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JUN/JUL2009 vista.art.br


PROJETO NIKESB

03 BR 03/11

VÍDEOS EXCLUSIVOS. ATUALIZAÇÕES CONSTANTES ARQUIVO 10 - MAKING_OF_POLE_JAM.MOV FINHA DUNK LOW PREMIUM SB

YOUTUBE.COM/PROJETONIKESB








FOR MORE INFO VISIT: DCSHOES.COM


Editorial T

Tobias Sklar

Motivação é uma palavra-chave em dias de depressão e estresse cotidiano. Estas palavras que encerram sentimentos tão pósmodernos em alguns momentos são capazes de jogar para cima ou para baixo a vida de um cidadão. Dos problemas a gente mais que sabe, do Congresso às gripes, passamos pelo morador de rua que tem um surto e ataca os vizinhos na esquina de casa ou aquele azar de estar na linha de ônibus mais assaltada dos últimos tempos. E tem gente que acha isso difícil, pois podemos dizer que difícil mesmo –­  não me repreendam pelo trocadilho comercial – é ter motivação. Driblar os problemas é da natureza do brasileiro. Pois motivação vem de poder trabalhar com pessoas que já poderiam estar recostadas na cadeira dos privilégios ou das reclamações, mas que não se importam com a estrada esburacada do dia-a-dia e querem sempre estar no caminho, fazendo dele a melhor parte, sem pressa pra chegar, sem precisar atropelar pobres pedestres. Todas estas palavras bonitas são pra enaltecer a participação de um grupo de pessoas que oficialmente chamamos de Conselho, mas que na prática são amigos que dão toques, opiniões ou simplesmente nos motivam para continuar na busca por algo maior e melhor, utópico, delirante até, que é levar o melhor que a cultura das ruas e do skate produzem até quem esteja interessado, seja lá quem for o interessado. E continuem esperando o inesperado, a improbabilidade, pois estilo para Vista é mais que as palavras, são as ações, não é o Hype. Aqui ninguém fala mais alto, todos falam ao mesmo tempo e o caos é a matéria prima das entrevistas com Carlos Ribeiro, Mateus Grimm e com os “clandestinos” brasileiros moradores de Barcelona. Continuamos aqui, cada vez mais entrincheirados e cheios de munição, mandando bala!

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Expediente EDITOR CHEFE: Alexandre Marten xande@vista.art.br Produção, Direção & Edição de Conteúdo: Tobias Sklar tobias@vista.art.br Projeto Gráfico, Arte & Diagramação: Frederico Antunes frederico@chibachiba.com EDITOR FOTOGRAFIA: Flavio Samelo flaviosamelo@gmail.com CONSELHO EDITORIAL: Fernando Tesch, Flavio Samelo, Gustavo Gripe, Lucas Pexão, Pedro Damasio, & Roger Mancha Colaboradores Texto: Ricardo Tibiu, Gue Martini, Lucas Pexão, Ana Ferraz, Rafa Parissoto & Flavio Samelo Colaboradores Fotografia: Cincoum.Agency. aka Alex Brandão, Fabiano Lokinho, Daniel Souza, Tiago Pavan, Caetano Oliveira, Camilo Neres, Jerri Rossato, Carlos Hauck, Carlos Taparelli, Jr Lemos, Robson Sakamoto, Rodrigo Kbça, Diogo Disturbios PRODUÇÃO MODA: Nina Sodré Vídeo: Leo Coutinho Agradecimentos: Mark Caneso & Olho de Peixe Comercial : Xande Marten RS: 0 (xx) 51 8413.6898 SP: 0 (xx) 11 6763.6335 Lupa Fernandes SP: 0 (xx) 11 9134.5588 Administrativo: Gustavo Tesch gustavo@vista.art.br Periodicidade: bimestral Distribuição: distribuição@vista.art.br Distribuição gratuita realizada em boardshops, galerias de arte, blitz & cadastro. Impressão: Gráfica Pallotti Para anunciar: anuncie@vista.art.br ou 0 (xx) 51 3208.0866. Fale conosco: leitores e lojistas, comuniquem-se com a Vista através do e-mail contato@vista.art.br ou através do telefone 0 (xx) 51 3208.0866. ERRATAS: • A foto do Dhiego Correa nas páginas 80 e 81 de nossa última edição, é de Fellipe Francisco.

CAPA

S www.vista.art.br

Carlinhos

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Boardslide

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Minas Gerais

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Nilmar Lage



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issuu

tony hank

kbps

bloguigrafia

alavanca

visita

30 32 50 68 84 92

eu serei a hiena

clandestinos

arte muda

carlos ribeiro

mateus grimm

doisvĂŞ


sac@nixonnow.com.br

THE PRIVATE DIRT DON’T HURT


O que é Issuu ? T

Eduardo Bocão

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Divulgação

VOU RESPONDER A PERGUNTA TÍTULO DE UMA FORMA BEM RÁPIDA E FÁCIL: ISSUU É PARA AS REVISTAS O QUE O YOUTUBE É PARA OS VÍDEOS. ENTENDEU? BOM, PODERIA DAR MEU TEXTO COMO FINALIZADO, MAS TAMBÉM NÃO SOU NENHUM VAGABUNDO E VOU FALAR UM POUCO MAIS SOBRE ESTA MISTURA DE SITE COM COMUNIDADE E SERVIÇO.

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Issuu (leia-se Issue) foi criado no final de 2007 e tem como objetivo ser uma grande banca de revista ou biblioteca virtual. Nela qualquer membro pode transformar sua publicação, feita em Word ou em formato PDF, em uma revista virtual, naquele estilo Flash, com page flips, opções de zoom, etc (o que o Issuu faz automaticamente). Além disso, o arquivo fica hospedado no site dos caras, assim como ou Youtube, Flickr, etc. Pra melhorar, ainda há suporte para que o que foi publicado lá possa ser visualizado em qualquer blog ou site, algo como um embed. Se tem diversas vantagens para os publicadores, sejam as muitas revistas conhecidas ou a grande porcentagem independente, há também para os leitores, que podem visualizar, quase sempre na íntegra, revistas e livros muitas vezes raros ou pouco disponíveis. O Issuu tem em seu acervo, por exemplo, a primeira edição da revista Thrasher e muitas antigas da

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Skateboarder. Neste caso a publicação foi feita por algum fã que escaneou as revistas e publicou, ou seja, pelo bem ou pelo mal o site também conta com conteúdos “ilegais”. Salva algumas exceções, há muitos canais de publicações conhecidas, que utilizam a plataforma para disseminar ainda mais o seu conteúdo, de uma forma gratuita e agradável (ainda não é como um papel, mas já não irrita tanto quanto antes). A Vista é uma delas, que desde edição passada tem hospedado suas edições, na íntegra, por lá. O Issuu ainda é bem novo, o site iniciou trabalhos em dezembro de 2007, portanto acho que ainda é mais uma promessa do que uma realidade. Pra ter uma ideia a revista mais visualizada por lá tem apenas 210 mil views, o que qualquer videozinho bobo no YouTube atinge em alguns dias. Bom, isso pode ser também reflexo de que as pessoas tem preguiça de ler. Azar o delas, acredito que em pouco tempo muita gente vai se render a praticidade do site. Mesmo ainda tendo algumas coisas para melhorar, acho que o Issuu vai longe. Bom para quem quer poder ter acesso a muitas revistas e livros legais e de forma fácil e gratuita. Se você já está lendo esta matéria através do Issuu sugiro conferir alguns links que separamos. Se ainda está vendo no papel (e ajudando a derrubar algumas árvores) está aqui a dica.

www.issuu.com Links que valem a pena conferir:

http://issuu.com/vistaskateboardart A Vista não poderia ficar de fora, já que a plataforma tem tudo a ver com a política de informação gratuita da revista. Veja na íntegra no canal da Vista no Issuu. http://issuu.com/cuatromag Revista brasileira da cultura urbana, incluindo skate, street art, fotografia e até ensaio sensual. http://issuu.com/i.limitada Catálogo da marca de skate i.Limitada, utilizando o Issuu para divulgar suas coleções. http://issuu.com/maxiss/docs/th1981_01 Revista Thrasher número um, raridade total. Alguém que tinha edição escaneou e publicou na internet. http://issuu.com/sprocket-shooter/docs/malmobowlriders2008 Revista que apresenta, em 98 páginas, muitas fotos da competição que rolou no bowl de Malmö, em 2008. Boa alternativa para divulgação de eventos, com baixo custo. http://issuu.com/born_ugly_mag/docs/printbornugly Born Ugly é uma estranha mistura entre revista de skate e comic culture em uma revista. Boas entrevistas e muita HQ. http://issuu.com/acclaim Mais uma revista impressa que aproveita a Issuu para publicação. Música, arte, sneakers, comportamento e relacionados. http://issuu.com/bitchslapmag Revista européia, também impressa e na íntegra no Issuu, com a fórmula arte+skate+música+comportamento. http://issuu.com/huckmagazine A Huck se apresenta como uma linda, inteligente e sofisticada revista, produzida pelas mentes mais criativas do skate, surf e snowboard. Talvez falte um pouco de humildade, mas vale a pena conferir. http://issuu.com/spsfsf/docs/street_logos_150dpi O livro Street Logos também esta disponível, na íntegra, para quem não quer fazer aquela dispendiosa encomenda para a Amazon. http://issuu.com/unomag A ótima revista de Barcelona Uno também mantém seus PDFs embarcados na Issuu. Vale o confere. http://issuu.com/spsfsf/docs/graffiti_world_-_street_art_from_ five_continents Livro Graffiti World, com dezenas de fotos coletadas nos 5 continentes sobre o tema. http://issuu.com/undagroundz/docs/undagroundz_issue_2 Página mais visitada do Issuu, uma revista sobre hip hop. http://issuu.com/4castmedia/docs/woodmag3 Revista belga de skate. Não consegui ler, porque está em belga!



Tony Hank: Skate Sleeping Nights Awake it! T

Lucas Pexão

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Divulgação

PRA QUEM NÃO ACREDITOU NA HISTÓRIA DO NOME-PIADA DESSA COLUNA, QUE CONTEI NA EDIÇÃO PASSADA, VAI NO GOOGLE E BOTA: TONY HANK. NÃO ACEITE A SUGESTÃO DE CORRIGIR PARA “HAWK” E SE DIVIRTA COM OS RESULTADOS, FRUTOS DA POPULARIDADE DA COMBINAÇÃO SKATE + VIDEOGAME + SKATISTA SUPERSTAR (TONY HAWK), QUE NO BRASIL, PRA MUITA GENTE QUE NÃO ANDA DE SKATE, VIROU TONY HANK. NO SITE YAHOO! RESPOSTAS, POR EXEMPLO, TA LÁ A PERGUNTA “SKATE VS TONY HANK’S, QUEM VENCE?”, REFERINDO-SE A SÉRIE DE JOGOS SKATE, LANÇADA PELA ELECTRONIC ARTS, PRINCIPAL CONCORRENTE DA FRANQUIA TONY HAWK. LEEHFOFUXA RESPONDE: “CONCERTEZA TONY HANK'S! JÁ JOGUEI E VIREI ELE 2 VEZES!!! BJOS!!!”. POIS ENTÃO FOFUXA, PELO QUE ESTOU PERCEBENDO, PARA OS SKATISTAS QUE SABEM ESCREVER O NOME DO LENDÁRIO SKATISTA COM ESTILO DE GANSO, OS JOGOS SKATE SÃO MUITO MAIS INTERESSANTES.

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m dos últimos da coleção é Skate it, uma versão do jogo para o Nintendo DS. Pra quem não conhece, o DS é um console portátil com duas telinhas, sendo uma delas sensível ao toque, geralmente feito com a “stylus”, uma dessas canetinhas de plástico como as de palmtops. Sim, eu sei, parece impossível existir um jogo de skate decente que se jogue com uma caneta, mas esse é um dos jogos mais divertidos e livres já criados na categoria. Com o direcional você controla pra onde o skate anda, com toda ação se desenrolando na tela superior. Enquanto isso, na tela de baixo, fica a imagem de um shape, onde você literalmente desenha as manobras. Por exemplo, pra dar um ollie, tem que “riscar” uma linha do tail até o meio do skate que a manobra vai acontecendo na tela de cima. Um flip é um risco que começa no tail e faz uma diagonal para frente e para fora do shape, exatamente como seu pé faria em um flip real. Lá pelas tantas você começa a

desenhar sem olhar e pode se concentrar em girar o corpo de seu personagem, encaixar manobras de borda e realizar praticamente qualquer outro movimento de um skatista de verdade. Ao contrário dos jogos Tony Hawk, onde manobras super complexas se tornam banais, de tão fáceis, em Skate it você tem que pensar nos movimentos dos pés, segurar o tail ou o nose durante os slides e realinhar o skate na volta. É difícil no começo, mas cada acerto é gratificante. O que infelizmente não é tão diferente dos jogos do Tony é o fato de existirem competições e missões que você tem que vencer no modo “carreira” para liberar novos spots e cidades. Ainda assim, dá pra realmente se divertir criando linhas e procurando novas possibilidades para manobras em fases que parecem saídas direto do sonho de um skatista. A relação é tão próxima e os movimentos fazem tanto sentido que o jogo se torna uma inspiração para andar de skate de verdade.



Kbps

No KBPS você fica por dentro dos conteúdos e novidades online da Vista. Para não perder nada acesse diariamente: www.vista.art.br

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ABR/MAI2009 vista.art.br

Só não vê quem é cego

Site encorpado

Promoção Rindo a toa

Está disponível a versão em PDF para baixar da Vista a partir da edição 23, pelo site vista. art.br e também no Issuu.com. No site da revista você ainda confere conteúdos extras de cada edição, os links relacionados e vídeos produzidos especialmente para as matérias. E para quem não conhece, o issuu.com é algo como um Youtube das publicações. É um sistema muito bom de ler, com zoom, opção fullscreen. Uma opção a mais para quem não quer perder tempo com Acrobat Reader. Algumas revistas legais já estão lá como Juxtapoz, Staf e Peel.

Se você não acompanha todo dia já perdeu... Mas está em tempo de recuperar. O site da Vista que já era abastecido diariamente agora encorpou e tem apresentado cada vez mais novidades e informações. Com os novos colaboradores regulares Eduardo Bocão, Lucas Pexão, Gue Martini e Ricardo Tibiu, falando sobre música, arte, festas, pessoas e tudo que é ligado à cultura do Skateboard. E nesta edição Carlos Ribeiro foi nosso entrevistado pelas lentes de Alex Brandão e Camilo Neres. Mas o texto coube a Flavio Samelo, que não perdeu tempo e trocou a lente da câmera fotográfica pela do celular e nos presenteia com um vídeo do bate-papo que ele teve com o skatista. Basta assistir pelo canal da Vista, diversão garantida com essas duas figuras.

Apesar da crise financeira e da gripe suína, “o que te faz rir hoje em dia?” As cinco melhores respostas ganharão, cada, um CD “Hominis Canidae”, do Eu Serei A Hiena, cortesia da Travolta Discos & da Vista. Basta enviar o e-mail com a resposta e seus dados completos (nome, telefone, endereço) para: contato@vista.art.br Para ajudar na criatividade recomendamos a leitura da entrevista da banda na íntegra no site Vista.

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Tobias Sklar

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Divulgação

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Bloguigrafia O

lá amigos, essa é a primeira de muitas edições as quais vou escrever sobre, indicar e comentar alguns blogs pela internet. Acredito que os blogs sejam, um dos maiores meios para se comunicar com o mundo, literalmente, seja lá qual assunto você queria discutir ali na página em seu computador. Aqui vou me dedicar mais a falar sobre música que é uma das coisas que mais gosto de pesquisar e conversar, porém, assim como a Vista, não estamos amarrados e somente isso. Se algum blog que eu acessar e achar interessante compartilhar contigo, pode apostar que o farei. Mais para frente vou dar umas dicas de como fazer teu próprio blog, links por onde começar e tudo mais, mas por enquanto vamos instigando vocês por aqui. Mas para começar então vamos a um blog que eu sempre, quase que diariamente dou uma checada, e isso já faz alguns anos. Para você ter uma idéia de quanto esse blog é importante para minha pesquisa musical, acabei entrando em contato com o proprietário do blog e acabei conhecendo o cara pessoalmente. Por motivos óbvios, ele não se identifica pelo seu próprio nome e sim por Zeca Louro e seu blog é o Loronix — www.loronix.blogspot.com

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Flavio Samelo

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Divulgação www.loronix.blogspot.com

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Esse blog sempre me chamou muito a atenção pelo detalhamento das informações sobre cada disco postado ali, basicamente discos nacionais raríssimos ou de grande importância para a música brasileira. Ao invés das gravadoras serem gratas e darem algum tipo de suporte para pessoas como o Zeca, elas tentam, sem sucesso, coibir essas ações que divulgam e promovem a consciência cultural brasileira, coisa cada vez mais difícil de se ver por aqui. Além de ser traduzido para quase 40 línguas, é isso mesmo, teve aproximadamente mais de 4 milhões de visitas, você imagina o que seja isso? 4 milhões de pessoas? É muita gente. Ali tu encontra uma rádio com um seleção que o próprio Zeca faz das músicas que eles mesmo converte dos discos LP originais para o formato mp3 e com isso vem a capa e a contra-capa de cada disco. Você pode imaginar o trabalho que isso deve dar, certo? E tudo isso gratuito, pelo amor a maravilhosa música brasileira que é tão admirada mundo a fora e que, aqui dentro, graças a hipocrisia de alguns, é pouco divulgada dentro do nosso próprio pais. No Loronix tu pode encontrar muita coisa de bossa nova, chorinho e as raízes da música brasileira, os sambas verdadeiros e um pouco de samba rock. Existem posts de raros compactos de sete polegadas, coisa de colecionador mesmo, que só nos blogs é possível ter acesso. O blog existe desde 2006, já tentaram desativá-lo porém não deu muito certo, claro. Espero que você goste e se divirta um bocado ali e prepare um HD maior, pois você vai querer baixar muita coisa. Boa pesquisa.



Independente de ir e vir É

COMUM LER EM REVISTAS DE CIRCULAÇÃO NACIONAL TEXTOS JORNALÍSTICOS SOBRE A CRISE NO MERCADO FONOGRÁFICO BRASILEIRO. AS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS, O FÁCIL ACESSO AOS MEIOS DE PRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO DE MÚSICA E A PIRATARIA PODEM SER APONTADOS COMO FATORES PRINCIPAIS. O DISCURSO DAS GRANDES PRODUTORAS MUITAS VEZES É TRÁGICO E PROFERE UM FUTURO SOMBRIO AOS TRABALHADORES DA ÁREA MUSICAL. ENQUANTO AS GIGANTES AMARGAM SUPOSTOS PREJUÍZOS, HÁ MUDANÇAS POSITIVAS NO HORIZONTE, COMO O SURGIMENTO DE UM “MIDSTREAM” NACIONAL (CONTRAPOSIÇÃO A MAINSTREAM), ESPÉCIE DE MERCADO MENOR DE PRODUÇÃO MUSICAL INDEPENDENTE EM VIAS DE SE TORNAR PROFISSIONAL E SUSTENTÁVEL NOS PRÓXIMOS ANOS.

Alavanca é: Apanhador Só, Monique Maion, Numismata, Os Telepatas, Pata de Elefante, Stela Campos & Supercordas

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Gue Martini

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Cristiano Andrigheto www.alavanca.art.br

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“Nos EUA isso funciona” declara Kátia Abreu, jornalista e sócia da Agência Alavanca, empresa formalizada ano passado que dá suporte “de produção e comunicação” para artistas e bandas “independentes”. O trabalho da Alavanca tem ajudado a desbravar o caminho pedregoso de manter vivo um microcosmo mais ou menos organizado para músicos, produtores e veículos de comunicação de médio porte; “há quase dez anos já tinha gente tentando armar um circuito, mas não era tão organizado e expandido como vejo hoje”. Bons ventos que sopram.

É uma expansão notável, a ABMI (Associação Brasileira da Música Independente) estima que cerca de 15 milhões de discos independentes sejam vendidos anualmente no Brasil, o que corresponderia aproximadamente a 25% do mercado. A ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Discos) que tem entre seus sócios grandes gravadoras declara que o volume total de venda de discos no Brasil em 2007 foi de 25,4 milhões de unidades de discos. Entre os declarados, não declarados, fabricados em casa, etc, os independentes já desbancaram o “mainstream” formal há tempo. O que falta então para a virada de mesa da música independente no Brasil? Qualidade, variedade, público, crítica, estes itens existem em grandes proporções num país de dimensões continentais; mas é muita música boa e muita estrada para rodar! Talvez o maior obstáculo seja o alto custo para os músicos circularem pelo país. Localmente as coisas acontecem, o som se espalha pela internet, com fácil acesso ganha visibilidade, mas na hora da realização do artista, de ir onde o público está para tocar ao vivo, receber cachê, vender alguns discos, o investimento não é recuperado; Kátia vai além: “isso acaba com muita banda e com produtores também, desanima, acho que hoje o maior desafio da profissionalização da música independente no Brasil é a logística de transporte”.



VISITA...

Desvio T

Lucas Pexão

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Lucas Pexão

Sleeping Nights Awake

MISTURA DE GALERIA DE ARTE, COLETIVO, LOJA E ESCRITÓRIO, O DESVIO É UM DOS ESTABELECIMENTOS MAIS ESTILOSOS DE BELO HORIZONTE. É O LUGAR PARA ENCONTRAR ARQUITETOS, DESIGNERS, FOTÓGRAFOS, GRAFITEIROS E OUTROS ARTISTAS, EM UM ESPAÇO COM OBRAS ORIGINAIS E GRAVURAS LIMITADAS, PUBLICAÇÕES ESPECIAIS, MÓVEIS AUTORAIS E PRECIOSIDADES VINTAGE GARIMPADAS E RESTAURADAS. MAS NÃO SE DEIXE ENGANAR PELA CLASSE, POIS O DESVIO É UM ANTRO DE SUBVERSÃO.

Funcionamento: Sextas-feiras, das 14 às 20h, e aos sábados, das 10 às 16h, ou sob agendamento prévio Endereço: Rua Tomé de Souza, 815 – sobreloja esq. com Getúlio Vargas, bairro Savassi. Belo Horizonte/MG

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Eu serei a constante transformação

FORMADO NO COMEÇO DOS ANOS 90, O EU SEREI A HIENA TEMContato: MEMBROS DE BANDAS DE DISTINTAS eusereiahiena@gmail.com VERTENTES DO HARDCORE, COMO RATOS DE PORÃO, www.tramavirtual.com.br/eu_serei_a_hiena www.myspace.com/ahiena DANCE OF DAYS E DISCARGA. PORÉM, SUA SONORIDADE – MUITAS VEZES INSTRUMENTAL – VAI DO POST-HARDCORE AO FREE JAZZ, COMO PODE SER CONFERIDO EM “HOMINIS CANIDAE”. LANÇADO PELA TRAVOLTA DISCOS, O SEGUNDO CD TRAZ ARTE INOVADORA (ASSINADA POR SUPERXOXO) NUM DIGIPACK EM FORMATO DE HIENA E 18 FAIXAS, ALGUMAS COM CONVIDADOS COMO JOÃO BRANCO, DO ORDINARIA HIT TOCANDO VIOLONCELO, E DANIEL GANJAMAN, DO INSTITUTO, TECLADO. FALAMOS COM O BAIXISTA WASH PARA ENTENDER MELHOR A CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO DA HIENA.

Eu serei a constante transformação Contato: eusereiahiena@gmail.com www.tramavirtual.com.br/eu_serei_a_hiena www.myspace.com/ahiena

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Ricardo Tibiu

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Samuel Esteves www.travoltadiscos.blogspot.com www.flickr.com/superxoxo www.fotolog.com/rocktogether

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A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA PODE SER LIDA NO SITE.


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omo vocês se juntaram e o quê a bagagem das outras bandas reflete no ESAH? Nos juntamos no começo dos anos 90, por bandas como Rethink, Discarga e Nitrate Kid, todas vindas do punk/hardcore. É nossa escola e de fato o que sabemos fazer. A construção das músicas é sempre baseada neste formato, daí vamos dando outra cara pra ela conforme vai evoluindo o andamento. Então inevitavelmente o ESAH sempre vai ter um dedo de punk/hardcore, mesmo que tentemos fazer um jazz mais apurado por exemplo. Não tem como fugir do passado! (risos). Como definir a sonoridade do ESAH? Isso é muito difícil pra gente porque ainda estamos trabalhando e definindo... Acho que nesse CD demos um passo a frente, mas não significa que dê pra dizer que somos hardcore, post-hardcore, jazz noise, punk ou qualquer outro rótulo que caiba esse som. De um modo geral, somos uma banda de rock clássico com um pé no free jazz.

As músicas instrumentais são bem cativantes, eu mesmo fico criando melodias vocais na cabeça. Por que a opção de não ter vozes? Esse, por exemplo, é um bom motivo pra não colocar letras e vozes na maioria delas: quem ouve tem a liberdade criativa de inventar outras coisas, de participar, interagir... Blade Runner, Dostoiévski e Coltrane são referências encontradas no CD. Quais são as influências? Penso bastante em cinema e literatura pra dar corpo a uma música, assim: se eu quisesse fazer uma trilha pra um filme, com a cara do ESAH, como seria? E sempre sai algo. Quando já há um som pronto e temos que dar um nome, penso no que ele parece. Um filme? Um livro? Qual personagem estaria ligado com a agressividade ou a complacência que esse som passa? Além dessas influências, posso citar Emil Cioran, F. Scott Fitzgerald, Noam Chomsky, Guimarães Rosa, irmãos Grimm, William Gibson, Burroughs... A lista é grande (risos).

O CD é de um capricho ímpar, é nítida a preocupação com a produção, instrumentos e equipamentos diferenciados e arte inovadora. Não dá pena ver que tem quem baixe o disco e se satisfaça assim? No começo pensei isso também, não vou dizer que não ligo de gastar dinheiro com gravação e processos de estúdio e não ganhar nada. Mas a internet hoje dá a opção de ganhar o mínimo que sua música pode oferecer pro público. É aquela coisa que o Radiohead fez: quanto a minha música vale pra você? Um centavo, R$ 10? Você decide! Existem iniciativas como a da TramaVirtual que remunera o artista por download, isso fez com que os grandes músicos deixassem de ter esse monopólio sobre o que todos ouvem e tirassem a bunda da cadeira pra viver exclusivamente do lucro dos shows. Não dá pra reclamar da internet, sem ela nós (independentes) ainda estaríamos na Pré-História da divulgação, como era nos anos 90, com fitas e CDs de mão em mão, carta... Com a situação atual, será que a Hiena ainda consegue rir de algo? Pois é, hoje em dia não tem muito do que rir e a Hiena meio que representa bem esse aspecto do momento mundial: um animal soturno, traiçoeiro, que come carniça e ainda consegue rir disso!


Clandestinos Clan Clan des des tinos tinos TX RODRIGO KBÇA

TALVEZ ESTA NÃO SEJA UMA MATÉRIA RECOMENDADA PARA AS MÃES SUPERPROTETORAS E NEM PARA OS SONHADORES DE PLANTÃO, QUE ACHAM QUE A VIDA EM BARCELONA SEJA FÁCIL PARA BRASILEIROS, QUE SEMPRE DAMOS UM JEITINHO PARA TUDO. CLARO, AQUI AS COISAS PODEM PARECER MAIS FÁCEIS E ALGUMAS ATÉ SÃO, PORÉM, NÃO PENSE QUE OS SKATISTAS BRASILEIROS QUE VIVEM EM BARCELONA SÓ ANDAM DE SKATE. AQUI ESSA GALERA TEM QUE RALAR MUITO E NO CASO DOS CLANDESTINOS, ILEGAIS QUE VIVEM AQUI, O TRABALHO É ÁRDUO E A VIDA NÃO É BRINCADEIRA. COISA DE VIDA LOKA!

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Fernando Cano

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Rodrigo Kbça

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Fernando Cano, “Fer”, 28 anos, 15 de skate – Maringa/PR

“Morei na Inglaterra e lá era só trabalho, trabalho e pouco skate. Vim para Barcelona para passar 10 dias de férias e já faz três anos desde esse dia! Aqui faço minhas coisas, trabalho e estudo, mas também posso fazer algo que gosto, que é andar de skate e, enquanto o corpo aguentar, vou estar andando. O vídeo La Bruja saiu do nada. Vim de Londres para cá e tinha uma câmera. Aqui já moravam o Charlie Brown, o Galo Cego e o Gabriel Farago. Começamos a filmar e ter um monte de imagens. A galera foi chegando e fui conhecendo cada vez mais gente. O projeto surgiu sem querer e quando decidimos mesmo fazer o vídeo, já tínhamos quase 40 fitas. Aí foi organizar, botar o som e La Bruja! Hoje tenho os papéis e facilita pela parte de trabalho, poder ir no Brasil e voltar. A galera que está sem os papéis aqui sofre, tendo que fazer corre de trabalho sem documentos e se fudendo na mão dos outros. Quer ir para o Brasil e não pode, com medo de não poder voltar. Acho que isso é o pior de não ser legal.”


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Erison Trakinas

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e uma pesquisa fosse feita entre os skatistas estrangeiros que vivem em Barcelona e arredores, certamente o número de ilegais iria chegar a uma porcentagem altíssima. Dentro desta estatística, estão muitos brasileiros, sem nenhuma documentação que lhe permita trabalhar ou coisa parecida. Vivem de sub-empregos, geralmente dividindo apartamentos com amigos. Aí que vem a pergunta: o que leva as pessoas a deixarem sua terra, para muitas vezes passarem roubada em uma cidade de outro país? No caso de Barcelona, a resposta é simples e um tanto evidente: andar de skate. Talvez nem um outro motivo na vida dessas 10 pessoas fosse tão forte. Alguns deles já estão vivendo em território espanhol com seus papéis em dia: são cidadãos europeus, mas sem perder aquele jeito tão característico só nosso. Neverton Socado, Fernando Cano, Juliano Guimarães e Rafael Petersen são excessões entre os skatistas brasileiros. Estão legais e, assim sendo, podem trabalhar sem medo de fiscalizações e podem conseguir empregos de maneira mais fácil, coisa que na verdade está em extinção por aqui. Apesar de terem essa facilidade, Socado e Juliano querem mesmo é viver de skate, buscam patrocínios e se destacam em um cenário repleto de ótimos skatistas, porém, há que pagar as contas e alimentar-se. Socado, de vez em quando, quebra um galho distribuindo flyers. Juliano, que

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casou com a espanhola Andrea, lhe atenderá bem em uma lanchonete multinacional especializada em café e Rafael faz com que muitas casas tenham seu pão quentinho todas as manhãs. Outro que mata a fome de muita gente é Fernando Cano, que é cozinheiro em um restaurante. Outra exceção por aqui é Jair Neto. A vinda para Europa não foi ideia sua, mas sim de Marcela, sua esposa. A primeira idéia era Londres, mas o destino acabou sendo Barcelona. Jair trocou o terno e gravata em Curitiba por acordar com as galinhas e ser companheiro de trabalho de Rafael. O skate não foi o motivo principal e ainda existe a possibilidade de realizar uma grande vontade: estudar culinária, uma de suas paixões. Se conversar com muitas pessoas que vivem em Barcelona, certamente você escutará muitos falando que vieram passar apenas alguns dias e acabaram ficando mais tempo. Esse é o caso de Leandro Mantovaneli, mais conhecido como Gaspar, que agora sofre com o desemprego, como mais de quatro milhões de espanhóis. Nem isso o desanima e ele sabe que mais cedo ou mais tarde, mesmo sendo ilegal, aparecerá alguma coisa. Enquanto isso, sessions em lugares como o Macba, Sants ou Paral-el. Outro recente desempregado é Erison Trakinas, que trabalhava como pintor de casas e edifícios em uma rotina diária desgastante. Ele deixou o skate profissional no Brasil para simplesmente andar de skate em Barcelona e em breve deve lançar

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Erison Trakinas

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Rodrigo Kbça


Erison Trakinas, 31 anos, 17 de skate – Maringa/PR

“Escolhi viver em Barcelona porque ando de skate há muitos anos e é algo que está no meu sangue. Tentei buscar um lugar onde eu pudesse andar de skate e onde tivesse amigos também, mas quando cheguei aqui, queria trabalhar e não encontrava nada. Um amigo me falou de um trabalho em Almeria (região da Andaluzia). Juntei um dinheiro e fui para lá. Foi bom ter ido porque aprendi um montão de coisas, mas lá fiquei sozinho, andava de skate sozinho e em um skatepark. Consegui o apoio de uma marca, mas o trabalho zicou, passei seis meses lá e trabalhei somente dois. O que salvou foi que fiquei em terceiro em um campeonato e a grana ajudou. Mas pra lá eu não volto! No dia-a-dia de trabalho o chicote estrala. Trabalhei de pintor porque sendo ilegal não existe muita opção. Arrumei esse trabalho e

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Mario Aguirra Mongo

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Mario Aguirra Mongo

fiquei. Depois que acostuma não é tão ruim. Agora estou sem trabalho porque as coisas estão um pouco ruins, mas esse não é um trabalho fácil: trabalhar 9 horas por dia, cheirando tiner, comendo pó de tanto lixar... Sou peão de obra!” (risos)


um model de shape por uma marca de Almeria, outra cidade da Espanha. Por falar em shape, Alexandre Massoti não pode se queixar de que lhe faltem decks para andar, pois é um dos poucos brasileiros que conseguiu um patrocínio de shape por aqui. Entre uma sessão e outra, trabalha como entregador de pães junto com Rafael e Jair. Talvez um dos ilegais que tenha encontrado um dos melhores empregos seja Gabriel Moreto que, de quebra, é o mais novo entre os enfocados. Moreto é pizzaiolo em um delivery. Claro que na região metropolitana também há “refugiados” brasileiros e na calma Castelldefels, cidade que está há cerca de 30 km de Barcelona, vive Hugo Hoffmeister, que organizou uma escola de skate na cidade e, graças a isso (e ao seu skate), conseguiu fechar um acordo de apoio com DC Shoes. Ao contrário de muitos que tomam os Estados Unidos como destino, a maioria dos skatistas que escolhem Barcelona, fazem isso pelo simples fato de andar de skate nos melhores picos. Só isso. Patrocínios serão bem vindos, porém eles não são o foco principal. Talvez isso faça de Barcelona a cidade mais skate do mundo hoje em dia. Porém, a vida aqui não é um mar de rosas e isso pode ser constatado pelos depoimentos e com a atual crise mundial, viver como imigrante ilegal em uma cidade onde vive gente do mundo inteiro e as vezes parece uma torre de babel não é fácil. Visitar é uma coisa. Morar é outra, digna de um verdadeiro vida loka, em versão espanhola.

36

Jair Neto, 27 anos, 15 de skate, Curitiba/PR

“A intenção não era vir para andar de skate, viver do skate. Vim com a Marcela, minha esposa, para conhecer a Europa, a história... Tem muitas coisas diferentes do Brasil, costumes, línguas e, enfim, é também a oportunidade para fazer outro tipo de coisa que eu não faria no Brasil, como alguns cursos de culinária, que é um ramo que eu gosto. Aqui na verdade é um pouco complicado. Lógico que todo mundo tem aquele pensamento de “Vou estar na Europa, vou fazer muita grana, voltar para o Brasil e investir”. Tem gente que consegue, mas isso é questão de sorte. Aqui eu entrego pão - algo que não faria no Brasil - e o dinheiro que eu ganho dá para sobreviver, pago minhas contas, compro minhas roupas e comida. Ainda não é como eu queria estar na verdade, mas dá pra viver legal.”

S

Jair Neto

M

Noseblunt Transfer

F

Rodrigo Kbça



Rafael Petersen, “Charlie Brown”, 27 anos, mais de 10 anos de skate, Curitiba/PR

“Minha idéia era de ir com o Gerdal para a California, mas como não deu certo e meu irmão já tinha vindo para cá, ele e o Rafael Narciso me indicaram Barcelona, que era um lugar perfeito para andar de skate, meio parecido com o Brasil, só que de primeiro mundo, onde eu poderia viver melhor. Vim tentar a sorte aqui por isso. Queria conhecer os picos que via nos vídeos e queria andar sem problema, sem notar preconceito. Aqui você pode ir de skate para todos os lados, que ninguém vai ficar falando de você, das tuas roupas. Acontece de encherem o saco, mas aqui o pessoal aceita bem mais que no Brasil, fora que aqui você evolui mais, vê vários profissionais andando e sempre tem alguém filmando. Dá para você tentar estar sempre com o skate. Estou há 4 anos na Europa. Fiquei dois anos e meio sem os “papéis”. Consegui os meus faz um ano e meio. Agora é bem diferente. Antes não podia viajar, sofria para receber no final do mês e ficava recebendo balão de patrão. Quem não tem papéis está sujeito à tudo isso. Com os documentos você tem muitos direitos na cidade, pode andar sem preocupação se a policia vai te parar ou não...”

38


S S

Mario Aguirra Mongo

M

Mario Aguirra Mongo

F

Mario Aguirra Mongo

Rafael Petersen

M

Nollie Heelflip Bigspin

F

Rodrigo Kbรงa


Neverton Casella, “Socado”, Neverton Casella “Socado” - 23 anos, 12 de skate – Cascavel/PR – Qix

“Aqui é o melhor pico para andar de skate, os lugares são perfeitos. Existe toda uma facilidade para andar de skate, tenho amigos que têm equipamento para filmar, fotografar e sempre estamos nessa missão. Rolam uns campeonatos bons às vezes. A dificuldade de viver aqui é que tem que pagar as contas, aluguel. Tenho os papéis e facilita bastante, pois posso viajar sem problema para o Brasil e ajuda na hora de arrumar emprego, se bem que não estou procurando, pois estou aqui pra andar de skate mesmo. Tenho patrocínio do Brasil, então faço meu trabalho aqui, fotos e sempre coloco algo no site da Qix. É mais fácil eu sair na mídia estando aqui que no Brasil, pois sou de uma cidade pequena, onde não rola nada.”

40

S

Alexandre Massotti

M

Ss Noseslide

F

Rodrigo Kbça


S

Neverton Socado

M

Bs Nosegrind

F

Rodrigo Kbรงa


S

Gabriel Moreto

M

Halfcab

F

Rodrigo Kbรงa

42 www.vista.art.br



Juliano Guimarães,

21 anos, 10 de skate – Curitiba/PR ::: És, Plex Skateboard, King Apparel, Cachet Shop.

“Vir para Barcelona foi uma decisão de última hora. Eu, Socado e Xico assistíamos vários vídeos feitos em Barcelona e tudo parecia ser perfeito, então decidimos vir, uma decisão da qual não me arrependo. É perfeito: praia, picos que não acabam, boas baladas, mulheres bonitas... No verão faz um calor quase insuportável e escurece às 10 da noite, sessions de oito horas de skate, além da cultura espanhola, “que me gusta mucho”. O mais dícifil foi deixar minha família da qual nunca passei muito tempo longe. Aqui comecei tudo do zero: não conhecia ninguém além do Rafael Petersen, que me ajudou muito. Foi dificil chegar sem saber muito S

Juliano Guimarães

M

Nollie Bigspin bs Noseblunt

F

Rodrigo Kbça

espanhol, não ter material pra andar. A vida na Europa é muito cara, ainda mais chegando com reais no bolso. Meu dinheiro durou um mês e meio (risos) e tive que procurar um trabalho sem falar bem o idioma, sem ter papéis para poder trabalhar. Você pode conseguir um trabalho de merda, normalmente à noite, entregando flyers para as baladas, cobrar uma miséria e ainda viver compartindo quarto com duas pessoas ou dormindo no sofá da sala, comendo sanduíches de 2€ nos paquistaneses e procurando algum patrocinador... (risos) Barcelona tem algo para todo o mundo, mas não é para todo o mundo, entende? Aqui tem que ser muito esperto se quiser deixar de ser um imigrante a mais e conseguir o que deseja. Como dizem os catalães: 'Barcelona és bona si la bossa sona' *Nota do redator: Algo como Barcelona é boa se a carteira está cheia... Se está cheia de moedas e fazem barulho). O mercado na Espanha não é muito maduro ainda, agora está começando a ter uma indústria própria, mas o processo é lento. Aqui tem muita qualidade de skatistas, que não querem ver os States como única saída para viver do skate. Quando você vive en Barcelona não se limita a andar na Espanha. Você vive e faz o seu projeto na Europa, como se fosse um só pais, então temos que falar do mercado na Europa e eu acho que, nesse sentido, o movimento esta no auge."

44


Erison Trakinas, 31 anos, 17 de skate – Maringa/PR

“Escolhi viver em Barcelona porque ando de skate há muitos anos e é algo que está no meu sangue. Tentei buscar um lugar onde eu pudesse andar de skate e onde tivesse amigos também, mas quando cheguei aqui, queria trabalhar e não encontrava nada. Um amigo me falou de um trabalho em Almeria (região da Andaluzia). Juntei um dinheiro e fui para lá. Foi bom ter ido porque aprendi um montão de coisas, mas lá fiquei sozinho, andava de skate sozinho e em um skatepark. Consegui o apoio de uma marca, mas o trabalho zicou, passei seis meses lá e trabalhei somente dois. O que salvou foi que fiquei em terceiro em um campeonato e a grana ajudou. Mas pra lá eu não volto! No dia-a-dia de trabalho o chicote estrala. Trabalhei de pintor porque sendo ilegal não existe muita opção. Arrumei esse trabalho e fiquei. Depois que acostuma não é tão ruim. Agora estou sem trabalho porque as coisas estão um pouco ruins, mas esse não é um trabalho fácil: trabalhar 9 horas por dia, cheirando tiner, comendo pó de tanto lixar... Sou peão de obra!” (risos)


S

Hugo Hoffmeister

S

Leandro Gaspar

M

Fs Nosegrind

M

Ss Crooked grind

F

Rodrigo Kbรงa

F

Rodrigo Kbรงa

46 www.vista.art.br





S

Rafael Anticaglia

M

Nosegrind

L

Santo AndrĂŠ, SP.

F

Caetano Oliveira

50 www.vista.art.br


Arte Muda


S

Gian Naccarato

M

Crooked grind

L

Los Angeles, EUA.

F

Heverton Ribeiro

52

www.vista.art.br


L

S達o Paulo, SP.

F

Fagu


S

Duzinho Braz

M

Wallride melon out

L

Santo AndrĂŠ, SP.

F

Caetano Oliveira

54 www.vista.art.br



S

Alexandre Cotinz

M

Wallride

L

Santos, SP

F

Andre Luis

56


S

Marquinho

M

Salad grind

L

S達o Paulo, SP

F

Flavio Samelo


L

S達o Paulo, SP.

F

Fagu

58

www.vista.art.br


S

Finha

M

Fifty

L

S達o Paulo, SP.

F

Carlos Henrique


S

Ricardo Porva

M

Ollie

L

Uberl창ndia, MG.

F

Andre Ferrer

60

www.vista.art.br



62

S

Weslen

M

Fs Noseblunt

L Rio de Janeiro,RJ.

F Rene Jr


S

Greg Poissonnier

M Fs Crailslide

L

Barcelona, Espanha.

F

Rodrigo Kbรงa


S

Laurence

M

Fs Boardslide

L

Guarulhos, SP.

F

Flavio Samelo

64 www.vista.art.br



S

Rafael Eduardo

M

Nollie flip

L

Franca, SP.

F

Jr Lemos

66



RIBEIRO

Carlos 68

T www.vista.art.br

Tobias Sklar & Flavio Samelo

Integra da entrevista por Flavio Samelo em www.vista.art.br Programas especiais Olho de Peixe em www.programaolhodepeixe.com

F

Camilo Neres



"As vezes eles deixavam de pagar uma conta em casa pra poder me mandar pra algum lugar, porque o que eles mais valorizam é o conhecimento, poder viajar, então eles me apóiam em tudo, desde que comecei a andar de skate." Carlos Ribeiro, 17 anos

TX Tobias Sklar

CARLOS RIBEIRO ESTÁ PASSANDO POR UMA TRANSIÇÃO. TUDO QUE COMEÇOU COM UM INCENTIVO COMO “FILHO, SE TU QUISER TROCAR TUA CHUTEIRA POR UMA SAPATILHA DE BALÉ, QUALQUER COISA, NO QUE TU FIZER VOU TE APOIAR NO ÚLTIMO, EM TODAS AS TUAS ESCOLHAS” POR PARTE DOS PAIS AGORA ESTÁ SE TORNANDO UMA REALIDADE PROMISSORA COMO O PRÓPRIO DUDU, DIGO, CARLOS (SIM, A MUDANÇA PASSA PELA TROCA DO APELIDO PELO NOME COMPOSTO) DIZ “ATÉ MINHA VÓ TA GOSTANDO DE SKATE AGORA”.

EN

amos explicando. Carlos nasceu no interior do Rio Grande do Sul, filho de uma professora de química e um mecânico de máquinas de fazer sapatos. Muito pequeno foi influenciado pelos pais para prática esportiva, obviamente como se é de esperar no Brasil, para o futebol. “Meu pai era jogador de futebol, o sonho dele é que eu também fosse. Eu jogava, tava no caminho certinho, até que um dia torci o pé jogando bola e não pude mais andar de skate. Aí eu disse pro pai que não ia mais jogar bola porque agora eu ia ficar um tempo sem andar de skate que é o que eu mais gosto”. Nesse momento que nosso entrevistador, Flavio Samelo, se impressiona —uma das muitas vezes—ao ouvir a resposta do Carlão “filho, se tu quiser trocar tua chuteira por uma sapatilha de balé, qualquer coisa, no que tu fizer vou te apoiar no último, em todas as tuas escolhas”.

Flavio Samelo

Flávio Samelo entrevistou Carlos para a Vista em meio a um evento realizado pelo patrocinador dele. Misto de ações de skate e eventos sociais representa bem o período de mudanças na vida do adolescente skatista. Dos mimos de ter sua água levada pela mãe nos campeonatos em que era conduzido na clássica Kombi do pai ao lado dos amigos no interior gaúcho às sessões

64

M

Ss fs bluntslide

L

Santa Cruz do Sul, RS

F

Camilo Neres

70 www.vista.art.br


M

Nollie hard heelflip

L

S達o Paulo, SP.

F

Syatva Jeferson

M

Ss flip

L

Sapucaia do Sul, RS

F

Alex Brand達o


M

Ss bs flip tailslide bigspin out

72 www.vista.art.br

L

???

F

Alex Brand達o


M

Ss bs flip tailslide bigspin out

L

Belo Horizonte, MG

F

Syatva Jeferson


T

Flavio Samelo

F

Divulgação

74 www.vista.art.br


M

Ss fs flip

L

Belo Horizonte, MG

F

Syatva Jeferson


M

Fs Heelflip Bigspin

64 76 www.vista.art.br

L

S達o Paulo, SP

F

Syatva Jeferson



"Por que tu começou a andar de skate, Filho? Então... Vai se divertir Moleque!"

de skate com gringos e fãs ensandecidos, festas muito animadas na noite paulistana e, tudo isso, aos 17 anos. Ano passado Carlos já esteve na conhecida tour Europa realizada pelos skatistas brasileiros todo ano. Esta viagem já rendeu o suficiente para que na resposta para pergunta do Flavio “e você voltou diferente dessa viagem?” uma titubeada, um incentivo e a resposta: “isso, voltei mais adulto, exatamente”. Não é pra menos. Numa das etapas do circuito mundial ele correu ao lado dos profissionais e chegou a final. A colocação importa menos, vale mais a superação, obstáculo por obstáculo. E esse é um dos motivos pelo qual conquistou o pai para o skate, “desde que eu comecei, ele entrou de cabeça no skate. Ele zoa mais que a gente” como se não fosse conhecido como o mais moleque brincalhão entre os amigos. Taí, por isso nossa história está sendo contada através das experiências familiares, o fruto não caí longe do pé. Né Samelo? “Tu vai fazer o mesmo pelo teu (filho), se a sua mãe levava uma água você vai levar três sucos, você vai ver” profetizou nosso entrevistador. Muito provavelmente ele está certo! Duvida? Responde pra eles Dudu: “vou tentar ser igual como meu pai é comigo, pelo menos tentar, porque melhor acho impossível”.

Carlão, pai, 46 anos.

TX Tobias Sklar

Seguindo o flow da história: “o exemplo que eles (os pais) me passam é de humildade acima de tudo, nunca deixar subir para cabeça; e o que meu pai me disse desde o início, chegar lá é fácil, difícil é se manter, então tem que manter a humildade e se divertir”.

EN Flavio Samelo

“Muitas vezes ele já me puxou a orelha, me falou coisas, mas sempre pra me deixar bem, nunca pra me deixar pra baixo, sempre pra me ajudar. Quando eu era moleque nos campeonatos ele dizia que era pra eu me divertir, que era pra isso que eu tava lá, não precisava ganhar”. Fácil se entender com o Carlos, que conta tão bem as histórias quanto o seu pai. Prova disso que no fim das contas tinha convencido o Samelo que o legal mesmo seria estar falando com o Carlão ou dona Elaine.

78 www.vista.art.br

M

Bs Boardslide

L

São Paulo, SP.

F

Syatva Jeferson



80


M

Fakie 360 flip manual

L

Est창ncia Velha, RS

F

Syatva Jeferson


“Nunca vou esquecer da zueira dentro da Kombi, onde a galera deu muita risada e isso que é o felling do skate, é dar risada e se divertir. São estes momentos que vão ficar gravados pra sempre... Muito style!” Dudu, 17 anos

TX Tobias Sklar

EN Flavio Samelo

82

Dudu vai participar de um vídeo que está sendo produzido pelos seus amigos Tulio e Dito, o Classic Video. A galera se reúne por lá mesmo, tanto que algumas vezes que precisei encontrar nosso entrevistado durante esse período acabei falando com a vó do Tulio algumas vezes... Nessa ele tem ficado cada vez mais tempo no centro do país, sempre pronto para novas atividades, como filmar para um vídeo do patrocinador em Minas, novo projeto que também deve ser lançado este ano com a sua presença.


Quando cita alguns nomes do skate nacional e mundial como referências aí sim ele foge um pouco do ambiente familiar. Gringos como Koston, Janoski e o brasileiro Rafael Gomes. E não se trata de referências distantes ou idealizadas. Como o próprio Carlos cita “eu vi esses caras andando e a diferença não é de nível de skate, mas sim que eles andam dando risada, se divertindo, sem se importar com o que falam deles, das roupas que eles estão usando”. Alias, Rafa é exemplo além do skate, é um cara humilde e estudioso. Pois apesar de ter largado a escola no segundo ano, com autorização dos pais, claro, ele tem a consciência que em algum momento vai precisar de mais conhecimento. Mas este é o momento de focar na vida profissional, viajar e curtir os bons momentos que seu skate vem proporcionando.

M

Fs Feeble reverse

L

Montevideo, Uruguay

F

Camilo Neres

Assim como o Samelo você ainda não teve a oportunidade de conhecer o Carlão? Essa ta fácil de resolver. Pra conhecer a figura basta assistir aos programas especias Uruguai I e II no site Olho de Peixe. São 9 pessoas dentro da Kombosa, ida e volta para Montevidéu, com direito a narração do responsável pelo Dudu. De brinde tem a participação do Xande, nosso editor e animador de galera em tour, nas horas vagas.

Agora larga os bracinho..


O

Aprendendo o caminho pra se perder, 2009.

84 www.vista.art.br


Portanto, uma entrevista me pareceu o registro perfeito para esse momento. A sugestão foi prontamente aceita pela Vista, também em função da revista acompanhar a arte dele desde suas primeiras edições. Além de artista, Grimm também é arquiteto e, antes de tudo, skatista, portanto nossa conversa se aprofundou nesses universos.

Mateus Grimm tem 26 anos, 12 deles dedicados intensamente à arte. Nasceu em Porto Alegre, mas mantêm fortes ligações com o Nordeste, para onde sempre viaja para visitar a família. Mais especificamente uma ligação com Sergipe, terra do Bispo do Rosário (artista louco), Zé Peixe (figura mítica que guiava barcos ao porto), João Firmino (cordelista) e de outras referências para a sua arte, como os artistas populares autodidatas. Do Nordeste, em uma época em que nem pensava em pintar, surgiram personagens marcantes de sua arte, como os macacos que observava nas árvores da casa da avó. “Pra mim o macaco desenhado junto de algum personagem simboliza proteção. Ele apareceu numa fase em que precisava tomar um novo rumo na vida, precisava de uma abstinência violenta, de isolamento e autoconhecimento. Criei novos desenhos, como os macacos, a partir de manchas aleatórias que fazia no papel”, explica. Sua história na rua começou aos 14 anos com skate e hip hop, mas as pichações da cidade já eram uma influência muito antes disso, como relembra: “Pequeno mesmo, de creche, as pichações me chamavam muita atenção. Gostava mesmo. Do esfumaçado e da atitude. Lembro de um picho punk em especial, na igreja Santa Terezinha: ‘Loco sem destino’. Isso marca a criança.” Então veio o graffiti e conectou tudo. Enquanto procurava lugares pra andar de skate, ele também buscava lugares para pintar. Começou a pintar com amigos Pedra e Borrão no beco da Medianeira, em Porto Alegre, e ganhou do graffiti a liberdade de criação, a subjetividade e a busca por uma identidade própria. Sobre esse período e o ato de escrever nas paredes, Grimm observa: “Em diversos artistas do graffiti sempre tem uma fase em que o cara pinta seu pseudônimo tipo doido, todo dia e fim de semana. Chamo essa fase de afirmação. Durante minha trajetória de afirmação, regada a tags, stickers, pieces e outras intervenções, sempre usei meu nome próprio para assinar minha arte, respondendo por ela também.” E em função do skate e do graffiti apareceu a arquitetura, curso no qual Mateus é formado. “O skate também foi uma conexão com várias coisas, conheci muita gente, muito lugar. A maioria da galera que pintava também andava. Isso aproximava tudo. Essas caminhadas fizeram eu me interessar por arquitetura. A busca da borda perfeita, do chão liso, de algum lugar interessante para andar”, reconhece.

O

Esculturas ATADURA, 2009

F

A Casa

TX ANA FERRAZ

Com exposições em Curitiba e em Porto Alegre simultaneamente, uma publicação em produção, no meio da execução de mobiliário e reforma para um centro cultural e com diversos outros projetos em andamento, Mateus Grimm está tendo um ano agitado.


Para Mateus Grimm a arquitetura há muito tempo rompeu com a

Quanto à pixação (agora com X), o lado mais polêmico das intervenções

arte, principalmente por questões técnicas e sociais. Tornou-se algo

urbanas, Grimm comenta: “Num olhar arquitetônico, de certa forma, o

funcional, muitas vezes sem graça e puramente comercial. É aí que o

prédio se torna quase um livro diagramado e modulado para colocar as

skate muda tudo: “O skate faz uma relação artística com a cidade. O

letras. E inconscientemente acredito que o pixo-reto foi influenciado

skatista usa o equipamento urbano de maneira inusitada e também

pela arquitetura modernista, da forma que ela surgiu monstruosamente

sempre sente atração por lugares skatáveis. Foram dessas reflexões que

na cidade, com o brutalismo do concreto, alturas opressoras,

surgiu o coletivo NOH, da vontade de unir uma arquitetura artística

características comuns, linhas retas, modulação e simplificação. ”

com a arte do skate”. Formado por Grimm, Tiago Bagnati, Pexão, Ana Claudia Vetoretti e Fabio Zimbres, o coletivo NOH é um grupo de artistas,

Se como arquiteto Mateus Grimm teve uma formação acadêmica, na

skatistas e arquitetos que pensa e desenvolve esculturas e projetos

arte o caminho foi outro. “Pensei seriamente em fazer artes plásticas,

arquitetônicos para a prática do skate. Os dois maiores projetos do NOH

mas estudei arte por mim, paralelo à arquitetura. Comprei livros, li

já foram bem abordados em outras edições da Vista: O espaço skatável

bastante coisa. O fato determinante de não escolher artes plásticas

da mostra TRANSFER, em parceria com o arquiteto Pedro Mendes da

foi quando meu pai me lembrou dos artistas populares nordestinos

Rocha, e uma série de esculturas skatáveis para a exposição coletiva Essa

que conheci, que não foram acadêmicos de arte e têm trabalhos

Poa é Boa. Dentro do coletivo, Mateus é um dos poucos que assume

fantásticos”, explica. Por outro lado, valoriza o que aprendeu na

com naturalidade as funções de artista, arquiteto e skatista e, o que se

faculdade de arquitetura: “No curso de arquitetura o cara vê que

percebe em seu olhar para a cidade: “No meu ponto de vista, quando

não sabe nada sobre o assunto. Começa a entender várias coisas do

comecei a andar de skate, foi porque não via muito o que fazer na cidade.

mundo. A história em si é toda marcada na arquitetura. Se entende o

O skate, além de divertimento e superação, permite a descoberta do

porquê das construções influenciadas pela sociedade.” Dividindo seu

meio urbano. Existem vários jeitos de perceber a cidade, mas sentir e

tempo entre arte e arquitetura, Mateus tenta, sempre que possível,

fazer parte dela deixando uma parte de si, só pintando ou andando de

unir esses dois universos. Para tanto, se juntou com artistas/arquitetos/

skate. É diferente de estar de carro observando ou a pé... Se deixa uma

amigos para fundar o atelier UnidadeCriação, um nome inspirado

marca. Seja ela uma borda preta de vela, um pixo ou uma pintura”.

no seu trabalho de conclusão de curso, que foi um projeto para uma unidade de criação, algo como um grande atelier público.

86

O www.vista.art.br

Despertar, 2008.

O

Deixo a vida pra entrar na História, 2009.



Como artista, Grimm já participou de vários eventos e projetos legais,

na arte de Mateus sejam suas exposições, como a individual Atadura,

incluindo os já citados com o coletivo NOH e as exposições coletivas

na mencionada galeria A CASA. A propósito, o livro de desenho citado

TRANSFER (onde também apareceu como artista), Sintomas (na galeria

acima foi o que batizou a exposição. Produzido pelo próprio artista, o

Adesivo) e Um olhar Sustentável (no Santander Cultural). Fez pinturas

caderno é unido por uma espécie de teia metálica, que é na verdade

internas comissionadas nas paredes da Zeppelin Filmes, agência Cubo e

uma simples atadura para ferimentos coberta por spray cobre. Todas

casa Element/Billabong, além de trabalhos comerciais com a Converse,

as obras que compõe a exposição foram baseadas nos desenhos

como o lançamento de um modelo All Star com sua arte. No universo da

contidos nessa espécie de diário visual. Sobre a experiência, só ficaram

música, fez o projeto gráfico do primeiro CD do grupo de rap Subsolo que

boas lembranças: “Fui muito bem recebido pela galeria e por todos

tem entre seus integrantes nomes como Kamau, Shaw e Gato Congelado.

de Curitiba. O espaço de exposição é amplo, dá pra pirar em bastante

Aí, mais uma conexão com a revista: “O projeto com o Subsolo teve

coisa. Inspirada no meu livro de desenho, toda exposição foi produzida

origem pela edição da Vista de capa branca. A edição com todas as

em pouco mais de um mês, ao som de Subsolo e Zé Ramalho, entre

capas desenhadas chegou na mão deles, aí fizeram o contato comigo.

outros”. Mas além de servir de inspiração, o caderno-atadura é uma

O projeto com Subsolo foi feito todo por MSN, a gente ainda não se

obra por si só que merece ser apreciada em todos seus detalhes.

conhece pessoalmente. Mas foi feito em parceria total, milimetricamente,

Pensando nesse caderno como um objeto que apresenta uma amostra

vai e volta de arquivo até fechar. O resultado ficou demais”.

única da arte de Mateus Grimm, um livro-reprodução está sendo produzido. Primeira publicação do artista, o livro Atadura será lançado

O poder de comunicação da arte de Grimm ainda rendeu uma

ao final da exposição pela editora independente Armazém Digital.

parceria forte com a marca Naipe Skateboards: “Acho muito massa fazer estampas e pensar nas aplicações em produtos. Pena que

Dá pra notar que Grimm está percebendo e buscando uma distinção

não ando de skate na mesma frequência de quando o material era

de sua arte para diferentes contextos: “Fazer graffiti é muito doido, tem

escasso pra mim. A próxima coleção da Naipe vai sair de um livro de

a relação com as pessoas que passam comentando, carros buzinando.

desenho que serviu quase como meu diário visual. Ele também inspira

Tudo isso somado à total liberdade de expressão. O cara pinta o que

minha segunda exposição individual, na A CASA, em Curitiba.”

quiser sem dar satisfação, isso é o que encanta no graffiti, o poder de

E justamente, talvez o que venha acontecendo de mais interessante

se comunicar diretamente com as pessoas e deixar uma parte de si na

88

O www.vista.art.br

O encontro, 2008.

O

Traíra, 2009.



pintura. Já o trabalho exposto em galeria permite experimentar muita

No período de conclusão dessa entrevista, Mateus estava totalmente

coisa nova, diferente do que se faz no urbano. Dá pra entrar a fundo nas

envolvido em um projeto com o Museu de Ciências e Tecnologia

idéias, até transformar sua arte, porque muda a escala de tudo. O tempo

(MCT) da PUCRS, em Porto Alegre, integrante da mostra (R)evolução

também é outro em galeria e isso determina bastante o trabalho”.

de Darwin. Divido em duas frentes, o Mural Evolutivo e exposição +Apto, esse trabalho busca mesclar arte e ciência, ajudando ambas a se comunicarem mais diretamente com o público. Criado em conjunto com os artistas Trampo e DSM, o Mural Evolutivo é um work in progess de oito meses (durando até o fim de 2009) que busca ilustrar a aventura científica de Charles Darwin. Já +Apto é uma exposição em uma das galerias do MCT, com obras de arte inéditas de cada um dos três artistas, trabalhos pensados para um espaço expositivo que buscam visões pessoais sobre diversos ângulos da Evolução. Essa união entre ciência e arte parece natural na carreira de um artista conhecido por pintar macacos e, principalmente, elefantes. Se você já viu o trabalho dele ao vivo, na selva urbana, é provável que tenha sido na forma de um paquiderme. E, acredite, você conheceu um pouco da essência do artista. Mateus conta que o elefante é um animal com o qual se identifica bastante e costuma usar para criar auto-retratos de seu espírito. “O elefante se tornou minha assinatura após ter visto um documentário sobre as manadas. Daí então não parei de pintar elefantes, sozinhos ou empilhados. Me vi nos olhos do animal”

90

O www.vista.art.br

Brasília, 2008.

O

Lamento, 2009







Ênio César F

cABULOSA©

2009 © todos os direitos reservados.

SÍNTESE DE UMA CALLYGRAPHIA URBANA BRASILEIRA. DISPONÍVEL EM WWW.YOUWORKFORTHEM.COM



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