Caderno da Homenageada - VERA FISCHER - 26º Festival de Cinema de Vitória

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Vera Fischer

HOMENAGEADA NACIONAL

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MinistĂŠrio da Cidadania ArcelorMittal apresentam

Vera Fischer

Homenageada Nacional VitĂłria - ES, setembro de 2019



Vera Fischer é A Super Fêmea. Uma mulher a frente de seu tempo, que combateu o machismo e encarou de frente uma indústria dominada pelos homens desde o início de sua carreira. Sua beleza estonteante a transformou em Miss, mas sua fibra e seu caráter moldaram uma sólida carreira artística que se entrelaça com a história do cinema brasileiro. Dona de uma filmografia prolífica, seus personagens são ícones do cinema nacional. Nas décadas de 70, 80 e 90, seu rosto foi um dos mais vistos nas grandes telas, interpretando papéis fortes e complexos, que lhe renderam diversos prêmios. Com suas atuações na televisão conquistou o imaginário popular dos brasileiros, sendo lembrada todas as vezes em que se rememoram grandes obras da teledramaturgia. Conquistou os palcos com uma força dramática capaz de dominar de Shakespeare a Tennessee Williams. Inteligente, interessante, vivaz e com um vasto repertório sobre cultura, Vera fala sobre cinema com referências apuradas, sobre teatro e artes plásticas, e desfila por todos os assuntos com imensa naturalidade. Uma artista completa, Vera, além de atriz, pintou quadros, é excelente dançarina, escreveu livros, faz colagens, dirigiu filmes e peças, tem uma voz única elogiada por ícones da MPB e agora canta. Por tudo que representa para a arte no Brasil e pelo imenso desejo de seguir sempre fazendo mais, é um prazer e uma honra render homenagem à Vera Fischer no 26º Festival de Cinema de Vitória. Lucia Caus Diretora do 26º Festival de Cinema de Vitória



Sumário Apresentação · 07 Vera Fischer, uma explosão de vida e arte · 07 A pequena Moisi · 13 Miss Brasil: o primeiro aceno para o sucesso · 18 No tempo das pornochanchadas · 27 O divisor de águas · 33 Dos telões para a telinha da tevê · 41 Teatro, o grande desafio da estreia · 45 Currículo · 49 Depoimentos · 65



Apresentação

Vera Fischer, uma explosão de vida e arte Os anos 1950 escreveram um enredo de novidades que vibrou com a intensidade dos acontecimentos. O Brasil vivia a euforia dos anos dourados, inaugurava-se a tevê no país, a Rádio Nacional consolidava nomes de estrelas do nosso cancioneiro, a Bossa Nova deu novo lastro (e lustro) à música brasileira que a fez ser conhecida e reverenciada em todo o mundo, e Getúlio Vargas retornava ao poder para um segundo mandato com a popularidade que lhe valeu o título de Pai dos Pobres. Nos EUA, o rock’n’roll levava a moçada à loucura com a voz e o tufão nos quadris de Elvis Presley, o talento dos Beatles, além da tela em Cinemascope dando mais vida e cor aos filmes de Hollywood. Na pequena Blumenau, em Santa Catarina, nascia a menina que traria mais intensidade àquela década e aos anos do porvir. Era Vera Fischer, Nasceu sob o signo de Sagitário, naquele 27 de novembro de 1951. Seus pais, Emil Fischer, alemão, e Hildegard Berndt Fischer, brasileira com ascendência germânica, não podiam supor que o bebê de bochechas rosadas e olhos cor de esmeralda viria a ser Vera Fischer, miss Brasil, atriz, diva. A venerada deusa que alimenta sonhos de homens e mulheres por gerações, um rosto que não passa despercebido em nenhuma ocasião. Por onde passa, Vera causa frisson, seus trabalhos despertam atenção, a vida pessoal é acompanhada passo a passo. Não poderia ser diferente pra quem cultiva o status de estrela, e com ela os fatos se amplificam, ganham novas dimensões. “O furacão loiro”, como definiu em matéria de capa a revista Veja por ocasião dos seus 40 anos em 1991, é mulher de muitos paladares, ama novas culturas, vivencia cada minuto como se o último fosse, possui a coragem de caminhar contra o vento, às vezes vendavais, em busca de novos ares. Ao ser eleita miss Brasil, começaria uma trajetória artística nada planejada. O mais importante para ela era sair de casa e conquistar a liberdade. Seu espírito livre a impulsionou para a cidade dos sonhos, o Rio de Janeiro, sem planejar nada a não ser a vida nova e independente que o ambiente carioca poderia lhe proporcionar. Os convites vinham de todo o lado e os programas de tevê da época foram os mais interessados em sua presença na tela. O Brasil começava a voltar atenções para

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a moça de beleza germânica que tinha em si os 40 graus do temperamento brasileiro. Vera participou de 21 filmes e, no início da carreira, emplacou o sucesso A Superfêmea, de 1973, interpretando o personagem título, hoje um clássico. Ali, já demonstrava as chispas do talento e do destemor de atriz. Agora é a potência Vera Fischer preservando sua essência intacta, a força da mulher que sobrevive às intempéries do julgamento superficial (e cruel, tantas vezes) e, segundo ela mesma, mata um leão por dia. A sagitariana Vera faz jus ao elemento fogo que a rege. A intensidade e o sentido de liberdade lhe dão asas para ir atrás dos seus sonhos e coragem para seguir adiante com apurada dedicação. Não há limites quando se trata das suas crenças pessoais, portanto, sem chances de se dobrar às concessões que tentem arranhar a retidão do seu caráter. A artista, antes chamada de furacão, sob os meus olhos pareceu ser brisa, como aquela da canção bossanovista do Johnny Alf, quando o inesperado faz uma surpresa. Na caixinha de guardados de Vera Fischer há muitas surpresas, dessas que causam fascínio, provocam comoção e estimulam os sentidos. Nas próximas páginas, entrego o movimento das palavras ao ritmo pulsante da nossa homenageada.

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“Inventava invenções. Sempre fui a cientista, a cobaia e a experiência (...) Não olho para cima, não olho para baixo. Olho para a frente. Piso no chão com energia. Sem pisar em ninguém”





A pequena Moisi Nascida em família de protestantes, a pequena Moisi (apelido de infância dado pelos pais que não tem uma tradução exata), estudava em colégio católico e se dividia entre missas e cultos em diferentes dias da semana. As regras impostas pela religião não foram empecilhos para que a menina vivenciasse a liberdade da infância na Blumenau dos anos 1950. “Até os cinco anos eu praticamente só falava alemão. Fui aprender o português na escola. Nós éramos protestantes, mas, quando completei cinco anos, minha mãe me matriculou no melhor colégio da cidade. Um colégio só para meninas, de freiras católicas. Aos domingos, eu ia ao culto protestante, e às sextas-feiras, assistia à missa católica. Eu adorava tudo isso. Como eu era protestante, não precisava confessar como os católicos. Espero que todas as meninas católicas tenham mentido muito, porque seria assim que eu faria”, conta na autobiografia A pequena Moisi. A casa da avó é lembrança viva. O jardim inglês com orquidário e as rosas de variadas cores eram puro encantamento para a menina. A relação com a natureza e com animais é presente na vida da atriz. Uma gota de orvalho sobre as pétalas das rosas, o sol abrindo o dia, uma noite de céu estrelado são chamarizes pro seu olhar. Romântica sim. A avó Rosa tinha o apreço especial da neta que fazia do orquidário da casa o refúgio para a solidão, a criatividade e o contato com a natureza do lugar. Era a sua floresta encantada. “Sabia ser aquele o meu lugar. Eu ficava ali, sentada, quieta, todo o tempo do mundo. Inventava invenções. Sempre fui a cientista, a cobaia e a experiência. Lá, eu não ouvia vozes, não via ninguém e, se a minha avó passava, ela e eu éramos invisíveis. Minha avó era mágica e tudo que se relacionava a ela também”. Apreciadora de mitologia, fadas, duendes, anjos e demônios, Vera não é figura de gosto estanque, não se enquadra em caixinhas, curte mundos longínquos, desertos por onde ela já caminhou (os da vida real, como as tantas voltas pelo mundo que deu, e os das abstrações do sentimento), se diz uma Sherazade moderna com histórias de noites sem fim. “Sou sólida, grande, larga, rápida. Poeticamente elegante. Não olho para

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cima, não olho para baixo, tampouco para os lados. Olho para a frente. Piso no chão com energia. Sem pisar em ninguém. Não me distraio. As crianças gostam de mim porque sou desguarnecida de medos, pudores, adultices e idiotices. Tenho todas as idades, a loucura pela vida e a seriedade de quem brinca ao se vestir”, se define num dos trechos da primeira autobiografia. As memórias da infância dão sinais da sua personalidade. A menina não se assustava ao ver a avó matando galinhas, quebrando-lhes o pescoço, em se meter de pés descalços no meio do chão cheio de fezes do galinheiro para salvar sua boneca Susie. Ou enfrentar um touro bravo no pasto vestida de vermelho só pra se certificar de que o bicho não gostava da cor, como sempre rezou a lenda. Levou uma carreira do touro e escapou dos seus chifres toda feliz, com ânimo de toureira vitoriosa. A mulher Vera é igualmente destemida, não se rende às dores do mundo, mesmo que elas teimem em se encostar nela. Com a mesma naturalidade e autoestima da menina de outros tempos, encara as tempestades sem temer raios sobre sua cabeça. Ela é seu próprio para-raios, tem lá seus mecanismos de defesa e o instinto de sobrevivência que é seu fio condutor

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“Tem muita coisa que estava dentro de mim desde menina, como sair de casa e construir minha vida. Nas minhas lembranças guardo tudo o que vivi, todas as fases da minha vida, mas não queria voltar”. Ela viveu cada fase intensamente, sem arrependimentos. Ainda menina, relembra, foi como se tivesse que buscar um menino dentro dela como forma de se defender. “Enfrentar toda aquela gororoba machista dos anos 1970 sendo miss e fazendo pornochanchada foi uma barra que enfrentei sozinha, fui feminista à minha maneira. Eu não colocava meu marido pra assinar contratos junto comigo, eu não dizia pro Perry (Perry Salles, o ator e marido à época) que os homens me cantavam porque ele faria uma loucura, encarei e driblei tudo sozinha”. O pai de Vera, Emil, um alemão típico, rígido, estava sempre de olho nas artimanhas da filha que, quando descobertas, não passavam batido, era surra na certa. “Um dia – eu já era adolescente – cursando o clássico à noite, matei aula com um namoradinho e fomos passear na kombi do pai do moço.


Quando cheguei em casa, meu pai me esperava na porta da loja, com as pernas abertas e as mãos na cintura. Saltei da kombi já sabendo que o fim do mundo estava próximo”. Seu Emil não a poupava e, mesmo assim, ela o considerava um herói. Não era uma relação que se esperaria de um pai e filha com temperamentos tão diferentes, tanto é que o pai e dona Hildegard a apoiaram em todas as etapas do concurso de miss até chegar ao miss Brasil e na carreira de atriz que estava por vir. O desejo paterno era de que a filha fosse perfeita em tudo. Dona Hildegard era divertida e cheia de vida. A filha gostava de vê-la se arrumando para festas em casa. A exuberância dos vestidos rodados, as sandálias cintilantes, os brincos e colares de pérolas acendiam o encantamento da menina pela mãe. Pai e mãe eram excelentes dançarinos. Quando as portas da casa se abriam pros convidados, o casal era a estrela da pista de dança na sala de estar. Ao som de Carlos Gardel, Emil e Hildegard animavam a plateia de amigos com os passos de tango. Vera e o irmão Werner ficavam escondidos para assistir ao show dos pais. Veio deles o gosto pela dança. “Nunca ninguém me ensinou a dançar, eu sempre soube”. A mãe a matriculou, aos sete anos, na única escola de balé clássico da cidade. A professora Pollack era uma daquelas bailarinas rígidas que ensinou as primeiras noções de disciplina artística à Vera. As apresentações de balé foram o primeiro contato com a arte. Mal sabia ela e a maitre de ballet que ali nascia a paixão pelos palcos e a conexão com o público, este que mais tarde lotaria salas de cinema, de teatro e alimentaria o ibope na tevê. Quando a pequena Moisi vivenciou os bastidores da primeira apresentação de dança no teatro, a sensação foi de intensa alegria: “Enquanto andava por corredores e subia escadarias, o som da orquestra afinando os instrumentos enchia meus ouvidos de alegria. Ora o violino, ora o cello, ora o piano. Era, enfim, o meu lugar”. A disciplina imposta pelo balé foi lição que Vera levaria, segundo atores que trabalharam com ela, para a vida profissional. A atriz Betty Erthal, parceira de cena na novela Mandala (1987) e na peça Gata em Teto de Zinco Quente (1998) lembra o primeiro encontro na sala de maquiagem

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da Tv Globo: “Trocamos poucas palavras, mas observando seu texto todo organizado em uma pasta plastificada, página por página, com desenhos e colagens divertidas, pensei: gostei dela. Organizada e criativa, duas qualidades que aprecio em meus amigos”. Em 1999, Vera leva sua produção de Gata em Teto de Zinco Quente para o mesmo teatro onde estreou: “Foi uma emoção indescritível! Pisar no mesmo palco, aos sete anos e aos 48, não dá pra explicar”.

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Miss Brasil: o primeiro aceno para o sucesso O próximo palco da menina, porém, seria outro, quando fez 17 anos. O do Maracanãzinho, no Rio, no primeiro grande desafio da sua vida: a disputa pelo título de miss Brasil. O ano era 1969, auge da ditadura militar, e os concursos de miss eram uma espécie de joia da Coroa, assim como o futebol, distração para as massas em tempos de censura, prisões de estudantes, guerrilheiros e salas de tortura. Mas na pacata Blumenau esse era assunto que não se tinha conhecimento, pelo menos para as mocinhas de família e adolescentes como Vera. O primeiro convite para disputar o concurso de miss Blumenau veio aos 16 anos e causou em Vera um estranhamento: “Eu quase morri. O quê? Então eu, musa do existencialismo, era convidada pra ser miss? Que afronta, era só o que me faltava. Eu não tinha nenhuma pinta de miss. Eu me achava intelectual e ser miss seria uma desonra”

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Vera fazia parte, nessa época, de um seleto grupo de jovens comandado pelo professor Lindolfo Bell, poeta avançado para os padrões da época, líder do movimento Catequese Poética, que levava a poesia às ruas com recitais e músicas. Uma iniciativa pioneira em Blumenau com o objetivo de popularizar a poesia levando-a para escolas, universidades, viadutos e ruas, abrindo espaço para a expressão poética chegar a milhares de pessoas. Esse trabalho deu a Bell um grande reconhecimento no Brasil e também no exterior. Os participantes do grupo liam e interpretavam a poesia de Bell e também escreviam seus próprios versos, e lá estava Vera se sentindo a musa do existencialismo. A primeira reação ao convite para ser miss foi de negação, mas, no inconsciente, foi como se tivessem estimulado um desejo que nem ela sabia existir. E o sonho do cetro e coroa foi sendo adubado e ganhando força. No ano seguinte, um novo convite e Vera estava mais que convicta do seu sim, que agora contaria com a aprovação dos pais. No fundo, seu espírito libertário sabia que, se vencesse as etapas do concurso e chegasse à disputa nacional, ela poderia sair de casa e viver a vida como sempre quis, em total liberdade. “Morar no Rio era o meu sonho. Naquela épo-


ca era a capital do glamour. Mar, sol , Pão de Açúcar, boates da moda, bossa nova, barzinhos, shorts, sandálias, gente bronzeada, uma certa esculhambação, enfim, a minha liberdade”. Curiosamente, ao desfilar no concurso de miss Santa Catarina, ganhou algumas vaias que a assustaram, já que a favorita do público parecia ser a miss Tubarão, com grande torcida. Mesmo assim, a beleza de Vera conquistou os jurados (entre eles, Aracy Balabanian e Carlos Eduardo Dolabella, com quem - coisas do destino - anos depois, fez par na sua primeira novela na Tv Globo) e foi representar o estado na competição nacional. Os pais na plateia estavam tranquilos, sem ansiedade. Sabiam que a filha conquistaria o título. “Meu pai, na verdade, foi a pessoa que mais ficou emocionada por eu ter vencido. Ele se derretia todo porque eu era a queridinha do papai (apesar das surras que me deu). Dias depois, ele foi até o jornal A Nação falar com Elenita (a amiga mais velha que cuidou de Vera durante o concurso) e disse: vocês fizeram da minha filha uma miss, agora cuidem dela, façam tudo por ela porque ela é a razão da minha vida”, recomendou com emocionado sotaque alemão. Na chegada ao Rio, em companhia de Elenita, o movimento foi outro. Seu jeito descontraído e sua beleza ganharam a simpatia da imprensa e especialistas. Era, de cara, favorita ao título de miss Brasil. “Em todas as festas eu era apontada como a futura miss Brasil e um repórter da revista Manchete disse que não tinha dúvida que eu venceria. Eu era uma unanimidade. Disseram que eu tinha belas costas, rosto de boneca e porte altivo”. As previsões se concretizaram e a miss Brasil 1969 tinha nome e sobrenome: Vera Fischer. Ter vencido o concurso foi também uma vitória com gostinho de vingança, já que foi vaiada por parte da plateia ao concorrer a miss Santa Catarina. Blumenau parou para recebê-la. Uma carreata a levou do aeroporto de Florianópolis até sua cidade natal, onde recebeu do prefeito a chave da cidade. “Falei pra Elenita: dei um tapa de luvas de pelica nessa gente que me vaiou. Quando cheguei na casa dos meus pais, a rua e a minha casa estavam enfeitadas com guirlandas de flores e as faixas ‘Vera Fischer, nosso orgulho’, ‘Vera Fischer, nossa miss Brasil!’.”

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Antes do concurso, Vera sabia que a casa dos pais era um espaço seguro, tinha Hildegard, Emil e a avó Rosa para lhe dar a mão, a companhia do irmão Werner e das colegas, a turma “prafrentex” interpretando poesias de Lindolf Bell pela cidade. Tudo lhe era propício, mas não bastava. Ela queria mais. “Eu sempre soube que, enquanto estivesse na casa dos meus pais, no meu quarto, com as minhas invenções e vivendo meu sonho sozinha, eu estaria a salvo. Sabia, que ao botar os pés para fora do quarto, era para enfrentar o mundo, e o mundo é difícil, é ingrato, é duro, e você tem que matar um leão por dia para sobreviver”. Começava uma nova etapa quando ela seria conhecida em todo o Brasil. Era a celebridade da vez. Veio o miss Universo e ela ficou em sexto lugar concorrendo com 60 candidatas do mundo inteiro. Não passava pela sua cabeça a vitória, até porque no ano anterior a brasileira Marta Vasconcellos tinha levado o título, e o habitual no certame é não repetir o mesmo país no ano seguinte. Vera estava lá pra se divertir e conhecer Miami, onde foi realizado o concurso.

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E diversão não faltou. Certa noite, ela esperou as colegas de quarto pegarem no sono e escapuliu para a noitada de danças e drinks, o que era terminantemente proibido pelo concurso. No outro dia, a ressaca foi inevitável. “Eu já sabia que não ia ganhar, mas eu estava nem aí, só queria conhecer Miami, zonear, passear, porque a minha meta eu já tinha conseguido, que era ser miss Brasil. A miss que ganhou era das Filipinas, uma nanica dentuça, feia e meio careca… caguei!” Na volta pra casa, hora de cumprir o reinado de miss Brasil e viajar por todo o país participando de eventos em que ela se apresentava em clubes da cidade, tirava fotos, dava autógrafos. Para esse trabalho Vera tinha um salário mensal, o primeiro salário da sua vida que ela gastava todo em discos, roupas, tecidos. “As pessoas davam uma festa e a azeitona da empada era eu, desfilando de vestido longo, traje típico e maiô. Mesmo quando era chato eu tinha que fazer presença por duas horas”. As viagens, mesmo sendo cansativas e chatas muitas vezes, deram a ela a oportunidade de conhecer várias capitais e cidades do interior. O trabalho lhe possibilitou, ao mesmo tempo, diversão e aprendizado. “Viajei por todo o Brasil, recebi convites de todo canto e sempre consegui aprontar alguma. Foi divertido e revelador conhecer o meu país. Ele é deslumbrante. Eu aprendi a trabalhar duro e era o que eu iria fazer


dali em diante. Encerramos o ano com glória e assim terminou meu reinado de miss Brasil”. Com o fim do reinado de miss, Vera começou a participar de programas de TV. Ela já tinha retornado a Blumenau, mas não perdia de vista o sonho de ganhar o mundo – o mundo, no caso, era o Rio de Janeiro. Ao receber o convite para ser jurada do programa de calouros e variedades de Flávio Cavalcanti, apresentador de muito sucesso no início dos anos 1970, farejou ali a chance de que precisava para sair de casa e conquistar a independência. Com o salário do programa, pagava o aluguel, despesas pessoais e da casa. Era um tempo em que ter miss no cast de um programa contava ponto na audiência. Além do programa do Flávio, ela fazia um programa de turismo entrevistando personalidades de vários países junto com o apresentador Paulo Monte. Vera marcava presença no vídeo pela beleza, os figurinos variados e os penteados. Na ânsia de trabalhar para sobreviver na Cidade Maravilhosa, aceitou convite para outro programa, agora de esportes, ao lado de Sérgio Bittencourt, jornalista, compositor do clássico Naquela Mesa e filho do músico Jacob do Bandolim. “Imagina eu falando de futebol, coisa que detesto, tênis, vôlei. Não entendia nada sobre o assunto, assim como não entendo hoje em dia. O Sérgio me conduzia e o programa era gravado de modo que, se errássemos, poderíamos regravar. Só eu mesmo. Programa de esportes”. O nome Vera Fischer só crescia embora os trabalhos ainda fossem inexpressivos. Havia, no entanto, uma aura que a acompanhava e despertava atenções. Quando se apresentou como vedete numa pequena participação no musical Regina Mon Amour, no Canecão, os olhares se voltaram mais uma vez para aquela loira do sul que ganhou o miss Brasil. Sua parceira no número musical era Sandra Bréa e a Regina do título era a Namoradinha do Brasil, La Duarte. O figurino era bem sensual e deixava seu corpo à mostra, como pede a roupa (ou falta dela) de uma vedete. Foram dois meses de show e as cantadas vieram na mesma proporção do sucesso. Homens de todos os naipes ofereciam presentes caros para sair com ela. Descobriram o telefone de sua casa que não parava de tocar.

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“Por causa das pornochanchadas, os homens me confundiam com garota de programa. Era a Elenita (a amiga de Blumenau que foi morar com ela no Rio), coitada, que atendia o telefone e sempre mandava os presentes de volta. Era um inferno! Onde já se viu? Eu, honesta, trabalhando, consciente, tendo que ser tratada dessa maneira. Me senti insultada, ofendida e jurei por tudo que era mais sagrado que me vingaria dos homens”, confessa no livro Um leão por dia, o segundo volume autobiográfico.

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“Enfrentar toda aquela gororoba machista dos anos 1970 sendo miss e fazendo pornochanchada foi uma barra que segurei sozinha, fui feminista a minha maneira�





No tempo das pornochanchadas O convite para aquele que seria seu grande sucesso no cinema e a faria subir um degrau da fama veio do diretor Aníbal Massaini, famoso por suas produções com boas bilheterias. Perry Salles também foi convidado para dividir a cena com Vera, que tinha 21 anos. Ele seria o cientista maluco e ela sua cobaia no experimento de uma pílula da fertilidade. A cena final do filme é Vera desfilando num caminhão enorme com dezenas de bebês, a prova de que o remedinho do cientista deu certo. Quando se assiste a um desses filmes hoje, que todos consideravam substrato por ter o sexo como tema, percebe-se a malícia ingênua, a nudez sem maldade e a sensualidade caseira, sem maquiagem. Estávamos nos anos de chumbo e falar de sexo era motivo de cortes e muita censura sobre o material filmado. “As pornochanchadas eram todas engraçadas. Pelo menos as que eu fiz. E a nudez era pudica. Era como se alguém olhasse pelo buraco da fechadura e não pudesse ver tudo. Mas é claro, rolava a maior censura. Era a época do governo Garrastazu Médici, anos 1970, e não se podia dizer ou mostrar nada demais. Nem sobre sexo nem sobre política. Acho que as pornochanchadas surgiram para amenizar um pouco aquele horror de censura política. Lembro que os filmes iam pra Brasília e voltavam todos cortados, mas faturavam horrores. Eram cafonas e hoje viraram arte cult. Pornochanchada quem fez, fez, quem não fez, perdeu. Hoje não existe mais e eu já faço parte da história do cinema”. No seu currículo constam seis pornochanchadas, todas produzidas na Boca do Lixo, rua de São Paulo onde ficavam os estúdios desses filmes. “Sinal Vermelho, as fêmeas”, “O anjo loiro”, “Essa gostosa brincadeira a dois”, “Delícias da Vida”, “Homem e Mulher até certo ponto” e o sucesso arrasa-quarteirão “A superfêmea”. “Levei um baita susto na estreia de Superfêmea. Quando passei na avenida Ipiranga e vi fachadas gigantescas com a minha figura pintada nos cinemas. Todos os homens se voltavam para olhar. Eu fiquei chocada. As filas dos cinemas dobravam a rua. Tentei encolher e sumir, mas o povo não me reconheceu. Era tudo novo pra mim”, descreve Vera.

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Com o filme, ficava selado o rótulo que a acompanharia por muito tempo, o de símbolo sexual do Brasil. Em Blumenau, o cinema estava entre as distrações favoritas da adolescente. Os pais a levavam para assistir a filmes alemães que Vera detestava, mas havia uma atriz nesses filmes de quem era fã: a austríaca Romy Schneider. Na sua autobiografia, Vera elogia a vivacidade que os olhos de Romy irradiavam, difícil de se ver numa atriz. “Gosto eternamente. Que mulher, que atriz, que pessoa. E a morte que eu via nos olhos dela quando estrelou Um homem, uma mulher, uma noite com Yves Montand. Queria tirar essa morte do seu olhar. Não consegui. A existência foi muito cruel com Romy. A vida é atroz, mas também é boa, é pra ser bem vivida”.

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Além das sessões de filmes alemães com os pais, ela costumava ir aos domingos nas matinês com as amigas. Tony Curtis e Rock Hudson eram os galãs preferidos, Jack Palance o vilão que despertava atenção e Ingrid Bergman possuía a essência da atriz que Vera mais admirava. A Joana D’Arc de Ingrid é personagem na lista dos papéis cobiçados pela nossa homenageada. “(Ingrid) fez filmes lindos, trocou o Lindstrom pelo Rosselini, por conta da coragem, do ineditismo, da curiosidade. Mulher linda, verdadeira, inteira, corajosa e excelente atriz. Estamos falando de um tempo no qual Hollywood tinha um padrão de estrelas como Claudette Colbert e suas sobrancelhas raspadas e pintadas a lápis. Aí chega uma Ingrid Bergman e diz pra Douglas Selznick (todo-poderoso dos estúdios de Hollywood) que não mexeria nas suas sobrancelhas. E pronto. Era a única atriz na época com sobrancelhas grossas. E belíssima.” Nessa época, no posto de espectadora, Vera não tinha a mais diminuta ideia do que o futuro lhe reservaria como atriz, muito menos que atuaria em pornochanchadas que sempre foram para ela mais um trabalho. Esse despreendimento de preconceitos em fazer trabalhos considerados menores foi o impulso para o início da carreira. Ela tinha o ímpeto do trabalho como os pais, que foram o espelho onde ela se mirava pra levar a vida no Rio. Trabalhar e trabalhar era a sua meta.


“Sabia que ao botar os pés para fora do quarto era para enfrentar o mundo, e o mundo é difícil, é ingrato, é duro, e você tem que matar um leão por dia”





O divisor de águas Aos 24 anos, em 1975, resolveu produzir com Perry Salles o primeiro filme, Intimidade. O diretor foi o inglês Michael Sarne, de passagem pelo Rio, que propôs escrever um roteiro para o casal. Sem grana para a produção, eles ofereceram como garantia aos financiadores do filme o apartamento do Leblon, zona sul do Rio. Intimidade é um filme existencialista e filosófico em que Vera é uma modelo de sucesso massacrada pela mídia, casada com um publicitário e que se apaixona por um pintor de paredes em Búzios, onde filmaram a história. Com a grana curta, a atriz se desdobrava em produtora, maquiadora e cozinhava para a equipe. “Não sei como, porque não sei cozinhar nada, deve ter sido um horror, mas no sufoco não havia outro jeito. Tinha um ator que precisava envelhecer, então inventei com látex uma maquiagem cheia de rugas. Deu certo”, diverte-se contando. Intimidade não fez sucesso porque foi mal distribuído – a Embrafilme não se interessou em lançar o filme. Por outro lado, sua atuação lhe rendeu prêmios e elogios, e é considerado por ela como o divisor de águas da sua carreira. A visibilidade que ganhou fez com que Lauro César Muniz, autor da Tv Globo, a convidasse para a primeira novela, Espelho Mágico. Foi sua estreia na tevê, em 1976. Dora Doralina veio em seguida. Baseado na obra de Raquel de Queiroz, o filme contava a saga nordestina de uma mulher de 1930 a 1950, filmado no interior do Ceará. A bilheteria não fez jus ao trabalho de realização que tiveram e o sucesso, em termos de espectadores, passou ao largo. Só o fato de ter tido a coragem de levar a literatura de Raquel para as telas foi motivo de orgulho para a atriz. Da obra de Nelson Rodrigues, ela encarnou duas personagens no cinema, em Bonitinha mas ordinária e Perdoa-me por me traíres. “Em Bonitinha, eu me senti sem direção pro personagem e resolvi criar por minha conta uma figura suburbana e reprimida. Deixei crescer a raiz cinza do meu cabelo que se misturou ao louro restante, mas nem roteirista e direção perceberam. Quando fiz Perdoa-me, eu tinha que fazer uma cena de sexo sobre o feno e resolvi transar naquele capim de salto alto, um detalhe que criei pra personagem e aquilo deu outro sentido à cena, me joguei inteira. A construção de personagem sempre foi importante pra mim”.

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Nas filmagens de Eu te amo, de Arnaldo Jabor, que tinha Sonia Braga no elenco, Vera lembra da cena em que ela própria, na pele de Barbara Bergman, fica andando com a câmera na mão filmando enquanto fala um texto enorme esculachando Paulo César Peréio, e a cena clássica em que joga uma calcinha na cara do ator, “coisas da loucura do Jabor”. O filme teve ótima repercussão de crítica e público, tanto no Brasil quanto no exterior. Amor Estranho Amor, de Walter Hugo Khoury, foi filme emblemático na carreira da atriz com o diretor que adorava as mulheres. Khoury escorava seus filmes no talento de belas atrizes como Vera. O diretor fazia um tipo refinado e os filmes espelhavam o seu gosto por ambientes elegantes, histórias cerebrais com um quê bergmaniano. Amor Estranho Amor, segundo ele, era um filme místico-sensual. Vera fazia a prostituta de luxo com relação incestuosa com o filho. Khoury, com quem ela também filmou Amor Voraz e Forever, era só elogios ao seu trabalho:

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“A Vera me supreendeu e está fazendo um belíssimo trabalho. Tem uma capacidade de introspecção muito grande e é linda. Tem o tipo de heroína consciente, lúcida, um arquétipo cinematográfico em extinção. Ela é a personificação do sonho de qualquer diretor. O tempo como que a decantou tornando-a uma figura de incrível força interior. Ela tem um jogo de cena sóbrio e para dentro, como eu gosto. Seus closes têm uma intensidade perturbadora. Como se não bastasse, Vera é uma pessoa inteligente, informada, discreta, cuja presença deixa o local de filmagem num alto astral”. Quando fez Forever e contracenou com Ben Gazzara, havia uma cena em que ela tinha de esbofetear o ator estadunidense. Vera se intimidou, mas ele queria imprimir realismo à cena e a obrigou a bater de verdade. Ben a desafiou em inglês: “Você tem que me bater de verdade porque eu sou um ator visceral. Só vai valer pra mim se for de verdade”. Ela, igualmente visceral, caprichou na bofetada e fizeram a cena de primeira. “Ele gostou e me disse: That’s it. You are the best! Fiquei super feliz, quem não ficaria? Afinal, Ben Gazzara não era só um grande ator, mas também um ser humano maravilhoso, criativo, gentil e muito, muito divertido. Mais um filme que eu jamais esquecerei”. Na produção internacional O quinto macaco, direção do francês Eric Rochat e rodado em Paraty, a atriz contracenou com outro Ben, o bri-


tânico Ben Kingsley, simplesmente o intérprete de Ghandi no cinema, personagem que lhe valeu um Oscar. Vera lembra com carinho e admiração de Sir Kingsley. “Um grande ator, homem generoso, o lord, o maior companheiro de cena. Trabalhar com ele era aula de interpretação todos os dias”. A cena final do filme mostrava Vera com uma cobra enrolada pelo corpo e o casal tinha que dar um beijo. Quando terminaram, em particular, o ator foi até ela. “Eu queria te agradecer porque foi a melhor coisa que aconteceu. Como faço muito herói, quase não tenho cenas de beijos e, mesmo quando tenho, as estrangeiras são diferentes. Você me beijou de verdade”. E agradeceu a atriz pela parceria e, claro, pelo beijo apaixonado. No seu currículo, constam filmes importantes e de grande repercussão. Quilombo, direção de Cacá Diegues, Doida Demais, de Sérgio Rezende e Navalha na Carne, de Neville D’Almeida, estão nessa lista. Em Navalha, baseada na obra de Plínio Marcos, a atriz incorporou a prostituta Neusa Sueli, personagem interpretado na década de 1960 por Glauce Rocha no cinema e Tonia Carrero no teatro. Foi um trabalho difícil e intenso que fez Vera trocar o dia pela noite, já que o filme foi rodado nas noites e madrugadas da Lapa carioca. O trabalho exigiu um empenho físico e emocional da atriz, com muitas cenas em que apanhava do amante e cafetão Vado, caía sobre as latas de lixo, sobre os paralelepípedos sujos e sempre estava com a aparência desfigurada. As cenas tinham uma dificuldade extra porque Vado, o cafetão, era interpretado em portunhol pelo cubano Jorge Perugorria que, embora excelente ator, tinha problemas com a nossa língua, além da linguagem muito própria de Plínio Marcos, conhecido por seu texto cru e com muitos palavrões. Uma das cenas finais é emblemática na obra de Neville ao criar uma espécie de purgação de Neusa Sueli, que aparecia em sonho pendurada numa cruz. Vera ficou amarrada na cruz por cerca de duas horas até o sol nascer com uma coroa de espinhos na cabeça. “Eu fiquei o filme inteiro desfigurada, com o nariz sangrando, com os olhos borrados de rímel de tanto chorar, e com dores verdadeiras no corpo. É de mentirinha, mas acaba sendo verdade. É um filme sofrido, humilhante, sem chance. Durante o período das filmagens, eu quase morri de angústia e sofrimento”.

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O que muitos admiradores não conhecem é o lado diretora de Vera Fischer. Começou como uma brincadeira no sítio da atriz, quando ela, ao assistir a filmes de terror trash com amigos, teve o estalo. “Quero fazer um filme trash, falei pra galera, vou escrever um roteiro, dirigir e produzir e vocês serão os atores.” Assim, ela provou que poderia estar na frente e atrás das câmeras. Foram alguns médias-metragens de terror trash, em um esquema amador que envolvia vários amigos no elenco e ficha técnica, além dos filhos Rafaela e Gabriel. “Pensei que, ao invés de fazermos as mesmas coisas que fazíamos sempre no sítio, como jogar cartas, pegar sol e ver filmes, seria uma novidade fazer filmes trash. Todos foram superbacanas nas filmagens, além de me divertir, treinei minha habilidade de roteirista e diretora”.

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Sangria desatada, Vermelho sangue e Roubalheira foram alguns desses filmes. Houve ainda um quarto filme, Serpentes e Escorpiões, em esquema semiprofissional, com ares de tragédia grega e, como definiu Vera, “é um filme que destroça a sociedade, a família e os bons costumes. Quis perturbar um pouco”. E perturbou. A obra foi apresentada no Festival de Cinema de Búzios com bom público e causou algum choque na plateia. A crítica o carimbou como “estranho”. Na verdade, a pretensão da atriz nunca foi ser diretora ou roteirista, embora goste de escrever. Ela quis testar esse seu outro lado e o fez. Como sempre na vida de Vera Fischer, a tentativa de fazer coisas novas, ir atrás do desconhecido é quase um estilo de vida. Viver diferentes experiências, correr riscos a impulsiona e a faz ser essa mulher na busca pelo ineditismo da vida.


“Hoje tudo o que mais quero é fazer teatro. Quero morrer aos 100 anos. Cair no palco e morrer”





Dos telões para a telinha da tevê O cinema levou Vera para a TV Globo. Sua interpretação em Intimidade chamou a atenção de Lauro César Muniz que a convidou para Espelho Mágico, novela que trabalhava com metalinguagem porque havia outra novela, Coquetel de Amor, dentro da mesma obra. Logo na estreia, ela encarou o desafio de fazer duas personagens.“Eu ali no meio daquelas feras, Tarcísio, Glória, Sonia Braga e a direção de Daniel Filho, um diretor que gritava com os atores, não estava acostumada com aquilo. Eu ficava meio inibida, não conhecia ninguém, mas foi a minha estreia”. O papel da dubladora Diana, que começou engatinhando em cena, logo cresceu e o trabalho ganhou destaque. Em Sinal de Alerta, de Dias Gomes, ganhou sua primeira protagonista, um personagem travado, que não transava, vivia com as tias numa casa cheio de gatos, algo meio rodriguiano. “No meio da novela aconteceu a gravidez tão esperada de Rafaela, minha primeira filha, e fui falar com Avancini, achando que ele ia me mandar embora”. Mas ele a surpreendeu. O diretor era rígido, gritava com Vera dizendo que ela era uma alemã fria porque não conseguia chorar. Fora do estúdio, no entanto, ele era manso e foi comprensivo. Avancini pediu a Dias Gomes para engravidar Sulamita, seu personagem, que foi vítima de um estupro. “E assim eu terminei a novela com oito meses de gravidez da Rafaela. Eu digo que ela trabalhou junto comigo assim como o Gabriel , de quem fiquei grávida, mais tarde, em Perigosas Peruas”. Mandala, de Lauro César Muniz, era uma adaptação da tragédia de Sófocles, a paixão da mãe Jocasta pelo filho Édipo, vivido por Felipe Camargo, que mata Laio, o pai vivido por Perry Salles. Na época, o casamento de 16 anos com Perry já não ia bem e, ao conhecer Felipe, ambos se apaixonaram na vida real. As questões morais e de censura complicaram o desenrolar da história e não se consumou o romance entre mãe e filho na novela, que migrou para a vida real. Ela não quis se aventurar a ter uma relação com Felipe porque ainda estava casada, mas ao terminarem as gravações ela se separou e ficaram juntos. “A tragédia, que não aconteceu na novela, rolou na vida real. E sete anos depois, Jocasta-Vera teve um filho com Édipo-Felipe. Mas a tragédia teve desdobramento feliz, porque, alguns anos depois, nasceu Gabriel”. O relacionamento conturbado do casal foi prato feito para a mídia sen-

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sacionalista, que não os poupou, com sérios reflexos na vida profissional (eles chegaram a ser afastados da novela Pátria Minha, de Gilberto Braga, que inventou um incêndio em que os dois morriam). O fato é que Jocasta e Édipo viraram personagens icônicos no imaginário do público porque havia a química entre Vera e Felipe, ficção e realidade se misturando. Como a censura não deixou a relação edipiana acontecer, entrou o personagem do Nuno Leal Maia, como o bicheiro Toni Carrado, apaixonado por Jocasta (“minha deusa”, como ele a chamava, virou bordão popular). Era o lado cômico da novela. A música tema dos personagens, Como uma deusa, interpretada por Rosana, fez estrondoso sucesso naquele ano. E até hoje é cantada pelas novas gerações, virou cult. A atriz é sempre lembrada pela personagem, embora Roberto Talma brincasse com ela dizendo preferir Dina Sfat para o papel. Mas ele sabia que a intérprete de Jocasta não poderia ter sido outra se não Vera.

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“Ao receber o roteiro da minissérie Desejo, eu chorei muito com a história desenvolvida por Glória Perez e disse pra mim mesma: vou mergulhar de cabeça nesse personagem porque era muito poderosa aquela tragédia. E me debrucei sobre a história da Glória, baseada nas cartas escritas por Dilermando e Ana de Assis, mulher do escritor Euclides da Cunha”. O physique du rôle dos atores nada tinha a ver com os personagens, mas o trabalho de Vera é considerado até hoje uma das suas mais potentes interpretações, que a elevou a um patamar de excelência como atriz. Guilherme Fontes era Dilermando e Tarcísio Meira vivia Euclides da Cunha. Durante as gravações, ela sofreu um atropelamento sério e quebrou o nariz. Seu desejo de fazer o papel era enorme, mas o diretor Wolf Maya cogitou substituí-la por outra atriz caso não melhorasse. “Meu coração parou, mas eu queria tanto fazer a Saninha que forcei a barra e mesmo machucada voltei a gravar. A maquiagem disfarçou as marcas arroxeadas do rosto, me filmavam de longe e o público não percebeu. Ana de Assis ficou na minha vida como uma prova de amor”. Agosto, baseado na obra de Rubem Fonseca, é trabalho na lista dos preferidos da atriz. “A Alice era sensível, frágil e o diretor Carlos Manga dizia: ‘Vera, você é grande, quero que faça tudo pequeno’. Ele captava tudo em detalhes, era milimétrico. Era uma personagem difícil de fa-


zer, uma mulher rica, apaixonada por um detetive de quinta categoria, papel de José Mayer, se casa com um salafrário e é infeliz a vida inteira. No final, quando ela põe fogo nas páginas do seu diário, chorando, fica louca, é lindo. Dirigida por Manga, eu vi o que é realmente um diretor de tevê. Quieto, suave, sem gritar, com muito charme e muita classe ele explicava pra mim e pro José Mayer como deveríamos fazer a cena”. Além de ser uma das Helenas, personagem recorrente do autor Manoel Carlos, trabalho de sucesso que lhe deu o prêmio Aplauso de melhor atriz na votação popular do Domingão do Faustão, Vera fez as minisséries Riacho Doce e Amazônia, em personagens bem distintos. A Eduarda era frágil, sensível e a cortesã de Amazônia engraçada, espirituosa, maliciosa e livre. Nas novelas O Clone e Perigosas Peruas, as personagens também tinham viés cômico, eram bregas, meio tontas, apaixonadas e bem-humoradas. “Adorei essas personagens. Sempre pensei que não soubesse fazer humor, mas sei. Me espelho na minha própria ingenuidade e a empresto para o papel. Funciona”. E foi em Perigosas Peruas que, mais uma vez, ela engravidou no meio da novela do ator Felipe Camargo. Desse casamento nasceu Gabriel, que hoje também trabalha com audiovisual. Sobre Perigosas Peruas, a atriz relembra os bastidores: “Tinha um diretor muito impaciente que brigava com o elenco e eu tentava amenizar ajudando no texto com os colegas (um dos galãs da novela tinha dificuldade para decorar as falas), emprestava a maquiagem, tudo pra agilizar o trabalho, porque televisão é rapidez e eu gosto de fazer o trabalho andar”. Muitos companheiros de elenco relatam que Vera gosta de preservar um clima bom no trabalho, é considerada atriz aplicada, que chega pronta, com texto afiado e não se furta em ajudar os colegas. Em Rei do Gado, de Benedito Ruy Barbosa, deu vida à mamma italiana Nena. “Nena era uma grande personagem; eu escureci os cabelos, usei tamancos, avental e uns vestidos com os peitos saltando do decote, tudo pra parecer uma mamma. O resultado ficou soberbo”. No elenco da fase inicial, Antonio Fagundes, com quem fez par, mais Tarcísio Meira e Eva Wilma. A novela contava a história da rivalidade entre duas famílias italianas no Brasil, os Mezenga e os Berdinazzi, que atravessava gerações e contabilizou outro sucesso na sua carreira.

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“Sempre gostei de trabalhar em televisão. Sou boa em decorar textos, sou rápida pra me arrumar e gosto do ritmo das novelas. Geralmente uma novela tem quatro diretores e temos que nos adaptar a cada um deles. Gosto da rapidez com que se gravam trinta, quarenta cenas por dia. É um desvario porque se tem que trocar de roupa tantas vezes quantas forem as cenas. Hoje o ritmo está mais lento, é muito diferente, a agilidade não é a mesma”. Nos seus 43 anos de TV Globo, foram dezenas de trabalhos que incluem novelas, minisséries, programas especiais e humorísticos. O rosto de Vera na telinha ganhou a familiaridade e o apreço dos telespectadores, que veem na sua presença iluminada na tela a mesma intensidade e beleza que ela admirava em Ingrid Bergman.

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Teatro, o grande desafio da estreia Há muito a atriz desejava fazer teatro e, embora a vontade fosse grande, o medo de ocupar o mesmo tablado de grandes atrizes como Fernanda Montenegro e Nathália Timberg, a deixava em pânico. Mas era desafio que precisava enfrentar e, como nunca foi de desprezar novas possibilidades, resolveu encarar. A estreia foi na peça Os Desinibidos, de Roberto Athayde, direção de Aderbal Freire Filho. A eterna busca por voos mais altos a levou a produzir o espetáculo, junto com Perry. A experiência foi uma mistura de loucura e medo do palco que acabou gerando a primeira gastrite nervosa para a atriz. Seu trabalho foi bem recebido pela crítica, mas o público rejeitou os xingamentos do espetáculo dirigidos à plateia e saía do teatro no meio da encenação. O fracasso da estreia foi compensado por Negócios de Estado, a produção seguinte, uma alta comédia dirigida com elegância por Flávio Rangel. Foram três anos de sucesso viajando em turnê pelo Brasil. Daí em diante, Vera não parou de fazer teatro. Foram mais dez espetáculos na sua carreira que incluíram da tragédia de Shakespeare (Macbeth) ao vaudeville de George Feydeau (Porcelana Fina) e dramas de Tennessee Williams (Gata em teto de zinco quente e Doce pássaro da juventude), além do clássico cinematográfico A primeira noite um homem, adaptado para o teatro. A atriz insegura, que não conseguia chegar até o meio do palco nos ensaios da primeira peça, venceu o desafio: virou um bicho de teatro, como se diz entre a classe artística, com o reconhecimento de público e crítica. “Hoje tudo o que mais quero é fazer teatro. Quero morrer aos 100 anos. Cair no palco e morrer.” Vera não se define como uma só, ela é muitas num único corpo, porque artista, sob seu ponto de vista “tem de assoviar, chupar cana e tocar flauta. Sempre fui atriz de produzir em série, fazendo várias coisas ao mesmo tempo, e hoje esse modo de produção mudou, não tem mais essa dinâmica e, quando você para, parece estar com defeito. Isso me incomoda”. Aos 67 anos, não costuma olhar pra trás com arrependimentos. A inten-

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sidade que imprime em tudo o que faz não lhe permite retroceder no tempo para fazer diferente. Vera Fischer é dona do próprio pedaço, este que ela construiu com a mentalidade da filha de seu Emil e dona Hildegard, a de que o trabalho sem tréguas pode abrir portas e edificar uma carreira. Claro que a beleza ajudou, mas quantas misses ou atrizes de pornochanchadas construíram a mesma trajetória que ela e são lembradas pelo público? Infelizmente, a memória das suas carreiras se perdeu. Vera permanece no panteão. Deusa, diva, musa e estrela são substantivos colados ao seu nome. A atriz, escritora, pintora e diretora incorpora a artista de muitos talheres, sabe jogar nas onze quando as chances são oferecidas e está sempre à espera do grande papel. O único contato com Vera para a entrevista deste Caderno de Cinema iluminou ainda mais esse personagem que há exatos 50 anos tem a admiração dos brasileiros, desde que se consagrou miss Brasil em 1969. Pessoalmente, não se vê nela traços da diva inacessível e da estrela cheia de não-me-toques; ao contrário, é generosa, se interessa pelas pessoas com quem convive, mesmo os desconhecidos, sabe ouvir e não se furta em responder na lata. Verdadeira e com luz própria, como deve ser uma big star. A escolha deste ano do Festival de Cinema de Vitória não poderia ser mais acertada. O público do teatro Sesc Glória que aqueça as mãos para os aplausos porque Vera Fischer sempre estará pronta pro close up. 46

Fontes: Entrevista com a atriz Livros autobiográficos de Vera Fischer: A pequena Moisi e Um leão por dia.



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Televisão

1977 - Espelho Mágico Personagem: Diana Queiroz / Débora Novela de Lauro César Muniz Direção de Daniel Filho, Gonzaga Blota e Marco Aurélio Bagno 1978 - Sinal de Alerta Personagem: Sulamita Montenegro (Sula) Novela de Dias Gomes e Walter George Durst Direção de Walter Avancini e Jardel Mello 1979 - Os Gigantes Personagem: Helena Porto Novela de Lauro César Muniz Direção de Jardel Mello 1980 - Coração Alado Personagem: Vívian Ribas Novela de Janete Clair Direção de Roberto Talma e Paulo Ubiratan 1981 - Obrigado, Doutor Personagem: Helena (Episódio: “Por um Fio de Vida”) Autoria de Walther Negrão, Walter George Durst, Roberto Freire, Moacyr Scliar, Ferreira Gullar e Ivan Ângelo Direção de Ary Coslov, Antônio Abujamra, Alberto Salva e João Alba 1982 - Brilhante Personagem: Luiza Sampaio Novela de Gilberto Braga Direção de Marcos Paulo, José Carlos Pieri e Ary Coslov 1983 - Quarta-Nobre Personagem: Claudia Prado

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1987 - Mandala Personagem: Jocasta Silveira Novela de Dias Gomes Direção de Ricardo Waddington, José Carlos Pieri e Fábio Sabag 1988 - Tarcísio e Glória Personagem: Lucrécia Criação de Daniel Filho, Euclydes Marinho e Antonio Calmon Autoria de Antonio Carlos Fontoura, José Antonio de Souza, Daniel Más, Leopoldo Serran, Denise Bandeira, Euclydes Marinho e Antonio Calmon Direção de Roberto Talma e José Carlos Pieri 1990 - Riacho Doce Personagem: Eduarda Minissérie de Aguinaldo Silva e Ana Maria Moretzsohn Direção de Paulo Ubiratan, Luiz Fernando Carvalho e Reynaldo Boury

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1990 - Desejo Personagem: Ana Emília Ribeiro da Cunha Assis (Saninha) Autoria de Gloria Perez Direção de Wolf Maya (estúdio) e Denise Saraceni (externas) 1992 - Perigosas Peruas Personagem: Maria Aparecida Falcão Belotto (Cidinha) Novela de Carlos Lombardi Direção de Roberto Talma, Jodele Larcher e Flávio Colatrello 1993 - Agosto Personagem: Alice Autoria de Jorge Furtado e Giba Assis Brasil Direção de Paulo José, Denise Saraceni e José Henrique Fonseca




1994 - Pátria Minha Personagem: Lídia Thompson Laport Novela de Gilberto Braga Direção de Dennis Carvalho, Roberto Naar, Ary Coslov e Alexandre Avancini 1996 - O Rei do Gado Personagem: Nena Mezenga (1ª Fase) Novela de Benedito Ruy Barbosa Direção de Luiz Fernando Carvalho, Carlos Araújo, Emílio di Biasi e José Luiz Villamarim 1998 - Você Decide Personagem: Annie (episódio “Amor e Traição”) Tema e roteiro de Elaine Macedo Direção de Fábio Barreto e Paulo Buffara 1999 - Pecado Capital Personagem: Laura Medeiros Lisboa Novela de Gloria Perez Direção de Wolf Maya, Maurício Farias, Fabrício Mamberti e Vicente Barcellos 1999 - O Belo e as Feras Personagem: Celeste Redação de Bruno Mazzeo, Bernardo Guilherme, Marcelo Gonçalves, Heloísa Perissé, Cláudio Torres Gonzaga, Bernardo Hofstetter, Ângela Chaves, Péricles C. Barros, Márcio Wilson Direção de Jorge Fernando, Mário Márcio Bandarra, Cininha de Paula 2000 - Laços de Família Personagem: Helena Lacerda Soriano Novela de Manoel Carlos Direção de Moacyr Góes

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2001 - O Clone Personagem: Yvete Simas Ferraz Novela de Gloria Perez Direção de Jayme Monjardim, Marcos Schechtman, Mário Márcio Bandarra, Marcelo Travesso e Teresa Lampreia 2003 - Agora É que São Elas Personagem: Antônia Mendes Galvão Novela de Ricardo Linhares Direção de Roberto Talma, Leandro Neri e Amora Mautner 2004 - Senhora do Destino Personagem: Vera Barroso (Mrs. Robinson) Novela de Aguinaldo Silva Direção de Luciano Sabino, Marco Rodrigo e Cláudio Boeckel 2005 - América Personagem: Úrsula Garcez Novela de Gloria Perez Direção de Jayme Monjardim, Marcos Schechtman, Luciano Sabino, Marcelo Travesso, Teresa Lampreia, Federico Bonani e Carlo Milani 54

2007 - Amazônia, de Galvez a Chico Mendes Personagem: Lola Autoria de Gloria Perez Direção de Marcelo Travesso, Pedro Vasconcellos, Carlo Milani, Roberto Carminatti e Emilio Di Biasi 2007 - Duas Caras Personagem: Dolores Maciel Novela de Aguinaldo Silva Direção de Claudio Boeckel, Ary Coslov, Gustavo Fernandez, Miguel Rodrigues e Pedro Carvana


2008 - Casos e Acasos Personagem: Vera (episódios “O Desejo Escondido”, “O Cara Deprimido” e “O Livro Roubado”) Redação de Aloisio de Abreu, Cláudia Gomes, Daniel Adjafre, Elisa Palatnik, Gisela Amaral, Marcius Melhem e Zé Dassilva. Direção de Carlo Milani, Adriano Melo, Fred Mayrink, Luciano Sabino, Leonardo Nogueira, Alexandre Boury, Luiz Henrique Rios. 2009 - Caminho das Índias Personagem: Chiara Bittencourt Novela de Gloria Perez Direção de Fred Mayrink, Luciano Sabino, Roberto Carminati e Leonardo Nogueira 2010 - Afinal, o Que Querem as Mulheres? Personagem: Celeste Monteiro Roteiro de João Paulo Cuenca, Cecília Giannetti e Michel Melamed Direção-geral e núcleo de Luiz Fernando Carvalho 2011 - Insensato Coração Personagem: Catarina Diniz Novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares Direção de Dennis Carvalho, Vinicius Coimbra, Cristiano Marques, Flavia Lacerda 2012 - Salve Jorge Personagem: Irina Drummond (Simone) Novela de Gloria Perez Direção de Luciano Sabino, Alexandre Klemperer, Adriano Melo, João Boltshauser e João Paulo Jabur 2016 - Tá no Ar: a TV na TV Personagem: Helena Lacerda Soriano Redação final de Marcelo Adnet e Marcius Melhem Direção de Felipe Joffily, Vicente Barcellos e João Gomez

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2018 - Malhação: Vidas Brasileiras Personagem: Ana Tanquerey Novela de Patrícia Moretzsohn Direção de Natalia Grimberg 2019 - Assédio Personagem: Haydée Escrita por Maria Camargo Direção de Guto Botelho 2018 - Espelho da Vida Personagens: Maria do Carmo Vilela (Carmo) e Gertrudes Trindade Novela de Elizabeth Jhin Direção de Luis Felipe Sá, Rafael Salgado e Tande Bressane

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Cinema

1972 - Sinal vermelho - As fêmeas Personagem: Ângela Direção: Fauzi Mansur 1973 - A Superfêmea Personagem: Eva Direção: Aníbal Massaini Neto 1973 - Anjo Loiro Personagem: Laura Direção: Alfredo Sternheim 1974 - As Delícias da Vida Personagem: Fernanda Direção: Maurício Rittner 1974 - Essa Gostosa Brincadeira a Dois Personagem: Lígia Direção: Victor di Mello 1974 - As Mulheres que Fazem Diferente Personagem: Marília (episódio “Uma delícia de mulher”) Direção: Adnor Pitanga 1973 - Macho e Fêmea Personagem: Juliano (Mulher) Direção: Ody Fraga 1975 - Intimidade Personagem: Tânia Velasco Direção: Michael Sarne 1980 - Perdoa-me Por Me Traíres Personagem: Judite Direção: Braz Chediak

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1981 - Bonitinha mas Ordinária ou Otto Lara Resende Personagem: Ritinha/Bonitinha Direção: Braz Chediak 1980 - Eu Te Amo Personagem: Barbara Bergman Direção: Arnaldo Jabor 1982 - Amor Estranho Amor Personagem: Anna Direção: Walter Hugo Khouri 1982 - Dora Doralina Personagem: Dora Direção: Perry Salles 1984 - Amor Voraz Personagem: Anna Direção: Walter Hugo Khouri

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1984 - Quilombo Personagem: Ana de Ferro Direção: Carlos Diegues 1989 - Doida Demais Personagem: Letícia Direção: Sérgio Rezende 1990 - O Quinto Macaco (The 5th Monkey) Personagem: Mrs. Watts Direção: Eric Rochat 1991 - Forever Personagem: Cristina Teller Direção: Walter Hugo Khouri


1997 - Navalha na Carne Personagem: Neuza Suely Direção: Neville D’Almeida 2002 - Xuxa e os Duendes 2 - No Caminho das Fadas Personagem: Rainha Dara Direção: Paulo Sérgio Almeida e Rogério Gomes 2019 - Quase Alguém Personagem: Gilda Borba Direção: Daniel Ghivelder

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Teatro

1983 - Os Desinibidos, de Roberto Athayde, direção de Aderbal Freire Filho 1984 - Negócios de Estado, de Louis Verneuil, direção de Flávio Rangel 1992 - Macbeth, de William Shakespeare, direção de Ulysses Cruz 1993 - Desejo, de Eugene_O’Neill, direção de Ulysses Cruz 1998 - Gata em Teto de Zinco Quente, de Tennessee Williams, direção de Moacyr Góes 2004 - A Primeira Noite de um Homem, de Charles Webb, direção de Miguel Falabella 2006 - Porcelana Fina, de Georges Feydeau, direção de Antônio Pedro Borges 2007 - Confidências (monólogo de Perry Salles, com a direção de Vera Fischer) 2015 - Relações Aparentes, de Alan Ayckbourn, direção de Ary Coslov 2017 - Ela é o Cara, de Márcio Araújo e Andrea Batitucci, direção de Ary Coslov 2017 - Doce Pássaro da Juventude, de Tennessee Williams, direção de Gilberto Gawronski 2019 - Quando Eu For Mãe Quero Ser Desse Jeito, de Eduardo Bakr, direção de Tadeu Aguiar

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Premiações

1977 – Venceu o Prêmio APCA e Troféu Imprensa de melhor atriz pela atuação no filme “Intimidade” 1981 – Indicada ao Troféu Imprensa de melhor atriz por sua atuação na novela “Brilhante” 1982 - Venceu o Festival de Brasília como melhor atriz pela atuação no filme “Amor Estranho Amor” 1987 - Indicada ao Troféu Imprensa de melhor atriz pela atuação na novela “Mandala” 1998 – Melhor produção de teatro pela peça “Gata em Teto de Zinco Quente” 2000 - Indicada ao Troféu Imprensa de melhor atriz pela atuação na novela Laços de Família 2000 - Venceu o prêmio Melhores do Ano - Domingão do Faustão de melhor atriz por sua atuação na novela “Laços de Família” 2001 - Indicada ao Troféu Imprensa como melhor atriz por sua atuação na novela “O Clone”

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Depoimentos

Vera é uma daquelas figuras que te marcam assim que você a conhece. Ela é enigmática, tem uma força nela que nos atrai. E, ao mesmo tempo, é uma mulher alto astral. Estar na presença dela é um convite para bons momentos. E é uma grande atriz. Uma artista ímpar, com uma história na nossa cultura. Tive a oportunidade de trabalhar com Vera mais de uma vez e foi muito gostoso nosso encontro dentro e fora de cena. Essa homenagem que ela está recebendo de vocês é muito merecida. Vera é especial. Giovanna Antonelli

Vera Fischer teve o talento para ir se desenvolvendo até se tornar uma das mais importantes atrizes brasileiras. Percorreu de forma brilhante todos os caminhos que levam à interpretação e à performance. Participou de forma marcante do cinema brasileiro, viveu intensamente grandes personagens no teatro e na televisão. Vejo no personagem de “Neusa Sueli” que ela interpreta no filme baseado na histórica peça de Plínio Marcos “Navalha na Carne”, uma das maiores interpretações já feitas no cinema brasileiro. Durante a filmagem ela sempre foi um exemplo com a sua capacidade de concentração e de viver intensamente o personagem de “Neusa Sueli”. Vera foi crucificada na madrugada da Lapa, numa das cenas mais antológicas da história do cinema. Portanto, agradeço a oportunidade que tive de trabalhar com uma atriz tão talentosa. Neville D’Almeida cineasta

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A sereia que veio do sul. Vinda do interior de Santa Catarina desfilou sua Beleza nas passarelas brasileiras onde alcançou o título da nossa mais bela representante. E fascinou as lentes do cinema com sua naturalidade, o olhar penetrante e curioso, galega consciente do que tinha pela frente: um luminoso caminho a percorrer. Fez filmes de ingênua sensualidade e que alcançaram as maiores bilheterias da época, anos 70. Mas não era ali que ela queria parar. Uma incansável sereia em busca de mares nunca dantes navegados queria correr riscos, experimentar o Novo, mergulhar em profundezas inusitadas, em busca do melhor coral, da espuma prateada nos cachos louros de seus cabelos. Trabalhou com diretores consagrados, de Walther Hugo Khoury a Arnaldo Jabor, subiu aos palcos para encenar Nelson Rodrigues, Tenessee Williams, O’Neill e William Shakespeare, e fez sucesso popular na melhor teledramaturgia, numa demonstração de seu múltiplo e ilimitado talento, e imensa versatilidade. Teve filhos, escreveu livros, e até arriscou produzir imagens, em todos o registro sensível de seu percurso de estrela e mulher iluminada.Mas sem perder a ternura e o espanto de menina do interior do Brasil.

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Enfrentou furacões moralistas, como toda mulher que ousa jogar todas as bússolas fora e seguir seu coração. E ei-la,exuberante como sua história e seu talento, sempre surpreendente, procurando no horizonte perder-se junto com as gaivotas que anunciam um caminho na direção de terras por descobrir ainda. VIVA VERA ! Luiz Carlos Lacerda cineasta


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Vera, querida Vera. Acredite, gostaria de muitas páginas para dizer o quanto te respeito, admiro. Fizemos alguns trabalhos e sempre admirei seu companheirismo, verdade, entrega às personagens . Sem falar dos momentos felizes que Lidiane e eu dividimos com você em tantas externas, em viagens a trabalho. Justa homenagem a você, querida. Saiba de nosso carinho e respeito. Seja feliz. Você merece. Beijos Tony Ramos

Feliz o país que tem Vera Fischer como uma de suas principais atrizes. Feliz de mim por ser contemporâneo e amigo dessa estrela maior de nossas artes. Num mundo que ficou careta e politicamente correto, ela não é cumplice dessa fase, pelo contrário, com seu trabalho e talento febril sempre rompeu todas as barreiras. Tive a honra de dividir com ela, minha amiga, um único trabalho e foi na TV em uma novela de Janete Clair, CORAÇÃO ALADO. Foi um momento único e protagonizamos o primeiro estupro em uma novela e no horário dito nobre. Acredito que essa cena hoje não passaria. Vera Fischer brilhou intensamente na telinha em vários trabalhos e destacaria a série DESEJO. Nas telas, nossa estrela vai de A SUPERFÊMEA, de Sílvio de Abreu à NAVALHA NA CARNE, de Neville D’Almeida. No teatro também se comportou como uma primeira dama em NEGÓCIOS DE ESTADO, dividindo a cena com Perry Salles e direção de Flávio Rangel. Vera não se acomodou na sua beleza de Miss Brasil, ela transformou sua trajetória numa das mais brilhantes do meio artístico. Parabéns ao Festival de Cinema de Vitória pela homenagem, ela merece todas as honras. Eu amo Vera Fischer e reproduzo aqui o início de um texto meu para a

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revista Playboy que Vera estrelou: AVE VERA AMÉM FISCHER. P.S.: Ela não tem celular mas eu tenho seu telefone fixo. Ney Latorraca

Vera é uma artista genuína, decidida a lutar contra todas as barreiras que lhe são impostas, desvendando neste gesto não apenas a alma humana de seus personagens, mas também a si mesma em profundidade, mesmo que correndo grandes riscos nesta caminhada. Assim é a natureza de todo grande artista. Não há nada que lhe acomode naquilo que ela verdadeiramente não é. Bravo! Luiz Fernando Carvalho

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Vera Fischer é o tipo de atriz que tinha que ser homenageada dia e noite,todos os dias,de hora em hora. Deveria estar em todos os filmes, em todos os programas de TV, porque é uma atriz sensacional que nos dá prazer de assistir,de ficar curtindo sua performance seja ela qual for. Carismática ao extremo, super doce e um ser humano de primeira linha. Sou suspeito em afirmar isto, porque além de fã, tive o privilégio e a honra de assisti-la e de contracenar com ela inúmeras vezes. E é por isso que posso dar veracidade as minhas palavras. Nada mais justo, portanto, que essa homenagem que o Festival de Cinema de Vitória


vem lhe prestar. Parabéns Vera pela sua simplicidade dramática. Isto com certeza faz de você a Rainha das telas. És sem dúvidas uma das maiores Divas do nosso Cinema. Te ver em cena é o mesmo que estar no Olimpo apreciado uma verdadeira Deusa. Nuno Leal Maia

Na minha segunda novela na Globo, PERIGOSAS PERUAS , 1992, eu formava um triângulo amoroso com Vera Fischer e Mario Gomes. Amigas desde adolescentes, gostávamos do mesmo homem e tínhamos uma questão muito forte ( descobre-se que uma das filhas dela, na realidade, era minha) e delicada a ser resolvida. Uma responsabilidade enorme, contracenaria muito com a VERA FISCHER! Desde o início das gravações nos demos muito bem. Temos/tivemos química e Vera sempre me emocionava por se transformar naquela personagem de uma forma tão linda e inteira. Criamos uma relação de carinho, amizade e admiração desde então. Mais tarde, fiz uma pequena participação em “O Clone”, onde também existia um triângulo amoroso. Vera querida, você sabe que sempre torço por você, né?! Que nos encontremos em mais trabalhos e que você seja sempre muito feliz! Meu carinho e beijo. Silvia Pfeifer

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Vera, beleza e talento. Trabalhar com Vera é uma alegria. Presença gigante nos nossos palcos. Beleza nas telas. Fez grandes autores e personagens inesquecíveis. Será sempre aplaudida. Sempre admirada. É do bem. Cordial e delicada com todos. Parabéns sempre. Receba meu carinho. Francisco Cuoco

Meu primeiro encontro com Vera Fischer aconteceu na sala de maquiagem da TV Globo. O ano era 1986 e começávamos a gravar a novela “Mandala”. Eu como a esposa do Tony Carrado (Nuno Leal Maia) e ela como a “deusa” Jocasta.

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Trocamos poucas palavras, mas observando seu texto todo organizado em uma pasta plastificada, página por página, com desenhos e colagens divertidas, pensei: gostei dela, organizada e criativa (duas qualidades que aprecio em meus amigos). No dia seguinte, ela convidou a mim e ao Pedro para o aniversário da Rafaela. A partir de então ficamos amigas. Foram tantos encontros, tantos vinhos e risadas, que me sentia confortável e feliz com nossa amizade. Em 1998 ela me convidou para participar da peça “Gata em Teto de Zinco Quente”, que começaria uma longa excursão. Vê-la no palco, dividir camarim e contracenar com ela, foi motivo de imenso orgulho e alegria. Bastante disciplinada e talentosa ( nem precisava mencionar), encantou todo o Brasil ( inclusive Vitória), com a sua sensual Maggie. Quando não estávamos em cena, saíamos para visitar museus, parques, onde tivesse a Cultura pulsando, lá estávamos nós, com risadas e olhares atentos ao que se apresentava à nossa frente.


Mas o destino...sempre ele; fez com que nossos caminhos se bifurcassem... e os encontros foram ficando cada vez mais raros. Não importa. C’est la vie... Pude conviver bem de perto por longos anos com essa mulher extraordinária, intensa; de uma generosidade e força pouco vistas por mim. Onde quer que ela esteja, para onde quer que vá, pode ter certeza: sempre estarei torcendo por suas realizações e pensando nela com enorme carinho e gratidão!!!! Vera é SOL!!!! Vera é LUZ!!!!! Vera é um VERÃO!!!!! Betty Erthal

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CADERNO DO FESTIVAL DE CINEMA DE VITÓRIA HOMENAGEADA NACIONAL / 18ª Edição Projeto Editorial - Lucia Caus e Paulo Gois Bastos Reportagem - Jace Theodoro Projeto Gráfico, Capa e Diagramação - Paulo Prot Revisão de Texto - Karine Nobre Edição e Revisão final - Jace Theodoro Foto de capa e página 39: Aderi Costa Especificações Gráficas Tipografia - Gandhi Serif (opensource) Papéis - Offset 180 g/m² para miolo e Supreme 250g/m² para a capa Impresso em Vitória|ES O Caderno do Festival de Cinema de Vitória - Homenageado Nacional é uma publicação do 26º Festival de Cinema de Vitória, evento realizado de 24 a 29 de setembro de 2019 em Vitória-ES. O Festival é uma realização da Galpão Produções e do Instituto Brasil de Cultura e Arte. Nosso endereço e contatos: Rua Professora Maria Candida da Silva, nº 115-A - Bairro República - Vitória/ES, CEP 29.070-210 Tel: +55 27 3327 2751 / producaofcv@ibcavix.org.br www.festivaldecinemadevitoria.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG) Theodoro, Jace, 1967-. T388c Caderno do Festival de Cinema de Vitória: Vera Fischer: homenageada nacional / Reportagem e edição Jace Theodoro; projeto editorial Lucia Caus, Paulo Gois. – 18.ed. – Vitória, ES: Ministério da Cidadania; ArcelorMittal, 2019. 84 p. : foto. ; 21,4 x 24,6 cm 1. Fischer, Vera, 1951- – Entrevista. 2. Cinema – Vitória (ES). I.Caus, Lucia, 1962-. II. Gois, Paulo, 1981-. III. Título. CDD 791.43098152 Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422


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