A Luz de Peticov

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ANTONIO PETICOV Abertura 02 de agosto 18h Exposição de 02 a 17 de agosto segunda a sexta das 11h às 19h aos sábados 16h às 20h http://www.vonbrusky.com.br/


Ê ZŌÈ ÊN TÒ PHÔS TÔN ANTHRÔPÔN ZŌÈ ÊN TÒ PHÔS TÔN ANTHRÔPÔN João 1.4

A VIDA É A LUZ DOS HOMENS “ A LUZ É O ESPLENDOR DA VIDA”

Durante o ano de 2018 fui apresentado pelo meu caro amigo Cacá Nóbrega ao galerista Ricardo Von Brusky, que estava interessado em me representar, e que de imediato começou a pesquisar o meu trabalho, percebendo que as minhas esculturas com neon (todas criadas e produzidas no início da década de 80) marcaram um momento de destaque em minha produção artística. Coincidentemente com essa constatação recebi a visita, aqui em São Paulo, de um velho amigo milanês, trazendo consigo uma pasta de couro, contendo a maioria dos meus projetos relacionados às minhas pesquisas com neon, pasta esta que lhe fora dada por uma amiga em comum, em cuja casa me hospedara nas semanas precedentes à minha transferência para Nova Iorque. Bingo! Me caía nas mãos a possibilidade de reeditar aqueles trabalhos ligados à Luz, relançando-os em uma exposição cuidada e produzida, tanto pelo Ricardo quanto pelo Cacá, entusiastas e incentivadores de uma espécie de “ revival” de minha obra. Pronto. Finalmente estava tendo a possibilidade de refazer, com apropriada ajuda técnica e financeira, esculturas que fizera com escassos recursos há quase 40 anos, quando quatro delas foram reproduzidas em pôsteres que tiveram distribuição global. Na realidade, fiquei muito surpreso quando a primeira imagem escolhida por Bruce McGaw para ser lançada pela sua editora fora a reprodução fotográfica da escultura, na qual inaugurava a utilização da iluminação com neon, a prateleira com os sete vasinhos - “ Natura” . Mais surpreso ainda fiquei ao ver esse pôster ser bem aceito e vendido mundialmente, durante vários anos. A esse pôster seguiu-se a edição da reprodução fotográfica da escultura “ The Ladder” , cartaz esse que atingiu igual sucesso pelo mundo afora. A Bruce McGaw Graphics editou 22 cartazes reproduzindo minha obra, sendo outros dois

relacionados a meus trabalhos com neon: um deles, a reprodução fotográfica da escultura “ Pouring” e o outro, uma refinadíssima e rara produção tipográfica - 11 cores em tons contínuos - do meu desenho com giz pastel para o projeto destinado à instalação “ Light Rings” , executados em 1992, nas centenárias palmeiras imperiais da Villa Riso, no Rio de Janeiro. Curioso ainda notar que os diretores de cinema que utilizaram meus pôsteres, em algumas cenas de seus filmes, escolheram apenas aqueles 4 que reproduziram minhas esculturas com neon. Muito valiosa e oportuna foi a sugestão apresentada pelo Cacá para que, complementando a exposição, eu preparasse algumas telas pintadas especialmente para a ocasião. Mesmo me deliciando com a execução de objetos tridimensionais, não consigo ficar muito tempo sem, pretensiosamente, procurar emular meus grandes mestres, mergulhando no universo da pintura. E assim sendo, concebi e executei as seis telas de grande formato que condividem o generoso espaço da galeria também com os objetos iluminados. Da mesma maneira que as esculturas produzidas em Milão, no início da década de 1980, vieram à luz graças à preciosa ajuda de queridos amigos (destacando-se entre eles, o meu mestre marceneiro Vito Gargiulo). A realização dessa nova leva de esculturas foi possível também à colaboração de competentes técnicos em diversas áreas, cuja disposição e entusiasmo foram fundamentais para o bom êxito dessa empreitada. A todos esses minha total gratidão. Um abraço particularmente forte vai, sem dúvida, aos caríssimos novos amigos de infância Cacá e Ricardo.

Antonio Peticov Abril 2019

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DIÁLOGOS COM CARL GUSTAV JUNG

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Peticov ao me fazer o convite para escrever sobre seu trabalho, nesta exposição, me gerou um desafio. Me sinto honrada e espero atender, mesmo sabendo das limitações que o mundo conceitual impõe. A arte como linguagem metafórica não tem fronteiras, pois os símbolos não se esgotam, e pode trazer perspectivas mais amplas à complexidade da existência. O trabalho de investigação da psique feito por Jung partiu da totalidade da experiência, do estudo e da intuição criativa.

Carl Gustav Jung e Antonio Peticov são dois grandes desbravadores do inconsciente, cada um em sua especialidade, possuem vários elementos e pontos de convergência. Além de compartilharem a genialidade de conseguir trazer o céu para a terra. Talvez este fato se dê em decorrência de ambos terem tido, como pai carnal, um pastor; ou seja, os mistérios da vida povoam suas almas, desde a tenra infância. Antonio Peticov é um visionário que exprime a esperança iluminada da alegria, por meio de sua obra: o artista reflete o espectro da luz. Carl Gustav Jung (1875-1961), psiquiatra e mentor intelectual de Peticov, também fez referência à interpretação do significado das sete cores, as quais, no espectro eletromagnético, compõem a parte visível ao olho humano. Jung considerava a imaginação como uma das principais funções da psique, isto é, a expressão direta da atividade vital e a única forma pela qual a energia psíquica se manifesta na consciência. Por meio da fantasia, o homem é capaz de se lançar em um processo de simbolização, de maneira a se tornar um criador inesgotável de novas possibilidades culturais. Desse modo, a obra de Peticov emerge como fotografia do inconsciente, revelando, portanto, aspectos pessoais e coletivos. Contextualizada em tempo histórico, fornece uma leitura do movimento de seu tempo, podendo ser prospectiva, de forma a trazer o que está por vir, ou seja, apontando o Zeitgeist – o espírito de uma época. Jung faz uma analogia entre o arquétipo e o espectro eletromagnético. Assim, o polo infravermelho seria o do instinto, e o polo ultravioleta seria o do espírito em suas manifestações no corpo e nas imagens. Em seu trabalho, o psiquiatra propõe o conceito de arquétipos, criado a partir da observação de temas típicos bem definidos, presentes tanto nos mitos quanto na literatura universal, os quais se repetem em sonhos, imagens, fan-

tasias, delírios e em alucinações de todos os indivíduos. O arquétipo, em si, constitui um fator psicóide que pertence, por assim dizer, à parte invisível e ultravioleta do espectro psíquico. Os arquétipos em si, são inacessíveis à consciência, são matrizes que se manifestam quando revestidos por nossas vivências pessoais, o que os humanizam. Não se pode conhecer completamente o arquétipo, tampouco esgotá-lo, já que ele constitui uma manifestação da energia psíquica ou se evidencia nos comportamentos externos, que expressam as experiências básicas e universais da humanidade (nascimento e morte, casamento e separação, maternidade, paternidade, criatividade). Por ter forte carga energética (númem), a imagem proveniente do arquétipo impressiona e fascina, podendo possuir o ego. Tal fato se torna evidente, por exemplo, durante uma crise emocional ou mesmo em um momento de êxtase ou de inspiração. As manifestações do arquétipo podem percorrer todo o espectro luminoso da matéria (vermelho) até o espiritual (violeta). Peticov, em sua obra “ The New Master” , parece apontar para o mistério da vida, quando a janela se abre: Qual arquétipo será humanizado? O que o céu trará para a terra? O arquétipo é um “ Vir a Ser” . Nunca sabemos, exatamente, o que a vida nos reserva. Questionamos, portanto: Qual espectro da luz será dominante? Em que lugar estaremos na escada na obra “ Scala Cromática” , de Peticov? No início da jornada, no meio, ou já teremos chegado ao final? O diálogo entre Antonio Peticov e Jung está vivo. Peticov retrata todo o mistério da vida. Jung descreve estas mesmas possibilidades por meio de várias culturas por ele estudadas. Jung estudou a anatomia do corpo sutil através dos chakras, considerando que a simbologia desses são imagens primordiais do inconsciente ou as matrizes impensáveis de nossas ideias.

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Na imagem que se segue, chamamos a atenção para as cores de cada chakra, em um percurso que vem do vermelho ou da representação das forças ctônicas, passando pelo laranja, tornando-se mais sutil, até chegar ao branco, representando a totalidade da transformação inicial, em uma qualidade intuitiva. Há sete chakras principais, os quais são os pontos focais para delinear e transmutar energia. O chakra constitui uma forma de vórtice criado por dois sistemas de energia entrelaçados. Jung, através das cores dos chakras, descreve que o desenvolvimento da psique que pode ser aplicado ao corpo sutil, o qual é representado por sete rodas principais de condensação de energia são denominadas chakras. Cada chakra está também associado a um elemento, do mais grosseiro ao mais sutil. Um outro ponto de vista que poderia explicar a série de chakras seria a evolução da matéria grosseira para a sutil: a ideia hindu de transformação dos elementos da terra para o éter. Assim, o percurso de desenvolvimento humano na cosmogonia tântrica pressupõe o despertar da Kundalini, por meio de sete centros principais, e tal jornada através dos chackras equivalem ao processo de individuação. Peticov, em “ The Trip the Moon” , insinua todas as possibilidades de desenvolvimento humano – o “ vir a ser” , o tornar-se. O que Jung nomeia como processo de individuação. Ativar o inconsciente significa, portanto, despertar o divino, a devī, a Kundalinī, a fim de começar o desenvolvimento da consciência no indivíduo, visando reativar a luz dos deuses. Para Jung, o instinto de individuação é encontrado em toda parte da vida, pois não existe vida na terra que não seja única. No entanto, a individuação só acontece quando estamos conscientemente mergulhados no processo. Partindo do princípio que Muladhara é a raiz e a terra sobre a qual estamos, necessariamente, deveriam ser esses elementos os que constituem o mundo consciente. Se aqui esta-

mos, e aqui estão os quatro cantos da terra, nós estamos na mandala da terra. O impacto que Peticov nos causa em sua obra “ The Masters of the Sun” nos torna livres: Muladhara não nos aprisiona: pode transitar ao infinito, pode ascender ao céu. E o que quer que digamos de Muladhara é verdade para este mundo. É o lugar em que a humanidade é vítima de impulsos, instintos, inconsciência e participação mística. O próximo chakra, Svadhisthana (cor laranja), retrata o inconsciente, simbolizado pelo mar. E, no mar, existe um enorme leviatã que nos ameaça com a aniquilação. Segundo Jung, o chakra localizado no diafragma representa a superfície da terra e atravessá-lo nos coloca na posição verdadeiramente humana, pois, pela primeira vez, ficamos em pé sobre a terra. Neste estágio, ao invés de seguirmos nossos impulsos, começamos a criar um certo refinamento que nos permite chegar a uma desidentificação de nossas emoções, a fim de superá-las. No Anāhata Chakra (coração) tornamo-nos Purusa: o Homem Supremo, a essência do homem. O assim chamado homem primordial se torna visível. A tarefa do ego está no Mūladhara, nosso primeiro chakra, bem distante desse quarto centro cardíaco. O Self expressa um processo impessoal, a vida se torna maior porque já não se trata de viver a própria vida; mas sim, uma vida plena em que o todo é contemplado, em que não há a separação entre o Eu e o Outro, como São Paulo expressou: Não sou mais eu que vive, é o Cristo que vive em mim. Ao retratar o arco-íris, símbolo de união entre o céu (Ajna) e a terra (Muladhara), Peticov em sua obra “ Nightfall” aponta toda esta cosmogonomia: a conexão entre céu e terra, entre ego e Self. Trazer o céu para a terra equivale a transformar o mundo, possibilitando novos horizontes, com esperança e fé de dias melhores, de transformação humana.

Jung nomeou esta conexão como “ função transcendente” . Contudo, não se deve entendê-la como algo metafísico, mas como uma função que, por sua natureza, pode se comparar a uma função matemática de igual denominação, como a proporção áurea na obra de Peticov. Peticov materializa, através do espectro de cores, a função transcendente descrita por Jung por meio da arte. Segundo a tradição talmúdica, o arco-íris foi concebido na tarde do sexto dia da criação. Na mitologia grega, configura a encarnação de Íris, a mensageira dos deuses; na mitologia germânica, constitui a ponte Bifrost, que faz a ligação com Asgard (reino dos Deuses). Se percorrermos a história da simbologia do arco-íris, remontando ao início da tradição literária, encontramo-lo na literatura babilônica, também relacionado aos símbolos dos zodíacos. Em obras apócrifas, diz-se que Deus eliminou o tiro do arco das nuvens, ou seja: Deus encadeou as águas destruidoras do dilúvio, que vieram das janelas superiores do céu. Após o dilúvio, Deus colocou um arco-íris no céu como representação do sinal de sua aliança com os homens. Em representações medievais, Cristo está sentado no trono sobre o arco-íris, como o Todo Poderoso, em toda sua glória. Com base na divisão tripla proposta por Aristóteles, no Cristianismo, com frequência, só se distinguem as três cores fundamentais (símbolo da Trindade), quais sejam: as cores azul (água do dilúvio ou origem celeste de Cristo), vermelho (futura queima do mundo ou Paixão de Cristo) e verde (novo mundo ou a atividade terrena de Cristo). A imagem do chakra Anahata (cardíaco) nos mostra dois triângulos entrelaçados: um cujo vértice aponta para cima, representando o elemento masculino, Śiva; ao passo que o outro aponta para baixo, expressão do feminino, Śakti. O poder do masculino e do feminino, como expressão da vida erótica, surge pela segunda

vez no âmbito desta transformação. A primeira se encontra no chakra básico (Mūladhara), traduzindo o mundo dos fenômenos (Sansāra), o primeiro obstáculo a ser superado. Aqui, a polaridade masculino-feminina se conjuga no amor carnal; os desejos e emoções ainda impedem nosso percurso. No centro cardíaco, o Linga não possui mais a representação dos princípios masculino e feminino, mas sim de consciência. Essa força tem aqui a função de inspirar, guiar, conduzir a energia para cima. Por outro lado, a psicologia do Manipūrachakra (o terceiro centro) está associada às emoções, ao fogo das paixões, e está bem próxima a nós, exigindo que sejamos polidos com as pessoas, a fim de evitar as explosões do Manipūra. Jung considera que temos nossa cultura em Muladhara (representado pelo vermelho). Podemos desenvolver nossa consciência até que ela atinja o chakra Ajna (superior), mas, nosso Ajna é pessoal, e, portanto, está em Muladhara. No âmbito desta perspectiva, Jung assevera que nós estamos sentados em um buraco, na pélvis do mundo (espectro vermelho). Nossa cultura representa o consciente mantido prisioneiro em Muladhara. Peticov com sua obra presenteia-nos com a cosmogonia universal, seu universo pictórico do espectro das cores, conduzindo-nos do mundo ao infinito, trazendo uma libertação com a oportunidade de desidentificação egóica. Sua obra invariavelmente nos eleva acima de nossa humanidade, possibilitando-nos, com efeito, vislumbrar a própria iluminação.

Irene Gaeta - psicóloga, analista Junguiana IJUSP, AJB – filiada à IAAP (Zurich), do Depto. Arte/AJB, mestre e doutora pela PUC/SP, coord. da pós-graduação psicoterapia Junguiana UNIP/ SP e professora da PUC/SP.

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ANTONIO PETICOV RIDES AGAIN Em primeiro lugar é um ideólogo da expansão de consciência. Em segundo lugar é um alquimista. Em terceiro é um excelente pintor. Extremamente generoso e é renascentista. Suas escadas de neon realmente chegam ao céu. Ele abre o alçapão da luz na escuridão da noite. Isto está no seu DNA. Seu pai pastor queria trazer a luz para as pessoas pela religião. O filho traz a luz para as pessoas pela arte. Eu acredito que existem 2 classes de artistas: os gênios da linguagem e os trapezistas da utopia. Nos gênios da linguagem podemos incluir Tunga, Cildo Meirelles, Ivald Granato, Nuno Ramos, Claudio Tozzi, Arnaldo Antunes, Oscar Niemayer e muitos outros. No segundo grupo mencionaremos Bispo do Rosário, Glauber Rocha, Hélio Oiticica, Jorge Mautner, José Agrippino de Paula, José Celso Correia e muitos outros. Eu acho que eu e Peticov pertencemos ao segundo grupo. MAS TODOS TIRAM COELHOS DA CARTOLA. Mesmo não os conhecendo pessoalmente, Antonio Peticov era muito amigo de Aldous Huxley e Timothy Leary. Ele foi o guru da expansão da consciência pelo ácido lisérgico no Brasil. Lucy in the Sky with Diamonds e Alice no País das Maravilhas foram suas parceiras no portal que se abriu nos anos 1960 e 1970. Em Londres, Milão e Nova York era difícil entrar numa casa, apartamento ou loft e não encontrar um pôster imagem de Peticov. Mas o dualismo primário de nossa cultura não tem memória e cabe a nós avivá-la. Só a inteligência pode nos salvar em momentos como este. E esta centelha de criatividade e inteligência vai acontecer, em agosto, na galeria Ricardo Von Brusky. TENHO DITO.

A Passagem |1978| 70 x 50 cm pastel seco sobre papel

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José Roberto Aguilar

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PINTURAS EM TELA

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The New Trip |2019| 150 x 200 cm – acrílica sobre tela

The Trip in The Moon |2019| 150 x 200 cm – acrílica sobre tela

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O Amigo Da Nasa |2019|

150 x 250 cm – acrílica sobre tela

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O Mestrado Do Sol |2019| 150 x 120 cm – acrílica sobre tela

O Novo Mestrado |2019| 150 x 120 cm – acrílica sobre tela

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Americanas: Um Encontro com Antonio Peticov Tinha acabado de chegar, depois de um ciclo de ajustes. O governo cortou o financiamento às pesquisas sobre teatralidade na escola de arte dramática, e isso coincidia com a sua ideia de que não havia mais nada a fazer na Nova Inglaterra, em relação aos cultural affairs. O MoMA estava triplamente respaldado pela ideia de que um canibalismo à la brasileira seria o prato feito para os próximos vinte anos de América Latina. Ouviríamos a banda vinda, afinal, para uma incrível efeméride, como no aniversário de 100 anos de Frank Sinatra, quando colocamos para tocar nos alto-falantes do próprio observatório canções simultâneas do cantor, que acabavam num cânone impensável de si mesmo. Agora teremos Guignard, um grande evento com balões, proibidos àquelas alturas. Tudo o mais que fosse estrangeiro, o dripping, a caderneta do jovem patronato - com a presença de alguns europeus: o comportamento serviria para uma outra aposta, outra inflexão. Nada a que já me tivesse proposto envolveu qualquer grau de gratuidade, nenhum comentário sequer, e isso me parecia um dado que se sobressaltava na sua personalidade – que, aliás, eu não chamaria assim, pois uma de suas virtudes era conseguir sustentar uma “ filosofia de vida” , sem nos impor uma “ personalidade artística” . Ao entrarmos na casa, ainda sem prognóstico, vi na parede a imagem que o fotógrafo Mario Cravo Neto fez na cobertura de um edifício precioso em Manhattan, lugar de peregrinações para visitas a locações de filmes, em que sua presença com camisa de motivos tropicais

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desafiava, com um olhar para o horizonte, os minimalismos de Carl André e sua inabalável indiferença, na parede de fundo. Pois sentia, dessa vez, que a viagem traria um compromisso, uma resposta, algo para depois da festa. Toda a discussão anterior sobre a taxação das lâmpadas de Dan Flavin, na alfândega, em Guarulhos, parecia cada vez menos relevante. Ninguém precisa vir a São Paulo para dimerizar nossas relações com a técnica. Naquele ponto, alquimia era uma questão de diplomacia, da quantidade de evidências que decidira apresentar. Você um dia me enviou essa nota, do Wittgenstein, que sugeria “ jogar fora a escada depois de chegar lá” . Os colegas britânicos acabavam de tocar mais uma peça clássica do Cream, sem veleidades, num cover que superava o original. “ Alguns artistas precisam de um percurso imaculado para chegar a um acabamento total, um objeto distinto, envolvido na penumbra da sala. Meu assunto é a revelação de algo próximo no tempo e espaço, mas que não vemos por uma cisma. Me comprometo a reanimá-lo, como se o visse pela primeira vez” . E, tendo completado toda a sua límpida teoria, esperando mais um gesto dessa ordem despretensiosa, assisti ao mesmo espetáculo cromático que vejo com minha filha, quando uma voz alheia demonstra como se fazem sorvetes, janelas, pontes e escadas com as cores do arco-íris.

Rafael Vogt Maia Rosa Lamparinas

The New Garden |2019| 200 x 140 cm – acrílica sobre tela

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ESCULTURAS EM NEON

Antonio Peticov: O Durer Colorido Desde que Sir Isaac Newton usou um prisma de vidro para dividir a luz branca em suas cores componentes, os artistas se esforçaram para exibi-los em toda a sua intensa glória. Antonio Peticov conseguiu esse feito melhor do que qualquer um antes dele. Suas imagens não apenas capturam a intensidade das cores puras: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, índigo e roxo (a sigla para crianças, na escola, é VLAVAIR), mas o fazem com verve, humor, jovialidade e honestidade intelectual. Peticov conseguiu mesmo recombinar as cores sem um prisma, melhorando o quadrado mágico preto e branco de Durer com um quadrado mágico, utilizando as cores VLAVAIR. Minha primeira impressão de Antonio Peticov foi feita antes mesmo de nos conhecermos. Um amigo meu participou de um evento bienal chamado “ Gathering for Gardner” , que reúne matemáticos, puzzles, mágicos, artistas e cientistas. Cada participante convidado deve fornecer um “ presente de troca” para todos os outros participantes. Meu amigo me mostrou uma pequena cópia sobre tela - uma versão da pintura de Peticov “ The First Impression” . Eu sabia que tinha que ir para a próxima reunião e conhecer esse artista maravilhoso - tanto quanto eu poderia dizer: é o primeiro artista, desde Giacomo Balla, que realmente sentiu e expressou a noção das cores que compõem a luz branca. 20

É claro que muitos artistas tentaram pintar o arco-íris (sem dúvida, o melhor deles é o grande pintor da escola do Rio Hudson, Frederick Church). No entanto, ninguém havia realmente tentado e conseguido captar a ideia de que a luz branca fosse composta pela paleta de sete cores de Newton. Vários artistas do século XX têm tocado com as cores da luz, como se fossem feitas de “ coisas” sólidas ou líquidas. As ideias de Antonio de “ derramar cor” se manifestaram em duas e três dimensões. Tanto o quanto sei, ele é o único artista que conseguiu lidar com a luz desta forma, em duas e três dimensões. O artista britânico Patrick Hughes tocou com o arco-íris em duas dimensões, com inteligência e humor. Sua impressão em silkscreen de cores, derramando uma lata de tinta capta o espírito da ideia. No entanto, ao contrário de Peticov, Hughes emprega apenas 6 cores. Antonio acrescentou uma terceira dimensão ao conceito, utilizando tubos de emissão de gases especialmente projetados. Ao deixar as cores “ derramarem” sobre uma superfície de pedra branca, a escultura consegue recombinar novamente as sete cores separadas em branco.

Kenneth Brecher é professor emérito de astronomia e física, na Boston University Boston, MA 02215 USA

The Ladder |1981/2019| 62 x 33 x 20 cm madeira, pedra sabão e neon


Pouring |1981/2019| 64 x 70 x 50 cm madeira, mármore, aço e neon

A importância e a dimensão de minha coleção de jogos topológicos (quebra-cabeças tridimensionais) foi estabelecida e ampliada, a partir de minha mudança para o nº 3 da Via Canova, em Milão. Tendo já conhecido alguns inventores e colecionadores por toda a Europa, comecei a visitar algumas importantes coleções, sendo a mais significativa a do Sr. Edward Hordern, no interior da Inglaterra. Dispondo de mais de 80.000 peças impecavelmente dispostas em sua casa no Surrey, Lord Hordern nos recebeu com a educação e deferência típica da aristocracia inglesa. Coleção maravilhosa, na qual todos os tipos de puzzles estavam representados condignamente, o que foi, de alguma maneira, ofuscada pela simplicidade e genialidade de uma pequena peça constituída por um punhado de palitos de fósforos que, levemente apoiados uns aos outros, construíam uma PONTE. Meu encantamento com aquela rústica peça foi consideravelmente ampliado, ao saber que fora o mestre Leonardo da Vinci o criador daquela genial solução arquitetônica. Envolvido que estava com a criação de minhas esculturas, nas quais estava utilizando tubos de neon, percebi a oportunidade de fazer uma excelente demonstração da importância do Processo Criativo ilustrado pelas sete cores do espetro, substituindo as barras transversais por tubos de neon. Dando mãos à obra, iniciei a pesquisar o assunto tendo, desde então, construído uma dezena de pontes, utilizando uma variedade de materiais como “ pernas” : bastões de madeira, varas de bambu ou barras de metal.

Ponte |1985/2019| 110 x 60 cm bambu e neon

Antonio Peticov

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NATURA Estava no meio do verão milanês de 1979, quando em um raro momento de ócio, observando a natureza de meu estúdio, percebi a energia que emanava das ferramentas que tão diligentemente acompanhavam o meu dia-a-dia, companheiras fiéis, sem as quais seria difícil comunicar visualmente as idéias, que insistiam em transbordar do meu cérebro. Transcendendo o seu mero caráter material, os pincéis, o martelo, as tintas, os lápis, e mesmo o vaso com a água, onde preparava minhas cores, pareciam ter vida própria: condição ideal para a simbiose necessária à interação que procurava, na tentativa de excluir o meu ego do sublime processo criativo em que estava me envolvendo. Já familiar com o uso simbólico das cores do espetro visíveis ao olho humano, construí a mesa de trabalho ideal, onde, entre objetos amigos de meu trabalho, sete vasos, ativos funcionários de meu labor, pareciam, cromaticamente, estar respirando a essência da Luz que me iluminava e conduzia. Primeira pintura a entrar no mercado americano foi NATURA - uma tela de 100x120 cm, que logo foi reproduzida na forma de uma impecável

serigrafia, sendo meu primeiro sucesso nas mãos da Original Print Collectors Group, editora responsável pela divulgação de meu trabalho em escala global. Durante as minhas constantes viagens aos EEUU comecei a observar o instigante uso que estavam fazendo do neon, iluminação discreta, porém intensa, perfeita para representar minhas ideias relacionadas com a Luz e o Processo Criativo. O conceito que deu forma à pintura estava ali, pronto para ser materializado tridimensionalmente. Uma vez pronta, percebi que a escultura transmitia nitidamente os meus ideais relativos à posição do Artista envolvido com a Criatividade. Uma espécie de profissão de Fé. Em 1980 fui apresentado à Bruce McGaw, responsável pela maior editora de pôsteres que jamais existiu, e fiquei muito surpreso ao ver que a sua primeira escolha para editar um trabalho meu foi, ao invés de tantas imagens de minhas pinturas, justamente a fotografia que reproduzia a escultura NATURA, e... BINGO!!! Em pouco tempo, o “ pôster dos vasinhos” tornou-se um bestseller mundial.

Scala Cromática |1981/2019| 180 x 80 x 60 cm madeira, mármore e neon

Antonio Peticov

Natura |1980/2019| 20 x 106 x 21 cm madeira, cerâmica e neon

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Torre de parede |2019| 134 x 52 x 26 cm – madeira e neon

The Watchtower |2019| 152 x 52 x 52 cm - madeira e neon

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Rainbow Brush |1985/2019| 40 x 30 x 8 cm Vidro, madeira, metal, cerdas plรกsticas e leds

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Seven Bruches |1982/2019| 28 x 40 x 30 cm madeira, mรกrmore, leds, fibra รณtica

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ARTE E CIÊNCIA

Imanência da Seção Áurea |1981/2019| 161,8 x 100 x 10 cm madeira e neon

Foi no ano de 1962 que Pedro Tort, um brilhante pintor catalão que muito me ensinou, mencionou, pela primeira vez, a existência de uma proporção matemática, um “ número de ouro” , também conhecido como Seção Áurea. Curioso como sempre fui, comecei a pesquisar esse número que, magicamente, parecia “ colocar tudo no lugar” . Mas foi apenas em Milão, quando lá fui parar, em 1972, que encontrei um livro do Professor Aldo Montú chamado “ Natura e Geometria - Progressione Aurea e Forme Pentagonali” que, esse sim, colocou tudo no lugar no que concerne o estudo e conhecimento dessa fenomenal proporção, que determina o crescimento de quase tudo o que cresce e se expande no Universo. Desde então a minha biblioteca tem sido formidavelmente enriquecida, com uma grande variedade de livros sobre o assunto, assim como o meu interesse e dedicação à observação desse fenômeno numérico, que me levou à criação de uma variedade de telas, esculturas e instalações determinadas por essa proporção. Conhecido pela letra grega F em homenagem ao escultor grego Fídias, a Seção Áurea representada pelo número irracional 1,618... foi simplificada no século XII pelo matemático italiano Fibonacci, cuja sequência numérica espelha as mesmas proporções. Na escultura “ Imanência da Seção Áurea” procurei unir a beleza dessa proporção com a leveza e o mistério da Luz.

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Pintando com a Verdade Olhando 140 x 120 cm acrílica sobre tela

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Antonio Peticov e a Matemática

The Big Lander |1962| - Instalação NY

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Antonio Peticov é um artista sui generis que ama tanto sua arte, como os mistérios da Matemática e da Física da luz, fonte das cores que usa. Ele não é o primeiro: muitos artistas, em especial os chamados geométricos, enveredaram por esta via explorando técnicas, fatos e relações matemáticas, como Max Bill, Mondrian e Sacilotto, além de outros artistas e designers da escola Bauhaus, que acaba de completar 100 anos. Mas, esta conexão explícita entre Arte e Matemática, só saltou à vista com os trabalhos do gravurista holandês M. C. Escher (1898-1972), o queridinho de 9 entre 10 matemáticos. Pois, para muitos Peticov é nosso Escher, com uma vantagem: a brasilidade tropicalista presente na sua cultura e na sua história. O diferencial em Peticov é o fato de ter consciência da matemática que utiliza. É um estudioso das relações numéricas que geram proporções áureas e regularidades impressionantes, como a sequência de Fibonacci, que tem mais de 800 anos. Uma de suas primeiras incursões no universo da matemática não está em nenhum museu ou galeria, por seu caráter propositalmente efêmero: trata-se da instalação Aiuruoca, um campo retangular assemelhado a um campo de futebol, mas com proporções áureas (1,618x1,0), cuja foto está no catálogo da XX Bienal de São Paulo. Quando não explicita as relações que conhece, Peticov sutilmente as sugere - a razão áurea e suas conexões fibonaccianas estão presentes em History (1984); The Well (1986); Discovering (1997); no título da obra 1.618; nas proporções de vários quadros, como Reality (1993); nos acetatos que oferece para que se possam reconhecer a razão áurea nos seus catálogos e, mais recentemente, no seu Localizador Universal, uma obra que dá volume aos termos da sequência de Fibonacci, uma instalação formada por blocos retangulares,

cujas dimensões são números da sequência, que se assemelha a um conjunto de materiais multibase gigantes. Seu interesse pela Matemática cresceu, exponencialmente, quando Peticov entra em contato e passa a fazer parte do restrito círculo dos especialistas em Matemática Recreativa, e quando conhece Martin Gardner (1914-2010), um dos maiores popularizadores da matemática de todos os tempos. A lógica e o ludismo convivem em muitas de suas obras, que são um verdadeiro elogio aos paradoxos e ilusões, com destaque para Martelo de Pregos (1981), Transfusion e Entropia (1982), e ainda pela ilusão de ótica criada a partir do triângulo impossível de Roger Penrose, presente em Dreams e Reality (1993). Recentemente, Peticov se volta para a Matemática Recreativa na sua série de releituras de Alice no País das Maravilhas, obra prima de Lewis Carrol - ele mesmo um matemático, que dava aulas de lógica na Universidade de Oxford. Peticov saboreia o pedaço nobre da Matemática, e como não é egoísta divide o banquete com o homem comum, atraído por sua arte. Foi o que fez com aquela que é a obra favorita: a instalação Momento Antropofágico com Oswald de Andrade, que perturba o olhar de homens e mulheres, trabalhadores urbanos que transitam pela estação República do metrô, em São Paulo. Vez ou outra vou lá apreciar as pessoas paradas, encantadas e intrigadas em frente à obra, tentando desvendar a mágica do mural construído, a partir da geometria projetiva, do mosaico escheriano e do teto anamórfico projetado na pilastra cilíndrica - produtos de refinada pesquisa sobre três tipos complexos de transformações geométricas. Reafirmo aqui o que já escrevi antes, Peticov mirou no homo faber e acertou no homo visualis.

Antonio José Lopes “Bigode” - professor e jornalista, doutor em Didática da Matemática.

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O pote de riquezas do arco-íris

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ANTONIO PETICOV (Assis, SP, Brasil, 1946-) O pote de riquezas do arco-íris é a materialização desse múltiplo e inquietante artista. O artista é de notoriedade plástica construída na vanguarda tropicalista com interferências do Surrealismo, Pop Art e experimentalismos musicais, e processos psicodélicos. Resgatou o Modernismo Brasileiro e sua vertente antropofágica. Tornou-se um mestre das cores, o representante da escada cósmica, o maestro das partituras da fauna e da flora brasileiras. Resgatou Rembrandt (1606-1669), Velázquez (1599-1660), Constable (1776-1837), Millet (1814-1875), Courbet (1819-1877), Picasso (1887-1973) e Magritte (1898-1967) entre outros, e como alquimista da virtualidade tornou-se um ambulante da ciência ao empírico, em comunhão com grandes nomes da História da Arte. A Série Releituras não apenas reverenciou os mestres da História da Arte, como refletiu em uma fase autobiográfica. O ateliê do mestre Rembrandt tornou-se o ateliê de Peticov. As provações de Rembrandt tornaram-se as provações de Peticov. E, surpreendentemente, as cores tornaram-se o corpóreo, o que engrandece a marca ou uma assinatura de Peticov, alicerçado pelo espectro de Newton (1643-1727), em diálogo com a doutrina das cores de Goethe (1749-1832) e da poética de Kandisnsky (18661944). As cores como metáfora ao autorretrato de Peticov tem o mesmo potencial autobiográfico de O boi esfolado de Rembrandt (1655), outro metafórico autorretrato, se associado aos últimos anos de sua vida, atolado em dívidas e processos. A morte na miséria. Outra releitura em destaque é o ateliê de Courbet, que se tornou o ateliê de Antonio Peticov - bem mais intimista na tela e no recorte, onde os artistas se confundem em tempos distintos. O filho de Antonio Peticov, Pedro Antonio, retratado criança, ativa toda a esperança

no aprendizado, na importância do ateliê como espaço cultural, onde as crianças são bem-vindas, as escolas... ou seja, exatamente o que a casa-acervo-ateliê se tornou - uma trajetória construída por jogos, quebra-cabeças, esculturas, pinturas e desenhos. Nos tornamos a Alice de Lewis Carroll na Casa Antonio Peticov, com espaço interacional - da mesa de Alice aos desenhos e pinturas baseadas em várias publicações (releituras) de Carroll, e agraciado pelas presenças de animais de sua casa representados pelo gato “ gordo” e pela saudosa akita Yuke. A presença da mulher (a musa/amiga teórica) com os artistas foi um convite aceito do qual afirmo que incorporei nas entrelinhas, a partir da História da Arte e de muitas aulas que ministrei sobre o Realismo, a biografia do artista Courbet e suas obras. E da mesma forma, reforço o conhecimento sobre o artista Antonio Peticov, sua biografia e suas obras. Agraciada por representar essa fusão de temporalidades e movimentos artísticos; e de todo o processo - da fotografia, do desenho à pintura. Revivi o ateliê de Courbet e aproveitei a escada cósmica de Peticov para conversar com Charles Baudelaire (1821-1867), que na pintura de Courbet estava à sua direita, lendo um livro. Avisei a Baudelaire que o representaria intelectualmente, pois o momento de Peticov era intimista: o filho, a amiga teórica, o gato, a cadela, os esquadros, a escada cósmica, a ampulheta, os livros. As Meninas ou A Família de Felipe IV, de Diego Velázquez (1656) é um raro autorretrato. Rembrandt tem um histórico de autorretratos, mas Velázquez, não! Peticov prefere a metáfora que usou com Rembrandt (as cores), mas não se conteve com a releitura de Courbet. Contudo, em As Meninas de Antonio, o jogo cênico do pião tanto pode ser o artista ou a infanta Margarida, que não se conteve e abriu um sorriso do Grafismo. Mas a sensibilidade que une Peticov a Velázquez é a anã da corte vertida em matrioska, ou seja, com a mesma importância

que Velázquez deu em O Menino de Vallecas (1636-1640), ao fazer o retrato de um anão e sua existência com a mesma magnitude do Retrato de Felipe IV, de 1644. De Pablo Picasso, Peticov abraçou seu lado mais cubista (além do charme) e trouxe a reflexão o Braque (1882-1963) e o Juan Gris (1887-1927). Peticov fez uma escultura cubista e, obviamente, com um dos elementos mais presentes: o violão, o corpo feminino. A Série Professor dedicado ao mestre Picasso, destacou a mesa, outro elemento comum ao Cubismo atrelado ao perfil de Picasso, como no conhecido perfil de Alfred Hitchcock (1899-1980). Daí por diante surgiram outros perfis, de mestres aos amigos. Vale lembrar que a mesa de Alice tem o perfil dela na sua base. Outro momento que cabe destacar na trajetória artística de Peticov (em meio a tantos outros singulares momentos) é a série O Cérebro e a Mente, da qual fiz pequenos textos em que destaquei o comprometimento da anatomia da face. Através da série Cérebros foi possível absorver uma trama histórica e memorial, significados coletivos, de leituras diversas que convergiram na complexidade humana e artística. O armazenamento plástico de Peticov possibilitou a saída dos limites físicos de nosso corpo para estar interposta, como uma extensão da memória à máquina e à vida. (Le Goff, História e Memória, 1992, p. 425-426) Peticov propôs, através da reflexão plástica, o uso da maquinaria, provendo-a com sabedoria e evitando a servil estagnação. Do ponto de vista objetivo e subjetivo, até os orifícios (forames) têm designações vitais (transitam nervos, artérias, veias); sendo possível estimar a idade, detectar o sexo e o crescimento. O Bregma tem sua historicidade identificada pelos gregos como sinônimo da alma, assim como acreditavam que a alma era absorvida por essa abertura e se fixava vibrante em seu fechamento natural.

As obras deste catálogo, como em The Trip in the Moon de 2019, Peticov reafirma Newton, Goethe e Kandisnsky nas cores que o levaram à lua com atitudes interiores (em preto e branco), sob a inspiração fílmica de Viagem à Lua de Georges Meliès (1861-1938). De Pouring à Pouring More - das telas à escultura, as cores brincam - um derramamento de cores ou o pote de riquezas do arco-íris? É a magia do pote encontrado e o encantamento natural do sol com a chuva, incorporado à noite pela imaginação, pelos pincéis, tintas, madeira, mármore, aço e neon. Em Nightfall, o dia potencializa o fluxo do rio de cor branca e que tem o conteúdo imaterial do quadrado branco sobre o fundo branco de Malevich (1878-1935), ou seja, o transbordamento de possibilidades vivas. Nas curvas daquele rio em seu curso delineado, a sublimação das cores no reverso - na noite. Noites Neons em suas conhecidas Torres e Escadas, que são escaladas para o dia e para a noite. A bagagem imaterial e material de Antonio Peticov também é fruto de sua biblioteca de artes, do qual é leitor e pesquisador. Dalí costuram-se os artistas, suas trajetórias e embates teóricos e críticos. Peticov também é um ciber-artista e investigador tecnológico. Ao longo dos seus 73 anos, o círculo de artistas-amigos que o influenciou está desfalcado com as ausências de Wesley Duke Lee (1931-2010), Mário Gruber (1927-2011), Ju Corte Real (1949-2012), Ivald Granato (entre tantos com quem aprendeu e o instiga às novas investidas). Mas Tomoshige Kusuno (1935-), José Roberto Aguilar (1941-), Gregório Gruber (1951-), Siron Franco, Guto Lacaz, e outros novos amigos e gerações mais novas de artistas, nos quais sua generosidade e espírito jovem encontram-se em comunhão, na sua casa-refúgio da criação e da alegria.

Gisele Miranda - Historiadora da Arte Professora, Mestre em História do Brasil – Dra. em História Social pela PUC São Paulo.

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Currículo Resumido

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* 1946 Assis - SP - Brasil 1965 - Salão Paulista de Arte Moderna, SP 1966 - Salão Paulista de Arte Moderna, SP 1967 - Salão de Abril, Museu de Arte Moderna, RJ 1967 - IX Bienal de SP 1968 - Galeria Ponto de Encontro, SP * Primeiras experiências com pinturas murais, em SP 1969 - assistente de Hélio Oiticica na montagem de sua exposição na Whitechappel Gallery em Londres, Inglaterra 1969 - X Bienal de SP * Primeiros trabalhos de pesquisa sobre “ LUZ ” 1970 - Em agosto transfere residência para Londres, na Inglaterra Amplia conhecimentos em assuntos relacionados à “ LUZ” - Novos experimentos. 1972 - “ Le Jardin D’Explosition”, San Paul de Vince, Riviera Francesa 1973 - “ Ipotesi per un ’Arte Simbolica” , Panelle Gallery, Locarno, Suiça 1975 - “ Artistas e a Comunicação”, Rede GLOBO de televisão 1976 - “ Arte Braziliana Secolo XX” , Bologna, Itália 1976 - X Salão de Arte Contemporânea, SP, Brasil 1977 - Galerie du Vieux Caveau, Pully, Suíça 1977 - Galeria Luiza Strina, SP, Brasil 1978 - Museu de Arte Moderna, RJ, Brasil - HOMO FABER - filme documentário a cores em 35mm, 8 minutos 1979 - National Arts Center, New York, USA 1980 - Galeria San Michelle, Brescia, Itália 1981 - Galeria del Naviglio, Milão, Itália 1982 - Owens Gallery, Locarno, Suîça 1982 “ Bali Ballet” - instalação ambiental permanente em “ Cloudwalk Farm”, Conecticut, USA 1983 - Galerie 212, Paris, França 1983 - “ THE BIG LADDER” - Instalação de uma escultura monumental em frente ao Colisseum (Columbus Circus - NY) para a New York 1983 - Panorama da Pintura Brasileira, Museu de Arte Moderna, SP, Brasil 1984 - “ 10 Anos de VOGUE” , Museu de Arte de SP, BR 1985 - “ Destaques”, Museu de Arte Moderna de SP, BR 1985 - “ Drawings”, Fred Dorfman Gallery, NY, USA 1985 - Em agosto transfere residência para NY, USA

ANTONIO PETICOV

Sete Anéis |1986| Instalação Centro Empresarial Rio de Janeiro 1986 - Jacob Javis Center NY, poster inaugural - USA 1986 - “ Sete Anéis”, Galeria do Centro Empresarial, RJ, BR - exposição individual e instalação ambiental 1987 - “ Light Symphony” , Galeria Susanna Sassoun, SP, Brasil 1988 - “ Byrds of Paradise”. Fred Dorfman Gallery, New York, USA 1989 - “ Projeto Natura” , XX Bienal de SP, Brasil 1990 - “ Momento Antropofágico com Oswald de Andrade” - Instalação permanente na estação República do Metrô de SP, Brasil 1991 - Latin Art Gallery, Nagoya, Japão 1992 - “ Soluções Ambientais Criativas” , Villa Riso, RJ, Brasil - Um dos eventos especiais da “ ECO92” 1992 - “ Lab-Ir-In-Ton”, Instalação “ cinetico-sensorial”, SESC, SP, Brasil 1993 - “ Pinturas” , Galeria Nara Roesler, SP, Brasil 1994 - “ Luminous” , Objetos de cerâmica, Home Style, SP, Brasil

1995 - “ Transcala Cromatica” , Instalação permanente de uma torre de neon com 40 metros em cima de um prédio na parte mais alta de S. Paulo, Brasil 1995 - The Brazilian Art Exhibition, Hong Kong, HK 1996 - “ A Patafísica nos Trópicos”, Museu de Arte Brasileira, SP, Brasil 1997 - “ Arte do Brasil” , Swiss Bank Gallery - Punta del Este - Uruguay 1998 - “ Futebol Arte” - Palacio dos Arcos-Itamaraty, Brasilia, Brasil 1999 - Em Junho transfere residência para SP, no Brasil 2002 - “ 8 Artistas Brasileiros Contemporâneos” - Casa Das Rosas - SP, Brasil 2002 - Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba, SP - (artista convidado) 2002 - “ Humanidade no Patrimônio Urbano no Brasil - um olhar de A. Peticov” - S. Iguatemi - SP, BR 2002 - “ 22 Clássicos de A. Peticov” - Galeria Hebraica - SP, Brasil 2003 - “ Trabalhos Escolhidos” - lançamento do livro e exposição - MASP - SP, Brasil 2003 - “ Humanidade no Patrimônio Natural no Brasil - um olhar de A. Peticov” - Tock-Stock - SP, BR 2003 - Eleito Presidente da Cooperativa dos Artistas Visuais do Brasil 2004 - “ Homenagem a Arcangelo Ianelli” - Mube - SP 2004 - “ Olhar impertinente” - Museu de Arte Contemporânea de SP

Torre Transburti |1995| - São Paulo

2005 - Convidado pela prefeitura de Paris para iluminar a “ Conciergerie” durante a Saison Culturelle “ Brasil-Brasis” 2005 - “ Arte em Metropolis” - Instituto Tomie Ohtake - SP, BR 2005 - Exposição Individual na galeria da BMF-SP, BR 2005 - Chappel Art Show - Artista Homenageado - SP, BR 2006 - Os “ ONZE” - Embaixada do Brasil - Berlin, Alemanha 2006 - OFF BIENAL - Museu Brasileiro de Escultura - SP, BR 2007 - “ Obra Viva” - lançamento de curta-metragem documentário no MIS - SP 2007 - “ Os ONZE” - Estação Cultural Mapocho - Santiago, Chile 2008 - BRASILBRASILEIRO - CCBBSP e CCBBRJ - Brasil 2009 - Eu Tenho um Sonho - Museu Afro Brasil SP, BR 2009 - “ A OBRA COMO PERCURSO” - SESC IPIRANGA - SP, BR 2010 - Antonio Peticov e a forma oculta - Espaço Cultural City - SP, Brasil 2010 - G11 - After School - Futebol Arte - Johanesburg - South Africa 2012 - ART&MATH - Atlanta Public Library - Atlanta, USA 2012 - Gil 70 - Centro Cultural dos Correios - RJ, BR 2013 - VIAJANTE - lançamento de livro e exposição individual - MIS - SP 2013 - Galerie Ricardo Fernandes - Paris - França 2014 - Futebol Arte - Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba - SP, Brasil 2014 - As Mesas de Picasso - Galeria 22 - SP, Brasil 2015 - Alice no País de Peticov - Deco Art Club-SP e Galeria Patricia Costa - RJ, Brasil 2016 - G4G12 - Atlanta - Georgia, USA 2016 - Retrospectiva da Obra Gráfica - Metrô de SP, BR 2017 - ANIWA - Ibiza, Espanha 2017 - American Disasters - Galeria Oscar Cruz - SP 2017 - Chappel Art Show - SP, Brasil 2018 – M.C.Escher – Different Trains Gallery - Decatur – GA, USA 2018 – A Matemática e a Arte – UFPA – Belém – PA, Brasil 37


realização Cacá Nóbrega Ricardo Von Brusky coordenação geral Lia Camargo Von Brusky equipe André Luiz Silva Araújo Carlos André de Araújo Jessica Baxega Pinto Jocélio Cruz dos Santos Marisa Baxega Pinto fotos Thomas Baccaro Carlos André de Araújo Arquivo do artista

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Nascido em Assis, no interior do estado de São Paulo, em julho de 1946, Peticov viveu a sua infância em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, mudou-se para São Paulo a tempo de comemorar o IV Centenário da cidade, indo à inauguração do Parque Ibirapuera, evento que muito o marcou. O início de sua adolescência foi vivido no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde ficou até completar seus 14 anos. Foi nessa cidade, ainda maravilhosa, que ele descobriu a sua vocação artística ao conhecer Mario Sales Jr., o MARÇAL. A partir dos 16 anos, de volta à capital paulistana, divide seu tempo entre as Artes Visuais e o mundo da música, tendo sido o responsável pela banda que viria a se tornar Os Mutantes. Exilando-se em Londres em 1970, transferiu-se para Milão, no final de 1971, permanecendo até 1985, quando passou a residir e trabalhar em New York, ficando lá por outros 14 anos. Seu trabalho foi difundido mundialmente por meio de capas de discos e de livros, assim como calendários, cartões-postais e pôsteres, geralmente associado às suas mostras.

direção de arte | editoração Vivian Zepellini Viver Cultural produção editorial Eder Araújo revisão técnica Gislaine Vicente impressão e acabamento Printi’

Direitos reservados aos autores dessa edição

assistentes de estúdio Cacá Suñer Diego Minaré marceneiros Julien Becquart Mauricio Nahime neonista Alexandre Dagostini leds Ricardo Sanches mármores DeFriulli pedras Luciano Longino da Silva serralheiro Severino Neto do Nascimento eletrônica Francis Rodrigues ceramista Regina Esher logística Elisângela Ferreira Dias Aristoclides Silva Lima textos Antonio J. Lopes “ Bigode” Antonio Peticov Gisele Miranda Irene Gaeta Kenneth Brecher José Roberto Aguilar Rafael Vogt catering Cassio Machado – REX

Antonio Peticov peticov@peticov.com.br antoniopeticov@gmail.com.br http://www.peticov.com.br http://www.peticovgallery.com.br facebook.com/APeticov instagram: APeticov

voluntárias Audrey Luciane Brasil Paula Siqueira Wim Hof

Rua Estados Unidos, 336 Jardim América F (11) 2373-0768 São Paulo- SP 01427-000

Este catálogo foi composto nas fontes Neon 80s e Text Me One Capa em papel cartão triple 300 g/m2 Miolo impresso em papel couchê brilho 150 g/m2 São Paulo | Agosto 2019

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