Revista Panorama

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Revista Panorama


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Olhar para o passado é uma das formas de projetar o futuro. Ao longo de quase três décadas, o Festival de Cinema de Vitória contou, através dos filmes, a história recente do Brasil. Em 2021, apresentar uma versão retrospectiva deste trabalho é uma oportunidade de reafirmar a importância da cultura como espelho para pensar a sociedade. Essa é a proposta do Festival de Cinema de Vitória: Panorama Diversidade 27 Anos. Os 20 curtas-metragens selecionados pela curadoria foram exibidos em edições anteriores e, em momentos distintos, do festival. Realocados, nas Mostras Panorama Brasil, Panorama Espírito Santo e Panorama Diversidade, jogam luz sobre a presença de diversos grupos identitários no audiovisual. As narrativas tratam de questões do universo feminino, da população negra e da população LGBTQIA+; sobre as relações familiares, a vivência na terceira idade, a cultura popular, as relações de afeto no universo amoroso e da amizade, e uma sequência de imagens poéticas que só a sétima arte consegue trazer para o nosso cotidiano. O projeto Festival de Cinema de Vitória: Panorama Diversidade 27 anos faz como nos tempos do videocassete: rebobina a fita para apresentar um recorte inovador, baseado no cinema como criador de pontes que fomentam novos processos de existência e resistência social pautados na diversidade. Lucia Caus Diretora do Festival de Cinema de Vitória


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Olá, leiTOr! A Revista Panorama é parte do projeto Festival de Cinema de Vitória: Panorama Diversidade 27 Anos, que exibiu 20 curtasmetragens que fazem parte da história do Festival de Cinema de Vitória. Com curadoria do cineasta, pesquisador e professor do curso de Cinema e Audiovisual da Ufes, Erly Vieira Jr; e do produtor audiovisual, editor e curador Waldir Segundo, as mostras apresentam um recorte simbólico da produção em curtametragem, ao longo de quase três décadas. A programação foi dividida em três programas: Mostra Panorama Brasil, que trata da diversidade de temas associados ao país; Mostra Panorama Espírito Santo, que joga luz sobre o cinema produzido no Estado que sedia o evento; e Mostra Panorama Diversidade, que trata da diversidade sexual e de gênero. Esta publicação amplifica o olhar sobre os 27 anos do Festival de Cinema de Vitória. O texto curatorial Diferença, resistência e criação: um olhar sobre a diversidade nos 27 anos do Festival de Cinema de Vitória situa a importância do evento como veículo difusor do curta-metragem brasileiro e seu olhar moderno e atento às transformações sociais por meio do audiovisual. A matéria Festival de Cinema de Vitória: 27 Anos de Diversidade, Inclusão e Pioneirismo reforça a pluralidade da programação ao entrevistar três das curadoras responsáveis por mostras temáticas, exibidas no FCV, e que dialogam com o recorte apresentado na Panorama 27 Anos e suas memórias afetivas com o evento. Além disso, estão disponíveis as fichas técnicas dos curtas-metragens e um resumo do Laboratório Criativo – Tecnologias Sociais nos Festivais de Cinema, que representa outro eixo importante na história do FCV: a formação. Boa leitura!


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Sumário Panorama 27 Anos Diferença, resistência e criação: um olhar 07 sobre a diversidade nos 27 anos do Festival de Cinema de Vitória 20 Mostra Panorama Brasil 26 Mostra Panorama Espírito Santo 34 Mostra Panorama Diversidade

Memória Festival 45

Festival de Cinema de VItória: 27 anos de diversidade, inclusão e pioneirismo

Formação 53

Laboratório Criativo – Tecnologias Sociais nos Festivais de Cinema

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O Festival e a formação de novos olhares

59 Ficha técnica


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Panorama 27 Anos


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DiferenÇa, resistência e criaçãO: um oLHar sobre a diversidade nos 27 anOs do FestiVal de CiNema de ViTória Erly Vieira Jr e Waldir Segundo Surgido há quase 30 anos, no início do período histórico conhecido como a “Retomada do Cinema Brasileiro”, o Festival de Cinema de Vitória (originalmente denominado Vitória Cine Vìdeo) não somente testemunhou uma série de transformações dentro do audiovisual nacional, mas também contribuiu para a sua consolidação – em especial abrindo espaço para a chegada de novos sujeitos, ampliando assim as imagens, sons e imaginários de Brasil que nosso cinema oferece a seu público. Já na década de 1990, o surgimento de mecanismos estaduais e municipais de financiamento possibilitavam uma, até então, inédita descentralização da produção audiovisual, traduzida primeiramente num aumento da diversidade regional de nosso cinema, especialmente no curta-metragem – o que nos fez testemunhar o florescimento da produção em estados que, até então, não possuíam uma forte tradição de realização audiovisual, inclusive o próprio Espírito Santo. Nesse mesmo período, também houve uma expansão do circuito de festivais de cinema, chegando a praticamente todos os estados brasileiros. Naquele momento, eles passaram a ser a primeira janela de contato de diversos públicos com as novidades do cinema nacional, então pouco acolhido pelo circuito exibidor tradicional, que concedia pouquíssimo espaço aos longas-metragens e nenhum aos curtas. Uma preocupação que marca desde esse período a seleção


8 de filmes de muitos festivais, dentre os quais o de Vitória, é a diversidade regional e cultural como um horizonte central, possibilitando às plateias locais terem contato com uma pluralidade de olhares sobre as mais diferentes experiências e temáticas, presentes num país de dimensões continentais. Além disso, alguns grupos minoritários e movimentos sociais já vinham, desde os anos 1980, utilizando o vídeo como suporte para suas narrativas audiovisuais, por ser mais acessível financeiramente que a película cinematográfica. Isso possibilitou inclusive o autofinanciamento de muitos trabalhos cujas temáticas ainda encontravam grande resistência junto às comissões de seleção de editais e leis de incentivo públicas – como, por exemplo, questões de diversidade sexual e de gênero, as denúncias do racismo e misoginia cotidianos, o resgate de práticas religiosas e culturais afrodescendentes, os olhares empreendidos por sujeitos periféricos e comunidades indígenas ao mundo que nos cerca, entre outros. O Festival de Vitória, desde seus primórdios, abraçou o vídeo em sua programação, de modo que seu público ainda nos anos 90 teve contato com filmografias como a LGBT/ queer e a indígena, na época basicamente realizadas nesse formato, e com pouca circulação nos festivais brasileiros. Já num período pós-Retomada, os anos 2000 trazem uma série de outras transformações, impulsionadas, de um lado pelo barateamento e aprimoramento do vídeo digital, que aos poucos se tornaria o novo padrão para produção audiovisual no país e, por outro, numa série de ações que ampliaram o acesso de novos sujeitos e grupos ao fazer cinematográfico. Destacamos aqui: o boom, logo no início da década, das oficinas de realização voltadas a jovens de periferia e outros grupos socialmente vulneráveis (como idosos, pessoas com deficiência, população carcerária); o renascimento do cineclubismo, agora no formato digital, popularizando o debate crítico junto à exibição dos filmes e, com o passar


9 dos anos, a adoção desse formato, junto com as oficinas de realização, pelos movimentos sociais e minorias; os Pontos de Cultura, que ampliaram o acesso de inúmeras comunidades aos meios de produção, inclusive quilombolas e indígenas, o que lhes permitiu manter uma produção fílmica própria e de caráter permanente; as políticas públicas para fortalecimento de coletivos culturais juvenis; e, no final da década, graças ao Reuni, a eclosão dos cursos de cinema e audiovisual em universidades públicas de todo o país, somada às políticas afirmativas que ampliaram o acesso gratuito de pessoas negras e pardas ao ensino superior. O conjunto desses e de outros fatores promoveram, nos últimos dez anos, uma verdadeira revolução (ainda em processo) dentro de nosso cinema, reconfigurando o perfil tanto de quem faz quanto de quem consome o cinema nacional – e também os de quem pesquisa, critica, programa e escreve a história desse cinema. Há toda uma mudança de sujeitos: para além do perfil “homem branco, hetero, cisgênero, classe média alta” como estereótipo historicamente consagrado do cineasta brasileiro, a última década ampliou bastante a participação de mulheres, negres, LGBTQIA+, indígenas,

Depois de Tudo, de Rafael Saar, um dos curtas selecionados para a Mostra Panorama Diversidade - Foto: Divulgação


10 quilombolas e moradores de comunidades periféricas no rol de realizadores, de quem detém os espaços de fala, e não somente como temas/objetos dos filmes. Ainda estamos bastante distantes dos percentuais ideais, que reflitam a sociedade brasileira em sua pluralidade, mas já temos um panorama bastante distinto e rico, tanto temática quanto esteticamente – afinal, como já dizia Maiakovski, não existe arte revolucionária sem forma revolucionária. Aliás, essa é uma lição que diversos dos cinemas de minorias brasileiros aprenderam muito bem, buscando linguagens próprias que traduzam as diferenças éticas e políticas que seus olhares nos trazem – para dar um exemplo, a própria Mostra Corsária do Festival de Vitória, dedicada ao risco e à experimentação da linguagem, tem apresentado, em várias de suas edições recentes, uma presença majoritária de realizadores negres, o que demonstra, de certa forma, todo um alto grau de criação e inovação estética presente no cinema negro brasileiro dos dias de hoje. Se, 27 anos atrás, a diversidade (pensada e mencionada de forma genérica) constituía um horizonte desejado e pouco explorado, hoje ela tem toda uma série de especificidades (de raça, gênero, sexualidade, classe social, faixa etária, matriz cultural, etc), diretamente materializadas nos aguçados pontos de vista que nosso cinema apresenta. Ela passa a ser um aspecto central não só para se pensar as tensões que regem o Brasil, mas também quais projetos de país são possíveis através das perspectivas que os filmes nos apontam. Se o cinema possui uma pedagogia cultural própria, que nos proporciona um conhecimento muito rico sobre o mundo que nos cerca, uma partilha a partir das imagens, sons e seus afetos, são filmes como estes aqui reunidos que nos ajudam a pensar criticamente como aprender com e a partir da diferença, na contramão desse rolo compressor hegemônico que tenta silenciar as minorias há mais de 500 anos, e na direção de um mundo menos desigual e sufocante.


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Santos Imigrantes, de Thiago Costa, um dos curtas-metragens da Mostra Panorama Brasil - Foto: Divulgação

Muitas dessas transformações ocorridas no cinema brasileiro recente ressoam diretamente nos rumos que o Festival de Vitória tem tomado com o passar dos anos. Em suas Mostras Competitivas Nacionais (curtas e longas) e na Foco Capixaba, a presença dos cinemas negro, LGBT/queer e de mulheres já há várias edições é bastante forte, inclusive obtendo vários dos prêmios oferecidos pelo festival. Além disso, essas três vertentes possuem mostras específicas dentro festival (Cinema e Negritude, Quatro Estações e Mulheres no Cinema, respectivamente), com sessões seguidas de debate, o que tem trazido ao público capixaba (e, na última edição, realizada em formato online, ao público brasileiro em geral) as questões mais atuais que movem o debate em torno dessas filmografias. Outros cinemas de minorias, como o indígena e o quilombola, além de ocasionalmente estarem presentes nas mostras competitivas nacionais e locais, também são presença garantida em mostras como a de Cinema Ambiental e a Outros Olhares. Esta mostra propõe um breve recorte a partir de vinte filmes exibidos em algumas das 27 edições do Festival de Cinema de Vitória, de modo a servir como um aperitivo, para o público de diversas


12 regiões do país que acompanharão a programação no YouTube, da presença desse aprendizado pela diferença nas quase três décadas de existência do evento. Em três programas, apresentamos um pouco das potências estéticas, éticas e temáticas que costumam dar o tom do Festival. Na Mostra Panorama Brasil, trazemos cinco filmes nacionais que sintetizam a proposta desta mostra, na Panorama Espírito Santo, focamos no cinema de mulheres e no cinema negro capixabas, e na Panorama Diversidade, nos concentramos na diversidade sexual e de gênero, entrelaçando filmes de diversas épocas para entender como foi se consolidando, com o passar dos anos, o cinema LGBT/queer nacional e local.

MOSTRA PANORAMA BRASIL Este programa busca traduzir a ideia central do festival, a partir de um olhar resistente acerca da realidade que nos cerca e de modos de existência não-hegemônicos, mas cuja força se impõe para mostrar como outros saberes e sabores podem dar novos e instigantes sentidos para a vida. Iniciamos a sessão com um clássico do documentário brasileiro dos anos 2000: Sweet Karolynne (Ana Bárbara Ramos, 2009) aborda a questão periférica nordestina (no caso, paraibana) para além dos estereótipos, conduzida por um duplo olhar feminino: o da realizadora e o da criança-protagonista. Aqui, irreverência, espontaneidade e uma percepção bastante peculiar do mundo e da finitude humana dão a tônica das ações e do discurso de Karolynne, menina que mora nos fundos do bar de sua família e cria galos como se fossem seus amigos em meio a pôsteres do Elvis, pontuada por sutis, porém precisas intervenções de montagem. Seguem-se dois trabalhos a tensionar as tradições formativas do povo brasileiro: Santos Imigrantes (Thiago Costa, 2018) resgata a religiosidade afrodescendente a partir da intervenção urbana e da


13 performance, com base nos dados de uma pesquisa sobre a intolerância religiosa no Brasil. Aqui, a palavra de Exu é disseminada pelas ruas da metrópole, a partir de um corpo-encruzilhada, negro e exusiástico que interage afrontosamente com a monumentalidade impessoal da arquitetura, redimensionando-a a seu sabor. Já em Porcos Raivosos (Isabel Penoni e Leonardo Sette, 2012), as mulheres da tribo Kuikuro encenam um mito indígena, num registro que, embora aparentemente documental, por vezes olhando diretamente pro espectador, também é diretamente afetado pela coreografia dos corpos filmados, numa forma bastante original de tentar dar conta da forma de narrar daquele povo. Embora assinado por uma dupla de realizadores não-indígenas, o curta é fruto de uma imersão de longa duração junto àquela comunidade, de modo que há muito de construção coletiva em seu processo, e a força da performance das mulheres filmadas tensiona a própria noção de autoria. Encerramos o programa com dois retratos de resistência de gênero no Brasil contemporâneo: No Devagar Depressa dos Tempos (Eliza Capai, 2015) vai até Guaribas, no sertão do Piauí, para mostrar uma revolução silenciosa que ocorre em famílias chefiadas por mulheres. Trata-se da cidade-piloto do projeto Bolsa Família,

No Devagar Depressa dos Tempos, documentário de Eliza Capai, exibido na Mostra Panorama Brasil - Foto: Divulgação


14 um lugar onde as marcas da escravidão ainda ecoam no presente, amalgamadas ao próprio patriarcado, e o filme investe na força da palavra dessas mulheres, nos depoimentos tomados na intimidade do lar para compreender as entrelinhas de uma profunda mudança, desencadeada pela saída dessas famílias da linha da pobreza. Já BR3 (Bruno Ribeiro, 2018), mostra a diversidade cotidiana de pessoas trans no complexo da Maré, no Rio de Janeiro, seus imaginários, afetos e modos de existir e amar. Aqui, a mise-en-scène é atravessada por uma forte componente midiática incrustada no cotidiano dessas pessoas: da reorganização do real nos moldes de um videoclipe da Beyoncé ao relato cativante de uma youtuber, passando pelo encontro sexual de um casal filmado com a delicadeza da primeira noite de um casal de protagonistas de telenovelas, a relação com a câmera se dá novamente na esfera da performance (como nos demais filmes do programa), aproximando de formas inesperadas câmera, personagens e espectadores.

MOSTRA PANORAMA ESPÍRITO SANTO Para traçar um breve mapa sobre diversidade e resistência no cinema capixaba, temos aqui uma seleção bastante pautada pelo olhar feminino (5 dos 7 títulos) e também pelo olhar negro (4 dos 7 títulos), atentando para o fato de que a diversidade de gênero e raça por trás das câmeras é um processo que só muito recentemente ganhou força aqui no Espírito Santo – são filmografias iniciadas há pouco mais de 30 anos, mas que cujo volume de produção só passou a aumentar substancialmente nos últimos dez ou quinze anos. Começamos com a poesia e a riqueza narrativa de Agrados para Cloê (Jeffe Pinheiro, 2007), filme revelado no Concurso de Roteiros do Festival de Vitória. O filme de Jeffe (então assinando como Jefinho Pinheiro), com sua verve neobarroca, tanto na visualidade quanto nos diálogos elaborados em versos, filia-se a uma


15 tradição fabulativa bastante presente no cinema negro brasileiro contemporâneo. O uso de elementos fantásticos e de uma mise-en-scène não-naturalista reforçam esse caráter fabular que envolve o espectador com diversos deleites sensórios.

Agrados para Cloê, de Jefinho Pinheiro, uma das produções da Mostra Panorama Espírito Santo - Foto: Divulgação

Há também toda uma ênfase tátil ao valorizar a água e a pele como elementos que conectam câmera, espectadores e o grupo de frequentadoras das sessões de hidroginástica em Água Viva (Bárbara Ribeiro, 2018). Alternando entre emergir e imergir, as conversas transitam entre questões de maternidade, trabalho e aposentadoria, entre outras questões cotidianas. Também partindo das águas, Vento Sul (Saskia Sá, 2014) empreende um outro mergulho, imaginado, nas memórias de sua protagonista, uma mulher de meia-idade que volta à cidade natal depois de um longo período ausente. Se as lentes de sua câmera fotográfica captam somente uma melancólica solidão arquitetônica no centro da cidade, a beleza de uma jovem garçonete atiça o desejo, reativando lembranças de uma juventude vivida no underground dos anos 1980 e 90, como se revelasse uma camada subterrânea pulsante por debaixo da estéril couraça urbana.


16 Um olhar para a tradição, mas fincado no presente e na valorização da participação feminina na cultura popular capixaba conduz Mulheres do Congo (Sandy Vasconcelos, 2014). Trata-se não somente de um trabalho realizado pela primeira diretora trans do Espírito Santo, mas também o primeiro documentário a investigar a importância das mulheres na mais tradicional manifestação folclórica da Grande Vitória – em especial o Congo de Roda D’Água, em Cariacica. Ao investigar os mistérios que rodeiam a origem do folguedo, as máscaras, a batida do tambor, o canto doce da corneta, Sandy também traça alguns paralelos com a própria cosmovisão feminina. A divisão da tela durante os depoimentos cria um segundo registro de afetos e sensações a transformar a própria percepção acerca daquilo que é dito. O programa também lança três olhares sobre as vivências de famílias negras e periféricas capixabas: Domingo (Henrique do Carmo, 2018), é uma suíte ligeira que explora, através do uso criativo da montagem, os ritmos, ambientes sonoros, texturas e afetos de uma reunião de final de semana na periferia da Grande Vitória, entre a alegria que emana dos corpos e a exaustão ao fim de mais um longo dia. Braços Vazios (Daiana Rocha, 2017) trata da questão do extermínio da juventude negra, frente à total omissão do Estado, sob a perspectiva de uma mãe solo de meia-idade. O contraste entre os espaços realistas cotidianos e a dimensão onírica e minimalista do quarto do filho ausente traduzem, junto à audiência, a sensação física de irrealidade que acompanha o luto da protagonista. Já Anchieta - Nossa História (Hegli Lotério, 2014), reaproxima passado e presente, num documentário em primeira pessoa que mergulha na memória familiar e da própria comunidade para recontar a história do time de futebol amador formado por seu pai e amigos há mais de 30 anos no bairro de Argolas, em Vila Velha. Temos aqui um processo que não só ressignifica as histórias ouvidas pela cineasta desde sua infância, a partir de dados sobre laços de


17 amizade e família que ainda não lhe eram acessíveis, mas também redimensiona o vínculo afetivo entre pai e filha.

MOSTRA PANORAMA DIVERSIDADE Para este programa, a ideia foi a de reunir curtas de diversas épocas que tratam de questões de diversidade sexual e de gênero para compreender algumas transformações que o cinema LGBTQIA+ brasileiro passou nessas últimas décadas. Abrimos o programa com Montação (Wan Viana, 2016), que nos mostra como o conceito de drag reinventa as fronteiras de gênero, constituindo um corpo híbrido, repleto de possibilidades lúdicas. No curta, acompanhamos seis homens e mulheres se montando, enquanto compartilham suas experiências como drag, antes de tomarem em bando as ruas da cidade à noite. Num filme que explora a dimensão háptica em diversos momentos, filmando como se a câmera muitas vezes roçasse os rostos sendo maquiados, buscando tornar íntimos espectador e imagem, há também uma outra invasão crucial do extracampo, quando o próprio diretor

Montação, de Wan Viana, documentário exibido na Mostra Panorama Diversidade - Foto: Divulgação


18 resolve se submeter à experiência de raspar os pêlos e submeter-se à aplicação de camadas de cosméticos, cola e purpurina. Em seguida, temos Tailor (Calí dos Anjos, 2017), que aborda o universo de um cartunista trans (Orlando Tailor) sob a ótica de um cineasta também trans. Trata-se de um documentário animado que utiliza da técnica de rotoscopia para ilustrar os depoimentos de pessoas trans sobre questões cotidianas e experiências compartilhadas. O programa prossegue com diversas nuances envolvendo os relacionamentos familiares: Selma Depois da Chuva (Loli Menezes, 2019) parte da história de uma mulher trans que construiu sua vida longe dos pais e que retorna para cuidar da mãe, que sofre de Alzheimer, para falar de reconciliações a princípio impossíveis, mas que ganham novos contornos em meio a memórias confusas, dores e culpas jamais esquecidas, e afetos que os fazem cicatrizar lentamente. Já O Olho e o Zarolho (Juliana Vicente e René Guerra, 2013) é uma fábula delicada sobre as novas configurações familiares LGBTQIA+ e sua inserção na sociedade, a partir do momento em que o filho de um casal de mulheres começa a fazer desenhos misteriosos, o que as leva a participar de um ambiente escolar usualmente hostil a quem não se enquadra nas regras da heteronormatividade. E Depois de Tudo (Rafael Saar, 2008) mostra o dia-a-dia de um casal de homens já idosos, num relacionamento ainda mantido dentro do armário. Aqui, cada novo encontro é bastante esperado, dada a impossibilidade de uma plena vida a dois, numa narrativa de tom realista e bastante intimista. Tanto O Olho e o Zarolho quanto Depois de Tudo surgem num momento de maior diversificação de personagens LGBTs no curta-metragem brasileiro, ampliando, respectivamente, a representação não-estereotipada de lésbicas e pessoas na terceira idade. Para discutir as transformações das formas de representar o desejo nesses 27 anos de Festival, trazemos dois filmes de momentos his-


19 tóricos distintos, mas reunidos sob uma atitude de confrontamento direto aos cerceamentos dos modos de vida que se recusam a caber em caixinhas. Primeiro, a irreverência camp libertina de One Man Show (Lobo Pasolini, 1991), herdeiro direto das provocações irônicas do New Queer Cinema e da geração de videoartistas e videoperformers dos anos 90. Exibido e premiado na primeira Mostra Competitiva de Vídeos do Vitória Cine Vìdeo, o filme é um dos marcos inaugurais da produção queer capixaba, e sua atitude satírica, calcada no chiste fez com que ele circulasse em festivais LGBT internacionais, como o Mix NYC (1996), numa época em que a afetação camp e o soft porn homoerótico ainda andavam lado a lado. Do outro lado, temos Peixe (Yasmin Guimarães, 2019), vindo de uma safra mais recente, num momento em que o cinema lésbico brasileiro finalmente se consolida no circuito de festivais e mostras por sua excelência estética e engajamento micropolítico, bem como pela profusão de olhares instigantes e ainda inéditos dentro do cinema brasileiro. Trata-se de um manifesto-sapatão sobre a liberdade e o prazer do corpo feminino, com direito a um final antológico, de alto poder catártico, transbordante, desejante. Filmes como Peixe nos fazem vislumbrar um futuro bastante promissor, capaz de incluir devidamente a homossexualidade feminina no cinema brasileiro, que até hoje nos deve uma safra efetiva de longas-metragens feitos por e para mulheres lésbicas. Encerrando o programa, um filme amazonense que fala de amizade, inquietude, melancolias e anseios, com bastante naturalidade e doçura: Manaus Hot City (Rafael Ramos, 2020). Trata-se de uma obra que entrecruza vários caminhos, trazendo novas questões à pauta do cinema LGBT/queer brasileiro, ao mesmo tempo que nos oferece todo um banquete de sensações ainda a serem exploradas por essa filmografia. Que o futuro nos aponte caminhos cada vez mais poderosos!


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Sweet Karolynne Ana Bárbara Ramos | PB, DOC, 2009, 15’ Roteiro: Ana Bárbara Ramos e Bruno de Sales Produção: Ana Bárbara Ramos e Gabriela Dowling Assistente de Produção: Christine Lucena Direção de Fotografia e Câmera: Igor Cabral Edição: Ely Marques Edição de som e mixagem: Guga S. Rocha Imagens Adicionais : Bruno de Sales Tradução para Inglês: Ana Araújo Produção: Las Luzineides Coletivo Audiovisual Co-produção: ABD-PB e Pigmento Cinematográfico

Elenco: Karolynne, Nice, Edmundo, Jarbas Sinopse: Nem Elvis, nem Jarbas morreram. É tudo uma grande invenção.


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Santos Imigrantes Thiago Costa | SP, FIC/EXP, 2018, 7’ Roteiro e Fotografia: Thiago Costa Assistente de Direção: Débora Visini Câmera e Edição: Camila Silva Trilha: Felipe Florentino Figurino: Lucas Andrade

Close: Weslley Baiano Sinopse: Você tem um minuto para ouvir a palavra de Exú?


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Porcos Raivosos Isabel Penoni e Leonardo Sette | PE, FIC/DOC, 2012, 10’ Produção: Carlos Fausto, Takumã Kuikuro Direção de Arte: Isabel Penoni, Leonardo Sette Empresa(s) produtora(s): Aikax, Lucinda Filmes, Museu Nacional - DKK Edição de som: Leonardo Sette Produção Executiva: Carlos Fausto, Takumã Kuikuro

Elenco: Aulá Kuikuro, Aunalu Kuikuro, Jauá Kuikuro, Kehesu Kuikuro, Messa Kuikuro, Milu Kuikuro, Tahumã Kuikuro, Tanu Kuikuro, Tuhupé Kuikuro Sinopse: Um grupo de mulheres decide fugir ao descobrir que seus maridos se transformaram misteriosamente em porcos furiosos.


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No Devagar Depressa dos Tempos Eliza Capai | SP/ES/PI, DOC, 2015, 25’ Produção: Eliza Capai Produção Executiva: Agência Pública e Eliza Capai Direção de Fotografia: Eliza Capai Montagem: Eliza Capai Desenho Sonoro: Kira Pereira Mixagem: Damião Lopes Correção de Cor: Otavio Almeida Empresa Produtora: Usina de Imagem

Sinopse: Guaribas, ali bem do lado da Serra das Confusões, sertão do Piauí: onde o tempo da escravidão ainda é frase no presente, algo começa a mudar. Conversando com mulheres de duas gerações, escutamos como era, como é e como pode ser a vida de quem acaba de cruzar a linha da miséria. De um lado seca, alcoolismo, violência familiar e fome. Chegada do Estado, renda, educação e auto-estima do outro. No embate do que era e do que começa a ser, vislumbramos um tempo de rápidas mudanças no devagar daqueles tempos.


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BR3 Bruno Ribeiro | RJ, FIC, 2018, 23’ Roteiro e Montagem: Bruno Ribeiro 1º Assistente de Direção: Victor Rodrigues Produtora Executiva: Laís Diel Diretoras de Produção: Laís Diel e Mariana de Melo Assistente de Produção: Amina Sophia Produtora Local: Geo Abreu Diretor de Fotografia: Thais Faria Operador de Steadicam: Thomás 1º Assistente de Câmera: Nelson Teodoro 2º Assistente de Câmera: Lívia Lacorte

Técnico de Som: Felipe Carneiro Microfonista: Gustavo Silveira Diretora de Arte: Letícia La Rocca Consultor de Arte: Hyan Victor Produtor de Arte: Carlos Marra Assistentes de Arte: Bianca Mansur Lucas Octaviano Continuísta: Mariana Moron Editor e Mixador de Som: Bernardo Uzeda Mototáxis: Diogo Elizeu Junior Preparador de Elenco: Matheus Bizarrias

Elenco: Dandara Vital, Johi Farias, Kamyla Galdeano, Kastelany Silva, Leona Kalí, Luciana Vasconcellos, Mia Divva Sinopse: Kastelany chega na casa da Luciana. Mia se prepara para sair à noite com suas amigas. Dandara transa com Johi pela primeira vez.


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Agrados para Cloê Jefinho Pinheiro | ES, FIC, 2007, 21’ Roteiro: Jefinho Pinheiro Direção de Produção: Alice Moura e Simone Alvim Produção Executiva: Beatriz Lindenberg e Lucia Caus Direção de Fotografia: Patrick Tristão Direção de Arte: Raquel Baelles

Figurino: Paula Ferreira Som Direto: Constantino Buteri Montagem: Gabriele Stein e Jefinho Pinheiro Trilha Sonora: Humberto Ribeiro e Marcel Dadalto Produtoras: Inst. Marlim Azul e Galpão Produções Co-produção: Mirabólica

Elenco: Leonardo Patrocínio, Francisco Solano, Janine Correa, Celsão Rodrigues, Wederson Fernandes, Lilian Menenguci, Tama Van Den Berghe Sinopse: Cloê vive aprisionada pelos ponteiros dos relógios de Domênico. Rubens faz uma promessa para a Santa: entregar os “agrados” para a prometida do tio Afonso. Entre a espera de um casamento e o alcance da promessa, a natureza anuncia os seus pequenos milagres através das “formigas bordadeiras”. Com uma narrativa poética, belas paisagens e uma abordagem lúdica, o filme fala de fé e do tempo.


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Água Viva Bárbara Ribeiro | ES, DOC, 2018, 13’ Pesquisa: Lissa Tinôco e Bárbara Ribeiro Produção: Juliana Gama Assistente de Direção: Diego Nunes Fotografia: Shay Peled Captação de Som: Gisele Bernardes e Sann Gusmão Assistente de Fotografia: Tati W Franklin Assistente de Produção: Lissa Tinôco 2°Assistente de Direção: Hegli Lotério Assistente de Set: Juan Gonçalves Montagem/Colorização: Ramon Zagoto Desenho de Som e Mixagem: Gisele Bernardes e Sann Gusmão Design: Herbert Fieni

Sinopse: Mulheres de uma turma de hidroginástica conversam submersas sobre questões femininas da terceira idade. Maternidade, trabalho e aposentadoria são alguns temas abordados.


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Domingo Henrique do Carmo | ES, DOC, 2018, 5’ Roteiro, Edição e Produção: Henrique do Carmo

Elenco: Jociara Fabiano, Luiz Carlos Rodrigues, Leila Rodrigues, André Rodrigues,Antônio Rodrigues, Maria Aparecida do Carmo, Gabriel Rodrigues, Gildson Alves, Júnior Silva, Selena Cabral, Davi Cezar Rodrigues, Alice Rodrigues, Bruno Rodrigues, Luiza Rodrigues Sinopse: O retrato de um final de semana em família na periferia capixaba.


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Mulheres do Congo Sandy Vasconcelos | ES, DOC, 2014, 16’ Roteiro: Sandra Temistocla Direção de Fotografia: Sandy Vasconcelos Produção Executiva: Sandra Temistocla e Sandy Vasconcelos Direção de Produção: Theo Simon e Thelma Lopes

Depoimentos: Maria Cardoso (Lico), Maria da Penha (Darinha), Benedita Cardoso (Bibibil), Maria Rodrigues (D. Maria), Delizete da Silva ( Zezé), Eronilza (Nilza), Fabiana Siqueira Vieira Sinopse: O congo é uma das principais manifestações culturais de Cariacica. A batida do tambor, o canto doce da corneta e a origem do congo são cercados de mistérios, assim como o surgimento da mulher.


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Braços Vazios Daiana Rocha | ES, FIC, 2017, 16’ Roteiro e produção: Daiana Rocha Assistente de Direção: Heitor Perpétuo Produção Executiva: Adriano Monteiro Direção de Fotografia: Sara Barahona Assistente de Fotografia: Rafael Oliveira Direção de Arte / Figurino: Ana Pagani Som Direto: Lygia Machado Assistente de Áudio: Láisa Freitas Trilha Sonora Original: Esteban Viveros Desenho de Som: Esteban Viveros

Montagem: Carol Covre Edição de Som: Gisele Bernardes Mixagem: Gisele Bernardes Color Grading: Ramon Zagoto Assistência de Produção: Adriano Monteiro / Leandra Barros Produção de SET: Ronan Aguiar Preparação de Elenco: Heitor Perpétuo / Láisa Freitas

Elenco: Léia Rodrigues, Sandra Chagas Sinopse: Vera é uma mãe que perdeu seu filho, Carlos, de forma trágica. Ela não consegue se recuperar do trauma e se apega às lembranças numa tentativa de amenizar seu sofrimento. Até que um dia Vera encontra um bilhete que a obriga a fazer uma escolha.


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Vento Sul Saskia Sá | ES, FIC, 2014, 13’ Roteiro e Produção Executiva: Saskia Sá Direção de Fotografia: Ursula Dart Assistente de Direção: Alexandre Serafini Direção de Produção: Alana Ribeiro Direção de Arte: Mônica Nitz Som Direto: Alê Toledo Edição e Finalização: Rafael Balducci Edição de Som e Mixagem: Constantino Buteri Direção de Som e Trilha: Cid Travaglia Design Gráfico: Herbert Pablo

Elenco: Ana Murta, Rebecca de Sá Sinopse: Uma mulher retorna a sua cidade após anos fora. “Volto à Vitória num dia de sol de junho, quando o vento vira sul e o céu se torna azul. Volto sem nunca ter saído. Vitória... Minha ilha. A cidade que nunca foi minha.


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Anchieta – Nossa História Hegli Lotério | ES, DOC, 2014, 15’ Roteiro: Hegli Lotério e Edson Rangel Produção: Sidnei Sampaio Fotografia: Yuri Vianna Trilha Sonora: Caio J. R. Maciel e Gérard Pereira e Marcelo de Oliveira Montagem: Juliana Monteiro Som: Edson Rangel Edição de Som: Marcus Neves e Juliana Monteiro

Depoimentos: Zé Carlos, Neuzir, Turulha, Cristina, Rosangela, Zeca, Luiz Carlos Sinopse: Time de futebol amador ativo há mais de 30 anos no bairro de Argolas, em Vila Velha, no Espírito Santo, Anchieta desperta em Hegli Lotério, filha de um de seus fundadores, a curiosidade quanto às histórias que tanto escutou na infância. Nesse contexto, o documentário é uma busca por esses fragmentos que culminam em outras histórias de laços de amizade e família.


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Montação Wan Viana | ES, DOC, 2016, 15’ Produção e Roteiro: Wanderson Viana Produção de Set e Assistente de Direção: Ana Pagani Fotografia e Câmera: Shay Peled Som Direto e Edição de Som: Láisa Freitas Montagem e Finalização: Tati W. Franklin Trilha Sonora: Ricardo Ton

Depoimentos: Drag Queens: Chlöe B. Adams (Vinícius Sena), Flávio Pontes (Iza Legaliza), Jacky (Morgan Puff Key) Sinopse:‌‌Dentre‌‌tantas‌‌possibilidades,‌‌ser‌‌drag‌‌ainda‌‌é‌‌exacerbar‌ ‌o‌ ‌feminino.‌ ‌No‌ ‌curta,‌ ‌seis‌ ‌indivíduos‌ ‌se‌ ‌reúnem‌ ‌para‌ ‌um‌ ‌dia‌ ‌de‌ ‌muita‌‌maquiagem,‌‌brilho‌‌e‌‌reflexões‌‌sobre‌‌seus‌‌próprios‌‌corpos‌ ‌e‌ ‌tudo‌ ‌o‌ ‌que‌ ‌deles‌ ‌transbordar‌ ‌a‌ ‌partir‌ ‌da‌ ‌Montação.‌ ‌


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Tailor Calí dos Anjos | RJ, DOC, 2017, 10’ Roteiro: Debora Guimarães e Tomas Cali Participação no Roteiro: Letícia Simões Produção: Suma Filmes Produção Executiva: Bem Medeiros Direção de Arte, Animação e Storyboard: Raissa Laban Direção de Fotografia: Bia Marques Assistente de Câmera: Cauê Monteiro Figurino: Daniela Avellar Técnico, Mixagem e Edição de Som e Ruidagem: Gustavo Ruggeri Edição: Vinicius Nascimento Colorização: David Argentino Ilustração: Stephany Trindade e Jonathan Menezes Participação na Ilustração: Camila Fernandes, Nicole Schlegel, Sarah

Karine, Calí dos Anjos, Alexis Auler, Marina Ávila, Caio Santos, Andrea Garcia, Felipe Pinheiro Araujo, Raissa Laban, Claudia Bolshaw / N.A.D.A Puc-Rio, Lara Pogrebinschi, Marina Barrocas, Mei Klein, Bruno Biolchini, Matheus Amorim, Melissa Matos, Isabella Guaríglia Animação: Raissa Laban Participação na Animação: Bê Leite, Vivian Lameu, Thiago Macedo, Marina Ávila, Rafael Drelich, Hugo Benchimol Trilha Musical: Natalia Carrera Trilha Adicional: “Vou Cortar Sua Pica” Pagu Funk Libras - Alessandra Ramos Finalização: Bê Leite e Raissa Laban Ator (filho): Nico Silva Consultoria: Leonardo Peçanha

Elenco: Orlando Tailor, Tertuliana Lustosa, Bernardo Gomes, Miro Spinelli Sinopse: Tailor é um cartunista transgênero que compartilha em sua página na internet experiências de outras pessoas trans e seus desafios dentro da sociedade. Um documentário animado sobre pessoas trans, feito por pessoas trans. Baseado na Obra do Cartunista Orlando Tailor.


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Selma Depois da Chuva Loli Menezes | SC, FIC, 2019, 12’ Roteiro: Renato Turnes Produção Executiva: Ana Paula Mendes e Loli Menezes Direção de Arte e Figurinos: Loli Menezes e Maria Fernanda Bin Direção de Fotografia: Kike Kreuger Desenho de Som: Mateus Mira Som Direto: Ju Baratieri Montagem: Cíntia Domit Bittar Trilha Sonora: Vanusa (Manhãs de Setembro) Direção de Produção - Ana Paula Mendes Assistência de Produção - Alline Goulart

Assistência de Arte e Figurino - Bia Silva Cenotécnico - Chico Caprário Platô - Marcelo Horelha Maquiagem - Gabriela Brandão Catering - Dama Farina Assistente de Catering - Cleide Kühn Assistência de Câmera - Marcos Vinícius D'Elboux Logger e Making Of - Marco Martins Maquinária - Nicole Michele Elétrica- Deyvid M. da Silva Efeitos Especiais - Leandro Lunelli

Elenco: Selma Light, Amélia Bittencourt Sinopse‌:‌ ‌Selma‌ ‌é‌ ‌uma‌ ‌mulher‌ ‌trans‌ ‌que‌ ‌construiu‌ ‌sua‌ ‌vida‌ ‌afastada‌ ‌da‌ ‌família.‌ ‌Um‌ ‌dia‌ ‌ela‌ ‌recebe‌ ‌um‌ ‌chamado‌ ‌para‌ ‌ir‌ ‌ao‌ ‌encontro‌ ‌de‌ ‌sua‌ ‌mãe‌ ‌idosa,‌ ‌que‌ ‌sofre‌ ‌de‌ ‌Alzheimer‌ ‌e‌ ‌precisa‌ ‌de‌ ‌tratamento.‌‌Nesse‌‌encontro,‌‌perdidas‌‌entre‌‌memórias‌‌confusas,‌ ‌as‌ ‌duas‌ ‌mulheres‌ ‌lembram‌ ‌dores‌ ‌e‌ ‌desejos‌ ‌esquecidos,‌ ‌e‌ ‌revisitam‌ ‌culpas‌ ‌e‌ ‌afetos‌ ‌perdidos.‌ ‌


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O Olho e o Zarolho Juliana Vicente e René Guerra | SP, FIC, 2013, 16’ Roteiro: René Guerra Produção: Juliana Vicente Direção de Fotografia: Julia Zakia Direção de Arte: Isabel Xavier Direção de Produção: Cristina Alves Produção Executiva: Juliana Vicente

Elenco: Pedro Goifman, Carolina Freitas da Cunha, Juliana Vicente, Ângelo Brandini, Renato Gama, Léa Garcia Sinopse: Matheus tem duas mães. Sua mãe número 1 entra em crise ao ver os seus desenhos. O Olho e o Zarolho é uma fábula sobre a família moderna.


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Depois de Tudo Rafael Saar | RJ, FIC, 2008, 12’ Roteiro: Rafael Saar Direção de Produção: Érico Silva Muniz Direção de Fotografia: Nicolas Contant Direção de Arte: Luciano Fernandes Ass. de Direção e Figurino: Maria Fernanda Corrêa Som Direto Eduardo Silva Edição: Rafael Saar Edição de Som e Mixagem: Eduardo Silva

Elenco: Nildo Parente, Ney Matogrosso Sinopse: Depois da despedida, a espera. Depois da espera, a volta. Depois de tudo, o que mais querem é estar juntos e um dia basta para esperarem pelo próximo.


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One Man Show Lobo Pasolini | ES, EXP, 1991, 1’ Câmera: Rosana Paste Edição: Valéria Falqueto

Performer: Lobo Pasolini Sinopse: One-Man Show: Vídeoperformance, pioneiro da videoarte no ES, representante de uma era quando o ethos era “uma ideia na cabeça e muita atitude na execução.”


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Peixe Yasmin Guimarães | MG, FIC, 2019, 17’ Roteiro e Produção: Yasmin Guimarães e Gabriel Quintão Direção de Fotografia: Lorena Cardoso Direção de Arte: Bruna Maynart, Gabriela Rezende e Lorena Maruch Figurino: Camila Duarte Maquiagem: Linda Paulino Make Up Direção de Atores: Camila Botelho e Leonardo Branco Som Direto: Marina Meira e João Tito Desenho de Som: Yara Tôrres e Pedro Durães Eletricista, Maquinista e Contra-regra: Guilherme Gnomo Assistente de Direção: Gabriel Quintão Direção de Produção: Luiz Malta (Luigi Maltese)

1º Assistente de Câmera: Diogo Sousa 2º Assistente de Câmera: Felipe Amorim Still: Francisco Pereira Assistentes de Produção: Cecília Queiroz, Celina Barbi e Daniela Cambraia Assistente de Figurino: Diego Fernandes Maquiagem Adicional: Bruna Comini Logger: Luciano Correia Continuísta: Clara Olac Edição e Montagem: Gabriel Quintão, Yasmin Guimarães e Juliana Antunes Tradução: Clarissa Xavier Legendagem: Bea França Edição e Mixagem de Som: Pedro Durães Colorista e Finalização: João Gabriel Riveres Sem Rumo - Projetos Audiovisuais Arte Gráfica: Daniel Bretas

Elenco: Camila Botelho, Leonardo Branco Sinopse: Marina é uma jovem mulher que trabalha em Belo Horizonte realizando entregas com a sua bicicleta.


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Manaus Hot City Rafael Ramos | AM, FIC, 2020, 13’ Roteiro: Rafael Ramos Diretora de Produção: Karine Pantoja Assistente de Direção: André Cunha Produção: Lucas Aflito, Lucas Carvalho, Wallace Diretor de Fotografia: Rafael Ramos Diretor de Arte: Francisco Ricardo Figurinista: Oberdan Nogueira Montagem: Maynard Stuart Farrell Técnico de Som Direto: Taiara Guedes Edição de Som: Lívia Limeira e Taiara Guedes Trilha Sonora e Mixagem de Som: Lívia Limeira Legendas: Manuela Tavares Finalização: Leonardo Tavares

Elenco: Maria do Rio, Frank Kitzinger, Vanessa Moraes, Denis Lopes Sinopse: Dois amigos se encontram para comer um bodó. A conversa entre eles percorre as cores e os cheiros das casas, no calor da cidade. Alguém fica e alguém parte.


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Memória Festival


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Festival de Cinema de VItória: 27 anos de diversidade, incLusãO e pioneirismo Por Miguel Filho O ano era 2000, já era noite em Vitória, Espírito Santo. O cenário era um tradicional cinema no centro da cidade. Naquela sala escura acontecia a sétima edição do então Vitória Cine Vídeo, hoje conhecido nacionalmente como Festival de Cinema de Vitória. Sala lotada e em uma das cadeiras uma jovem roteirista esperava o resultado mais aguardado por ela naquele evento. Uma noite que acabaria em comemoração e o começo de uma nova caminhada. Pois, ao ganhar o prêmio de melhor roteiro, ela ainda não imaginava como a própria história seria influenciada por aquele festival. E assim ela seguiu pelos anos sendo atravessada pelo evento. Do prêmio de roteirista, passou para o reconhecimento como realizadora; e de realizadora premiada, hoje empresta seu olhar como curadora. Um olhar que foi parte construído também através das possibilidades que o Festival proporciona.

Exibição do Filme Do Dia em que Mudamos a Rota, de Diego Nunes, na 4ª Mostra CInema e Negritude, no 26FCV - Foto: Sérgio Cardoso


46 Essa é só uma história entre tantas outras que encontramos durante os 27 anos do Festival de Cinema de Vitória. Um evento que durante a sua trajetória é muito mais do que só uma sucessão de mostras audiovisuais, mas sim um participante ativo na formação cultural e artística de milhares que passaram e passam por suas salas. Um cultivador de ideias e aliado do pensamento criativo e crítico. Um personagem importante da história de Vitória, mas principalmente importante para os que habitam ou passam pela ilha. A história do festival teve início em meados dos anos 90, quando a retomada do cinema brasileiro se tornava uma realidade. Junto com essa nova leva do audiovisual nacional veio a multiplicidade dos olhares. E, a cada ano, o Festival de Cinema de Vitória foi se tornando espelho e semeador de uma tendência entre realizadores independentes de retratar a diversidade presente nos múltiplos Brasis'. A realizadora Saskia Sá é uma das testemunhas dessa evolução. Hoje curadora da Mostra Mulheres no Cinema, ela é a jovem roteirista que deu início a este texto. Para Saskia, com o tempo, as produções apresentadas na mostra foram ganhando novas visões e formatos.

Saskia Sá, curadora da mostra Mulheres no Cinema, recebendo o Troféu Vitória, no 25FCV - Foto: Sérgio Cardoso


47 “A cada ano, vêm filmes muito diferentes. Os olhares das mulheres dentro do cinema e sobre as suas temáticas foram mudando desde que a mostra começou. Já teve ano com muitos filmes falando sobre violência contra mulher. Eu sinto que estes foram os filmes das primeiras edições da mostra. Eram filmes que procuravam tocar realmente o dedo na ferida de coisas muito urgentes. Aos poucos essas temáticas foram se tornando mais diversas. Ganhando novas nuances”, pondera a curadora. Uma percepção que Saskia compartilha com Thaís Souto Amorim, curadora da Mostra Cinema e Negritude. Há três anos dividindo essa responsabilidade com o jornalista Leo Vais, ela observa que as produções têm abraçado as diferentes existências, mesmo quando inseridas em um mesmo contexto social ou racial. Thaís acredita que há um desejo entre os realizadores e também da curadoria de mostrar a diversidade existente dentro de uma comunidade. “Nós não somos únicos. Nós não somos iguais. É importante mostrar nossas individualidades. Uma oportunidade de conhecer outros nichos, outros lugares que, se não fosse pelo festival, provavelmente a gente nunca veria.”

Thais Souto Amorim, entre o realizador Diego Nunes e o parceiro de curadoria Leonardo Vais, durante o debate da Mostra Cinema e Negritude, no 26FCV - Foto: Sérgio Cardoso


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Flavia Candida, curadora do Festival de Cinema de Vitória - Foto: Divulgação

E, por falar em outros lugares, é do Rio de Janeiro que vem um dos olhares que compõem a curadoria da Mostra Competitiva Nacional de Curtas. Flavia Candida atuava em uma mostra de curtas da capital carioca quando escutou pela primeira vez sobre o festival capixaba. E foi exatamente essa busca pela diversidade que a fez se interessar pelo evento. Um interesse que se transformou em diálogo e logo firmou-se como parceria. Primeiro como realizadora participante, depois como jurada e em seguida como curadora. E foi no exercício dessas funções que Flávia observou e constatou a identidade diversa que sempre foi uma das características do festival. “Nessa primeira vez que eu fui jurada, eles tinham recém criado a Mostra Corsária e já foi uma mudança importante em termos curatoriais. Você abrir para curta-metragens com mais ousadia estética, que saem um pouco do eixo e do senso-comum. Isso apontou vários talentos e tem até hoje um grande prestígio na cena.” E se entre a cena cinematográfica, o Festival de Cinema de Vitória adquiriu reconhecimento por seu aspecto plural e democrático, entre o público que passa pelas suas salas no decorrer desses 27


49 anos, o evento se tornou uma verdadeira janela para múltiplos universos, formando não somente espectadores do audiovisual brasileiro, mas também cidadãos que se reconhecem inseridos no cenário cultural do país. “Eu sou de uma comunidade periférica e essa possibilidade de entrar no teatro, entrar no museu, no cinema, não são cotidianas para grande parte da população. Então uma imagem que me marca muito são aquelas crianças de escola pública. Os ônibus lotados com essas crianças chegando no festival e também as pessoas no geral podendo entrar no Teatro Carlos Gomes. Em alguns casos as pessoas entram nem com a intenção de assistir o filme, mas porque elas nunca tinham visto as portas do teatro tão abertas. Elas entram pra olhar o interior e acabam ficando pra sessão”, pontua Thaís Souto Amorim. Apresentar o novo. Uma característica que cabe perfeitamente no “currículo” do festival. Um evento que acompanhou as mudanças e evoluções do seu tempo. Como o importante papel da Mostra Quatro Estações para a construção de uma sociedade mais tolerante e consciente dos direitos coletivos e individuais. "A Mostra Quatro Estações é de extrema importância.

Minha História É Outra, de Mariana Campos, escolhido Melhor Filme do Júri Técnico na 5ª Mostra Mulheres no Cinema, no 27FCV - Foto: Divulgação


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Sem Asas, de Renata Martins, Melhor Filme do Júri Técnico na 4ª Mostra Cinema e Negritude, no 26FCV - Foto: Divulgação

Ela já tem um público cativo que aguarda a cada edição, ansiosamente, pelas novidades em filmes realizados por pessoas LGBTQIA+. No mundo ideal ela não seria necessária. Nós teríamos políticas públicas de incentivo a essas produções e poderíamos ver mais filmes LGBTQIA+ espalhados por toda programação. Ainda não chegamos nesse lugar, então a Quatro Estações segue firme e forte reafirmando-se como espaço de liberdade e resistência.", enfatiza Flavia Candida. A curadora acredita que esse papel social do evento é tão valioso quanto a formação artística. Formação essa que, segundo Saskia Sá, foi de extrema importância para o desenvolvimento da cena audiovisual capixaba. Um exemplo, segundo Saskia, é ela mesma. Do primeiro roteiro, feito de forma coletiva, até o último trabalho audiovisual, o Festival de Cinema de Vitória foi um aliado constante. “A minha história com o cinema está intimamente relacionada com o Festival de Vitória. Ele impulsionava a gente a tentar, experimentar. A Lúcia e a Bia foram guerreiras de criar este festival e a gente também, né! Inventando a roda com o que a gente tinha na mão. Fazendo defeito virar efeito.” E o efeito no tempo foi a consolidação do Festival de Cinema de Vitória como um expoente do novo. Um festival que é um registro histórico do cinema produzido no Brasil, mas que também


51 aponta para o novo. “Por exemplo, no ano passado, as MulheresEspírito (Yãmĩyhex: as Mulheres-Espírito, de Sueli Maxakali e Isael Maxakali (DOC, MG, 76’) passou no festival. Um filme que agora tá todo mundo correndo atrás e já estava lá no Festival de Cinema de Vitória no ano passado", aponta Flavia Candida. Outro ponto importante dessa impulsão da diversidade é o fato dos filmes nunca ficarem presos em determinada mostra por causa de “bolhas” estéticas ou temáticas, como bem ilustra Thaís Souto Amorim. "Às vezes, muitos filmes que poderiam ser primeiramente identificados como pertencentes à nossa mostra vão para outras janelas. Muitos filmes com temáticas raciais ou pensados e dirigidos por diretores negros estão em outras mostras. E a gente não perde com isso. A gente sabe que é importante ter na mostra de mulheres filmes sobre mulheres negras. Na mostra principal, ter filmes com essas temáticas.” Uma verdadeira intercessão de ideias, visões e conhecimento. Um festival que é um importante pilar para a continuidade do fazer cinema no país. Um ponto de encontro entre realizadores e público; um formador de plateia para além do convencional. Mas principalmente um local onde as intenções ganham força para se tornarem projetos. Onde o cinema ganha fôlego e encontra os personagens reais que vão dar continuidade ao ofício de indagar, divertir e encantar o olhar brasileiro.

Tea for Two, de Julia Katharine, escolhido Melhor Filme do Júri Técnico da 9ª Mostra Quatro Estações, no 26FCV - Foto: Divulgação


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Formação


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Laboratório Criativo – Tecnologias Sociais nos Festivais de Cinema O Laboratório Criativo – Tecnologias Sociais nos Festivais de Cinema é um workshop online e gratuito, dividido em três aulas, sobre as etapas de construção de um festival de cinema. As inscrições aconteceram via formulário Google e a seleção dos participantes aconteceu por ordem de inscrição. A primeira aula foi sobre Produção Executiva. Ministrada pela advogada e produtora executiva do Festival de Cinema de Vitória e diretora do Instituto Brasil de Cultura e Arte (IBCA), Larissa Delbone, a videoaula mapeou com os inscritos, que interagiram com perguntas, os caminhos para a realização de uma produção executiva descomplicada.

Segundo Encontro do Laboratório com o facilitador Fran de Oliveira - Foto: Divulgação


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boR t R Riativ E L As So A s s es ivaIs de a R A or RI 3 hoR s 20 00 O segundo encontro foi ministrado pelo produtor e realizador, Fran de Oliveira, que jogou luz sobre o papel da Produção na construção de um Festival. Entre os assuntos abordados, ele falou sobre captação de recursos e o planejamento do evento. Fran também destacou o processo de reformulação da mais recente edição do Festival de Cinema de Vitória que, em 2020, precisou se adaptar para o formato online em função da pandemia do Covid-19. Fechando o laboratório, o produtor e projetista cultural Guilherme Rebêlo falou sobre Mobilização Comunitária. Entre os temas que ganharam destaque, as várias formas de comunicação usadas para angariar o público para o evento. Desde o uso de plataformas eletrônicas, como as redes sociais e e-mail marketing, passando pelo meio mais tradicional com a assessoria de


55 imprensa, abordagens corpo a corpo no período pré-pandemia, além de formas alternativas que se adaptam dependendo da região em que o evento será realizado. Os encontros aconteceram via Google Meet e Youtube para 20 inscritos e 100 ouvintes. O público alvo da formação foram produtores, artistas e articuladores culturais, além do público em geral interessado no tema.

FACILITADORES Larissa Delbone é advogada e produtora executiva do Festival de Cinema de Vitória e diretora do Instituto Brasil de Cultura e Arte. Atua em projetos na área da cultura, artes, assistência social e direitos humanos. Fran de Oliveira é produtor, realizador e editor no Festival de Cinema de Vitória há mais de 20 anos. Também atua como orientador em oficinas de animação, além de ser programador e animador audiovisual. Guilherme Rebêlo é produtor e projetista cultural. Com 10 anos de experiência, atua em projetos nas áreas da artes, cultura e direito humanos com foco em difusão e formação de plateia. Atualmente desenvolve projetos no Instituto Brasil de Cultura e Arte, como o Festival de Cinema de Vitória. Dirigiu a produção de filmes como Pássaro Sem Plumas e Zacimba Gaba – Um Tiro no Escuro, ambos com direção de Tati Rabelo e Rod Linhales. No grupo Assédio Coletivo, desenvolveu projetos como Festival Tarde no Bairro, Webséries e Reviravolta Coletiva.


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O Festival e a formação de novos olhAres Se a difusão do cinema brasileiro é um dos pilares do Festival de Cinema de Vitória, a formação técnica é com certeza outra base fundamental do evento. Durante os 27 anos do Festival, as oficinas da área cinematográfica estiveram presentes em praticamente todas as edições. Formações em direção, roteiro, interpretação, luz e demais áreas do audiovisual que colaboraram com o desenvolvimento de profissionais e da cena cinematográfica no Espírito Santo. “Os pilares do Festival são a divulgação do cinema brasileiro e a formação. O Festival de Cinema de Vitória tem a preocupação em formar uma cadeia produtiva do audiovisual e colocar estudantes em contato com profissionais da área, como Bigode, José Roberto Torero e Ruy Guerra”, explica a diretora do Festival, Lucia Caus.

Oficina de Interpretação: Estado e Criação de Cena com Silvero Pereira, no 26FCV - Foto: Renato Cabrini


57 E este contato é, por muitas vezes, o responsável pelo desenvolvimento de carreiras da área no Espírito Santo. O realizador Pedro Cabral é um desses profissionais que teve o Festival de Cinema de Vitória como um impulsionador de carreira. Após fazer uma oficina de realização em cinema e vídeo, ministrada por Luiz Carlos Lacerda (Bigode), o então videomaker, que atuava exclusivamente em eventos, criou uma rede de relacionamento e deu seus primeiros passos na área cinematográfica. “A oficina, pra mim, foi um pontapé inicial muito grande. Passei a conhecer muita gente por causa da oficina. Aí comecei a trabalhar de assistente em alguns trabalhos até eu aprender mais e ter minha própria carreira.”, conta o realizador. Como Pedro, inúmeras pessoas passaram pelas formações do Festival, que tiveram início já em sua 4ª edição, no ano de 1997. Um marco para o Estado que, na época, ainda não possuía uma graduação em cinema. "O papel da formação é o de contribuir com o mercado capixaba e o mercado nacional de cinema. A gente precisa reciclar os profissionais e entender que o cinema precisa ter sempre novos olhares.", Informa Lucia Caus. E por falar em profissionais, foram vários aqueles que compartilharam conhecimento e experiência com o público capixaba. Entre eles, o realizador e roteirista José Roberto Torero. Parceiro de longa data do Festival de Cinema de Vitória, ele acredita que o evento capixaba oferece ao público oportunidades que deveriam ser oferecidas em todos os festivais de cinema. "Deveria ser obrigatório em todo festival ter essa parte educativa, de formação. Os festivais são locais na maioria das vezes. Então é importante a criação de núcleos que formam profissionais." Segundo Torero, é perceptível a evolução da área cinematográfica capixaba durante os 27 anos do Festival. "Resultado claro, né!


58 Você olha a produção local de Vitória. O que ela aumentou nos últimos vinte e poucos anos é gigantesco." Um trabalho de formação profissional e também de formação de público. Um exemplo claro dessa preocupação do Festival de Cinema de Vitória é o Festivalzinho, que exibe filmes para crianças com intuito de formar culturalmente e pedagogicamente. "O Festivalzinho cumpre o papel de ser uma extensão acadêmica através do lúdico. É um projeto social que se utiliza da arte para alcançar seu objetivo", afirma a produtora executiva do Festival, Larissa Delbone. E com esse objetivo de colaborar a cada dia para o desenvolvimento do audiovisual no Espírito Santo, o Festival de Cinema de Vitória segue seu compromisso de formar novos profissionais para o cinema do Estado. Para que a arte seja fonte de inspiração, de trabalho e, principalmente, desenvolvimento social.

Registro do 20º Festivalzinho de Cinema de Vitória, em 2019 - Foto: Claudio Postay


59 FICHA TÉCNICA Festival de Cinema de Vitória - Panorama Diversidade 27 Anos Instituto Brasil de Cultura e Arte - IBCA Direção Lucia Caus Coordenação Executiva Larissa Delbone Fran de Oliveira Curadoria Mostras Erly Vieira Jr Waldir Segundo Produção Gabi Nogueira Guilherme Rebêlo Renata Moça Comunicação e Redes Sociais Miguel Filho Leonardo Vais Assessoria de Comunicação RF Assessoria Conferência de Cópias Fran de Oliveira Identidade Visual e Ilustração Hélio Coelho Design gráfico Gustavo Binda Programação do Site Sílvio Alencar

Revista Panorama Projeto Editorial Guilherme Rebêlo Leonardo Vais Produção Gabi Nogueira Guilherme Rebêlo Leonardo Vais Miguel Filho Renata Moça Textos Erly Vieira Jr Leonardo Vais Miguel Filho Waldir Segundo Fotos Renato Cabrini Sérgio Cardoso Cláudio Postay Identidade Visual e Ilustração Hélio Coelho Design gráfico Gustavo Binda Vitória-ES | Março 2021


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REALIZAÇÃO

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Instituto Brasil de Cultura e Arte - IBCA REALIZAÇÃO Rua Professora Maria Cândida da Silva, 115 - Bairro República Vitória, ES - CEP 29070-210 Secretaria da Cultura www.galpaoproducoes.com.br WhatsApp: (27) 999713098

Secretaria da Cultura

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