Revista Tenda

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A cultura é um ponto de conexão com o mundo. Ela tem o poder de nos aproximar do nosso entorno e nos unir com o que acontece em diferentes lugares. Conectar também é a proposta da TendaLab, projeto que pauta nos artistas do Espírito Santo a dinâmica da produção cultural. O festival online surge como uma possibilidade de fomento e de visibilidade da produção contemporânea em diversas áreas da cultura, através da música, da formação, da fotografia e do audiovisual, além de outras atividades de intercâmbio, construção e valorização artística. A possibilidade de reunir tantos profissionais talentosos, das mais diversas linguagens, em uma programação diversa que reúne apresentações musicais inéditas, mostra de videoclipes, workshop e exposição fotográfica, tudo de forma gratuita, é uma forma única de movimentar a cadeia produtiva da cultura. Espero que a TendaLab seja uma oportunidade de levar entretenimento para as pessoas de todo Brasil neste momento tão delicado do mundo. Que essa janela virtual seja mais uma, entre muitas, a dar visibilidade à produção cultural capixaba e o potencial transformador da produção cultural brasileira.

Lucia Caus Galpão Produções Diretora


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costurar um futuro para cultura A Lei Aldir Blanc trouxe um respiro aos recentes desmontes às políticas e investimentos na cultura do Brasil. Tivemos uma sequência de descontinuidades e perseguições, marcada com a extinção do Ministério da Cultura e a criminalização da Lei Rouanet, com toda a consequência institucional decorrente para o setor. A partir da experiência da aplicação dos R$ 3 bilhões da lei emergencial, temos a oportunidade de instituir uma política integrada. Isso pode ser feito estabelecendo repasses federais anuais aos estados e inaugurando um novo ciclo de fomento e estímulo à produção cultural brasileira, apesar de todos os pesares. Tivemos uma sequência de descontinuidades e perseguições, a crise sanitária segue ainda sem horizonte de solução, e a nossa cultura precisa de valorização permanente. Seja pela falta de projetos da gestão da cultura feita pelo Ministério do Turismo, seja pelo slogan do presidente, "mais Brasil, menos Brasília", são os estados e municípios e seus fundos locais que têm a capacidade de operar e capilarizar o investimento para que chegue até os rincões deste país diverso e profundo, até os mestres da cultura popular que assistem desprezados a tudo isso. Segundo dados do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura divulgados essa semana, estão em curso hoje mais de 42 mil projetos culturais financiados pelo recurso federal descentralizado aos Fundos Estaduais. São mais de


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20 mil pessoas que receberam o auxílio emergencial da cultura (R$ 600,00 por 5 meses) operados por todos os estados e o Distrito Federal. Esse Brasil pulsa. De norte a sul, são festivais, oficinas formativas, números circenses, reconhecimento de trajetórias, livros, discos, filmes... financiados pela Aldir Blanc e trazendo ao conjunto da sociedade o resultado desse investimento emergencial tão importante. Muitos projetos, inclusive, propondo novos formatos em um exercício experimental que contribui muito para o futuro das nossas práticas. Os estados e os mais de 4000 municípios que operaram o recurso são a prova da capacidade e da energia que os gestores e o setor cultural têm para dar conta desse recado. Ainda segundo o Boletim, os estados empenharam boa parte dos recursos recebidos, mesmo com os prazos curtos, as regulamentações confusas e os atrasos no repasse. A Lei Aldir Blanc foi uma construção coletiva, liderada pelo Congresso Nacional e com a participação ativa da sociedade civil e dos Fóruns de Gestores e entidades municipalistas. Sem dúvidas, uma das experiências mais ricas de participação popular, construção coletiva e exercício democratico que vimos nos últimos anos. O objetivo foi socorrer o setor totalmente paralizado e afetado pelo início da pandemia em 2020. Segundo o Observatório do Itaú Cultural, 412 mil empregos foram gerados pela Lei, ajudando a recuperar quase a metade dos empregos perdidos na crise. E as necessidades seguem, um ano depois, com o agravamento da pandemia.


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Na reta final desse processo, falta uma destinação cultural para o recurso ainda não aplicado - que chega a R$ 223,7 milhões nos Fundos Estaduais, fora os Municipais. O setor cultural está com um olho nos desafios da execução desse festival de sons, ritmos e Brasil, e outro olho no legado desse processo. Fica como herança todo o esforço de estruturação jurídica e política das secretarias de cultura país afora. Aqui no Espírito Santo, dobramos o número de Leis Municipais da cultura em 3 meses. Fica o cadastramento organizado dos agentes, coletivos e empresas da cultura. Fica o registro qualitativo do nosso ecossistema e a força econômica do setor cultural. É patrimônio resultado dessa construção a confiança na república e em seus processos participativos. A esperança na sabedoria ancestral do nosso povo que tanto nos projeta para o mundo como nação rica e plural. Não podemos perder a oportunidade agora de costurar um futuro para cultura brasileira, que garanta seu léxico e que amplifique seu múltiplo.

Fabricio Noronha é Secretário da Cultura do Espírito Santo e Vice Presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Estaduais de Cultura


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olá, leitor! Pensar a cultura é uma das propostas da Revista Tenda, a publicação online e oficial do projeto TendaLab: Mostra de Criatividade, Sustentabilidade e Formação Cultural, que conta com recursos da Lei Aldir Blanc e realização da Galpão Produções Artísticas e Culturais. A partir de chamamento público foram selecionados cinco artigos que jogam luz sobre diferentes vertentes da produção cultural do Espírito Santo. Wagner Silva Gomes analisa uma das poetisas da novíssima geração de autoras capixabas no texto Carne Viva, Corpo que Resiste: a Poesia de Lívia Corbellari. Indo para o outro lado da história da literatura produzida no Espírito Santo, Guilherme Medeiros joga luz sobre a vida e obra de Haydeé Nicolussi, uma das primeiras poetisas do estado, em Para Lembrar-se Sempre Outra Vez de Haydeé Nicolussi. Rafaela Germano Martins trata da relação entre cinema, cidade e seus habitantes, em O Agora é uma Ruína, a partir da análise do filme Hotel Cidade Alta, do diretor Vitor Graize. Sebastião Ribeiro Filho, o Tião Xará, parte das suas vivências para apresentar um panorama histórico dos cineclubes no Espírito Santo no texto O Sonho Kyneklubysta. Fechando a seleção, Marcelo Lages fala sobre mecanismos de incentivo à produção cultural no artigo Lei de Incentivo à Cultura pede Passagem no ES. A TendaLab também é um projeto de valorização da produção musical capixaba. Na revista você pode conferir perfis exclusivos dos três artistas selecionados, via chamamento público, que fazem parte da programação do evento e apresentam um recorte


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da pluralidade da música produzida no estado. São eles: Eloá Eler, com fusão de ancestralidade e pop; o som personalíssimo, que flerta com o rock e o jazz, de Juliano Gauche; e a produção autoral do Zé Maholics. Além de um bate-papo com Silvero Pereira e a Banda Paralela, atrações convidadas para abrir a TendaLab no show inédito em homenagem ao cantor e compositor Belchior, no ano em que completam quatro anos da sua partida. Ainda na publicação, a seleção completa da retrospectiva da Mostra de Videoclipes, que apresenta filmes exibidos nas três primeiras edições da mostra originalmente exibida no Festival de Cinema de Vitória. Outro destaque é a Exposição Fotográfica Digital. A mostra virtual é resultado do Laboratório Criativo de Fotografia, ministrado pelo cineasta e fotógrafo Bernard Lessa, e reúne imagens feitas pelos alunos a partir do conteúdo apresentado no workshop. Toda a programação da TendaLab - as lives, formações, exposição, mostra audiovisual e esta publicação - tem o objetivo de valorizar a indústria criativa e a cadeia produtiva da cultura nacional com foco no ES. Então...boa leitura e divirta-se!


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sumário ARTIGOS 11 O agora é uma ruína, por Rafaela Germano 13

Lei de Incentivo à cultura pede passagem no ES, por Marcelo Lages

15 O Sonho Kyneklubysta, por Sebastião Ribeiro Filho – Tião Xará 21

Para lembrar-se sempre outra vez de Haydée Nicolussi, por Guilherme Medeiros

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Carne Viva, corpo que resiste: a poesia de Lívia Corbellari, por Wagner Silva Gomes

ATRAÇÕES MUSICAIS 39 Silvero Pereira 42 Banda Paralela 46 Juliano Gauche 48 Eloá Eler 51 Zé Maholics

MOSTRA DE VIDEOCLIPES 55 1ª Mostra Nacional de Videoclipes 70 2ª Mostra Nacional de Videoclipes 86 3ª Mostra Nacional de Videoclipes

FORMAÇÃO 103 Laboratório Criativo de Fotografia 107 Ficha técnica


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artigos


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o agora é uma ruína Rafaela Germano Martins Misturando ficção e realidade, bem como passado e presente, o filme “Hotel Cidade Alta” (2016), dirigido por Vitor Graize cria conexões entre o período colonial de Vitória e o que a cidade se tornou atualmente. O filme nos introduz a um Hotel cujos moradores apresentam situações de abandono – assim como muitas das edificações do centro de Vitória, assim como o próprio Hotel. Alguns estão ali há anos, outros acabaram de chegar. “É melhor você respeitar as regras do Hotel, se não vai ser expulso” – diz um dos moradores mais antigos, mostrando o zelo e a gratidão que tem para com o Hotel, pois, segundo ele, antes ele morava nas ruas, e agora tem um teto, roupas, um chuveiro... Mas que Hotel é esse? Em ruínas, o Hotel é o limite entre o glorioso ontem e o agora devastado. Assim como Vitória e algumas de suas antigas edificações, o Hotel e os moradores resistem a todos os percalços. Resistir é preciso, cuidar do Hotel é preciso, pois tudo o que eles têm é um ao outro: o Hotel só continua existindo pelo zelo dos moradores e os moradores só continuam existindo pois o Hotel lhes fornece o abrigo que tanto necessitam. A catedral, outra edificação que se mostra presente no filme todo, traz um forte contraste a quando vemos logo em seguida do Hotel. Ela, diferentemente das outras edificações, está em bom estado de conservação. Há uma cena em que dezenas destes fiéis estão em uma procissão na frente da catedral, e um dos moradores do Hotel perpassa por todos eles, indo em direção contrária ao mar de gente. Ele se destaca no meio da multidão de maioria brancos: ele é negro. Todos seguram uma vela nas mãos: ele segura uma garrafa de cerveja. Ele recita palavras quase em tom de maldição,


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Cena do filme Hotel Cidade Alta, de Vitor Graize - Foto: Divulgação

sobre os indígenas que morreram nessas terras, indo contra toda a tradição católica que foi motivo de tanta destruição. O filme é pertinente e cria uma discussão necessária acerca de como o passado gerou o presente de Vitória e das demais cidades coloniais, e o que podemos fazer para mudar esse agora, que está desmoronando mais rápido do que imaginávamos. Rafaela Germano Martins é graduada em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal do Espírito Santo Desde o início da graduação, se interessou por Cinema de Horror e feminismo, já tendo realizado pesquisas acerca da temática. Trabalhou em diversas produções audiovisuais no estado do Espírito Santo, como videoclipes e longas-metragens, com foco no departamento de arte. Produz desenhos, pinturas e colagens que dialogam principalmente com o cinema, o horror e o skate.

@vampiravegetariana


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lei de Incentivo à cultura pede passagem no eS Marcelo Lages Aos 19, Otávio Augusto, um jovem de baixa estatura, sem dotes de orador, experiência política nem prestígio social tornou-se o primeiro imperador romano. Sou aficionado por biografias e fiquei fascinado com a narrativa de vida dessa figura pública histórica, principalmente com um episódio dessa diegese que descobri ser a raiz do trabalho que estou desenvolvendo e que pode impactar diretamente no seu negócio. Explico, então, como o que aconteceu no século I a.C. em Roma tem a ver com a melhora da reputação da sua empresa, do seu relacionamento com os clientes e com retornos milionários de mídia espontânea! A obra “A vida do Divino Augusto”, escrita por Suetônio, mostra que o imperador era um homem rude e intragável que vai se tornando aos poucos uma figura branda e benevolente. O príncipe logo entendeu que, para assegurar a legitimidade do poder, deveria construir uma boa imagem baseada na sua reputação. Entre outras ações de propaganda, um de seus fiéis conselheiros, Caio Mecenas, elaborou um modelo de incentivo financeiro de atividades culturais que teve importante papel na consolidação do novo regime. Esse modelo foi denominado mecenato e a prática de utilização da cultura para melhorar a imagem, seja de governos, seja de empresas, foi se perpetuando (e se transformando!) ao longo do tempo. Trata-se de uma estratégia eficaz que beneficiou a Res Gestae Divi Augustimas e continua colaborando para a manutenção do valor de marca de grandes players mundiais como a Coca-Cola e nacionais como o Banco Itaú, que investe cerca de 80 milhões/ano em mais de 6 mil ações culturais espalhadas no território nacional, fator determinante para tornar a instituição bancária a marca mais valiosa do Brasil.


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Os números e a história comprovam que vale a pena investir em projetos culturais e que os setores de marketing estão apostando cada vez mais nessa poderosa ferramenta, atentos principalmente às leis de incentivo à cultura – municipais, estaduais e federais –, uma vez que funcionam por isenção fiscal, outro sedutor benefício. No ano passado a Lei de Incentivo Fiscal à Cultura captou o valor recorde de 1.46 bilhão no país. No Espírito Santo, o número de captação via leis ainda é incipiente (R$ 7 milhões, em 2019) e, pensando nisso, foi criado um comitê envolvendo a Secretaria de Cultura do Estado do Espírito Santo, representantes da Ordem dos Advogados do Brasil, do Conselho Regional de Contabilidade e do setor de cultura da Federação das Indústrias do Espírito Santo, entre outros atores, para promover a conscientização do empresariado e fomentar a formação de produtores e artistas. Um provérbio russo celebra que o passado é um farol, não um porto. O comportamento de mecenas que serviu para consolidar uma dinastia também pode ajudar a robustecer os negócios e fazer crescer a economia local. Seguimos olhando para frente e para as novas oportunidades que só a arte consegue promover. Arte e boas estratégias de negócios doam sentido e prosperidade à vida. Marcelo Lages é formado em Educação Física, Tecnologia em Infantaria pelo Exército Brasileiro, Marketing e MBA em Gestão de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas RJ. Com 30 anos de experiência na área cultural, foi por 15 anos Bailarino no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, entre outras companhias, trabalhando em mais de 15 países. Diretor em diversas companhias do Brasil, esteve à frente de grandes eventos, alguns voltados às Olimpíadas e Copa do Mundo. Também foi coreógrafo das Escolas de Samba do grupo especial do Rio de Janeiro e atualmente é Gerente de Cultura do Sistema Findes/SESI-ES.

@marcelolages_


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o SONHO KYNEKLUBYSTA Sebastião Ribeiro Filho – Tião Xará O Cineclubismo e o Cineclube da UFES foram a porta que para mim, projetaram luz no mundo da Cultura. Por meio dos filmes que exibíamos no Cineclube Universitário, e a interação que tínhamos com as diversas manifestações artísticas que eram realizadas na universidade e da interação dessas manifestações com outras que ocorriam em diversas comunidades da Região Metropolitana e algumas no interior do Estado, outras portas foram se abrindo e descortinando novos horizontes na colorida tela deste filme, com memórias que podem ser contadas em um livro, e que aqui serão condensadas neste breve e resumido registro. Tudo começou em 1978 quando o então estudante de biologia que se tornou um dos mais produtivos cineastas de nosso estado, Cloves Mendes, me levou para assistir Easy Rider (Sem Destino - 1969), um clássico, com Dennis Hopper – que dirigiu o filme – e Peter Fonda, em que Jack Nicholson faz uma breve participação. Os filmes eram exibidos em 16 mm, e nessa época o Cineclube da UFES funcionava no prédio ao lado do atual, as cadeiras não tinham o mesmo conforto das poltronas do atual Cine Metrópolis, cujo nome era Cineclube Universitário Cláudio Bueno da Rocha, em homenagem ao jornalista que foi pioneiro, junto com outros intelectuais, a realizar atividade de assistir e debater filmes em sessões no Cine Santa Cecília, nos anos 60. No ano seguinte, 1979, quando entrei para a faculdade de direito, passei a fazer parte do Cineclube Universitário, mas, perdi a Jornada Nacional de Cineclubes que aconteceu em Santa Teresa, uma conquista de Claudino de Jesus (Antônio), nosso "guru", que era coordenador do Cineclube, e já nesse ano, diversos diretórios da Universidade haviam criado cineclubes, como forma de orga-


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Exibição em Castelo no Colegio João Bley - 1983. Foto: Acervo Tião Xará

nização de suas atividades, o que permitiu a eleição de Claudino pela primeira vez em 1980, na Jornada Nacional de Cineclubes de Brasília, para presidente do Conselho Nacional de Cineclubes. O Cineclubismo foi - e atualmente segue sendo - um movimento cultural de grande relevância na década de 70 até o final década de 80. Não apenas pela capacidade de seus quadros, e pela interação com diversos movimentos culturais e políticos, como também por ter uma distribuidora própria de filmes a DINAFILME, que funcionava em São Paulo e tinha escritórios de distribuição em alguns estados, um deles no Espirito Santo, que teve abrigo também no Cineclube Universitário. E trabalhava tanto com curtas, quanto com longas metragens por ela adquiridos, e também alugados junto à EMBRAFILME (e também cedidos por diversas embaixadas), o que possibilitou a realização de mostras anuais do Cinema Brasileiro, onde foram exibidos filmes como: Limite, Macunaíma, Xica da Silva, Chuva de Verão, O Bandido da Luz Vermelha, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Terra em Transe, O Homem que Virou Suco, do diretor João Batista


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de Andrade, este – vencedor do Festival de Moscou – produzido com apoio da DINAFILME e do Conselho Nacional de Cineclubes, e tantos outros exibidos em Mostras do Cinema Brasileiro, da mesma forma como eram exibidos filmes em mostras do Cinema Italiano, Russo, Alemão, e de obras de diretores como Fellini e Fassbinder, entre outros mestres da sétima arte. Lembro de uma curiosidade quando exibimos Limite, quando esse clássico de Mário Peixoto foi restaurado nos anos 80 e também quando houve a exibição do Couraçado Potemki, de Sergei Eiseinstein, filme sobre a revolução soviética de 1917, que era censurado no Brasil. Amylton de Almeida, era entusiasta dessas duas obras e levamos as películas para que A Gazeta fizesse divulgação dos filmes. Ele aproveitou e telecinou os dois filmes para ficar com cópias das obras para seu acervo pessoal, que deveria outras grandes obras, uma vez que ele é reconhecido como o maior crítico de cinema do Espírito Santo. O Cineclube Universitário foi fundamental para a organização do cineclubismo no Estado, e o apoio institucional que dava ao movimento cineclubista foi essencial para a criação, em 1981, da Federação de Cineclubes do Espírito Santo, que em 1982 teve aprovado pela EMBRAFILME, o Projeto de Expansão do Cinema Cultural, tam-

Curso de formação no Cineclube da UFES - 1982. Foto: Acervo Tião Xará


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bém apoiado pela própria UFES e pelo Departamento Estadual de Cultura, o que permitiu a criação de diversos cineclubes na Região Metropolitana e em cidades do interior, consolidando o Espírito Santo como um dos estados mais organizados a nível nacional. Essa organização consolidou a liderança de Claudino que se reelegeu presidente do Conselho Nacional de Cineclubes e o Espírito Santo seguiu marcando destacada presença nas Jornadas Nacionais na década de 80, antes do processo de desarticulação que ocorreu não apenas com o Movimento Cineclubista, como também com praticamente todos os demais movimentos culturais, com a chegada de Collor ao Planalto. Os motivos já são de amplo e geral conhecimento, com relação aos deletérios efeitos para a Cultura no Brasil, entre eles a extinção da EMBRAFILME. Qualquer semelhança com o que ocorre a partir de 2019 não é mera coincidência, uma vez que a Cultura é uma grande ameaça a determinados projetos de poder. É extraordinário ver que a semente que frutificou com tanto viço na década de 80, voltou a dar frutos no início dos anos 2000.

Curso de formação no Cineclube da UFES - 1982. Foto: Acervo Tião Xará


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A chegada de Gilberto Gil ao Ministério da Cultura, fez de novo florescer O Sonho Kyneklubysta. E, depois de uma articulação entre antigas lideranças do movimento em 2003, foi realizada em São Paulo em 2004, uma Jornada Nacional de Cineclubes onde Claudino de Jesus novamente se elegeu presidente do Conselho Nacional de Cineclubes. O sonho agora não se faz mais com as máquinas e filmes de 16 e 35 mm - de alguns cineclubes que tinham melhor estrutura, como o Bexiga em São Paulo e o Botafogo no Rio e tinham equipamento de 35 mm - e sim como as novas mídias e tecnologias, com projetores digitais e exibições presenciais e também on line, via internet. A reestruturação iniciada em 2004, permitiu uma grande interação do Movimento Cineclubista Brasileiro com movimentos de outros países, que trouxeram representantes nas Jornadas dos cineclubes brasileiros, para reuniões internacionais, o que culminou com a realização de uma assembleia da Federação Internacional de Cineclubes durante a Jornada Nacional realizada em 2010 em Pernambuco, onde Claudinho de Jesus tornou-se o


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primeiro brasileiro a ser eleito e presidir a entidade, um justo reconhecimento a um dos mais importantes nomes do cineclubismo no Brasil e no mundo. E como os sonhos não envelhecem, com as atividades desenvolvidas pela Associação de Cineclubes de Vila Velha a partir de 2005, como uma Mostra Nacional de Vídeo Ambiental, diversos cineclubes voltaram a se organizar, o que resultou na criação da OCCA - Organização dos Cineclubes Capixabas, em 2011. E desde sua criação, a entidade já realizou 6 (seis) Encontros dos Cineclubes no Estado e se organizou para levar as reivindicações do Movimento para o governo, tendo como um dos resultados, a inclusão dos cineclubes em editais do Fundo Estadual de Cultura, que apoia a criação de novos cineclubes, bem como e a formação de novos cineclubistas, e outras iniciativas. A ampliação dos horizontes permitiu novas abordagens e organizações, como cineclubes quilombolas, LGBT, os com áudio descrição, e esses novos atores, com essas novas formas de organização mantêm viva, a semente plantada pelo Cineclube Universitário Cláudio Bueno da Rocha da Universidade da Federal do Espírito Santo, do Sonho Kineklubysta. De resistência e defesa da Cultura, para a construção de um país justo e solidário. Sebastião Ribeiro Filho – Tião Xará, natural de Castelo-ES, formado em Direito pela UFES, com especialização em Direito Ambiental pela Universidade do Amazonas. Participante do Cineclube Universitário, fundador e primeiro Presidente da Federação de Cineclubes do Espírito Santo. Autor dos livros ARDORARTE, poesia, Casas de Muqui, fotos e textos, Belezas Naturais do Espírito Santo, fotos, textos e mapas, e Queda Livre, poesia. Na área de fotografia, exposições individuais e participação em coletivas. Músico, com composições gravadas e participação em festivais.

@tiaoxara


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Para lembrar-se sempre outra vez de Haydée Nicolussi Guilherme Medeiros Conheci a obra de Haydée enquanto estudava a literatura produzida por mulheres no Espírito Santo, a partir do esforço historiográfico de Francisco Aurélio Ribeiro e das aulas de Renata Bonfim, em 2017, sobre este assunto. Ambos seguiam, já, o trabalho do primeiro resgate à sua obra, feito por Yvonne Amorim; resgate que continua em curso, agora no projeto de extensão Gente do Benevente (2020), coordenado pela professora Júlia Almeida, com alunos da graduação em Letras, da Ufes, cujo trabalho está disponível no site, que colo nas referências. Esse texto, os poemas e os trechos de entrevistas presentes nele, são possíveis apenas em virtude desse diálogo, a que adiciono também o documentário Festa na Sombra, produzido por Margarete Taqueti e Glecy Coutinho. Afirmo que esse texto não inclui análises detalhadas de seus textos, mas uma exposição de sua vida e de alguns de seus poemas. Haydée Bourguignon Nicolussi nasceu em 1905, em Alfredo Chaves. Em 1909, a família mudou-se para Vila Velha, para o atual bairro Glória. Em 1917, estudou no Colégio Nossa Senhora de Assunção, no Rio de Janeiro, mas foi transferida de volta para Vitória, para o Colégio do Carmo, onde formou-se professora. Haydée, no entanto, não queria exercer a profissão, mas se dedicar às artes e literatura, e lamentava a não-existência de um ensino especializado dessas áreas, expondo também o valor que conferia aos estudos, à formação e a arte como trabalho: Se literatura fosse arte especializada em instituto como a pintura, a escultura, a música, e não um simples curso à margem


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de outras cátedras, talvez eu estivesse precocemente, como os discípulos ricos que contam com professores particulares, um canudo de diretrizes certas debaixo do braço. Mas éramos pobres, papai comprava os livros e revistas nacionais que podia, eu tinha que aproveitar os empréstimos circunstanciais.

Na década de 20, a poeta voltou à então capital para estudar na British American School, período em que inicia seu contato com a renovação artística e cultural dos grandes centros urbanos, principalmente a partir da Semana de Arte Moderna, da “Coluna Prestes” e da formação do Partido Comunista Brasileiro. Iniciou sua vida literária publicando em Vida Capichaba, sob o pseudônimo B.H. Em 1927, passou a assinar os seus textos com seu próprio nome, e em 1929 ganhou o prêmio do concurso nacional da revista Cruzeiro, pelo conto História quase triste. Na década de 30, a poeta ficou responsável pela coluna Gazeta Social, no jornal A Gazeta, e publicou contos nas revistas O Cruzeiro e Vida Capichaba; no Rio, publicava seus textos em O jornal, até ser detida, em 1932, pela Polícia do Distrito Federal. Na ocasião, voltou para Alfredo Chaves, onde ficou refugiada. Haydée foi presa na ocasião dos levantes revolucionários malogrados, de 1935, ocupando a mesma cela que Olga Benário Prestes e Nise da Silveira, período em que também conheceu Graciliano Ramos. Depois do cárcere, passou a publicar novamente com pseudônimos: crônicas, no Diário de Notícias, do Rio, em que era “Deany”, e contos infantis no jornal A noite, como “Baba Yaga”. Na década de 40, Haydée foi nomeada escritora interina do Ministério da Educação, na Secretaria da Escola Nacional de Belas Artes. Em 1943, publica seu único livro “Festa na sombra”, que oportuniza um convite do Diretor-geral do serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, para estudar e pesquisar nos arquivos e bibliotecas dos EUA referentes à história da Arte no Brasil. Na década de 50, a poeta recebe uma carteira de estudante como


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bolsista do governo francês, onde fica entre 1950 e 1951. Haydée não compôs a primeira formação da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, fundada em 1949 – 28 anos após a criação da Academia Espírito-Santense de Letras, por muito tempo composta apenas por homens –, presidida pela governadora do estado Judith Leão Castelo. Contudo, em 1992, foi escolhida como patrona da cadeira de nº 6, por Yvonne Pedrinha Carvalho de Amorim, primeira pesquisadora de sua vida e obra. Seu primeiro poema na revista Vida Capichaba foi Parábola, um soneto nos moldes parnasianos. A linguagem simbólica bastante eloquente põe em relação de desigualdade uma pedra que sonha em ‘esmagar do sol a face incandescida’. Parábola Sob o impulso veloz de certa força estranha do pó da estrada, um dia, uma pedra perdida o vácuo azul cortou com rapidez tamanha que o delírio a invadiu na febre da subida Mais alto voando no ar que a águia da montanha, ela, a mísera audar, que jazera esquecida, na vertigem sonhou, de arruinadora sanha, que ia esmagar do sol a face incandescida! E exultou! Mas bem cedo a lei da gravidade que rege no éter puto o equilíbrio dos mundos, fez a triste voltar à amarga realidade. Porque só o próprio esforço a glória consolida E a pedra que jazera em sonhos infecundos, tombou no pó da estrada outra vez esquecida!


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Sua segunda publicação em Vida Capichaba foi uma apreciação crítica à exposição de Levino Fanzeres, em 1926. Em 1927, a poeta também publica uma reflexão acerca da opinião do crítico americano Hervey Wickman sobre Beethoven. Já em janeiro de 1928, publicou o poema Victoria do Espírito Santo, em Vida Capichaba, considerado seu primeiro poema modernista; um diálogo com as experiências de renovação que haviam se dado nesses mesmos anos 20. Em abril do mesmo ano, A dúvida inútil, também um soneto, inaugurou suas publicações em que questionava suas crenças e apresentava-se mais cética, como também no poema Evangelho. Além de poemas que retratam suas crenças ou seu constante tensionamento dialético, Haydée também escrevia poemas de tom memorialista, em que ficam marcadas as transformações por que passara, da ingenuidade da infância às restrições da vida adulta: Evocação Ritmos remanescentes de infância, Amariles, Amariles amarelas, Solidão das madrugadas, Pés nus nos areais gelados, Vestidos frios de bruma, Vento das nas tabuas, Dedaleiras cor de rosa, Flores, flores venenosas, Azuis, azuis luminosos, Que resto dos dias idos? - Lembranças... lembranças nuas... Trapos perdidos... Noivados de pitangueiras,


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Araçazeiros maduros, Mapurungas e mupês, Gostos acres, verdes, puros. - em que dicionário esconso Nossos lábios vos acharam, Frutinhas da mata escura?! – Cantigas de sabiás, Gemidos de inambus, Choro das rolas viúvas, Sustos de maracajás, Ritornelos de cascatas, Histórias de Siá Rumana, Pios, pios de coruja, (quem vos matou velhas bruxas?) - Saudades... Saudades fundas de outra idade, de outras eras... Pôr-de-sóis por trás das folhas, Bolhas, bolhas de água e espuma, Batizados de bonecas, Cozinhados de semanas, Louça achada nos monsturos, Luares, berços de prata, Balouçando atrás das serras, Depois... O PRIMEIRO LIVRO! Duendes maus, boas fadas, E romances, Romances de capa e espada! Velhos livros esquecidos... E depois? Depois... adeus! Olhos baixos... roupas longas...


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Sustos, angústias, deveres... (saudades de um céu perdido!) Olhos! fugistes da vida: - novos mundos... Tristes mundos...

Repleto de lembranças, intensamente sinestésico e muito emotivo. A maneira com que a poeta lança seu olhar para momentos de sua própria história, condensados em imagens-ícones, mais ou menos cifradas, evocam, como o título sugere, essas imagens, sua presença na memória. Haydée Nicolussi do começo de sua vida, do desabrochar de seus cabelos amarílis amarelos, das sensações dos pés nus nos areais gelados. De quando morrem as velhas bruxas e a saudade da infância. Do derradeiro encontro com o primeiro livro, que parece ser um dos mais importantes marcos de sua história. E depois: um adeus. O cárcere, a angústia. A falta de um céu – que no poema fora perdido –, como os dias perdidos dentro das celas nos anos 30. Em 1934, às vésperas do levante revolucionário, Haydée publica em Vida Capichaba o poema Zabumba: Zé Pereira! Ai! Zé pereira! Que é feito de minha infância, Zé pereira? Você carregou minha inocência no seu bombo lá pro Congo, Ai! Zé Pereira! Que saudade de minha meninice... Hoje tem espetáculo? Tem sim sinhô! Tem de noite e de dia? Tem sim sinhô!


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O palhaço e a mulhé? Tem sim sinhô! Sururú na freguesia? Tem sim sinhô! Chorei.. chorei porque meu amô disse que ia me abandoná... Tombei... tombei e mandei tombá o menino vadio de perna pro á! Ai! Zé Pereira! Zé Pereira! A vida ficou tão triste... As cousas estão tão longes... Nunca mais a idade de ouro dos idílios... Nunca mais sonhos de amores sossegados... – os noivos ricos envenenaram o mundo... – os noivos pobres estão desempregados... Nunca mais contos de fadas de avozinha Quando a infância em toda do braseiro! – menino rico sai da escola pra polícia... –menino pobre é escoteiro... Zé pereira! Ai! Zé Pereira! Vem fazê um samba aqui pras crianças grandes que estão tão tristes, tão sozinhas! condenadas a morrer na guerra... Vem fazê um zabumba decisivo, de verdade, com todos os gritos da mocidade traída nos seus direitos.


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com todas as críticas às autoridades falsificadas, zabumba de dor e de lágrimas transfiguradas na noite acesa de tochas e cânticos vermelhos! Hoje tem revolução? Tem camarada! Contra a guerra imperialista? Tem camarada! Contra a fome e a opressão? Tem camarada! Contra a gana dos palhaços? Tem camarada! Contra o horror da escravidão? Tem camarada! Chorei... chorei por que meu amo disse que ia me abandoná... Tombei... tombei e mandei tombá o burguês criminoso no fundo do má!

A professora Júlia Almeida, em artigo sobre a poeta, aponta que Zabumba se aproximava dos poemas “revolucionários” dos anos 30, “narrando a transformação de uma vida: da infância inocente que não conhece o dano e a desigualdade social à juventude que, percebendo-os, anseia por mudança e pela revolução popular”. Nas respostas ao “Questionário da Capichaba. Não há perguntas indiscretas”, entrevista da Vida Capichaba, esses ideais revolucionários se cruzam em alguns momentos com um certo conservadorismo, que era presente na sua primeira poesia e em escritos mais ao fim de sua vida. Como no caso da pergunta sobre o


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que lhe parecia mais útil, uma igreja, uma escola ou uma cadeia: “Apesar da necessidade atual das três, parece-me mais útil uma escolar, por ser, ao mesmo tempo, uma cadeia provisória do espírito, onde, sem se estar de joelhos, se aprende a amar as leis de Deus e dos homens”. Já quanto à pena de morte, Haydée responde “Em tese, nem dentro da justiça é lógico o direito de matar, que a pena de morte não cura quem desaparece, nem assusta quem fica”. À pergunta “quais são os males maiores de nossa época?”: “Em todas as épocas só houve um mal responsável por todos os outros: a ignorância”. Haydée Nicolussi, como bem afirma Almeida Cousin, junto de Lydia Besouchet, Newton e Rubem Braga, foram os “[...] maiores valores de expressão – todos diferentes – mais originais e marcados, da atual geração plenamente eclosa do Espírito Santo”. Uma de suas imagens: Auto-retrato Tenho os olhos cor do mar, E os cabelos cor de areia, O corpo de duna ondulante E um coração de sereia Vivo a errar de sonho em sonho, Tenho um ar tão viageiro, Que até o meu vestido pando Lembra as velas de um veleiro. Tenho uma alma de cigana Que viu terras, correu mundo. Se a imprudência parte um remo Vêm outros remos do fundo.


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Dizem que há em terra estranha, Longe daqui, muito longe, Numa rocha sobre o mar, Um mosteiro que se chama Da Areia, do Silêncio e do Vento, Um mosteiro cujas monjas Passam a vida a rezar. Eu também sou uma monja Que caminho há muitos anos, Muitos anos sem cansar, Esperando achar o monge Que há de fundar meu convento, Meu território lunar, Com silêncio, areia e vento.

Em 1970, pela ocasião de sua morte, Carlos Drummond de Andrade escreve: Notícia vária: A bonita moça, loura, desenhada por Arpad Szenes, que nos anos 40 chegava ao Ministério da Educação para protestar contra a injustiça, a deslealdade e a burrice no curso que vinha fazendo e na repartição onde lhe davam um vago emprego de escriturário interino; que tinha relâmpagos de raiva escondendo a ternura machucada; que oferecia seus livros de versos ‘com intenção de caricia mesmo no mais leve arranhão’ , que queria vivem 100 anos de amor com o mesmo homem, em casa própria, com filhos, livros, alguns amigos, viagens a moça que de repente sumiu, literalmente sumiu, nunca mais ninguém a encontrou nas exposições de pintura, nos concertos, nos bares, não publicou mais uma palavra; abro o jornal e vejo o retângulo tarjado: “Sepulta-se hoje às 16 horas”. A vida não foi uma festa para Haydée Nicolussi, que entretanto chamou o seu livro “Festa na Sombra”.


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BATE-PAPO COM: ALMEIDA, Júlia. Poemas políticos de Haydée Nicolussi (1930-1940). Fernão: Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Literatura do Espírito Santo (Neples), n. 2, p. 186-197, 2019. Haydée Nicolussi: poeta e revolucionários. https://sites.google.com/view/poetaerevolucionaria/in%C3%ADcio?authuser=0 RIBEIRO, Francisco Aurélio. A Literatura do Espírito Santo: Ensaios, História e Crítica. Serra: Formar, 2010. ______. Estudos críticos de literatura capixaba. Vitória: EDUFES, 1990. ______. Literatura do Espírito Santo: uma marginalidade periférica.Vitória: EDUFES, 1996. ______. Literatura e marginalidades. Vitória: EDUFES, 2000.

Guilherme Medeiros é mestrando em Letras, PPGL Ufes/Fapes e graduando em Artes Plásticas, Car/Ufes. Pesquisa as relações entre imagem e texto na poesia contemporânea brasileira. @souzag___


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carne Viva, corpo que resiste: a poesia de lívia corbellari Wagner Silva Gomes A estreia da poeta Lívia Corbellari, jornalista, integrante do núcleo editorial da revista Trino, além de blogueira e youtuber literária de destaque na cena capixaba, com o blog e o canal Livros por Livia, dá-se com o livro Carne Viva (Cousa, 2019) com o que há de melhor na poesia, a coragem de colocar o dedo na ferida, estas metáforas que camada por camada estão lá, na palavra, ora dando o óbvio e o não tão óbvio da dor, ora dando o óbvio e o não tão óbvio do prazer. Outras horas apenas sendo, acima de tudo mulher, já que poesia, a criação, é palavra de gênero feminino, no que há de liberdade, pois como coloca a rapper Drik Barbosa “Menino, atenção! Menino/ Não é à toa que liberdade é no feminino”. O livro é dividido em três capítulos que podem ser entendidos como três poemas. São eles: fluxo intenso; vias de fato; e mar aberto. Nestes capítulos poemas, na passagem deles, entre estrofes, e principalmente entre páginas, a autora abusa no uso do enjambement, que é a passagem do último verso de uma estrofe que se completa no verso da estrofe seguinte. O recurso, se se considerar: verso; vazio; verso, é em si uma carne viva, como uma ferida, uma inflamação, já que há uma continuidade que não é contínua (epiderme, derme; tecido muscular, tecido nervoso). Lívia torna isso tão evidente que é impossível o leitor ficar insensível. Como nos exemplos: “fluxo intenso/ só é mudança se passar pelo corpo” (abertura do primeiro capítulo com o primeiro poema); “vias de fato/ dar nós/ nas pernas/ refazer a costura/ apertar o ponto/ até estourar a linha” (abertura do segundo capítulo com a


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primeira página dele); “mar aberto/ os olhos nem se tocavam/ as palavras iam se acumulando na retina” (abertura do terceiro capítulo com a primeira página sua). O título do segundo capítulo, não é à toa, guarda, como no cultismo barroco, o seu excesso de imagens, carne viva = soco = sangue = violência, também barroca, se se pensar nas inversões sintáticas às vezes violentas daquele período literário, mas em Carne Viva a violência é redundante, pleonasmo preciso, que mostra o excesso de imagens (mulheres que sentem prazer, que sentem a violência simbólica, a violência corporal, sentem dor, e que é horrível quando confundem dor e prazer, não pelo paradoxo, mas por mostrar seu lado sombrio, o costume em permanecer com o parceiro - por vários motivos – opressão, dependência financeira etc.) quando ao se mostrar ameaçador sabe-se ser quase certo resultar em feminicídio, já que o Brasil lidera o número de assassinatos de mulheres na América Latina (16 mil mulheres foram mortas entre 2015 e 2018 no país). Os versos seguintes transparecem esse acúmulo violento que paradoxalmente às vezes é aparentemente inofensivo:


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“ainda sobraram alguns cacos de vidros na garganta e falar é sempre dor e sangue” (CORBELLARI, 2019, p. 16). “faca de dois gumes feita pra cortar pronta pra curar” (CORBELLARI, 2019, p. 17). “nem toda morte é sangue o fim pode ser limpo facas hesitam palavras não” (CORBELLARI, 2019, p. 18).

Assim, as vias de fato, do título do segundo capítulo, são também os fluxos intensos do título do primeiro capítulo, são as ruas, por onde passam tantas mulheres que desafiam o lugar de mulher, como um mar aberto, título do terceiro capítulo, livres, incrivelmente hábeis onde atuam, pois como coloca a autora Angela Davis em seu livro “Mulheres, Raça e Classe” (Boitempo, 2016): “Na verdade, o lugar da mulher sempre tinha sido em casa, mas durante a era pré-industrial a própria economia centrava-se na casa e nas terras cultiváveis ao seu redor. Enquanto os homens lavravam o solo (frequentemente com a esposa), as mulheres eram manufatoras, fazendo tecidos, roupas, velas, sabão e praticamente tudo o que era necessário para a família. O lugar das mulheres era mesmo em casa - mas não apenas porque elas pariam e criavam as crianças ou porque atendiam às necessidades do marido. Elas eram trabalhadoras produtivas no contexto da economia doméstica, e seu trabalho não era menos


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respeitado do que o de seus companheiros. Quando a produção manufatureira se transferiu da casa para a fábrica, a ideologia da feminilidade começou a forjar a esposa e a mãe como modelos ideais. No papel de trabalhadoras, ao menos as mulheres gozavam de igualdade econômica, mas como esposas eram destinadas a se tornar apêndices de seus companheiros, serviçais de seus maridos. No papel de mães, eram definidas como instrumentos passivos para a reposição da vida humana. A situação da dona de casa branca era cheia de contradições. Era inevitável que houvesse resistência.” (DAVIS, 2016, p. 45).

Angela Davis: filósofa americana que foi integrante do Movimento Panteras Negras – Foto: Divulgação

Com a mente a mil, em fluxo intenso, a autora leva ao limite até romper (no que há de benefícios para as mulheres – resistência, liberdade, outros modos de vida; e malefícios para as mesmas – preconceitos, ofensas, feminicídio) a separação entre mente = razão = homem e baixo ventre = irracionalidade = mulher como discorreu Deleuze ao pensar criticamente sobre a tradição dos efeitos de sentido no pensamento sobre o corpo e como esse de fato se comporta (DELEUZE, 1997, p. 28). Como diz a rapper Lívia Cruz: “Foda-se o seu conto de fadas/ porque eu sou foda/ E não


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nasci pra ser domada”. Com uma poesia cerebral, como até aqui foi analisada, que casa totalmente com a entrega ao sensível, Lívia faz com que o corpo feminino em sua poesia confronte os lugares de mulher da tradição porque ao pensar sobre o prazer e a dor ela sempre envolve situações contextuais, seja de opressão, de compartilhamento do espaço da casa, de ato sexual, etc. Mas Carne viva também traz o gozo do prazer saudável de quem atinge o mar aberto, mesmo antes do último capítulo (de quem atinge durante): “com dedos dentes e língua ele percorre os caminhos que sabe de cor mas finge que é estrangeiro aqui perde-se entre pernas e cabelos sabe como eu gosto como eu gozo e demora e escorre” (CORBELLARI, 2019, p. 36). “mas por que poesia? se ninguém se move se ninguém vacila a língua está morta mas a minha não minha língua não cala ela está viva em minha boca e em sua boca” (CORBELLARI, 2019, p. 20).


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O conteúdo de ser mulher e o devir feminino, através da metalinguagem e outras formas, com versos livres, assonâncias e aliterações (dedos, dentes; gosto, gozo; pernas e cabelos) mostra que há a forma poética Lívia de se atingir a plenitude do que é ser mulher, como uma marca de fôrma industrializada, mas que Lívia fez o design, e patenteou. Lívia senta à mesa com homens e mulheres para decidir sobre as ações dos versos. Vamos pensar: “Mas por que poesia?/ se ninguém se move/ se ninguém vacila/ a língua está morta”. A poeta mostra que um verso livre mirado em uma palavra (“move”) é revolução no meio de dois versos rimados toantemente (o que termina em “vacila” com o que termina em “morta”), mesmo que a língua não esteja no meio, mesmo só com palavras. Porque palavras para ela nunca são apenas palavras. Lívia, como uma rapper, ainda brinca com as dores para resistir ao prazer: “já morri mil vezes/ mas sempre volto pra mim/ transe de corpo pela sala/ álcool não esteriliza/ porra nenhuma” (CORBELLARI, 2019, p. 58 – 59). REFERÊNCIAS CORBELLARI, Lívia. Carne Viva. Vitória, ES: Cousa, 2019. DAVIS, Angela. Mulheres, Raça e Classe. São Paulo: Boitempo, 2016. DELEUZE, Gilles. Crítica e Clínica. São Paulo: Ed.34, 1997. Wagner Silva Gomes é licenciado em LetrasPortuguês pela UFES, pós-graduado em Cinema e Linguagem Audiovisual pela Faculdade Estácio de Sá e mestrando de Letras pela UFES. É poeta, romancista, professor, educador social e é colunista do blogletras.com. Alguns dos livros publicados são os romances Classe Média Baixa (Editora Pedregulho, 2014) e Nix: Microfone por Tubos de Ensaio (Editora Pedregulho, 2018); Qual é o Esquema da Parada (Editora Pedregulho, 2020) . Foi integrante do programa de rádio TEDESOM (teatro do desoprimido – rádio universitária, UFES) interpretando o papel de Malcom-X.

@wagner.silvagomes


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Atrações Musicais


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Silvero Pereira solta a voz em Tributo a Belchior “Ele é sempre atemporal". ‘Ele’ é o cantor e compositor Belchior, um dos grandes nomes da MPB. A frase é do ator e cantor Silvero Pereira que, para celebrar a obra deste grande artista no mês que completam quatro anos da sua partida, se uniu à Banda Paralela para uma homenagem ao seu conterrâneo, no show Tributo a Belchior. A atração convidada abre a programação da TendaLab: Mostra de Criatividade, Sustentabilidade e Formação Cultural. A ideia surgiu em 2020, quando o cantor deu início a um projeto - ainda inédito - em que mistura as canções de Belchior com os textos do dramaturgo inglês William Shakespeare. "A partir desse início de pesquisa eu fui me aprofundando ainda mais nas músicas, me envolvendo, me identificando. Essa identificação fez com que eu me aproximasse do Belchior. Principalmente no que eu acredito como arte: que faz questionar, que faz provocar”.


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Para Silvero, tudo que Belchior produziu ao longo de décadas de carreira, se mantém extremamente atual, o que cria uma conexão com diferentes gerações. “Eu acho a música dele muito próxima. Acho ela muito real. Para mim, ele é um dos maiores gênios da música pela maneira como ele escreve, pela métrica que ele tem, os versos que ele constrói e desconstrói dentro de um próprio verso. Mas eu acho Belchior muito real e não parece que eu estou ouvindo uma música do passado. Parece que eu estou sempre ouvindo uma música de hoje. Ele é sempre atemporal”.


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O repertório do espetáculo é um mergulho afetivo nas canções e na criatividade de Belchior e joga luz em clássicos como Hora do Almoço, Velha Roupa Colorida e Paralelas. “Eu queria trazer um lado delicado dele, mas também um lado divertido e um lado político. E romântico! Eu trabalhei nesses quatro temas. As músicas foram selecionadas nesses blocos”.

Das canções de Belchior a personagem Lunga, do filme Bacurau, o talento de Silvero Pereira é múltiplo e conectado com o público Quem acompanha Silvero neste mergulho na obra de Belchior é a Banda Paralela, formada especialmente para o projeto pelos músicos capixabas Fepaschoal, Brunu Chico e Natália Arrivabene. “Eu não conhecia nenhum dos músicos. É minha primeira experiência com eles. Eu sempre digo, eu não sou um cantor, eu sou um ator que canta. E eu sempre fico assustado quando eu tenho que cantar com grandes músicos, pessoas que estão na carreira há tanto tempo. Mas foi muito confortável, me senti muito em casa, são pessoas sensacionais”. O resultado da união de todos esses talentos é um espetáculo vibrante feito para encantar os fãs da música brasileira. “É um show muito sincero, muito emocionante, muito cheio de amor. Mas além do amor, um show cheio de significados, em que as pessoas vão se identificar com várias das canções, com as histórias que essas canções querem dizer. E vão fazer elas refletirem”. @silveropereira


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Banda PaRaLEla: molho Capixaba em tributo a Belchior "Não tinha como não aceitar fazer um trabalho com o Silvero, artista do qual eu já era fã, e de quebra um tributo a um compositor gigante como o Belchior”. Essas são as palavras do cantor, compositor e produtor Fepaschoal, que assumiu as guitarras e a direção musical da Banda Paralela, criada especialmente para o show Tributo a Belchior, apresentação inédita e convidada para abrir a programação da TendaLab. Fepaschoal também foi o responsável por reunir outros dois músicos que, com ele, formam um trio poderoso que representa o talento da música produzida no Espírito Santo: Brunu Chico e Natália Arrivabene. “Eu já conhecia Natália e toquei com ela no meu projeto solo, e nas bandas Xá da Índia e Malacaxeta. Ela é a melhor. Não é à toa que é super requisitada em vários projetos. O Brunu Chico é um músico que me chamou muito a atenção de


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uns tempos pra cá. O cara é cantor, compositor, multi-instrumentista e também produz. Eu já estava querendo fazer um som com ele e aproveitei essa chance pra isso acontecer”. Segundo Fepas, os arranjos preparados pela banda atualizam as músicas, mas mantém uma conexão com as ideias sonoras do trabalho de Belchior. “Pensamos em um som que respeitasse as estruturas e arranjos originais, mas que também coubessem dentro do formato trio, então nos sentimos livres para imprimir a nossa pegada, nossos timbres e improvisos”.

Banda Paralela é formada por: Brunu Chico, no baixo

Fepaschoal, guitarra e arranjos Natália Arrivabene, bateria

Sobre a parceria com Silvero Pereira ele descreveu como ‘f*** demais!’. “Ele é incrível. Eu já sacava o trabalho dele, já era fã do Lunga, personagem dele em Bacurau, e quando descobri seu trabalho musical, passei a admirar ainda mais. A interpretação dele pro Belchior é singular e um espetáculo à parte nesse show”. O músico capixaba também se declarou fã do mestre da MPB, homenageado no mês que completa quatro anos da sua partida. “Sou um admirador e apreciador. Já me inspirei bastante na liberdade lírica, na assimetria dos versos, nos intertextos brilhantes, na angústia e beleza que as letras e músicas proporcionam”. E finalizou: “A obra de Belchior, nesses tempos que vivemos, cabe muito bem. Nos faz pensar e sentir. É preciso escutá-la. E o Silvero conseguiu catalisar e interpretar essa obra como ninguém fez. Vai ser uma experiência emocionante para quem assistir com os corações e ouvidos abertos”.


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BANDA PARALELA Fepaschoal Começou sua carreira em 2008, em apresentações, como ele mesmo define, não muito ortodoxas no campus da Universidade Federal do Espírito Santo. Nesse mesmo ano, produziu e gravou singles que lhe proporcionaram pecha de artista sui generis na cena capixaba, além de abrir espaço em canais de comunicação, o que gerou oportunidades para apresentações em diversas cidades do Brasil. Seu trabalho reverencia o Samba, o Jazz, o Funk, o Soul e o Reggae e, desde o início, carrega uma verve inspirada na máxima punk “do it yourself” e sua urgência. Lançou recentemente o EP “Monazita” (2021). Sua discografia também inclui os álbuns "O Canto do Urbanóide, Parte 1” (2016) e “CMDO Guatemala” (2011). @fepaschoal

Brunu Chico Iniciou sua trajetória aos 5 anos em aulas de piano e, desde então, a música faz parte de sua vida. Cantor, músico, compositor e produtor musical capixaba, ele desenvolveu sozinho habilidades de multi-instrumentista, tendo domínio de


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instrumentos como violão, guitarra, ukulele, contra-baixo, bateria, gaita, teclado e percussão. Participou de bandas como Lion Jump e foi o fundador da Navegar. Seu envolvimento em diversos projetos e estilos musicais diferentes deixaram marcas em sua sonoridade autoral. Seu trabalho engloba diversas manifestações da black music, um perfeito misto entre ritmos de matriz africana que ocorrem tanto no Brasil quanto no resto do mundo, o que atribui cosmopolitismo e identidade para o trabalho de um artista conectado a sua ancestralidade. Lançou, em 2020, o single “Tudo Bem”. @brunuchico

Natália Arrivabene Domínio de diversos estilos musicais, técnica apurada e uma construção profissional iniciada aos 13 anos de idade. Esta é a baterista Natália Arrivabene, que ganhou reconhecimento no mercado musical e hoje está entre os instrumentistas mais requisitados no cenário artístico do Espírito Santo. Em sua formação, ela estudou com o baterista Samuca Ovídio, referência em Workshops e gravações no Brasil. Também já tocou com inúmeros artistas de vários gêneros musicais como Silva, Moraes Moreira, Elba Ramalho, Gabriela Brown, Gavi, Fepaschoal, Melanina MC’s, A Transe, Mozá, André Prando, na abertura do show de Alceu Valença, Izar, Xá da Índia, Amaro Lima, Soudha, Quintal Selvagem e My Magical Glowing Lens – banda que a convidou para uma turnê em São Paulo e no Rio de Janeiro. @nanaarrivabene


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Juliano Gauche: Reconectando às raízes em um mundo virtual “Eu estou nessa busca de me reconectar um pouco com a cena daqui” É assim que o cantor e compositor Juliano Gauche define este momento na carreira. Capixaba de Ecoporanga, Juliano chegou a morar por 10 anos em São Paulo, onde construiu sua carreira solo autoral, mas retornou ao Espírito Santo há dois anos e, por isso, quer que o show na TendaLab seja uma celebração desse reencontro com a terra natal. “Estou preparando algo muito especial para mostrar o que eu estou fazendo porque faz tempo que eu não exponho aqui. Então pra mim foi um grande presente poder participar dessa mostra pra realizar essa reconexão.”, comemora o compositor. E não falta material para Juliano expor ao público. Desde 2003, quando lançou seu primeiro álbum, ainda como integrante da banda Solana, Gauche não parou de produzir. Só na carreira solo, iniciada em 2013, já são quatro obras autorais lançadas. “Eu sempre fui compositor, desde a época do Solana. Fiz três discos com o Solana e depois fui pra São Paulo e fiz quatro trabalhos solo. No show eu devo, inclu-


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sive, tocar algo do Solana, mas vou focar mais no meu trabalho solo mesmo. Fazer um apanhado do que é meu trabalho de compositor.” Um trabalho que segue sendo elogiado pela crítica especializada, Uma sonoridade, segundo o próprio artista, inspirada na estética dos anos 70, na literatura moderna, nas melodias de jazz e na simplicidade do rock. Uma verdadeira pesquisa sonora que, nesse período de pandemia, fica impedida de ser vivenciada presencialmente com o público. Por isso, para Juliano, é tão importante os projetos de concertos virtuais, como a TendaLab.

Álbuns solo de Juliano Gauche Juliano Gauche (2013)

Nas Estâncias de Dzyan (2016) Afastamento (2018)

Bombyx Mori (2020) “Nesse momento de pandemia está sendo fundamental esses eventos online.Não podendo fazer da forma física, este é o único caminho. Eu acho que a gente só tende a ganhar porque está ampliando nossa capacidade de acessar as pessoas. E eu acho que é uma alternativa que está vindo pra ficar também.”, pontua o cantor. Juliano ainda acrescenta que tem tentado mapear a nova cena musical capixaba através das ferramentas virtuais e conclui que tem ficado feliz com o que encontra. “Quando eu cheguei aqui e passei quase um ano na minha cidade, que é Ecoporanga, e depois vim pra Vitória, aconteceu a pandemia e eu não consegui circular pra ver os shows e mapear a cena. O que eu tenho visto é pela internet. E eu to achando muito bonita, muito diversa.” @juliano.gauche


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eloá eler: Um canto universal nascido no caparaó “É muito difícil explicar a potência que tem a cultura. Cultura é sobre respirar, sobre viver. É essencial ao ser.” É dessa forma lírica, poética, como se fosse uma composição musical, que Eloá Eler inicia nossa conversa sobre a própria carreira e o show preparado para o projeto TendaLab. Uma oportunidade que trouxe alegria, mas também deixou a cantora da região do Caparaó surpreendida.


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“Eu fiquei bem surpresa de ter entrado no projeto porque meu trabalho autoral é muito recente.”, explica Eloá, que não esconde a ansiedade em poder compartilhar sua música para milhares de espectadores através de uma plataforma virtual. “Eu entendo esses projetos online como uma força para as pessoas poderem se aliar à cultura nesse momento de pandemia.” E essa aliança à cultura é uma prática na música feita pela cantora. Principalmente quando se trata dos elementos que compõem a região em que cresceu. “Minha música é minha percepção do mundo e onde eu cresci. Eu aliei essa percepção de crescer no interior do caparaó com uma pesquisa musical do que é chamado de World Music.”

Cerca de 80% do Parque Nacional do Caparaó está no estado do Espírito Santo. Uma das mais importantes áreas de preservação da Mata Atlântica em território capixaba Mas apesar de reconhecer que a sonoridade que constrói recebe esse rótulo mundialmente (World Music), Eloá reforça que um selo criado pela indústria não dá conta do processo de pesquisa e elaboração de seu repertório. “Essa sigla World Music nada mais é do que uma palavra inventada para falar dessa sonoridade de comunidade tradicional, que vem da intenção de resgatar elementos ancestrais do movimento contra a colonização. E, por isso, acho melhor nem usar o termo em inglês.” O certo é que a música de Eloá é sobre essa tradição, essa cultura que perpassa a vida da jovem da região do Caparaó. “Um


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canto angolano, um canto Kamayurá, a rítmica cabo-verdiana… Mas bebendo sempre dessa fonte da música popular brasileira que foi onde eu iniciei meus estudos musicais, quando eu vim para Vitória.” exemplifica a cantora. Uma escolha que fica ainda mais coerente quando se descobre que Eloá também é psicóloga indigenista. “Estudo etnologia indígena e, pra mim, fazer esse movimento político de integração e proteção de comunidades tradicionais é essencial na música.” E esse é o clima do show que Eloá preparou para o festival TendaLab. Paisagens sonoras em que o mato, a cachoeira, os sacis, entre outras entidades na natureza, têm presença marcante. “A pessoa que assistir ao show vai ouvir estes elementos da natureza e eles são sentidos. E eu não consigo imaginar entrar num palco que não tenha uma referência natural. Que não tenha uma erva que é usada em algum tipo de ritual. É o mínimo de contato que se pode ter. Uma esteira no chão onde eu possa colocar o meu pé. Isso traz uma referência de onde eu vim.”, defende a cantora. Assim como também defende a existência de incentivos para que o artista sobreviva e mantenha de alguma forma o contato com o público. Para Eloá, tanto público quanto artistas precisam desse apoio do Governo para que a arte possa continuar existindo e transformando vidas. “Acho que nesse momento, a gente precisa do apoio do governo. Ter um apoio para que os artistas possam fazer seus shows virtuais, possam se manter na profissão é o mínimo. As leis de incentivo são essenciais. E o público pode estar presente no sentido de divulgar.” @eloaeler


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zé Maholics: Sonoridade em constante conexão com o momento “Um ano em que fomos impulsionados a descobrir novas sonoridades”. Assim foi 2020 para a banda Zé Maholics. Segundo Bozi, violão e voz na banda capixaba, a chegada trágica da pandemia mundial da Covid-19 mexeu não somente com a vida pessoal de cada integrante, mas também com as novas composições da banda.


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“A gente tá compondo junto, produzindo só nós quatro e sentando pra tocar. A sonoridade da banda tem saído diferente por causa da influência do momento”, explica Bozi. Tanto que, para o show no projeto TendaLab, o quarteto rearranjou até as músicas já conhecidas pelo público conquistado na ainda jovem carreira. “Trabalhamos as músicas para esse formato mais intimista que é o possível nesse período de pandemia. A gente também tem escolhido um repertório que tenha conexão com o momento.”

Zé Maholics é formada por: Bozi: Violão e Voz

Vini Hoffmam: Violão, Voz e Gaita Guilherme Schwartz: Baixo Enzo Toniato: Percussão

A história do Zé Maholiccs começa em 2016, fruto de uma amizade de infância entre Bozi e Enzo Toniato, hoje percussionista da banda. Quando os dois amigos notaram que tinham pela música a mesma paixão, não demoraram a “tirar um som” juntos. Logo outro amigo entrou na “brincadeira”. E assim, Guilherme Schwartz se tornou o baixista do grupo. E nesses ensaios despretensiosos um dia eles conheceram a voz de Vini Hoffmam. Não tiveram dúvida. No fim do encontro Vinicius já estava oficialmente integrado à banda. Desse início até os dias de hoje, o Zé Maholics reúne dois trabalhos autorais lançados: os EPs “Zé Maholics” (2017) e “Macaco Politizado” (2019). Registros que indicam a evolução sonora da banda. Este último, com conceito mais forte e coeso, explora a narrativa da “Jornada do Herói” para criticar vícios da sociedade e despertar os ouvintes.


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Para Bozi, despertar a inquietação e o questionamento no público é papel do artista musical. Por isso, para ele, é importante que existam projetos que possibilitem a criação e sobrevivência desses artistas, principalmente no mundo atual, marcado por uma pandemia que impede o contato presencial entre ouvintes e músicos. “É um momento em que tá todo mundo da área da cultura, das artes, em uma situação bem delicada. A produção interna, caseira, da banda não para, mas o show ao vivo é impossível desde o começo da pandemia. E poder participar deste projeto e fazer um som para mais pessoas além da banda é uma oportunidade maravilhosa.” comemora o músico. E o público pode esperar todas as possibilidades sonoras que compõem a personalidade do Zé Maholics. Tanto no trabalho autoral, quanto nas releituras de outros artistas. “Mesmo quando a gente toca uma clássica da música brasileira, muito famosa, a gente tenta dar uma roupagem nova, deixar com o nosso jeito. Tocamos músicas do Belchior, do Jorge Mautner, do Gonzaguinha, mas em versões que nós criamos.” Um cuidado com o próprio trabalho que, segundo o violonista da banda, é recompensado pelo reconhecimento do público. “A gente espera que o público abrace os artistas nesse momento. Então pedimos ao público que, se gosta do trabalho de algum artista, divulgue”. @zemaholics


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Mostra dE Videoclipes *Alguns filmes exibidos originalmente nas três edições da Mostra Nacional de Videoclipes não estão na programação desta retrospectiva


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Exibição do dia 23/04 Videoclipes do 24ºfcv VIDEOCLIPE: MOSTRA APRESENTA O GÊNERO QUE INFLUENCIA AS EXPERIMENTAÇÕES DO AUDIOVISUAL Luiz Eduardo Neves Curador O 24º Festival de Cinema de Vitória apresenta a Mostra Nacional de Videoclipes. Este é o espaço para um gênero que é pura experimentação, cuja estética influencia outras manifestações audiovisuais contemporâneas, como a produção de TV, o cinema e a videoarte. A mostra recebeu a inscrição de 61 vídeos de diversos gêneros musicais produzidos em 12 Estados do país, entre eles, clipes de artistas de expressão nacional, como o grupo de rap Haikaiss e a cantora Blubell. A curadoria do Festival selecionou 15 produções que representam um panorama do videoclipe feito no país em 2016 e 2017. Foram levadas em conta a qualidade técnica e a experimentação da linguagem audiovisual no desenvolvimento do produto final. Mergulhados no suporte digital, vemos narrativas construídas tendo como base a ficção ou o documentário. Podemos ver os dois gêneros em trabalhos que denunciam os impactos do maior desastre ambiental da história do país. As produções Forte e Sweet River usam como pano de fundo a vida das pessoas que sofrem com a avalanche de rejeitos de minério de ferro saída da Barragem de Fundão, em Mariana (MG). A lama avançou pelo Rio Doce até chegar à praia de Regência, devastando a mata ciliar e toda a vida aquática por onde passou, além de interromper o fornecimento de água de cidades inteiras.


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Os closes e supercloses focados nos movimentos do corpo humano marcam a estrutura de Entre e Liberdade x Segurança, dois sensíveis trabalhos que empoderam a mulher, seja pela quebra de padrões ou pelo ato de ultrapassar portas que estão escancaradas à nossa frente. As cores vibrantes têm seu lugar nos videoclipes, inclusive, em animações 2D, ocupando ambientes urbanos sob o som do funk, vide Território do Bem, enquanto o P&B traz a crueza da construção visual necessária para desvendarmos a alma da mulher personificada por Joana Bentes. Quadro a quadro, a animação Fonte da Tristeza nos faz viajar no ritmo regionalista de Cliver Honorato. É verdade! Estamos mergulhados em um gênero audiovisual plural. Enquanto que O Mal apresenta sequências de colagens digitais, potencializando a letra instigante de Juliana Cortes. O clipe dirigido por Carlon Hardt, que já foi exibido em importantes festivais de animação no país e no mundo, como o Anima Mundi 2017 e Chile Monos, chega às telonas de Vitória. A mensagem das letras das músicas é potencializada e ganha novos significados por meio das imagens em movimento. A voz das ruas está presente na mostra a partir das obras Redemoinho de Março II, Soul da Vila, A Praga e Gamera. As tecnologias acessíveis tornou possível que artistas das periferias passassem a produzir vídeos com o mesmo ritmo dos samplers do rap e com a competência das grandes produções nacionais. Judeu Marcum, diretor de X Barras, é autodidata e um dos mais produtivos do Estado do Espírito Santo. A trilha sonora do vídeo é do rapper MC Adikto, que tem passagem registrada na 15º edição do Festival, em 2008, com o clipe “Discípulo sem Cerimônia”, dirigido por Bento Abreu.


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É verdade! Estamos mergulhados em um gênero audiovisual plural. Na potência do rock ou no ritmo regionalista, a ficção está presente nesta Mostra de Videoclipes, seja no Devaneio lisérgico dirigido por Alexander S. Buck ou no mergulho através da dor da personagem de Kamikaze. Duas obras dirigidas por mulheres colocam em xeque o paradigma do widescreen. Próximo de o sinal analógico de TV sair do ar, Manoela Cezar finalizou Levado na janela de exibição 4:3, trazendo para a obra um ar anos 90. Já a catarinense Gabriela Bieleski captura imagens de um celular em pé para o seu Gamera. Ela sabe o que faz, pois, ao finalizar o vídeo, faz um contraponto à janela 16:9. Isso mostra que a mobilidade dos players e as redes sociais mudaram a nossa forma de consumir e fazer audiovisual. E o videoclipe está na ponta deste fenômeno. O vídeo mais popular do Youtube é do gênero. “See You Again”, no mês de julho deste ano, ultrapassou a marca de 2.895 bilhões de views, desbancando a marca anterior de “Gangnam Style”, que, pela primeira vez, ultrapassou a capacidade do contador do site ao alcançar 2.894 bilhões de visualizações. Dos 30 vídeos mais vistos na plataforma, apenas dois não são clipes. Até a popularização da banda larga, o videoclipe tinha como principal canal a MTV. No entanto, essa forma de potencializar a divulgação da música começou a ser usada constantemente pelos The Beatles nos anos 1960. A banda não podia se apresentar ao vivo nos vários programas de televisão. Então, encaminhava vídeos cujos integrantes cantavam as suas canções. A partir de uma necessidade, o gênero foi ganhando espaço e, ao longo dos anos, uma estética própria. A 1ª Mostra Nacional de Videoclipes foi originalmente exibida no 24º Festival de Cinema de Vitória, no ano de 2017.


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Devaneio Alexander S. Buck | CLI, 3', ES, 2016 Classificação Indicativa: Livre Artista: André Prando Roteiro: Alexander S. Buck Direção de Fotografia: Andre Rios, Alexandre Barcelos Edição e Assist. de Fotografia: Gustavo Senna Produção Executiva: Magno Santos Assist. de Set: João Barros, Jenner Regniero Iluminação: Jorgemar de Oliveira Direção de Arte: João Barros, Karolynne Alves Figurino: Luara Zucolotto, Karolynne Alves Maquiagem: Larissa Roveré, Luara Zucolotto Composição de Efeitos Visuais: André Rios, Gustavo Senna, Natalia Gottardo Correção de Cor e Finalização: Diego Navarro Músicos: André Prando, Bruno Massa, Henrique Paoli Making of e Foto Still: Thiago Lins Marcenaria: Renan Grisoni, Priscila Ceolin Produção: Finordia Co-produção: Expurgação, All Screens

Apoio: Audiovisual Produções, Folgazões Cia de Teatro, Moqueca Mídia Elenco Adulto: Veronica Modesto, Manoel Fogo,Juliano Rabujah, Lorena Louzada, Nelson Mendes, Noran Alle, Lorena Toledo, Henrique Paoli, Diogo Buloto, Cíntia Maia, Alice Perini, Brunna Campos, Phillip Rios, Matheus Silva, Maria Luiza de Barros, Wanderson Lopes, Isabella de Paiva, Sérgio Prucoli Larissa Pacheco, Anderson Bardot, Paulo Gois, Priscila Louzada, João Barros, Fabrício Oliveira, Haroldo Massa, Silmer Gonçalves, Danilo Machado Elenco Infantil: Ana Lara Zucoloto, Maria Alice Corrêa Santos, Abner Machado, João Vitor Louzada, Zoé Jacob Paschoal, Breno Barbosa, Uri Machado, Gabriel do Vale Vervloet, Rafaela Louzada, Hadassa Machado Agradecimentos: Marcelo Barcelos, Andrea Curtiss, Diogo Buloto, Leonardo Foca, Willer Villaças, Amanda Malta, Junior Kyosky, Iuri Galindo

Sinopse: Videoclipe da música "Devaneio", faixa 7 do disco Estranho Sutil (2015) de André Prando. Abra a mente e deixe o fantasma viver.


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Entre Tati W Franklin, Suellen Vasconcelos | CLI, 4', ES, 2016 Classificação Indicativa: Livre Artista: Joana Bentes Fotografia e Montagem: Tati W Franklin, Suellen Vasconcelos Concepção e Roteiro: Joana Bentes Produção e Realização: PlanoB Filmes Fritos

Sinopse: Videoclipe da canção Entre de Joana Bentes


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Fonte da Tristeza Samira Daher | CLI, 4', MG, 2017 Classificação Indicativa: Livre Artista: Cliver Honorato Criação e Animação: Samira Daher Produção: Jacson Dias Edição: Euler Faria

Sinopse: A história de uma mulher abandonada por seu grande amor. Inspirada na cantiga popular brasileira "Fonte do Tororó".


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Forte Danilo Laslo | CLI, 4', ES, 2017 Classificação Indicativa: Livre Artista: Rastaclone

Roteiro e Edição: Danilo Laslo Direção de Fotografia: Diego Capeletti Imagens Aéreas: Bruno Gava Produção Executiva: Beto Kastanha Filmado na Vila de Regência, em Linhares (ES) Algumas imagens cedidas pelo "Últimos Refúgios"

Sinopse: O clipe de Forte conta a história de um pai e de um filho pescadores, que de uma hora para outra perderam tudo por conta de uma tragédia ambiental. Filmado em Regência, ele conta basicamente a história de centenas de famílias que tiveram sua principal forma de renda e vida afetadas com a morte do Rio Doce. Agora buscam uma melhor forma de enfrentar suas dificuldades, nesse caso, através da música.


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Kamikaze Luan Andrade | CLI, 3', BA, 2016 Classificação Indicativa: Livre Artista: Dário Moreira Produção: Iago Sarmento, Alexandre Tudo Direção de Arte: Manolo Garrido AC: Victor Dallarosa 2nd AC: Murilo Passos 3nd AC: Amanda Oliveira Make: Tatiana Produtora: Bulb Produtora Elenco: Vitória Matos

Sinopse: Uma história verídica de uma menina que tinha diabetes, adorava comer doces e, por isso, se recusou a fazer o tratamento devido, foi ficando cega e, quando decidiu se tratar, já era tarde demais, por isso, optou por continuar aproveitando os prazeres em vida para ter uma morte tranquila.


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Liberdade x Segurança Blubell, Gabriela Jovine, Laís Catalano Aranha | CLI, 4’, SP, 2017 Classificação Indicativa: Livre Artista: Blubell Produção: Blubell, Gabriela Jovine, Laís Catalano Aranha Coordenação de Produção: Blubell Dir. de Fotografia: Laís Catalano Aranha Assistência: Helena Yoshioka, Leila Tomás Elétrica: Marisa Aranha Direção de Arte: Gabriela Jovine, Laís

Catalano Aranha Beauty: Gabriela Jovine Elenco: Roberta Estrela D'alva, Sudária Emília Bertolino, Rhaissa Bittar, Marcelle Barreto, Blubell, Patrícia Ribeiro, Carol Tavares,Gabriela Jovine, Clarice Reichstul, Maria Alcina, Amanda Souza, Lia Bock, Sandra Miyazawa.

Sinopse: O videoclipe da música Liberdade x Segurança, do álbum Confissões de Camarim, da cantora e compositora Blubell, parte de um convite a mulheres cuja liberdade inspira a artista. Cada uma com sua diversidade e universo particular empresta ao vídeo a sua desconstrução de forma pessoal e sem ensaios. O filme, produzido de forma colaborativa com as suas personagens, tem uma equipe composta 100% por mulheres que desempenharam diversas funções, desde a elétrica até a montagem e finalização.


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O Mal Carlon Hardt | CLI, 2', PR, 2016 Classificação Indicativa: Livre Artista: Juliana Cortes Roteiro, Colagens, Animações e Montagem: Carlon Hardt

Sinopse: "Assim quem jamais pensou no mal / Se viu em natureza criminal" - o filme retrata, através de stop motion realizado com recortes e colagens, o surreal na perda da inocência e na sedução pelo proibido. Videoclipe de O Mal, música de Dante Ozetti e Arrigo Barnabé, interpretada por Juliana Cortes.


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Redemoinho de Março II André Lúcio | CLI, 4’, SP, 2017 Classificação Indicativa: Livre Artista: Rocha Man Roteiro: André Lúcio Produção Executiva: Matulão Filmes Produtor Executivo: Jeomark Roberto Produção: Priscila Vitelli Yan Martins Direção de Fotografia: Marcello Otsuka, Victor Otsuka, Alice Gouveia Barroso Operação de Glider: Daniel Franco (Franco Filmes)

Direção de Arte: Fernando Argel Adie Mathias Montagem: André Lúcio Pós-produção e Efeitos Visuais: Mateus Eustáquio de Oliveira Colorização: Victor Otsuka Ator: Alvaro Humberto Assessoria de Imprensa: Amanda Proetti

Sinopse: Redemoinho de Março é uma referência à música Águas de Março, de Elis Regina e Tom Jobim. Se eles viviam as águas de março, nós vivemos os redemoinhos. A música tem um caráter místico no que diz respeito aos Signos, pois fala justamente dos piscianos e arianos - Signos do mês de março. Em contrapartida, retrata a espiritualidade negra, a negligência do Estado com a periferia, a corrupção e a violência, tudo isso tendo em sua poética as águas e o fogo.


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Soul da Vila Junior Silva | CLI, 4', ES, 2015 Classificação Indicativa: Livre Artista: In-Versão Brasileira Roteiro: Júnior Silva, In-Versão Brasileira Direção de Fotografia: Junior Silva Edição: Júnior Silva Maquiagem: Luciana Possatti Assistente de Produção: Lucélia Possatti, Sergio Fonseca Making of: Silla Mól, Thiago Perovano, Sinhô Cyclop

Sinopse: Soul da Vila foi composta por Rafael Cyclop (letra) em parceria com Júnior Silva (música) e se apresenta como uma crônica sobre a cidade de Vila Velha, na região metropolitana do Espírito Santo. A contundência e poesia do texto mostram alguém que,por ter nascido na cidade e sempre morado nela,nutre respeito e admiração por suas belezas e lança um olhar crítico sobre suas mazelas.


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Sweet River Manfredo | CLI, 4', ES, 2017 Classificação Indicativa: Livre Artista: Manfredo Roteiro, Produção Executiva, Direção de Arte, Montagem, Trilha Sonora: Manfredo Direção de Fotografia e Som Direto: Léo Merçon, Glauber Castro Edição de Som: Fabiano Hirota, Manfredo Mixagem: Fabiano Hirota Empresa Produtora: Moustache Produções Artísticas

Sinopse: Sweet River exibe as belas e tristes imagens captadas por uma expedição feita pela ONG Últimos Refúgios (ES), dias após o rompimento da barragem de rejeitos em Mariana (MG), em 2015. E propõe a reflexão sobre os impactos nocivos do nosso consumo no meio ambiente. Vidas perdidas, ecossistemas inteiros eliminados . A ironia de um rio doce amargando o fim de maneira tão trágica e violenta .


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Território do Bem Tati Rabelo, Rodrigo Linhales | CLI, 2', ES, 2017 Classificação Indicativa: Livre Artistas: MC Jefinho Faraó, Coletivo Poesia de Busão, Grupo LikeDance, Rodrigo Jesus, Banda Só Brincando, Universo Periférico, Maumau Rangel, Moradores do Território do Bem Criação, Montagem e Animação: Tati Rabelo, Rodrigo Linhales Fotografía: Yury Aires, Mirabólica Direção de Produção: Marcela Mattos Assistente de Produção: Livia Egger Assistente de Fotografia: Pedro Monteiro, Deilson Lourenço, Syã Fonseca Produtor Local: Vinícius Rocha Eletro: Júnior Negão

Sinopse: Videoclipe realizado de forma colaborativa por artistas das oito comunidades que se unem para formar o Território do Bem. Uma atitude de positividade e superação numa região estigmatizada pela violência, situada no coração da Ilha de Vitória, capital do Espírito Santo.


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X Barras Judeu Marcum | CLI, 4', ES, 2016 Classificação Indicativa: 14 Anos Artista: Adikto Roteiro, Direção de Produção, Fotografia, Montagem, Direção de Arte e Animação: Judeu Marcum Produção Executiva: André Adikto Trilha Sonora, Som e Edição de Som:WC Beats Produção de vídeo: Karatapa Films Elenco: André Adikto e Wesley Costa

Sinopse: O clipe narra um fato que aconteceu com o artista André Adikto e sua escolha sobre a situação acontecida.


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Exibição do dia 24/04 Videoclipes do 25ºfcv DIVERSIDADE É A FORÇA DO VIDEOCLIPE Luiz Eduardo Neves e Suellen Vasconcelos Curadores A 2ª Mostra de Videoclipes do 25º Festival de Cinema de Vitória é um recorte dos diferentes processos de criação utilizados por diretores de várias partes do país. Do rock ao samba e do rap ao pop. Sim, eles estão aí. Os mais diversos ritmos nacionais marcam presença nos mais de 50 minutos de imagens em movimento selecionadas para concorrer ao Troféu Vitória. A força negra e feminina aparece na mostra desde a sua curadoria, que conta com uma integrante que produz videoclipes e forma novos profissionais do ramo. As mulheres na tela representam a diversidade de estilos e gerações da música brasileira - entre elas Elza Soares e Mahmundi -, cujo movimento afirmativo é a causa do empoderamento expressando pela visão artística contida em diversas produções que extrapolam fronteiras. A Mulher do Fim do Mundo e Frio conversam por meio da utilização das cores para exaltar os corpos e suas expressões, enquanto Teresa aborda o Girl Power numa estética oitentista. O videoclipe é um gênero transgressor por natureza, contestador estético que oxigena os demais gêneros audiovisuais por sua


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liberdade técnica, artística e criativa. A partir dele, muitas diretoras e diretores deram o primeiro passo rumo à carreira audiovisual. Em 2018, os videoclipes protagonizados por negros impactaram o mainstream da música pop norte-americana e no Brasil movimentam grande parte da produção de artistas engajados com causas negras, feministas e LGBTQI+. O Festival de Vitória segue esse fluxo, nessa empreitada de experimentações, que flutuam pelo colorido, P&B, plano sequência, animação, entre outras técnicas, recebendo grandes talentos que projetam o melhor do audiovisual brasileiro no coração da capital capixaba. A 2ª Mostra Nacional de Videoclipes foi originalmente exibida no 25º Festival de Cinema de Vitória, no ano de 2018.

Realizadores da Mostra Nacional de Videoclipes, no 25FCV - Foto: Sérgio Cardoso


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A Cidade Artur Miranda | VID, 4', RJ, 2017 Classificação Indicativa: 10 Anos Artista: Cícero & Albatroz Direção de Produção: Fernanda Faro, Tiago Marinho Produção Executiva: Eduardo Magalhães Fotografia: Julio Costantini Trilha Sonora: Cícero & Albatroz Montagem: Plano Sequência*** Direção de Arte: Artur Miranda, Eduardo Magalhães Edição de Som: Cícero Lins

Sinopse: Numa esquina movimentada de uma grande metrópole um homem canta deitado ao lado de um carro acidentado. Transeuntes curiosos param para observar e investigar a cena.


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Andei Muito Fabrício Koltermann | VID, 5', RS, 2017 Classificação Indicativa: 12 Anos Artista: Cuscobayo Roteiro: Fabrício Koltermann, Matheus Chitolina, Matheus Fighera Produção Executiva: Matheus Toledo Direção de Produção: Elisa Fonseca Direção de Fotografia: Guilherme Spohr Direção de Arte: Carla Goldschmidt, Elisa Fonseca Figurino: Carla Goldschmidt Maquiagem: Mareanna Hoff Assistente de Produção: Maria Carolina Hoelzel Assistente de Fotografia: Eduardo Lobato Maquinista: Eduardo Pippi Montagem: Matheus Fighera Finalização: Bruno Fenner Elenco: Amanda Pedrotti, Getúlio Pahim, Rossano Martins, Shaiane Machado, Tânia Bilhalva

Sinopse: Antes tanto quis, mas cansei de esperar, decidi fazer e fazendo eu percebi.


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Cherry Blossom Junior Batista | VID, 4', ES, 2017 Classificação Indicativa: Livre Artista: Solveris Assistente de Fotografia: Lucas Dornellas Produção: Karol Mendes, Vinicius, Laila Salles, Victor Lima Maquiagem: Erika Almeida Figurino: Patrik Braga Color Grading: William Rubim Fotografia: William Rubim Montagem: Junior Batista Edição de Som: DJ Caique Elenco: Solveris

Sinopse: Videoclipe realizado para música "Cherry Blossom” do grupo SOLVERIS presente no álbum Coligações Expressivas 4.


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Desencontro Jackson Abacatu | VID, 3', MG, 2018 Classificação Indicativa: Livre Artista: Aqueles Que Não Sabem de Nada Roteiro, Animação e Edição: Jackson Abacatu

Sinopse: O desafio de procurar alguém se perde nos desencontros do sentimento mútuo.


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É Com Jabá André Wofchuk | VID, 3', RS, 2017 Classificação Indicativa: Livre Artista: Tonho Crocco Roteiro e Fotografia: André Wofchuk Direção de Produção: Eduardo Christofoli Edição e Finalização: André Wofchuk Produção: Colateral Filmes Música: Tonho Crocco, Carlinhos Presidente Estrelando: Rádio Toca Fitas Toshiba Boombox Participação Especial: Ricardo Golbspan, Tonho Crocco Agradecimentos Especiais: Marco Prates, Mercearia Venâncio

Sinopse: Neste videoclipe acompanhamos a história de um rádio que resolve procurar sentido a sua existência após ser deixado de lado pelo seu dono.


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Frio Marina Lima | VID, 5', DF, 2017 Classificação Indicativa: 14 Anos Artista: San Lunes Roteiro: Ana Caroline Brito, Marina Lima Direção de Produção: Marina Lima Fotografia: Matheus Bacellar Montagem: Gabriel Foster Direção de Arte: Alexandra Kopp Elenco: Tainá Cary, Emanuel Lavor, Jonathan Dutra, Gabriela Oliveira, Luiz Carrier, Maria Clara Freitas

Sinopse: Um encontro de afeto entre diversas pessoas.


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Imagem Artur Miranda | VID, 4', RJ, 2017 Classificação Indicativa: Livre Artista: Mahmundi Direção de Produção: Guilherme Bolo Produção Executiva: Hugo Braga, Eduardo Magalhães, Bernardo Portella Fotografia:Daniel Venosa Trilha Sonora: Mahmundi Montagem: Artur Miranda, Hugo Braga, Eduardo Magalhães Direção de Arte: Nicolas Martins, Vinicius Mesquita Animação: Relâmpago Cor: Hebert Marmo Elenco: Marcela Vale, Aghata Alves, Ana Paula Silva, Clara Rodrigues, Fhelipe Marques, Gabriela Andy, Pedro Henrique Brum, André Henrique

Sinopse: 
Um grupo de jovens amigos se encontram e percorrem a noite suburbana carioca em busca de diversão


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La Dôtu Lado Eduardo Zunza | VID, 4', MG, 2018 Classificação Indicativa: Livre Artista: Coladera Criação e Edição: Eduardo Zunza Elenco/ Bailarina: Malu Figueirôa

Sinopse: Videoclipe da música La Dôtu Lado do grupo Coladera


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Manda a Benção Carlos Itaiguara | VID, 5', ES, 2018 Classificação Indicativa: Livre Artista: Conceito Periférico Direção de Produção: Noéli Martins, Gabriel Quirino, João Carlos dos Santos Produção Executiva: Luiz Eduardo Neves Fotografia: Jordan Andrade Montagem: Jordan Andrade, Gabriel Quirino, Carlos Itaiguara, Diego "Boucam" Capeleti Elenco: JR Conceito, Samuel José dos Santos, Elias Rodrigues, Alexandre Fidelis

Sinopse: Manda a Benção, videoclipe feito a partir de canção do grupo de rap Conceito Periférico, é resultado da oficina Rap em Cena realizada em 2018 pelo Panela Audiovisual, envolvendo jovens de bairros periféricos da Grande Vitória.


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Mistérios Eduardo Christofoli | VID, 4', RS, 2017 Classificação Indicativa: Livre Artista: Leandro Zen Direção de Fotografia: Felipe Rosa Assistente de Câmera: Renato Winckiewicz Figurino: Marília Scheeren Ethur Making of: JP Siliprandi Transporte: Cláudio Xarão Edição e Finalização: Filipe Barros Produção: Colateral Filmes Elenco: Leandro Zen Participação Especial: Nei Van Soria

Sinopse: Neste videoclipe acompanhamos uma visita do músico Leandro Zen à capital doRio Grande do Sul que tenta entender os “mistérios” da vida ao longo de seu passeio pela cidade.


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Playboy Entra em Choque Karen Valentim, Diego Cunha | VID, 5', ES, 2018 Classificação Indicativa: Livre Artista: Conceito Periférico Direção de Produção: Samuel Verneck, Claudineia Xavier, Sebastião Pereira Produção Executiva: Luiz Eduardo Neves Fotografia: Rodrigo Aragão Montagem: Rodrigo Aragão, Rafael Harduim Elenco: JR Conceito, Bruprec Engatilhado

Sinopse: Playboy Entra em Choque, videoclipe feito a partir de canção do grupo de rap Conceito Periférico, é resultado da oficina Rap em Cena realizada em 2018 pelo Panela Audiovisual, envolvendo jovens de bairros periféricos da Grande Vitória.


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Samurai do Rap Judeu Marc1 | VID, 3', ES, 2018 Classificação Indicativa: Livre Artista: Adikto Produção Executiva: Karatapa Films, Na Correria, BSP Roteiro: Judeu Marc1, Adikto Edição: Karatapa Films Instrumental: Adikto Voz/Mix/Master: Bicho Solto Records Locação Principal: Casa da Barão Elenco: Macaco (Ninja), Sagaz (Mestre Samurai), Bocaum (Bookmaker), Leoni (MC Rival na Batalha), Noventa, César, Dimas, Chock, Dudu Durap (Suspeitos na Mira), LBrau (Suspeitos na Mira), Vandim (Mente Ativa), Fredone (Conteúdo Paralelo), Jota, Canela, Kenyel (Mac Crew), Lenim (Mac Crew), Bodaum, Hermes (Incita), DJ Jack, DJ LD Fli, B-Boy Kruz

Sinopse: Samurai do Rap é uma obra onde Adikto se descreve como um Samurai das antigas dinastias do Japão, porém, ao invés de uma espada bem forjada e afiada como dos samurais japoneses, a busca é por uma caneta e com ela, Adikto afirma já ter derrotado diversos adversários escrevendo seus versos. Viaje nesta metáfora rimática e observe cada um dos personagens e suas atuações nessa trama cheia de referências.


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Seguindo o Pastor Fabrício Koltermann | VID, 4', RS, 2018 Classificação Indicativa: 10 Anos Artista: Extratelurianos Roteiro: Fabrício Koltermann Direção de Fotografia: Guilherme Spohr Direção de Arte: Iasmin Almeida, Matheus Fighera Produção: Extratelurianos Assistente de Fotografia: Eduardo Pippi Montagem: Matheus Fighera Acervo de Figurino: Elisa Fonseca Desenho de Som: Vox Haus Finalização: Maria Carolina Hoelzel Elenco: Joel Cambraia Machado, Shay Gazzolla

Sinopse: Me dê a mão eu sou seu amigo.


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Teresa Erika Mariano | VID, 3', ES, 2017 Classificação Indicativa: 12 Anos Artista: Whatever Happened to Baby Jane Roteiro e Produção: Erika Mariano Dir. de Fotografia e Edição: Gabriel Castro Assistência de Fotografia e Iluminação: David Ferreira, Júlio Mariano

Elenco/ Teresa: Priscila Vescovi Teresas: Ana Carolina Pereira, Ana Luiza Gonçalves, Jéssica Oliveira, Katharina Igreja, Laysa Santiago, Luiza Cosseti, Moyara Kossman, Rachel Póvoa, Silvia Labuto

Sinopse: O clipe mostra a chegada de Whatever happened to Baby Jane para um ensaio antes de subir ao palco. Ao mesmo tempo, narra a tarde de um grupo de garotas de fortes personalidades, que juntas irão celebrar o show da banda logo mais à noite. Dentre elas Teresa, protagonista que exibe sua montanha-russa de emoções. Teresa é múltipla e pode ser o alter ego de todas. Um outro eu, uma outra personalidade que por vezes não se quer mostrar, mas que pulsa internamente e inevitavelmente aparece diante dos olhos do mundo. Teresa é notável, marcante e ao mesmo tempo indefinível. Teresa é única.


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Exibição do dia 25/04 Videoclipes do 26ºfcv LUTAS RETRATADAS POR MEIO DA CANÇÃO E DO CLIPE Luiz Eduardo Neves e Suellen Vasconcelos Curadores A canção e o clipe compõem um mesmo sistema de produção que seguem caminhos muito semelhantes na cultura midiática. Os desdobramentos da cultura audiovisual acompanham a evolução dos aparatos técnicos empreendidos na música. Da câmara escura ao smartphone, do gramofone ao .mp3, muita coisa evoluiu. Nas últimas décadas, novos suportes de streaming possibilitaram um boom, tanto na produção e distribuição das obras, quanto na forma do espectador consumir a canção utilizando dois sentidos. Hoje assistimos música! O público do 26º Festival de Cinema de Vitória na 3º Mostra Nacional de Videoclipes vai conhecer um panorama nacional relacionado a um fenômeno mundial: o videoclipe como gênero audiovisual político, marginal, periférico, negro, diverso em corpos e cores, efeitos visuais e experimentação, marcado pelo protagonismo das minorias nas telas ou por trás das câmeras. São 12 produções selecionadas que refletem os rumos musicais brasileiros em um verdadeiro caldeirão de ritmos, rostos, cores e gêneros. Meu Carnaval, co-dirigido pela cantora Gabriela Brown e Tati Ra-


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belo, lançado no Dia da Visibilidade Lésbica, traz para as telas casais lésbicos celebrando a vida e a liberdade de amar. Estruturado por imagens de grande impacto visual, 19 – outra co-direção feminina da artista Labaq e Laís Catalano Aranha – serve-se das cores, texturas, encontros e tensões entre diversos corpos nos atentando para o triste fato de que a cada 19 horas uma pessoa LGBTQI+ foi agredida, assassinada ou cometeu suicídio no Brasil entre 1º de janeiro e 15 de abril de 2018. “É um hino sobre o amor universal, aquele em que a cor da pele, as roupas e a orientação sexual das pessoas pouco importam”. Sob o guarda-chuva LGBTQI+ ainda temos Ninguém Perguntou por Você, de Letrux e Pedrinho, de Tulipa Ruiz. Este último “Inspirado na performance ‘La Bete’, de Wagner Schwarcz, censurada em 2017, após desagradar os conservadores, propõe uma narrativa inversa: um efeito dominó de liberdade sobre os corpos gays e trans”. Fausto de Gueto, de Pelos, e OK OK OK, de Gilberto Gil, revelam a luta diária de jovens negros das periferias do Brasil. Transitando entre a linguagem lúdica e documental, o sonho do menino e a dura luta por sobrevivência, a obra de Pelos apresenta um “Fausto à brasileira”. No clipe de Gil, montado em plano-sequência, outro jovem negro nos apresenta a narrativa de luta e resistência diária vivida por esta população. A narrativa é repleta de metáforas visuais que dialogam com a tocante canção de Gil. Toasted do artista Danos, dirigido por Cintia Nakashima, encabeça os clipes que investiram na experimentação da linguagem. Nele, conhecemos uma narrativa contada em tempo reverso que nos conduz, do fim para o início, à origem da história. Vazio, de Pxrtela investe numa viagem na cadeira de praia, já em Space Woods, da banda My Magical Glowing Lens, nos leva diretamente para o espaço!


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Na sequência, Silva nos conduz por caminhos de Salvador num passeio com belas composições e imagens da cultura e do povo da cidade, em Brisa. Enquanto Silva paira nesta beleza de cenários, Tempos Loucos, de Fabrício Koltermann apresenta uma família que é levada a encarar a hipocrisia cotidiana numa experiência transformadora. O tema familiar também é abordado no clipe Além da Janela, que traz como condutores da história a artista Nath Dias e seu filho Caetano, numa narrativa lúdica sobre empatia. Muitos videoclipes apresentam histórias de vida, retratos e mensagens, que vão além do discurso emoldurado pela canção, abrindo as portas da percepção para reflexões que nos afetam e modificam nossa atitude e visão do mundo. A inserção e permanência deste gênero nos festivais permitem que essas histórias de vida se propaguem por espaços que antes não transitavam. A Mostra de Videoclipes do Festival de Cinema de Vitória vem crescendo a cada ano, e em 2019, foram mais de 70 videoclipes inscritos. O videoclipe enquanto gênero audiovisual se mostra potente na profusão de ideias que combatem o preconceito, de valorização de modos e estéticas de existência à margem da normatividade e no empoderamento das diversas minorias, que muitas vezes não transitam pelos espaços dos festivais, ainda dominados por culturas elitistas e excludentes. O videoclipe é o gênero popular que resiste contaminando, confundindo e tensionando a arte e a cultura popular do nosso tempo e a 3ª Mostra Nacional de Videoclipes vai ser o palco da expressão desse gênero que por mais que o tempo passe, nunca envelhece. A 3ª Mostra Nacional de Videoclipes foi originalmente exibida no 26º Festival de Cinema de Vitória, no ano de 2019.


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19 LaBaq | VID, Cor, HDV, 4', SP, 2018 Classificação Indicativa: Livre Artista: LaBaq Co-Direção, Direção de Fotografia e Finalização: Lais Catalano Aranha Roteiro: LaBaq Direção de Arte: Fernanda Leite Operadora e Assistente de Câmera: Renata Pegorer Costa Casting e Produção: Debora Gepp Assist. de Produção e Edição: Bruna Fortes Making of - Still: Leila Tomas, Bia Varella Making of - Vídeo: Helena Freitas

Operador de Drone: Pedro Azzolini Direção de Produção, Produção Executiva e Produção de Campo: Cassia Sandoval Assist. de Produção: Beatriz Lopes Assist. de Produção: Luciana Nascimento Elenco: Bruna Fortes, Cella Azevedo, Debora Gepp, Erica Nascimento, Hildit Nitsche,Inês Teixeira, Jessica Mancini, Jorge Lira, Juliano Carvalho, Maria Luiza Magri, Nathan Ranhel, Rafael Leal, Steffano Dias

Sinopse: Entre 1º de janeiro e 15 de abril de 2018 uma pessoa LGBTQI+ foi agredida, assassinada ou cometeu suicídio a cada 19 horas no Brasil. De todos os homicídios contra LGTQI+s no mundo, 52% acontecem em terras brasileiras. Destes alarmantes números nasce o título do poderoso single de LaBaq, “19”, que aborda a necessidade de quebrar barreiras problemáticas da sociedade. É um hino sobre o amor universal, aquele em que a cor da pele, as roupas e a orientação sexual das pessoas pouco importam.


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Alguém na Janela Aksa Lima | VID, Cor, HDTV, 4', SP, 2018 Classificação Indicativa: Livre Artista: Gustavo Rosseb Produção: Lampião Filmes, Caio Oliveira Direção de Fotografia: Marcelo Batista Direção de Arte: Lampião Filmes Roteiro: Gustavo Rosseb, Aksa Lima Maquinário: Megatroper Making Of: Suellen Novais, Estela Correa Elenco: FEMMENATH, Caetano Olag Logger: Suellen Novais Edição e Finalização: Aksa Lima Rotoscopia: Estela Correa Color Grading: Acauan Pastore Produção Executiva / Divulgação: Flávia Rabachim

Sinopse: Gustavo apresenta seu terceiro trabalho. “Alguém na janela” fala de empatia. Com participação da artista Nath Dias e seu filho Caetano como condutor do clipe, Gustavo mostra que, quando a gente se coloca no lugar do outro, quando abrimos a janela e, de fato, olhar pra rua, isso faz do mundo um lugar mais interessante.


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Brisa MAGU | VID, Cor, HDTV, 4', BA, 2018 Classificação Indicativa: Livre Artista: Silva Direção de Fotografia, Montagem e Color: MAGU Coordenador de Produção: Bob Redins Styling: Gabriel Feriani Produção Executiva: Lucas Silva, Silva, André Paste Apoio: Felipe Meneghel (Mamut), Eduardo (JKL), Edson (Cinecam) Agradecimentos: Senhora Filmes, Academia de Filmes, Yuri Barichivich, Joyce Castello


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Fausto do Gueto Arthur B. Senra, Robert Frank | VID, Cor, 4k, 8', MG, 2018 Classificação Indicativa: Livre Artista: Pelos Assistente de Direção e Platô: Tarley McCartiney Produção Executiva: Robert Frank, Heberte Almeida Direção de Produção: Alessandra Carneiro (Casa Mascate Cultura de Rede) Assistentes de Produção: Kim Gomes, Heberte Almeida, Pedro Vinícius Pereira Direção de Fotografia e Câmera: Ceres Canedo Assistente de Câmera: Leonardo Fonseca Drone: Marcão Pesada (Estética Urbana) Elétrica: Beto Assenção Consultoria de Figurino: Rimenna Procópio Montagem: Arthur B. Senra Desenho de Som: Robert Frank Finalização: Carlos Henrique Roscoe Still: Tarley McCartiney Apoio: Filmes de Plástico, Cento e Oito Filmes, Estética Urbana

Sinopse: Um Fausto à brasileira, da realidade, onde não existem pactos que possam mudar seu contexto, a não ser com a própria força. Não ficar em silêncio, não se entregar ao medo.


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Meu Carnaval Gabriela Brown, Tati Rabelo | VID, Cor, HDTV, 4', ES, 2018 Classificação Indicativa: Livre Artista: Gabriela Brown Direção de Fotografia: Gabriel Hand Cinegrafistas: Diogo Buloto, Edu Donna, Gabriel Hand, Tati Rabelo Direção de Arte: Giovanna Rosetti Figurinista: Marina Ribeiro Maquiagem: Mari Roncetti Edição: Gabriela Brown, Tati Rabelo Color Grading: Edu Donna Figurino Gabriela Brown: Desapegue Acessórios: O Balancê Apoio Geral: Estúdio Bravo Agradecimento Especial/ Preparação Vocal: Alza Alves Elenco: Gabriela Brown, Yasmin Nariyoshi, Aressa Alves, Nádia Tristão, Thainá Schroeder, Yasmin Zandomenica, Giovanna Rosetti, Marina Ribeiro, Marina Vargas, Nataly Volcati, Isabela Pagoto, Milana Milanezi, Laysa Sabadini

Sinopse: Com a delicadeza de casais reais e de uma potência feminista, o clipe não apenas retrata, como também celebra o amor entre duas ou mais mulheres, comemorando tudo o que há de feliz, comum e incomum nas relações.


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Ninguém Perguntou por Você Pedro Henrique França | VID, Cor, 4k, 6', RJ, 2019 Classificação Indicativa: 14 Anos Artista: Letrux Roteiro: Pedro Henrique França Produção: Gabriel Bortolini, Nathalia Ribeiro Fotografia: Dudu Mafra Still: Flora Negri Direção de arte: Chica Caldas Figurino: Marina Franco Maquiagem: Gabriel Ramos Preparação de elenco: Sol Miranda Gaffer: Lucas Stirling Montagem: Bia Medeiros e Vinicius Nascimento Finalização: Pedro Magalhães Design Gráfico: Victor Jobim Assessoria de Imprensa: Antonio Trigo, Rafael Millon, Monica Ramalho Assistente de Produção: Luiz Schiavinato Valente Assistente de Figurino: Rafael Ouvires, Gabriela Fernandes Assistente de Maquiagem: Ibrahin Salim

Assistente de Arte: Ruan D'Ornellas 1˚ Assistente de Câmera: Victor Vidigal 2˚ Assistente de Câmera: João Chataignier Apoios: Stirling Corporation, GÁZ Sake, Solar dos Abacaxis, Cervejaria 2Irmãos Camila Pitanga veste Haight / Wymann Bruna Linzmeyer veste Sri Agradecimentos: Priscila Fiszman, Bernardo Mosqueira , Adriano Carneiro de Mendonça, Bruno Balthazar Uma produção Reprodutora, ACME Produtor Associado: Eduardo e Mônica Co-produção: A Salamandra Figuração: Ana Claudino, Arthur Braganti, Brilha LaLuna, Chica Caldas, Felipe Gonçalves, Galba Gagóia, Jazz K, Lucas Batista, Luiz Nadal, Luiz Wachelke, Marina Franco, Nathalia Ribeiro, Peter Albuquerque, Sofia Viaja, Victor Curi, Yara Mangabeira Elenco: Bruna Linzmeyer, Camila Pitanga

Sinopse: Duas mulheres vivem uma noite de amor e liberdade.


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OK OK OK Victor Hugo Fiuza | VID, Cor, HDV, 6', RJ, 2018 Classificação Indicativa: 10 Anos Artista: Gilberto Gil Roteiro: Victor Hugo Fiuza Produção: Camilla Leal Direção de Fotografia: Tiago Rios Foquista e Assistente de Produção: Pedro Kuster 1ª Assistente de Direção: Maria Isabel Marques Produção de Set: Leandro Rodrigues Arte e Figurino: Trovoa (Ana Almeida, Ana Clara Tito, Carla Santana, Laís Amaral) Maquiagem: Paula Vidal Elenco: Kevyn Mota, Soraia Arnoni, Murilo Sampaio Montagem e Finalização: Victor Hugo Fiuza VFX: Maria Isabel Marques Edição Vídeo TV: Leandro Rodrigues Apoio Figurino: Pence, Holly, Silvio Rodrigues Líder de Projeto: Natalia Erre Produção Executiva: Bruno Maia

Sinopse: Videoclipe da música ''OK OK OK', de Gilberto Gil. Num lugar distópico em algum momento entre o presente e o futuro, um jovem negro avança sobre um caminho inóspito, enquanto forças externas o pressionam a recuar.


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Pedrinho Fábio Lamounier, Pedro Henrique França, Rodrigo Ladeira VID, Cor, 4k, 4', SP, 2018 Classificação Indicativa: 12 Anos Artista:Tulipa Ruiz Idealizador: Pedro Henrique França Roteiro: Fábio Lamounier, Pedro Henrique França, Rodrigo Ladeira Fotografia e Montagem: Fábio Lamounier, Rodrigo Ladeira (DOMA02) Assist. de Direção e Fotografia: Rony Hernandez Color Grading: Pedro Furtado Figurino: Armando Algo Assistente de Figurino: Fabio Rodrigues Maquiagem: André Mattos Produção e Assessoria de Imprensa: Érica Januário, Fernanda Couto e Pedro

Henrique França Making of: Biel Machado e Iza Campos (CHAPATI IMAGENS) Agradecimentos: Janaína Rueda (Dona Onça e A Casa do Porco), Letícia Melo, Luciana Orvat e Felipe Daros (Estúdio Claraboia), Restaurante Tavares, Winny Choe Preparador de Elenco: Lucas Resende Ator Convidado: Kelner Macêdo Elenco/ Pedrinhos: Andrez Leite, Bernoch, Lucas Resende, Lucas Silvestre, Pedro Henrique França, Pedro Lacerda, Renan Menegazzi, Rony Hernandes, Thiago Loreto

Sinopse: Inspirado na performance "La Bête", de Wagner Schwarcz, censurada em 2017 após desagradar conservadores, o clipe realizado para a cantora Tulipa Ruiz propõe uma narrativa inversa: um efeito dominó de liberdade aos corpos. Provocado por um Pedrinho libertador, vivido pelo ator Kelner Macêdo, o filme é um grito de liberdade e direito de ser e amar quem quiser.


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Space Woods Gustavo Senna | VID, Cor, HDTV, 5', ES, 2019 Classificação Indicativa: Livre Artista: My Magical Glowing Lens Roteiro, Edição e Efeitos Visuais: Gustavo Senna Produção Executiva, Roteiro e Assistência de Direção: Mirela Morgante Storyboard: Huemerson Leal Direção de Fotografia: Francisco Xavier Assistência de Fotografia: Bárbara Ribeiro Produção: Raphael Gaspar Iluminação: Vitor Lorenção Coreografia e Aulas de Atuação: Carla Van Den Bergen Direção de Arte: Barbara Carnielli Figurino: Luara Zucolotto Pint. Corporal e Maquiagem: Juliana Dadalto Maquiagem e Cabelo: Caio Motta Making of: Victória Dessaune Computação Gráfica: Bárbara Cani

Design Gráfico: Demytrius de Pieri Assessoria de Imprensa: Flora Miguel Mídias Sociais: Dreamland Digital Cattering: Düsseupie Produção: Chaleira filmes e EXP filmes Apoio: Studio ETÁ, Brisa, La Rama e Má Companhia Agradecimentos: Alexandre Barcelos, Apoena Medeiros, Gilsara Ferreira Alves Angelo, Giovanna Rosetti, Klaus Berg Bragança, Lucas Andrés Barreto, Maria José Senna, Mario Luis Martins de Almeida, Matheus Noronha, Pedro Monteiro, Ramón Rodrigues, Sandro Zucoloto Pedretti, Tito Ferradans, Sítio Javali & Família Gaspar Tebaldi, Sítio Alma Clara, Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e Walter Monteiro

Sinopse: Em um sonho,Gabi é expulsa do planeta Terra e viaja para encontrar outras dimensões do seu ser.


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Tempos Loucos Fabrício Koltermann | VID, Cor, HDTV, 4', RS, 2018 Classificação Indicativa: 16 Anos Artista: The Outs Roteiro: Fabrício Koltermann Produção Executiva: Matheus Toledo Direção de Arte: Camila Marques Direção de Fotografia: Thomás Townsend Dir. de Fotografia Convidado: Pedro Rocha Direção de Produção: Camila Marques, Elisa Fonseca, Matheus Toledo Figurino: Camila Marques, Carla Goldschmidt Maquiagem: Tylara Lofgren Montagem: Matheus Fighera Finalização: Bruno Fenner Assistente de Direção: Matheus Fighera Assistentes de Arte: Juliana Krupahtz, Ludmila Diefenbach Assistentes de Fotografia: Bruno Fenner, Daiane Bedin Assistentes de Produção: Diego Garlet, Otávio Chagas Assistente de Maquiagem: Lisiane Lopes Arte Gráfica: Baxo Marques, Juliana

Krupahtz Marcenaria: Bruno Fenner Maquinistas: Gabriel Montagner, Vitório Keiller Cattering: Lorena Vieira Agradecimentos: Alexandre Araújo, Maria Carmen Marques, Marlene da Silva, Gerson Marques, Jéssica Oliveira, Brechados, Finish Produtora, Evandro Rigon, Bolzan Sonorizações, João a Rigor, Garagem Mix, Sabrina Dutra, Renato Xavier, Ronaldo Palma, Sebo Camobi, Antônio Marcos Medeiros, Praga Brechó, Vinicius Grings, Boteco do Rosário, Baxo Marques, Alexandre Araújo, Ronaldo Palma, Emanuel Prado Hair & Beauty Figurantes: Alexandre Araújo, Bruna Milbradt, Juliana Cougo, Matheus Fernandes, Nicole Schneider, Pedro Henrique Wizniewsky Elenco: Joel Cambraia Machado, Natália Krum, Tânia Bilhalva, Rossano Martins

Sinopse: Uma família entre aparências cotidianas e a verdade escondida se envolve numa experiência transformadora.


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Toasted Cintia Nakashima | VID, Cor, 2k, 4', SP, 2018 Classificação Indicativa: 12 anos Artista: Danos Roteiro: Cintia Nakashima Produção Executiva: Luiza Marques Direção de Produção: Tiago Pinheiro Direção de Fotografia: Marcus Samed Direção de Arte: Eduardo Correa Kissajikian Edição: Daniel Weber Produção: Frontera Filmes Co-produção: Buvuá Filmes e Volt Filmes

Sinopse: Um crime que ficou para trás em uma noite vista de trás para frente.


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Vazio Maurício Coutinho | VID, Cor, HDTV, 4', DF, 2019 Classificação Indicativa: 16 Anos Artista: Pxrtela Edição: Daniel Sena Direção de Fotografia: Maurício Coutinho Efeitos Sonoros: Daniel Sena Produção: Maurício Coutinho, Bruno Portela Apoio: Pedro Nóbrega Filmagens Aéreas: Daniel Kazeil Arte Gráfica: Maurício Coutinho

Sinopse: Uma viagem pela visão de um músico.


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FoRMAção


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Exposição Fotográfica digital apresenta imagens do cotidiano em tempos de isolamento Investigar o cotidiano em tempos de isolamento social através da fotografia. Essa é a proposta da Exposição Fotográfica Digital. Em exibição em formato online, no site da Galpão Produções (galpãoproduções.com.br), o trabalho é resultado do Laboratório Criativo de Fotografia que aconteceu entre os dias 23 e 25 de março como parte das atividades de formação da TendaLab. O workshop foi ministrado pelo fotógrafo e cineasta Bernard Lessa que também fez a curadoria das XX fotografias da exposição. “As imagens que foram produzidas durante essa oficina vão muito ao encontro dessa proposta de reencantamento do olhar, de olhar pro cotidiano. E de olhar para o próximo, de ver beleza naquilo que às vezes a gente se acostuma não ver mais beleza” explica o oficineiro.


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De acordo com Bernard, além da proposta de pensar o cotidiano, estimular a troca está presente desde a ideia inicial do laboratório. “Desde o primeiro momento, a proposição era que fosse um espaço de troca, que a gente se ouvisse, que a gente pensasse junto, conseguisse construir junto nesses três encontros". O objetivo do Laboratório incluía, além de informações técnicas sobre fotografia, um estímulo para que os alunos ressignificarem o olhar. "A gente trabalhou noções técnicas da fotografia, como exposição, como obturador, como lentes, escolhas de composição, mas o foco principal foi trazer a questão do olhar. Desde o primeiro momento de trabalhar esse reencantamento do olhar”. Bernard acredita que reeducar como olhamos o que nos cerca, por meio da fotografia, pode melhorar o nosso dia a dia em tempos complexos como os atuais. “A gente vive um momento de muito desencanto. Acho que a fotografia pode ser usada, também, como uma forma de terapia do olhar. Trazer um pouco dessa poética do olhar pro dia a dia, pro cotidiano. Foi nesse sentido que a gente trabalhou alguns exercícios”. Lessa acredita que pequenas mudanças já causam novos efeitos no olhar fotográfico. “Os exercícios foram no sentido de provocar os alunos. Provocar esse olhar pro mais próximo, pro cotidiano. Provocar esse olhar pra gente. Às vezes, virar o celular muda tudo. A gente tá muito acostumado a criar para rede social, imagens na vertical, então, às vezes, só de propor um formato horizontal, já cria possibilidades novas”. @lessabernard


FOTO: CACILDA MADUREIRA

FOTO: CLAUDIA MADUREIRA

FOTO: FABRICIA SILVA

FOTO: CAROLINA DE CASTRO

FOTO: CAROLINA DE CASTRO

FOTO: BARBARA VALENTE

FOTO: BARBARA VALENTE

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FOTO: KAMILLA BARBOSA

FOTO: SIELY SANTOS

FOTO: GIOVANA FARKAS

FOTO: KELI SIMOURA

FOTO: LUÃ QUINTÃO

FOTO: GIOVANA FARKAS

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FICHA TÉCNICA TendaLab | Mostra de Criatividade, Sustentabilidade e Formação Cultural Galpão Produções Artísticas e Culturais LTDA Direção Lucia Caus Coordenação Executiva Larissa Delbone Fran de Oliveira Produção Gabi Nogueira Guilherme Rebêlo Renata Moça Comunicação e Redes Sociais Miguel Filho Leonardo Vais Assessoria de Comunicação RF Assessoria Laboratório Criativo de Fotografia Bernard Lessa Conferência de Cópias Fran de Oliveira Identidade Visual e Ilustração Hélio Coelho Design gráfico Gustavo Binda Programação do Site Sílvio Alencar

REVISTA TENDA Projeto Editorial Guilherme Rebêlo Leonardo Vais Produção Gabi Nogueira Guilherme Rebêlo Leonardo Vais Miguel Filho Renata Moça Artigos Guilherme Medeiros Marcelo Lages Rafaela Germano Martins Sebastião Ribeiro Filho – Tião Xará Wagner Silva Gomes Textos Leonardo Vais Miguel Filho Fotos Levi Mori Identidade Visual e Ilustração Hélio Coelho Design gráfico Gustavo Binda Vitória-ES | Abril 2021


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Galpão Produções Artísticas e Culturais LTDA REALIZAÇÃO Rua Professora Maria Cândida da Silva, 115 - Bairro República Vitória, ES - CEP 29070-210 Secretaria da Cultura www.galpaoproducoes.com.br WhatsApp: (27) 999713098

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