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2ª Mostra Do Outro Lado – Cinema Fantástico e de Horror

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Homenagens

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2ª Mostra do outro lado cinema fantástico e de horror

Domínio

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Existe, no cinema contemporâneo de horror, a necessidade de retomar temas e conceitos, originários do próprio cânone do horror, mas que, no decorrer das décadas, acabaram escoando para outras formas de narrativa. Filmes de diretores como Ari Aster, Robert Eggers e Ana Lily Amirpour são estranhamente rotulados como “pós-horror”, mas a relação, aqui, aproxima-se mais do primeiro cinema e dos medos que lá foram vividos e encenados, para fazer uma ponte com o mundo atual. Assim, as relações desses medos com poderes e políticas, o rompimento com o patriarcado, a retomada queer e as fronteiras entre os gêneros audiovisuais são alguns dos temas explorados e recuperados na 2ª Mostra Do Outro Lado - Cinema de Horror e Fantástico.

Náusea, de Thomas Webber, apóia sua narrativa no “body horror”, nascido no final dos anos 70 como consequência da revolução sexual e do domínio maior do próprio corpo (nosso ou de terceiros), cujo funcionamento tentamos descobrir. O filme usa desses elementos para contar uma história tão monstruosa quanto os filmes dessa vertente, mas muito comum nos lares brasileiros.

Não costumo pensar o queer como gênero cinematográfico, normalmente, mas sim como um novo conjunto de linguagens e sensibilidades à disposição para se contar uma história em um universo LGBT+. Neste ano, temos dois extremos do uso do queer no cinema de horror: de um lado, o “camp-cafona” de Mamãe Tem Um Demônio (Demerson Souza), que usa da nostalgia e do humor para contar a história da relação de fã-artista, que atinge seu pico em total insalubridade. No outro, a ficção-científica distópica de Eu Estou Vivo (Maíra Campos e Michel Ramos): num mundo em que os corpos existem só para servir, é impossível reter a necessidade do sentir. Com isso, o domínio dos sentidos é necessário e urgente nesse universo. O corpo queer é um corpo que transborda. O medo do duplo encerra nossa sessão no suspense As Viajantes (Davi Mello). A atriz Gilda é incrivelmente interpretada por Gilda Nomacce, em um jogo metalinguístico em que ela, que já viveu diversas vidas diferentes, fica horrorizada ao encarar seu corpo fora do externo. Aqui, ver ser corpo fora do seu “eu” é de uma monstruosidade extrema, mas... por quê? Os quatro filmes do programa falam dos usos e do domínio do corpo, da necessidade de recuperar aquilo que nos tiraram: o corpo sem controle aqui é um corpo monstruoso. Nesta safra do cinema de horror brasileiro, gestada em um cenário prépandemia, a necessidade de contê-lo, isolá-lo, dominá-lo, parecia ser a palavra final. Mas fica a pergunta: que outros significados esses filmes ganharão junto a nós, que temos ficado tanto tempo completamente isolados uns dos outros? Que novas formas assumiram os nossos medos usuais?

Waldir Segundo,

curador

NÁUSEA

Thomas Webber FIC, Cor, 2k, 13’, PR, 2019 Classificação indicativa: 16 anos Direção de Produção e Produção Executiva: Morgana Addor Roteiro: Thomas Webber Direção de Arte: Camila Kogut Fotografia: Vinni Gennaro Montagem: Anti-Glitch Foundation Som e Edição de Som: WeeDooMusic & FX Trilha Sonora: Cesinha Mattos Elenco: Larissa Merlo, Ana Paula Taques e Helder Clayton

Sinopse: Ana, assediada por pesadelos surreais, procura a ajuda de sua mãe, que é incapaz de enxergar o real problema que eles representam. Sem esperança, esta menina solitária se vê obrigada a tomar uma atitude drástica.

EU ESTOU VIVO

Maíra Campos e Michel Ramos FIC, Cor, 4k, 23’, MG, 2019 Classificação indicativa: 12 anos Direção de Produção e Produção Executiva: Fabrício Ferreira Roteiro: Maíra Campos e Michel Ramos Direção de Arte: Maria Trika Fotografia: Clara Olac Montagem: Bruno Heleno Som e Edição de Som: Montivia Trilha Sonora: Alexandre Martins Elenco: Daniel Jaber, Luiz Fábio Torres e Marcelo Souza e Silva Filmografia do Diretor: Eu Estou Vivo (2019); Temporal (2020) Sinopse: Ivo é um homem condenado. Ele e outros homens vivem proibidos de se relacionarem ou se comunicarem, o que os levou a desenvolverem uma linguagem não verbal. É através dela que ele será convidado para uma fuga furtiva, para experimentar sensações há muito esquecidas e fugir de uma ameaça que ele não sabe de onde vem.

MAMÃE TEM UM DEMÔNIO

Demerson Souza FIC, Cor, 2k, 25’, SP, 2019 Classificação indicativa: 14 anos Direção de Produção: Demerson Souza Produção Executiva: Rafaela Carvalho Roteiro: Demerson Souza Direção de Arte: Ana Bettoni Fotografia: Gabriel Fonseca Montagem: Pedro Cortez Som: Guilherme Ritschel Edição de Som e Trilha Sonora: Guilherme Gila Elenco: Hevelin Gonçalves, Soraia Costa, Marcia Dailyn, Marcelo Thomaz, Luma Tomao e Nina Rodrigues Filmografia do Diretor: Nunca Mais Me Vi (2020) Sinopse: Tete Barilove está morta, mas seu corpo desapareceu. Beni, uma grande fã, descobre pistas que podem trazer a verdade sobre a cantora brasileira mais famosa dos anos noventa.

AS VIAJANTES

Davi Mello FIC, Cor, 2k, 11’, SP, 2019 Classificação indicativa: 12 anos Direção de Produção e Produção Executiva: Davi Mello Roteiro: Davi Mello Direção de Arte: Taciana Ferreira Fotografia: Viktor Ximenes Ferraz Montagem: Stefano Calgaro Som: Denise Chaves e Fábio Batista dos Santos Edição de Som: Stefano Calgaro e Fábio Batista dos Santos Trilha Sonora: Tarcísio Pereira Elenco: Gilda Nomacce e Majeca Angelucci Filmografia do Diretor: A Bordo (2015) Sinopse: Em uma noite de sexta-feira, duas atrizes compartilham os seus medos.

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