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CONVERSE CON O VERSE BADGE ON B DGE BA




Disponível no

#VANSPROPELLER VANSPROPELLER.COM



G U I L H E R M E T R A K I N A S



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Tobias Sklar

EDITORIAL Ao montarmos os conteúdos dessa edição pudemos ter a certeza que idade já não fazem a menor diferença. Ou você vai dizer que o Wilton de Souza é jovem demais quando ele apresenta uma das entrevistas mais bonitas que já tivemos aqui por estas páginas? Ou você poderia dizer que o Cesinha Chaves é velho demais para ainda estar gastando os eixos em grinds pistas a fora? Ou então que toda a experiência de vida do Rafael Jacinto é algo datado? Sinceramente, não perca seu tempo tentando catalogar as pessoas pelo seu tempo aqui nessa plano. Pelo menos com esses personagens ideia é em outro nível. Todos temos uma missão e o mais importante é realiza-la e realizar-se. Como diria o Planet Hemp, “foda-se as leis e todas as regras”. Ajude o universo a ser um lugar mais feliz e menos frustrado, não se prenda a nada negativo e busque sempre a sua vitória.

EXPEDIENTE EDITOR JEFE: XANDE MARTEN XANDE@VISTA.ART.BR DIRETOR DE CONTEÚDO: TOBIAS SKLAR TOBIAS@VISTA.ART.BR DESIGNER: FREDERICO ANTUNES OI@FREDERICOANTUNES.COM EDITOR FOTOGRAFIA: FLAVIO SAMELO FLAVIOSAMELO@GMAIL.COM FOTOGRAFIA: RENATO CUSTÓDIO RENATOCUSTODIO@GMAIL.COM PLANEJAMENTO DIGITAL: FERNANDO ARRIENTI FARRIENTI@GMAIL.COM CONVIDADOS ESPECIAIS: TEXTO: CESINHA CHAVES, RAFAEL GOMES, GUILHERME GUIMARÃES FOTO: RAFAEL JACINTO, CIA DE FOTO, NILTON URINA, ROBSON SAKAMOTO & MAURÍCIO POKEMOM ARTE: RAEL BRIAN, RATÓNES, REVERSE, CHANA DE MOURA, LÍDIA BRANCHER & MARCOS VAN AGRADECIMENTOS: SÃO LONGUINHO COMERCIAL : XANDE MARTEN 0 (XX) 11 9837 16304 PARA ANUNCIAR: XANDE@VISTA.ART.BR OU PELO TELEFONE 0 (XX) 11 3360 3277 ADMINISTRATIVO: ADM@VISTA.ART.BR DISTRIBUIÇÃO: JANINE OLINTO DISTRIBUIÇÃO@VISTA.ART.BR DISTRIBUIÇÃO GRATUITA REALIZADA EM BOARDSHOPS, GALERIAS DE ARTE, BLITZ & VIA CADASTRO. FAÇA SUA ASSINATURA, SAIBA COMO: DISTRIBUIÇÃO@VISTA.ART.BR PERIODICIDADE: BIMESTRAL IMPRESSÃO: GRÁFICA PORTÃO FALE CONOSCO: CONTATO@VISTA.ART.BR MAIS EM VISTA.ART.BR CAPA FOTO CIA DE FOTO


andrĂŠ genovesi

l.p. aladin

patrick vidal

f o t o : P a b l o Va z

giancarlo naccarato

PARES Ă?MPARES

roni carlos

daniel mordzin

pedro biagio



hahaha.art.br


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mm odu o duLaR s EmPr LaR E s EmPr E Renato Cust贸dio

Rafael Jacinto

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Primeiro o Renato Custodio bateu um papo com ele, depois foram as idas e vindas de e-mails para receber as imagens, no meio disso uma salvadora mensagem com esse "resumo", entre aspas mesmo, porque não há como resumir uma vida, muito menos uma vivida tão intensamente e com tantas mudanças de direções. Mas, para você pegar o fio da meada, eis Rafael Jacinto, paulistano, skatista, fotógrafo,

Autorretrato numa das madrugadas do NP

fundador da Agacê, fotojornalista do finado e expressivo Notícias Populares, coordenador no elitizado Valor, sócio do coletivo autoral Cia de Foto, diretor de vídeos da Paranoid que sempre que pode sai andando como um louco dando seus ollies. Ou seja, 40 anos de vida, 31 de skate.

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“Em ‘84, mais ou menos, eu me mudei para um prédio na Av. Lavandisca, esquina com a Diogo Jácome. Na época o bairro chamava Vila Nova Uberabinha e era bem tranquilo. Hoje virou Moema e só tem prédio de ‘novo rico’. Virou um bairro tosco.

O prédio que moramos chama Modular Delta. Chegando nesse prédio, encontrei uma galera que tinha tudo mais ou menos a minha idade, uns 9 anos. Entre eles estavam o Tiago (Moraes) e o Keke (Toledo), que continuam meus amigos até hoje. Eu já tinha tentado andar de skate, mas não tinha rolado. Nesse prédio, a galera tava começando a andar e daí nunca mais paramos. Pelo fato de ser um bairro tranquilo, rolava muito street. A gente construia rampas de madeira na rua e ficava varando. O prédio ficava perto do Parque Ibirapuera, que era tipo nosso quintal. O prédio era um ponto de encontro da galera e, naquela época, tinha uma turma forte que andava em Moema, do outro lado da Ibirapuera. Rolavam uns campeonatos no Colégio Estadual Levi (no Planalto Paulista), que ia toda a galera, e o programa Grito da Rua bombava na TV. Resumindo. Minha formação se deu a partir daí. Eu estudava num colégio de bairro, lá no Campo Belo, perto da avenida que viraria a Águas Espraiadas mais tarde. Era um colégio bem tosco, conservador, com uma galera bem ideia errada (tosco mesmo). O Colégio nem existe mais. Mas essa vivência do skate era diária, conhecendo gente, conhecendo São Paulo. A gente saia pra andar na rua, mas também ia pras pistas (SBC, São Caetano, Prestige e ZN). O skate era bem marginalizado naquela época. Rolou até uma proibição quando o Jânio era prefeito, e a gente tinha sempre que fugir da GCM. Enfim, a gente foi crescendo e eu fui sempre andando com esses caras. Era skate e todo o lifestyle que vinha junto. Música, Beastie Boys, Hip-Hop nacional, depois o Grunge, metal, Garotos Podres etc. Montamos banda, viajamos juntos, sempre com o skate embaixo do braço. Em ‘‘93, eu tava no campeonato AM do Sambódromo, com o Marcio Conrado, e fui pular uma escada. Estourei o ligamento do joelho esquerdo e tive que ficar mais de um ano sem andar. Fiquei dois meses de muleta e mais de um ano fazendo fisioterapia. Engordei e entrei na faculdade. Na FAAP (fiz Rádio e TV) eu voltei a andar.Eu e o Zodi éramos colegas. Tinham outros skatistas também. Isso era ’95 e a FAAP não era essa faculdade coxinha que é hoje. Não tinha grade e a gente andava de skate lá dentro. Foi lá que conheci o Fabio Brandão, que depois viraria um dos primeiros skatistas da Agacê.

Em ’96 fiz uma viagem mochilão pra Europa, com o Guab, que também era da galera do bairro desde sempre, músico, DJ. Nessa viagem eu tinha um caderninho e ficava desenhando umas ideias e o logo de uma marca. Na época não pensava em ser uma marca de skate, mas uma produtora, porque eu organizava umas festas na Faculdade. O Zodi já tava numa pilha de vídeo. E eu na de fotografia. Durante a faculdade, eu, ele, o Guab, Tiago, e mais uma galera, montamos uma produtora de vídeo, a "Nova Ordem Filmes”. A gente fazia uns trabalhos de faculdade e ganhava uma grana. Mas não deu certo. Eram uns 7 caras e a grana não pagava nem a cerveja. Durante a faculdade eu trabalhei como estagiário em um programa de rádio (Trip 89), como programador de HTML (era o começo das produtoras web e tinha um puta mercado. Eu podia programar a noite e andar de skate à tarde), e numa produtora de áudio. Em ’98, numa conversa com o Tiago, o Zodi e o Rashid (que é um amigo de infância, do colégio, que andava muito, mesmo) decidimos montar uma marca. Eu já tinha o nome e fiz o logo. Tiago tinha conhecido o Formigão e já tinha assuntado sobre a marca. A gente encomendou umas camisetas lisas gringas e estampou o logo, fizemos os shapes e fomos atrás de vender. Alugamos uma sobreloja no Bom Retiro, na Rua Jaraguá e montamos nossa base. Nessa fase, Rashid já tinha saído fora porque tava fazendo FEI e não tinha como se dedicar. Eu, Tiago e Zodi íamos pra esse escritório todo dia depois da aula e tentávamos colocar a marca de pé. Numa sala ficava eu e o Tiago. Na outro o Zodi montou uma ilha de edição e na cozinha ficava o estoque. Era legal pra caralho. O Tiago cuidava de toda criação, anúncios, eu fotografava e o Zodi fazia os vídeos. Nós 3 fazíamos a correria de produção. Nessa época a gente tava andando pra caralho de skate e eu tava andando bem, até. O primeiro vídeo da Agacê tem a gente andando e foi lançado junto com a marca no Matrix, com show de Strip-Tease. No final de ’98, quando nos formamos eu tava fazendo uns frilas de foto pra um revista de Surf (a Hardcore) e o dono da revista disse que eu precisava conhecer o jornal Notícias Populares, que eu ia pirar. EU já conhecia e já tinha estudado ele na Letras FFLCH (fiz dois anos e meio e abandonei). Conversei com o Ti e o Zodi e fui. Cheguei na redação, que era dirigida pelo Fernando Costa Netto e um mundo inteiro se abriu. Aquele lugar era sensacional. No meu primeiro dia fui acompanhar uma pauta e no final fiz uns cliques. No final do dia me chamam na sala da diretoria e me mostram o que seria o jornal do dia seguinte. Minha foto tava estourada na capa. Um moleque na favela que tava em semi-coma porque tinha apanhado na escola pública. Daí fudeu, não podia perder aquela chance. Era pra eu ficar um mês como estagiário e fiquei mais de um ano. Nesse período conheci São Paulo de um jeito diferente. O skate já tinha me dado uma puta vivência, mas ser fotojornalista de um jornal como aquele, na época que São Paulo foi mais violenta (dados do governo) e que a internet não tinha bombado ainda, foi algo incrível. De jogadores de futebol, putas, travecos, traficantes, assassinos, mortos, chacinas, rebeliões, fotografei de tudo.


que nenhum trabalho fosse inviabilizado porque eu ou outro Daí a Agacê tava só com o Tiago, eu acho, mas eu continuava integrante não estávamos disponíveis. Era um jeito de fotografando pra marca. Esse foi um pacto, um jeito de garantir uma estabilidade. Também, quando o João entrou me sentir parte dela ainda. Fazia todos os anúncios, ia nos campeonatos. Na época do NP foi quando eu mais andei, acho. ele veio com uma fotografia muito pura. Ele é 7 anos mais novo que eu e nunca tinha trabalhado com fotografia. Era Voltei com tudo. TInha uma pista chamada RollerBrothers, mais hippie, mais solto e eu já tava naquele corre de pagar que ficava aberta na madruga e eu adorava lá. Saía do jornal, as contas, comprar as fraldas pro filho recém nascido. O ia pra pista, depois ia pro Bar, Matrix. Mas a carreira de primeiro trabalho que fizemos coletivamente, autoral, foi o fotojornalista tava indo bem e eu tinha sido selecionado para o Curso Abril (uma espécie de programa de trainee que tinha) 911. Era uma ocupação de um prédio na Prestes Maia e tinham nos chamado pra fazer uma pauta lá. A gente tava cheio de e fui passar um mês “aprendendo” a fazer revista, na Veja, na ideias e resolvemos fazer um ensaio. Éramos 3 e dividimos as editora Abril. Era a forma mais fácil e rápida de entrar de funções. Eu ia lá e fotografava os espaços vazios. Fotos bem verdade no mercado e eu fui. Durante esse mês, fui chamado realizadas, câmera no tripé, longa exposição, o Pio e o João para integrar a equipe de um jornal novo que ia ser lançado, iam mais pro dia-a-dia. E os 3 faziam os retratos, sempre que de economia. O jornal Valor Econômico, uma joint do Grupo iam lá. Apresentamos esse trabalho na Semana de Fotografia Folha e do grupo Globo. Era março de 2000 e eu tinha 24 Fnac, numa de “novos talentos” e de lá fomos convidados para anos, ganhando um salário alto (pra mim), conhecendo um participar do Festival de Arles (foi incrível, emocionante). Brasil por outro ponto de vista agora. Antes eu fotografa os O festival é foda e a gente lá, projetando nosso vídeo mortos no NP e agora tava fotografando os mortos-vivos (formatamos como um vídeo para o festival e ele ficou assim). (empresários, executivos, políticos). Nesse jornal eu evoluí muito tecnicamente, conheci muita gente da área cultural Nessa viagem conversei muito com o Edu Brandão, que viria mainstream, fotografava CEO de multinacionais, músicos a ser nosso galerista alguns anos depois. Eu já conhecia o foda, políticos. Viajei bastante pelo jornal e foi lá que Edu. Na época que trabalhei no NP ele era diretor de Arte comecei a Cia de Foto. No Valor fiquei de março de 2000 até agosto de 2003. Quando saí eu tinha um cargo de coordenador. da revista da Folha, e a gente se cruzava ali pelos corredores. Mas nessa viagem ele me mostrou que eu precisava estudar Fotografava menos e cuidava da equipe. Tinha muito tempo muito mais se quisesse entrar nesse circuito, nas artes. Eu livre e fazia porra nenhuma. saquei que precisava responder perguntas a cerca do trabalho que eram complexas, tinha que ter mais conhecimento Curtia a vida. de história da arte, de tudo. Nosso trabalho era político, questionava, e não é fácil responder por isso. Em agosto de 2003, eu e o Pio, que foi com quem fundei a Cia de Foto, alugamos um casa no Brooklin. Conseguimos ir Daí em diante, as coisas andaram muito rápido. Mudamos de com a conta do jornal Valor. Tínhamos um fixo por mês para estúdio, chamamos mais gente para o coletivo. A Carol Lopes fotografar e isso nos dava garantia de pagar as contas. Isso foi uma pessoa essencial, porque ela não fotografava, mas ela durou 6 meses, quando decidimos ir atrás de outras coisas que editava e tratava todas as nossas fotos. Antes era a gente e o João entrou. Criamos a Cia de Foto para ter um espaço que fazia, mas ela foi pegando nosso jeito e levou para lugares que fosse auto-sustentável, que se pagasse com trabalhos comerciais e que nos desse liberdade, tempo e gana de pensar incríveis, imprimindo uma estética na linguagem muito foda. o trabalho artístico. A Cia de Foto durou 10 anos e nesses dez Participamos de muitos festivais, no mundo todo, exposições, anos muita coisa aconteceu. demos workshops. A história da autoria coletivo gerou uma certa histeria e às vezes nos convidavam só pra falar sobre A Agacê foi incorporado pela Crail e eu continuava isso, o que era uma merda porque sempre dava briga com os fotografando pra ele. O Tiago cuidava de tudo no marketing mais velhos. Gritaria nos auditórios etc. Mas depois isso foi e conseguia me passar uns orçamentos. Fotografava mais os sendo percebido em outro lugares e começaram a nos chamar skatistas em estúdio pros anúncios, fazia still dos produtos. pelo trabalho. Um grande responsável por isso foi um curador espanhol chamado Claudi Carreras, que viajou a América Como tava o meu skate? Latina para realizar um projeto dele e mostrou diversos coletivos. Ele, inclusive, organizou um encontro de coletivos Tava mais devagar, mas tinha um assistente na Cia que fotográficos junto com uma exposição na Galeria Olido, aqui andava e a gente sempre dava umas manobras no estúdio. em SP. Acho que foi em 2010. Eu fazia uma sessões mais leves. Tava gordo. Meu joelho fudeu mais uma vez, de leve. Eu tinha medo. Em 2009 fomos convidados para integrar o time de diretores de uma produtora de filmes publicitários, a Paranoid. Foi A Cia foi conquistando um espaço muito foda. A gente muito louco porque a gente não era diretor. Mas a gente fazia começava a fazer uns trabalhos publicitários e isso dava mais experimentos, principalmente artísticos, com vídeo e tal. grana. A gente tinha alugado uma casa na vila do Fotosite, no As MARK II tinham sido lançadas e o mercado fervilhava Brooklin. Fotosite era uma agência/editora/portal/galeria de mais uma vez. O Heitor Dhalia (sócio da produtora) viu um fotografia. Agitava muito o mercado, organizava a semana trabalho nosso, feito para o MAM em 2008, o Caixa de Sapato, de fotografia na Fnac. E foi por aí que a gente foi entrando e nos chamou. no circuito. A autoria coletiva era um maneira de garantir


Bom, no final de 2013 as relações internas na Cia estavam uma merda. O Pio tinha uma vontade de estudar e queria que a Cia fosse mais pra esse lado acadêmico. A grana tava acabando. A Cia já não era mais novidade. A gente se afastou do mercado comercial e daí o jeito foi terminar. Da mesma forma que começou como um coletivo, terminou como um coletivo. Ninguém ficou com o nome.

Desde então continuo trabalhando com o João. Voltei a procurar trabalhos relacionados com skate. Continuo como diretor da Paranoid. Eu e o João somos uma dupla. Eu tenho uma visão mais geral do trabalho e ele mais fotográfica. Dirigimos o filme da Nike com o Luan e agora o da Converse. Tudo com o Tiago. Modular para sempre. Hoje, prestes a completar 40 anos, tenho certeza de que nunca vou parar de andar. Toda vez que pego o skate, fico tipo um retardado. Já começo a dar uns ollies e saio andando feito louco. É impressionante como a base a gente não perde. Sempre disse que 40 anos seria o meu auge.E vou completar em cima da carrinho. 40 anos de vida, 31 de skate.”

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"A gente tinha ido nesse pico pra fotografar o Fabio Cristiano e o Fabio Luiz. Acabei eu pulando a corrente e a escada. Tiago fotografou."

"Fotos de skate tiradas por mim."

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Fotos da madrugada do NP. Eu não usava flash, fazia longa exposição e, às vezes, “pintava” com uma lanterninha

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Fotografando os primeiros shapes da AgacĂŞ.

Rolê na ambiental. Tiago normalmente pegava minha câmera e me fotografava.

Nosegrind numa pracinha do brooklin

Eu e o Tiago num intervalo de fotos de uma campanha da Crail.


Eu, Zodi e Tuca em Curitiba. Tiago tĂĄ deitado na cama. A gente tinha ido acompanhar a equipe da AgacĂŞ em um campenato da Drop.

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ollie shifty





C O NTA S e M mA UNS T OP Rafael Gomes

Renato Cust贸dio

Guilherme Guimar茫es

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AG I A NTe Sem saG E AsmsaGE m AssaGEm PPABLe Renato Cust贸dio

L

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Santiago do Chile


SEM MASSAGEM por Renato Custódio

CONTAGIANTE

UNSTOPPABLE

por Rafael Gomes

por Guilherme Guimarães

Sabe quando você faz um rolê infinito pelas “Me lembro exatamente a primeira sessão ruas, que não acaba nunca, que corre até o final, que fiz com o Wilton na rua, moleque tímido e que faz o barulho do grind, do tail, do nose, do na dele, em pouco tempo se tornou um grande rock e ainda da pra expremer a polpa do suco e amigo e parceiro nas sessões em Maringá. Sua voltar nas 4? Esse muleque é tipo assim só que disposição para andar de skate inspira, não multiplica por 10. Da o repeat no “JOERIDE” importa se é de manhã, tarde, noite ou o dia todo. Ele é movido por skate, é o alimento para antes de sair pra sessão pelo menos 30 vezes seu corpo e sua alma. Me sinto abençoado até quem está a seu lado arrancar o controle da sua mão, pegar o skate e abrir a porta. É tipo por ter este cara iluminado como amigo, com certeza ele ainda contagiará muitos com sua o enxame, a zica, o hard heel pulando o cone saindo do fakie nosegrind. Pensa num piá que energia e skate de alto nível!” pode dormir no chão uma semana se estiver ao lado de seus amigos, fazendo o que realmente gosta e sem saber o que vai acontecer no minuto seguinte. Não importa se está no Chile, no Rio ou em Umuarama de onde ele saiu. Wilton de Souza vai que vai, se precisar voltar no pico 10 vezes até acertar a manobra, ele vai. Disposição de sobra, talento dos pés a cabeça. Pode pá que é sem massagem!

Fiquei pensando em traduzir esse título, mas a palavra “imparável” me soou meio estranha. Como a lingua inglesa faz parte do skate, resolvi que unstoppable é o melhor termo que posso usar para descrever Wilton Souza. Conheci o Will na premiére do CityZen. Tímido, no começo, mas já dava pra sentir que era alguém que sabia o que queria. Assim que se mudou para São Paulo, nada o impedia de remar do Grajaú até a Praça Roosevelt - mais de 30 km por dia e sem um tostão no bolso, só para fazer uma sessão. Apadrinhado por ninguém menos do que o Golden Boy Rafael Gomes, Wilton é tão focado que ele nunca me disse “não” quando o chamei para filmar. Faz linhas intermináveis, sem errar, e manobras tão complicadas que chocam aqueles que o assistem de perto. Não é fácil filmar alguém que consegue andar 12 horas por dia, ou mais. Muitas vezes tenho que parar e pedir água, ou então filmar tudo de tele, rs! Acredito que o Wilton é o retrato do Brasil: anda de skate sorrindo e não perde a esperança mesmo na pior situação. Esses dias assisti ao primeiro promo dele, no qual usava um tênis de cada marca, ambos presentes dos camaradas que tinham grana. Os mesmos caras que hoje vêem o Will nos vídeos, revistas, e fotos no Instagram junto aos melhores skatistas do país, e quem sabe, do mundo. Percebi que ele não poderia ser mais um garoto de Umuarama, Paraná, e que a vida havia reservado algo maior para ele. Garoto simples, educado, que esbanja talento, e que ao meu ver possuí aquilo que é mais importante no skate: estilo. Fico feliz por fazer parte do amadurecimento dele como pessoa e como skatista, e tenho certeza que nada irá parar Wilton Souza. Siga em frente e avante, o futuro te espera Will!

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fs pop shove-it

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bs noseblunt



flip nose-slide heel flip out

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fs ollie

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fs crooked

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U MA V I DA DE S KAT E FS Grind-Wavepark/ SP- 1978 • f: Roberto Price.

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Flavio Samelo

Gostem dele ou não, achem ele legal ou não, concordem com ele ou não, isso não é problema dele. Enquanto você está lendo o que eu escrevi, Cesinha Chaves deve estar andando de skate em alguma pista no Rio de Janeiro. O que isso tem de mais? Nada. Porque para ele o skate é a vida, é uma extensão do que ele sempre foi depois que descobriu uma madeira com uns patins grudados. E quando eu escrevo “descobriu” não é em termos.

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Hoje a vida moderna é só facilidades, tudo na mão, inclusive no quesito skate, com vídeos cabulosos nos torrents, itunes, youtube etc. Agora imagine no final dos anos 90, onde quase ninguém no Brasil tinha um computador decente e a internet praticamente não existia. Novidades sobre skate só via revistas que demoravam para chegar por aqui e quando chegavam eram bem caras e um pouco desatualizadas. E detalhe, só chegavam mais em São Paulo e Rio de Janeiro. Os videos só via VHS, cópia da cópia, da cópia.

Power Turn- Nova Iguaçu/ RJ - 1976 • f: Nilton Barbosa

Ai você fica imaginando como era tudo isso no anos 80, consegue? Informação era meio que proibido, skatista era punk, não era legal ser skatista como é hoje, não tinham muitas opções de material e as referências eram bem mais limitadas que nos anos 90 com poucos vídeos e revistas, mesmo internacionais. E antes disso? Na década de 70? No Brasil? Vixe, sei lá. É então, enquanto o coro comia no campo da política, com um pessoalzinho de uniforme achando que eram donos da verdade absoluta em tudo, tinha uns caras muito loucos aqui no Brasil que estavam fazendo a versão deles de uma parada que estava rolando na Califórnia desde uns anos antes, e essa parada se chamava skate, ou algo similar.

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Nesse bololo de história de skate no Brasil o Cesinha é o cara que você deve, no mínimo respeitar, pois desde 1968, quando começou a andar mesmo de skate, de alguma forma fez o skate nacional crescer e influenciar a vida de pessoas como eu e você.

1. BS Wheeler na Rampa, no Clube de Regatas Flamengo, RJ, durante a 1ª demo de skate do Brasil. 24 de dezembro de 1977. f: Nilton Barbosa 2. Barramares, RJ 1979/1980 f: Nilton Barbosa 3. Tail block no Bowl do Marinha do Brasil, RS. f: Arquivo Pessoal 4. Carving em Campo Grande. f: Roberto Price

Eu nasci nos anos 70 e quando isso aconteceu, ele já tinha ido andar de skate na Califórnia, ele já tinha feito no skate o que você e eu queremos faze hoje em 2015 e com certeza o que as outras gerações vão querer fazer em suas respectivas épocas. A mais de 40 anos o Cesinha já estava no #skatelife que eu e você achamos inovador. Nem eu nem você temos essa idade de vida, mas a vida de skate é o Cesinha, em pessoa. Obrigado por andar de skate compadre.

Aproveite e faça um favor para si mesmo e confere o material extra que produzimos com o Cesinha Chaves no site da Vista. Muito mais história, fotos e vídeos no vista.art.br

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Arte Muda Jânio "Charada"- bs tailslide• Teresina/Piauí- f: Mauricio Pokemon



Marcello Gouvea- nosegrind• RJ/RJ- f: Robson Sakamoto



Renato Custódio

ReSPEITE SUA S RAÍ Z ES Tão legal quanto tirar um game of s-ka-t-e para encerrar uma sessão é ficar conversando com seus amigos sobre os skatistas que os influenciaram, trazendo pro papo cada detalhe sobre aquela parte insana que saiu num vídeo obscuro no meio de 92 na qual você sabe de cor até o kit completo que o cara estava usando, do boné ao tênis. Felizmente aqui no Brasil esse tipo de resgate está começando a se tornar algo mais usual, mas na gringa contar estas histórias é uma coisa que faz parte da indústria. Tanto que a adidas ao pensar nas comemorações pelos 45 anos de um dos seus modelos mais icônicos, o Superstar, resolveu prestar um tributo aos skatistas pioneiros em transformar o bico de borracha do boot também um clássico em contato com a lixa. E assim foi lançada a série “Respect You Roots” assinada pelas lendas Kareem Campbell, Joey Bast, Drake Jones e Richard Angelides.

E esse foi o ponto de partida para a gente aqui na Vista perguntar para Klaus Bohms, Daniel Marques, Akira Shiroma e Marcelo Garcia quem foram os skatistas referências deles nos anos 90. Curioso para saber quem são as raízes da equipe da adidas Skateboarding? A gente te conta e eles explicam.


PUBLI-EDITORIAL

Se tem um cara que é unanimidade quando se fala em referência, raíz do skate mesmo, para a galera da adidas Skateboarding do Brasil, esse cara atende pelo nome de Rodrigo TX. O skatista que conquistou o mundo com seu estilo inconfundível criado pelas ruas de São Paulo simboliza bem toda a ideia do “Respect Your Roots”. Tanto que quando estávamos discutindo sobre como seria a matéria o Klaus nos contou que “o lance é que o nome dele foi citado entre nós quatro da equipe quando a ideia surgiu, sacou? Tipo quase tiramos game of skate (pra você ver a seriedade, quase guerra) pra decidir quem iria 'ficar' com o Rodrigo. Hahaha. Então ele é indispensável mesmo”. Para completar ainda rolou esse resgate do TX usando um Superstar nos anos 90 pra abrir a matéria com estilo.


Klaus Bohms Desde pivete eu prestava atenção no skate do Chupeta, algo se comunicava. Hoje eu consigo entender melhor o que era. Expressão. Mais do que a técnica, a escolha de manobras era o que me intrigava, tinha um pensamento envolvido, uma mensagem, forma. Lembro de ver ele andando em São Caetano algumas vezes, ele sempre chegava, andava 10 minutos e ia embora. Era o suficiente pra me fazer pensar, me atingia de alguma maneira. Lembro dele num campeonato Pro em São Bernardo, chegou tarde, de braço quebrado e deu um croocked arrancando pro outro lado na trave e pronto, foi meu favorito do evento. Uma vez eu estava andando na antiga pista da Tracker e passava o Skateboard System na TV, uma matéria com ele que encerrava com uma molecada gritando: ‘Quem é o melhor? Fábio Cristiaaaaano!’. Lembro de ter rachado o bico, pois a impressão que eu tinha dele era justamente o oposto de qualquer caráter competitivo e aquilo soou como piada, talvez a mesma frase não teria caído bem com vários outros skatistas da época. Essa ironia me criou memória. Mesmo após eu ter me tornado Pro, só senti e assumi essa posição pra mim mesmo quando recebi algum elogio sincero vindo dele, tinha um caráter de aval pra mim.


Marcelo Garcia DohDoh Minhas raízes no skate começaram a aparecer por volta do ano 2000. E uma das primeiras mídias à qual tive acesso foi o vídeo da The Firm, ‘Can’t Stop’. Lá pela metade do vídeo começava uma música muito foda e que tinha participação de um berimbau que tocava demais! Dois skatistas manobravam durante esse som e um deles é o Wagner Ramos. Cara, a simetria da forma e a qualidade das manobras que ele lançava na base e de switch me impressionaram muito. Anos depois conheci ele aqui em Floripa, vou te falar que fiquei mais impressionado ainda! Além das tricks o cara trata todos com a mesma atenção e respeito. E também notei que ele consegue se divertir e interagir com a mesma intensidade nos mais diversos lugares, sejam perfeitos ou podres, complexos ou simples. Conclui então que essa simetria que tanto me chamou atenção vem das raízes mais profundas, então respect your roots! Muito Obrigado à você, meu amigo Wagner”.

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Akira Shiroma Quando eu comecei a andar já escutava o nome do Nilton, nem imaginava como ele era, mas sabia de todas as manobras que ele tinha feito numa vinda aqui na minha área, em Cubatão. Depois mais pra frente fui vendo as revistas, a parte dele no 411, que foi uma parte que eu assisti muito. Porque o estilo dele me empolgava, o jeito que ele anda. Um dia ele apareceu de novo na pista aqui e eu já acompanhava mais a carreira dele, foi muito style. Eu ali andando e ele por perto, dando rolê. Foi especial apreciar ele andando, estilo muito cabuloso. Tinha essa parada de eu conhecer ele, mas nunca ter visto ao vivo. Me marcou muito, porque ele já me influenciava só de saber as manobras, sem ter visto ele andando mesmo. E esse dia eu consegui ver pessoalmente o cara destruindo. Hoje em dia eu conheci ele melhor, troquei ideia mesmo, puta cara style, muito dahora e o skillz é o mesmo. O jeito de andar, mano, é muito cabreiro. Inclusive esses tempos a gente fez um rolê, falei pra ele de Cubatão, ele comentou que é uma das pistas que mais gosta de andar. Foi uma noite que ele foi tocar, foi demais, lembrava dessa história e tava ali vivendo com ele em outra situação. Muito louco!


Daniel Marques Uma das primeiras revistas que comprei, uma Tribo Skate no final dos 90's, tinha uma entrevista com o Rogério Mancha. Nas fotos, era quase tudo de switch nos picos de rua, uma manobra na base no half pipe, calça camuflada, um jeito de abaixar e uma expressão diferente com os braços para mandar as manobras. Mesmo eu estando naquela fase de deslumbre quando se começa a andar, em que tudo é legal, ele me chamou alguma atenção a mais. Principalmente depois, quando arrumei uma fita do vídeo Europa 99 da 411. O Mancha aparecia e eu sempre voltava algumas vezes pra ver seu nosegrind de back reverse na trave, achava muito style. Na mesma época vi ele andando ao vivo no campeonato mundial que rolou no Brasil. E dali em diante, acompanhando o que foi fazendo dentro e fora do skate, dava pra ver e sentir que era um skatista fazendo a coisa do seu próprio jeito, sempre captando e trazendo algo de novo que estava rolando, skatista de vanguarda mesmo. Foi uma grande influência do meu começo e com certeza de muitos outros que começaram nessa época. Muita satisfação Mancha em ter te conhecido e de poder colher dos frutos e espalhar sementes da árvore de raízes firmes e fortes que você fincou no solo do skate desde os anos 90. E ainda orgânica, né?! Gratidão!








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©Rael Brian



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漏Rat贸nes



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vulkeyewear.com @vulkbrasil /vulkeyewear


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ŠChana de Moura



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©Lídia Brancher



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ŠMarcos Van




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