquer coisa fora de algo entendido como o padrão, pode soar um absurdo e entendido como um erro. Quando comecei a andar de skate foi assim. Eu dava minhas manobras que uns caras na época achavam que não “valiam” ou não “contavam” por usar o pé no chão, pegar o skate com a mão, subir parede era uma coisa estranha. Por isso eu nunca me identifiquei em competir, pois tinha critérios de avaliação e regras estabelecidas. Preferi focar em me aceitar e me divertir diante do que estava fazendo e, da mesma forma, fiz isso para música e para arte.

Qual a desculpa de fazer arte? Para mim é a mesma desculpa que tocar e a andar de skate. Tentar compreender o universo dentro e fora de mim, tentando expressar coisas que possam acender o mesmo nas pessoas a minha volta. Quero poder dividir e trocar mais e ver os outros fazendo o mesmo.

Você sabia desenhar, mas tinha um apego com seus desenhos? Talvez o meu apego era a vergonha de mostrar eles (risos). Eu sempre achava que não eram legais e ficava numa eterna busca de fazer algo perfeito em vários aspectos.

Aí que você resolveu fazer a coisa mais solta, mais torta, para desapegar? Por aí mesmo! A melhor coisa que fiz para minha sanidade foi começar criar artes mais soltas e que no final eu não precisava gostar, então eu não tinha motivos para ter apego ou vergonha. E isso não era fazer de qualquer jeito, mas fazer de outro jeito.

Arte a custo 0 é o que você se empenha hoje? A ideia do trabalho sobre o lixo é fazer a custo zero sempre. Mas essa forma de produção começou a influenciar outras coisas que eu já fazia, como zines, posters, produtos, etc... E agora também inspira a fazer coisas novas como shapes feitos a partir de madeiras que encontro nas ruas, por exemplo. E isso tem me levado a experimentar outras formas de andar. Toda pessoa tem um potencial infinito, isso é foda. Você falou e é pura verdade, porque as vezes nós temos várias habilidades, mas queremos copiar a habilidade dos outros e não conseguimos, acabamos frustrados e não conhecemos o nosso pontencial infinito. Como você tenta descobrir o seu caminho? Acho que descobrir o caminho não seria como escolher um centímetro exato dentro de uma régua. Acredito que a nossa capacidade pode ser infinita dentro de qualquer milímetro que a gente escolher. Se quisermos aprender qualquer coisa nova podemos levar isso muito longe. O que eu desejo é aprender e realizar muitas coisas através de mim mesmo, com minhas próprias mãos e meus pés, meu corpo e minha mente.


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“Sem esboço para o traço”, você diz que tenta andar de skate da mesma forma? Assim como eu não quero saber desenhar um círculo exato com as mãos, eu não quero ficar horas em uma linha de skate que não consigo acertar ou que não tenho um flow natural. Quero cada vez mais fluir sem regras e sei que novas habilidades e complexidades vem surgindo naturalmente a partir da simplicidade.

E o street loosers, fala um pouco sobre. É minha marca de mentira (risos). Street Loosers surgiu de uma conversas com meu amigo Lucas Valente “Cabu”. A gente pirava na idéia de formar uma crew de skate na perspectiva de um cara perdedor, mas que tem presença nas ruas. Eu acabei levando mais a sério e comecei a desenhar coisas com esse nome, imitando anúncios de skate, estampas para camisetas, bottons, bonés descartáveis, adesivos, zines... Tudo como se fosse uma marca. A intenção é ser um projeto de arte através da cultura skate,

que vários amigos possam participar e lançar coisas fora do convencional.

Complexidade dentro da simplicidade. Fecha pra gente com essa expressão que você falou. Na verdade eu acredito que nada é simples, mas quando eu falo da simplicidade é a forma como as outras pessoas enxergam de fora algo que julgam ser simples. Nós podemos fazer coisas tão difíceis parecer fáceis e vice-versa. Assim como existe o macrouniverso, aonde estão todas coisas ao nosso redor também existe o microuniverso, que são todas as outras que estão para o lado de dentro. O tamanho desssas escalas são praticamente iguais, mas em sentidos opostos. Creio que depende da forma como encaramos as coisas. Sinto que existem lacunas a serem exploradas e que elas podem nos levar a evoluir para outros caminhos independente dos lados. Erro • São Paulo-SP • f: Renato Custódio

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Bs tailslide • São Paulo-SP • f: Renato Custódio


No comply• São Paulo-SP • f: Renato Custódio


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Boneless fs wallride • São Paulo-SP • f: Renato Custódio

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Fabiano Bianchin :: Boneless - SP/SP • f: Samelo


a.m. ARTE MUDA


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Guilherme Terra :: Bs flip - Barcelona/Catalunya • f: Pedro Wolf

ARTE MUDA



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Robson Affini :: Fs rock'n'roll - Rio de Janeiro/RJ โ ข f: Renato Custรณdio


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Everton "Maninho" :: Bs tailslide - SP/SP โ ข f: Renato Custรณdio

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Pedro Volpi :: Grind - SP/SP • f: Carlos Taparelli

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f: Pedro Vaz


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Marcello Batista:: 50-50 - RJ/RJ • f: Marcos Myara


Felipe Oliveira wallie bs tailslide SP/SP Renato Custรณdio

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© CHRISTIAN JUNG


de passagem

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Flavio Samelo

D E

Ricardo Napoli

PA S S AG E M

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O curitibano Evandro Martins é um dos caras mais overall que já tive a oportunidade de fotografar. Está sempre andando em tudo que é lugar e, isso é o mais legal na sessão, tem sempre algo diferente pra lançar. Até, recentemente, no Tampa Pro 2016 ele andou muito no bowl, ganhou o Best Trick da Jam Session, mas isso é uma outra história. O mais louco dessa história toda pra mim foi saber que uns amigos dele da Florida, fizeram um crownfunding pela internet pra arrecadar grana suficiente pra ele pegar um avião de NYC pra Florida e fazer uma sessão com os caras lá na mesma época do Tampa. Rolou de ficar lá por mais uns 30 dias: 48 • 49

Wallie Yonkers • New York/EUA • f: Ricardo Napoli

“Fazia um tempo que eu não via eles, mas a gente se falava direto, ai eles me disseram que iam fazer esse esquema na internet e acabou rolando. Foi dahora demais porque além de andar com eles de novo vários dias, rolou de correr o Tampa e acontecer tudo o que aconteceu lá durante os dias do evento, ter conhecido várias pessoas legais”. Até chegar lá na Florida pra isso tudo acontecer, Evandro ficou em NYC praticamente dois meses. O fotógrafo Ricardo Napoli acompanhou as sessões e mandou várias dessas imagens pra gente. Valeu Napoli e Evandro pelas imagens e também aos amigos dele que fizeram esse corre louco pra andar de skate com um amigo de milianos. Considerações extremas por essa atitude!




Blunt• New Jersey/EUA f: Ricardo Napoli

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Kickflip • New York/EUA f: Ricardo Napoli




Crooked Bonk New York/EUA f: Ricardo Napoli

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away days estรก em casa.

Fernando Martins & Renato Custรณdio

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away days estรก em casa.

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O importante não é o destino, mas sim, a jornada. O caminho percorrido desde a primeira inspiração até a realização do sonho. Em alguns casos estas sentenças são ainda mais marcantes, como em um filme de skateboard.

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Away Days, o longa metragem da adidas Skateboarding, teve uma trajetória de cerca de 3 anos de produção, contando com 25 skatistas espalhados, e em alguns breves e históricos momentos unidos, pelo mundo em busca daquela imagem. Mas o que seria aquela imagem? Algo único e inexplicável. Um instante para sentir, mais do que para assistir.

Estivemos trazendo todo o ambiente desta produção tanto aqui na revista, quanto no site e em nossas redes sociais (deem uma buscada que o conteúdo vale muito a pena) e não perderíamos de forma alguma a chance de mostrar para vocês a inesquecível festa que reuniu milhares de skatistas no histórico vão do MASP (Museu de Arte de São Paulo) em plena Avenida Paulista, numa das maiores metrópoles do mundo.


Klaus Bohms, Benny Fairfax, Nestor Judkins e Pete Eldridge foram os embaixadores da marca presentes em SP, ao lado do Presidente Rodrigo TX e subiram ao palco, ocupado pelo ProjetoNave um pouco antes, para falar sobre o Away Days e da felicidade de estarem ali: “o simbolismo da gente estar passando um vídeo de skate no Museu de Arte de São Paulo é muito grande. Nesse tempo que a gente discute Olímpiadas, se skate é esporte, se skate é arte... Eu fico muito feliz de ver que a gente está aqui reunido para assistir um vídeo de skate no M-U-S-E-U-D-E-A-R-T-E com A maiúsculo” disse o Klaus para não deixar dúvida do que estamos falando.

Perguntado pelo apresentador da noite, Kamau, sobre a importância de um filme como esse, Nestor levanta os olhos e sacode os braços como querendo abraçar a todos e diz “olhe em volta, é a coisa mais louca que eu já pude experimentar”. E Benny afirmou muitas vezes apontando com o dedo para o chão imaginado por Lina Bo Bardi “esse é meu lugar preferido para se estar nesse momento”.

Paulo e ver essa galera toda aqui que colou aqui pra presenciar, só o que eu posso dizer é muito obrigado a todos... Salve a rua!” Discursos empolgados, público ansioso, pipoca na mão e telão aguardando o play. Seguimos em busca do nosso destino, sem nunca esquecer dos lindos dias fora de casa.

“São Paulo é meu ninho, onde eu nasci e cresci. E poder participar de um vídeo da adidas e trazer essa estreia aqui para o coração de São

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C E N T R ÃO

Wallride crooked • São Paulo-SP • f: Samelo


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Texto: Flavio Samelo

Uma das figuras mais garantidas do skate no centro de São Paulo, desde o meio dos anos 90 até hoje, é o skatista profissional Thiago Garcia. Fazia muito tempo que a gente trocava uma ideia de fazer fotos e consequentemente uma matéria para a Vista falando das suas histórias. Então diretamente do wi fi da loja Colex, no centro de SP, Tiago Garcia. Durante algumas sessões pelo centrão de São Paulo tivemos várias conversas sobre como as coisas tinham começado pra ele: “provavelmente andando com o Kamau, acabei conhecendo o Tuca e começamos a filmar para o Videofobia”.

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Fs nosebluntslide reverse • São Paulo-SP • f: Samelo

Daí pra frente muita coisa andou em relação ao mundo do skate, graças a essa exposição no video os patrocínios da época e outros caminhos foram aparecendo. De lá pra cá muita coisa mudou. O jeito que os skatistas tem acesso ao skate e tudo que vem do skate também: “antigamente era muito mais complexo conseguir um shape bom, conhecer um fotógrafo, ter parte num vídeo e por aí vai. Hoje é completamente diferente, os skatistas tem tudo muito na mão”. Essa realidade nova faz parte do dia a dia do Thiago por ser um dos responsáveis pela marca Future skateboards: - “eu acho animal essa nova geração, não acho ruim de forma alguma. O que a gente tinha que se matar pra conseguir, eles conseguem bem mais rápido, principalmente a evolução nas manobras. Eles evoluem muito mais rápido, isso eu acho incrível, admiro muito!”

Naturalmente, aos poucos a marca foi evoluindo, assim como as responsabilidades do Tiago com ela: “skatista tem que se preocupar só em andar de skate, pra poder se divertir e andar o melhor que puder. A gente pensa muito nisso, mas tem muita coisa que tem que ser feita antes, pra poder tornar isso realidade. Ainda mais no nosso caso, que a gente faz tudo, literalmente. Mas essa responsabilidade nunca me tirou do skate, de chamar um fotógrafo, os amigos pra andar”. Tudo vai evoluindo, cada um na sua realidade, mas sem perder a essência de que o skate é isso, bem simples. Hoje toda as coisas que cercam o skate, da mídia às marcas, tudo está muito diferente de quando o Thiago iniciou sua trajetória. Evoluiram muito, ainda bem! Mas a vontade de andar e se divertir na sessão é a mesma e, mesmo sendo Profissional de skate, juiz de campeonatos (inclusive a única foto que não foi feita no centro de SP, a gente fez em Porto Alegre numa das folgas enquanto ele estava de juiz do Matriz Pro, no final do ano passado) e do trabalho diário no escritório da Future, Garcia ainda é a cara do skate no centro de São Paulo.



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FS 180° switch grind reverse • São Paulo-SP • f: Atila Chopa



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FS noseslide • Porto Alegre-RS • f: Samelo


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Noseslide to crooked to fakie nosegrind • São Paulo-SP • f: Samelo

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@pomb_



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Fernando Denti

english version Translated by Grasi Ferrarri


PASSING BY Written by Flavio Samelo

Evandro Martins from Curitiba is the most overall skateboarder I had the opportunity to take some pictures. He's always skating in everyplace that you can think of and that's the coolest thing about shooting him, you can get a huge variety of angles. Since recently, at Tampa Pro 2016 he skated in the bowl, won the Best Trick of Jam Session, but this is a whole other story. The craziest thing for me about this story was when I heard that some of his friends in Florida started a crowdfunding campaign so he could catch a plane from NYC to Florida to be in a session at the same time Tampa was happening. In the end he was able to stay there for 30 days: "I hadn't seen them in a long time, but we were constantly talking and then they told me they were gonna launch this campaign in the internet and this happened. It was awesome because not only I was able to skate with them but also to participate in Tampa and to meet lots of cool people". Before arriving to Florida where all this story happened Evandro stayed in NYC for two months practically. The photographer Ricardo Napoli shoot the sessions and sent us some of the pics. Thank you Napoli and Evandro for the pics and also for his amazing friends for starting this campaign. What an awesome idea!

DOWNTOWN Written by Flavio Samelo

One of the most popular figures from the skate scene in downtown São Paulo since the mid 90`s til today is the professional skateboarder Thiago Garcia. It's been awhile since we've been talking about shooting some photos and, consequently, an interview for Vista about his long relationship with skateboard and it`s history. From the Colex store wi-fii in downtown São Paulo, Thiago Garcia. During some photo sessions in São Paulo's central area we talked about how things started for him: -"probably hanging out with Kamau, I ended up getting to know Tuca and we started

to shoot for Videofobia". From that moment on lots of things changed in the skate scene thanks to the exhibition of the video, the sponsors and some paths that started to appear. Since then lots of things changed. The way skateboarders have access to the skate itself and everything that comes from the skate scene too: -"Back then it's was so hard to get a good shape board, to meet a photographer, beeing part in a video and so on. Today things are completely different, skateboarders have everything they need in their hands. This new reality is part of Thiago's everyday life since he is one of the responsibles for Future skateboards brand: "- This new generation is crazy and I don't say this in a bad way. We had to work so hard to do things that now they get so much faster, especially the tricks, they evolve faster, I think that's awesome, I really admire it! Naturally, little by little the brand evolved and so Thiago's responsibilities with the brand itself: -"a skateboarder needs to focus on skating to be able to have fun and improve his skills. But there's a ton of stuff that needs to be done first to make this a reality. Especially in our case, we make everything happen, literally. But those responsibilities never made me stop skating, asking a photographer to take some shots or calling friends to hang out." Everything evolves, each and everyone with his/hers own reality but without ever losing the essence of what skating is all about. Today's things that surround the skate universe, from the media to the brands, are all very different from when Thiago started. It changed a lot, thank god! But the striving need skate and to have fun are the same, and even though he's now a professional skateboarder, judge (by the way, the only photo that wasn't taken in downtown São Paulo was taken in one of his breaks while he was judging in Matriz Pro contest late last year) and his everyday work in Future headquarters, Garcia remains the same downtown skateboarder in his essence.

IN.VERSE Written by Renato Custódio

Denti is one of those skateboarders who make an wallride and no comply not because it's trendy but because that's what destiny was holding for him to learn. The mistake, how he likes to say, the complexity in the simplicity, the slide and the street skating. When I saw that back slide and then an ss no comply in Peu's video, it was so naturally unique, I had the certainty that his style comes from his essence. The coolest thing not only in the skate universe but also in the arts is to discover if the person does what he/she does because it comes from the essence, if it's in his/hers identity. He says his tricks are like a sketch, it really doesn't matter if it's perfect. Music was your lifestyle when you were a teenager, how was this time for you and how did you started skating? My first contact with any form of underground culture was through music. It was the end of the 90`s and I lived in Blumenau/SC south part of Brazil and there was some people who listed punk and hardcore. One of my best friends when I was a kid knew some bands with the same style and when we were twelve we started hanging in underground shows and dirty bars. I was a kid so I listened all kinds of music without any reference. But the energy was so strong in those places that I had to do them myself, I wanted to form a band and to be able to play in a place like that. Meanwhile I started seeing older guys skating but still wasn't able to realise how the two things connected. It didn't take much time and I was crazy to have my own guitar, at the same time my friends started to get interested in skating. Because of lack of money I had to choose one of them, so I chose music first. Years passed and the music thing started to get quite serious, I started to understand the different phases of punk and hardcore, the do it yourself style of production, the albuns, arts, zines. I started to get interested in the political and ideological side of the music. I was even more annoying then I am now! (laughs) We had a band and we organized some shows with a couple of friends to discuss ideas and stuff. Soon we felt the necessity to make posters and the cover art for the albums etc. I used to draw since I


was very young but the drawings had no personality, so I felt I finally had a place to express my art and find my own style. In the end of highschool, when i was 17 or 18 I had a friend that was always hanging out with me, we used to go to shows together and bring his skate so I started to try some tricks. He was an awesome friend but on the other hand I started to see him idolizing some fascist ideas and in the end he became a nazi. I couldn't continue being friends with someone that thought he was better then someone else. Sometime later I noticed that he had left his skate at my house and he never came to pick it up. I wanted to learn something new so I started to skate. Seeing things from a distance I can say: "My first skate was from a friend that became an ideological enemy". You said that when you started skating you used to go to the Oktoberfest sheds and build your own ramps and obstacles? (laughs) Blumenau was in a period where an unconstitutional law was applied prohibiting skating in the streets. We were always at risk of having our skateboards confiscated. This law had recently ceased to exist and then I heard that some guys were skating inside an unoccupied Oktoberfest shed. I wasn't legal but we used the space as long as it was possible. We made some improvised ramps with things that we found in the streets like boxes, pole jams and other stuff. In my mind those weren't the obstacles, the real ones were outside in the real world. It was in that shed that I started to do my first tricks and talk about the skate culture. The majority of skateboarders discover lots of bands in through skate videos and you got to know the tricks through the bands. You are a boneless in the essence. When I started to look for the musics that I listened to in the skate videos I had my first contact with the 80`s culture and then the street style, the flow, the way people expressed and then the beauty of the tricks caught my attention. I first learned how to do an ollie and then I wanted to know how to do the boneless, later I started to learn a pop shove or a flip.

Did your interest in arts started because of the music, intuitively or you already had a previously knowledge to make the posters art? What were your references back then? In the beginning it was intuitively, I had no rules but at the same time I was esthetically fit in the universe of posters and albums art that I had access to. The first references came with the classicals Raymond Pettibon, Tim Kerr, Winston Smith. But the guys who really inspired me were the same ones I used to go to the shows and ended up touring with, Bira e Flávio Bá. Then I started to get to know more bands and people that continued to inspire me in my way to produce and style, like Farofa, Carlinhos e o Tomas Spicolli. Only later in life I got interested in art history and getting to know other artists. And when did you started to get inspired by street trash and to try to bring this to your art? What is the energy behind the trash? It's been five years since I've moved from south part of Brazil to São Paulo and I need to pass by some dirty parts of the city like Bom Retiro to my get to my workplace, on my way back I pass one block to Cracolândia. In this daily experience I started to observe how homeless people live in the middle of the dirt and survive with it. This whole scene intrigued me about how different levels of society can be organized even in the middle of the caos, the dirt, the misery. I realised that people's capability to survive could be seen there but it was invisible to the eyes of the majority. The energy I felt was that those homeless people were left marginalized and invisible, just like trash when we put it in a bin and forget about our responsibility to know where it'll be left.

What do you say about the beauty of the mistake? With time we create our own rules based on what we think is right or wrong and we start to get so limited that we get used to always doing it right. Mistakes show us that there can be other paths and other possibilities. Sometimes these moments seem like we're talking to ourselves about where we can go. It's just like music, we can make a mistake to create something. When it happens and if we're wise to use it, it can lead us to other notes. Do you express yourself skating like a union of the mistakes you feel, how do you do that? I believe that for certain people anything outside the pattern might sound an absurd and look like a mistake. When I started skating it was the same thing. I used to do my tricks and some guys at the time thought it wasn't "worth it" or it didn't "count" because I used my feet on the ground, or caught the board with my hands, riding on the walls was weird. That's why I never wanted to compete, because it had requirements and rules established. I decided to focus on accepting myself and having fun with what I was doing and I did it also in my relation with my art and my music. What is your excuse to make art? To me is the same excuse I use to play and skate. I try to comprehend the universe inside and outside of me, I try to express things that can lit the same feelings in people around me. To be able to share and exchange more and to see other do the same. You knew how to draw but had an attachment with your doodles? Maybe this attachment was only my embarrassment to show them (laughs). I always thought they weren't cool so I was in an eternal search to make something perfect in various aspects.

This perspective of seeing a primitive being that lives of the city junk showed me a way of producing my art. The initial idea was to produce arts with a zero cost using what I collect, find or receive. Just like that I started to interpreted the universe of a man-animal-trash that uses everything around him to create an improvised world.

And then you decided to create something more free, to detach? Yes, something like that! The best thing I did was to start to create more freely and in the end I didn't need to like it so I had no reason to be ashamed or any kind of attachment.

I started to let art be closer to music, without a sketch to trace and I wanted to skate this way too, improvising.

Making art with zero costs, it`s that your goal nowadays? The idea of working with garbage is


making it with zero costs always. But this way of producing started to influence others things that I produce, like zines, posters, products,etc… And now it also started to influence to make new skate shapes with old wood that I find in the streets for example. And this also has made me think of new ways to skate. Every person has an infinite potential and that's awesome. You already said it, we have can have multiple abilities but we have a desire to copy other peoples ability and we end up failing, in the end we risk never realising our infinite potential. How do you try to find your path? I think discovering the path is like choosing an inch in a ruler. I believe our capacity can be infinite inside the inch that we choose. My desire is to learn and make lots of things through myself, with my own hands and feet, my body and mind. "With no sketch to trace", you said you try to skate the same way? The same way I don't want to learn how to make a perfect circle with my hands, I also don't wanna spend hours in a skate line that I can't ride or that I don't have a natural flow. I want to flow without rules and I know that new abilities and complexity can naturally come in the simplicity. What about Street Loosers, can you talk about it? It's my fake brand (laughs). Street Loosers started when I was talking with my friend Lucas Valente "Cabu". We used to love the idea of forming a skate crew with the perspective of a loser guy that rides in the streets. I started to enjoy the idea and to draw stuff with this name on it, mimicking skate ads, t-shirts stamps, buttons, disposables caps, patches, zines… Everything like it was a brand. The intention was for it to be an art project about the skate culture in which friends can participate and release their own things outside of the box. Complexity in the simplicity. We should finish with saying that you said earlier. I truly believe nothing can be simpler, but when I talk about simplicity I talk about the way people see from the outside something that they judge is simple. We can make things that are so hard to do seem so simple

and vice-versa. Just like there's a macro universe where everything that's around us exist, there's also a microuniverse of the things that are inside. The escales of those universes are almost the same but in total opposite sides. I believe that it all depends on the way we face things. I feel that there are gaps unexplored that can lead us to evolve to different and independent paths.

AWAY DAYS AT HOME It's All about the Journey, Not the Destination. The steps people need to go through to achieve a dream goal. In some cases this sentences are even more striking, like in a skateboard movie. Away Days, the feature film of Adidas Skateboarding had 3 years of production. Twenty five skateboarders from all over the world gathered in some brief and historical moments together in a session to be captured by a single time in a single shot. But how can we express to explain this shot? Something unique and inexplicable. An instant to feel more then to see. We've been bringing this production whole ambiance not only to the magazine but also to the website and through our social media experience (please check out the content that you won't regret it) and we wouldn't miss by any chance the opportunity to show you guys the unforgettable party that got millions of skateboarders together in MASP (Museu de Arte de São Paulo) in the middle of Paulista Avenue, in one of the biggest capitals of the whole world. Klaus Bohms, Benny Fairfax, Nestor Judkins and Pete Eldridge were the ambassadors of the brand present in São Paulo, together with the president Rodrigo TX were at the stage with Projeto Nave to talk about AWAY DAYS and the honour to be there: "It's symbolic to be screening a movie about skate here at MASP. Especially in this time and moment where there's so much discussion about the Olympic Games, if skate can be considered a sport, if skate is an art… I'm exhilarated that we are all here gathered to

watch a movie about skate in the MUSEUM OF ART OF SÃO PAULO with capital A" said Klaus. Asked by the hostess of the night, Kamau, about the importance of a movie like this one, Nestor shook his arms like he was trying to hold every single one of us that was present there and says "look around, this is the craziest thing that I've ever experienced". And Benny affirmed pointing his finger to the ground envisioned by Lina Bo Bardi: "this is my favorite spot to be right now". "São Paulo is my nest, where I was born and raised. To be able to participate in an Adidas movie and screen it in the heart of São Paulo city and to see this crowd gathered here to see it, the only thing I can possibly say is thank you… Save the streets!" Excited speechies, anxious crowd, popcorn and screen, ready to play. We keep following our destiny without forgetting about the beautiful days spent overseas.


ŠFernando Denti



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