26 VIVACIDADE | AGOSTO 2021
SOCIEDADE
António Machado:
“Esta é uma casa de alegria e descontração. As pessoas vêm para aqui, para sentir paz, porque o andar de bicicleta é uma sensação livre e espectacular” Sediada em Fânzeres, este ano, a Ciclocabanas comemora 25 anos. Fomos conhecer um pouco da história desta Associação que promove a paixão pelo ciclismo. Estivemos à conversa com um dos fundadores e, atual Presidente da Coletividade, António Machado.
Comecemos pela história da Associação, como é que ela surgiu. A Ciclocabanas surgiu através de um grupo de sete amigos de infância. Tudo começou quando aos domingos de manhã, saiamos para dar uma volta de bicicleta. O gosto pela modalidade foi crescendo e, com isso, mais pessoas se juntaram à nossa Associação. Nessa altura, sentimos a necessidade de dar mais um passo, foi quando batizamos a nossa coletividade de Ciclocabanas. O nome surgiu porque era um sonho que tínhamos e que conseguimos realizar na Rua de Cabanas. Desde o seu ano de fundação, 1996 até 2015, a nossa sede era no Café Central de Cabanas. Depois de 2015, viemos para a nova sede. Eu sou um dos fundadores desta coletividade e já passei por vários cargos, mais do que uma vez e neste momento, encontro-me novamente no cargo de Presidente. Hoje, quantos atletas vocês têm na Ciclocabanas? Quanto a associados que pagam as quotas temos aproximadamente cem. Desde que a Ciclocabanas foi fundada, o adulto paga um euro por mês e os mais novos, começam a pagar depois dos 15 anos, 50 cêntimos. Em tempos, já tivemos faixas etárias mais diversificadas, também a disponibilidade das pessoas era outra, mas nessa altura tínhamos desde os 17 anos e ia até aos 70. Neste momento, a média anda acima dos 50 anos. Vocês têm o hábito de participar em muitas provas? Nós já fizemos competições, mas não eram Federadas, porque a associação funciona como um escape do dia a dia, ou seja, os atletas não treinam a esse nível de competição. Os troféus que temos e as idas são, essencialmente, de uma ou
outra prova que participamos, por exemplo, já participamos no Douro Granfondo. Normalmente, nós temos um calendário anual com as provas que fazemos, como é o caso da ida a Fátima, a Santiago de Compostela e Finisterra. Estas três são aquelas que sempre fazemos. No entanto, neste momento, devido ao Covid-19, no ano passado e este ano, elas não foram realizadas. Em 2018, participamos na Nacional 2 e tínhamos programado para fazê-la novamente este ano, mas também por causa da pandemia, não foi possível. Também temos atividades em que são outros clubes que nos chamam. Nessas situações falamos com os sócios, o clube paga uma taxa e os atletas vão. Já que tocou no tópico da pandemia, como é que foi o último ano para vocês? Na perspetiva financeira foi muito mau, porque nós vivemos essencialmente com os apoios da Câmara, da Junta e dos patrocinadores que temos. Tanto a Câmara, como a Junta, já no ano passado e em anos anteriores, têm-nos ajudado, mas o valor tem vindo a ser reduzido cada vez mais e isto, já é negativo. Com a pandemia foi pior, porque os apoios vieram ainda mais baixos. Quanto aos patrocinadores, temos alguns ligados ao ramo da restauração, mas nem tentámos pedir ajuda, porque não nos sentíamos bem a fazê-lo. Houve outros que nós pedimos apoios e dentro das suas disponibilidades, eles nos ajudaram. Temos aqui a sede, com o bilhar, os matraquilhos e o café, o dinheiro depois reverte para o clube. No entanto com a pandemia, estivemos fechados e o pouco dinheiro que fazíamos aqui por
mês, que rondava os 40 euros, não entrou. Quanto aos associados quando saiu a noticia que íamos fechar, informamos a situação. Sei que no meio disto perdemos alguns sócios, porque já estavam enraizados a vir aqui e depois quando tudo fechou, deixaram de vir e agora, já não vem. Felizmente é uma minoria. Perante a situação de que os atletas não podiam treinar, nós cedemos uns três ou quatro rolos de bicicletas aos nossos associados e durante 15 dias ou um mês, esses rolos passavam por vários colegas para eles conseguirem treinar. Isto porque nós temos atletas que treinam todos os dias. Foi a única coisa que conseguimos ceder, porque não tínhamos outros meios. Entretanto, eles já retomaram os treinos ao ar livre. Apesar de tudo o que aconteceu, este ano é especial para vocês, porque comemoram os 25 anos. Nestes anos que passaram, realizando uma retrospectiva, qual foi para si o melhor? Esta é uma casa de alegria e descontração. As pessoas vêm para aqui, para sentir paz, porque andar de bicicleta é uma sensação livre e espectacular. Neste momento, a data que mais me marcou, foi agora a comemoração dos 25 anos. Porque sou sincero, quando nós fundamos o clube, nunca imaginei que íamos chegar a onde chegamos e ter um espólio que, se calhar, poucas ou quase nenhumas têm. Isto tudo graças aos sócios, porque todos os que estão aqui não recebem um cêntimo pelo contrário, temos as nossas despesas e não recebemos meramente nada. Para além disso, foi atingir os 25
anos, com uma sede só nossa, onde podemos debater ideias sobre a coletividade e sobre o ciclismo em si. Mas entre 2000 e 2010, foi uma década em que tivemos muitas pessoas, inclusivamente pessoas de fora do concelho de Gondomar e do Distrito do Porto, Nessa altura, tínhamos quase 300 sócios e havia mais jovens. É difícil trazer a faixa etária mais jovem? Já estava a ser difícil há três\quatro anos atrás, com a situação do covid-19 não ajudou. Mas é muito difícil trazê-los, porque agora, preferem estar em casa e ocupar o tempo livre com outras coisas. E quando querem praticar desporto, não é ciclismo. Isto também porque, a midiatização é mais direcionada para o futebol. Quanto ao futuro o que espera? Relativamente ao futuro, vejo-o de forma apreensiva, porque só está aqui quem gosta. Pode parecer que não, mas isto, dá muito trabalho e criticar é fácil para quem está do outro lado, mas para quem está neste lado, que tenta fazer o seu melhor, às vezes custa ouvir certas coisas. Tenho a perspetiva de que, nos próximos 25 anos, se não crescer mais do que já está, também que não morra. Quando o meu mandato terminar, que está para breve, iremos novamente a eleições e vou ser sincero, não queria voltar a concorrer, queria deixar o lugar aberto a outras pessoas. Mas o que pode acontecer e foi o que já aconteceu, é que ninguém quer se voluntariar. Mas é como digo, estou aqui por amor e quero que isto cresça, mas se não for para melhorar, que ao menos se aguente conforme está. ■