Livro amaury dj

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Projeto contemplado pelo Fundo de Arte e Cultura de Goiรกs



Copyright © 2014 by Amaury Menezes Editora Kelps Rua 19 nº 100 – Setor Marechal Rondon CEP 745600-460 – Goiânia/GO Fones: (62) 3211-1616 Fax: (62) 3211-1075 E-mail: kelps@kelps.com.br Homepage: www.kelps.com.br Crédito das imagens e fotos: Capa: Fotos de Amaury Menezes / Montagem de Vinícius Luz Foto nº 2: Autoria de Daniela Silveira Foto nº 3: Arquivo do Jornal O Popular. Fotos nº 4 e 17: Acervo do artista DJ Oliveira. Foto nº 9: Acervo de Norberto Moraes Alves Fotos nº15 e 16: Acervo de Jarbas Silva Marques. Fotos nº 62; 63; 64 e 65: Autoria de Rondinélli Ribeiro. Fotos nº 1; 5; 6; 7; 8; 9; 10; 11; 12; 13; 14; 18; 19; 20; 21; 22; 23; 24; 25; 26; 27; 28; 29; 30; 31; 32; 33; 34; 35; 36; 37; 38; 39; 40; 41; 42; 43; 44; 45; 46; 47; 48; 49; 50; 51; 52; 53; 54; 55; 56; 57; 58; 59; 60; 61; 66; 67; 68; 69; 70; 7l; 72; 73; 74; 75 e 76: Autoria e acervo de Amaury Menezes. Projeto gráfico e diagramação: Vinícius Luz Organização: Beth Menezes Revisão: Elizabeth de Moraes Gualberto e Px Silveira Dados Internacionais de Catalogação na Publicação – CIP BIBLIOTECA MARIETA TELLES MACHADO

DIREITOS RESERVADOS É proibida a reprodução total ou parcial da obra, de qualquer forma ou por qualquer meio, sem a autorização prévia e por escrito do autor. A violação dos Direitos Autorais (Lei nº 9610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal. Impresso no Brasil Printed in Brazil 2016


José Peixoto da Silveira - O homem além do seu tempo

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Prefácio Apresentação Introdução A infância em Bragança Paulista Dez anos em São Paulo A mudança para Goiás O Teatro de Emergência A Escola de Belas Artes O refúgio em Luziânia A importância do aprendizado Últimos anos Depoimentos comentários e críticas Juca de Lima Alexandre Liah Ático Vilas-Boas da Mota Hugo Brockes Oscar Dias Eraldo Ferraz Sáida Cunha Fernando Mendes Vianna Hugo Auler Grace Maria Machado de Freitas Jacob Klintowitz Mário Margutti Olívio Tavares de Araújo Lauro Moreira Jarbas Silva Marques Principais murais e painéis Cronologia das exposições


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ui encarregado de fazer este prefácio ao trabalho de Amaury sobre DJ Oliveira. Faço isto com prazer, pois neste livro estão presentes dois amigos – o biógrafo e o biografado, assim trata-se de uma tarefa prazerosa. Infelizmente o biografado já não está entre nós e perdemos a convivência com um sujeito singular – é raro encontrar uma pessoa para quem a arte e nada mais que a arte foi sua única razão de viver, como era o caso do nosso DJ. A edição deste livro é de uma relevância especial para a cultura goiana, pois nesta forma cultural, a pintura, este obcecado pelo fazer artístico representou um papel de enorme importância. E, creio eu, a escolha de Amaury para produzir este trabalho é de uma propriedade absoluta, pois, também o autor é um artista a quem a cultura goiana deve muito. Os dois, autor e personagem do livro, além de produtores de objetos artísticos sempre foram semeadores de idéias, de conhecimento técnico e conceitual sobre artes plásticas. De maneira formal ou mesmo informal mostraram aos outros ar-

Foto 1: Elder Rocha Lima, arquiteto, professor, artista plástico, escritor, em fotografia da década de 1960, no tempo do Teatro de Emergência.

tistas, iniciantes no ofício ou mesmo praticantes mais experimentados, todas as suas vivências artesanais, toda sua filosofia de comportamento perante uma tela virgem ou uma folha de papel em branco. Uma coisa eu destacaria na atividade artística do DJ (nome que sempre adotei para o nosso Dirso José de Oliveira) – seu completo e total profissionalismo. Ele sempre viveu de sua arte e para isso trabalhou incansavelmente e diuturnamente – nunca teve

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férias ou descanso nos fins de semana, e mesmo após pintar o dia todo, à noite, desenhava e gravava suas matrizes de gravuras ou fazia croquis de um painel ou tela. Não encontro outro apelido para dar ao DJ senão o de um completo demiurgo. Muito bem dotado fisicamente o DJ subia num andaime com uma desenvoltura de um acrobata e enfrentava enormes paredes para produzir um painel, tendo antes feito a base do mesmo como um artista renascentista – um estuque bem trabalhado e apto a bem receber uma pintura. O conhecimento que DJ tinha da culinária da produção artística era impressionante – sabia pintar telas (têmpera, óleo ou o que for), era um executor de painéis impressionante, um exímio gravador, desenhista requintado além de ter uma habilidade manual invejável para qualquer empreendimento correlato para a produção artística. Era também um autêntico mestre-de-obras, no bom sentido arquitetônico – construiu para si uma bela residência em um maravilhoso estúdio em uma chácara em Luziânia onde se refugiava por longos tempos trabalhando incansavelmente. Talvez essa obsessão pelo trabalho tenha minado sua saúde, pois nos deixou muito cedo. O texto que o Amaury preparou para comentar e analisar o desempenho artístico do biografado é primoroso. Discordo dele quando diz que não é escritor – pode ser que não seja escritor em vista da pequena produção de textos, mas sua carpin-

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taria literária é perfeita e a estrutura desse texto é um dos pontos altos do trabalho – é bem articulado e de uma clareza cristalina. Este livro faz jus à grandeza do artista retratado. Um período muito rico da vida do DJ foi o do Teatro de Emergência. Estive particularmente envolvido nesse projeto por uma série de razões, inclusive pela ligação pessoal com o ator João Bênnio que foi o grande responsável pela existência dessa casa de espetáculos – um acontecimento cultural que influenciou tantas pessoas. Infelizmente com o golpe militar que infelicitou o país ele foi fechado e teve seu arquivo destruído. Os militares que conduziam a repressão em Goiás tinham verdadeiro horror às artes, à cultura em geral e procediam como Goebles que dizia – “quando ouço falar em cultura, levo minha mão ao meu coldre!” Um dos mais belos trabalhos de cenografia que o DJ produziu no tempo do Teatro de Emergência foi o feito para o Auto da Compadecida, peça maravilhosa e imortal de Ariano Suassuna. Era de uma beleza singular e esse cenário foi digno da grandeza dessa obra-prima de nossa literatura. Diga-se, de passagem, que o nosso DJ viveu muito tempo em São Paulo como cenógrafo, portanto não era um neófito no assunto. Nesse trabalho sobre o DJ, o Amaury teve a oportunidade de expor seu conceito sobre as artes plásticas com a qual comungo e também comungava o DJ. Nesse sentido aqui não se trata de uma simples biografia, mas um olhar sobre a produção


artística, sem as obscuridades que normalmente nos são impingidas por certos críticos e/ou historiadores de arte que se exasperam quando um pintor se debruça sobre a realidade que nos envolve como se isso fosse desprezível – é um fechar de olhos a um panorama milenar da arte ocidental. Assim, é oportuno que contemplemos e admiremos um artista como DJ que olhava em torno de si recriando e estilizando seu mundo, em sua

natureza física e humana. Finalmente, temos que admitir que o fazer artístico para certas pessoas como DJ e o Amaury é uma coisa imperiosa que domina suas mentes e corações como se no mundo não existisse mais nada a não ser um fato relevante: render homenagens a objetos e gente que o habitam representando-o, de acordo com seus temperamentos. Elder Rocha Lima

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que dizer.

Acompanho há algum tempo (já chegando a uns 40 anos terrestres) a saga das artes visuais em Goiás. E para quem, como eu, chegou depois de muito ter-se transcorrido, é mister declinar que a todo este conhecimento produzido de forma bandeirante e pioneira no Planalto Central do Brasil não me seria possível o acesso sem o contato chave que tive com a figura e, posteriormente, com a pessoa do Amaury Menezes. Artista aclamado e único da alma goianiense em sua interação figurativa com a cidade, isso já sabíamos que ele era. Seus quadros retratando o que nossos olhos sozinhos não podem ver, isso já víamos mesmo sem o conhecer pessoalmente. Mas foi ao nos aproximar de sua pessoa que pudemos constatar que há muito mais a ver e aprender.Além do seu lado de artista há também o de mestre, aquele que, tendo aprendido, transmite a diversas gerações o seu aprendizado acrescido de sua experiência. E, ainda, bem mais do que foi a sua usual presença no comando de atividades na Escola Goiana de Belas Artes

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Foto 2: PX Silveira é jornalista, escritor, pesquisador de arte e Membro Titular da cadeira nº 32 do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás

(EGBA) e, depois, na Universidade Católica, hoje Pontifícia Universidade de Goiás (PUC-GO), Amaury se dedica desde sempre à, pacientemente, documentar por dentro os multifacetados processos em que estavam imersos os que hoje figuram na história das artes visuais com suas pegadas bem marcadas –e felizmente registradas por Amaury. Seu livro “Da Caverna ao Museu, dicionário das artes visuais em Goiás”, é considerado uma referência histórica basilar, que veio para, enfim, dar vi-


sibilidade à tão festejada diversidade e força das artes feitas no Estado. Não bastasse, Amaury ainda nos deu de bandeja um outro livro, “Confesso que chorei: uma agenda de segredos e inconfidências”, que trata de suas pequenas emoções de vida, que quando vistas na perspectiva da história, se agigantam. Tudo isso sem falar de sua coleção de registros de obras e artistas, iniciada em slides (que hoje ele não usa mais), e dos quais detém uma assombrosa quantidade de dezenas de milhares. São estes feitos e fatos docentes e documentais, extrapolando a definição de um artista, que o tornam ainda mais singular, pois ao mesmo tempo que Amaury conduziu seu aprendizado e desenvolveu uma brilhante carreira como criador nas artes visuais, eis que ele foi, de sobra, registrando também a de seus pares e seus contemporâneos, com incentivos movidos a conhecimento. E mais haveria se parte de sua coleção de registros fotográficos tão minuciosamente catalogados não tivesse sido extraviada pelo descaso

nos porões da universidade em que, por anos e anos, ele interagiu como aluno e, posteriormente, atuou como mestre e pesquisador. Sua preocupação com a informação e o registro começa, aliás, com o de sua própria obra, que não sai do seu atelier sem antes ser numerada, fotografada e registrada a data e nome de seu destinatário (o que é, desde já, um alívio para seus futuros exegetas). E agora nos vem Amaury trazendo o DJ Oliveira, de quem foi amigo, consultor e companheiro. Com mais esta publicação ele nos mostra os rastros deste artista de Bragança Paulista que fez uma passagem fulgurante na constelação goiana. No entanto, com um resgate como este do Amaury e que deve despertar novos olhares sobre sua obra, ao contrário dos astros que riscam os céus e se vão, DJ Oliveira permanece mesmo após ter-se transmutado para outras galáxias mais profundas e além de nossa compreensão. Salve, salve os operários da arte! Px Silveira

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história deste livro teve início quando DJ Oliveira revelou-me que pretendia, no ano de 2005, realizar uma exposição retrospectiva para comemorar seus cinqüenta anos de pintura. Meio século de atividade profissional requer um registro maior que uma mera retrospectiva, e a vida e a obra desse artista são tão importantes para o Estado de Goiás que sugeri, naquele momento, a edição de um livro que mostrasse e, acima de tudo, perpetuasse sua trajetória como um dos artistas pioneiros de Goiânia. A carreira do DJ merece ser divulgada pelo respeito que adquiriu como grande pintor, gravador e um dos mais reconhecidos muralistas do Brasil, além de mestre, formador e incentivador de uma geração de artistas que coloca Goiás, hoje, em posição de destaque no cenário artístico brasileiro. A idéia, levada na ocasião à Agência de Cultura Pedro Ludovico Teixeira – AGEPEL, recebeu pronta aprovação do seu presidente, Nasr Fayad Chaul, que se prontificou a patrocinar a edição do livro, faltando apenas definir o autor da obra. A escolha foi do próprio pintor que, mesmo sabendo não ser eu escritor nem crítico de arte,

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alegou que teria duas credenciais importantes para a tarefa: ser seu amigo e, principalmente, testemunha da sua atuação em Goiânia. Embora reconhecendo as minhas limitações aceitei, até com certo orgulho, a incumbência de narrar a sua história e solicitar a colaboração de críticos, jornalistas, professores, colecionadores, ou seja, de pessoas realmente competentes para analisar e comentar o seu desempenho. Assim, este livro não apresenta uma análise linear da produção de um artista. São diversas opiniões, às vezes conflitantes, pois cada um, em momentos diferentes, conviveu com o personagem e a avaliação de uma obra tem maior credibilidade quando se conhece o seu autor. A indicação dos autores das críticas ou depoimentos foi também dele próprio, que apresentou uma sequência de nomes que conheciam sua produção e sua forma de produzir, além de alguns comentários publicados por ocasião de exposições realizadas. As pessoas relacionadas abaixo, algumas já falecidas, foram todas da estreita convivência do artista, satisfazendo, coincidentemente, sua vontade de que o livro fosse escrito por um amigo. Agora já são


vários amigos que participam desta publicação: Alexandre Liah, Ático Vilas-Boas da Mota, Fernando Mendes Vianna, Geraldo Ferraz, Grace Maria Machado de Freitas, Hugo Auler, Hugo Brockes, Jarbas Silva Marques, Jacob Klintowitz, Juca de Lima, Lauro Moreira, Mário Margutti, Olívio Tavares de Araújo, Oscar Dias e Sáida Cunha. Dessa forma, com essa relação de nomes que, mais que colaboradores, eu considero parceiros, este é um livro escrito inteiramente por amigos. DJ Oliveira não aceitava ser meramente personagem de um livro, sua participação na feitura desta obra é decisiva. Assim como foi sua a escolha do narrador da sua história, dos autores dos depoimentos e críticas, também foi em cumprimento às suas exigências

Foto 3. Célia Câmara

que registramos as homenagens prestadas às seis personalidades que tiveram grande parcela de responsabilidade no crescimento da sua trajetória e fundamentais para o desenvolvimento das artes plásticas em Goiás. Célia Câmara, Cleber Gouvêa, Frei Confaloni, Gustav Ritter, João Bênnio e Luiz Curado foram, no entender de DJ, os impulsionadores da carreira de mais de uma geração de artistas. Foi sua também a escolha, para ilustração da capa, de um auto-retrato em crayon, executado no início da sua carreira e inspirado num episódio da “Divina Comédia”. “Depois, na sua tomando com meiguice minha mão, com o que me confortei, fez que no umbral secreto eu o seguisse.” (Dante Alighieri)

Foto 4. João Bênnio

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Foto 5: Frei Nazareno Confaloni

Foto 6: Henning Gustav Ritter

Foto 7: Cleber GouvĂŞa

Foto 8: Luiz Augusto do Carmo Curado


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ragança, hoje Bragança Paulista, distante 89 quilômetros da cidade de São Paulo, foi fundada em 1763, tendo como marco inicial e símbolo da religiosidade dos fundadores, uma capela em devoção à Nossa Senhora da Conceição, início comum para cidades coloniais. Até metade do século XX, viveu a época do coronelismo, sendo dos proprietários de terras a autoridade política, acompanhando a tendência nacional da época. Já nas primeiras décadas do século passado, a cidade, com mais de 50.000 habitantes, destacava-se no setor cultural com a criação da orquestra sinfônica – Sociedade Sinfônica Amadores da Arte Musical – e com as construções do Clube Literário e do Teatro Carlos Gomes. Nas artes plásticas sobressaiam nomes como Luiz Gualberto, Vitório Panuncio, Hermes Di Berardi, Guido Ducci e Noêmia Mourão. Foi nessa cidade, numa casa de esquina, simples e espaçosa, na Rua Santa Bárbara da Vila Aparecida, no dia 14 de novembro de 1932, que nasceu Dirso José de Oliveira. Seu pai, Honorato José de Oliveira, antes da mudança para a cidade para trabalhar na fábrica de produtos suínos

de Francisco Lauletta, foi lavrador e o seu último trabalho no campo foi na fazenda de café do Samuel Mourão, pai da pintora Noêmia Mourão. Sua mãe, Rosa Capozolli de Oliveira, filha de imigrantes italianos, tinha boa formação escolar, refinado gosto musical e hábito de boa leitura. Na sua infância DJ Oliveira tinha as mesmas despreocupações e brincadeiras das demais crianças de outras pequenas cidades do interior: gangorra, pião, empinar pipas, jogos de bolas de gude, etc.. Seus primeiros estudos foram no Grupo Escolar José Guilherme, onde ocupava sempre as últimas carteiras da sala, caracterizando a diferença das categorias sociais que naquele tempo imperava na região. Nas aulas de trabalhos manuais manifestou seu interesse pelas artes visuais, destacando-se com desenhos em madeira, como na xilogravura, das figuras dos vultos e heróis da história do Brasil. Guardou sempre carinhosas lembranças das professoras Odete, Nenê Leme, Clarisse Funch, Luiza Faria e principalmente do professor Benedito Simões, pelo estímulo que recebeu na avaliação dos seus desenhos e entalhes em madeira.

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Aos onze anos, já trabalhava como vendedor de jornais para ajudar nas despesas da família e, influenciado por um amigo, Artur Becchini, iniciou seus exercícios de desenho fazendo cópias de personagens de gibi. Em 1945, quando Bragança Paulista recepcionou os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira que retornavam da 2ª Guerra Mundial, cada casa, na rua programada para o desfile, enfeitava sua fachada com flores, toalhas bordadas e bandeiras. Patrocinado por um tio que tinha uma pequena fábrica de colchões, DJ projetou e executou um painel com a figura de uma cobra fumando, símbolo da FEB. O sucesso dessa obra lhe valeu a oferta de trabalho para execução de cartazes dos filmes exibidos no cinema da cida-

de – Cine Teatro Bragantino, na Praça da Matriz. Eram painéis e letreiros em grandes dimensões, executados, sob a orientação do pintor Caetano, com uma espécie de têmpera preparada com pigmento e cola Coqueiro. Trabalhando durante o dia, passou a estudar pintura à noite no estúdio do Luiz Gualberto, amigo e seguidor da escola da pintora Colette Pujol. Nesse período experimenta a técnica de óleo sobre tela, pintando do natural, naturezas mortas e paisagens. Reconhecendo o potencial do aluno e as limitações da cidade para continuação da carreira, Luiz Gualberto aconselha-o a prosseguir seus estudos em São Paulo, uma vez que, para realização dos seus anseios, um aprendizado mais completo se fazia necessário.

9: Alunos e professores (turma de 1953) do Grupo Escolar José Guilherme na cidade de Bragança Paulista/SP

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m 1946, para uma criança com pouco mais de 14 anos, sua ida para São Paulo, como carona de um caminhoneiro conhecido, foi praticamente uma fuga da família. Sua primeira morada na grande cidade foi no Canindé, numa espécie de pousada, na casa de uma família cuja dona já havia trabalhado na alfaiataria do seu avô Capazolli, em Bragança. Pouco tempo depois mudou–se para a casa de uma tia, irmã do seu pai. Em 1950, seguindo os passos do filho mais velho, seus pais e seus dois irmãos, Leonardo José de Oliveira e Olinda Capazolli de Oliveira, também se mudaram para São Paulo, fixando residência no bairro Casa Verde. Trabalhando como operário numa fábrica de tecidos, DJ conheceu os diversos processos de estamparia, que foram experiências preciosas para aplicação nos seus futuros trabalhos de serigrafia. A restauração e retoques de fotografias antigas foi outra ocupação em São Paulo, quando dividia seu tempo trabalhando também na oficina de decorações do artista Ângelo De

Sordi e convivendo com o núcleo de artistas Acadêmicos do Braz, onde recebeu orientação de Francisco Priori. Foi esse pintor, com tendências modernistas, que o levou à Associação Paulista de Belas Artes, na rua Quintino Bocaiúva, onde passou a desenhar e pintar sob a orientação de Laurindo Galante e Arcângelo Ianelli. À noite, sempre fazia exercícios de modelo vivo e nu artístico com alguns amigos, orientados pelo pintor Santeburllo e, muitas vezes, para levantar algum dinheiro, posava de modelo para os colegas. Com esse mesmo grupo teve suas primeiras experiências de trabalhar ao ar livre, pintando paisagens das margens do Rio Tietê. Empenhava-se com afinco, apreendendo ao mesmo tempo o ensino acadêmico e os novos movimentos que aconteciam em São Paulo. Ainda pelas mãos de Francisco Priori foi apresentado a um conjunto de artistas: Alfredo Volpi, Fulvio Penacchi, Aldo Bonadei, Clovis Graciano, Rebolo Gonzáles, Santa Rosa e Mário Zanini que, por manterem seus estúdios no Edifício Santa Helena, na Praça da Sé, ficaram conhecidos como Grupo Santa

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Helena. Como assíduo freqüentador das reuniões desses ateliês, considerava que esse foi um período de convivência enriquecedora e influências proveitosas, além de solidificar grandes amizades, principalmente com Clovis Graciano e Alfredo Volpi. Numa exposição coletiva do Clube dos Artistas no Foyer do Teatro Municipal de São Paulo, em 1955, DJ parti-

preparado para sediar os principais festejos do IV Centenário da Cidade de São Paulo. Foi ali, trabalhando na montagem de stands que conheceu Luciano Maurício, pintor premiado e cenógrafo de renome em São Paulo. Bem recebido, o jovem de Bragança Paulista se ofereceu e foi testado para trabalhar como auxiliar. O teste a que se submeteu consistia na re-

10 e 11: Nus. Tinta nanquim sobre papel. Com esses desenhos participou da exposição coletiva do Clube dos Artistas no Teatro Municipal de São Paulo em 1955. Acervo Sáida Cunha.

cipou com desenhos de nus artísticos, nas técnicas de sanguínea e nanquim. Foi a primeira mostra do intenso currículo do artista nos últimos 50 anos. Em 1954, sem emprego fixo e cobrado pelo pai que queria o filho ajudando nas despesas da família, DJ foi procurar trabalho no Parque do Ibirapuera, que estava sendo

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produção dos desenhos da maquete dos cenários nos painéis com mais de três metros de altura que serviriam como fundo de palco. O trabalho anterior de cartazes de cinema foi um aprendizado importante, pois, familiarizado com grandes dimensões, não encontrou dificuldades na execução da nova tarefa.


Aprovado no teste, onde elaborava, com carvão, os esboços para execução das pinturas, agora já numa forma estilizada, deu os seus primeiros passos numa pintura figurativa com linguagem mais contemporânea. A confiança do cenógrafo no aprendiz aumentava à medida que desenvolviam os trabalhos, assim como a amizade entre os dois se consolidava, consentindo, inclusive, que o jovem artista trabalhasse em sua oficina. O grande teste de DJ foi sua atuação na execução dos cenários do Balé do IV Centenário de São Paulo, que contou com a participação de uma pintora já famosa, Noêmia Mourão, também nascida em Bragança Paulista. Diferentemente do teatro, cujo fundo de palco permanecia montado por longas temporadas, a televisão, que ensaiava seus primeiros passos em São Paulo, naquele tempo apresentava programas apenas ao vivo, com freqüentes alterações e mudanças diárias de cenários. Na execução dos ambientes e cenários, para apresentação da variada programação, eram empregados vários artistas e profissionais experientes. O cenógrafo era

o responsável pelo projeto que os cenaristas e seus ajudantes executavam e montavam de acordo com cada fase do programa. Luciano Maurício, contratado como cenógrafo de toda a programação, levou seu jovem auxiliar para atuar na TV Tupy e também um cenarista russo, conhecido apenas como Leônidas, pintor acadêmico que trabalhava ao mesmo tempo com porcelana. Esse relacionamento e troca de conhecimentos proporcionaram ao jovem DJ as primeiras experiências com pintura em cerâmica e uso de forno para queima das peças. O trabalho na televisão propiciava o relacionamento entre os profissionais das diversas áreas de atuação, inclusive com os ocupantes dos cargos de direção. O principal dirigente da empresa, Dorival Costa Lima, era casado com uma goiana de Luziânia, Sarita Grammont, atriz de radionovelas, e foi na residência do casal que DJ conheceu e começou a namorar a também goiana de Planaltina, Therezinha, governanta da casa há mais de três anos e que seria um dos motivos para sua futura mudança para Goiânia.

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m Novembro de 1956, recusando tentadora proposta de melhoria salarial na TV Tupy, DJ mudou-se para Goiás, numa exaustiva viagem ferroviária e a primeira pessoa que procurou em Goiânia, de quem recebeu carinhoso apoio, foi a irmã de Sarita, Dona Guiomar Grammont Machado, que se prontificou a custear as primeiras despesas da sua hospedagem Na Cidade.

12. Agostinho de Souza

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Instalado na Pensão Tocantins, na avenida do mesmo nome, entre as Ruas 1 e 2, fazia suas refeições no “Tip-Top”, restaurante popular e de grande freqüência na época. Atuou durante mais de dois meses como pintor de paredes, até conhecer Agostinho de Souza e Juca de Lima, que já trabalhavam na oficina de pintura do Batista, onde executavam placas, letreiros e fachadas. Passou também a atuar nessa área, numa

13. Juca de Lima


oficina montada na Rua 6, tendo sido de grande utilidade a experiência vivida no cinema de Bragança Paulista. Com os dois novos sócios e amigos voltou à prática de pintura de paisagens ao ar livre, como puro exercício, uma vez que não havia comércio para pintura na cidade. Provavelmente essa aventura que, a princípio espantava os transeuntes, tenha criado uma aproximação do público com os

teressadamente pelo comerciante Násseri Gabriel e ali desenvolveu intensa atuação, elaborando letreiros, painéis e murais nas fachadas, vitrines e interiores de estabelecimentos comerciais. Outra atividade que desempenhou e que o tornou mais conhecido foi a decoração dos salões para os bailes de carnaval. O Jóquei Clube de Goiás, o mais antigo e tradicional da cidade, o Country

14. Paisagem – Óleo sobre tela, 50x60cm. Acervo: Amaury Menezes.

artistas, propiciando abertura para um promissor futuro no mercado de arte em Goiânia. Nos anos seguintes instalou seu ateliê-oficina na Avenida Anhanguera, principal artéria comercial de Goiânia, num espaço cedido desin-

Clube e a Boite Lizita disputavam sua participação nas festas de suas programações. Sem perceber, o artista acumulava experiências e conhecimentos para os futuros trabalhos em grandes dimensões, que o consagrariam como muralista.Em 1958, ainda

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15. O pintor em seu novo ateliê, em 1957, executando estudo para um mural em Brasília/DF.

16. DJ Oliveira executando, em Brasília/DF, o mural Candangos Heróicos, no restaurante do SAPS, em 1957.

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sem uma situação financeira estável, mas movido pela antiga paixão, casase com aquela namorada que foi o motivo da sua vinda para Goiás. A cerimônia do casamento, celebrada pelo Padre Zezinho, foi na capela do Ateneu Dom Bosco e teve como padrinhos os casais Joaquim Domingos Roriz / Dinalva Guimarães e Lourival Batista Pereira / Maria Dione Guimarães. Com Therezinha de Jesus Cavalcante conservou uma estável união e teve os filhos Ricardo, Dilermando e Valéria. Atendendo encomenda do Dr. Omar Carneiro, pintou um mural na fachada da residência desse médico, um dos freqüentadores do seu ateliê e seu grande amigo. Esse trabalho, certamente, contribuiu para assegurar a DJ outras encomendas do gênero. Já mais conhecido na cidade, pintou no “Café Cairo”, na Avenida Anhanguera, um painel narrando a história do café, do grão à xícara, passando pela lavoura, colheita, torração, etc. Outro, pintado nesse período, por encomenda do Sr. Odilon Santos Filho, com o tema “transporte rodoviário”, foi na agência

de passagens da “Viação Araguarina”, ainda na Avenida Anhanguera, em Goiânia. Pintou, também, um mural no interior da “Churrascaria Kabana”, um dos restaurantes mais freqüentados naquela época e alguns anos depois complementou com um outro, externo, em cerâmica esmaltada, tendo como tema detalhes da arquitetura da Cidade de Goiás.

17 . Therezinha de Jesus Oliveira

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Foto 18: Mural na técnica de afresco e esgrafito realizado na fachada de uma residência na Rua 9-A nº 315, Setor Aeroporto, em Goiânia/GO.

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oi o jovem jornalista Batista Custódio que, em 1960, o apresentou ao João Bênnio, ator e diretor de teatro, que precisava de alguém para confeccionar os cartazes e letreiros para divulgação da peça “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, que seria encenada nos palcos do Lyceu de Goiânia. Além dos cartazes que executou, de graça, DJ passou a integrar, como cenógrafo, cenarista e figurinista, o núcleo “Bênnio e seus artistas”. Esse período foi importante para suas atividades de pintor e fértil na criação de novas amizades: Oscar Dias, Hugo Brockes, Antônio Segatti e Elder Rocha Lima eram sempre lembrados como amigos inesquecíveis. Com o Teatro Goiânia arrendado para uma empresa cinematográfica, a cidade não tinha uma casa de espetáculo para abrigar a produção local e companhias interessadas em apresentar suas peças em Goiânia. Para suprir essa deficiência, o Governo do Estado construiu, em 1959, o Teatro

de Emergência que, sob a direção e administração de João Bênnio, marcou um importante período na vida cultural da jovem Capital. Para a inauguração do teatro DJ pintou, no hall de entrada, usando como tema cenas do “Auto da Compadecida”, um mural que foi preservado até a demolição da casa de espetáculos, dez anos depois. A convite do Bênnio, DJ, continuando suas atividades de cenógrafo, instalou seu ateliê no espaçoso fundo do palco do teatro, que passou a ser ponto de referência para encontros e descontraídos bate-papos de artistas e intelectuais de Goiânia. Foi nessa época que eu, residindo nas proximidades do “Teatro de Emergência”, enchendo-me de coragem, apresentei-me ao pintor como um estudante da Escola Goiana de Belas Artes, passando a ser também mais um dos frequentadores do seu ateliê. A nossa amizade nasceu ali e cresceu na mesma proporção da minha admiração.

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m 1961, o Professor Luiz Curado, freqüentador do “Teatro de Emergência” e diretor da Escola de Belas Artes da Universidade Católica de Goiás, acompanhado do pintor e também professor Frei Nazareno Confaloni, levou ao DJ o convite da Congregação para assumir as cadeiras de desenho e pintura, vagas com as exonerações dos professores Henning Gustav Ritter e Antônio Henrique Peclat, que se afastaram para criar a Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Goiás. Essa foi, provavelmente, a maior surpresa da sua vida, pois se julgava marginalizado pelas correntes conservadoras que dirigiam o ensino de arte na cidade. Na realidade, numa época em que os professores davam aulas de paletó e gravata, a figura daquele pintor de longos cabelos, usando boina à moda renascentista, sandálias franciscanas e roupas manchadas de tinta era motivo para espanto de todos, principalmente se considerarmos que a pintura não era, então, uma profissão ética ou economicamente recomendável. Mas, com o convite, além do reconhecimento do talento e da vivência artística do DJ, os professores da Escola quiseram se antecipar aos con-

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correntes da Universidade Federal que, talvez, também pretendessem convidá-lo. Aqui, cabe uma explicação quanto à contratação de professores por parte das universidades. Naquele tempo, a legislação permitia que, nas cadeiras de música, desenho e pintura, fossem admitidos professores sem diploma de curso superior, bastando o reconhecimento e expedição, por parte do Ministério da Educação, do título de notório saber. Logo no início do ano letivo, o novo professor implantou uma metodologia de ensino, a única que conhecia, provocando uma série de alterações: transformou a sala de aula em oficina, a tarefa de pintar em prazer de pintar e os alunos mais talentosos em aprendizes, com direito a frequentar o seu ateliê. Lembrava aos seus alunos que o tradicional ensino da arte, através do desenho de observação não objetiva a fidelidade da representação, mas o desenvolvimento da percepção. Não os sobrecarregava com regras como luz, sombra, perspectiva, etc. O importante era cada um perceber, através da observação, os valores que dariam expressão ao seu desenho. Repetia sempre que, como o de-


senho é a forma de linguagem mais pessoal e espontânea das artes plásticas, um observador atento pode perceber até o estado emocional do desenhista, como sua segurança, desembaraço, características gestuais, agilidade e direção do traço, podendo avaliar inclusive o tempo aproximado para conclusão do trabalho. O primeiro exercício de abstracionismo está no desenho de observação: o desenhista só registra o que julga importante.

cuja única proibição era, para evitar dependência, imitar o mestre. Embora não fosse o titular da cadeira de gravura, foi DJ quem realmente implantou o uso dessas técnicas na Escola, inicialmente com o exercício da xilogravura, método que independe de equipamentos apropriados e grandes investimentos. Trata-se de um processo de impressão, em uso na China desde o século VI, onde a matriz, uma prancha de madeira, é sulcada com ferramentas apropria-

Foto 19: Pilar de Goiás – Gravura em metal, 35x49 cm. 1976. Acervo Amaury Menezes

Na sala de pintura estimulava a aplicação dos exercícios de desenvolvimento da percepção, feitos nas aulas de desenho e dava oportunidade para que cada aluno escolhesse, com inteira liberdade, as cores da sua palheta. Liberdade, aliás, era a tônica dos seus ensinamentos,

das, formando os desenhos para posterior entintação e transferência para o papel. Mais tarde, quando conseguiu encomendar a fabricação de uma prensa em São Paulo, pôde iniciar o ensino e a produção própria das diversas modalidades de gravura em metal. Outros artistas como Frei

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Confaloni, Luiz Curado e Cleber Gouvêa já faziam exercícios de xilogravura e litografia, mas o pioneirismo na produção e no ensino das diversas técnicas de gravura em metal deve ser creditado ao DJ Oliveira e à Ana Maria Pacheco, que permaneceram como atuantes gravadores. Em 1968, com o aumento da repressão política e policial, os visitantes habituais do Teatro passaram a ser secretamente observados e alguns até presos, acusados de conspiração. Essa ação ocasionou o início da desativação do teatro e a mudança do ateliê do DJ para a Escola de Belas Artes. A espaçosa sala de aulas de pintura ganhou a acolhedora e descontraída atmosfera de estúdio, quando o artista ali instalou seu cavalete com palheta, pincéis e também seus móveis, livros, discos e aparelhagem de som. Além dos antigos frequentadores do Teatro de Emergência, o novo ateliê teve o seu público ampliado pelos professores e alunos da Universidade e, principalmente, por jovens que, sem condições de se matri-

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cularem num curso regular de arte, aspiravam a uma carreira de pintor. A marcante passagem do DJ Oliveira como professor da Escola de Belas Artes foi importante principalmente pela abertura do seu ateliê, que ocasionou o período de maior efervescência nas artes plásticas em Goiás, comprovando a afirmativa de que na carreira de um artista a oficina é mais importante que a sala de aula. O hábito da pintura coletiva de paisagem ao ar livre foi reativado e desse período, como um dos mais regulares participantes desse estúdio, posso, como testemunha, destacar alguns artistas que tiveram suas vitoriosas carreiras iniciadas ou impulsionadas nesse ambiente: Alcione Guimarães, Ana Maria Pacheco, Grace Freitas, Iza Costa, Leonan Fleury, Paulo Humberto Ludovico, Roosevelt, Sáida Cunha, Sanatan e Siron Franco entre inúmeros outros, que foram presenças permanentes dessa oficina e são hoje respeitados nomes no atual panorama das artes de Goiás e do Brasil.


20. As alunas da EGBA Grace Freitas, Marilena Siqueira e Regina Fleury, em fotografia da década de 1960, observam com admiração o talento do jovem Siron Franco.

21. Numa descontraída aula de pintura os professores DJ Oliveira e Amaury Menezes com as alunas Grace Freitas, Jamary Vaz, Regina Fleury e Marilena Siqueira.

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Foto 22. A aluna SĂĄida Cunha numa aula de pintura. DĂŠcada de 1960.

Foto 23. Iza Costa, aluna de pintura

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24. Ana Maria Pacheco, quando aluna da EGBA – Década de 1960

25. Cabeça de DJ Oliveira, trabalho em argila de Ana Maria Pacheco.

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26. Leonan Fleury

27. Roos

28, Alcione Guimarães, década de 1960

29. Sanatan


Com a carreira solidificada por significativas premiações e participação em importantes exposições, salões e bienais, DJ ganha o respeito da comunidade intelectual do Estado, recebendo o crédito pela formação de uma nova geração de importantes pintores, além de criador de um movimento de crescente efervescência no nosso mundo cul-

Segundo DJ, a mescla das escolas de Florença, Bauhaus, Guignard e Grupo Santa Helena foram importantes para a manifestação de uma nova e autêntica corrente nas artes plásticas em Goiânia. Nos últimos meses de 1968, como reconhecimento pela sua atuação como professor no Departamento de Artes e Arquitetura, sucessor da

30. Mural externo em cerâmica vitrificada na residência do casal Sáida Cunha e Marcos Roriz Soares de Carvalho, em Goiânia/GO.

tural. Esse conceito permanece até hoje, mas ele insistia em dividir o mérito com outros três pioneiros: Frei Confaloni, pintor italiano e sacerdote da Ordem dos Dominicanos, Henning Gustav Ritter, escultor alemão e Cleber Gouvêa, pintor e gravador da cidade mineira de Uberlândia, formado pela Escola de Belas Artes de Belo Horizonte.

Escola de Belas Artes, o Reitor da Universidade Católica, Padre Cristóbal Álvarez, ofereceu ao pintor um estágio remunerado na Espanha. Foram dois anos percorrendo a Europa, conhecendo seus museus, monumentos e galerias. Fez um estágio numa escola de artes gráficas, em Madrid, para atualizar seus conhecimentos sobre as diversas técnicas

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de gravura. Com um restaurador argentino, que trabalhava no Museu do Prado, ampliou suas noções sobre a resistência e durabilidade das técnicas, dos pigmentos e dos suportes das pinturas, principalmente dos murais. Em Madrid, onde mantinha residência, realizou uma exposição individual na Casa do Brasil e marcou sua permanência no Velho Mundo com a execução de dois murais na Cidade Universitária. Ao retornar a Goiânia, em 1970,

retoma suas atividades de professor e reabre seu ateliê, ao lado da sala de escultura, que na realidade era o estúdio que a professora Ana Maria Pacheco também mantinha na Universidade Católica. Foi um tempo de intensa produção no ensino e de troca de experiências nas áreas de escultura, gravura e pintura mural, interrompido em 1973 com as mudanças, de DJ Oliveira para o interior do Estado de Goiás e de Ana Maria Pacheco para a Inglaterra.

31: Detalhe do mural na residência do casal Sáida Cunha e Marcos Roriz Soares de Carvalho.

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32. Flores – Copo de leite. Têmpera sobre tela, 115x80 cm. 1997.

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33. Cadeira gĂłtica. TĂŞmpera sobre tela, 115x80 cm. 1997.

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34. São Francisco. Têmpera sobre tela, 1978. Acervo: Sáida Cunha

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35. Músico. Aquarela, 48x35 cm. Acervo Sáida Cunha.

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36. Os Saltimbancos. Ă“leo sobre tela, 115x160 cm. 1964

37. O Saltimbanco e a mulher de cabelos brancos. Ă“leo sobre tela, 115x160cm

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E

m 1973, depois de cumprido o período de compromisso (verbal) com a Universidade Católica e cada vez mais desencantado com os caminhos do ensino de arte, DJ decide realmente se afastar de Goiânia, mas sem desocupar o espaço conquistado no Estado de Goiás. A cidade escolhida para sua nova residência foi Luziânia, nas proximidades de Brasília. Foi um momento de lirismo que encontrou na velha cidade sem pressa, renovando as mesmas emoções e aspirações da sua infância. A atmosfera era acolhedora e estimulante para sua produção. Num amplo sobrado, restaurado pela Prefeitura, estabeleceu seu ateliê, onde pôde instalar sua prensa de gravura e o forno para queima e esmaltação de cerâmica. Depois de um período de quase três anos, dedicados à prática de gravura em metal e execução de grandes murais, voltou a pintar e suas telas passam a guardar maior identidade com suas gravuras e sua pintura mural. A sociedade local reconheceu logo a importância do novo cidadão que, mesmo sendo um homem reservado e de hábitos simples, dedicado unicamente à sua arte, recebeu as homenagens da cidade, inclusive com sua

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indicação e posse na cadeira nº 13 da Academia de Letras e Artes do Planalto, entidade que congrega os produtores culturais de Brasília e seu entorno. O isolamento que buscava com a mudança para uma cidade do interior só foi finalmente concretizado com a realização de um antigo sonho, a aquisição de um pedaço de terra. Em um sítio de aproximadamente trinta hectares, distante seis quilômetros do centro de Luziânia, estabeleceu o seu refúgio e a residência da sua família. Sem se desligar de Goiânia, onde sempre manteve seu ateliê, a presença de DJ em Luziânia foi importante para abertura de novos horizontes para sua pintura em Brasília e em outros estados. A liberdade que o novo espaço permitia para execução de obras em grandes dimensões foi fundamental para atender as crescentes encomendas de murais em cerâmica esmaltada e a impressão dos álbuns de gravura em metal. O conceito do artista como muralista não foi uma avaliação da crítica, mas fruto do seu intenso trabalho, pois, como se trata de uma obra exposta ao público, foi deste o julgamento que o consagrou como um mestre. O mural é a arte com dimensão social.


38. Parte nº 1 do mural em cerâmica vitrificada, com 119 m², de 1994, na Praça das três Bicas, na cidade de Luziânia/GO.

39. Detalhe da parte nº1 do Mural na Praça das Três Bicas

40. Parte nº 2 do Mural da Praça das Três Bicas.

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41. Obelisco de três faces em cerâmica vitrificada, com 5,50 metros de altura Na Praça das Três Bicas, na cidade de Luziânia/GO. 1996

Na planejada e recém-construída cidade de Palmas, em 2001, concluiu, em cerâmica esmaltada, a encomenda de cinco monumentais murais, narrando a história do povo e da luta pela criação do novo Estado do Tocantins. Para a

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execução dessas e demais obras, criando a pintura sem interferir no projeto arquitetônico original, foi importante o período de convivência com os profissionais e professores da Escola de Artes e Arquitetura, em Goiânia.


C

oncluída a leitura da história e da trajetória do pintor, fica mais fácil para o observador a percepção e até a análise da sua obra. Nenhuma lição ou exercício em qualquer período da sua vida foi em vão ou esquecido. A pintura é um ofício que depende de um aprendizado seguro e um oficial, mesmo maduro, é um eterno aprendiz. Para sua xilogravura, foram válidos os primeiros exercícios de entalhe em madeira nas aulas de trabalhos manuais, como foram im-

portantes para suas serigrafias as experiências de estamparia na fábrica de tecidos. A curiosa observação na queima da pintura em porcelana do russo Leônidas, colega de trabalho na antiga TV Tupy, serviu de base nas pesquisas e execução dos murais de cerâmica. A percepção desenvolvida nos exercícios, ao ar livre, de pintura de paisagens, continua no estilo observado em suas mais recentes paisagens urbanas. Até o período que trabalhou

42. Detalhe de mural na técnica de afresco e esgrafito.

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como pintor de paredes lhe foi útil na elaboração dos murais da UFG, na técnica do esgrafito. Trata-se de um gênero de pintura a fresco que consiste em aplicar, sobre camadas de argamassa coloridas uma superfície branca, posteriormente sulcada para definir os desenhos das formas e figuras. Suas figuras não são meras figurações, representam uma cena. Como no teatro, contam uma estória. O

fundo não é apenas um espaço para valorizar a figura, tem a atmosfera de um cenário que completa a narrativa. Essa é a palavra, sua obra é narrativa, desde uma pequena tela ou estudo como nos maiores murais. E para chegar aí, foram proveitosas as experiências de cartazes de cinema na infância, cenógrafo, cenarista e figurinista de teatro e até mesmo como pintor de letreiros e painéis comerciais.

43. Mulher com chapéu verde. Têmpera sobre aglomerado. 70x65 cm. Acervo: Sáida Cunha.

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É assim que, penso, se deve “ler” a pintura de DJ, como o cenário de uma peça de teatro. E o ato seguinte, de uma forma até inconsciente, é de autoria do próprio observador que tem, cada vez

Na construção das suas figuras a mão obediente e treinada, em traços firmes e profundos, como na xilogravura, executava os gestos que sua mente organizada comandava. DJ, assim como o grupo de pintores forma-

44. Tuba branca. Óleo sobre aglomerado. 60x48 cm. 1976. Acervo: Sáida Cunha

mais, participação no trabalho do artista. Uma obra narrativa estimula o espectador a interagir e a estabelecer sua parcela de ação na atividade criadora.

dos ou influenciados por ele, não era artista de ruptura, mudando com frequência o percurso da sua obra com a alegação ou o título de nova “fase”. A sua preocupação com a continuidade

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não significava estagnação, mas coerência e respeito pela própria produção. A mudança, lenta e involuntária, que ocorreu com o correr do tempo em seu trabalho, não foi ditada por modismos ou “fase”, mas puramente evolução, aprimoramento da técnica ou da percepção. Mesmo tendo vivido e produzido durante o mais importante período do abstracionismo e da arte conceitual, nunca abandonou a tradição da pintura figurativa. Para ele ser vanguarda é ter coragem de mostrar que sabe desenhar. A firmeza de propósitos do DJ foi, provavelmente, responsável pelas características do seu tipo, tímido e calado, erroneamente confundido como grosseiro.

De uma forma geral se recusava a comentar os seus trabalhos para aqueles que buscavam identificar conteúdos pessoais ou intelectuais em sua produção. A alteração mais acentuada que se percebe na vasta produção do artista ocorreu quando do retorno da sua estada na Europa. Sua pintura, que tinha como características principais o colorido fauve, com espatuladas gestuais e camadas volumosas de tintas, ganha uma expressão mais organizada, com uso de cores chapadas em espaços geometrizados, criando uma permanente alternância e competição entre forma e fundo. Na pintura do DJ não existe o silêncio do fundo.

45. Fachada com carrinho de pipoca. Óleo sobre tela, 120x155 cm. 1994

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46. A dama de branco. Óleo sobre tela, 115 x 80 cm. 1998

Assim como o conhecimento das técnicas foi importante para aplicação nos futuros trabalhos, sua temática também foi fruto do acúmulo de informações e experiências. A paisagem urbana, presente na sua

pintura, às vezes como fundo, não é um documento de um determinado lugar, é um cenário vivo que narra o tempo e a época da cena a ser vivida na imaginação do observador. Essa experiência teve início

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nos exercícios de pintura ao ar livre em Bragança Paulista, nas margens do Rio Tietê em São Paulo, nas cercanias da Estação Ferroviária de Goiânia, onde residiu inicialmente, ou na observação dos casarões da centenária cidade de Luziânia. Até suas despreocupadas brincadeiras e jogos na infância funcionaram como inspiração para os temas dos cinco murais externos, na técnica de esgrafito, na Universidade Federal de Goiás, simbolizando as suas principais áreas de ensino e atividade acadêmica: a precisão do ato cirúrgico na medicina foi representada pela concentração das crianças participantes no jogo de bolas de gude; a balança da justiça encontrou sua representação na oscilação e equilíbrio da gangorra; o prumo, instrumento de engenharia, indispensável na construção civil, tem um significado muito próximo do pião, impulsionado por um cordel; a diversidade do pensamento nas discussões filosóficas foi simbolizada pelo jogo de petecas e a liberdade que caracteriza as produções nas artes foi representada pela brincadeira de empinar pipas. Suas experiências no Teatro, como cenógrafo ou figurinista, permaneceram em suas figuras, que são verdadeiras personagens, às vezes até medievais, representando com humor e ironia, cenas que presenciou na sua infância em Bragança Paulista ou percebeu na conservadora sociedade de Luziânia. É um registro da realidade cotidiana sem disfarçar sua trágica banalidade.

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Os ângulos, a partir dos quais ele captava seus temas, sugerem a abertura das cortinas de um palco, mostrando a lenta transitoriedade da cena, o ar solitário das pessoas presentes ou a força de uma cadeira vazia para sugerir ausência. A sua experiência como cenógrafo tornava, muitas vezes, o cenário mais eloquente do que a cena. A figura humana, os móveis, as flores e até o fundo serviam como recurso para dimensionar o espaço limitado e organizado do palco. Dessa forma, tudo o que fez parte da vida do pintor foi absorvido. Até o seu refinado gosto musical foi influência do tempo que trabalhou no Cine Teatro Bragantino que, nos intervalos de projeção, executava músicas clássicas e trechos de ópera e também do período que foi assíduo freqüentador dos ensaios e das exibições gratuitas da Orquestra Sinfônica de Bragança. Para ele, ficar sozinho não significava solidão, era oportunidade para se conhecer melhor, por isso, até mesmo os amigos mais íntimos sentiam-se como intrusos em sua privacidade tão zelosamente cultuada. Como professor transmitia aos seus alunos toda a experiência vivida na longa estrada da sua formação, repetindo sempre que nas artes plásticas não é possível queimar etapas e não existem atalhos. Entre as lições que a vida lhe ensinou, talvez a mais importante tenha sido a que resultou no seu obstinado esforço em busca do êxito e o desencanto com o sucesso.


47. Fachada com cadeira. Ă“leo sobre tela. 92x65 cm. 1994.

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48. Aristocratas. Óleo sobre tela, 72x92 cm. Acervo: Sáida Cunha

Para ele, ficar sozinho não significava solidão, era oportunidade para se conhecer melhor, por isso, até mesmo os amigos mais íntimos sentiam-se como intrusos em sua privacidade tão zelosamente cultuada. Como professor transmitia aos seus alunos toda a experiência vivida na longa estrada da sua forma-

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ção, repetindo sempre que nas artes plásticas não é possível queimar etapas e não existem atalhos. Entre as lições que a vida lhe ensinou, talvez a mais importante tenha sido a que resultou no seu obstinado esforço em busca do êxito e o desencanto com o sucesso.


49. Vaso e porta – Têmpera sobre tela – 9-x70 cm.

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50. Sem título - Óleo sobre tela - 65x50 cm.

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51. Mágico – Óleo sobre tela 115x150 cm. Acervo de Valéria Oliveira

52. Três cerâmicas negras – Têmpera sobre tela, 1997 – 75x100 cm. Acervo: Valéria oliveira

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Árvore branca

53. Árvore branca – Têmpera sobre tela – 1996 – 110x90 cm – acervo: Valéria Oliveira

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54. Gato preto – detalhe – 1991 – Têmpera sobre tela 115x80 cm. acervo: Valéria Oliveira

55. Os corruptos – Óleo sobre tela – 1994 – 111x155 cm. Acervo Valéria Oliveira

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É

comum, na história de uma vida, concluir com a narrativa dos últimos anos. Com Dj não aconteceu assim. Embora sem a mesma vitalidade que foi a marca da sua figura, continuava empenhado na sua pintura e nos projetos, inclusive o da recuperação dos murais da Universidade Federal de Goiás e conclusão dos murais em Palmas, no Tocantins. No meu ateliê, em uma conversa cheia de emoções ele, já bastante debilitado, externou sua apreensão

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de não poder ver pronta a edição do seu livro e a abertura da retrospectiva “50 Anos de Pintura”. Essa dolorida previsão foi feita sem demonstrar autopiedade e com a preocupação de não parecer melodramático. Foi nosso último contato. Depois de completados, sem comemorações, seus 50 anos de pintura, DJ Oliveira faleceu pouco antes do seu 73º aniversário, a 23 de setembro de 2005, em Goiânia, a cidade que escolheu para trabalhar e que o acolheu para crescer.


56. Mural externo em cerâmica vitrificada, na fachada da OMB Propaganda, em Goiânia/GO. 1987.

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57/58. Detalhes do mural em cerâmica na fachada da OMB Propaganda

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59. Mural em cerâmica vitrificada, com 15,66 m². Santo Ivo Ministrando Justiça, na fachada da Ordem dos Advogados, OAB/GO, em Goiânia. 1992.

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60. Mural externo em cerâmica vitrificada O Sonho de Dom Bosco, com 112 m² na fachada do Colégio Maria Auxiliadora, na Praça Germano Roriz, em Goiânia/GO.

61. Detalhe do mural O Sonho de Dom Bosco, na fachada do Colégio Maria Auxiliadora em Goiânia/GO

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62. Painel interno em cerâmica vitrificada, realizada no ano de 2001 na Cidade de Palmas, no Tribunal de Justiça do Tocantins.

63. Detalhe do Painel do Tribunal de Justiça do Tocantins.

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64. Um dos três painéis realizados em cerâmica vitrificada no Tribunal de Justiça do Tocantins.

65. Detalhe do mural do Tribunal de Justiça do Tocantins

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DJ OLIVEIRA, UM PIONEIRO JUCA DE LIMA* indicação e posse na cadeira nº 13 da Academia de Letras e Artes do Planalto, entidade que congrega os produtores culturais de Brasília e seu entorno. O isolamento que buscava com a mudança para uma cidade do interior só foi finalmente concretizado com a realização de um antigo sonho, a aquisição de um pedaço de terra. Em um sítio de aproximadamente trinta hectares, distante seis quilômetros do centro de Luziânia, estabeleceu o seu refúgio e a residência da sua família. Sem se desligar de Goiânia, onde sempre manteve seu ateliê, a presença de DJ em Luziânia foi importante para abertura de novos horizontes para sua pintura em Brasília e em outros estados. A liberdade que o novo espaço permitia para execução de pois, como se trata de uma obra exposta ao público, foi deste o julgamento que o consagrou como um mestre. O mural é a arte com dimensão social. * Juca de Lima é conhecido pintor goiano e um dos primeiros amigos que DJ Oliveira fez em Goiânia.

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DJ OLIVEIRA, ARTISTA E MESTRE ALEXANDRE LIAH* Foi conhecendo DJ Oliveira na minha infância, que tive o primeiro contato com as artes. Seu ateliê por força do destino veio a ser em frente à minha casa no antigo Setor Ferroviário. Aprendi ali coisas tão caras a um artista. Em seu laborioso ofício ficava magnetizado vê -lo pintando seus quadros e painéis. O conví- 66. *Alexandre Liah vio ali com o artista me fez embarcar no seu barco de Caronte. Pensei comigo: vou ser artista. Tenho a maior admiração pelo DJ pela generosidade desse artista que sempre esteve disponível a ensinar e a dar um conselho amigo. Por tudo que representa nas artes plásticas de Goiás, tenho o privilégio, assim como meus colegas contemporâneos, da convivência com esse grande artista. * Alexandre Liah, artista plástico e grande amigo do artista fez este depoimento em agosto de 2005.

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DJ OLIVEIRA O CAVALEIRO ANDANTE DAS ARTES PLÁSTICAS DO BRASIL CENTRAL. ÁTICO VILAS-BOAS DA MOTA* Macaúbas/Bahia, 12 de setembro de 2005. Quando cheguei em Goiânia, na doce década de 1960, um jovem pintor com sua boina verde chamava a atenção da comunidade pela sua postura e filosofia de vida calcadas na convicção de que ser artista é procurar atingir os seus sonhos mediante uma longa caminhada, sem descanso, sem desânimo. E assim foi. Ele fez parte do processo artístico desenrolado no Planalto Central como uma 67. Ático Vilas-Boas das personalidades mais atuantes. Modesto. Simples sem ser simplório, de fino trato, fala baixo para não arranhar os ouvidos do interlocutor, enfim, além de bom artista é uma excelente pessoa para o convívio social. Sua obra, já bastante extensa, fala por ele com toda a eloquência. Excelente desenhista, o que lhe permite navegar com firmeza ao lidar com as cores e movimentos no setor da pintura. Seus quadros obedecem a uma rigorosa concepção tendo como fio condutor o uso adequado e às vezes arrojado das diagonais. Sua pintura fala alto aos olhos do apreciador que não consegue enxergá-la a não ser por meio da empatia. Tem sido feliz em todos os seus arrojados empreendimentos: na pintura, na gravura, nos murais etc. Toda vez que vou à Goiânia tenho a oportunidade de apreciar os seus murais no Colégio Maria Auxiliadora e da antiga Reitoria

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da Universidade Federal de Goiás (UFG) e vejo com que arrojo ele os concebeu, apesar da exacerbada luminosidade de montanha que envolve o Planalto Central parecendo querer apagar tudo. Talvez a melhor forma de pintar murais perenes seja redescobrir a técnica dos antigos pintores da Romênia – Região Bucovina (Voronet) – que venceram as intempéries do tempo bem como a tirania da luz e conseguiram pintar afrescos, no exterior dos mosteiros que ainda hoje ostentam as velhas cores como se fossem pintadas nos nossos dias. Sempre diante das figuras humanas e dos objetos retratados por DJ Oliveira eu fico emocionado e muito feliz por ter sido contemporâneo de um grande artista, de uma personalidade que enobrece a sua comunidade e o seu tempo. Nele aprendemos que a arte deve ser vivida em todas as nossas andanças pelo mundo e que o verdadeiro artista é todo aquele que tange o seu rebanho de sonhos até o aprisco da sua realização plena. DJ Oliveira sempre me pareceu a figura acabada do artista completo, não só nas suas obras, como também na sua maneira de ser. Ele bem merece todas as homenagens ao completar, tal como um D. Quixote das artes, cinquenta anos de buscas e de semeadura, busca do belo e semeadura de ensinamentos a todos aqueles que o rodeiam. A sua grandeza maior reside, entre outras tantas, a de fazer do mister artístico um ideal de vida sem atropelar ninguém, sem se perturbar com o triunfo alheio, enfim, sem mesquinhez. Sua alma, bússola mestra, sempre lhe apontou os caminhos do bem e os da cordialidade. Parabéns! *Ático Vilas-Boas da Mota era artista plástico, crítico de arte, escritor, professor, doutor em Letras pela USP, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, viveu seus últimos anos em Macaúbas/Bahia.

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DJ OLIVEIRA E O TEATRO DE EMERGÊNCIA HUGO BROCKES* Em Goiás, não se pode falar de cultura no seu mais amplo sentido, sem dar destaque merecido ao Teatro de Emergência. Construído na Rua Três, em terreno cedido pelo jóquei Clube, em comodato com o Governo José Feliciano, o Teatro só se tornou possível pela luta, pelo ideal e pela pertinácia de João Bênnio, com o apoio decisivo do engenheiro Geraldo de Pina, na época, Secretário de Viação e Obras Públicas do Estado. Outro 68 Hugo Brockes nome que precisa ser lembrado é do arquiteto Elder Rocha Lima que fez um projeto econômico, prático e bonito. Quantas peças teatrais memoráveis foram encenadas no Emergência, por Bênnio e Seus Artistas (todas com ousados cenários criados, produzidos e montados por DJ Oliveira) e também peças teatrais de incontáveis outros grupos locais e de fora do nosso Estado. Nos anos 1960, era no Teatro de Emergência que a intelectualidade goiana fazia a sua morada. Não era apenas um teatro , era um centro de cultura, de artes cênicas, de artes plásticas, de filosofia, de literatura, de música e também de política. Nesse torvelinho criativo se destacavam como líderes e como mestres João Bênnio e DJ Oliveira. No apartamento quarto sala/cozinha, onde morava Bênnio, reunia-se ali a nata da intelectualidade de Goiânia; o ateliê de DJ Oli-

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veira, também no Teatro de Emergência, era uma verdadeira escola de arte. Por lá passaram os mais importantes nomes das artes plásticas do nosso Estado: Ana Maria Pacheco, Iza Costa, Siron Franco, Agostinho, Juca de Lima, Washington Honorato, Sáida Cunha. Outros nomes já consagrados também faziam ponto lá: Frei Confaloni, Cleber Gouvêa, Amaury Menezes e muitos outros. Enquanto o pincel e a espátula de DJ Oliveira deslizavam na brancura da tela, o tique-taque da máquina de escrever do Bênnio se fundia com o sem do piano do Antônio Segatti Filho (também residente no Teatro). A espantosa velocidade com que Bênnio, utilizando apenas dois dedos, escrevia as suas novelas radiofônicas era de pasmar. Eu, Oscar Dias e Segatti ficávamos horas e horas, embevecidos, vendo à nossa frente nascer a obra de DJ Oliveira, desde o esboço em carvão, desenho leve, solto, expressivo e fantástico, por si só uma obra de arte, até as texturas e cores de um figurativismo único, moderno, forte e eterno. O Teatro de Emergência era ambiente fecundo de artes e de sonhos e que se transformou em pesadelo com a ditadura militar, mas isso é outra história. Porém e imprescindível relatar um fato de suma importância. A tropa de choque da repressão invadiu o Teatro de Emergência e destruiu todo o seu acervo, toda a sua história. Nem o belíssimo mural de DJ Oliveira, representando O Ato da Compadecida, na entrada dos Toaletes foi poupado. Quando o Teatro foi demolido alguns anos depois, nós víamos ruírem importantes pedaços de nossas vidas, lembrando em tudo aquela inesquecível canção “...cada tábua que caia doía no coração”. *Hugo Brockes é publicitário e escritor e teve intensa atuação no Teatro de Emergência como membro do grupo Bênnio e Seus Artistas

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CENOGRAFIA E ILUMINAÇÃO NA ARTE DE OLIVEIRA. OSCAR DIAS* julho de 2005 Definir, uma área específica das artes plásticas onde o talento de DJ Oliveira mais se destaca é tarefa difícil. Autodidata e dono de uma curiosidade sem limites, esse artista de múltiplas faces destaca-se como desenhista primoroso. De cujos traços emergem o pintor, utilizando a técnica de óleo sobre tela, o aquarelista que transforma em pura poesia as belíssimas cenas inspiradas no “Dom Quixote”, o muralista que domina com criati69 Oscar Dias (Foto da época do Teatro de Emergência). vidade todas as técnicas, o gravador que consegue transportar para a dureza fria do aço os traços mais delicados. Uma das faces menos conhecidas de DJ Oliveira pelo público de Goiás é a do cenógrafo. Tendo iniciado suas experiências de cenografia e iluminação ainda no tempo em que trabalhou em São Paulo, quando, na década de 50, integrou a equipe de cenaristas da antiga TV Tupy, foi sob a direção do saudoso João Bennio, que Oliveira demonstrou todo o seu talento como cenógrafo. Dessa época, início dos anos 60, ficaram na memória da minha geração os cenários e “Irene” e “Dona Xepa”, de Pedro Bloch, peças encenadas pelo grupo de teatro amador “Bennio e Seus Artistas” no minúsculo palco do Lyceu de Goiânia. Memoráveis também foram os cenários e a iluminação inovadora concebidos por Oliveira no belo

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palco do Teatro Goiânia para a encenação de “Vestido de Noiva” e “Boca de Ouro”, geniais criações de Nelson Rodrigues. Mas foi com a inauguração do Teatro de Emergência que o cenógrafo DJ Oliveira deixou fluir todo o seu potencial. Inesquecíveis são as verdadeiras obras de arte que Oliveira criou para os textos de “A Raposa e as Uvas”, de Guilherme Figueiredo, “Auto da Compadecida”, de Aryano Suassuna, e Ratos e Homens”, de John Steinbeck. Nessas três encenações que marcaram o início de uma nova e revolucionária forma de fazer teatro, DJ Oliveira desenhou e construiu todos os móveis e elementos cênicos, arquitetou os vários cenários e introduziu uma iluminação inovadora, jamais vista em qualquer outro espetáculo teatral montado em Goiânia. Pena que do Teatro de Emergência só restaram recordações. E a mais triste delas é a história da sua invasão pelos militares do golpe de 64 e a queima criminosa de todos os seus arquivos, inclusive fotos, textos originais, livros, móveis e utensílios que formavam o acervo daquele que foi o mais efervescente centro de atividades culturais que Goiás já conheceu. Agradeço o artista plástico e estudioso da nossa história cultural, Amaury Menezes, esta oportunidade de relembrar a inestimável contribuição desse modesto e incrivelmente talentoso DJ Oliveira, que está construindo uma vasta e admirável obra, que certamente será no turbilhão do tempo, uma das maiores heranças que o nosso povo terá recebido. *Oscar Dias é advogado, escritor, jornalista e publicitário.

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DJ OLIVEIRA É UM MISSIONÁRIO DE SUA ARTE PROFUNDA E VITAL GERALDO FERRAZ* De Goiânia, numa beirada da cidade onde tinha seu ateliê e onde me mostrou seus trabalhos, ao encontro de agora, na galeria de arte Porta do Sol – DJ Oliveira, o gravador, surpreende-me com a continuidade admirável do que permanece arrancando ao metal e fixando no papel, mas também não me surpreende. Já vira naquele primeiro encontro quanto de possibilidades emergia dessa atenta e tensa perquirição de aguafortista, confinado em sua monástica reclusão . Paulista de Bragança se largara pelo interior dos Brasis, e viera dar ali nas passadas dos que também de São Paulo de Piratininga um dia fundaram Goiás Velho – motivo agora de tanta poesia enquadrada em composição límpida, colocando aqueles amargos muros resistentes, aquele casario antigo, escuras ruas, uma figura furtiva. É então pura emoção este reencontro com o mesmo traço, a mesma conceptiva, embora acrescentada ao documentário goiano a simbologia do progresso do trem, ou essa admiração debruçada sobre o texto cervantino para referir que ele também vê, visiona Quixote. E pode nos dizer, graficamente, alguma coisa de sério e profundo acerca do Cavaleiro da Triste Figura, desde 1662 ilustrado por um anônimo em Bruxelas. Mas ao lado deste tema em que excede a concepção de Oliveira, subitamente encontro o cavaleiro de Canudos, evocado ao lado marcial dos que foram acabar com aquela guerrilha do sertão. Não é o tema que vale. O que vale é a sóbria arte de DJ Oliveira, colocando em traços, em formas, em referências complementadoras, o temário de que faz incidência sua natureza de gráfico sintetizador, iluminado por uma consciência nítida de que cabe, acima de tudo, antes de tudo, produzir uma boa gravura. Dj Oliveira acompanha nesta consciência do gráfico o grande menestrel – seja o que for

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o tema, em primeiro lugar é preciso fazer boa gravura. E este gravador paulista perdido em Goiás, desconhecido dos mais populosos centros produtores e consumidores de arte do país, é dos poucos que estão em sua técnica, condensando um estilo, na convicção de uma personalidade, adstrita à lenta elaboração de uma linguagem. Diante dessas gravuras de DJ Oliveira – que humildemente se esconde sob esta assinatura em iniciais – vejo que há um aposse sensível do desenho essencial, uma colocação exata da sombra maior, uma reverência compositória no equilíbrio até instável em que o tema se define, e cuja intensidade resiste além da linha vibrante. É uma expressão feita de domínio do metal, que na cópia se nos revela fremente colocação de um acontecimento visual. DJ Oliveira vive sua predestinação, predestinação de artista que se ambientou no agreste, que não precisa de glória fácil, que é um missionário da sua arte profunda e vital. A aquisição de suas gravuras pelos que se interessam por boa arte é o primeiro aplauso a das a este gravador, pois carecemos de arte assim trabalhada e realizada. * Geraldo Ferraz, crítico de arte e jornalista, comentando o estilo e a técnica empregada pelo artista na exposição coletiva da galeria Porta do Sol, de Brasília em, 1973

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UM FORMADOR DE ARTISTAS E DESBRAVADOR DE CAMINHOS. SÁIDA CUNHA* A personalidade forte e emocional do Oliveira não se refletiu tão somente nas suas obras, ela foi determinante também para proporcionar novos rumos, com caminhos próprios, às artes em Goiás. Quando aqui chegou, jovem, impetuoso, sua pintura refletia toda essa impulsividade, tanto nas pinceladas carregadas de tintas, com cores fortes, quanto no uso das espátulas que traduziam todo um movimento de inquietude, de 70 Saida Cunha (foto do seu período como aluna) rompimento, de questionamentos. Com a maturidade, passou para a têmpera, com absoluto apuro e domínio da técnica, conduzindo porém, toda a carga emocional, nas cores sempre quentes e fortes, quanto nos temas de crítica social. Mudou, juntamente com Frei Nazareno Confaloni, os caminhos das artes em Goiás, influenciando gerações de artistas. Grande desenhista, pintor, muralista, gravador, cenógrafo, Oliveira é um marco, não apenas em Goiás, mas também no Brasil. *Saída Cunha é pintora e professora no Departamento de Artes e arquitetura da Universidade Católica de Goiás.

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DJ OLIVEIRA OU O REALISMO MÁGICO FERNANDO MENDES VIANNA* Quando o meu caro DJ Oliveira pediu algumas palavras para o livro em homenagem ao seu cinqüentenário artístico, tomei um susto. Primeiro pela surpresa da grande honra. Segundo pela constatação de que já tinham se passado trinta anos de nosso conhecimento. Isso se deu na época da instalação do grande DJ na primeira de suas residências em Luziânia, em um velho sobrado colonial que, diziam, era assombrado. Naqueles tempos (1973), eu passava por lá com regularidade a caminho de um sítio onde me reunia com um grupo espiritualista. Foi quando freqüentei seu atelier e firmei amizade com esse admirável artista plástico e carismática figura humana. Nasceu assim a rara oportunidade de conviver um pouco com a pessoa e a obra do grande mestre da gravura DJ Oliveira, naquele velho sobradão. A prefeitura luzianense pusera-o a sua disposição, para nele instalar-se na seme esquecida cidade, exaurida há muito da cata colonial do ouro, e trazer-lhe algum brilho com a presença residencial de nome famoso na capital do Estado. Não fosse o absurdo distanciamento (hoje mais gritante ainda) entre artistas e intelectuais goianos e colegas brasilienses, o natural é nossa amizade tivesse nascido muito antes, já que Oliveira se tornara conhecido já década de sessenta, sendo respeitadíssimo, tanto como criador quanto como professor em Goiânia, e eu já residia em Brasília desde 1961. Certa vez pernoitei no casarão assombrado. Deitei-me cedo, em quarto do primeiro andar, mas não conseguia pregar o olho. Não sentia nenhum desassossego em especial, mas dormir, mesmo com sono e cansado, nada. Até tarde ouvi a televisão de Oliveira na sala do térreo e escutei quando a desligou e subiu para seu quarto. Quando amanheceu, insone, levantei-me e, virando de frente para o sol nascente, fiz minha habitual saudação solar. Deitei-me de novo e, então, dormi. Dormi e sonhei com um grande anjo de asas muito

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brancas, que descia ocupando com seu voluma quase o quarto todo. Pela manhã parti sem nada contar do sonho para o Oliveira. E eis que, semanas depois ao voltar ao casarão, o que vejo? Uma surpreendente gravura nova da série do Quixote - afamada série que muito admiro. Agora surgia uma duplamente inédita, pois que totalmente inovadora na temática. Tratava-se de um Quixote ajoelhado diante de um enorme anjo! Ora, pensei, mas não há tal no livro! E a surpresa era ainda maior porque o anjo usava óculos. E não só os óculos eram escuros e de igual formato aos que eu usava constantemente, parecendo um “pince-nez” com varetas. Intrigado, interpelei o Oliveira: o que era isso? Respondeu-me que não sabia, que logos depois da noite em que eu dormira no casarão, acordara com essa visão na cabeça. Contei-lhe, então, o que me acontecera naquela noite, e ele, que acredita na paranormalidade, simplesmente disse: É... não tem tal episódio no livro. A explicação deve ser isto que você está me contando. * Fernando Mendes Viana, crítico de arte que apresentou a exposição individual do artista no Hotel Nacional de Brasília em 1973 fez, atendendo pedido do DJ Oliveira este depoimento em maio de 2005

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DJ OLIVEIRA O HOMEM E O SÍMBOLO HUGO AULER Não há quem possa negar que o artista criador é assistido pela sua concepção filosófica do mundo contemporâneo e, portanto, do comportamento existencial de todos os seres e de todas as coisas que vivem em seu derredor, razão por que a obra de arte sempre reflete os seus estados de alma e a época dos atos de suas criações. A pintura de DJ Oliveira, um dos altos valores da arte brasileira contemporânea, radicado há mais de um quarto de século em Goiás e mestre de jovens que, posto não o ultrapassem na are a das artes visuais, já estão a impor-se nos círculos artísticos do País, é uma prova bem eloqüente daquela conclusão. Em verdade, nesta exposição de pinturas, vamos ver DJ Oliveira afastado das temáticas fundadas nas antigas Estradas de Ferro ou respaldadas em cenas do Dom Quixote, de Cervantes, de cujo romance foi um dos seus melhores interpretes plásticos, visto como sob esse último aspecto as suas obras extrapolaram a ilustração e atingiram um estado de pura criação. É que, dessa vez, foi buscar os pretextos para suas criações em personagens que, em pontos socialmente diametrais, existem no mundo de nossos dias, o que no leva a lembrar a afirmação feita por Franz Marc, segundo a qual “Os grandes artistas não procuram mais suas formas nas sombras do passado, mas sondam profundamente, tanto quanto lhes é possível, o centro de gravidade do seu tempo”. Uma pintura amarga, irônica, satírica e até mesmo caricatural de todos aqueles que se obsedam à força da magia de cultos sobrenaturais e de todos aqueles que participam das complexas estruturas das convenções internacionais. Por essas razões, há obras em que as indumentárias negras mais parecem aves de agouro ou, então, cortes de estórias em quadrinhos, quando, por vezes, os personagens são posicionados como se fossem mágicos ou acrobatas. E sob esse ângu-

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lo, a pintura atual de DJ Oliveira talvez pudesse ser codificada em um “verísmo” apresentado com novas roupagens, portanto, despida de todas aquelas conotações políticas e sociais, naquele expressionismo germânico que caracterizou a obra de George Grosz e de Otto Dix, mas deslizando inconscientemente para uma arte de crítica social. Mais desenhista e gravador, posto sempre haja revelado na pintura originalidade de invenção e domínio de execução, DJ Oliveira demonstra com a corrente exposição uma plena segurança nesse meio de expressão, haja vista a mestria com que trabalha as formas que, ao serem deformadas, não deixam de ser formas, e à técnica no emprego simultâneo da têmpera e do óleo, em uma explosão de vermelhos, de negros, de verdes e de azuis que, nas mais diversas gamas tonais, dão uma dramática vibração de composições. *Hugo Auler, crítico de arte e jornalista do Correio Brasiliense, apresentando a exposição individual de pinturas de DJ Oliveira, realizada no Salão Mezanino do Hotel Nacional de Brasília em junho de 1976.

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DJ OLIVEIRA, TRAJETÓRIA DE UM MESTRE EM GOIÂNIA, GOIÁS GRACE MARIA MACHADO DE FREITAS* A Escola Goiana de Belas Artes teve como marco fundante, propostas originadas no I Congresso de Intelectuais, realizado em Goiânia, em 1954. Essas propostas resultaram em uma espécie de ideário, baseado na “preservação da cultura brasileira” (...), “liberdade de criação 72 Grace Maria Machado de Freitas (foto do período em e crítica” (...), “intensi- que foi aluna da EGBA) ficação do intercâmbio e relações culturais com os povos, na base da reciprocidade”, entre outros. Sua inauguração foi marcada por exposições que assinalavam contrapontos da cultura goiana: arte indígena e a escultura de Veiga Vale. Essa inauguração foi saudada por Mário Barata com um espaço que surgiria !sem ranço e os entraves da inércia burocrática e acadêmica”. Abrigada na Universidade Católica de Goiás, a Escola oferecia, por um lado, um conjunto de matérias abrangendo os campos da linguagem, da técnica e da história, juntamente com algumas incursões na teologia. Por outro lado, havia um forte incentivo à participação em outras atividades, como aquelas que o teatro experimental ofere-

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cia. Dentro da própria Escola. “Ludus 64” foi um dos belos e contundentes espetáculos apresentados por um grupo, elaborado com uma linguagem revolucionária, onde atores se moviam pela cena dizendo poemas engajados, vestindo figurinos de musas ou mascarados, em um cenário de fundo negro com cordas fosforescentes e coloridas que pendiam e flutuavam em um espaço tornado fantasmagórico. O palco de então era o Teatro de Emergência. Atrás desse palco, junto aos camarins e coxia, havia um lugar ocupado por um pintor: O ateliê de DJ Oliveira. O Teatro de Emergência significou, naquele momento, o espaço sagrado da arte onde estudantes, intelectuais e artistas eram introduzidos e experimentavam o inesgotável fascínio de estar lá, penetrar naquela atmosfera, testemunhar, observar, perceber o ato criador e, quem sabe, desvendar de seu processo, aquilo que é específico da Arte ou ainda, quem sabe, alguma revelação sobre a sua própria essência. À Universidade Católica de Goiás coube a decisão de contratar o artista DJ Oliveira para os quadros da E.G.B.A., estendendo assim, pontes com a cidade, passagens para um desejado intercâmbio. Possibilitou-lhe a ocupação de uma ampla sala, para instalação do seu ateliê. Naquele sub-solo do novo prédio que abrigou a Escola – os subterrâneos da criação -, DJ Oliveira re-instaura seu cenário aurático. Agora, em outra situação. Ali, sua atuação como artista-professor não se limitou aos alunos. Nesse espaço, à maneira de um Mestre renascentista, se agrupavam discípulos, aprendizes e curiosos, atraídos pelos possíveis caminhos da arte. Espaço aberto, expandiase, frequentemente, em conversas sobre música, teatro, literatura: arte enfim. Nos efeitos de uma produção artística que começava a se alastrar pela cidade, materializava-se o desejo manifestado por frei Confaloni: “é nossa função fazer com que a cidade se inicie na apreciação da arte atual esse sensibilize em trocar as imagens reproduzidas de calendários pela nossa produção original em suas paredes.” Aquele era o lugar de onde se dizia: isto é arte! O que percebemos, alunos e freqüentadores, foram as transformações que ocorreram, como pequenos terremotos, principalmente a partir da Escola e do ateliê do DJ Oliveira. À margem de fluxogramas, os freqüentadores do ateliê eram livres para estabelecer sua própria linguagem, atentos ao olhar do ar-

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tista que, com mestria e delicadeza, apontava para possíveis soluções a problemas que se apresentavam. Junto ao artista-professor, surgia o aprendiz de artista, atuando com a forma, a cor, a textura, a modelagem, o ponto-linha-superfície, na descoberta de uma imagem do mundo. Modelos vivos, meninos magrinhos das invasões vizinhas, paisagem da periferia, tudo era motivo, tema, na representação simbólica da realidade social e da experiência humana, ligados tanto ao questionamento da arte quanto às condições em que ela se produz. Entre telas preparadas, iniciadas ou terminadas de Oliveira, conviviam trabalhos de outros professores, estudantes e discípulos, espalhados pelos cavaletes. Tubos de tinta, pincéis e terebintina, carvão, grafite e crayons partilhavam lugar com livros e discos. Cervantes e Beethoven, Euclides e Bach, Dante e Debussy, livros de museus, mestres antigos e modernos, em sua mistura, provocavam o olhar, a escuta, a reflexão, o aprendizado, enfim. Luzes e sombras, espaço-tempo: a vida. Inserida na tradição modernista brasileira de vertente expressionista – na utilização de cargas contrastante de cores, formas disformes e, sobretudo, de subjetividade, a obra de DJ Oliveira, nos anos 60/70, se desenvolveu sobre múltiplos suportes. Trabalhou azulejos, paredes, telas e papeis. No desenho, explorou técnicas diversas, realizando um trabalho que não se reduziu a um repertório fechado: poderia ser tanto a observação imediata de uma idéia quanto a espacialização de textos ou a anotação de uma emoção. A sua questão transmitida, sempre, era circunscrever uma forma por um contorno, determinar um modelado, aludir ao movimento, expressar o gesto. A questão era desenhar. Não se trata aí e uma produção menor em sua obra. Ao contrário, seu trabalho sobre papel – aí entendendo as artes gráficas, em geral, ocupam um lugar importante em toda a sua produção. A relação que o artista estabelece entre os motivos – imaginários, literários ou da realidade -, e o desenho que os figuram não é mimética e nem procuram iludir o olhar. Mais concretamente, expressam um pensamento através de sua própria inquietude. Da intimidade com o desenho, traços, linhas e manchas, surge, para o artista-professor a necessidade de sua produção: a gravura. Simultaneamente aos desenhos no ateliê, a prática da gravura

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foi intensa. Oliveira não somente a criava como incentivava a sua criação. Sobre matriz de madeira ou Duratex (às vezes coberta com gesso), primeiramente, pela sua própria produção, demonstrou que, na xilogravura, era possível experimentar formas e construções de espaço de maneiras diferentes daquelas do crayon: cortar, incidir. Nessa linguagem, diversamente do pincel ou do crayon, as ferramentas de corte demandavam outros modos de pressão e toques para modelar ou detalhar os cortes que se deixavam fluir mais sintéticos, mais angulosos, mais estilizados, observando-se as qualidades dos contrastes – o preto no branco – e, o espelhamento em sua reprodução. Entintar a placa, passando-lhe o rolo, colocar o papel, retirá-lo, ver o resultado da prova de estado e, se bom, imprimi-lo em papel arroz e reproduzi-lo. Então, sempre a surpresa do efeito desejado. A fatura de xilogravuras no período foi bastante forte, tanto por parte do Mestre quanto por todos os outros. Aloysio Sá Peixoto, em visita ao ateliê, comparou-as às expressionistas alemãs, em suas características formais e, mesmo em seus objetivos. Com domínio técnico, DJ Oliveira decide ampliar o leque das artes gráficas, em outros suportes. A gravura em metal, por exemplo, era ignorada, em sua linguagem, na Escola. Propõe, então, a instalação de um ateliê específico. Sinal verde, inicia a montagem de bancadas e reservatórios para ácidos e adquire, em São Paulo, uma prensa, a primeira em Goiás. Em um espaço exíguo, mais adiante do ateliê de pintura, no mesmo sub-solo, o artista estabelece um outro espaço de criação e produção, nos mesmos moldes do outro ateliê: aberto aos interessados. Ponta seca, maneira negra e água tinta, passaram a integrar o vocabulário da Escola. Esta passagem e outros atos de impressão, mesmo em linguagens tão diferentes, eram estudadas pelo artista em livros técnicos e repassados dos desejosos de percorrer os caminhos da gravura em metal. A partir daí, Oliveira se torna um gravador com amplo domínio de linguagem e, passa elaborar e imprimir imagens de grande força e penetração, alcançando um público diversificado com suas séries em álbuns, mostrando seu modo particular de narrar histórias vivenciadas com emoção e refletidas com pensamento figurativo, sucumbindo aos personagens que sempre estiveram lá, povoando a arte e a vida.

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Sequências de Quixotes esquálidos, apaixonados pelas Dulcinéias do Mundo, Dantes atormentados com os círculos do inferno e Beatrizes longínquas, fúrias místicas de Conselheiros, condensações e deslocamentos de uma linguagem própria, inconfundível: São Oliveira. Este depoimento não poderia terminar sem um suspiro pelo fim da Escola, do prédio, do ambiente que, de tanta efervescência, produziu efeitos fantásticos em Goiânia e, para Goiânia, cujos resultados são palpáveis, ainda hoje. A parede que deixaram de pé na atual Faculdade de Arquitetura, que ali foi gerada, é uma pálida homenagem e essa que foi, sem a menor dúvida, o mais interessante espaço aberto e criador de Artes Plásticas em Goiás, junto a todos os seus participantes e, “last but not least”, graças aos esforços reconhecidos de dois reitores, principalmente: Padre Viveiros de Castro e padre Cristóbal Alvarez. . *Grace Maria Machado de Freitas fez este depoimento em maio de 2005, como professora do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília.

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DJ OLIVEIRA, MESTRE DE MISTÉRIO. JACOB KLINTOWITZ* Dj Oliveira não abdica do mistério, lembro do primeiro impacto que recebi num salão de arte em Goiânia. Lá estavam aquelas figuras envolvidas num mundo particular, únicas, pessoais, soltas do mundo exterior, mas voltadas para ele como oposição e resistência. Há nestas figuras uma clara opção pela individualidade e por uma postura de recolhimento sensível. São personagens de si mesmo, fiéis à uma trama só deles conhecida. Um enredo que se passa diante de nossos olhos e do qual sabemos pouco. A trama do destino de uma vida desconhecida. Nada a ver com sociedade de facilidades e de figuras protótipas. Nada desse planeta de pré-fabricados. Nada se sabe, na verdade, sobre todos esses seres. Mas somos capazes de intuir e acreditar no artista que os cria, inventa e descobre. Inventor e navegante descobridor, DJ afirma o primado da arte como inovação e invenção de imagens até então inexistentes. Que diferença existe entre este sentimento profundo e severo e boa parte da produção cultural contemporânea, inteiramente voltada para satisfazer expectativas e salões burocráticos com roupagem falsa da inovação programada. DJ tem um mistério não procurado. A arte é mistério. Talvez seja por isso que as suas imagens nos remetam par figuras arquetípicas. Os seus reis – serão reis? – lembram as cartas do tarô, o baralho mágico. E as suas figuras são declaradamente desenhadas e ficcionais. DJ Oliveira, de tanta contribuição para a afirmação da arte moderna no planalto, é um artista especialíssimo. Mestre de Mistérios e de sinos mascarados. * Jacob Klintowitz escritor, jornalista e crítico de arte, comentando a participação do artista na mostra conjunta com Antônio Poteiro, Cleber Gouvêa e Roos, na Goiânia Galeria de Arte, em 1986.

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DJ OLIVEIRA: O GUARDIÃO DA VIDA SEM MÁSCARAS. MÁRIO MARGUTTI* DJ Oliveira é um artista de personalidade forte que inventou um jeito goiano de pintar. Legítimo herdeiro da tradição expressionista, suas figuras ultrapassam a dimensão do realismo: nascem diretamente da emoção visceral, da necessidade de expandir a poesia das formas até os limites da angústia ou do mágico mistério da vida – desvelando assim os bastidores secretos da realidade social ou impondo ou fazendo da pintura um colorido silêncio diante da face impenetrável da existência. Como Muralista ele já alcançou a mesma importância de um Portinari ou do mexicano Orozco, plasmando em obras de grandes dimensões as mazelas e as esperanças do nosso povo. Com a paciência de um santo e a coragem de um revolucionário, Como afirmou Oscar Dias no catálogo que celebrou seu quarto de século de atuação em Goiás, DJ Oliveira exaltou em seus murais a sofrida força de trabalho do nosso povo, redimida pela potência da fé nas instâncias superiores do mundo invisível do espírito. Não vivesse ele em Goiás, certamente os críticos de arte já o teriam alçado à posição que ele merece – a de ser um dos maiores muralistas latino-americanos. *Mário Margutti, jornalista e crítico de arte, em artigo publicado na revista Líder Magazine, ano II, nº 11.

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PINTURAS DE DJ OLIVEIRA) OLÍVIO TAVARES DE ARAÚJO* Num recente depoimento sobre o significado do “Grupo Santa Helena” (que congregou, na década de 30, artistas como Rebolo, Bonadei, Volpi e Pennacchi) destacava eu o fato de que o modernismo oficia brasileiro se processou, desde a semana de 22, por intermédio das classes média e burguesa. Já através do Santa Helena, pelo contrário, teria surgido uma espécie de co-modernismo proletário, menos consagrado, menos renovador, ao qual coube a defesa de certos valores, como a figura (em especial a paisagem), o lirismo, e o prazer de pintar. É o Santa Helena que me vem à memória ao apresentar em São Paulo, um artista nascido nesse estado, mas ausente há vários anos: DJ Oliveira. Como os mestres do antigo grupo, também ele é de origem humilde e de sangue imigrante (neto de italianos e espanhóis). E também ele viveu, em certa época, de uma atividade semi-operária – a de pintor/decorador de paredes – da qual decorre, inevitavelmente, uma postura específica diante do ato de fazer arte. Em primeiro lugar, a fidelidade aos meios tradicionais de expressão: a tela, a tinta a óleo, os pinceis. DJ Oliveira se deseja apenas e fundamentalmente um pintor. Mais: um pintor vinculado à figura, da qual nunca se afastou sequer um passo. “Ela está na minha raiz” – diz, lembrando-se dos tempos da infância em que rabiscava histórias em quadrinhos – “e [e por ele que posso dar o meu recado”. Esse recado não esconde, por sua vez, nítidas nuances sociais. Nesse ponto, Oliveira – talvez por uma questão de geração, talvez por sua vivência no planalto goiano – se distingue dos líricos artistas do Santa Helena. Sua proposta permanece no plano dramático. Fala, com uma linguagem de fundamentos expressionistas, das contingências atuais do ser humano: a perplexidade, o medo, a solidão, a inutilidade de certos esforços para a solução de seus problemas. E o seu expres-

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sionismo vem mesclado de uma surda e contínua ironia, através da qual o pintor denuncia um mundo inclemente e insolúvel. Num outro ponto, porém, Oliveira volta a se parecer com os pintores lembrados no início deste texto: em sua necessidade de conciliar uma criação intuitiva com a consciência e o domínio de questões do métier. Sem ser um intelectual, possui ampla vivência visual, trazida de sua viagem à Europa, bem como sólidas noções de teoria. Seu processo de criação tem duas etapas: a primeira, instintiva, que se ocupa do tema. A segunda, racional, que o elabora em ermos de composição. Nas obras mais recentes, a racionalidade se acentua, numa certa tendência à construção mais geometrizada e rígida do espaço. Nada disso altera, contudo, a natureza fundamental da proposta de Oliveira. Para ele, a obra de arte é o produto da emoção. E a ela se dirige, inevitavelmente, sem subterfúgios, sem saltos no escuro, sem o temor de ser apenas (mas sólida) pintura. *Olívio Tavares de Araújo, apresentando uma exposição individual de DJ Oliveira, em 1975.

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MEIO SÉCULO DE ATE, ADMIRAÇÃO E AMIZADE. LAURO MOREIRA* Brasília, junho de 2005 Ai de ti, Copacabana e o Auto de Compadecida Dirso José de Oliveira – para mim apenas Oliveira – celebra neste ano de 2005 seus 50 anos de pintura. E eu celebro com ele nossos 47 anos de amizade ininterrupta e de uma comovida admiração de minha parte, que o tempo só fez crescer e aprofundar. Goiano de nascimento e raízes – como Oliveira o é por adoção e vivência- saí cedo de minha terra, aos dez anos, para seguir os estudos em um colégio interno em São Paulo. Após 76 Embaixador Lauro Moreira cinco anos, mudei-me para o Rio de Janeiro, juntando-me outra vez à família, que se estava transferindo de Goiânia para lá. Na então Capital Federal, comecei a viver os anos mais movimentados e felizes de minha vida, participando intensamente da efervescência cultural de época. E que época! De JK, da construção de Brasília; do Cinema Novo, do nascimento e apogeu da Bossa Nova; dos inesquecíveis autores, atores e grupos teatrais (Nelson Rodrigues, Ariano Suassuna, ToniaCeelli-Autran, Cacilda Becker, Maria Della Costa, Teatro dos Sete, Tablado, TBC); da eclosão literária de Clarice Lispector e Guimarães Rosa; da presença de Drummond, Bandeira, Jorge de Lima, Cecília Meireles. Mas também do tênis consagrador de Maria Ester Bueno, da canhota demolidora de Eder Joffre e do futebol vitorioso e

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Pelé ,Garrincha Didi e Nilton Santos. E ainda da intensa vida política. Oxigenada pelos ares democráticos que o país respirava a plenos pulmões... De tudo isso e muito mais pude usufruir naquele período entre 1955 e a964, quando o Brasil era realmente feliz e não sabia... Pessoalmente, além das atividades escolares, vivia envolvido em cursos de cinema e de teatro, em conferência de todo gênero, montagem de peças nos vários palcos amadores da cidade, dirigindo uma afanosa Associação cultural da Juventude (ACJ), exercitandome no jornalismo estudantil e, naturalmente, frequentando com fervorosa assiduidade às salas de cinema e de teatro e as arquibancadas dominicais do Maracanã, para ver meu Flamengo Jogar... Pois foi exatamente nessa época que vim a conhecer o nosso Oliveira. Indo a Goiânia nas férias escolares de 1959, com a intenção de apresentar um espetáculo de interpretação de textos a que dera o nome de Ai de ti, Copacabana – uma reunião de poemas e crônicas de autores brasileiros – apresento-me uma tarde para ensaio no hoje extinto teatro de Emergência, na Rua 3, ao lado da sede do Jóquei Clube, e encontro o grupo teatral do saudoso João Bênio acabando de ensaiar O Auto da Compadecida, o recente e maravilhoso texto de Ariano Suassuna que já encantava as platéias de norte a sul do país. Apresentado pelo próprio Bênio, venho a conhecer o cenógrafo da companhia, ou seja, um pintor do interior de São Paulo, chegado a Goiânia poucos anos antes e que se chamava Dirso José de Oliveira. Era uma figura forte e marcante, lembro-me bem. E mais marcante ainda me pareceu sua pintura, dependurada em alguns quadros nas paredes do próprio camarim transformado em ateliê. Contemplei com crescente admiração as obras expostas e adquiri duas delas (uma, por sinal, acabou sendo das raríssimas obras abstratas do pintor, uma colagem tachista, numa explosão de cores a que dei logo o título nada original de “Hiroshima”). Mas confesso que, ao lado da boa surpresa de encontrar ali um pintor daquele quilate, fiquei um pouco preocupado, sem entender que tipo de público daquela Goiânia de então poderia apreciar e adquirir aquela pintura moderna, meio rebartiva e seguramente pouco compreensível para os conservadores padrões estéticos locais. Apresso-me a acrescentar, no entanto, que minha preocupação foi logo volatizada pela crescente penetração dessa obra renovadora junto não apenas a uma

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camada mais sofisticada de intelectuais e artistas, mas também junto ao público goianiense em geral, junto às famílias de classe média, em cujas casas se multiplicavam a olhos vistos os quadros e gravuras de DJ Oliveira e de vários de seus discípulos que então se formavam. E o pintor paulista acabou sendo adotado pelo público goiano como seu artista favorito. Acontecia aqui o que se passara com a obra de Eça de Queiróz, na visão crítica de Machado de Assis: “Tal que começou pela estranheza, acabou pela admiração”... Aquele primeiro encontro no Teatro de emergência foi o marco inicial de uma longa trajetória comum, de uma amizade para mim inestimável, repleta de momentos memoráveis. Passei a acompanhar, ainda que à distância, a evolução do pintor, o aprofundamento das suas pesquisas e a ampliação do seu domínio técnico e do seu horizonte artístico. Cada vez que voltava a Goiânia, passava horas com o pintor em seu ateliê na Escola de Belas Artes, fundada pelo Frei Confaloni e o Professor Gustav Ritter – dois ouros pioneiros das artes plásticas em Goiás, e onde Oliveira começara lecionar informalmente, transmitindo sua experiência a um grupo de jovens iniciantes, entre eles Siron Franco, Ana Maria Pacheco, Iza Costa e vários outros. Era a semente que estava sendo plantada e que em pouco tempo se ergueria em árvore frondosa e se multiplicaria em novos frutos e novas sementes, dando origem e alimentando um dos mais férteis movimentos artísticos do Centro-Oeste brasileiro. O pintor em Botafogo Por essa época eu continuava vivendo no Rio, e me havia casado, em 1964, com uma jovem e brilhante poeta - Marly de Oliveira – e com ela, tive o privilégio de passar a freqüentar um círculo de escritores e intelectuais do porte de Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Antonio Houaiss, Aurélio Buarque de Holanda, Cecília Meirelles, Augusto Meyer, Walmir Ayala, Tasso da Silveira, Thiers Martins Moreira. Pouco mais tarde, concluído o curso de Direito e ingressado na Carreira Diplomática, meu privilégio se ampliou ao conviver com figuras como João Cabral de Melo Neto, e sobretudo, com Guimarães Rosa, com quem privei até sua morte, em fins e 1967. Em 1966, DJ Oliveira resolveu passar uma temporada no Rio, em

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casa de um amigo em Copacabana. Todas as manhãs, antes de seguir para o trabalho no Itamaraty, eu passava de carro para buscá -lo e o deixava em algum lugar da cidade, armado de telas, tintas e pincéis. Ao final do dia, levava-o de volta à casa, com algumas telas cobertas de tinta fresca, a manchar irremediavelmente o banco traseiro do meu Fusquinha... E ao cabo de um mês, organizei em meu apartamento na Praia do Botafogo uma exposição de mais de vinte desses trabalhos. Em duas noites de vernissage dedicadas aos amigos, ao corpo diplomático brasileiro e estrangeiro,a escritores, poetas, artistas, gente de teatro e cinema, críticos de artes plásticas e jornalistas, a obra de DJ Oliveira foi devidamente introduzida a um novo e numeroso público de grande significado cultural no país. Os jornais do Rio deram ampla cobertura ao evento. Uma página inteira do “Jornal do Comércio”, assinada por Rosa Cass, tecia comentários minuciosos e encomiásticos à obra do pintor, gravador, desenhista e muralista, estampando várias fotos de seu grande mural múltiplo da Universidade Federal de Goiás. Enquanto isso, Oliveira pintava em minha casa o retrato de Marly de Oliveira e de Clarice Lispector – que já havia sido retratada por ninguém menos que De Chirico. E foi também nessa oportunidade que o Governo da Tchecoslovaquia, através do seu Conselho Cultural no Rio, presente à exposição, decidiu encomendar ao pintor um painel para integrar o acervo do Museu da Guerra, da Cidade de Lídice, para sempre traumatizada pela indescritível brutalidade nazista durante a ocupação do país. Oliveira realizou a obra pouco depois, já em Goiânia, e a enviou ao seu destinatário final, onde até hoje se encontra, ao lado de obras de Picasso e de dezenas de outros artistas do nosso tempo. E não deixa de ser curioso observar que deste painel não tenha restado no Brasil sequer um registro fotográfico. Enfim, para quem conhece a simplicidade e a modéstia do personagem, sua total aversão à notoriedade, o descuido não chega a surpreender demais... Para concluir esse capítulo do pintor um Botafogo, uma curiosidade: acompanhando DJ naquela viagem ao Rio estava um jovem de 18anos, discípulo que ajudava o mestre na preparação das telas, e que já realizava seus primeiros esboços; Era inteligente, de grande vivacidade e alegria, de talento notório. Seu nome dispensa hoje maiores apresentações: Siron Franco. Aliás – e é com orgulho que

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menciono pela primeira vez essa passagem – trinta e cinco anos mais tarde, em 2000, o próprio Siron, ao convidar-me gentilmente para posar para um retrato seu, evocava ainda as marcas indeléveis em sua memória e em sua alma, provocadas pela visão do quadro de De Chirico em casa de Clarice e pelo contato pessoal com figuras tão maravilhosas como Manuel Bandeira, Walmir Ayala, Antonio Houaiss ou a própria Clarice Lispector. Viagem ao exterior Em 1968 DJ Oliveira viaja para a Europa, com o apoio da Universidade Católica de Goiás, enquanto eu sigo para Buenos Aires, meu primeiro posto diplomático. Depois de quatro anos, fui removido para Genebra, de onde só retornei ao Brasil em 1974. Passamos anos sem nos ver. Em 1973, de férias no Brasil, pude apreciar uma nova fase na pintura de Oliveira, agora menos agressiva em seus traços expressionistas, valendo-se do pincel mais que da espátula, atenuando a violência das dores. Ao ver uma exposição do artista naquele ano em Goiânia, o escritor Bernardo Elis publicou um interessante artigo, onde sublinhava que os dois anos de Europa haviam “domesticado” um pouco a sua pintura. De fato, um artista com a sensibilidade,abertura de espírito e curiosidade intelectual como DJ não poderia passar incólume pelos museus e galerias de Espanha, Itália, França, Alemanha e Holanda, entre outros. Em contato com a paisagem espanhola, reavivou-se-lhe a antiga e jamais abandonada paixão pelo Quixote. Aliás, “El Caballero de La Triste Figura” e seu leal escudeiro Sancho Pança constituem um verdadeiro leitmotiv na obra do pintor, ao lado de outras figuras afins em sua imensa solidão e em seus impulsos utópicos, como São Francisco de Assis e o nosso Antônio Conselheiro. Os anos 70 e 80 Com meu retorno ao Brasil, retomei os contatos com Oliveira e suas paisagens agora serenas, suas mulheres “modiglianescas”, seus vasos de flores, seus casarios coloniais, seus eternos arlequins e saltimbancos, seus murais admiráveis em Goiânia, Brasília e Luziânia, seus vendedores de pipoca, suas tristes estações ferroviárias com seus trilhos solitários e, naturalmente seus renovados Quixotes.

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Em 1974 fui procurado em Brasília pelo Frei Confaloni e a pintora Vanda Pinheiro, que pediam minha intercessão junto à área cultural do Itamaraty para viabilizar o transporte de umas poucas telas e gravuras de artistas goianos, que o Frei desejava mostrar na Itália. Meu amigo e colega – artista plástico da melhor qualidade – Romero Zero, que dirigia a Divisão de Difusão Cultural, encarregou-se da missão e foi bem mais longe: organizou uma exposição de seis artistas goianos em Roma, Milão e Paris. Eram três pintores (DJ, Siron e Confaloni) e três gravadores (Vanda Pinheiro, Naura Timm e, se não me engano, Cléa Costa). Do mesmo modo, e naqueles idos de 70, creio que em 1976, o Governo Irapuan Costa Júnior, grande incentivador das artes, enviou uma coletiva de pintores goianos à França, da qual constava naturalmente o nosso DJ, ao lado de Poteiro, Cleber Gouvêa, Siron e muitos outros. Os anos 70 e 80 foram, aliás, de intensa atividade para Oliveira, com inúmeras exposições individuais e retrospectivas de obras, apresentadas sobretudo em Goiânia e Brasília. Recordo-me especialmente de uma grande exposição nos salões do Hotel Nacional de Brasília, organizada por Natanry Osório – outra admiradora e incentivadora do pintor, ao lado do seu marido, o advogado e escritor Antonio Carlos Osório – na qual se notava uma nova e surpreendente temática no obra de DJ: uma acerba crítica social traduzida nas figuras grotescas de cardeais pomposos, políticos a se enforcarem em suas próprias gravatas, e conspiradores soturnos a trocar misteriosas confidências. Surpreendeu-me bastante essa nova faceta do artista, cuja obra havia sido marcada sempre por um profundo lirismo, uma atmosfera de solidão e nostalgia, uma recorrência a temas e jogos da infância, independente de seu valor artístico, a verdade é que essa fase, que a meu ver refletia a essência mais profunda da alma poética do pintor, não tardou muito a se esvanecer na continuação de sua trajetória. E pouco tempo depois, já o vemos de volta a seus temas preferidos, em duas novas e magníficas exposições em Brasília, na sede da IBM e, posteriormente, na Galeria Athos Bulcão, da Secretaria de Cultura do DF. Em 1987, após quatro anos na Embaixada do Brasil em Washington (onde, aliás, apresentamos uma bela e bem sucedida exposição de Antônio Poteiro) e ocupando a Chefia da Divisão de Difusão Cultural do Itamaraty em Brasília, organizei uma coletiva

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de “Pintores do Centro-Oeste”, para celebrar a visita oficial do Presidente Sarney a Angola, eram 36 obras de 18 pintores, entre os quais estavam DJ Oliveira, Cleber, Roos e Cléa Costa. Depois de Luanda, a mostra seguiu para Moçambique, onde foi apresentada nas magníficas dependências do Centro de Estudos Brasileiros de Maputo. O Anhanguera Entre o início de 1991 e fins de 1994, voltei a ausentar-me do país, para ocupar o cargo de Cônsul-Geral do Brasil em Barcelona. Ao retornar a Brasília, adquiri uma casa residencial recém-construída no Lago Sul e encomendei a Oliveira e realização de um mural, tendo por tema a saga dos Bandeirantes na conquista do Centro-Oeste, especialmente a de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, meu antepassado e fundador de Vila Boa de Goiás. O magnífico painel policrômico de quase 20 metros quadrados, executado em cerâmica vitrificada, foi festivamente inaugurado em 1997, ao lado de exposição de várias telas recentes e antigas do pintor, espalhadas pelo jardins e pela varanda da casa. Ou seja: 31 anos após aquele vernissage na Praia do Botafogo, no Rio de Janeiro, voltava eu a homenagear o Artista e Amigo com uma apresentação de sua obra em minha residência, à qual também estiveram presentes diplomatas brasileiros e estrangeiros, apreciadores das artes, jornalistas, escritores, políticos – entre os quais o então Deputado Marconi Perillo – e sobretudo, uma legião de amigos e admiradores do homenageado.

72. Mural com 19m2, na técnica de cerâmica vitrificada, doada pelo Embaixador Lauro Moreira para o Governo de Goiás, em exposição no Centro Cultural Oscar Niemeyer, em Goiânia/GO.

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73. Detalhe do mural O Anhanguera

74. Mural O Anhanguera. Detalhe

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E o belo mural continua a fazer-nos companhia, a mim e a Liana, minha mulher, e a encantar a quantos visitam nossa casa em Brasília. Aliás, por conta desse mural e, em parte, da minha constante pregação sobre a arte e a personalidade de DJ Oliveira, vários amigos e colegas do Itamaraty tem visitado seu ateliê em Luziânia e adquirido trabalhos seus. O Embaixador Sérgio Arruda e sua mulher Geo Alencar se destacam especialmente nesta lista de admiradores, ornando as pare des de sua residência em Brasília – como já o faziam em outros países – com uma notável coleção de telas do pintor. Minha mais recente promoção da obra de Oliveira e de vários outros artistas plásticos goianos, eu a pude realizar no ano de 2001, no Marrocos, onde me encontrava como Embaixador do Brasil. Propusemos aos demais Embaixadores da América Latina a organização de uma mostra reunindo obras de pintores de nossos respectivos países, retiradas do acervo de cada Embaixada. E da coleção particular do Embaixador do Brasil foram expostas (por mera coincidência...) obras de DJ Oliveira, Siron Franco, Antônio Poteiro, Cléa Costa, Cleber Gouvêa e Célio Braga. A Obra, o Homem e o Professor Concluindo essas reminiscências esparsas, que me levaram a recuar décadas no tempo, constato uma vez mais a profunda admiração que sinto pela obra, pelo homem e pelo professor Dirso José de Oliveira. Obra desenvolvida em várias fases, vários estilos, vários temas, mas sempre tocada de um lirismo sóbrio, de um íntimo contato com a paisagem, a vida e o povo de sua terra de adoção, de um eterno retorno ao seu amado Quixote – quase alter-ego do artista. Homem de tocante sensibilidade, generoso, devotado aos amigos e discípulos, modesto, comedido, sóbrio e íntegro. E mais que professor, um disseminador de idéias, um incentivador de talentos, o grande responsável pela multiplicação e propagação de tantos artistas plásticos que o Estado de Goiás tem tido o privilégio de reunir nas últimas décadas e, com justo orgulho, oferecer ao Brasil. 75. *O Embaixador Lauro Moreira é goiano, grande colecionador de obras do DJ Oliveira e reconhecidamente um dos maiores incentivadores da carreira do pintor.

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O BATISMO CULTURAL DO DF JARBAS SILVA MARQUES* BRASÍLIA, OUTUBRO DE 2005 Prestes a completar o cinqüentenário artístico, faleceu em Goiânia, no dia 23 de setembro, o pintor e muralista Dirso José de Oliveira, o DJ Oliveira, emulador das pinturas e artes plásticas no Centro-Oeste brasileiro, deixando inúmeros discípulos que se consagraram nacional e internacionalmente. DJ Oliveira foi o primeiro artista plástico 76. *Jarbas Silva Marques a elaborar obras artísticas em dezembro de 1956, quando se iniciava a construção de Brasília, voltadas para os operários que construíram a Capital da República, sendo, portanto, inquestionavelmente, pelos painéis que pintou no Restaurante do Serviço de Alimentação da Previdência Social – SAPS, na Candangolândia, o batismo cultural de Brasília e do Distrito Federal. Compromisso com o Futuro Nascido em Novembro de 1932, em Bragança Paulista, São Paulo, em 1956 saiu de São Paulo com o objetivo de participar e registrar a construção de Brasília. Apaixonado por uma planaltinense que conhecera em São Paulo, Terezinha de Jesus, com quem se casaria em 1958, fixou residência

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em Goiânia. É onde vai encontrá-lo o primeiro agitador cultural do período da construção, o folclorista, poeta e administrador Francisco Manoel Brandão. Presidente da Comissão de Expansão do Serviço de Alimentação da Previdência Social – SAPS, apenas dez dias após a inauguração do Catetinho – o Palácio de Tábuas de JK no Planalto, Francisco Manoel Brandão foi a Goiânia e contratou DJ Oliveira para fazer os painéis do Restaurante do SAPS na Candangolândia, acampamento que sediava os galpões da Companhia Urbanizadora da Nova Capital – NOVACAP. Inicialmente, DJ Oliveira pintou o painel “Bandeirantes de Outrora” e o segundo, em 1957, quando Lúcio Costa sagrou-se vencedor do concurso para escolher o projeto urbanístico de Brasília. Nesse segundo painel, se vê o projeto vencedor, no centro, ladeado por operários. Francisco Manoel Brandão pediu-lhe, ainda, que pintasse mais dois painéis que, em homenagem aos operários, foram denominados “Candangos Heróicos” e “Centauros de Aço”. DJ Oliveira, ainda em 1956, desenhou cartazes para o primeiro natal dos operários, organizado por Francisco Manoel Brandão. O conjunto dessas obras tinha, ainda, painéis sobre o ciclo do ouro e o agropastoril, os quais deixaram extasiados os visitantes que vieram de várias cidades brasileiras para participarem da Primeira Missa em Brasília, realizada no dia 3 de maio de 1957, onde, hoje, é o Cruzeiro, próximo ao Memorial JK, no Eixo Monumental, os quais tomaram refeições no Restaurante do SAPS. Nesse dia, os índios Carajás que vieram ao Planalto para participar da Primeira Missa, chamaram a atenção dos comensais pelos comentários que faziam em seus dialetos diante dos painéis de DJ Oliveira. Essa obras, criminosamente, desapareceram no Governo do ditador Humberto de Alencar Castelo Branco que, em 1967, extinguiu o Serviço de Alimentação da Previdência Social – SAPS, quando foram desmontados na Candangolândia e restaurante e o supermercado do SAPS, Dos crimes culturais perpetrados em Brasília e no Distrito Federal, além desse, que é o Batismo Cultural, as pinturas de Volpi, na Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, na 108 Sul, foram destruídas pelos padres católicos em 1961. E o que há de mais triste é que DJ Oliveira e Alfredo Volpi faziam parte do Grupo Santa Helena, em São Paulo, com Clovis Graciano,

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Aldo Bonadei, Fúlvio Pennachi e Francisco Rebolo, na década de 50. Os painéis artísticos de DJ Oliveira foram vistos por mais de dois milhões de comensais no Restaurante do SAPS. Conheci DJ Oliveira em 1957, quando ele, na Avenida Anhanguera, em frente ao prédio do IAPC, retratava, na tela, o Cine Teatro Goiânia, até então imponente e sem os arranha-céus que hoje o emparedam. Nessa época, ele ainda não usava boina. No ano seguinte, quando ele esboçava os cenários da “Raposa e as Uvas”, João Bênio convidou um colega meu da Escola Técnica, o Agostinho Vieira, que tinha o apelido de “Fan” para atuar como figurante, (troquei umas palavras com ele sobre o cenário). Depois, veio a fase do “Teatro de Emergência” e, em 1962, conheci um menino que limpava suas palhetas e seus pincéis, irmão da minha colega Desireé, o hoje consagrado Siron Franco. Viemos a nos encontrar na década de 80 em Luziânia, quando saí da prisão. Ele não conseguira ficar longe de Brasília, montara um estúdio em Luziânia, Passamos a nos encontrar na Academia de Letras e Artes do Planalto, fundada por Gelmires Reis, Benedito de Melo, Dilermando Meireles e Antonio Pimentel. Partilhamos muitas manhãs em conversas com Gelmires Reis e Dito de Melo, sobre a história do Planalto e do Movimento Mudancista. Quando Fernando Câmara pediu-me para escrever um artigo sobre Joaquim Câmara Filho, ele iniciou uma ilustração, que, infelizmente, não ficou pronta a tempo da publicação. Na posse da professora Belkiss Spenciére na ALAP, ele confidenciou-me que queria retratá-la junto com o orador que a saudou, o mudancista e deputado constituinte de 1946, Joaquim Gilberto. Em 1985, dei-lhe suporte jornalístico na exposição que fez no Banco Central e estávamos juntos no Centro de Convenções na última vinda de Cora Coralina a Brasília. Em 2001, quando eu organizava os festejos do centenário de nascimento do Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, conheci a diplomata e cantora lírica Stela Brandão, filha de Francisco Manoel Brandão, e ela deu-me o livro “Brasília Sentimental”, de autoria do pai, editado em 1960, antes da inauguração, Fiquei extasiado. A capa do livro tem uma janela e, na segunda página, uma foto do painel “Bandeirantes de Outrora”. Em seu apartamento, antes de ser

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transferida para Nova Iorque, vi os negativos das fotos dos painéis. Em 2004, quando fiz uma palestra na Academia de Letras e Artes do Planalto, em Luziânia, falei a DJ Oliveira dessa preciosidade, e da minha intençãode organizar uma exposição em 2006 para comemorar o “Batismo Cultural de Brasília”. Ele ficou entusiasmado e como os painéis foram destruídos, combinamos que iria pedir a Stela Brandão os negativos e reproduzir as fotos dos painéis para ele desenhar e pintar com a temática de 1956, para a exposição do cinqüentenário do Batismo Cultural. Como ele tinha sido contratado para desenhar grandes murais em Palmas, no Tocantins, tudo ficou para a SUS volta, o que não se dará. Lembro da nossa última conversa, em que ironizei o fato de seu ex-aluno Amaury Menezes ter nascido em Luziânia e morar em Goiânia e ele ter um estúdio na Rua do Rosário, feita pelos bandeirantes em 1746. Fica aqui o compromisso de um seu admirador em aglutinar familiares, amigos e admiradores para, em dezembro de 2006, comemorarmos o cinqüentenário do “Batismo Cultural” de Brasília e do Distrito Federal feito por DJ Oliveira para os candangos vindos de todos os rincões da Pátria. 76. *Jarbas Silva Marques é Jornalista e Diretor da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal.

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1957 – Mural em afresco, com 12 m². na residência do médico Omar Carneiro em Goiânia. 1958 – Mural em afresco e esgrafito na fachada de uma residência na Rua 9-A nº 315, Setor Aeroporto, em Goiânia. 1964 – Mural em afresco, com 1,33 x 9,15 m. na agência do Banco da Amazônia, em Goiânia. 1965 – Mural externo em acrílico, com 144,55 m² no Ginásio de esportes da Universidade Católica de Goiás. 1966 – Mural externo, afresco e esgrafito, com 231 m², na fachada da Universidade Federal de Goiás. 1967 – Mural em cerâmica vitrificada, com 36 m², no Clube de Regatas Jaó, em Goiânia. - Mural em cerâmica vitrificada na residência de Sáida e MarcosRoriz Soares de Carvalho, em Goiânia. 1968 – Mural em acrílico, com 42 m², no Clube Ferreira Pacheco, em Goiânia. - Painel em Laca nitro-celulose, com 25,2 m², no Palácio Rio Vermelho, em Goiânia. 1969 –Painel em lápis cera sobre aglomerado, com 15 m², na Cidade Universitária de Madrid, Espanha. - Painel em acrílico sobre aglomerado, com 24 m², na Cidade Universitária em Madrid, Espanha. 1972 – Painel na técnica de esgrafito, com 15,11 m², na Secretaria da Agricultura em Goiânia. 1974 – Painel em óleo e cera, com 16,43 m², para sede da Cotelgo em Goiânia. 1984 – Painel em acrílico, c/ 16 m², na sede da Associação do Ministério Público, em Goiânia.

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1986 – Mural em afresco, com 50,45 m², no Palácio da Cultura Teotônio Vilela, na cidade de Quirinópolis/Go. 1987 – Mural externo em cerâmica vitrificada, com 12 m², na fachada da OMB Propaganda, em Goiânia. 1989 – Mural em cerâmica vitrificada, com 28,12 m², na nova sede da Livraria Cultura Goiana, em Goiânia. 1991 – Murais em afresco, Via Sacra e Altar Mor na Igreja Matriz da cidade de Matrinçhã/GO. 1992 – Mural em azulejo esmaltado, com 13,14 m², no Edifício DJ Oliveira, em Goiânia. - Mural em Cerâmica vitrificada, com 15,66 m², na sede da Ordem dos Advogados do Brasil, em Goiânia. 1993 – Mural em azulejo esmaltado, com 30,6 m², na sede do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia em Goiânia. 1994 – Dois painéis em cerâmica vitrificada, com 119 m², na Praça das Três Bicas, na Cidade de Luziânia/GO. 1996 – Obelisco de três faces, com 5,50 m. de altura, representando as raças brancas, índias e negras, na cidade de Luziânia. 1997 – Mural em cerâmica vitrificada, ”Santo Ivo Ministrando Justiça” na fachada da OAB/GO, em Goiânia. 1998 – Mural “O Anhanguera” em cerâmica vitrificada, com 19 m², na Residência do Embaixador Lauro Moreira, em Brasília/DF 1999 – Dois painéis em cerâmica vitrificada, com 4,17 e 4,26 m², na residência do Governador de Goiás, Marconi Perillo, na cidade de Pirenópolis/GO. 2001 – Três Murais em cerâmica vitrificada, na sede do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins, na cidade de Palmas/TO. 2002 – Dois murais em cerâmica vitrificada, cm 33 m², no Palácio do Governo do Estado do Tocantins, em Palmas/TO.

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1955 – Participa de uma exposição coletiva do Clube dos Artistas no Foyer do Teatro Municipal de São Paulo. 1959– Premiado com Medalha de Ouro na Exposição Nacional do Museu de Arte de Goiânia/GO 1962 – Primeira Exposição Individual de Pinturas em Goiânia/GO. 1967 – Lançamento do primeiro álbum de gravuras. 1968 – Exposição individual em Goiânia/GO, antes de partir em viagem para a Europa. 1969 – Individual na Casa do Brasil, Cidade Universitária, em Madrid/Espanha. 1972 – Exposição coletiva patrocinada pelo Instituto Goeth e pela Fundação Cultural de Brasília 1973 – Prêmio de Aquisição no Salão Global da Primavera, em Brasília/DF. - Prêmio de Aquisição no V Salão de Arte Moderna de Belo Horizonte/MG. - Individual de pinturas no Salão Nacional de Brasília/DF. 1974 – Pela Pré-Bienal de Goiás é classificado para participar da Bienal Internacional de São Paulo. - Classificado para o “Panorâmica Nacional de Artes Gráficas” no MAM, em São Paulo/SP. 1975 – Individual na Galeria do Automóvel Clube Paulista, em São Paulo/SP. 1976 – Participa da VIII Panorâmica de Artes do MAM, em São Paulo/SP. 1977 – Coletiva de Artistas Brasileiros em várias cidades da Europa. - Prêmio de Aquisição no IV Salão Nacional de Goiânia/GO. 1978 – Prêmio de Aquisição no X Panorâmica de Artes do MAM, em São Paulo/SP.

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- Coletiva de Artistas de Goiás na Embaixada do México em Brasília e na Cidade do México. 1980 – Coletiva na Casagrande Galeria de Arte, em Goiânia/GO. 1981 – Individual na Casagrande Galeria de Arte, em Goiânia/GO. 1982 – Retrospectiva, homenagem da Universidade Católica de Goiás e do Museu de Arte de Goiânia. 1983 – Individual de inauguração da MultiArte Galeria, em Goiânia/GO. 1987 – Coletiva na Dam Galeria de São Paulo/SP. 1988 – Individual no Espaço Cultural IBM do Brasil, em Brasília/DF. - Coletiva na Manoel Macedo Galeria, em Belo Horizonte/MG. 1989 – Homenageado com Sala Especial na I Bienal de Artes de Goiás. - Coletiva de Artistas de Goiás em Dijon e Paris/França. - Participa do stand da MultiArte Galeria do Lê Mondial de Art Contemporain, emParis/França. 1990 – Participa da filmagem de “Nove Minutos de Eternidade – Vida e Obra de DJ Oliveira”. - Integra o projeto “O Artista no Museu”, no Museu de Arte Contemporânea, em Goiânia. - Participa do Stand MultiArt Galeria da Barcelona International Art Fair, Barcelona/Espanha. 1991 – Individual na Casagrande Galeria de Arte, em Goiânia/GO. - Retrospectiva “20 Anos de Gravura” na Galeria Jaó, em Goiânia/GO. - Coletiva Exposition d’Art Contemporain Brasilien, na Mediathéque Jean Cocteau, em Massy/França. 1994 - Individual no Banco Banco Central do Brasil, em Brasília/DF. - Exposição dos estudos do mural “O Sonho de Dom Bosco”, no MAG, em Goiânia/GO. - Coletiva “Pioneiros: Artes Plásticas” no MAG, em Goiânia/GO. 1995 – “Quatro artistas de Goiânia”- Coletiva na Galeria Lê Corbusier, na Embaixada da França, em Brasília/DF 1997 – Individual na Fundação Jaime Câmara, em Goiânia/GO. 1999 – Individual no Espaço Cultural do Secretário do Entorno deBrasília/DF 2000 – “Quatro Artistas – Amaury Menezes, DJ Oliveira, Ross e Tai” Coletiva na Época Galeria de Artes, em Goiânia/GO

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José Amaury de Menezes, filho de Plínio Moreira de Menezes e Maria Elizabeth de Araújo Menezes, nasceu em 25 de julho de 1930 na cidade de Luziânia/Goiás. Chegou a Goiânia no início de 1936, sendo, portanto, um dos pioneiros da nova capital, onde testemunhou o crescimento da cidade e sua evolução cultural. Foi aluno do Grupo Escolar Modelo, Ateneu Dom Bosco e Liceu de Goiânia. Ainda na juventude residiu em Vitória/ES, Salvador/BA e Blumenau/SC, voltando definitivamente a Goiânia em 1944. Cursou a Escola Goiana de Belas Artes da Universidade Católica de Goiás, sob a orientação dos professores Frei Confaloni, Dj Oliveira, Gustav Ritter e Luiz Curado. A partir de 1961 foi professor na mesma Escola de Belas Artes nas cadeiras de Desenho e Plástica e, em 1968 foi um dos fundadores e o primeiro diretor do Departamento de Artes e Arquitetura da UCG. Exerceu o magistério até 1986, quando, em solenidade no Teatro Goiânia, foi homenageado pela UCG e Ministério da Educação com o “Título de Notório Saber”. Homenageado pela Construtora Encol com o lançamento do edifício “Residencial Amaury Menezes” na Rua 9, Setor Oeste, Em Goiânia. Homenageado em 1988, com a inauguração da “Rua Amaury Menezes” no Se-

tor Goiânia II. É pintor e dedica a essa atividade profissional todo o seu tempo, tendo participado de inúmeras exposições no Brasil e no exterior. Autor do livro “Da Caverna ao Museu – Dicionário das Artes Plásticas em Goiás” editado pela Agência Goiana de Cultura, em sua 2ª edição. É membro efetivo da cadeira nº 25 do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás e membro efetivo da cadeira nº 13 da Academia de Letras e Artes do Planalto. Até o ano de 2009 foi membro Titular do Conselho Estadual de Cultura de Goiás. Em 2005 recebeu do Governo do Estado de Goiás o título de “Comendador da Ordem do Mérito Anhanguera”. Recebeu, em 2007, da Câmara Municipal de Luziânia o título de “Comendador de Santa Luzia”. Em 2009 recebeu do Governo de Goiás a “Medalha do Mérito Cultural” do Conselho Estadual de Cultura, pela contribuição no campo da cultura. Em 2010, homenageado pela Prefeitura de Goiânia, teve seus trabalhos ilustrando a capa de 136 livros, lançados simultaneamente pelo programa editorial “Goiânia em Prosa e Verso”. Em 2014 recebeu, do Governo do Estado de Goiás, o Troféu Jaburu, a mais importante outorga conferida pelo ConselhoEstadual de Cultura.

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Do alto de seus 90 anos de vida já divisando no horizonte, Amaury Menezes, autor deste livro, é a figura consagrada que fez e faz história em Goiás. Como criador, ele tem o domínio das técnicas da pintura e da aquarela. Como professor, ajudou a despertar o potencial de gerações cujos representantes vão de Siron Franco a Roos, de Sáida a Ana Maria Pacheco. Em ambas as atividades, criador ou professor, Amaury se revela um autêntico mestre. Contemporâneo de DJ Oliveira, a quem nos apresenta neste livro, Amaury é dono de muitos reconhecimentos, entre os quais o de escritor de suas memórias (Confesso que chorei: uma agenda de segredos e inconfidências) e dicionarista das artes em Goiás (Da caverna ao museu: dicionário das artes plásticas em Goiás).

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