Diploma vazio
agosto/12 • Edição 38 • Ano IV • Distribuição gratuita
Milhões de brasileiros conseguiram chegar ao ensino superior. O problema agora é o diploma. Um em cada três é considerado analfabeto funcional
Prazeres da desforra Especialistas analisam a vingança retratada no horário nobre da TV brasileira
“Droga lícita” Cientistas e OMS provam que o álcool é a pior droga do mundo
MetrOpolIS • OLHAR BH
Negócio do tempo Luíza Villarroel
Eustáquio Curvelano conserta relógios desde 1960. Sempre pontual, acorda às 4h30 para abrir a própria loja e às 8h se dirige para o Mercado Central, onde trabalha há quatro anos para o filho de um amigo falecido. Para Eustáquio, o tempo “voa”, enquanto ele trabalha, devido ao grande fluxo de pessoas que passam pelo centro comercial. Cerca de 70 mil pessoas visitam o local aos fins de semana. Criado em 1929 pelo então prefeito Cristiano Machado, o Mercado Central se tornou o ponto comercial mais eclético da cidade. Lá se encontra de tudo: artesanato, alimentos, animais, prestação de serviços. O tempo passou, e os ponteiros do relógio deram milhares de voltas, mas até hoje esse octogenário continua sendo um dos principais cartões-postais de Beagá.
3
Expediente
A Revista Vox é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro - Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060.
“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32) • Editor e jornalista responsável Carlos Viana • diagramação e arte Graziele Martins • Capa Shutterstock • Reportagem André Martins Fernanda Carvalho Lucas Alvarenga Thiago Madureira • ESTAGIÁRIa Bianca Nazaré • CORRESPONDENTES Greice Rodrigues -Estados Unidos Ilana Rehavia - Reino Unido • diretoria Comercial Solange Viana • anúncios comercial@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 • ATENDIMENTO jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 www.voxobjetiva.com.br • REVISÃO Versão Final • tiragem 30 mil exemplares Os textos publicados em forma de artigos, produzidos por colunistas convidados, expressam o pensamento individual e são de responsabilidade dos autores. Todos os direitos reservados. Os textos publicados na revista Vox Objetiva só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores.
Editorial
CARLOS viana Editor-Chefe carlos.viana@voxobjetiva.com.br
O analfabetismo de nossas gerações Muito se fala no Brasil sobre a necessidade de investir cada vez mais em educação. Já se tornou clichê dizer que o futuro do país está em educar melhor nossas crianças e jovens. A cada eleição ouvimos as mesmas promessas de mais investimento e de escolas públicas melhores. Os resultados de uma pesquisa feita pelo Instituto Paulo Montenegro e pela ONG Ação Social mostram que não basta apenas “empurrar” nossos alunos em direção ao futuro. No Brasil dos últimos anos, tornou-se unanimidade a proposta de que alunos não podem ser reprovados por conta das consequências sociais e dos problemas de autoestima. Juntou-se a essa visão pedagógica o desejo dos governantes de plantão de impulsionar as estatísticas de aprovação como forma de apresentar aos eleitores uma suposta melhora nos resultados educacionais. Vox Objetiva mostra nesta edição que o problema, quando não é encarado com seriedade muda apenas de grau. Praticamente um em cada três de nossos universitários não é capaz de ler e entender com clareza o que foi lido. Sem conseguir acompanhar o raciocínio da classe, a maior parte dos letradamente incapacitados abandona o curso superior. A pesquisa mostra que conhecimento se constrói com disciplina e dedicação. Além de escrever o nome, nossos pequenos precisam ser incentivados a conquistar os diplomas por meio do esforço e do mérito. A solução passa ainda pela implantação de políticas públicas para a educação colocadas como prioridade e não apenas em discursos como tem sido a tônica dos governantes, indiferentemente dos partidos. Educação no Brasil ainda é vista como despesa obrigatória. Falta muito para chegarmos ao dia em que analfabetismo seja lembrança de um passado cada vez mais distante.
Notas Pílula masculina? Três universidades americanas descobriram a substância JQ1, que apresentou sucesso no controle da natalidade de camundongos usados como cobaias. Ao contrário da pílula feminina, o composto não contém hormônios. O JQ1 inibe a proteína BRDT, encontrada nos testículos de camundongos e de humanos e responsável pela produção de espermatozoides. Os poucos encontrados no esperma dos camundongos não se locomoviam direito. A produção do gameta se normalizou após a retirada da medicação. Stock.xchng
Agência Brasil
Celso Daniel O julgamento dos réus acusados do assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, em 2002, teve início no dia 16. Elcyd Oliveira Brito foi condenado por júri popular a 22 anos de prisão. Brito é o quinto condenado pelo crime. O ex-segurança de Daniel, Sérgio Gomes da Silva, questionou no STF o direito de o Ministério Público investigar o caso. O outro envolvido, Itamar Messias Silva, teve o julgamento adiado pelo advogado. A morte de Celso Daniel foi mais uma das polêmicas envolvendo o PT. A tese defendida é de que o assassinato tenha ocorrido por motivos políticos. Daniel não estaria concordando com o esquema de corrupção na prefeitura, que além de abastecer o caixa 2 do partido, estava enriquecendo políticos envolvidos.
.................................................................................. ..................................................................................
Mensalão O primeiro voto entre os 11 ministros para condenação dos 37 réus do mensalão foi dado pelo ministro-relator Joaquim Barbosa. Ele votou pela condenação do deputado federal João Paulo Cunha – pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato – e de Marcos Valério e os sócios dele, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach – por crimes de corrupção ativa e peculato.
Desvalorizado As ações do Facebook continuam caindo. No último dia 16 houve a maior queda registrada desde a estreia da rede social na bolsa de valores, em maio deste ano. As ações do Facebook entraram na bolsa valendo US$ 38. No dia 16 de agosto, cada papel valia US$ 19,95. Em maio a maior rede social do mundo (970 milhões de usuários) valia US$ 100 bilhões, atualmente ela está cotada em US$ 40 bilhões. Não se sabe se a queda é devido ao destravamento das ações ou à venda dos papéis por acionistas preocupados com o futuro da empresa na bolsa.
5
sumário Sérgio Falci
8
13
metropolis.............................................. SOCIEDADE• VÍCIO
A incapacidade do governo de lidar com a droga de maior impacto social: o álcool Divulgação SEE
verbo........................
entrevista • PATRUS ANANIAS
Candidato petista fala sobre a disputa eleitoral em BH e apresenta ideias Rede Globo/ Divulgação
22
Salutaris.................................................. COMPORTAMENTO • VINGANÇA
Psicólogos analisam o sentimento que dita o tom em Avenida Brasil
Artigos............................................................................. POLÍTICA • Paulo Filho Mensalão: foi dada a largada no STF....................................
12
JUSTIÇA • Robson Sávio Tortura: passado e presente....................................................
PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci Por que foges de mim?........................................................
METEOROLOGIA • Ruibran dos Reis De onde vem o frio que chega a Minas Gerais?.....................
6
17
18
Capa................................................................... EDUCAÇÃO •
DISFUNCIONAIS
Analfabetismo funcional cai nas escolas e ganha terreno no ensino superior
IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira Pague impostos com 50% de desconto.................................
CRÔNICA • Joanita Gontijo Onde está o fio da neada?...................................................
35
50
SALUTARIS........................................................................
25
RECEITA • PALADAR Rigatone a la Satore........................................................
29
VINHOS • DEGUSTAÇÃO Os destilados de uva.........................................................
30 31
Bianca Nazaré
26
Fernanda Carvalho
Salutaris.................................................. SAÚDE • MEDICINA MOLECULAR
Nova tecnologia para exames de doenças graves pode fazer parte do SUS Aerobravo/ Divulgação
40 32
kultur.......................................................... RETRÔ E VINTAGE
• FOTOGRAFIA
Novas plataformas e máquinas reinventam a fotografia, mas causam polêmica
Vanguarda.............................................. AVIAÇÃO • Light-sport Aircraft
André Martins
Conheça a única empresa mineira produtora de aviões de pequeno porte do país Daniel Ramalho/ AGIF/ COB
36
PODIUM......................................................... esportes • OLIMPÍADAS 2012
Especialistas analisam a participação morna do Brasil nos Jogos de Londres
44
kultur.......................................................... música • CLUBE DA ESQUINA
Grupo completa 40 anos relembrando clássicos em show na capital mineira
7
VERBO
É tudo ou nada Escolhido às pressas como candidato petista na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte, Patrus Ananias sabe que o destino do PT mineiro está em jogo na capital André Martins No dia 7 de outubro, os brasileiros vão comparecer às urnas para escolher prefeitos e vereadores. Em Belo Horizonte, ao que tudo indica, a disputa tende a uma polarização entre dois candidatos que largaram na frente nas primeiras pesquisas de intenção de voto: o prefeito Marcio Lacerda (PSB) e o ex-prefeito (administração 1993 – 1996) Patrus Ananias (PT). Disposta a estimular o diálogo dos candidatos com o eleitorado e contribuir para que os belo-horizontinos coroem o melhor projeto para a cidade, a Vox Objetiva traz nesta e na próxima edição duas entrevistas com os candidatos com mais chances de vitória, com base na última pesquisa realizada pelo Ibope encomendada pela Rede Globo.
pessoas na cidade. Além disso, é um acontecimento muito importante, pois amplia nossos espaços de interlocução para elaborar esse processo. O PT mineiro se arrepende pela aliança feita nas eleições municipais de 2008? O partido mais perdeu que ganhou com ela? O PSB é um partido que sempre integrou o arco de alianças com o PT. Quando disputei a prefeitura de Belo Horizonte, em 1992, o candidato a vice era Célio de Castro, do PSB. Sempre mantivemos uma boa interlocução e construímos importantes alianças. O PSB está na base de apoio da presidente Dilma e esteve na base de apoio do ex-presidente Lula. Houve um movimento no sentido de pactuar e procurar aprofundar essa interlocução. Mas recentemente aconteceram algumas divergências aqui em Belo Horizonte, no Recife e em Fortaleza que, acredito, vão se processar com mais tempo. A política é um processo constante de conversa, de diálogo e de possibilidades.
“A política é um processo constante de conversa, de diálogo e de possibilidades”
Nesta edição, o leitor confere a entrevista com o candidato petista Patrus Ananias. Na conversa, o ex-ministro do governo Lula apresenta ideias e projetos para a administração municipal, comenta sobre os bastidores da corrida pelo poder e fala da aliança com o PSB, que durou apenas quatro anos. Como você recebeu a notícia de que um grupo de dissidentes do PSB, cerca de 20 integrantes do partido, decidiu apoiar a sua candidatura? Recebi o apoio de nossos companheiros do PSB com muita alegria. Essa adesão expressa sintonia com o projeto para Belo Horizonte e indica um sentimento de transformação, que é compartilhado por várias
O pedido de impugnação da sua candidatura foi considerado improcedente. Como você e o PT mineiro encararam a possibilidade de não entrar na disputa? Existia algum tipo de temor em relação a isso? Sempre estive tranquilo em relação a esse
SĂŠrgio Falci
VERBO
assunto, desde o início. O PT também. O registro de nossa candidatura observou rigorosamente todas as determinações legais. Nunca tivemos dúvidas sobre a legitimidade e a legalidade de nossa candidatura. A decisão da justiça eleitoral só consolida isso. A confirmação do registro da candidatura recoloca o processo eleitoral de Belo Horizonte nas mãos dos eleitores, como sempre confiamos que iria acontecer. A eleição será decidida nas urnas, pela vontade soberana dos eleitores. Sérgio Falci
A candidatura de Patrus Ananias despertou a militância petista na capital mineira .........................................................................................................................
Ao longo desses quatro últimos anos, período em que o PT esteve fora da Prefeitura de Belo Horizonte, o que foi “perdido”? Não podemos dizer que o PT esteve fora da prefeitura nos últimos quatro anos. O vice-prefeito, Roberto Carvalho, é presidente municipal do PT. Havia companheiros petistas em secretarias importantes. Aconteceu que o PT não esteve no comando de todas as decisões. Ao longo do processo foram aparecendo as divergências políticas que culminaram no rompimento recente. Ao final, o PSB fez uma opção e definiu o PSDB como interlocutor privilegiado. Isso indica uma mudança radical de caminho, um distanciamento do projeto de administração popular, democrática e
10
participativa, como defendemos. Quais propostas de governo do PT correspondem aos anseios do eleitorado belo-horizontino? Tenho percorrido muito a cidade. Vejo que as principais demandas estão relacionadas com os problemas de trânsito, a melhoria e ampliação do acesso aos serviços de saúde e o aumento da segurança pública. As pessoas querem de volta uma cidade boa para caminhar, que tenha transporte público de qualidade, rápido e confortável, qualidade para pedestres e motoristas. Mas percebo, em nossos encontros com vários movimentos sociais e setoriais da cidade, que as pessoas querem ter espaço para desenvolver as vocações da cidade nas áreas econômica, cultural, social e política, sem se esquecer da dimensão ambiental. Belo Horizonte é um importante polo de produção de conhecimento, tem uma tradição cultural de alto nível e diversificada e uma história de participação política e ocupação de espaços públicos, principalmente das praças públicas. Na época em que fui prefeito pude perceber, pelo alto índice de participação nas assembleias do Orçamento Participativo, que a população de Belo Horizonte tem compromisso com a cidade, com a construção dos bens coletivos e que quer discutir suas ideias para melhorar a condição de vida de todos. Nosso programa de governo prevê a recuperação e a ampliação dos espaços de participação popular e a realização de um planejamento integrado que permita articular as vocações da cidade para diversificar nossa economia. Um exemplo: BH tem uma base de conhecimento e de serviços, com excelência científica e tecnológica, que estão sendo desenvolvidos em diversas instituições universitárias e em centros de pesquisa. O poder público municipal tem de assumir a liderança para estimular e integrar essas áreas, explorando todo o seu potencial. Além de democrática e sustentável, queremos uma Belo Horizonte inclusiva, com projetos voltados para erradicar a miséria e reduzir a desigualdade social, garantindo direitos e oportunidades. Quanto à mobilidade urbana, é fundamental que a gente pense a cidade do ponto de vista das pessoas. Claro que temos de pensar na mobilidade dos veículos,
VERBO
mas temos de criar uma cidade em que as pessoas tenham prazer de andar, como foi possível fazer em Belo Horizonte. Trabalhar com essa preocupação tem efeitos inclusive no desenvolvimento do comércio, principalmente no Centro e nos bairros, porque é necessário que as pessoas circulem pelas ruas. Essa circulação não pode ser restrita aos shoppings, como vemos hoje. Quem está só de carro não compra, não tem uma relação com a cidade. Então temos o compromisso fundamental de fazer de Belo Horizonte uma cidade viva, desenvolvida, mas sempre humana, como quer a população de Belo Horizonte. Queremos uma cidade moderna, mas toda intervenção na cidade, incluindo as grandes obras, devem ser planejadas para servir as pessoas. Saúde e educação continuam sendo áreas importantes, mas carentes de recursos no Brasil. O que o seu programa prevê de investimentos na área de saúde e educação?
O Orçamento Participativo foi implantado no seu governo. Você pretende revitalizar o projeto? O que será feito dele? O Orçamento Participativo foi uma inovação na cidade e uma das marcas de nossa administração, entre 1993 e 1996. Em nossa experiência, comprovamos que a participação popular dá mais eficiência e eficácia à administração pública. Isso, porque a participação acontece em todos os momentos: da definição à implementação da política, passando pela fiscalização dos recursos e a avaliação dos resultados. A democracia faz muito bem; o povo é um ótimo aliado da administração pública. Nosso objetivo é ampliar o espaço de participação popular, envolvendo a população no processo de planejamento. Isso significa que as pessoas vão discutir não só as obras a partir de um orçamento previamente definido, mas vão participar do próprio processo de formulação dos critérios de distribuição dos recursos.
“Eu e o prefeito temos olhares muito diferentes sobre política e forma de governar”
Quando fui prefeito, demos um salto de qualidade nesses dois setores com a grande equipe que tivemos. Saúde e educação foram e continuam sendo prioridade para nós. Na área de saúde, temos de ampliar e facilitar o acesso das pessoas aos equipamentos e serviços de saúde. Concretamente queremos viabilizar a abertura dos postos de saúde nos finais de semana, construir e reformar Unidades de Pronto-Atendimento e implantar postos de saúde onde for necessário. Na área da educação, um dos principais desafios é a promoção da qualidade do ensino público. Conquistamos a universalização do ensino público e precisamos garantir que o ensino seja de qualidade para crianças e adolescentes na cidade. Temos o Lorem Ipsum Dolar sit amet compromisso com a ampliação da rede de educação consectetur elit. Sabemos que ainda é baixa a infantil e adipiscing de creche. Praesent malesuada urna cobertura ornare libe. de atendimento de creches para crianças de até 3 anos. Nosso compromisso é garantir a todas as crianças dessa faixa etária o acesso à educação.
Qual o seu conceito sobre o seu principal oponente na corrida pela prefeitura de Belo Horizonte, o prefeito Marcio Lacerda? Qual a sua relação com ele?
Eu e o prefeito temos olhares muito diferentes sobre política e forma de governar. Temos propostas políticas diferentes, mas reservo-me o direito de não emitir juízo pessoal sobre ele, devido ao respeito às diferenças e por uma questão ética, de respeito às pessoas. Em Minas temos uma tradição segundo a qual as ideias brigam, mas as pessoas se respeitam e se resguardam. Quanto à segunda parte da pergunta, posso dizer que mantive e mantenho uma relação respeitosa com o prefeito, resguardadas as divergências. Quando fui ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, estabelecemos, seguindo o caráter absolutamente republicano de nossas políticas, um espaço de trabalho para viabilizar a implementação dos programas sociais para a população de Belo Horizonte.
11
ARTIGO - POLÍTICA
pAULO fILHO Jornalista e consultor de Comunicação Social paulojfilho@ig.com.br
Mensalão: foi dada a largada no STF Quem acompanhou a sessão do Supremo Tribunal Federal com a apresentação da peça acusatória sobre o mensalão, montada pelo Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, assistiu a um bem-montado, sucinto, conciso e tecnicamente preciso trabalho de acusação. Por melhores que sejam os advogados dos acusados, o trabalho dos defensores terá de ser algo extraordinário para livrar seus clientes das possíveis condenações ou contar com algo mais, que beira o ilógico.
outro ponto que tem chamado a atenção e suscitado questionamentos – alguns, inclusive, muito duros – é a participação do ministro José Antônio Dias Toffoli, indicado por Lula ao Tribunal, no julgamento do caso. Para muitos, a presença dele no processo é algo que macula a imagem da Corte. Quase todos esperavam que ele se declarasse impedido de participar do julgamento, por motivos óbvios.
“É crível que a defesa dos réus deixe de lado a estratégia “goebberiana” adotada pela cúpula do PT de insistir que o mensalão não existiu”
É crível que a defesa dos réus deixe de lado a estratégia “goebberiana” adotada pela cúpula do PT (e, principalmente, por Lula) de insistir que o mensalão não existiu e que tudo não passa de uma perseguição contra o partido. Esse discurso serve apenas como satisfação para as hostes partidárias, para incitar a militância petista e mantê-la aguerrida. Mas, como retórica de defesa no Tribunal, não tem sustentação. Ao que parece, a linha dos advogados de defesa será a de assumir o caixa dois eleitoral e tentar negar o crime da compra de votos e de apoios no Congresso. Tarefa difícil, mas é o caminho mais seguro para a defesa dos implicados. No ambiente de pressão que agora envolve o STF,
12
José Antônio Dias Toffoli, exadvogado-geral da União no governo Lula, sempre foi ligado ao PT, partido no qual militou e construiu grande parte de sua carreira, fosse servindo a governos da legenda, fosse a sindicatos controlados por ela. Foi assessor da liderança do PT na Câmara dos Deputados e assessor no Ministério da Casa Civil, quando o titular era o réu no mensalão, o ex-ministro José Dirceu. Como advogado do partido nas eleições de 2006, ele já se manifestou sobre o caso, afirmando ao Superior Tribunal Eleitoral que tal acusação “jamais ficará comprovada”. Àquela altura, ele demonstrava ter opinião devidamente formada sobre o mensalão. E Dias Toffoli é namorado da advogada Roberta Rangel, defensora do também réu no mensalão e ex-deputado petista Professor Luizinho. Com essa ficha, só ele não vê impedimentos à sua participação no julgamento do mensalão.
MetrOpolis • SOCIEDADE
Vida vazia, copo cheio Abuso do álcool é o maior problema de saúde no mundo, mas o alerta e o tratamento de alcoólatras não é prioridade na agenda pública Bianca Nazaré
Stock.xchng
Em 2011, a Organização Mundial de Saúde (OMS) pesquisou as principais causas de deficiências na saúde mundial. O estudo concluiu que o maior fator de risco nas Américas é o consumo de álcool, além de ser o segundo maior problema de saúde na Europa. O álcool foi novamente colocado em primeiro lugar como a droga que mais causa prejuízo ao usuário e a terceiros, de acordo com a pesquisa realizada pelo psiquiatra e neuropsicofarmacologista britânico David John Nutt, publicada na revista científica The Lancet, em 2010. O álcool ficou à frente de drogas, como heroína, crack, metanfetamina, cocaína, tabaco, anfetamina, maconha, ecstasy e LSD. Dados colhidos pelo pediatra e coordenador de Políticas sobre Drogas do Estado de São Paulo, Luiz Alberto Chaves de Oliveira, apontam para o aumento do consumo de cerveja no Brasil. De 1994 a 2010 houve um salto de 6,5 bilhões para 12,6 bilhões de litros por ano. Entre 2000 e 2010, o aumento do consumo da bebida cresceu 37,5%. O lucro para as fabricantes de cerveja no Brasil foi estimado em R$ 108 bilhões ao ano. Cerca de 25% da população brasileira é dependente ou faz uso nocivo de álcool, segundo Oliveira. São quase 50 milhões de pessoas. “As consequências disso são de natureza social, principalmente no tocante aos relacionamentos. No ambiente de trabalho fica evidente o absenteísmo, o aumento no índice de acidentes e o registro de aposentadorias precoces. Na segurança, aumenta a violência doméstica, os homicídios e os acidentes de trânsito com vítimas. Na saúde ocorre o incremento de doenças e a diminuição da vida produtiva, além da morte precoce”, alerta.
13
MetrOpolis • SOCIEDADE
investimentos A dependência em drogas e álcool é considerada uma questão de cuidados de saúde mental. Por esse motivo, o tratamento de dependentes químicos no Sistema Único de Saúde (SUS) é feito na Rede de Atenção Psicossocial. O Ministério da Saúde informa que foi destinado R$ 1,8 bilhão à saúde mental em 2011, correspondendo a 2,5% dos recursos federais para a saúde. Para 2012 haveria um acréscimo de R$ 350 milhões para a formulação do novo Plano Crack: É Possível Vencer. O órgão não discrimina os valores designados ao tratamento de dependentes de álcool na atenção psicossocial nem sabe afirmar o número de alcoólatras que dão entrada nos hospitais psiquiátricos do SUS. A atenção do governo está prioritariamente voltada para a relação álcool – trânsito, o que não deixa de ter relevância. Um estudo da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, por exemplo, constatou uma redução de 7,5% de óbitos em acidentes de trânsito, entre 2007 e 2009, após a implantação da Lei Seca. O excessivo uso do álcool também é direta ou indiretamente responsável por doenças cardiovasculares, neoplasias, transtornos mentais e Fotos: Stock.xchng
comportamentais, agressões, homicídios, suicídios e pelo elevado número de ocupações de leitos hospitalares, segundo relatório da secretaria. estou vivendo? Em uma clínica de recuperação de alcoólatras, em Belo Horizonte, as histórias dos pacientes impressionam. São pessoas que chegaram ao fundo do poço para preencher o vazio psicológico com o álcool. O nome da clínica e dos pacientes será preservado. Manoel Coutinho é o responsável pelo local com aparência de casa de descanso. Simples, porém aconchegante. É por esse motivo que ele não chama o lugar de “clínica”, mas de “casa do alcoólatra”. O próprio histórico de Coutinho com o álcool foi o responsável pela iniciativa de ajudar “outros iguais a ele”. O ex-alcoólatra tem 58 anos e há 30 está “paralisado com a bebida”. O alcoolismo começou na infância, com o medicamento antianêmico Biotônico Fontoura. Na época, o elixir continha 9,5% de álcool etílico na fórmula (uma latinha de cerveja contém pouco mais de 5%). Aos seis anos de idade, Coutinho tomou o primeiro porre com o medicamento. Aos 14, ele já era um “pau d’água”. O contador diz que após se casar, aos 25 anos de idade, piorou a ponto de acreditar que não passaria dos 28 anos. Coutinho conta que um alcoólatra não sabe que precisa de ajuda. Algumas coisas precisam acontecer para que ele desperte. Normalmente isso acontece quando a pessoa está com problemas financeiros graves ou quando a mulher resolve abandonar o barco. Após procurar os Alcoólicos Anônimos (AA) e ver nas pessoas simples a resposta que procurava para sua cura, ele resolveu “catar” moradores de rua viciados em álcool e abrigá-los em uma das casas que possuía. Coutinho faz isso há 28 anos, mas hoje as pessoas que recebe contribuem mensalmente para o tratamento. Um dos pacientes visita a casa há três anos e diz estar totalmente limpo. O eletricista Júlio, de 36 anos, mudou o paradigma da clínica. Ele foi o primeiro
14
MetrOpolIS • SOCIEDADE
de pinga. Muitas das vezes eu tomava minha pinga e colocava um limão com um pouquinho de sal para tirar gosto. E eu pensava: ‘pô, a minha família está, uma hora dessas, comendo um arroz... e eu aqui’”. Quando foi encontrado pela família, Júlio foi levado à casa de tratamento de Coutinho, com pouco mais de 40 kg e vomitando sangue. Ele frequenta o local até hoje, mas recuperou o trabalho, a saúde, a mulher e os filhos. Júlio ajuda a clínica, dando apoio aos novatos e àqueles que têm recaídas, como o corretor de imóveis Reinaldo, de 46 anos. É a terceira vez que o álcool o vence. O hábito de beber começou depois de um acidente de moto que lhe causou uma fratura exposta na perna. A frustração de ficar “encostado” pelo INSS foi a motivação para a bebedeira. Na primeira vez que procurou tratamento para o alcoolismo, Reinaldo ficou um ano e oito meses acompanhando as reuniões do AA e sem beber. Em um momento, ele se sentiu seguro para deixar o grupo e seguir a vida sem o álcool. Quando o primeiro problema emocional veio, foi ao copo que ele pediu socorro. “Tem colegas aqui que estão frequentando o grupo há mais de 35 anos. Por que alguém acha que em um ano e oito meses de AA ele vai ficar bom? A gente chama isso do chá do já-estou-bom. Eu recaí. Toda recaída é pior”.
Cerca de 50 milhões de brasileiros fazem uso nocivo de álcool e necessitam de tratamento médico .........................................................................................................................
viciado em álcool e drogas a procurar tratamento na casa. “Quando o Júlio chegou aqui, ele me enganou. Eu não aceitava drogados. Eu não conheço droga. Agora eu recebo alcoólatras e drogados, porque é o perfil dos jovens hoje. Todo novo que tem o hábito de se embriagar vai usar drogas”. Após experimentar tudo, badalar e conseguir as mulheres que queria graças à cocaína, em um lance o eletricista se viu morando em um barraco abandonado, sozinho, usando somente a roupa do corpo, sujo e de barba comprida. “O meu travesseiro era uma garrafa
Quando os limites foram ultrapassados, Reinaldo foi internado compulsoriamente em uma clínica para dependentes químicos em São Paulo. Desse período ele não gosta de se lembrar. Reinaldo acusa a clínica de roubar a família, que pagou preços exorbitantes pela internação e por medicamentos acima do preço normal. Ele conta que os internos eram agredidos quando fugiam e passavam dias dopados, como punição. Reinaldo perdeu tudo por causa do álcool: mulher, filhos e até a chance de terminar o curso de Administração, no qual foi aprovado em três faculdades. Mas o prazer de beber não é o responsável pelo consumo excessivo do álcool, segundo ele. A bebida vira uma espécie de remédio. “A gente já acorda pensando em tomar umas. Em vez de tomar
15
MetrOpolis • SOCIEDADE
um café, fazer alguma coisa, acorda querendo beber. Você acorda com dor de cabeça, com ressaca e sem motivação e pensa: ‘vou tomar umas que eu melhoro’. Vai lá, toma umas e melhora. O organismo pede; sua cabeça pede. Já chegou a um ponto que eu não tinha nada para beber e eu bebi álcool puro. Eu já bebi até álcool gel. O que a gente quer é o efeito. Aí começa a fazer parte da sua rotina. Naquele período, eu bebia desde a hora em que eu acordava até a hora de dormir.” a doença O psicólogo do Centro Mineiro de Toxicomania da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais, Oscar Cirino, explica que a doença pode ser identificada quando a pessoa bebe de manhã, por exemplo. A tolerância à bebida também indica se o organismo está dependente. É quando o indivíduo precisa beber cada vez mais para obter o mesmo efeito. “Às vezes chega gente aqui que bebe dois a três litros de pinga por dia. Qualquer um de nós, que não é dependente, se beber dois litros de pinga corre o risco de morrer”. As pessoas que ingerem bebidas alcoólicas passam pelos sintomas da abstinência, quando cessam a ingestão do líquido. Os sintomas variam conforme a quantidade de álcool que o corpo está acostumado a receber, que podem ser desde ansiedade ou nervosismo, quando o hábito de beber não é excessivo, ou tremores, diarreia e vômito que indicam abstinência moderada. Quando a dependência do álcool é grave, a abstinência da bebida pode causar sudorese, tremores, vômitos, convulsões, desmaio ou o delirium tremens, que é um quadro em que a pessoa tem alucinações, como ver animais subindo pelas paredes ou pelo corpo. “Esse é um caso de dependência grave, porque já envolveu o sistema nervoso central; não apenas o aparelho digestivo, nem apenas o aparelho auditivo, a ansiedade, o tremor... Esse caso tem que ser muito bem acompanhado por médicos para que a pessoa não sofra as sequelas desse problema, que são irreversíveis”, completa Cirino. O Centro Mineiro de Toxicomania atende às regiões Centro-Sul, Leste, Nordeste, Barreiro e Oeste de Belo Horizonte. As demais regiões (Pampulha, Noroeste,
16
Norte e Venda Nova) são assistidas pelo Centro de Referência em Saúde Mental Álcool e outras Drogas (Cersam-AD) da prefeitura, que fica na região da Pampulha. Os pacientes do Centro de Referência são 80% homens, sendo 40,41% alcoolistas, 19,79% dependentes de múltiplas drogas, 15,63% usuários de crack e 4,17% usuários de cocaína. Sendo o álcool uma droga lícita, uma substância psicoativa permitida por lei, não existem problemas nem preconceitos quanto ao seu uso. Dificilmente um menor de 18 anos é barrado ao comprar o produto. Cirino enfatiza que é pelo fato de o álcool ser um produto culturalmente aceito que os prejuízos e a doença, caracterizada pela dependência, são tão encobertos. “O álcool é, inegavelmente, uma droga que traz problemas gravíssimos e prejuízos econômicos importantíssimos, porque o alcoolista tem muita dificuldade de continuar a trabalhar. Vai ter sequelas de problemas clínicos do pâncreas, do fígado, cardíacos. Então traz uma despesa muito grande para o sistema de saúde pública, que é maior do que a dependência do crack, por exemplo”. Stock.xchng
O alcoolista tem dificuldade de continuar a trabalhar e pode ter sequelas irreversíveis .........................................................................................................................
Artigo • Justiça
ROBSON SÁVIO REIS SOUZA Filósofo especialista em segurança pública robsonsavio@yahoo.com.br
Tortura: passado e presente Recentemente uma série de reportagens publicadas em vários veículos de comunicação expôs para o Brasil e o mundo as torturas perpetradas contra a presidente Dilma Rousseff, durante a ditadura militar, em Minas Gerais. Sem sombra de dúvidas, recuperar a memória histórica da violência institucional sofrida pela atual mandatária se constitui, simbólica e objetivamente, numa importante causa para descortinarmos o passado, ainda mais em tempo de Comissão da Verdade. Mas será que a violência praticada pelo Estado contra os cidadãos é coisa do passado? Ao contrário do que comumente é conhecido, o regime ditatorial foi muito mais amplo do que se pode imaginar. Isso significa que, além de militantes de movimentos, partidos e sindicatos, a máquina política da repressão conseguiu atingir um número muito maior de ativistas que continuam anônimos, mas que foram vítimas de todo o tipo de perseguição e sevícias. Para além dos conhecidos atores que promoveram a repressão, notadamente as Forças Armadas e as polícias estaduais, há fortes suspeitas da participação de outros personagens nos processos de repressão. Estou me referindo a indícios da conivência e da omissão, inclusive da colaboração de agentes estatais e públicos de diversas áreas e agências públicas com as forças repressivas. O nível de perseguição e violência perpetrado contra cidadãos que não concordavam com o regime ditatorial, além de ter atingido um número muito maior de vítimas do que aquelas até agora conhecidas, parece apontar para uma estrutura na qual os agentes da repressão contavam com ampla rede de colaboração de outros atores sociais. Incluem-se aí lideranças políticas nos níveis locais que, respaldadas pelo regime ditatorial, impunham-se e se perpetuavam no poder pela via da violência. Conhecer essa imbricada rede de agentes públicos civis que
foram partícipes do regime ditatorial também passa a ser elemento importante para o desvelamento das armadilhas do passado de tão triste memória. E o mais revoltante: constatamos que a prática da tortura se institucionalizou desde os tempos ditatoriais. Não se trata de prática que acontecia, mas de situação que existe e persiste. Em algumas delegacias, em batalhões policiais, centros de internação de adolescentes e principalmente nas prisões, a prática da tortura sobrevive. Mudaram as vítimas. Antes eram os militantes políticos que lutavam pela democracia. Atualmente são pobres, negros, moradores de rua e prostitutas. Há um sem-número de jovens, homens e mulheres que, sem acesso à Justiça e limitados em seus direitos de cidadania por terríveis mecanismos de exclusão, ainda são vítimas de todo o tipo de arbitrariedade cometida por agente público. Enquanto o Estado não dizimar qualquer tipo de afronta à dignidade humana praticada por agente público, não podemos dizer que somos um país democrático. A Comissão da Verdade, debruçando-se no desvelamento dos períodos de exceção, também poderia apontar diretrizes e sugestões de políticas públicas objetivas, indicando reformas estruturais em nosso sistema de justiça criminal. Em certa medida, esse sistema ainda reproduz e convive com práticas de arbítrio fundadas no passado ditatorial e inconcebíveis no âmbito do Estado Democrático de Direito. Justiça eficiente e menos seletiva, agências independentes e autônomas de controle da atividade policial e acesso universal à justiça: são esses mecanismos simples que os governos civis, passadas três décadas da assunção da ordem democrática, não tiveram a ousadia de implantar nas estruturas do Estado. Até quando seremos coniventes com a tortura?
17
MetrOpolis • capa
Exclusão pela palavra Fábio Rodrigues Pozzebom/ ABR
Técnica do escaneamento, uma das mais utilizadas nos processos de alfabetização no Brasil ..............................................................................................................................................................................................................................................................
Pesquisa aponta que um quarto da população brasileira não atingiu o nível Pesquisa aponta que um quarto da população não atingiu o nível básico de alfabetização, mesma proporçãobrasileira de brasileiros letrados básico de alfabetização, mesma proporção de brasileiros letrados Lucas Alvarenga Deslocado, o jovem não interage em um espaço que deveria integrar: a escola. Por trás desse isolamento estão dificuldades de dominar a leitura, a escrita e a matemática. Essas habilidades são ferramentas essenciais para o mundo moderno, em que as relações presenciais se esvaem gradativamente. Não é raro encontrar alunos de 8ª série e cursando o ensino médio com sérias deficiências comunicativas. Dados recentes do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) revelam que 27% dos brasileiros são analfabetos funcionais (completos ou rudimentares). Eles conseguem ler apenas números familiares e localizar informações simples. “O jovem está excluído dentro
18
da escola, pois não consegue aprender a ler nem a escrever”, ressalta Lucinéia Toledo, mestre em Educação pela Universidade de Matanzas, em Cuba, e professora da rede municipal de Belo Horizonte em um dos programas de aceleração do ensino. Estabelecido em 2001 pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Solidária, o indicador surgiu com o objetivo de avaliar se quatro anos de ensino eram suficientes para garantir a alfabetização, como estabelecia o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Passada uma década, a consultora do IPM, Fernanda Cury, afirma que não. “O Inaf busca
MetrOpolIS • capa
verificar o grau de conhecimento condizente com a realidade do entrevistado. Constatamos que, em muitos casos, anos de escolaridade não se refletem em domínio de habilidades cotidianas. E quando se refletem, na maioria das vezes param em um nível básico”. Conforme a pesquisa, apenas um em cada quatro brasileiros é plenamente alfabetizado. Ele consegue interpretar, avaliar e inferir, além de resolver problemas que envolvam proporções, cálculos de área, mapas e gráficos. A grande evolução se deu no nível básico, com um salto de 34% para 47% de alfabetizados, entre 2001 e 2011. Para Fernanda, essa recuperação se deve à quase universalização do acesso à escola e ao aumento do número de anos de estudo. Atualmente 26% da população brasileira se enquadra nesse perfil, mesmo índice de 2001. Desse total somente 62% dos brasileiros com ensino superior e 35% com ensino médio são plenamente alfabetizados. “Um dos grandes desafios do ensino público brasileiro é transformar quantidade em qualidade, formando
adequadamente os profissionais, criando um plano de carreira que os valorize e investindo em estruturas diversas que auxiliem o trabalho do professor”, assevera a consultora do IPM. Coordenadora da ONG Ação Educativa, Vera Masagão Ribeiro acredita que seja fundamental o investimento na formação inicial e continuada de professores. O investimento envolve a revisão e a ampliação de conteúdos e horas, criação de modelos flexíveis de estudo e adequação da escola à realidade de cada região. Para a pesquisadora, essa é uma condição essencial para que se consiga a permanência do aluno no ambiente escolar e uma melhor assimilação do conteúdo. Porto Alegre é um exemplo a ser seguido: além da formação continuada, por lá se investe no professor que se dedica à Educação de Jovens e Adultos (EJA). Os educadores de Porto Alegre contam com o mesmo plano de carreira dos professores da rede regular. A consequência disso é que 95% deles se qualificaram mais, investindo em cursos de pós-graduação.
19
MetrOpolis • capa
evolução com ressalvas A criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) atenuou a situação. O órgão incluiu a EJA e a educação infantil no ensino básico, algo não contemplado pelo antigo Fundef. Na análise do Inaf, a escola e a renda familiar são importantes variáveis para a aquisição de habilidades de escrita, leitura e matemática. A melhoria na educação e no poder aquisitivo auxilia inclusive na redução das desigualdades. Entre 2001 e 2011, o número de alfabetos funcionais da Região Nordeste saltou de 49% para 62%, reflexo das políticas sociais implantadas pelo governo federal.
de educação que seja capaz de enfrentar a realidade e reverter o quadro de analfabetos educacionais e políticos”, salienta Lucinéia. Para a mestre em educação, a mudança requer investimentos integrados nas escolas e na sociedade. Um exemplo é o projeto “Escola Aberta”, criado pelo governo federal para aproximar comunidade, instituição e aluno – situação que não acontece da maneira devida nas administrações municipais. Devido à falta de recursos, os municípios não trabalham sequer com atendimento preventivo a adolescentes e jovens: medida necessária para entender os possíveis problemas que prejudicam o aprendizado. incentivo à cultura
“O jovem cercado por um ambiente Entretanto, para o mesmo violento tem dois caminhos: indicador, medidas como as reproduzir a violência ou reagir cotas em universidades não por meio da arte, da educação e da surtiram o efeito esperado. cidadania. Segundo Paulo Freire, Os índices de negros e pardos esses valores são adquiridos pela plenamente alfabetizados alfabetização”, reflete Lucinéia. O entre 2001 e 2010 se problema é que as escolas geralmente mantiveram em 20% e 21%, não oferecem novidades condizentes respectivamente. De acordo com a realidade desses jovens. Para com o doutor em educação e mudar esse cenário, a Fundação professor de pós-graduação Municipal de Cultura (FMC) de Belo da Universidade Federal de Horizonte instalou 19 bibliotecas Goiás (UFG), Nelson Cardoso Lucinéia Toledo, públicas na cidade e um Ponto de Amaral, esses problemas se mestre em Educação Leitura disponível aos domingos no relacionam com a estrutura Parque Municipal. O órgão trabalha administrativa do país. A responsabilidade de prover a também na organização de palestras, oficinas e rodas de leitura. educação básica é atribuída aos municípios, o ensino médio, aos estados e o Coordenadora de Bibliotecas e Promoção da Leitura governo federal fica com o ensino superior. Essa da FMC, Fabíola Farias destaca o programa “Belo estrutura rígida fez com que a educação pública Horizonte, cidade leitora”, que articula a sociedade civil superior estagnasse desde a ditadura militar. para a criação, manutenção e gerência de bibliotecas Atualmente 75% das matrículas em curso superior comunitárias. “Em parceria com a Associação são feitas em universidades privadas. Esse é um dos dos Amigos das Bibliotecas Comunitárias de Belo motivos que levaram o país a ter somente 42% da Horizonte (Sabic), conseguimos identificar iniciativas população em fase educacional. promissoras e contribuir para o desenvolvimento do acervo bibliográfico”. Nos últimos dois anos, 8,2 mil “Temos um grande déficit educacional. A situação livros de qualidade foram adquiridos com esse fim. se deve também à precária formação dos educadores Há anos, a Sabic promove a leitura em regiões com brasileiros. Não se investiu em um modelo reflexivo
“O jovem está excluído dentro da escola, pois não consegue aprender a ler nem a escrever”
20
MetrOpolis • capa
Nathália Turcheti
pouco acesso a bens culturais na cidade. Fabíola enumera as preocupações da FMC em relação às bibliotecas e aos projetos de promoção da leitura. Segundo a coordenadora, há três frentes de trabalho que norteiam as atividades da Fundação. A primeira é a qualificação das atividades e dos serviços oferecidos nas bibliotecas, como uma programação mensal elaborada por uma equipe multidisciplinar. A segunda é a renovação constante do acervo bibliográfico, garantindo a diversidade de textos, autores e gêneros. As últimas se relacionam com a formação continuada dos profissionais que atuam nesses espaços e a melhoria da infraestrutura física e tecnológica das bibliotecas. É também por meio da arte que Lucinéia busca corrigir falhas na alfabetização de jovens de 15 a 18 anos da rede municipal de ensino. A professora incentiva os alunos a ler e se vale da música como ferramenta de aprendizado. Em sala, a educadora trabalha com canções e ritmos atuais. Ela explora a obra de compositores, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Guilherme Arantes e, em outros contextos de letramento, do músico infantil Saulo Sabino e de gravações de Villa-Lobos para crianças. “Temos que utilizar as mais diversas ferramentas para viabilizar o processo de alfabetização. E a cultura é, certamente, a melhor delas”, arremata.
De acordo com a Fundação Municipal de Cultura, Belo Horizonte conta com 19 bibliotecas públicas, como a Biblioteca Pública Infan-til e Juvenil, cujo acervo ultrapassa 20 mil livros .........................................................................................................................
Exemplos latinos El apóstol, como era conhecido o pensador cubano José Marti, defendia no século 19 a libertação da ilha pela via da educação. Quase cem anos depois, em 1959, o governo de Fidel Castro investia maciçamente no setor, sobretudo na alfabetização – primeiro grande projeto da pequena república. Os mais letrados – chamados de mestres voluntários – ajudaram no processo de letramento de 1,5 milhão de camponeses incentivados pelo governo a prosseguir nos estudos. As ações educativas reduziram o analfabetismo de 20%, em 1958, para 3,9%, em 1961. Atualmente o índice é de 0,17% na ilha caribenha, enquanto no Brasil a porcentagem chega a 9,6%. “Em Cuba há vontade política para transformar a sociedade pela educação, a começar pelos investimentos na qualificação dos recursos humanos”, ressalta Lucinéia Toledo, que morou e fez mestrado durante um ano e oito meses na ilha. Segundo a educadora, a aposta cubana na educação continuada levou o governo a permitir o acesso de quase 70% da população ao ensino superior, mesmo com as dificuldades econômicas do país. No Brasil, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada em 2009, esse indicador chega a 19% entre alunos de 18 a 24 anos.
21
SALUTARIS • comportamento
Fotos: Rede Globo/ Divulgação
Doce vingança Psicólogos analisam o sentimento que dita o tom de Avenida Brasil André Martins Roubada e jogada no lixão, Rita, personagem de Débora Falabella na novela Avenida Brasil, viveu por muito tempo com um “espinho na carne”. Mas sobreviveu. Alimentada por um insaciável desejo de fazer justiça, a menina cresceu e se tornou uma mulher movida por um turbilhão de rancor e ódio. Penetrou na casa da rival, passou-se por uma dócil cozinheira e, como uma serpente, esperou o momento oportuno para dar o bote. A saga da estrategista Rita tem dado o que falar. Nos dias seguintes aos dos capítulos que marcaram o temporário revés da novela dirigida por João Emanuel Carneiro, não se falava em outra coisa nas ruas, rodas de amigos e redes sociais. No dia 24 de julho, a novela bateu recorde de audiência. Tratava-se do capítulo em que a jovem desferia em Carminha (Adriana Esteves) um golpe aparentemente cabal, mostrando a ela uma casa infestada de fotos comprometedoras. A vingança borbulha como enxofre no caldeirão do diabo em pleno horário nobre da televisão brasileira. É mostrada de forma plástica também no cinema. Basta lembrar o banho de sangue provocado pela heroína do intenso Kill Bill, do diretor americano Quentin Tarantino, ou da fúria obsessiva de uma mulher rejeitada pelo amante em Atração Fatal. Obviamente não é somente nas páginas dos livros e em telas de cinema e TV que o desejo de se vingar de alguém surge. Quem nunca sonhou ou sucumbiu aos “prazeres” da desforra que atire a primeira pedra nos “mocinhos” judiados da ficção.
22
SALUTARIS • Comportamento
Paulo Tadeu decidiu atender a esse colérico nicho de mercado. O autor do Kit Vingança, um manual bemhumorado para os vingadores de plantão, acredita que o desejo por reparação pessoal seja universal. “Em toda cultura esse sentimento está presente. Em algumas delas, temos mais um ‘olho por olho, dente por dente’”,comenta. Mas o material, lançado pela editora Matrix, não teria muita serventia para Rita. O livro propõe extravasar sentimentos agressivos unicamente de forma engraçada, canalizando a raiva para algo positivo. E como todos sabem, não é propriamente isso que a mocinha da atração global procura. Mais que ter a megera na mão, Rita quer que a ex-madrasta experimente um pouco daquilo que foi vivenciado por ela. Tendo o Kit Vingança em mão, a personagem de Débora Falabella, no máximo, ia se divertir alfinetando um bonequinho de vudu que acompanha o livreto de 32 páginas que, possivelmente, seria apelidado de Carminha. Para Paulo Tadeu, o interesse por obras ficcionais que se sustentam por atos vingativos reflete naquilo que parte da sociedade pensa em relação à vingança, despindo-se de todo valor e juízo moral. “Não diria que ela seja legítima, porque se alguém for se vingar pode acabar pagando na Justiça. Mas é algo socialmente aceito sim. Tanto para a massa inflamada que lincha o assassino da criança, quanto para a mulher que risca o carro novo do marido traidor”, entende. A opinião é compartilhada pela psicóloga Raquel Cavalcanti. Para ela, em muitos casos, a mera sugestão do ato vingativo surte efeito e parte para uma sensação de saciedade ao ego ferido. Chamam atenção os casos patológicos, quando as consequências do desejo por justiça implicam riscos e danos muitas vezes irreparáveis. “O ato patológico da vingança é cometido por pessoas com estrutura emocional frágil. São pessoas que não permitem nenhum tipo de castração e frustração. Nesse caso, é necessário que o indivíduo tenha um acompanhamento psicológico e um psiquiátrico, porque é necessária inclusive a intervenção de
23
SALUTARIS • comportamento
medicamentos. Quadros psicóticos envolvem pessoas que, muitas vezes, podem oferecer riscos àqueles que as circundam e à sociedade”, detalha. Na opinião da psicóloga, Avenida Brasil conta a história de uma personagem que vive um processo autodestrutivo. “Na novela, há sim um caso patológico, pois a personagem principal coloca a própria vida em risco, abre mão da felicidade, da felicidade ao lado das pessoas que a amam, para fazer justiça. É uma vingança cega; não apenas uma explosão de ódio e reflexos de defesa”, expõe. natureza e cultura da desforra O professor do Departamento de Psicologia da UFMG, Orestes Diniz Neto, relembra uma frase de Confúcio que apresenta a vingança como um ato que resulta em perdas para as duas partes: “antes de embarcar em uma vingança, cave duas covas”. O professor explica que a psicologia entende a desforra como um fenômeno evolutivo da espécie humana. “Quando um animal te ataca, ele passa a significar algo perigoso e que vai fazer você retribuir o ataque. As espécies gregárias, como os primatas, têm esse tipo de comportamento. Então isso indica que
provavelmente esse seja um padrão muito antigo na história da nossa espécie”, detalha. Ao mesmo tempo em que pode ser entendida como um sentimento imbricado à natureza humana, a vingança tem um viés cultural. A desavença entre duas partes deságua em quatro caminhos possíveis, como detalha o docente: “o primeiro é exatamente a vingança, que é fazer com o outro o que o outro fez com você. Em nível grupal, esse sentimento pode desenvolver uma série de atos de represália que acabam tendo uma função de inibir o comportamento do eventual agressor ou de quem cometeu aquela ação com ou sem dolo. A segunda maneira é o famoso ‘esquecer’; a terceira é o ‘desculpar’ e a quarta, e última, é o perdão”. Segundo o professor, dos quatro processos, a vingança é a de maior impacto entre as partes. Ele ressalta que o ato vingativo não abre a possibilidade de reparação, mas “convida ao efeito repetitivo do padrão”. “O efeito que a vingança tem não é de parar. A ação tende a continuar. Gandhi disse que, se levássemos a lei de Talião a sério, nós iríamos acabar em um mundo de cegos e banguelos”, relembra.
Rede Globo/ Divulgação
Rita, vivida pela atriz Débora Falabella, leva o desejo de vingança até as últimas consequências em Avenida Brasil ..............................................................................................................................................................................................................................................................
24
ARTIGO • PSICOLOGIA
maria angélica falci Psicóloga clínica e especialista em Saúde Mental angelfalci@hotmail.com
Por que foges de mim? É importante entendermos a diferença entre ter ciúmes e ser possessivo. O ciúme é um sentimento muito singular na natureza humana. É uma tentativa de reter tudo aquilo que nos traz prazer e de ‘proteger’ o objeto amado. A atitude protetiva pode ocorrer em todas as esferas da vida. É natural uma mãe querer proteger seu filho de tudo aquilo que imagina fazer mal a ele; sentir ciúmes pontuais. Mas uma mãe que mantém seu filho numa criação “redoma”, com forte possessividade, fatalmente o conduzirá ao desenvolvimento do transtorno de dependência. Essa condição vai dificultar o trânsito do filho em todas as áreas da vida, pois geralmente o torna imaturo e com intensa dependência do outro.
dando um tiro no próprio pé e ainda perguntam: “por que foges de mim?”. Pessoas assim sentem que o outro pertence integralmente a elas e passam a ter uma confusão patológica no discernimento de espaço e da individualidade das pessoas. O ser humano está sempre em busca de satisfazer seu vazio, sua carência. Isso é a nossa existência, mas não podemos perder o discernimento de que o outro existe e de que seus desejos e as ambições próprias são fundamentais para a construção da autoestima. Pessoas que se anulam nos relacionamentos vivem fragmentadas em suas emoções e nos desejos, sofrem a angústia existencial e vivem num universo fantasioso de que um dia o outro vai mudar e preencher seu vazio. Mas se em algum dia acordar dessa passividade e romper a relação, o dominador dificilmente vai aceitar as mudanças. E infelizmente em muitos casos ocorrem atos extremos e de atrocidade desumana.
“O ciúme é um sentimento muito singular na natureza humana. É uma tentativa de reter tudo aquilo que nos traz prazer e ‘proteger’ o objeto amado”
Sucessivamente percebemos atitudes de ciúme “protetivo” ao nosso redor. O ciúme é considerado entre muitos casais como um tempero da relação. Há quem considere o sentimento uma expressão do gostar. Mas é evidente que todo tempero exagerado estraga o alimento. Assim também acontece nos relacionamentos. Quando um ciúme pontual cede espaço para um controle absoluto; quando uma pessoa passa a agir com o domínio constante da relação e coloca a outra parte numa submissão esmagadora, surgem diversos sintomas físicos e emocionais para ambos. Em resumo, os possessivos são pessoas que passam a ter fantasias constantes de traição, mesmo sem a outra parte dar razão para tal. Nutrem pensamentos ruminantes, persecutórios e fazem perguntas invasivas o tempo todo. Na tentativa de proteger a relação, acabam
O amor deve ser natural. Não força, não proíbe, não chantageia, não machuca, nem invade. A cumplicidade vem pela relação de confiança mútua. Muitos casais dão um show à parte e são exemplos para serem observados. Seja qual for a relação que expresse a possessividade, é importante que você reflita no íntimo: saiba que para haver real desenvolvimento é preciso ceder mediante as possibilidades, ter maturidade, trabalhar a insegurança e confiar em seus princípios. Reflita sobre suas atitudes e saiba que o AMOR vem sempre com a medida certa, sem exageros, possessões nem distorções.
25
Salutaris • SÁUDE
Radiação do bem A integração de uma nova tecnologia ao SUS pode auxiliar o tratamento de pessoas com câncer, demências e problemas cardíacos Bianca Nazaré Médicos de Belo Horizonte trabalham para integrar ao rol de procedimentos do Sistema Único de Saúde o exame que contribui para o tratamento de doentes de câncer, enfarto e demências. Disponível somente em hospitais privados, o aparelho diminuiria os gastos nos cuidados com essas doenças em hospitais públicos em longo prazo, mesmo tendo custo alto. Uma gama importante de pesquisadores da Faculdade de Medicina da UFMG analisa o custo-benefício da Bianca Nazaré
integração da Tomografia Por Emissão de Pósitrons (PET/CT) ao SUS. O PET (positron emission tomography) é um equipamento que utiliza a tomografia computadorizada da radiologia mesclada à tomografia por emissão de pósitrons da medicina nuclear. A união desses aparelhos permite a visualização de alterações metabólicas no organismo com muito mais precisão. Com o auxílio de medicamentos radioativos (radiofármacos), o aparelho é capaz de indicar a existência e a localização exata de tumores em fase inicial. O valor do exame de imagem PET/CT realizado em clínica particular varia de R$ 3 mil a R$ 4 mil. Esse exame pode ser feito em Belo Horizonte somente no laboratório Hermes Pardini, por R$ 3.816,00. Em maio de 2011, a Faculdade de Medicina da UFMG inaugurou o Centro de Imagem Molecular, integrado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT). O Centro é destinado prioritariamente à pesquisa na utilização do aparelho para a descoberta e o tratamento de doenças. São duas linhas de pesquisa: a ligada à área de neuropsiquiatria, que avalia alterações metabólicas no cérebro que podem indicar doenças, como o Alzheimer e outras demências, e a ligada à oncologia, que avalia casos de câncer de pulmão, linfático e colorretal.
Tomógrafo por emissão de pósitrons (PET/CT) revela imagens do organismo com a ajuda de medicamentos radioativos .........................................................................................................................
26
O foco da pesquisa é o estadiamento: um tipo de mapeamento da área corporal acometida pela doença. A imagem quase perfeita do estado da enfermidade, proporcionada pelo aparelho, influencia a elaboração do prognóstico médico – o plano de tratamento para o paciente. Isso, devido à revelação de alterações muito pequenas que a tomografia convencional,
Salutaris • SAÚDE
em determinados casos, não é capaz de mostrar. “A tomografia eventualmente não nos dá todas as informações. Acoplada a essa segunda informação (PET), a tomografia nos abre um leque de outras situações com relação ao paciente. Isso tem um impacto muito grande no tratamento”, defende o coordenador de pesquisa da unidade PET/CT da Faculdade de Medicina da UFMG, Marcelo Mamede.
não há mais necessidade. A opção terapêutica se altera em um momento inicial. Quando se utiliza a tomografia, o paciente pode ser submetido a uma cirurgia. Com a informação do PET, nós vemos que não tem mais sentido fazer essa intervenção. Por um lado, o procedimento reduz a morbidade. O paciente não precisa de cirurgia, se o tumor está bastante Fotos Bianca Nazaré
O aparelho possibilita inclusive a identificação de pequenas metástases – células cancerígenas espalhadas pelo corpo. Nos doentes de câncer, é possível avaliar antecipadamente se o paciente está respondendo ao tratamento químio ou radioterápico. Caso não haja efeitos positivos, a estratégia é modificada com rapidez. “Em determinados tipos de câncer, o PET consegue alterar a estratégia terapêutica em mais de 30% dos pacientes. É superimportante que saibamos a melhor opção para o paciente. Se nós fazemos uma estratégia baseada em determinada informação, teremos um desfecho. Se essa informação for incorreta e utilizarmos o sistema ineficaz, teremos outro impacto”. O aparelho de imagem custou US$ 2 milhões, segundo o coordenador do Centro de Imagem Molecular Marco Aurélio Romano-Silva. O PET/CT é importado dos Estados Unidos. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determinou que as operadoras de planos de saúde incluíssem nos pacotes mínimos o exame de imagem PET/CT. Desde junho de 2010, o exame é acessível a quem tem plano de saúde, mas a intenção desses pesquisadores é que o procedimento seja oferecido pelo SUS. Mamede afirma que um estudo de custoefetividade é realizado para indicar o quanto essa tecnologia custará aos hospitais públicos. Mesmo que o estudo esteja em fase de elaboração, o médico já afirma que haveria economia. Mamede certifica que uma quimioterapia não eficaz para um determinado paciente seria evitada, quando fosse constatada a ineficiência do tratamento pelo exame PET/CT. “No manejo do paciente, nós diminuímos procedimentos mais invasivos, porque vemos que
Computador mostra imagens do radiofármaco em ação nas áreas do organismo alteradas .........................................................................................................................
27
SALUTARIS • sAÚDE
avançado. Então direcionamos o paciente para outro tratamento”. Mamede explica que os procedimentos invasivos de grande porte demandam um período longo de internação e custos altos com enfermagem, centros cirúrgicos e terapia intensiva. “Tudo isso está englobado na economia que teríamos, porque não haveria benefício para o paciente. Não é que o paciente não mereça; é diferente. Estudos demonstraram que pacientes com determinada estadia não têm necessidade de fazer intervenção agressiva, porque não ajudaria nada. A situação está é piorando a qualidade de vida dele”. O Centro de Imagem Molecular tem mais dois projetos de pesquisa utilizando o PET/CT. Um vai avaliar intervenções em pacientes com enfarto do miocárdio; outro vai estudar pacientes com esquizofrenia refratária, que são pessoas resistentes à medicação. O problema causa muito sofrimento à família e ao paciente. A pesquisa contribui para a orientação de casos curáveis com a neurocirurgia. como funciona
são registrados pelo PET/CT. A cada hora a atividade radioativa do radiofármaco cai pela metade. Por isso, não há ameaça para a saúde humana. Por terem vida curta, os radiofármacos são fabricados próximo de onde é realizado o exame de imagem. Em Minas Gerais, o único local com permissão para a fabricação do medicamento é o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), subordinado à Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. O CDTN ocupa o campus da UFMG, na Pampulha. O local foi inaugurado em 2008, e sua construção teve um custo de R$ 12 milhões.
“O PET/CT pode alterar a estratégia terapêutica em mais de 30% dos pacientes”
O primeiro radiofármaco a ser produzido foi o 18FDG, usado para a localização e o diagnóstico precoce de tumores, a avaliação da eficiência do tratamento e a estimativa do tratamento contra o câncer. O composto também é utilizado na neurologia para a localização de distúrbios cerebrais degenerativos e epiléticos e na cardiologia. Como o radiofármaco interage diretamente no metabolismo alterado de doenças específicas, o 18FDG apresenta algumas limitações no diagnóstico de
O exame PET/CT funciona com Dr. Marcelo Mamede a utilização de medicamentos radioativos que marcam a área do organismo metabolicamente alterada, indicam outras enfermidades. a presença de tumores, demências ou problemas Para suprir essa deficiência, o CDTN desenvolve cardíacos. O paciente recebe o medicamento outros medicamentos, como o 18F-Colina, para a intravenoso e aguarda em uma sala escura até que constatação de câncer de próstata e tumores cerebrais o remédio espalhe pelo corpo. Logo ele é levado e o 18F-Fluorotimidina (FLT) para a indicação de para a sala de exame. Pelo computador, os médicos tumores hepáticos. Outro projeto é a fabricação visualizam o escaneamento que o aparelho PET/ do Carbono 11, específico para a marcação do mal CT faz no corpo do paciente. A alteração é marcada de Alzheimer, e o 11C-raclopride, para o mal de pelo radiofármaco que age nas áreas com atividade metabólica anormal. Parkinson. Mamede afirma que não há previsão de conclusão dos estudos da Faculdade de Medicina. O O radiofármaco é um composto de pósitrons médico ressalta que ainda não há discussão no SUS (elétrons positivos) de meia-vida curta. A anulação sobre a integração do exame PET/CT ao sistema. O de pósitrons com elétrons cria fótons (raios gama) que jeito é aguardar a finalização dos estudos e torcer.
28
Artigo • meteorologia
Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo Professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com
De onde vem o frio que chega a Minas Gerais? No dia a dia faço as previsões do tempo e percebo muita gente fazendo confusão sobre a origem do frio que atinge o estado. Muitos perguntam se é proveniente de frentes frias ou de massas de ar polar que chegam a Minas. Então vamos entender esses dois sistemas meteorológicos que, obviamente, são distintos.
outono e inverno, a massa de ar atua com maior intensidade. Quando uma massa polar chega ao Brasil, quer dizer que ela se formou próxima do Polo Sul, passou pelo oceano Pacífico, pelo sul do Chile e pela Argentina. As massas de ar polar são frias e secas. O céu claro predomina no interior das massas de ar polares, e a perda de radiação à noite facilita a formação de nevoeiros e geadas.
“Muitos perguntam se esse tempo frio do outono é proveniente de frentes frias ou de massas de ar polar que chegam a Minas”
As massas de ar são grandes volumes de ar que apresentam características específicas de temperatura e umidade. Se uma massa de ar se forma numa região tropical, a tendência é que ela seja quente e úmida ou seca. Se ela se forma em regiões polares, normalmente apresenta temperaturas baixas e ar seco. A principal massa de ar que atua em Minas Gerais é a Tropical Marítima, que se localiza entre o Brasil e a África. A circulação geral da atmosfera é o fator responsável por sua formação.
A massa de ar Tropical Marítima é quente e úmida nos baixos níveis da atmosfera. Sua influência é maior nas regiões norte, nordeste e leste de Minas Gerais. Devido à grande quantidade de energia solar que chega até a superfície da Terra durante a primavera e o verão no Hemisfério Sul, a emissão de calor pela Terra acaba enfraquecendo a massa de ar no interior do continente. No período de
Quando uma massa de ar polar chega ao Brasil, ela se encontra com a massa de ar quente Tropical Marítima. A região que separa essas duas massas de ar polar é que chamamos de frente fria. Portanto, essa é uma região de transição entre duas massas de ar com características diferentes. Normalmente ocorrem chuvas fortes com raios durante a passagem das frentes frias e, na retaguarda, ocorrem chuvas de fraca intensidade e queda da temperatura do ar. Portanto, quando dizemos que está chegando uma frente fria, o que queremos dizer é que vêm mudanças no tempo, na direção dos ventos e teremos formação de chuvas. Já a queda de temperatura do ar, quem a provoca são as massas de ar polar.
29
SALUTARIS • receita
Rigatone a la Satore INGREDIENTES: 400 g de rigatone 1 kg de tomates maduros 200 g de linguiça calabresa
200 g de shitake 80 ml de azeite 1 cebola Alho Basílico Sal Queijo parmesão MODO DE PREPARO: Coloque a cebola ralada e o alho picado em uma frigideira e deixe dourar. Junte a polpa de tomate e deixe cozinhar. Coloque um pouco de azeite, junte o shitake e a linguiça picados em outra panela e deixe cozinhar por 5 minutos. Cozinhe a massa al dente. Acrescente ao molho o basílico e o queijo ralado a gosto. Coloque o azeite e a cebola ralada em uma frigideira e deixe dourar. Acrescente o funcho picadinho e deixe uns 5 minutos. Coloque o queijo gorgonzola picado e mexa. Acrescente as nozes picadas. Junte o creme de leite e o rigatone cozido al dente e sirva com queijo parmesão a gosto.
Satore/ Divulgação
30
Fonte: Satore
SALUTARIS • vinhos
Os destilados de uva Danilo Schirmer Habituados a associar as uvas ao vinho, muitas vezes nos esquecemos que existem outros tipos de bebidas elaboradas a partir dessa fruta mágica. Os destilados de uva têm uma graduação alcoólica mais elevada. As bebidas são sugeridas como aperitivo e digestivo e, neste tempo mais frio, ideais para um bom papo, um bom livro e um bom charuto (para os adeptos). Alguns exemplos de destilados de uva são conhaque, armanhaque, brandy, orujo, grappa, bagaceira, áraque e pisco. França, Espanha, Itália, Portugal, Líbano, Chile, Peru e, é claro, Brasil são países que se destacam na elaboração dessas bebidas. Geralmente os destilados de uva têm graduação alcoólica entre 37,5% e 60%. No caso do áraque, a graduação pode chegar a 80%.
• Grappa di Prosecco; • Grappa Gourmet Chardonnay Spray; • Brandy XX anos; • Brandy XV anos. Vale a pena conhecer melhor essas bebidas espirituosas. A atmosfera que as envolve e suas características nos fazem viajar a várias culturas e alcançar um prazer indescritível. Portanto, uma boa viagem e um brinde à vida! Stock.xchng
De forma geral, o processo de elaboração dessas bebidas pode ocorrer das seguintes maneiras: • Conhaque / Brandy: destilação de vinho de qualidade; • Armanhaque: destilação de vinho de qualidade baixa; • Grappa / Orujo / Bagaceira: destilação do bagaço da uva (peles, cascas, caules e sementes); •Áraque: destilação da uva, geralmente aromatizada com anis; • Pisco: destilação do mosto da uva. No Brasil existem algumas vinícolas que elaboram brandys e grappas. O destaque vai para a Casa Valduga, que tem a principal destilaria da região. A vinícola tem uma linha extensa e produtos exclusivos. A apresentação dos produtos, com embalagens e rótulos que seguem o conceito “gift”, é marca registrada, além do habitual padrão de qualidade a que a vinícola se propõe. Abaixo seguem as minhas sugestões: • Grappa Excelence Cabernet Sauvignon (envelhecida); • Grappa Excelence Chardonnay;
31
Vanguarda • aviação
Fotos: Aero Bravo/ Divulgação
Altos voos Demanda por aviões leves cresce, mas fabricantes se queixam da morosidade de órgãos públicos André Martins Quando criança, Fábio Homem de Carvalho Filho costumava envolver os braços em grandes folhas de bananeira e, da copa das árvores do quintal de casa, lançava-se no ar com a coragem de um pássaro jovem. A exemplo do visionário Santos Dumont, criador do frágil 14 Bis e pai da aviação brasileira, o desejo de voar sempre “perseguiu” o empresário. Experiente no ramo aeronáutico há mais de 20 anos, em 1993, Fábio Homem começou a fazer da Região Metropolitana de Belo Horizonte um polo de produção de aviões de pequeno porte. A Aero Bravo é a única empresa do estado a produzir aviões leves. Ela integra
32
ainda o seleto grupo de sete companhias autorizadas a fabricar aeronaves da categoria LSA (Light-sport Aircraft) – o antigo ultraleve – em território nacional, segundo dados da Associação Brasileira de Pilotos de Ultraleves. Inicialmente a empresa funcionava em um galpão na cidade de Contagem. Em 1996, transferiu-se para o Aeroporto Carlos Prates, em Belo Horizonte. Àquela época, os aviões eram apenas montados no galpão da empresa. Os kits de ultraleves avançados até então vinham dos Estados Unidos. Atualmente os cerca de 30 funcionários da empresa produzem cinco diferentes
Vanguarda • aviação
aeronaves. São dois modelos totalmente fabricados no Brasil, o Amazon e o Bravo 700 – campeões de venda da empresa –; dois modelos franceses, o Ninja e o Sky Ranger, e a novidade da Aero Bravo, o italiano Savannah. A meta para 2012 é fabricar 40 aeronaves. O aumento da produção ajudaria a reduzir a fila de espera que hoje é de 20 compradores, de acordo com o diretor comercial da empresa, Hugo Silveira. Quem decide levar um dos aviões da empresa para casa é forçado a aguardar de seis a sete meses. Existem sondagens de interessados em importar as máquinas. Entretanto, a demanda da empresa é quase que exclusivamente interna. O grande atrativo da aviação leve é a praticidade. A categoria LSA conta com aviões de operação simples. Além disso, são rápidos e seguros. Há todo um conjunto de normas a serem seguidas para que as máquinas sejam enquadradas na categoria: dois passageiros, no máximo, incluindo o piloto, peso de decolagem entre 600 kg e 650 kg, dentre outras recomendações.
O Amazon é o modelo top de linha da Aero Bravo .........................................................................................................................
O boom na aviação leve do Brasil começou nos anos 2000. A razão para a expansão vai além do crescimento econômico por que passa o país. De acordo com Fábio Homem, uma junção de fatores fez com que a procura por esse tipo de transporte crescesse nos últimos anos. “O Brasil é um país de dimensões continentais. Aqui nossas estradas são precárias e não temos um transporte ferroviário como o da Europa. Se você produz um avião de baixo custo de aquisição e de manutenção, todos vão desejar ter um”.
“Outro diferencial das nossas máquinas é que elas têm a característica de pousar muito curto, o que facilita o acesso à maioria de pistas, em fazendas, pequenos lugares e aeroportos”, explica Silveira.
Bravo contribuem para isso. Os equipamentos são feitos em alumínio aeronáutico e aço de cromomolibdênio. Ao contrário das peças em fibra ou tecido, as que levam esse tipo de material exigem reparos não muito complexos.
O custo-benefício pode animar. Um modelo mais simples de aeronave LSA custa, em média, R$ 120 mil. Com apenas R$ 10 mil é possível aprender a pilotar. A velocidade de cruzeiro das máquinas varia de 150 km/h a 200 km/h. O percurso Belo Horizonte – Rio de Janeiro, por exemplo, pode ser feito em 2 horas e meia. Tanques cheios garantem uma viagem ininterrupta de 5 a 7 horas. A manutenção segue a tendência: é barata e simples. O material utilizado na elaboração dos aviões da Aero
33
Vanguarda • aviação
Aero Bravo/ Divulgação
mais emperra o processo e impede o crescimento da indústria aeronáutica nacional. “Quando um avião nosso fica pronto, por exemplo, é preciso elaborar um laudo de vistoria final para que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) nos entregue a documentação para que a aeronave possa voar. O problema é que a Agência burocratizou o processo. É preciso tirar fotografias em vários ângulos do avião, e uma delas tem de incluir o engenheiro aeronáutico responsável junto da aeronave. Temos que avisar à Anac com dez dias de antecedência que esse laudo vai ser feito. A Anac pode, a critério próprio, designar ou não um inspetor para acompanhar o processo. E se tivermos três aviões prontos, a inspeção não pode ocorrer no mesmo dia”, lamenta o proprietário da empresa.
Sistema operacional simples e conforto são priorizados nos aviões de pequeno porte ........................................................................................................................
Queixas Apesar da dificuldade de encontrar mão de obra qualificada, fator que pesa desfavoravelmente à produção, é a burocracia dos órgãos federais que
34
Silveira acredita que mais que as regras, o tempo de espera é o que mais desestimula as empresas produtoras. A título de ilustração, a Aero Bravo espera há mais de cinco anos a Anac liberar a ampliação do hangar da empresa. Até hoje o pedido permanece sem resposta. A falta de dinâmica da indústria tende a se refletir na entrada da “sucata” americana no território nacional. Além de não ser nada interessante para a economia, isso representa o risco do aumento acentuado do número de acidentes envolvendo máquinas da aviação homologadas.
Artigo • IMOBILIÁRIO
kÊNIO DE SOUZA PEREIRA Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br
Pague impostos com 50% de “desconto”
É notória a enorme carga tributária no país. Por aqui, muitas empresas e pessoas não conseguem honrar seus compromissos. Por outro lado, o maior réu do Brasil em processos judiciais é justamente a unidade da federação. Ao ser condenado a pagar indenizações ou créditos aos contribuintes, o estado dificulta o pagamento com a emissão de precatórios. Lamentavelmente os precatórios são considerados uma “moeda podre”, porque o governo, infelizmente, é péssimo pagador. Então os precatórios são desvalorizados em torno de 50% diante da dificuldade do credor de receber seu valor exato. No meu entendimento, não existe “moeda podre”, mas governantes “podres” que ignoram princípios, como honestidade e respeito. Num país sério seria impensável um governo (que deveria defender os cidadãos) emitir uma moeda que ele mesmo luta para não aceitar. Chega a ser algo desumano.
por essa solução.
A compensação tributária prevista no artigo 156 do Código Tributário Nacional (CTN) é instrumento de suma importância para a manutenção ou a recuperação da saúde fiscal das sociedades empresariais, diante da alta carga tributária. As Leis nºs 10.637/02 e 9.430/96 permitem a compensação de débitos próprios relativos a quaisquer tributos e contribuições.
“Num país sério seria impensável um governo (que deveria defender os cidadãos) emitir uma moeda que ele mesmo luta para não aceitar “
Todavia, há como um contribuinte pagar seus impostos com a mesma moeda que o governo emite, ou seja, com um precatório. A opção resulta num desconto de 50%. É uma ótima saída, mas exige muito conhecimento e cuidado para que o contribuinte não tenha prejuízos com a compra de precatórios imprestáveis. O contribuinte deve se precaver com uma boa assessoria jurídica, caso opte
O artigo 170 do CTN cuida da compensação de créditos tributários com créditos de qualquer natureza do sujeito passivo com a Fazenda Pública. Não há, portanto, necessidade de o crédito do contribuinte ser desta ou daquela espécie. Basta apenas haver a liquidez e a certeza para conferir o direito à compensação. Quaisquer créditos, como os decorrentes de contratos com os Poderes Públicos e os provenientes de precatórios, títulos da dívida pública ou de desapropriação, podem ser opostos aos débitos tributários favoráveis às Fazendas Públicas. Para a empresa obter um precatório confiável e adequado, é necessário contratar um profissional que domine a matéria para utilizar as várias possibilidades de créditos, dentro das limitações impostas pela legislação, e assim obter a regularidade financeira.
35
podium • ESPORTE
Sem sair do lugar Alaor Filho/ AGIF/ COB
Medalhista de ouro em Pequim, Cesar Cielo foi surpreendido na final dos 50 livre e acabou com um bronze desbotado ..............................................................................................................................................................................................................................................................
Mesmo com uma das maiores delegações da história e investimento recorde, o esporte de alto rendimento brasileiro não evolui. Em Londres, o desempenho foi similar ao de Pequim Thiago Madureira Enquanto eram entoadas as primeiras partituras do hino nacional brasileiro, paralelamente, no alto do pódio, escorriam lágrimas pelo rosto emocionado dos vencedores. A cena descrita, quase protocolar nos Jogos Olímpicos, foi vista apenas três vezes em Londres - não por falta de choro -, com a judoca Sarah Menezes, o ginasta Arthur Zanetti e a equipe feminina de vôlei. Mesmo com uma das maiores delegações da história 258 atletas - e investimento recorde - aumento de 44%
36
em comparação com o quadriênio anterior nos repasses da Lei Agnelo Piva: principal verba de financiamento do esporte, o Brasil alcançou desempenho similar ao da última edição das olimpíadas. Além das três medalhas de ouro, o país conquistou cinco de prata e nove de bronze. Foram dois pódios a mais e uma posição acima (22ª) em relação a Pequim, em 2008. A despeito da estagnação, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) se diz satisfeito. Em entrevista em Londres, o presidente da entidade, Carlos Arthur Nuzman, e
podium • ESPORTE
Valterci Santos/ AGIF/ COB
o superintendente técnico, Marcus Vinícius Freire, consideraram os resultados dentro da expectativa. “É o que esperávamos. Nós tínhamos previsto em torno de 15 medalhas”, disse Freire. A campanha poderia ter sido melhor, não fosse o desempenho decepcionante em modalidades em que tradicionalmente se encontrava porto seguro. Considerado o mais nobre dos esportes, o atletismo, que voltou de Londres sem pódio, teve seu pior rendimento desde os Jogos de Barcelona, em 1992. Fabiana Murer e Maurren Maggi, atletas em quem havia maior esperança, não conseguiram chegar às finais. Outro esporte com que mais se ambicionava era a natação, que logrou duas medalhas – a prata nos 400 metros medley, com Thiago Pereira, e o bronze nos 50 metros livre, com Cesar Cielo. “Temos que avaliar as possibilidades concretas dos nadadores. O Thiago Pereira e o Bruno Fratus estiveram bem. Não houve necessariamente uma regressão em Londres. O que ocorreu foi o terceiro lugar do Cielo, que não estava nos planos”, avalia o australiano e técnico de natação do Minas Tênis Clube, Scott Volkers, que comandou a equipe de seu país em três olimpíadas. O desafio, porém, é o resgate da natação feminina, que não obteve nenhuma final olímpica. Para Scott, falta competitividade. “As principais atletas estão em uma zona de conforto. Não há adversárias para batê-las, e elas estão satisfeitas com resultados medianos em grandes eventos”. Enquanto isso, revelações em todos os continentes estão despontando cada vez mais cedo, exemplo da lituana Ruta Meilutyte, de 15 anos, medalhista de ouro nos 100 metros peito, da chinesa Shiwen Ye, de 16 anos, bicampeã nos 200 e 400 metros medley, e da norte-americana Missy Franklin, vencedora de três ouros e um bronze. “Elas começaram ainda no início da infância e mantiveram um ritmo de treinamento pesado. Essa é uma receita que tem que ser seguida por aqui”, frisa. Para que a natação retome a raia do sucesso, em
Arthur Zanetti desbancou o favorito Yibing Chen e ficou com o ouro nas argolas .........................................................................................................................
2016, Scott considera imprescindível um calendário mais sólido. “Sinto falta de mais competições no Brasil. São fundamentais para o incentivo e a revelação de atletas. Com mais eventos, seria possível preparar melhor para grandes torneios, como o Mundial e a Olimpíada”, destaca. destaque Londres também reservou agradáveis surpresas para o Brasil. Talvez a maior delas tenha sido a conquista do ouro com Arthur Zanetti, primeiro medalhista da ginástica da história da América Latina. Zanetti realizou uma exibição quase perfeita nas argolas e, quando terminou o exercício, comemorou efusivamente com o técnico, na expectativa de uma possível nota que
37
podium • ESPORTE
lhe garantisse um lugar no pódio. Mas o que nem ele mesmo imaginava é que a pontuação havia superado a do então campeão, o chinês Yibing Chen, garantindo a conquista olímpica.
era premiada em torneios de base. Além de tudo, fez uma brilhante competição. Na final, ganhou com autoridade da romena Alina Dumitru, campeã olímpica em Pequim”, avalia.
Considerada uma das potências do esporte brasileiro, o judô não decepcionou. Nessa edição, quatro atletas foram laureados: Sarah Menezes (ouro), Felipe Kitadai, Rafael Silva e Mayra Aguiar (bronze). Com o resultado, o judô se tornou, ao lado do vôlei, o maior medalhista do Brasil em olimpíadas, com 19 medalhas.
Não fossem as eliminações inesperadas dos favoritos Leandro Guilheiro e Tiago Camilo, o judô poderia sair de Londres ainda mais coroado. “O Leandro Guilheiro é um craque. Eu acreditava que ele seguramente entraria para lutar pelo ouro. Mas o norte-americano Travis Stevens acabou aproveitando algumas falhas que ele cometeu”, diz. “Já o Tiago Camilo estava muito bem. Porém, foi derrotado em disputas que poderia claramente ter vencido”.
Desde 1984, em todos os jogos olímpicos, pelo menos um judoca brasileiro sobe ao pódio. Aurélio Miguel, primeiro medalhista de ouro do judô brasileiro - nos Jogos de Seul - justifica o sucesso pelo bom trabalho realizado pela Confederação Brasileira de Judô (CBJ). “O investimento está sendo bem feito. Existe todo um respaldo aos atletas, com nutricionistas, psicólogos, estrategistas e técnicos qualificados”, exalta. Para Aurélio Miguel, recém-chegado da capital inglesa onde acompanhou as lutas, o ouro inédito no judô feminino não foi surpresa. “A Sarah Menezes Alaor Filho/ AGIF/ COB
O vôlei, segundo esporte em popularidade no Brasil, também não frustrou as expectativas. No masculino, a seleção comandada por Bernardinho conseguiu chegar à final. Na decisão contra os russos, após vencer os dois primeiros sets, sofreu uma virada histórica e teve de se contentar com a prata. Por sua vez, a equipe feminina fez uma primeira fase instável, acumulando derrotas para a Coreia do Sul e os Estados Unidos. Passado o momento oscilante, bateu as russas - em grande partida, as japonesas e, por fim, as norte-americanas na final. Com a conquista, as meninas igualaram à União Soviética e Cuba, únicas vencedoras de dois torneios olímpicos. Na praia, Alison e Emanuel fizeram campanha irreparável até a derrota dramática na final para os alemães Brinck e Reckerman. No feminino, Juliana e Larissa perderam a semifinal para as americanas April Ross e Jennifer Kessy, mas venceram a disputa pelo bronze. Com uma medalha de prata - Esquiva Falcão, na categoria até 75 kg - e duas de bronze Yamaguchi Falcão, na categoria até 81 kg, e Adriana Araújo, até 60 kg - o boxe brasileiro ressurgiu. As conquistas quebraram um jejum de 44 anos, desde o bronze de Servílio de Oliveira, na Cidade do México.
A piauiense Sarah Menezes comemora a medalha de ouro conquistada diante da romena Alina Dumitru .........................................................................................................................
Mesmo com apenas 22 anos, Esquiva teve personalidade e venceu com certa facilidade seus
xxxxxxx
38
podium • ESPORTE
adversários – chegou ao ponto de quase nocautear o britânico Anthony Ogogo, na semifinal. O revés na decisão para o japonês Ryota Murata, por diferença de apenas um ponto, foi polêmico e gerou ostensiva reclamação do técnico da seleção brasileira.
Valterci Santos/ AGIF/ COB
O irmão mais velho de Esquiva, Yamaguchi, de 24 anos, alcançou desempenho irrepreensível até enfrentar, na semifinal, o russo Egor Mekhontcev, que dominou inteiramente a luta e venceu por larga diferença de pontos. Já a conquista da baiana Adriana Araújo pode ser classificada como heroica. Sem tradição nem apoio financeiro suficientes, o boxe feminino brasileiro nunca aspirou a resultados grandiosos. O caso de Adriana é considerado um fenômeno isolado, atingido muito mais por qualidade e empenho da atleta do que por respaldo da entidade responsável pelo esporte.
Na primeira participação do boxe feminino em Olimpíadas, Adriana Araújo conquistou um bronze para o Brasil .........................................................................................................................
Falta organização política ao esporte brasileiro Uma das principais limitações para o desenvolvimento do esporte no país é a ausência de uma diretriz. O jornalista José Cruz, que há 12 anos acompanha de perto os assuntos relacionados com a legislação e gestão administrativa do dinheiro público investido no esporte, acredita que falte às entidades esportivas atuar de forma integrada. No entanto, no panorama atual, o que se vê é uma “desordem institucional”. “O Ministério do Esporte deveria agir como órgão centralizador dos recursos públicos para o melhor aproveitamento do dinheiro. Ocorre que a pasta não tem estrutura para tal, porque se trata de um órgão político. Alguns dos principais cargos da pasta são ocupados por pessoas sem capacitação para a gestão do esporte. Resultado: sem estrutura nem política, o ministério não dá a diretriz ao esporte e às entidades contempladas com os recursos públicos. Cada uma faz a própria programação. Então a “desordem” contribui para a falta de renovação de atletas e o desempenho fraco nos eventos internacionais, como os Jogos Olímpicos”, explica. Para Cruz, o ideal é implantar uma política de estado que envolva os ministérios afins e que tenha continuidade, independentemente do partido que assuma a Presidência da República. Outro passo importante é pensar no esporte relacionado umbilicalmente com a educação. “Temos 33 milhões de estudantes, e não conquistamos sequer uma medalha no atletismo. Veja o caso de Cuba e Estados Unidos, potências esportivas: são dois países de extremos em termos territoriais, culturais, econômicos e ideológicos. No entanto, ambos têm algo em comum: o esporte começa na escola”, diz. “Lá é o ponto de partida. Primeiro, porque a atividade física regular contribui para o melhoramento do aprendizado. Segundo, porque os professores identificam quem tem potencial para uma ou outra modalidade. Não que a escola seja local de formação de atletas, mas a reunião desse contingente é propícia para identificar talentos. Isso é elementar para ser discutido em pleno século 21, mas demonstra como estamos atrasados em termos de políticas de esporte”.
39
KULTUR • Série Retrô
Vida em preto e branco Bilhões de fotografias circulam na velocidade da luz como se representassem momentos antigos. São os reflexos das mudanças de uma sociedade que vive em plena ditadura da imagem Fernanda Carvalho Stock.xchng
Todos estavam no jantar de negócios para fechar uma enorme parceria com uma multinacional. Com apenas um clique do dedo indicador na tela, tempo e espaço estariam congelados para sempre no iPhone do diretor da empresa. Depois de apenas um minuto, a imagem estava materializada diante de toda a população global. Mas o que todos veriam não seria uma fotografia moderna como mandam os tempos em que foi tirada, e sim uma imagem envelhecida como se tivesse sido registrada há décadas. As fotos são cortadas no formato da antiga e charmosa Polaroid. Efeitos que imitam as imagens da época em que não existia o digital podem ser acoplados, dando um ar retrô a qualquer fotografia do dia a dia. Há menos de dois anos, o aplicativo foi colocado no mercado. Hoje engloba 80 milhões de usuários. Logo que foi lançado apenas para iPhone, em outubro de 2010, o Instagram começou a fazer sucesso.
Os modelos das máqu inas Polaroid foram gra mente dualsti dos pelas câmera ...............sub ..........tuí s digitais ........................................ .........................
Stock.xchng
A analista de exportação da Toshiba, Paula Gabriele, utiliza o aplicativo há quatro meses em todas as fotos que publica na internet. “Gosto desses efeitos, porque dão glamour e destacam detalhes que poderiam passar despercebidos em um emaranhado de cores. O que há de interessante é o ar vintage, a busca pelo antigo que está cada vez mais em vigor”, analisa. Antes do Instagram, Paula raramente fazia uso de programas de edição de imagens, devido à falta de praticidade. Atualmente ela ainda complementa as fotos com os efeitos do Line Camera e do PhotoShake. Para além do enorme grupo de cidadãos apaixonados por cliques, alguns profissionais opinam contra esses efeitos. O fotógrafo e matemático Elmo Alves considera que esses filtros são utilizados, porque muitas vezes as pessoas não conseguem um resultado satisfatório com a câmera digital. “Elas tentam, a partir desse recurso, fazer a foto ficar interessante. É um modo de tentar ‘salvar’ a foto ruim”. Para ele, em vez de diversificar as imagens, o recurso padroniza. “Eu sempre sei quando a foto é do Instagram. O que eu
As máquinas Polaroid revelavam a fotografia enapós a captura da imagem tre um e dois minutos ..........................................................................................
vejo é o pessoal tentando ser diferente com coisas iguais, e a máquina dominando o processo, porque o cara não tem mais autonomia; não tem mais domínio da coisa. Algo que me chateia é ver quem sabe fotografar cair nessa mesma tendência e achar o máximo”, critica. De acordo com o filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser (19201991), quem fotografa é, de fato, um “funcionário” que não compreende o que acontece no interior da câmera e limita-se a seguir os modos de usar. “Por isso, a máquina é uma ‘caixa preta’”. Flusser é autor do livro Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia, publicado em 1985, no Brasil. “Em vez dessa relação de subordinação, o fotógrafo deve criar estratégias que modifiquem o programa estabelecido pelos programadores do aparelho fotográfico”, explica a mestre em filosofia pela UFMG, Maria Teresa Campos.
Embora sejam rob zem o charme do ustas, as câmeras antigas trassa e continuam ............ ....................pa ............do eis ............................út ..................
Fotos: Fernanda Carvalho
Desde a criação do Instagram, foram publicados mais de 4 bilhões de fotos no Facebook, segundo dados divulgados pelo próprio aplicativo. É possível que esse tenha sido o número de fotografias existentes no mundo antes do surgimento do digital, mesmo depois de algumas décadas de câmeras analógicas no mercado. Isso, porque todo o processo da fotografia foi alterado. Quando as fotos eram capturadas com a utilização de máquinas analógicas, o procedimento era mais pensado. Segundo o fotógrafo, pedagogo e psicólogo clínico Claudio Feijó, antes a pessoa criava um objeto e demorava horas para fazer um efeito. “Era uma coisa que tinha que fazer; um processo longo de experiência. Quando a fotografia era colocada na parede, era uma ‘criança’ que tinha sido gerada. Agora o efeito é colocado em três segundos. Isso não traz a experiência. Estamos criando um imediatismo que eu vejo até nas relações. Tudo é muito descartável”, pondera.
uinas itas com máq s fotografias fe lvente.......... envo Para Elmo, as mais pensadas....e.... .... ............ icas eram............................ analóg ............................
Elmo Alves concorda. Para ele, a diferença está no prazer de estar mais envolvido com o processo da fotografia. “Eu utilizo o analógico e o digital e eu mesmo revelo os filmes. Mas mesmo quando eu entregava para o laboratório, a foto era mais pensada e o clique, mais demorado. A digital, sem dúvidas, é de uma praticidade violenta e ajuda a fotografia a ter uma qualidade difícil de ser atingida com filme. Mas não é uma coisa que me envolve tanto”, conta. Tecnologia e qualidade, porém, não são conceitos que andam necessariamente juntos. “Se qualidade for compreendida no sentido artístico, seguindo o pensamento flusseriano, não podemos dizer que a tecnologia influencia na qualidade de uma foto”, afirma a mestre em filosofia. Segundo ela, para ser considerada artística, a fotografia
O fotógrafo guarda verdadeiras relíquias, máqui nas e acessórios que integram a coleção ........................................................................................ ..
KULTUR • série retrô
deve derivar de um jogo criativo contra o programa e o automatismo da estrutura fotográfica. O fotógrafo e matemático busca esse jogo criativo. Pelo menos dez câmeras dentre as cerca de 300 da coleção de Elmo Alves são feitas por ele mesmo. São máquinas fotográficas de madeira em perfeito funcionamento. Atualmente ele apenas desenha o modelo e passa para o marceneiro que ele ensinou a fazer. Além disso, o fotógrafo faz reparos nas próprias câmeras e adapta tudo de acordo com o que precisa. Em um escritório da casa da mãe, Elmo guarda a maior parte das câmeras da coleção. A primeira foi uma Kodak Instamatic 11, máquina herdada da Fernanda Carvalho
família em 1975, quando ele tinha 6 anos. De lá para cá, várias câmeras se juntaram à coleção. Em 1991, Elmo ganhou o primeiro dinheiro em um trabalho da área. “O mais difícil é enfrentar um mercado que está prostituído. Você vai vender um serviço, e a pessoa diz que conseguiu mais barato em outro lugar. Os fotógrafos que nunca ganharam muito começam a cair o preço por causa dessa popularização do digital. Mas quem consegue fazer algo de qualidade tem um público diferenciado”. No conto A aventura de um fotógrafo, de Ítalo Calvino, o personagem Antonino fotografa tanto que não consegue mais, de fato, fotografar. Isso, segundo Claudio Feijó, porque se pressupõe na fotografia que quem aciona a câmera tem que, dentro do menor tempo possível e de um espaço limitado, guardar um momento. É um cruzamento da linha do tempo com a do espaço. “Com essas quantidades enormes de fotos, as pessoas acabam ficando completamente sem critérios”, critica. O grande problema da foto digital, de acordo com Claudio, é a edição acontecer na hora em que se fotografou. Segundo ele, é importante haver um distanciamento da foto, para que se impacte com a própria produção. “Mas a foto digital não é tão diferente em relação à analógica. Quando veio a digital, disseram que todos poderiam ser fotógrafos. Mas não é porque uma pessoa tem uma caneta que ela pode ser poetiza. Também não é porque tem câmera que pode ter uma qualidade visual. Nós podemos ter essa pureza infantil ao fotografar, mas esse engessamento vai podando o núcleo criativo. Procuramos ser aceitos, ser amados pela nossa produção, pela fala, e isso compromete o processo criativo; ficamos escravos da própria imagem e viramos narcisões, que é a bola da vez: todo mundo só se olha; não percebe o outro. ‘Farinha pouca, meu pirão primeiro’. Traduzindo para o jeito do mineiro, fica mais ou menos assim: ‘leite pouco, meu queijo primeiro’”, interpreta. Realidade criada O filósofo Vilém Flusser apontou a imagem técnica e o código digital como os geradores de um período
42
Fotos: Luiza Villarroel
civilizatório denominado por ele “pós-história”. “A fotografia se insere nesse contexto, pois é uma imagem técnica que se difunde em velocidade crescente”, explica Maria Teresa Campos. Segundo a mestre em filosofia, a consequência da progressiva substituição do texto pela imagem é uma radical modificação da cultura, no entender de Flusser. Assim como a escrita mudou profundamente a vida humana, o mesmo está acontecendo com a imagem. A imagem seduz e é menos manipulada que o texto. É isso o que muitos afirmam. Mas, de acordo com Claudio Feijó, não passa de ilusão. “É uma bobagem muito grande, porque ninguém consegue olhar uma imagem sem criar um texto mental. Assim como ninguém lê um texto sem criar uma imagem”. É por isso que muita gente que lê um livro não quer assistir ao filme adaptado ou, quando assiste, não gosta: o filme modifica as imagens criadas mentalmente por cada leitor e muda o afeto. Outra fantasia é pensar que a fotografia é uma representação fiel dos fatos. Flusser explica que uma foto representa a realidade de acordo com as limitações impostas pelo aparelho, que é fruto de teorias científicas, cálculos e tecnologia. Claudio acrescenta que não é dada ao ser humano a possibilidade de encontro com o real. “Essa palavra real vem do rei, que era quem sabia a verdade, que dizia o que era real ou não. Na verdade, tudo é sempre intermediado pela mistura da percepção com a parte cognitiva. Sempre incluímos valores. Se não me engano, foi Parmeneses que disse: ‘a Deus, a verdade; ao homem, opinião’. Eu acho isso lindo. O que existe é uma realidade individual”, adiciona.
Desde o lançamento do Instagram, cerca de 4 bilh de fotos foram publicadas ões no Facebook .................. .................................... ..........................................
s de para tratamento erece 18 efeitos O Instagram of ........ .... .... ........................ em imag.... ............................ ........ ................
A fotografia em preto e branco é um exemplo. Segundo Flusser, o fascínio por essas fotos se justifica pela beleza do pensamento conceitual abstrato que elas mostram e do qual são resultado. “Como não existe um mundo em preto e branco, essa representação imagética revela uma imagem composta por teorias”, explica a mestre em filosofia. Porém, assim como afirmou o fotógrafo italiano Luigi Mamprin“, a vida é colorida, mas a realidade é em preto e branco”. A foto é tirada como uma forma de tentar congelar um momento. Mas representa mais do que isso, segundo Claudio Feijó. “A fotografia é muito contraditória, assim como afirma Roland Barthes. Ela mostra uma coisa e diz: ‘isso é’. E, ao mesmo tempo, diz: ‘isso foi’. A gente busca o passado na fotografia, envelhecendo e colocando em preto e branco, mas nem precisa. Todos tiram uma foto para o momento de relembrar. Toda fotografia é melancólica; é o próprio veículo da melancolia”.
Especialistas concordam que a aplicação de efeitos suprime a experiência fotográfica ................................................ ................................................
KULTUR • MÚSICA
É só poesia Milton Nascimento, Lô Borges e amigos do Clube da Esquina comemoram os 40 anos do lançamento do primeiro disco que marcou a música brasileira André Martins
Os originais integrantes do Clube da Esquina e filhos unidos no show de comemoração pelo 40º aniversário do grupo ..............................................................................................................................................................................................................................................................
Bianca Nazaré As maravilhas do mar, o Corcovado e o amor pelas cariocas formosas foram imortalizados desde o lançamento de Chega de Saudade do então neófito João Gilberto. Em 1958, era “inaugurado” o canto baixinho ao som delicado do violão. A Bossa-Nova foi um dos primeiros sons brasileiros a ecoar em terras estrangeiras pela voz do principal expoente do movimento, Tom Jobim. Mais à frente, na década de 60, em tempos de turbulências políticas, censura e festivais de música, a Tropicália surgiu com influência do rock’n roll e da cultura pop americana. A guitarra elétrica entrava audaciosa na música brasileira. O Tropicalismo representado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes e outros artistas mudou a tradição musical brasileira. Enquanto os rebeldes do movimento tropicalista ganhavam fama, Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléa
44
eram ícones da juventude de meados de 1960. O trio ditou a moda juvenil: as calças coladas e coloridas, a minissaia rodada, as gírias que ganhavam a boca dos “brotos” e o estilo musical herdado dos Beatles. Um jovem carioca trazido menino pelo destino à cidade mineira de Três Pontas impressionou todos por onde passava pela capacidade singular de dominar qualquer instrumento e ter uma voz aguda metalizada, que nós, mineiros, gostamos de chamar de “nossa”. Após classificar três músicas no Festival Internacional da Canção, em 1967, e conquistar fama internacional, Milton Nascimento trouxe consigo vários novos e outros consagrados artistas para gravar o LP que inaugurou o movimento musical tipicamente belo-horizontino, o Clube da Esquina, gravado em 1972. Longe de ser simplesmente o fruto de encontros na esquina de rua do bairro Santa Tereza, o Clube da Esquina foi uma reunião dos melhores músicos
KULTUR • MÚSICA
e amigos que circulavam por casas e bares de Belo Horizonte. O disco marcou o aparecimento de Lô Borges como compositor e cantor, convidado por Milton, amigo da família Borges. Bituca trouxe o amigo de infância e pianista Wagner Tiso, de Três Pontas, e Lô convidou o inseparável companheiro de “pelada” e violão da capital mineira, o tímido Beto Guedes. Milton Nascimento, Lô Borges, Márcio Borges, Ronaldo Bastos e Fernando Brant escreveram canções que ainda hoje, 40 anos depois de lançado o Clube da Esquina, são suas obras referenciais: Tudo que você queria ser, O trem azul, Nada será como antes e Paisagem da janela são músicas obrigatórias nas apresentações desses artistas. Foram completados 40 anos da melhor música nascida em Minas e que deixaram multidões e críticos loucos pelo som que mesclava características da Bossa-Nova, da Tropicália, do jazz, da música erudita e do rock’n roll do quarteto de Liverpool que os beatlemaníacos Lô Borges e Beto Guedes adicionaram à mistura. Milton Nascimento foi o carro-chefe na gravação do LP, fazendo composições de algumas das principais músicas e adicionando a voz marcante, suave e gradual. Milton brinca usando a voz para cantar as notas sem letras, como se ele mesmo fosse um instrumento musical. O grande grupo de artistas mineiros que contribuíram para fazer do Clube da Esquina o sucesso que é, também teve Toninho Horta, Tavinho Moura, Marilton Borges, Aécio Flávio, Nivaldo Ornelas, dentre outros. A Bossa-Nova cantava a simplicidade da vida e o amor. O Tropicalismo protestava nos tempos da ditadura, tendo a música Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, como ícone do período. A Jovem Guarda trazia temas juvenis e alegres. Já a música do grupo de Minas com Milton Nascimento impressionava e marcava época pela poesia superior feita por meninos sem muita experiência até então. Na homenagem que marcou o aniversário de quase meio século do primeiro trabalho do clube mineiro, comemorado no show 40 Anos Clube da Esquina, realizado no dia 8 de agosto, no Sesc Palladium, em Belo Horizonte, a maior parte dos artistas que colaboraram com o disco Clube da Esquina estava
Reprodução
Capa do primeiro álbum feito por Milton Nascimento e os mineiros .........................................................................................................................
presente. O público lotou os 1.300 lugares do teatro. A aura de emoção dos fãs a cada apresentação foi marcante. Ao todo, 12 “membros” do Clube subiram no palco para prestar homenagem a Milton Nascimento e ao movimento. Bituca esteve presente no teatro, mas não foi ao palco. Possivelmente os fãs sequer tomaram conhecimento da presença dele. Um dos momentos de arrepiar foi a apresentação de Nivaldo Ornelas com seu saxofone de “notas doces”, Wagner Tiso no piano e Toninho Horta cantando Beijo Partido escrita por ele, mas que ganhou fama na voz do “deus musical e humano” – nas palavras do percussionista – Milton Nascimento. Lô Borges cantou as duas parcerias que fez com Milton no Clube da Esquina 1 e 2. No palco com Lô, Beto Guedes parecia um menino de cabelos brancos. O encontro dos dois amigos foi relembrado em tom nostálgico. Aos 10 anos de idade, Beto convencera Lô a lhe vender sua maravilhosa patinete das ruas do Centro de Belo Horizonte. Os dois cantaram Feira Moderna e Paisagem da Janela, um dos maiores sucessos do primeiro disco do Clube. O encerramento foi em uníssono com todos os artistas cantando a canção que se tornou uma espécie de hino: Nada será como antes. E como diz a letra, nada será como antes... Belo Horizonte nunca mais fez poesia como os meninos do Clube da Esquina.
45
KULTUR • CINEMA
Elles
Binoche protagoniza filme insosso que tenta investigar a prostituição estudantil em Paris André Martins
Imovision/ Divulgação
Recorrentemente filmes sobre temas polêmicos invadem as salas de cinema do mundo inteiro. Seja pelo conteúdo, seja pela forma, costumam render um “bocado”. Lucrar, mesmo que seja por meio de obras com temas puramente controversos, mas que chegam a um lugar comum, não é um fenômeno que acontece exclusivamente no cinema brasileiro. O francês Elles (Elas) se enquadra na categoria. Apela pouco. Não é surreal. Não inventa, mas não reinventa. O filme conta a história da jornalista Anne (Juliette Binoche) e seu processo na “investigação” da prostituição estudantil em Paris. As entrevistadas, confidentes e, a certa altura, amigas da protagonista são duas lindas jovens cujos desejos e dramas se colidem com a vida da redatora – esposa, mãe de dois filhos e dona de uma casa em desordem. A câmera da jovem diretora polonesa Malgorzata Szumowska se iguala ao olhar de um vouyer. Na espreita, registra cenas de carinho e de violência sexual entre amantes. Cambiando entre uma experiência e outra, o filme condensa as histórias das jovens – uma francesa e uma polonesa – que encontram em Anne um elo. O longa traz uma enxurrada de clichês: o enriquecimento rápido, a desconfiança e descoberta das famílias, os encontros abrasivos. Diante disso, o destaque fica por conta de Binoche, que em 2010 ganhou como melhor atriz no Festival de Cannes pela sutil interpretação no ótimo Cópia Fiel, do iraniano Abbas Kiarostami. Em Elles, Binoche mostra mais uma vez que é afeita às interpretações higiênicas e profundamente discretas. Ao penetrar no mundo das jovens prostitutas, sua personagem se entrega gradualmente aos pensamentos
46
A francesa Juliette Binoche em cena de Elles ...........................................................................................................................
e impulsos sexuais que passam a ser seus. A cena em que Anne se senta à mesa com os amantes de suas confidentes – a ela uma prazerosa fuga da realidade – contrastada com a trivialidade de um café em família denuncia uma classe média hipócrita e em pleno processo de falência moral. É, sem dúvida, o ponto alto do longa. Certamente não foi a intenção da diretora, mas seu insípido Elles é uma tentação aos bocejos. Um filme que não traz nada que não se tenha visto, ouvido falar ou proposto discutir por outros diretores.
www.saatore.com.br
KULTUR • LITERÁRIA
. Couvert . Prato principal . Sobremesa
32,
R$ Reprodução
Reprodução
Autora: Susan Cain Editora: Agir Páginas: 360 Não é somente a felicidade que se tornou uma espécie de obrigação no século 21. Com o novo livro, a escritora Susan Cain analisa o Ideal da Extroversão e ressalta o poder daqueles que não estão totalmente integrados à categoria dos despachados. Em O poder dos tímidos, Cain apresenta ao leitor histórias de sucesso e dá dicas de como os mais retraídos podem tirar vantagem disso. O livro tem enfoque nas relações empresariais, mas não deixa de dedicar algumas páginas ao perfil das crianças “acanhadas”. Uma boa dica para se enxergar ou enxergar os tímidos com outros olhos. A apresentação foi escrita por Max Gehringer.
30 minutos e pronto Autor: Jamie Oliver Editora: Globo Páginas: 288 Reconhecido mundialmente por exibir sua destreza e rapidez na elaboração de diversos pratos na TV, o chef Jamie Oliver apresenta 50 cardápios completos (prato principal, acompanhamentos e sobremesas) que podem ser elaborados com nada mais que 30 minutinhos. Além de demonstrar agilidade na elaboração dos pratos, Oliver dá dicas de preparo, alimentos, manuseio de utensílios e composição de mesas de acordo com a receita escolhida. Algumas das receitas presentes no livro têm o processo detalhado no site do chef, que começou a cozinhar com apenas 8 anos de idade. Seu programa na TV, O chef sem mistério, é sucesso na Inglaterra e transmitido no Brasil pela GNT.
AZ3
O poder dos quietos
00
Todo o sabor do Saatore por um preço especial Almoço Executivo Segunda a sexta e, agora, também aos domingos, das 12 às 15h. Estacionamento com manobrista
Aceitamos todos os cartões de crédito 31 3339 3180 / 31 3339 3184
Av. Álvares Cabral, 1.181 . Lourdes . BH
Há 13 anos servindo exclusividade e bom gosto
KULTUR • agenda cultural
Kid Abelha
Mostra Indie
Para comemorar os 30 anos da banda, o trio, encabeçado por Paula Toller, faz uma turnê que relembra clássicos que marcaram as décadas de 70 e 80 e a trajetória do Kid Abelha. No repertório, canções, como Garotos, Amanhã é 23, Em 92, dentre outras e as mais recentes Por que eu não desisto de você e Nada sei. A banda gravou 13 CDs e dois DVDs. Ainda em 2012, o grupo lança Kid Abelha 30 Anos – Ao Vivo Multishow, gravado em abril, no Rio de Janeiro, com a presença de 10 mil pessoas.
Belo Horizonte e São Paulo voltam a ser as capitais mundiais do cinema independente, em 2012. O evento bienal traz a BH cerca de 80 obras cinematográficas de diferentes partes do mundo. A Mostra Indie de Cinema celebra a diversidade e a linguagem que une a sétima arte em todos os cantos do mundo.
Local: Chevrolet Hall Data: 25 de agosto Horário: 22h Mais informações no chevrolethallbh.com.br ou pelo telefone 3209-8989 Christian Gaul
Locais: Teatro Oi Futuro Klauss Vianna, Sesc Palladium, Cine Humberto Mauro Período: 2 a 8 de setembro Mais informações no site www.indiefestival.com.br ou pelo telefone 3296-8042
12º Festival Mundial de Circo Todos os anos, o evento acontece em Belo Horizonte e em cidades do interior do estado. A arte circense se espalha por espaços públicos em todo o estado, encantando crianças e adultos. Local: Diversos locais da cidade Período: 12 a 16 de setembro Mais informações pelo telefone 3225-7521 ou no site festivalmundialdecirco.com.br
48
KULTUR • agenda cultural
Morten Harket
Divulgação
O ex-integrante do a-há, Morten Harket, confirmou uma turnê pelo Brasil. Além de Belo Horizonte, o músico norueguês se apresenta em São Paulo e no Rio de Janeiro. O cantor vem com o propósito de divulgar o novo álbum, o 5º de sua carreira solo, Out Of My Hands, lançado neste ano. O disco conta com a participação de artistas escandinavos e traz algumas das canções favoritas do cantor. Harket começou a carreira solo após a desintegração do a-há.
Alanis Morissette A canadense Alanis Morissette volta ao Brasil para apresentar o sétimo álbum da carreira, o Havoc and Bright Lights. Além de BH, as capitais São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro, Recife, Belém e Goiânia vão receber a cantora. Alanis “estourou” em 1995, tornou-se um sucesso de vendas e hoje é tida como uma das cantoras mais influentes da música contemporânea. Vendeu mais de 60 milhões de álbuns mundo a fora e tem sete prêmios Grammy.
Local: Chevrolet Hall Data: 23 de setembro Horário: 21h Mais informações no site chevrolethallbh.com.br ou pelo telefone 3209-8989 Divulgação
Local: Chevrolet Hall Data: 9 de setembro Mais informações no site chevrolethallbh.com.br ou pelo telefone 3209-8989
19,25
Embarque nessa praticidade
r$
Para ir a Confins, ligue o piloto automático. ônibus exeCutivos Para aeroPorto internaCional - bh • Horários sincronizados com todos os voos • Trajeto em pista exclusiva, sem escalas, 24h por dia • Av. Álvares Cabral, 387- Lourdes - 3224-1002 - www.conexaoaeroporto.com.br CONEXAO AEROPORTO_AD_REV. VOX_.indd 1
6/3/12 3:59 PM
49
CRÔNICA
Joanita gontijo Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com joanitagontijo@yahoo.com.br
Onde está o fio da meada? E no auge da discussão, geralmente naquele momento em que os argumentos factíveis esgotaram, alguém resolve dizer a frase: “tudo é uma questão de ação e reação”. Quem já ouviu essa “pérola” durante uma briga entre namorados, amigos e até colegas de trabalho magoados? Posso até escutar a maioria de vocês dizendo: “eu, eu, eu!!!”. Não que eu discorde dessa lei usada por cientistas pra comprovar teorias da física e por religiosos para converter pecadores em almas dóceis. Mas convém lançar um olhar crítico sobre a frase que consegue carregar em si tanto a certeza quanto a dúvida. E é essa última que mais intriga. Afinal, se tudo é ação e reação, quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? Quem acionou o processo de ofensas e desagravos? Alguém aí se habilita a responder, por favor? Também agora posso perceber o silêncio absoluto...
Ação e reação podem desencadear desde tragédias domésticas, como rompimento de namoros, casamentos, amizades até guerras milenares. Por que judeus e muçulmanos, árabes e israelenses, povos africanos e outros tantos se matam desde sempre? (Por favor, abstraiam o interesse da indústria bélica e das grandes nações e vamos focar nas relações humanas... só por alguns instantes). O motivo seria a disputa pelo território? A diferença entre os dogmas religiosos? A insana necessidade de provar que pertence a uma etnia superior? Algo que explique o extermínio de famílias inteiras? Quem foi o primeiro a puxar o gatilho ou a detonar a bomba?
“A menos que você seja Jesus Cristo, dar a ‘cara pra bater’ também tem limite! Respeite o seu!”
A verdade é que para justificar os próprios erros, responsabilizamos o outro por nossa reação. Se você foi indiferente, é porque se cansou das grosserias do outro. O outro foi grosseiro, porque estava inseguro. Insegurança justificada pela sua ausência. Mas você não pôde estar presente, porque ele não telefonou. O outro não ligou, porque esperava que você se manifestasse primeiro. Esse fio de queixas e acusações não tem fim, ou melhor, não tem nem começo.
50
Um círculo de ódio e destruição só pode ser rompido com a mudança de atitude de pelo menos um dos envolvidos no conflito. Não importa qual foi a ação: reaja diferente! Se a lei for realmente eficiente e definitiva como parece, atitudes de bem vão gerar comportamentos positivos, tanto na sua casa quanto no Oriente Médio... Não estou dizendo para que se candidate à canonização. A menos que você seja Jesus Cristo, dar a “cara pra bater” também tem limite! Respeite o seu! Se mesmo sendo piedosa com erros alheios e tentando não repetir os próprios pecados, o outro se comporta como seu inimigo, reaja! E dessa vez a reação mais conveniente pode ser mesmo retirar o time de campo, os soldados da batalha e as roupas do armário (as suas ou a do outro...). Uma guerra só acontece, quando há pelo menos dois adversários... E eu sou defensora da paz!
Faça como estas empresas e ajude a AMR a reabilitar crianças com deficiência motora. Quando a AMR recebe uma doação, centenas de crianças vão cada vez mais longe. Doe pelo 0800.727.1347 ou www.amr.org.br.
FAÇA PARTE DESSE MOVIMENTO
! O T N O E C NEM T ES D E R S NA O A T S E M! E B M A S T I A I C O S
vozcomdesign. c
om. br