outubro/12 • Edição 40• Ano IV • Distribuição gratuita
Em busca de um recomeço A poucos dias das eleições americanas, Mitt Romney e Barack Obama trocam farpas e sorrisos diante das câmeras. Economia é o foco dos candidatos
Uma nova chance
De cinco em cinco minutos
Quando a morte traz esperança e permite o recomeço
Doze mulheres sofrem algum tipo de violência por hora no Brasil
casablanca
MetrOpolIS • OLHAR BH
Perto do céu Luiza Villarroell Para caminhar, descansar ou apenas apreciar as belezas naturais. O Parque da Serra do Curral é um dos locais mais agradáveis de Belo Horizonte e foi eleito símbolo da cidade, em 1997. Tombado pela Lei Orgânica do Município e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o parque tem cerca de 400 mil metros quadrados. Suas principais atrações são as trilhas, praças de convivência e os dez mirantes que mostram diferentes pontos da cidade. O parque passou por reformas este ano. Foram instalados parapeitos e decks nos mirantes e está disponível um serviço de guias nas trilhas e sinalização bilíngue. A foto mostra o mirante 3, localizado a 1.328 metros de altitude. De lá é possível avistar locais, como Contagem e até mesmo a Lagoa da Pampulha.
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Expediente
A Revista Vox é uma publicação mensal da Vox Domini Editora Ltda. Rua Tupis, 204, sala 218, Centro - Belo Horizonte - MG CEP: 30190-060.
“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32) • Editor e jornalista responsável Carlos Viana • diagramação e arte Graziele Martins • Capa Graziele Martins • Reportagem André Martins Thiago Madureira • ESTAGIÁRIas Bianca Nazaré Luísa Reiff Guimarães • CORRESPONDENTES Greice Rodrigues -Estados Unidos Ilana Rehavia - Reino Unido • diretoria Comercial Solange Viana
Editorial
CARLOS viana Editor-Chefe carlos.viana@voxobjetiva.com.br
A lição das urnas Para os especialistas em comportamento, toda e qualquer pesquisa só pode ser feita com segurança depois de acontecidos os movimentos ou fatos a serem analisados. Isso é uma premissa. O contrário seria um exercício de futurologia que não cabe, quando falamos de decisões que serão tomadas e podem sofrer influências das mais diversas. Como exemplo, vejamos a derrota de Celso Russomano, em São Paulo. O candidato era apontado até uma semana antes da votação como virtual vitorioso à prefeitura da maior cidade brasileira. Nem foi ao segundo turno, devido a uma divergência religiosa que expôs apoios e rejeições. Na dúvida, o eleitor paulistano preferiu a experiência de candidatos com passado em cargos públicos. Em Belo Horizonte, a vitória em primeiro turno de Marcio Lacerda também mostrou que o brasileiro comum, aquele que vive nas capitais, está cada vez mais preocupado com os resultados da política no bolso e na porta de casa. Nem mesmo o apoio explícito do ex-presidente Lula e da presidente Dilma foi suficiente para evitar a derrota do também excelente administrador Patrus Ananias.
• tiragem 30 mil exemplares
Esse “não” do eleitor a um pedido de um ex-presidente que deixou o cargo com quase 70% de aprovação é um posicionamento que precisa ser pesquisado pelos especialistas. A figura midiática de Lula ajudou pouco. Mesmo sem dados precisos, podemos dizer, sem dúvidas, que o brasileiro está mais exigente e indignado. Um dos motivos pode estar na sucessão de escândalos denunciados diariamente. Até que ponto? Não sabemos. Mas diante da indefinição dos discursos ideológicos e das denúncias envolvendo e tornando iguais as legendas partidárias, o eleitor se tornou, de certa forma, “egoísta”. Mantém no poder quem oferece resultados, possibilidades e um nome longe de escândalos. Promessas deixaram de ter peso definitivo.
Os textos publicados em forma de artigos, produzidos por colunistas convidados, expressam o pensamento individual e são de responsabilidade dos autores. Todos os direitos reservados. Os textos publicados na revista Vox Objetiva só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores.
O principal recado das urnas é de que o Brasil precisa de uma reforma política ampla e de um novo modelo de financiamento eleitoral. Só assim teremos a diferenciação dos discursos partidários. Partidos de esquerda, centro e direita precisam retomar as identidades como forma de preservar o contraditório. Se desejarem conquistar votos, os políticos terão de mudar posicionamentos e propostas. O eleitor das grandes cidades já mudou. E esse não está fácil de ser conquistado.
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Notas Cinema
Reprodução
Após um período de encerramento de atividades em salas de cinema tradicionais em Belo Horizonte, a cidade recebe uma boa notícia: o Espaço Cultural 104 inaugurou uma sala de cinema. Localizado no conjunto arquitetônico da Praça da Estação, o novo espaço funciona de terça a domingo e vende ingressos a preços populares: R$ 10 a inteira e R$ 5 a meia-entrada.
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Da panela ao motor Estudantes do curso de engenharia da universidade de Delaware, nos Estados Unidos, produziram combustível para ônibus baseado no óleo de cozinha. A frota de ônibus da Universidade é abastecida por essa substância que, além de emitir menos poluentes, é biodegradável. Para produzir cem litros de biodiesel, são necessários 150 litros de óleo de cozinha. O processo para a fabricação do novo combustível consiste em separar o óleo vegetal da glicerina. É esse óleo puro que substitui o diesel. Stock.xchng
Memória Os 45 anos de morte de Ernesto Che Guevara foram marcados por diversas homenagens em toda a América Latina. Na Bolívia, país em que o líder perdeu a vida, procissões, visitas ao local onde foi encontrada a ossada do guerrilheiro, em 1997, e atos militares marcaram o dia. Che Guevara foi assassinado no dia 9 de outubro de 1967. Ele lutava por ideais de cunho socialista. Até hoje Che é lembrado como símbolo de rebeldia. Nos últimos anos, o argentino teve a vida reconstituída para o cinema. Diários de Motocicleta, dirigido por Walter Salles, narra a viagem de Che pela América Latina.
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Mais quatro Nas eleições de outubro de 2012, o percentual de prefeitos que disputaram a reeleição e obtiveram sucesso foi de 55%. Belo Horizonte é um dos exemplos de cidade na qual os eleitores estenderam o mandato de seus governantes por mais quatro anos. Em termos absolutos, Minas Gerais teve o maior número de reeleições: foram 185. Proporcionalmente o Rio Grande do Norte larga na frente com um índice de manutenção dos prefeitos de 69,7%.
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sumário Luísa Reiff Guimarães
barackobama.com
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entrevista • CLAIR JESUS
Estilista mineira brilha ao assinar peças utilizadas em produções globais Stock.xchng
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metropolis..............................................
INTERNACIONAL •
Eleições
Romney e Obama duelam em frente às câmeras pela preferência do eleitorado. Mudanças de discursos marcam reta final
INVESTIGAÇÃO • VIOLÊNCIA
Como está, Lei Maria da Penha seria incapaz de coibir agressões cotidianas
Artigos............................................................................. justiça • Robson Sávio Dilemas da juventude...........................................................
A verdade em quatro ou dois anos........................................
PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci Mãe, cadê meu pai? ............................................................
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ORIENTE MÉDIO • Frei Geraldo van Buul Notícias da Terra Santa........................................................
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IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira Religação de energia ficou mais fácil ...................................
crônica • Joanita Gontijo
política • Paulo Filho
A travessia do desejo..........................................................
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SALUTARIS........................................................................
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RECEITA • PALADAR Fetuccine com camarões.................................................
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VINHOS • DEGUSTAÇÃO O vinho e as confrarias.....................................................
meteorologia • Ruibran dos Reis Temperatura recorde.............................................................
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Capa...................................................................
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André Martins
Stock.xchng
Salutaris..................................................
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SAÚDE • DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
Agora usuários do facebook podem se declarar doadores na rede Bianca Nazaré
horizonteS..............................................
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TURISMO • SERRA DO CURRAL
Novo parque é aberto ao público para garantir preservação
Rafael Ribeiro/ CBF
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PODIUM......................................................... ESPORTES • KAKÁ
De volta à Seleção, meia do Real Madrid aproveita a chance e tem bom desempenho contra Iraque e Japão
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Vanguarda.............................................. TECNOLOGIA • ENERGIA
Investimento em geração de energia limpa vai aumentar a partir de 2013
André Martins
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kultur.......................................................... ARTES PLÁSTICAS
• CERÂMICA
A arte do Vale do Paraopeba e a poesia da japonesa Toshiko Ishii
Califórnia Filmes/ Divulgação
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kultur.......................................................... CINEMA
• OS INTOCÁVEIS
Bem recebido em todo o mundo, filme é a produção francesa mais vista no Brasil
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VERBO
Arte e design Conheça a estilista mineira que despontou no mundo da moda, em 2011, e é responsável pelo figurino de atrações globais Luísa Reiff Guimarães Clair Jesus iniciou o caminho na moda fazendo crochê com a mãe e as irmãs na sala de casa, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Hoje ela é uma das mais destacadas estilistas da moda mineira e nacional.
para o lado da moda. Confesso que no começo eu não gostava. Isso foi há muitos anos, quando eu ainda era criança. Depois eu enveredei para o lado da moda. Minha mãe sempre me apoiou. Foi ela que me deu a minha primeira máquina de costura.
Autodidata, Clair foi aprendendo com o trabalho. Formou-se em moda pela UFMG anos depois de ter uma extensa bagagem. Se mudou para São Paulo com o propósito de trabalhar em um ateliê de alta-costura. Na capital paulista, a estilista dominou técnicas de modelagem e corte, traços que estão presentes em suas peças de crochê trabalhado com seda, renda e couro.
Trabalhei em vários lugares, quando me mudei para BH. Patrícia Motta e Última Hora foram as duas últimas grifes, mas passei por outros lugares que ajudaram a construir o que eu sou.
“Alçar o voo de ter uma marca é muita responsabilidade. Eu tinha esse plano e consegui fazer algo diferente”
Mãe de três filhos, estilista e empresária, Clair desfilou a própria etiqueta pela primeira vez no início de 2011, no Minas Trend Preview (MTP). Desde então vem participando de feiras no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde tem um show-room. As peças da estilista também podem ser vistas em algumas novelas da Globo e nos guarda-roupas de muitas mulheres pelo Brasil.
Você nasceu no interior, e sua mãe foi a sua grande professora na arte do crochê. Quando veio para BH, qual foi o seu caminho até chegar às grandes marcas em que trabalhou? Minha mãe era uma artista. Ela me ensinou várias formas de artesanato, inclusive o crochê. E foi a essa arte que me apeguei, justamente por poder levá-la
No ano passado, você abriu uma loja própria: a Studio Clair. E sua primeira coleção estreou nas passarelas do Minas Trend Preview. Como foi mostrar seu trabalho com a própria etiqueta, no evento?
Eu fiz uma coisa que ainda não havia sido feita aqui em Minas: uma coleção inteira de crochê, mesmo que misturada à renda, seda e ao couro. Essa coleção foi a de verão 2011 que levei para o Minas Trend Preview. Por esse trabalho, eu escutei elogios e críticas, mas o fundamental é acreditar no seu sonho e no trabalho. Alçar o voo de ter uma marca é muita responsabilidade. Eu tinha esse plano e consegui fazer algo diferente. Como proprietária, posso trabalhar menos do que antes e tenho um retorno muito maior, não apenas em questões financeiras, mas também em termos de satisfação pessoal.
Luísa Reiff Guimarães
VERBO
Já confirmou sua participação na próxima edição? Vou participar do Salão de Negócios. O meu próximo desfile no evento será o da coleção de verão. O MTP já conquistou o respeito que merece. É uma feira que fez muita diferença para a minha marca, pois me abriu portas e chamou a atenção da mídia. Então é um evento que eu sempre colocarei em primeiro lugar, como tudo o que for de Minas. Você assina parte das roupas da nova novela das nove, Salve Jorge. Qual foi o processo até chegar a esse patamar de visibilidade? Na verdade, eu fiz vários trabalhos para a Globo. O primeiro contato com eles surgiu de uma feira em São Paulo na qual expus minha primeira coleção. Fiz parte do figurino de Amor Eterno Amor, depois assinei algumas peças de Malhação e de Fina Estampa. Um figurinista gostava e perguntava sobre as peças para outro, e assim foram fazendo contato comigo. Para Salve Jorge, a figurinista responsável, Emília Duncan, veio até meu ateliê e nós fizemos uma Luísa Reiff Guimarães
reunião para decidir as peças que seriam usadas. Além de algumas que fazem parte da coleção, vou desenhar roupas pensando exclusivamente no perfil de três personagens da novela: os papéis feitos por Flávia Alessandra, Natália do Vale e Cláudia Raia. Fiquei muito feliz com o convite, pois gosto das três. É ótimo receber esse retorno do trabalho bem-feito. Vai ser muito bom ver roupas minhas na novela. É interessante que muitas pessoas fazem contato comigo. Elas ligam para a Globo, perguntam sobre as peças e depois compram aqui. Tenho uma cliente que mora na Suíça. Ela viu um vestido na novela, gostou e encomendou algumas roupas. Além das coleções, você confecciona roupas sob medida. Como você concilia essas duas vertentes? Há muitos anos venho mantendo um ateliê e fazendo roupas sob medida para as minhas clientes, inclusive vestidos de noiva. Atualmente o ateliê e a marca se misturam. Ainda atendo clientes aqui para fazer peças exclusivas. São pessoas que me acompanham há uns 15 anos. Além disso, tenho as peças do atacado. Fiz vestidos de noiva de crochê e de couro. O ateliê sempre foi muito importante no processo de construir uma identidade até se transformar na marca. Aprendi a administrar, a ter uma equipe trabalhando comigo e a conviver com questões de mercado. O que é mais difícil: elaborar o conceito geral das coleções ou fazer as roupas exclusivas para clientes? Quando você domina e ama o que faz, acaba não tendo tantas dificuldades. Vivo falando aqui no ateliê: ‘- Gente, isso é fácil’. Quando faço roupas sob medida, penso também em anatomia e psicologia. Antes de começar a desenhar as roupas exclusivas, chamo as clientes para um café, converso com elas, busco entender quem são e o que querem.
No Studio Clair, peças e desenhos feitos pela estilista .........................................................................................................................
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A diferença básica é que na coleção eu invento personagens e crio para eles. Assim posso agradar a mais pessoas. Penso em uma mulher num resort, em uma moça bem baladeira, em uma mulher mais
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madura em um jantar,... Na roupa sob medida é o contrário. Eu tenho o personagem e preciso criar uma peça exclusiva. É por isso que eu preciso conhecê-lo. Às vezes, a cliente chega com algum modelo de roupa, mas eu sempre dou minha opinião profissional. Elas sairão daqui com peças que tenham coerência, qualidade e que realmente fiquem bem nelas. O crochê é uma arte dominada por poucas pessoas. Você trabalha tanto de forma mais clássica quanto em looks contemporâneos. Que espaço você vê o crochê ocupando na moda? Eu aprendi com a experiência que uma coleção precisa ser dividida e ter peças básicas, promocionais, clássicas e de vanguarda. O crochê pode agradar a todos: pessoas de diferentes idades, mais cheinhas e mais magrinhas. O crochê é um lifestyle. Por isso, a coleção tem que ser bastante diversificada para atender a todo um nicho de mercado. A democracia da moda nos mostra que podemos nos vestir de maneiras diferentes: clássica em um dia; moderna em outro. O crochê consegue se encaixar nesses perfis.
Além da moda, você se dedica a projetos sociais. Quais são eles?
“Eu me considero uma estilista mineira de raiz, mas também quero fazer uma roupa para o mundo entender”
Quais são as diferenças entre o crochê clássico e os do Studio Clair? O crochê traz consigo certa nostalgia. Trago comigo uma bagagem muito grande e que influencia muito o meu trabalho. Traços da confecção de alta-costura, modelagem, mistura de materiais e diferentes pontos estão sempre presentes nas minhas peças. E em parte da coleção, nós reciclamos a matéria-prima utilizada. Em 30% dos modelos, nós fazemos Lorem Ipsum Dolar amet uso desse tipo desitmaterial ecologicamente sustentável. consectetur adipiscing elit. Praesent malesuada urna Cadalibe. coleção tem um ornare
Eu me considero uma estilista mineira de raiz, mas também quero fazer uma roupa para o mundo entender. O meu primeiro tema deu bastante vazão a isso: escolhi “Preciosidades”. Eu falei de todas as preciosidades mineiras, em especial, da pedraria, dos artistas e das pessoas. A segunda coleção recebeu o nome de “Atemporal”. Foi feita para o inverno. Várias das peças dessa coleção eu criei para que pudessem sempre ser produzidas. São básicos permanentes. Elaboro o conceito aos poucos. Um dia acontece de eu ter um “clique”, um insight,... Aí eu consigo desenhar muita coisa na minha cabeça.
tema. Depois isso vai sendo desmembrado em vários perfis de clientes. Como você elabora o conceito inicial?
Um grande sonho que eu tenho é desenvolver uma ONG, um projeto para prestar assistência às pessoas. Atualmente não posso me dedicar a desenvolver isso ainda. Preciso dar tempo ao tempo, mas são planos que tenho. Eu tento sempre me dedicar a algum projeto social. Estou envolvida em dois deles.
Vale a pena lembrar que o Dragão Fashion Brasil, evento de moda que acontece em Fortaleza, em parte é um projeto social. Além de ir para desfilar a marca, vou para fazer um workshop para leigos e estudantes do Senac. Tudo gratuitamente. São quatro dias de muito trabalho e muito aprendizado. Existe alguma “dica de ouro” para quem gosta de adotar o crochê nas produções? Com que o crochê combina bem e com que deve ser evitado? Tenho crochês para todos os gostos. Então ninguém precisa ficar com medo de usar. Uma boa dica é não fazer uma produção muito carregada no que é artesanal. O que dá equilíbrio ao look é justamente contrapor as peças. Uma saia longa de crochê com uma camisa de seda, por exemplo, é uma produção alinhada e que mistura o clássico e o moderno.
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MetrOpolis • INVESTIGAÇÃO
A violência que ainda existe Quase 300 mulheres são violentadas todos os dias no Brasil. A lei, que deveria proteger, apresenta falhas, o que inviabiliza a alteração desse quadro em curto prazo Luísa Reiff Guimarães Em uma sociedade patriarcal, em que muitos conceitos e comportamentos machistas vivem incrustados em pessoas, ditados e propagandas, é preciso mais que uma lei para mudar mentes e comportamentos: é preciso coragem. E foi graças à coragem e perseverança da cearense Maria da Penha que alterações necessárias foram feitas na legislação do país. Uma tragédia que teve que acontecer para que a história de muitas outras mulheres fosse diferente.
Elza Fiúza/ ABr
Depois de ter cometido inúmeros abusos, Marco Antonio Heredia Viveros, então marido de Maria da Penha, deu um tiro nas costas da mulher, enquanto ela dormia. Desde então, ela perdeu o movimento das pernas. Mesmo com os julgamentos e as condenações, recursos utilizados por advogados sempre permitiram que Marco Antonio permanecesse livre. A lei da época, mais permissiva e complacente, admitia que ele escapasse da cadeia e andasse pelas ruas de Fortaleza, coisa que sua ex-mulher não podia mais fazer. Em 1994, o livro Sobrevivi... posso contar, de Maria da Penha, foi usado como base pelo Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem) e pelo Centro pela Justiça e o Direito Internacional (Cejil) para denunciar o Brasil à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos. A partir desse momento, Maria da Penha e a Lei que recebeu seu nome começaram a alterar a condição das mulheres vítimas de agressão no Brasil.
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Foi a partir da história da biofarmacêutica Maria da Penha que a lei que protege a mulher contra a violência foi elaborada .........................................................................................................................
“Começa bem aos poucos...” Constantemente escutamos histórias envolvendo mulheres violentadas. As ocorrências sensibilizam, mostram a importância da Lei e de todos os agentes envolvidos no cumprimento dela, mas não são capazes de nos inserir no que ainda é a realidade no Brasil.
MetrOpolis • INVESTIGAÇÃO
Por muito tempo, foi no medo que viveu Ana (nome fictício). Ao longo de 12 anos, ela esteve em um relacionamento abusivo. Assim como Maria da Penha, Ana é uma mulher de coragem. Não é super-heroína, não voa nem usa uma capa vermelha, mas teve que enfrentar grandes batalhas. Hoje carrega cicatrizes. Apesar das marcas das lutas, a guerreira continua de pé. O marido de Ana se demonstrava um bom companheiro. “Todo mundo o achava gente boa”, conta. O casal se relacionou bem até o nascimento do primeiro filho. Certo dia, durante uma discussão iniciada por motivos banais, o marido colocou as mãos com força no pescoço de Ana e a pressionou contra a parede. “Desculpa, eu fiquei nervoso”, alegou depois que passou o calor do momento.
Não sejam bobas”. Ana conta que o marido sempre se mostrava carinhoso após os picos de agressividade e fazia juras de amor eterno por ela e pelos filhos. “Mas que amor é esse?”, questiona. Cansada de lidar com a situação calada, Ana contou para a mãe e para as cunhadas o que estava acontecendo dentro de casa. Da própria família, ela ouviu que o marido iria mudar, que eles haviam se casado, estavam frequentando a igreja e que as coisas tendiam a uma melhora. Ela concordava e desistia de tomar uma atitude mais enérgica. Já as cunhadas diziam o oposto: “Você não é obrigada a passar por isso; não tem que ficar com ele. Vá à delegacia”, diziam. Hoje, ao avaliar o passado, Ana conta que mais que um estímulo, ela precisava de alguém que, em vez de dizer: “Vá procurar a polícia”, dissesse: “Vamos procurar a polícia”.
“Algumas medidas estabelecem ‘a não aproximação do agressor’ e ‘a não comunicação com a ofendida’. Mas muitos homens vêm descumprindo essas ordens”
Os anos se passaram, e Ana engravidou novamente. Durante todo o período de gestação, episódios de agressão se repetiram. Ele chegava alcoolizado em casa e batia na companheira. Ana trabalhava durante o dia, cuidava da casa, do marido e dos filhos. Margaret Não sobrava tempo de pensar em si. Constantemente o marido a agredia com tapas e socos. Ana relata que ambos responsabilizavam a bebida pelas alterações no comportamento do marido. Ele a convencia de que iria mudar, e ela tentava se convencer de que aquilo poderia milagrosamente acontecer. Os dois filhos tentavam inutilmente defender a mãe. Ele nunca chegou a agredi-los, mas a história não era a mesma para a filha mais velha de Ana, fruto de um relacionamento anterior. Às vezes o marido batia em Ana; outra vezes, na filha dela. E quando queria, violentava as duas. O homem arremessava objetos, xingava, fazia terror psicológico, ameaçava-as de morte, e depois se justificava: “Eu estava brincando.
Em 2010, ela buscou ajuda pela primeira vez, na Casa da Família – projeto que dá amparo, direcionamento e abriga pessoas em situação de vulnerabilidade. A filha de Ana queria sair de casa, fugir do ambiente abusivo Rocha em que vivia. Isso foi o estopim para que a mãe desesperada agisse. A primeira medida tomada pelas autoridades foi estabelecer que ele dormisse em um albergue, podendo passar o dia todo em casa. Ana conta que isso era desesperador e ineficaz. Foi a primeira vez que a justiça se revelou falha. Em outra ocasião, mesmo tendo sido preso em flagrante, o ex-marido foi liberado pouco tempo depois. O ex-companheiro de Ana continua livre, aguardando o julgamento. Já a mulher corajosa que se defendeu e lutou pelo bem-estar dos filhos, precisou deixar tudo para trás: família, amigos, emprego, casa, roupas, móveis. Hoje ela vive em um abrigo com as duas crianças mais novas. Ele está em liberdade; ela
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MetrOpolis • INVESTIGAÇÃO
não. Ele vive como quer, ela vive em risco iminente de morte. Ele espera, caso alguma coisa aconteça. Ela espera que alguma coisa aconteça.
Brasil. O índice, que já foi pior, ainda é preocupante. A maioria dos agressores, cerca de 70% deles, são namorados, maridos ou ex- -companheiros.
“O primeiro sentimento que vem é o da covardia, de estar fugindo, correndo. Com o tempo, a gente percebe que está sofrendo uma violência, e não se acovardando. A gente também não quer largar a casa, abandonar as nossas coisas. Vi tanto sofrimento nos olhos dos meus filhos, mas agora eles estão em paz. Nenhum dinheiro paga isso. Espero que as mulheres que passam por essa situação também sejam fortes e busquem ajuda; que prestem atenção nos sinais e não se culpem pela violência dos companheiros. Eu precisei de muita coragem, mas agora tenho calma dentro de mim”, desabafa.
Em Belo Horizonte foram registrados 7.559 boletins de ocorrência na Delegacia da Mulher até o mês de setembro deste ano. Além disso, há 286 autos de prisão em flagrante e 67 mandados de prisão expedidos pela Justiça.
De cinco em cinco minutos Relatórios do Ministério da Justiça apontam que a cada cinco minutos uma mulher é agredida no Stock.xchng
A tabela que mostra quantas mulheres são mortas a cada 100 mil assassinatos é encabeçada pelos estados do Espírito Santo, Alagoas e Paraná. Minas Gerais ocupa o 19° lugar. A violência contra a mulher não é necessariamente física. Pode vir na forma verbal, psicológica e patrimonial. Ameaçar a companheira, a família dela ou os filhos, rasgar roupas, quebrar pertences, também são considerados tipos de agressão. A chefe da Divisão da Mulher, do Idoso e do Portador de Deficiência, Margaret Rocha, lida com histórias similares à de Ana e Maria da Penha há dois anos. Segundo ela, dos três grupos vulneráveis com os quais trabalha, o que sofre mais violência é o das mulheres. São cerca de 40 boletins de ocorrência registrados diariamente na delegacia. Para Margaret, o monitoramento das medidas protetivas deveria ser repensado e aprimorado. “Quando essas medidas são deferidas, não há um monitoramento. Algumas dessas medidas estabelecem ‘a não aproximação do agressor’ e ‘a não comunicação com a ofendida’. O problema é que muitos homens vêm descumprindo essas ordens”, revela.
Em Belo Horizonte, as denunciantes geralmente são de origem humilde e têm entre 18 e 45 anos .........................................................................................................................
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De acordo com Margaret, é possível traçar um perfil de comportamento dos homens agressores. “Eles começam geralmente com a violência psicológica, que evolui para um quadro de agressão. Os homens negam veementemente, invertem a situação e tentam culpar a mulher. Chegam a dizer que são bons pais de família. Acontece que muitas mulheres são dependentes financeira e emocionalmente de seus companheiros. Acredito que estamos muito longe de uma sociedade igualitária na qual o homem caminhe ao lado da mulher”, opina.
Artigo • Justiça
ROBSON SÁVIO REIS SOUZA Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br
Dilemas da Juventude Para compreender o conceito de juventude é importante analisá-lo em um contexto histórico, político e sociocultural. Os aspectos econômicos, as transformações sociodemográficas, as classes sociais e as características daqueles que não são jovens no campo das interações sociais são fatores que devem ser considerados nessa análise. A condição juvenil foi representada primeiramente pelas classes burguesas. As expressões juvenis das classes populares não eram reconhecidas como movimentos juvenis. Jovens das classes populares eram denominados delinquentes e desocupados. Foram as transformações do século XX, como crescimento populacional, urbanização e segregação socioespacial nas grandes cidades que fizeram emergir a juventude da classe média e, posteriormente, a juventude das classes populares – dos bairros pobres e das favelas. Para compreender a juventude do século 21, é necessário desconstruir esse modelo de juventude idealizado pelo mundo adulto burguês, que foi forjado a partir do projeto iluminista, servindo-se do discurso evolucionista. Esse modelo determina uma forma homogeneizada de ser jovem: baseada no consumo, no individualismo e na inserção no mercado de trabalho como únicas possibilidades de realização pessoal. Mas os jovens querem mais: “a gente não quer só comida; a gente quer comida, diversão e arte”. Contemporaneamente as transformações geradas pela experiência com o tempo e com o espaço contribuíram para a emergência de novas formas para a juventude se fazer visível e presente, principalmente no campo da cultura. O jovem aparece como agente social e sujeito produtor da cultura, com formas de organizações e expressões culturais criativas, mas que também
apresenta contradições, limites e possibilidades de uma sociedade excludente e repressora. Nesse sentido, a juventude atual é fruto de uma sociedade que convive na fragmentação e na pluralidade, reflexo do processo de modernização causado pelo capitalismo globalizado e pelas imposições de uma cultura de massa homogeneizante. Porém, a falta de políticas públicas capazes de responder às necessidades dos jovens, principalmente das classes populares, muitas vezes os limita nos seus espaços de invisibilidade, tornando-os, sob o ponto de vista da sociedade de consumo, sujeitos de identificação estereotipada e condenatória. Não obstante, esses jovens da periferia atuam na construção de alternativas no contexto em que as diferenças e os processos de homogeneização se encontram em negociação permanente. O funk e o hip-hop são exemplos dessa pluralidade criadora. Os integrantes desses movimentos ocupam uma posição marginal e, ao mesmo tempo, central na cultura brasileira. Embora estigmatizados e excluídos, esses jovens estão em sintonia com a sociedade pluralista e global. Eles conseguem alguma visibilidade e representação num terreno demarcado, paradoxalmente, pela exclusão. Portanto, são espaços de ressignificação para os jovens das periferias. A história do “Duelo de MCs”, do Viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte, por exemplo, ilustra bem esse movimento de superação da juventude marginalizada. Apesar de a discussão em torno da juventude ainda ser marcada por temas negativos, nos últimos anos começaram a surgir discretas políticas públicas para a população juvenil. A juventude brasileira carece de mais atenção por parte do Estado.
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MetrOpolis • capa
barackobama.com
Depois de sair derrotado no primeiro embate em cadeia nacional, Obama partiu para o ataque no debate promovido em Hempstead, Nova York ..............................................................................................................................................................................................................................................................
A cartada final Romney e Obama disputam voto a voto em uma das corridas mais disputadas de todos os tempos Greice Rodrigues, de Nova York A poucos dias das eleições presidenciais americanas, ainda não é possível apontar quem vai ocupar a Casa Branca nos próximos quatro anos. As pesquisas mostram uma apertada vantagem do candidato democrata Barack Obama sobre o republicano Mitt Romney. Mas no primeiro embate face-to-face, o ex-governador de Massachusettes saiu vencedor. Para 67% dos americanos que assistiram ao debate, Romney obteve melhor desempenho, tendo sido mais convincente que o seu opositor. O resultado
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deixou a disputa mais competitiva, e o caminho até a Casa Branca, mais íngreme, principalmente para o presidente Barack Obama, apontado como candidato mais qualificado para o posto. O efeito pós-debate alcançou uma proporção que tem preocupado os democratas. As últimas pesquisas nacionais e em vários estados decisivos mostram que a vantagem de Obama contra Romney diminuiu significativamente, após o primeiro embate. Votos,
MetrOpolIS • capa
como o do americano Michael O’Reilly, 51 anos, ganharam a preferência do republicano. “Depois do debate, eu me senti mais confortável sobre Mitt Romney. Precisamos de uma liderança boa e sólida, e eu não vejo essa qualidade em Obama”, opina. Os dois estão empatados com 48%, com uma margem de erro de dois pontos percentuais. Esses dados levaram os democratas a redefinir a estratégia nos últimos passos da campanha. Obama reconheceu que o rival havia saído vitorioso no primeiro debate presidencial e prometeu ser mais enérgico no segundo confronto. E a promessa foi cumprida. No dia 16 de outubro, os candidatos voltaram a “duelar”. O segundo debate foi promovido em Hempstead, no estado de Nova York. Irônico e agressivo, o presidente não lembrava o Obama apático visto no dia 3 de outubro. Já Romney manteve o tom crítico. Os candidatos trocaram farpas, atropelaram a fala um do outro e, em diversos momentos, trocaram
acusações. O que era para ser um encontro para discutir planos de governo e atrair o olhar do eleitor indeciso assumiu clima de guerra. O republicano voltou a criticar a economia e a política externa americana. Obama tentou desconstruir a ideia de que as propostas econômicas do rival republicano seriam as melhores para a nação. Assuntos, como impostos e imigração, colocaram lenha na fogueira. De acordo com pesquisas divulgadas pela CNN e CBS, o resultado do segundo debate foi favorável a Obama. Entretanto, o democrata não atingiu o resultado expressivo de Romney no primeiro encontro. Na enquete da CNN, o presidente teria saído vencedor para 46% dos cidadãos ouvidos, enquanto Romney teria obtido melhor desempenho para 37% dos entrevistados. A pesquisa da CBS apontou vantagem de Obama de 37% contra 30% para Romney. Os resultados contrastantes colocam um grande ponto de interrogação na cabeça do eleitor. E as dúvidas aumentam diante das fragilidades dos candidatos. Para muitos eleitores, o republicano ainda não convenceu mittromney.com
Empatado com Obama, Romney poderia estar numa situação mais confortável, se não gerasse tanta desconfiança no eleitorado americano ..............................................................................................................................................................................................................................................................
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como a melhor alternativa. A falta de clareza e de detalhes das propostas apresentadas por Romney tem provocado especulações e incertezas sobre o futuro da nação, caso ele chegue lá. Certo mesmo é que o republicano tem mudado o discurso a cada etapa da campanha. Durante as primárias, no começo do ano, Romney chegou a se declarar como conservador severo, mas mudou o tom da conversa com o objetivo de atrair eleitores. Nas últimas semanas, ele parecia estar tentando moderar suas posições sobre as questões-chave, incluindo impostos, saúde, imigração e aborto - temas que os dois candidatos encaram de forma completamente distinta.
Isso é o que se espera de um líder”, disse Obama. Nas últimas semanas, esse assunto vem ganhando destaque na mídia americana, o que tem forçado o republicano a dizer o que pensa. Em 2002, quando concorria à eleição para governador de Massachusttes, Romney chegou a afirmar que iria “proteger e preservar” o direito da mulher de optar pelo aborto. Mas ele não pensa mais assim. Agora defende o aborto apenas em casos de estupro, incesto ou para preservar a vida da mãe. Disse também que sempre se opôs e que, caso seja eleito, tomará medidas para reduzir o número de abortos realizados no país. “Sou um candidato pró-vida e serei um presidente pró-vida”.
Partidários do presidente Obama também afirmam que o republicano tem evitado assuntos mais polêmicos, como o direito ao aborto, para não expor sua “real” opinião sobre os temas. Mas essa estratégia de manter à distância o assunto não tem dado certo. “O povo precisa entender o que é que nós defendemos.
No entanto, os analistas afirmam que a mudança marcante veio de sua proposta sobre impostos. Mitt Romney afirmou que pretende equacionar a economia do país com quatro medidas básicas: redução dos gastos do governo em 20%, corte das taxas de imposto de renda em 20%, eliminação ou redução dos
barackobama.com
O déficit econômico de US$ 1 trilhão e a baixa geração de empregos no último ano de mandato podem custar a reeleição de Obama ..............................................................................................................................................................................................................................................................
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incentivos fiscais e aumento de 40% no investimento militar. No entanto, economistas independentes têm afirmado que não é possível alcançar todas essas metas, sem que ocorra perda de receita e aumento de impostos para a classe média. Essas medidas, segundo estudo do Centro de Política Fiscal, uma entidade independente, redundariam em benefícios fiscais para os mais ricos – os 3% da população que ganham acima de US$ 200 mil por ano – e em aumento para os americanos com salários inferiores a esse valor. Durante o debate, Romney disse não reconhecer essa proposta como parte de seu programa de governo. “Não pretendo cortar 20%”. Só que ele não deu detalhes sobre o que realmente planeja. Mesmo com as gafes do opositor, o principal adversário de Barack Obama pode ser ele mesmo. Há quatro anos, Obama chegou à presidência com a promessa de que mudaria a economia e a vida dos americanos. Ele pode perder a eleição pelo mesmo motivo. Obama fez uma série de reformas para acabar com as práticas de Wall Street. Instituiu programas para ajudar pequenas empresas e consumidores, mas seu plano de estímulo, que temporariamente ajudou a impulsionar a economia, não conseguiu derrubar significativamente a taxa de desemprego, que chegou ao recorde de 9,1%. Além disso, o presidente deve encerrar o mandato com um déficit que supera US$ 1 trilhão. Com esse histórico negativo, Obama vem recebendo críticas, principalmente do seu concorrente sobre a ainda frágil economia, reconhecidamente o ponto de maior vulnerabilidade do atual governo. Embora um estudo recente do departamento do trabalho tenha mostrado um importante recuo na taxa de desemprego, os números ainda são desfavoráveis.
dos americanos, prometendo que os próximos anos serão menos áridos. Para isso, ele pretende reduzir os gastos públicos e elevar as taxas de impostos para os ricos. Dessa forma, espera colocar a economia de volta nos trilhos. Não será menos fácil que a primeira tentativa, mas fiéis eleitores de Obama acreditam que ele possa conseguir. “Ele é a nossa melhor opção. Não vivemos um momento tranquilo agora, mas acredito que possa ser melhor com a reeleição do presidente Obama. Eleger o candidato republicano seria um retrocesso”, diz o consultor americano Jeffrey Wingo. Inegavelmente ambos os candidatos têm planos ambiciosos para os próximos quatro anos. Obama promete criar 1 milhão de empregos industriais. Também prevê para a próxima década um crescimento econômico anual de 3,2%. Mitt Romney também tem ideias audaciosas. Se eleito, pretende criar 12 milhões de empregos no total. Já a economia, em sua administração, deve crescer entre 3,5 e 4% ao ano: um futuro pouco provável em curto prazo.
De acordo com os pesquisadores, a população latina compõe o maior grupo minoritário dos EUA. Trata-se do segmento de mais rápido crescimento do eleitorado americano
O candidato democrata tenta resgatar a confiança
voto latino nas eleições americanas
Cerca de 24 milhões de latinos estão aptos para votar na eleição presidencial americana deste ano. Considerada recorde, a quantidade é 22% superior ao número de eleitores latinos que compareceram às urnas em 2008. Em números, esse índice representa um aumento de mais de 4 milhões de eleitores. Os dados são do Pew Hispanic Center, uma organização de estudo e pesquisa, sem fins lucrativos, com sede em Washington, DC. Um estudo feito pelo Censo Bureau dos EUA mostrou que 51,9 milhões de latinos vivem nos EUA. O número equivale a 16,7% da população. Os latinos compreendem um percentual cada vez maior entre os 215 milhões de eleitores americanos. Representam
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11%, contra 9,5% em 2008 e 8,2% em 2004.
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De acordo com os pesquisadores, a população latina compõe o maior grupo minoritário dos EUA. Trata-se do segmento de mais rápido crescimento do eleitorado americano. Numa eleição com tendência para ser disputada voto a voto, esse grupo pode ser decisivo no próximo pleito. De olho nesse fenômeno, os republicanos têm investido pesado contra o presidente Obama. Nas críticas, os adversários alegam que Obama não cumpriu as promessas feitas na eleição passada; que o presidente falhou principalmente na criação de empregos, prejudicando diretamente a comunidade latina. Ao mesmo tempo, o candidato Romney tenta recuperar sua imagem manchada com o título de “perseguidor de imigrantes”. O candidato chegou a anunciar que, se eleito, agiria com rigor contra imigrantes ilegais no país. Mas até agora a vantagem está com o democrata Barack Obama. As pesquisas têm apontado que ele ainda é a opção da maioria dos latinos.
Entenda como funcionam as eleições nos Estados Unidos As eleições acontecem a cada quatro anos. Os dois principais partidos são o Democrata e o Republicano. O Sistema O processo eleitoral americano é complexo e controverso. O presidente não é eleito pelo voto popular. A população pode votar, mas quem decide o vencedor é o Colégio Eleitoral, um colegiado composto por delegados que foram eleitos pelo povo para representá-lo nas urnas. O Colégio Eleitoral é um mecanismo formulado pelos criadores da Constituição Americana. Os legisladores entenderam que não seria prudente eleger um presidente apenas com o voto popular. Dessa forma, ficou estabelecido o Colégio Eleitoral. Os delegados que compõem o colegiado são representantes dos partidos de todos os estados americanos. O número de delegados por estado é proporcional ao número de deputados e senadores que o estado tem na Câmara e no Senado. Mas são, no mínimo, três representantes por estado, com o total de 538 delegados compondo o Colégio Eleitoral. Na prática, o Colégio Eleitoral vota no candidato escolhido pelos eleitores. Por isso, para ganhar a eleição, o candidato precisa ter a maioria dos 538 votos da agremiação. Peculiaridades As eleições acontecem sempre na primeira terça-feira do mês de novembro. Cada estado organiza seu sistema de votação e suas regras eleitorais. Há estados que começam a votar um mês antes das eleições. Os eleitores podem votar diretamente para presidente, mas esses votos não terão peso na contagem final. Portanto, mesmo que um dos candidatos receba a maioria dos votos de eleitores, ele só sairá vencedor caso conquiste a preferência majoritária do Colégio Eleitoral, que corresponde a 270 votos.
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ARTIGO - POLÍTICA
pAULO fILHO Jornalista e consultor de Comunicação Social paulojfilho@ig.com.br
A verdade em quatro ou dois anos Terminada a eleição em Belo Horizonte, nenhuma surpresa foi registrada. Tudo ocorreu como era esperado e anunciado pelos institutos de pesquisa. A entrega do poder municipal pelo PT ao grupo aecista, iniciada em 2008 e capitaneada por Pimentel, Virgílio Guimarães e Roberto Carvalho, foi culminada agora.
sem bolsões onde o poder público atua (Zona Sul principalmente) e o “resto”: a cidade periférica, na qual ações que redundem em infraestrutura, urbanismo, limpeza urbana, lazer, serviços de saúde, educação e transporte e, especialmente, fiscalização, praticamente não existem.
Nem mesmo a renovação de cerca de 50% da Câmara Municipal pode ser considerada uma “novidade”. A representação atual é muito ruim. Se tem alguma surpresa na nova composição da casa, essa pode ser considerada a reeleição de alguns vereadores de péssimo trabalho que passaram por situações de muita exposição vexatória durante todo o mandato.
Essa tarefa de construção de uma cidade melhor e mais evoluída pode ter um personagem de suma importância: o futuro vice-prefeito, o deputado estadual Délio Malheiros (PV). Principal e mais ácido crítico da gestão de Marcio Lacerda, Délio apontou com desenvoltura e contundência várias falhas e problemas da atual gestão. Alguns até mesmo, sempre segundo o deputado, são de natureza ética (como os casos do “buraco” eleitoreiro na Praça Sete e o cabide de empregos com as contratações terceirizadas, burlando a Lei de Responsabilidade Fiscal).
“Se tem alguma surpresa na nova composição da casa, essa pode ser considerada a reeleição de alguns vereadores de péssimo trabalho”
Marcio Lacerda reeleito, agora por conta e vontade próprias, tem a obrigação de dizer a que veio. E a cidade tem a obrigação de cobrar isso dele. Mais do que inaugurar obras que se arrastam inconclusas pelo tempo e que vão nascer já defasadas e vencidas (haja vista a ligação Pedro II/ Av. Tancredo Neves e as infindáveis obras da Cristiano Machado e da Tereza Cristina), o prefeito terá que justificar sua fama de “bom administrador” conseguida no desempenho das suas atividades privadas. Agora ele terá de planejar a cidade e tratá-la como um todo,
O deputado é conhecedor dos problemas da gestão e das necessidades da cidade. Candidato declarado de oposição nos últimos três anos e meio, Malheiros agora está do lado “de dentro”. Então ele terá de fazer “das tripas, coração” para a cidade avançar e, assim, justificar sua mudança de lado. E isso pode ser em quatro anos como vice ou em dois como prefeito.
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Salutaris • SAÚDE
Vida nova Cerca de 2 mil pessoas esperam por um órgão em Minas Gerais. O estado tem um dos menores índices de famílias que se opõem à doação André Martins Na noite do dia 23 de fevereiro de 1996, um santista de 23 anos era vítima de um assalto a mão armada na periferia da capital paulista. Ao ser abordado próximo a um caixa eletrônico, o jovem professor de jiu-jitsu conseguiu levar o criminoso ao chão, mas acabou baleado. No hospital, toda intervenção médica foi em vão. A bala havia se alojado na cabeça do rapaz. O coração, como órgão de movimentos involuntários, continuava batendo, mas o cérebro não era capaz de elaborar um comando sequer. Entre os pertences do jovem, a família teria encontrado uma carta com um pedido: caso alguma fatalidade viesse a acontecer, ele deixava claro o desejo de que todos os seus órgãos fossem doados. Essa é uma história incompleta. Os pormenores, por mais se que quisesse conhecer, não poderiam ser Arquivo Pessoal
Márcia Maluf é a primeira mulher transplantada de coração do país .........................................................................................................................
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acessíveis, devido à política de sigilo do hospital onde o rapaz deu entrada naquele triste dia. Quem fala do pouco que sabe é Márcia Maluf. No peito dela pulsa o coração do rapaz cujo nome ela desconhece e a face nunca viu. O que sabe foi contado a ela de maneira sucinta por enfermeiras do hospital. Era consenso entre os médicos que, na situação em que se encontrava, Márcia não resistiria mais que três meses. Ela tinha pressa. Naquela mesma noite, o som do telefone irrompeu pela casa às 23h30. São detalhes que ela diz nunca mais esquecer. O Hospital Dante Pazzanese comunicava o surgimento de um coração compatível. Chegara a hora. Uma das lembranças mais marcantes de Márcia foi a de ter acordado emocionada na manhã seguinte, num sábado. Depois de anos, ela conseguia respirar fundo. O coração “velho”, de tão dilatado, prejudicava o aparelho respiratório, sufocando-a. Mas o órgão havia sido substituído. Agora, sim: ela estava pronta para a vida. A tradutora de textos, hoje com 59 anos, foi a primeira mulher a se submeter a um transplante de coração no Brasil. É uma das poucas transplantadas daquela época que ainda vivem. Márcia continua assistida pela equipe médica do Hospital Dante Pazzanese. O sorriso estampado passou a ser uma de suas principais marcas. É uma forma de agradecer à vida. “Há 17 anos, esse coraçãozinho bate firme e forte no meu peito. Hoje eu levo uma vida feliz. Trabalho muito e danço toda sexta-feira na Noite do Flashback. Sou muito mais saudável e feliz do que quando era 17 anos mais nova. Falo que cuido de duas vidas: da minha e da desse rapaz que foi embora para eu viver. Eu tenho dupla responsabilidade hoje”, conta.
Salutaris • SAÚDE
mg transplantes Histórias parecidas com a de Márcia se repetiram por quase 68 vezes em cada um dos 182 dias que compreenderam o primeiro semestre de 2012. Foram realizados 12.287 transplantes no Brasil. Um aumento de 22% em relação ao mesmo período de 2011. Em Minas Gerais, a captação e todo o processo que envolve um transplante são coordenados e realizados pelo MG Transplantes. A instituição tem seis coordenações regionais em todo o estado. O complexo mineiro é o segundo em número de transplantes realizados e um dos mais eficientes do país, ficando atrás apenas da central catarinense. Em 20 anos de atividades, mais de 25 mil transplantes foram feitos em Minas. O índice de doações em 2003 era de 3,6% por milhão de habitantes. Agora saltou para 12,7% - muito próximo da meta brasileira, que é de 15%. A evolução é creditada à elaboração de uma política para a criação da cultura de doação de órgãos. A maioria dos transplantes, entretanto, continua sendo realizada na região central do estado. No primeiro semestre de 2012, 76 transplantes foram feitos
na região, enquanto que a soma dos procedimentos nas demais regiões chegou a 52. De acordo com o diretor do Complexo MG Transplantes, o doutor Charles Simão, a concentração evidencia a situação crítica observada no interior. Longe da capital, até mesmo a realização dos exames necessários para averiguar a condição do paciente que espera é algo dificultoso e demorado. “Existe um sem-número de cidades de Minas que não participam do processo por uma dificuldade: a falta de centros de terapia intensiva. E sem leitos de CTI não existe doação de múltiplos órgãos”, revela. O fato acaba refletindo na disparidade entre órgãos doados e transplantes realizados. Pela falta de capacidade dos hospitais, o que poderia salvar uma vida acaba sendo descartado. O governo pretende sanar o problema, aumentando o número de equipes transplantadoras e a rede de hospitais que realizam transplantes. De acordo com o doutor Charles Simão, Belo Horizonte terá a capacidade de atendimento ampliada. Em breve, uma das alas do Hospital Júlia Kubitschek será devotada para procedimentos transplantadores. Serão cerca de 50 leitos de CTI e 20 de UTI. O anúncio foi feito no lançamento da Cartilha do Receptor, em setembro.
Gil Leonardi/ Secom-MG
Identificado o receptor compatível, a equipe do MG Transplantes direciona o órgão doado ao hospital onde o transplante será realizado ..............................................................................................................................................................................................................................................................
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Salutaris • SAÚDE
A equipe aproveitou a “deixa” para anunciar que Minas Gerais conseguiu zerar a fila de córnea. O fato se deve ao aumento na captação. A fila de maior concentração continua sendo a de rim. Até 2015, o governo espera colocar um ponto-final na espera dos mais de 2 mil pacientes que aguardam no estado. “ sou um doador” Em outubro de 2012, o facebook atingiu a marca de 1 bilhão de usuários. A projeção alcançada pela rede de relacionamentos tornou a empresa um importante meio publicitário e um instrumento poderoso para a divulgação de causas sociais. Desde agosto, os usuários da rede no Brasil, a exemplo dos americanos, podem se declarar doadores de órgãos. A informação fica discriminada na linha do tempo do indivíduo. O usuário que desejar se manifestar como doador deve clicar em “Evento cotidiano” (na caixa de texto do próprio mural), escolher a opção “Saúde e bem-estar” e selecionar “Doador de órgãos”. O passo seguinte é adicionar o local, o mês e o ano da “assinatura virtual”. Caso queira, o usuário pode ainda apontar as razões para a tomada da decisão. Até o fechamento desta edição, mais de 115 mil pessoas haviam se declarado doadoras na rede. O Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da
Saúde, Helvécio Magalhães, lembra que a ferramenta tem a intenção única de estimular a doação e de ser um instrumento de registro da vontade individual. “Ainda assim, a conversa com os familiares continua insubstituível nesse processo, pois a decisão final para a autorização da retirada de órgãos sempre cabe aos parentes”, explica. negativa O Brasil ocupa o posto de maior transplantador público de órgãos do mundo, mas o Ministério da Saúde se vê diante de um problema que dá fim a muitos processos de doação: a não autorização por parte das famílias. Nos primeiros seis meses de 2012, 63% dos entes abordados demonstraram resistência à doação. Em Minas Gerais, o índice é perceptivelmente inferior ao nacional: corresponde a 28%. “É difícil para a família entender o protocolo de morte encefálica. O paciente permanece com o coração batendo, mantém o corpo quente, mas está morto. Muitos fatores culturais também estão envolvidos, além da falta de informação. Diante do desconhecido, a tendência da família é rejeitar. Se as pessoas pudessem discutir o assunto ao longo da vida, esse quadro poderia ser diferente”, analisa a coordenadora do Grupo de Apoio à Vida (GAV) do MG Transplantes, Débora Iracy Melane Neves.
Entenda o processo de doação de órgãos Na observação cotidiana dentro dos hospitais, agentes da Central Estadual de Notificação e Captação de Órgãos (CNCDO) realizam levantamentos de pacientes que caminham para um diagnóstico de morte encefálica: os potenciais doadores. Constatada a morte cerebral de um indivíduo por meio de diversos exames neurológicos, as psicólogas do GAV entram em contato com os parentes do paciente e apresentam a possibilidade da doação. Caso a família se apresente receptiva à ideia, os responsáveis assinam a autorização para a retirada dos órgãos. Nesse meio-tempo, o corpo é mantido em funcionamento e estabilizado para o não comprometimento dos órgãos. Realiza-se o cruzamento de informações no sistema do MG Transplantes, que fica conectado ao sistema nacional. O banco de dados nacional reúne informações sobre as filas e os perfis de receptores em todo o Brasil. Os órgãos são retirados, encaminhados para os receptores ativos (em condições de passarem pela cirurgia) e os transplantes são prontamente realizados. A maioria dos órgãos passíveis de doação não resiste mais que seis horas fora do corpo. Paralelamente a esse processo, o hospital entrega o corpo do doador à família em perfeitas condições estéticas para a realização do velório.
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ARTIGO • PSICOLOGIA
maria angélica falci Psicóloga clínica e especialista em Saúde Mental angelfalci@hotmail.com
Mãe, cadê meu pai? É fato que a cada ano cresce o número de mães que chefiam lares sem a companhia e o apoio da figura paterna. Ocorrências existem em todas as idades produtivas – seja pelo inesperado, seja por mulheres que optam pela produção independente. Sabemos da importância de uma família bem-estruturada, com suas funções definidas. Até mesmo de forma inconsciente, o pai tem um papel formador na construção de valores e caráter. É o que chamamos da “Lei do pai”. Mas e quando a figura paterna inexiste? O que fazer? Muitas vezes é preciso que a mulher tenha os pés no chão e saiba se posicionar perante o filho para criá-lo com valores sustentáveis e muito amor, sem interferência da angústia materna. Em grande parte, o que ocorre é uma dificuldade da mulher de lidar com a ausência. Tornam-se mães atingidas pela amargura, com não aceitação da separação e com rancor da figura masculina. Essa junção de fatores pode acabar por desenvolver conflitos na percepção e na formação emocional da criança.
Ser mãe sozinha tem, sim, sabores e dissabores. Alguns especialistas revelam que filhos bem criados pela mãe sozinha tendem a ser pessoas bem-relacionadas, sensíveis e amadurecidas. Isso, quando uma mãe tem os requisitos dentro de uma “normalidade” de bons valores e boa conduta. São mães que não fazem referências negativas nem compartilham suas mazelas emocionais com aquela pequena pessoa em formação, que pouco pode fazer para ajudar. É muito importante que as mães busquem ajuda para si ou para seus filhos, quando a situação fica insustentável. É quando se percebe que não é possível dar conta sozinha, quando a melancolia surge, quando o filho se angustia e não for possível vivenciar certos questionamentos e preconceitos da sociedade.
“Filhos com percepções assoladas pelas angústias maternas podem desenvolver dificuldades de relacionamento por associarem a imagem do pai à de uma pessoa que causou sofrimento à mãe”
Filhos com percepções assoladas pelas angústias maternas podem desenvolver dificuldades de relacionamento por associarem a imagem do pai à de uma pessoa que causou muito sofrimento à mãe. Isso pode interferir no relacionamento do pai com a criança ou até mesmo influir no desejo dela de ter uma família.
Uma mãe sozinha não pode deixar suas aflições tomarem conta do desenvolvimento do filho. Ela precisa entender que não pode aguçar sentimentos negativos. É fundamental ter a vida social ativa, ter pessoas próximas, familiares que possam ajudar a preencher esse vazio e ser um modelo e bom exemplo para a criança.
É preciso ter uma autoestima adequada e muita força interna para enfrentar as perguntas e curiosidades dos filhos. De forma geral, é preciso manter sempre a verdade numa dosagem que a criança possa elaborar e digerir. Isso é fundamental para que ela cresça de maneira saudável, sobressaia em relação ao desconforto emocional e desenvolva um futuro promissor em todas as áreas.
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SALUTARIS • receita
Fetuccine com camarões INGREDIENTES:
MODO DE PREPARO:
160 g de Fetuccine 40 g de casca da abobrinha 150 g de camarão 80 g de molho de tomate 30 g de cebola Azeite à vontade
Refogue a cebola no azeite e adicione os camarões. Logo após, acrescente os filamentos de abobrinha. Adicione a massa e o molho de tomate. Corrija o tempero. Fonte: Villa Madalena/ Rede Gourmet
Divulgação/ Villa Madalena
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SALUTARIS • vinhos
O vinho e as confrarias Danilo Schirmer Não é de hoje que muito se ouve falar sobre confrarias. Desde a Idade Média, essa prática vem sendo difundida pelo Velho Mundo e acabou ganhando força pelo resto do mundo. O objetivo delas é associar pessoas com interesses em comum e que compartilham a mesma filosofia e ideais. Têm como princípio que a identidade de cada grupo deve ser preservada, difundida e celebrada por todos os membros. As confrarias religiosas, irmandades e maçonarias são exemplos mais comuns que existem. Mas, em uma história recente, começaram a surgir outros tipos de confrarias. Esse novo comportamento contribuiu para o interesse, crescimento e aperfeiçoamento dessas associações. E numa sociedade em que cada vez mais o tempo é artigo de luxo, ter a oportunidade de encontrar amigos e fazer novas amizades é motivo de grande prazer e satisfação. Sempre que se trocam experiências e conhecimento, as mentes se expandem e as almas são alimentadas.
Dependendo da quantidade de álcool ingerida, essa percepção vai ficar bastante comprometida e, com certeza, a degustação não será aproveitada ao máximo. No mais, respeite sempre a opinião individual dos participantes. Lembre-se de que é a troca de informações e opiniões que enriquece os encontros. Todos devem se sentir bem à vontade para que, no final, prevaleça a democracia. Desejo a todos, momentos únicos e inesquecíveis. Um brinde à vida! Stock.xchng
No mundo do vinho não é diferente. As confrarias reúnem interessados, estudiosos, apreciadores e entusiastas dessa bebida que tanto encanta e apaixona. Muitas vezes servem como um controle de qualidade para esse tsunami de vinhos que ocorre no Brasil, assim como para os iniciantes e os amantes desse estilo de vida. Um dos pontos positivos das confrarias é o acesso à bebida e a possibilidade de degustar um número maior de rótulos que, às vezes, têm um alto valor agregado. Outro ponto positivo é a possibilidade de fazer anotações técnicas e pessoais a respeito de cada rótulo. Além de boas lembranças, as confrarias são importantes para futuras consultas. Na hora de escolher os vinhos a serem degustados, alguns temas podem ser sugeridos: país, região, tipos de uvas, estilos de vinhos, dentre outros. É válido atentar em relação à quantidade de garrafas consumidas por encontro.
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horizontes • turismo
Fotos: Bianca Nazaré
Vista da Praça do Papa rumo ao norte de Belo Horizonte, do alto do novo Parque Serra do Curral ..............................................................................................................................................................................................................................................................
Novos ares A abertura do Parque Serra do Curral pretende estimular a preservação do patrimônio histórico Bianca Nazaré “Proibido escalar. Proibido sentir o ar de liberdade destes cimos, proibido viver a selvagem intimidade destas pedras que se vão desfazendo em forma de dinheiro. Esta serra tem dono”. Foi com o poema Triste Horizonte que Carlos Drummond de Andrade representou, em 1976, indignação pelo descuido com a Serra do Curral. Mesmo não sendo natural de Belo Horizonte (o poeta nasceu em Itabira), ele foi
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um dos responsáveis por incentivar a preservação do cartão-postal da cidade. A pedido de Drummond, funcionário público do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1960, a serra foi tombada como patrimônio nacional. Mesmo com a suposta proteção, isso não impediu que mineradoras e imobiliárias continuassem
horizontes • turismo
cavando e descaracterizando a serra. Quando a área de 400 mil metros quadrados passou a pertencer à prefeitura de Belo Horizonte, em 1990, a ideia de criar um parque para preservar o lugar começou a ser esboçada. A iniciativa veio dos funcionários do Parque das Mangabeiras. Na época, o espaço era chamado de Paredão da Serra, segundo conta o presidente da Fundação de Parques Municipais, Homero Brasil Filho. O parque aberto ao público evitaria as constantes queimadas bem como a circulação clandestina de motos de corrida. A Fundação de Parques foi criada em 2005, e a responsabilidade de cuidar de 54 parques impediu a retomada do novo projeto, como revela Homero. “Em 2007, a Fundação já estava tranquila. O então presidente Luiz Gustavo Fortini falou: ‘vamos retomar a criação do parque Serra do Curral’ e aí se procedeu como seria a concepção do projeto”, detalha. “Em 2008 foi realizada a licitação, e as principais obras foram executadas: a Portaria 1, a praça do encontro e a Portaria 2, no Parque das Mangabeiras. Ficaram prontas no segundo semestre de 2009. Infelizmente o parque precisava de alguns ajustes por causa do vandalismo que destruiu uma parte das obras”, lembra Homero. Mas os trabalhos foram paralisados em 2010. Em 2011, alguns problemas ainda impediam a abertura. Em setembro de 2012, porém, todas as obras foram concluídas. Finalmente o Parque Serra do Curral foi aberto ao público, após longa espera e gastos de quase R$ 2,2 milhões. O espaço conta com 38 funcionários. A guarda municipal e a polícia florestal fazem a guarda e impedem que as motos retornem, embora Homero revele que os motoqueiros cortam as cercas para passar. Essa privação, segundo ele, é pelo objetivo primeiro de preservar a serra. “Também queremos oferecer para os belo-horizontinos e os visitantes da cidade essa opção turística, que por sinal ‘está bombando’. Há domingos que recebemos cerca de 600 pessoas. Todas as trilhas acontecem diariamente. Nos sábados e domingos estamos com 100% de ocupação”, expõe.
Visitantes fazem a Trilha da Serra, próximos ao ponto mais alto da crista da Serra do Curral .........................................................................................................................
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horizontes • turismo
trilha da serra Para fazer a Trilha da Serra, o visitante deve marcar com antecedência. O percurso de 2,3 mil metros de extensão abrange a crista da montanha numa altitude que chega a 1,38 mil metros. Inicialmente cogitou-se a cobrança de taxas para os visitantes que optarem por fazer a trilha, o que causou certo alvoroço. O presidente da Fundação de Parques afirma que a taxa foi uma proposição da fundação, mas precisa ser regulamentada. A cobrança foi considerada necessária para o pagamento do seguro contra acidentes e do transporte de ônibus que traz os visitantes de volta ao início da partida. O parque oferece 12 guias, dois deles bilíngues. “É um parque diferenciado e tem um custo. Agora, se será cobrado ou não, é decisão do governo”, completa Homero. Por enquanto, as visitas são gratuitas. A caminhada em torno da Serra do Curral exige certo esforço físico. A trilha pode durar até três horas, se for feita no caminho completo, ou duas horas pelo atalho. São quatro níveis de dificuldade Bianca Nazaré
(leve, moderado, difícil e muito difícil). Roupas leves, tênis e água são obrigatórios. O conselho é ir de boné ou chapéu para se proteger do sol. Protetor solar nunca é demais. Pelo atalho, a caminhada inicial é mais puxada. É a parte mais íngreme e, dependendo do horário escolhido para a caminhada, subir será difícil com o sol queimando o corpo. Mas o passeio fica agradável nas partes mais altas da Serra. A vista de toda a Belo Horizonte e de algumas áreas de Nova Lima e Itabirito impressiona. O engenheiro Eduardo Ferreira, 57 anos, trouxe a família para conhecer o novo parque e fazer a trilha. Acostumado a correr na Volta Internacional da Pampulha, para ele foi fácil aguentar a caminhada em clima quente. Fátima Ferreira, esposa do engenheiro, acompanha com interesse, mas acha difícil a descida pelas escadas e pelas pedras escorregadias. O filho Vítor, de 27 anos, foi o primeiro a completar toda a trilha, mesmo não tendo o hábito de fazer caminhadas como o pai. “Achei ótimo. Os nossos parques deveriam ser mais bem cuidados. É preciso incentivar mesmo. Eu venho ao Parque das Mangabeiras quase diariamente, pela manhã, para correr. Há 20 anos, eu dei a volta na Serra do Curral por Nova Lima. Estou puxando meu filho aos poucos. Ele começou bem, mas agora só fica no computador”, desabafa Eduardo. A posição onde se encontra a Serra do Curral é dividida por diversos tipos de vegetação. Na crista é composta por campos rupestres ferruginosos. Na base, a vegetação é formada por campo cerrado (ou campo sujo). Algumas áreas de floresta, subtipos de mata atlântica, podem ser vistas de cima da serra, localizadas na Mata do Jambreiro e no Parque das Mangabeiras. A vegetação diversificada é um indício da variedade de animais presentes, ensina o biólogo da Fundação de Parques Municipais, Hernesto Lemes.
Eduardo Ferreira, visitando o novo parque, pede a proteção da Serra .........................................................................................................................
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Segundo o biólogo, não é possível estimar a quantidade de espécies animais viventes na Serra do Curral, mas foram registradas mais de 160 espécies de aves. “A gente pode falar que existem quatis, ouriços-caixeiros, tatus: animais mais populares. Mas há muitos outros, como cuícas, gambás, coelhos, etc. Não é possível fazer uma estimativa”.
Artigo • meteorologia METEOROLOGIA
Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo Professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com
Temperatura recorde A Organização Mundial de Meteorologia (OMM) é o órgão das Nações Unidas responsável por padronizar e intermediar a coleta de dados meteorológicos nos mais diversos países. Diariamente circulam na rede mundial milhares de informações meteorológicas. Não existem fronteiras nem barreiras para o recebimento de dados, pois a previsão meteorológica e os alertas dependem de informações em tempo real. No banco de dados da OMM, a cidade que havia apresentado a temperatura mais alta do mundo ficava na Líbia, precisamente em El Aziza, a 40 km da capital Trípoli. Na localidade foi registrada uma temperatura de 58ºC, em 1922. Todos os livros de climatologia sempre divulgaram essa como a temperatura mais quente do mundo. Mas, em 2010, o climatologista Christopher Burt levantou dúvida em seu blog sobre a veracidade dessa informação. Ele se baseou numa análise de dados coletados em outras estações meteorológicas na mesma época, na Líbia.
Infelizmente, devido à guerra civil que estourou no país em 2011, essa informação só pôde ser confirmada agora, quando a OMM recebeu cópias em papel dos registros feitos na estação meteorológica. O primeiro problema verificado foi a estação ter mudado de local três vezes; o segundo foi que as temperaturas nas estações meteorológicas mais próximas nesse dia não ficaram acima de 32 graus; e o terceiro: a caligrafia do registro da temperatura era diferente. Portanto, ficou fácil verificar que o observador meteorológico que fez leitura não tinha grandes conhecimentos de operação de uma estação meteorológica. O instrumento de medição da temperatura instalado na época, o termômetro 6-Bellini, tem duas extremidades. Tudo indica que o observador fez a leitura somente na parte de cima. Depois desse erro, a OMM realizou nova pesquisa, dessa vez, muito criteriosa. A instituição verificou que a cidade de Furnace Creek, localizada na região desértica do Vale da Morte, na Califórnia, é a que detém o recorde mundial de temperatura alta: 56,7°C, registrada em 10 de julho de 1913.
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Artigo • oriente médio
Frei geraldo van buul geraldovanbuul@hotmail.com
Notícias da Terra Santa Em todo canto estão surgindo protestos contra um filme considerado pelos muçulmanos um desrespeito a Maomé. Como se não bastasse, na França e na Alemanha foram publicados desenhos do profeta que também despertaram a ira muçulmana. É claro que a liberdade de expressão é algo sagrado, mas podemos nos perguntar: não seria melhor um sadio respeito para com a sensibilidade dos outros? Está certo que ninguém é obrigado a ser admirador de Maomé nem a concordar com sua doutrina, como ninguém é obrigado a ser cristão. Mas como cristão espero que a minha convicção seja respeitada. Apresentar Jesus de maneira vil fere também a minha sensibilidade religiosa. Existe um monte de preconceitos e de ideias absurdas a respeito do Islã. Hoje em dia, de uma forma especial, o Islã é apresentado como uma religião de violência. Essa
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religião sempre é vinculada ao Talibã, à Al-Qaeda, etc. A confecção de obras consideradas ofensivas é lenha na fogueira de grupos violentos, e aquele fogo pode alastrar-se facilmente. Os autores do filme e dos desenhos em questão se comportam da mesma forma que muitos cristãos no passado. No Marrocos, os primeiros mártires franciscanos eram tão antimuçulmanos que tiveram de pagar com a própria vida. Quando outros frades exaltaram a coragem e o martírio de seus irmãos de hábito, tudo leva a crer que o próprio Francisco tenha proibido essa divulgação. Também os franciscanos que, desde o tempo de Francisco estão presentes na Terra Santa, nem sempre foram exemplos de irmãos que observavam a rigor as orientações do mentor no capítulo XVI da regra que fala acerca daqueles que quiserem ir entre os Saracenos.
artigo • oriente médio
Certa vez, eles foram armados com cruzes até o Haram al-Sharif, a antiga esplanada do templo onde o Islã tinha erguido as mesquitas do Domo da Rocha e de Al-Aqsa. Naquele lugar, o terceiro mais sagrado para os muçulmanos, os franciscanos começaram a zombar do Islã e do profeta Maomé. Provocaram tanto que, para os islamitas, não havia alternativa senão calar os franciscanos por toda a eternidade, condenando-os à morte. Aproximadamente cem anos antes da proclamação dos direitos humanos pela ONU, o sultão Abdulmecit, do império turco-otomano, decretou a absoluta igualdade e liberdade religiosa para todos os habitantes de seu império e proibiu terminantemente a ofensa e a agressão às minorias cristã e judaica por parte de muçulmanos ou de órgãos públicos do seu império. Essas coisas me fazem pensar muito, porque, como cristãos, vivemos aqui na Terra Santa como uma insignificante minoria, em meio a uma maioria judia e muçulmana. Estamos aqui numa situação semelhante à dos muçulmanos nos países ocidentais. Não quero canonizar o Islã, mas acho
que é absolutamente necessário buscar os meios para um verdadeiro diálogo baseado num respeito para com o ser-diferente deles. Só assim será possível evitar a violência. Não é fácil deixar de lado os nossos preconceitos e dedicar-nos a uma atitude de diálogo. Não é só difícil para nós, estrangeiros, que vivemos nesta Terra Santa. Ouvi de cristãos árabes palestinos as mais negativas opiniões a respeito dos muçulmanos. Isso não é nada favorável para o diálogo e para uma convivência pacífica. mar morto A organização palestina de direitos humanos, al-Haq, classificou de “roubo” a exploração das riquezas naturais do Mar Morto por Israel. Explorar territórios ocupados é contra o direito internacional. Quase dois terços das margens do Mar Morto estão ocupados por Israel, desde 1967. Outras entidades se preocupam com problemas diferentes relativos ao Mar Morto. Organizações ecológicas chamam a atenção para o fato de o nível das águas daquele lago estar abaixando aproximadamente um metro por ano.
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podium • ESPORTE
Salvador? Instável no Real Madrid, Kaká é esperança do técnico Mano Menezes para reerguer a seleção brasileira em busca do título mundial Thiago Madureira Mesmo com o atraso no andamento de algumas obras necessárias para a realização da Copa do Mundo no Brasil, o que ainda mais preocupa os brasileiros para 2014 é a seleção. Desde agosto de 2010, quando o técnico Mano Menezes assumiu o comando, os resultados minguaram. Das duas competições disputadas, a seleção sofreu a eliminação nas quartas de finais da Copa América e a derrota na final dos Jogos Olímpicos de Londres. O ranking da Fifa, divulgado no mês de outubro, comprova o momento irregular da seleção brasileira, que amarga a 14ª posição - a pior desde que a lista foi elaborada, em 1993. Para mudar esse panorama, Mano arrisca alto e aposta todas as suas fichas na recuperação de Kaká. O meia de 30 anos não vestia a camisa verde e amarela desde a eliminação na Copa do Mundo de 2010. A convocação surpreendeu até os jornalistas que convivem diariamente com o jogador. Foi o caso de Alberto Rubio, repórter do Marca, diário esportivo de maior circulação na Espanha. “Minha reação foi de espanto. Kaká
havia feito três gols em um torneio comemorativo, mas ainda não havia estreado em competições oficiais”, conta. Para Paulo Vinícius Coelho, comentarista da ESPN Brasil, Kaká será importante para o crescimento dos jogadores menos experientes. “Faz os jovens serem o que devem ser nesse momento da carreira: coadjuvantes. Isso é importante”, diz. “Ele tem que fazer diferença em campo, porque se não jogar bem, não adianta nada. Mas ele já faz diferença. Veja como se falou menos de Neymar e Oscar, porque Kaká chegou. É importante ter jogador experiente que atrai a atenção”, afirma Paulo Vinícius Coelho. instável em Madri Desde quando chegou ao Real Madrid, em 2009, Kaká não conseguiu repetir as atuações do Milan, que o consagraram como melhor jogador do mundo. No início desta temporada, em agosto, o jogador não estava nos planos do técnico do Real Madrid, José Mourinho. Com a chegada do meio-campista croata Modric, a imprensa espanhola chegou Rafael Ribeiro/ CBF
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podium • ESPORTE
a noticiar que Kaká seria negociado. Ficou, mas como terceira opção. Em algumas partidas, não foi nem relacionado para compor o banco de reservas. Com uma formação alternativa, sem os titulares em campo, ganhou oportunidade de atuar no Torneio Santiago Bernabéu. Marcou três gols e voltou a ser uma peça de valor no elenco. Na sua primeira partida oficial na temporada, foi titular contra o Ajax, pela Liga dos Campeões. Kaká, muito participativo, comandou o meio-campo espanhol na vitória por 4 a 1 contra os holandeses. “Agora a situação dele ficou um pouco diferente da de quando começou a temporada. A princípio, Mourinho não contava com ele. A presença de Ozil e a contratação de Modric relegaram Kaká a segundo plano. Depois dos três gols contra o Millonarios, Mourinho lhe deu 45 minutos contra o Deportivo La Coruña (sofreu um pênalti convertido por Cristiano Ronaldo). Em Amsterdam, fez uma partida extraordinária, que dará forças a ele para seguir a temporada”, observa Rubio. Comprado pelo Real Madrid por 65 milhões de euros (terceira contratação mais cara da história), Kaká foi apresentado para 40 mil pessoas no estádio Santiago Bernabéu. O projeto do clube, desenvolvido pelo presidente Florentino Pérez, era montar o melhor time do mundo com aquisições milionárias. Além dele, outros astros foram trazidos, como Cristiano Ronaldo, Xabi Alonso e Benzema.
pelo mesmo tipo de intervenção cirúrgica. O jornalista Alberto Rubio relembra os duros momentos vividos por Kaká. “Creio que a primeira temporada tenha sido muito complicada. Ele sofreu várias lesões e jogou com dores antes da Copa do Mundo de 2010. Depois do Mundial, regressou a Madri sem condições de jogo. Desde então, ficou muito tempo fora dos planos de José Mourinho”. Kaká fez duas boas partidas neste início de temporada. A atuação é fundamental para sua presença na Copa do Mundo de 2014. Mesmo assim, a situação do jogador ainda é cercada de mistérios. Sua relação com o técnico José Mourinho, segundo a imprensa espanhola, não é nada amistosa. Após a exibição de gala na partida contra o Millonarios, Kaká saiu ovacionado pela torcida. No banco, cumprimentou todos os jogadores e membros da comissão técnica. A exceção foi Mourinho, que nem ao menos olhou para o jogador. Antes do início da temporada europeia, Mourinho se reuniu com Kaká e o pai do jogador, Bosco Leite. Segundo matéria publicada pelo jornal El País, na conversa realizada em agosto, o técnico teria dito que Kaká não faria mais parte do seu projeto. E sugeriu Rafael Ribeiro/ CBF
A expectativa de temporadas vitoriosas, no entanto, não se concretizou. Na Espanha, Kaká viveu o pior momento da sua exitosa carreira. As lesões no púbis e no joelho prejudicaram seu desempenho. Na época, o jogador admitiu publicamente que estava sem mobilidade e com grandes dificuldades de jogar. Depois da Copa do Mundo de 2010, ele operou o joelho esquerdo em razão de um problema no menisco. A gravidade da lesão era tamanha que o médico que realizou a artroscopia, Marc Martens, revelou que Kaká corria sério risco de encerrar a carreira. Passado o susto, o meia ficou fora dos gramados por sete meses. Vale lembrar que em 2008, o jogador havia passado
No jogo contra a seleção iraquiana, Kaká deixou a sua marca .........................................................................................................................
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podium • ESPORTE
que o jogador buscasse um clube no Brasil ou nos Estados Unidos. Kaká estava ciente de que perderia espaço. Mesmo assim, o meia rejeitou imediatamente a ideia proposta por Mourinho. O presidente do clube, Florentino Pérez, tratou de amenizar a situação. “Ainda que não pareça, seu papel é obscuro no Real Madrid. Agora ele está de volta para jogar alguns minutos e ser importante. Seu desempenho, porém, deve cair e ele vai desaparecer da relação. Mourinho não tem compromisso com jogadores. Tira e coloca à medida que acha necessário”, revela o jornalista Alberto Rubio, que avalia ser necessária a continuidade para o meia brasileiro. “Kaká necessita encadear várias partidas seguidas e demonstrar que pode voltar a ser o futebolista que um dia deslumbrou o mundo. Desde quando chegou ao Real Madrid, teve muitos altos e baixos”, diz Rubio. Futuro na seleção brasileira Mesmo não sendo muito aproveitado no Real Madrid, Kaká pode ser importante para a seleção brasileira. Essa é a opinião do jornalista Gustavo Hofman, colunista do site de futebol internacional Trivela. “Acredito que o Kaká ainda possa render bastante para a seleção. Provavelmente não mais como protagonista, papel que
cabe hoje a Neymar. Mas Kaká vai ajudar muito com sua experiência, principalmente com esse time que é muito jovem”, afirma Hofman. Por sua vez, Alberto Rubio acredita que o técnico da seleção brasileira não tenha a paciência necessária para esperar o jogador se firmar em Madri. “Mano Menezes está tentando rejuvenescer a equipe. Não sei se ele está disposto a esperar. No entanto, na minha opinião, nos Jogos Olímpicos, o Brasil precisava de um meia que caísse pelos lados, como Kaká. É claro que agora, com Oscar na Europa, pode ser diferente”. Na volta à seleção, em jogos amistosos contra Iraque e Japão, Kaká sentiu-se à vontade e jogou bem. O técnico Mano Menezes escalou o jogador sem muitas obrigações defensivas – oposto ao que cobra Mourinho, no Real Madrid. Embora nunca tivessem atuado juntos, Kaká, Neymar, Oscar e Hulk - o quadrado ofensivo do Brasil - mostraram entrosamento, sintonia e força. Kaká foi participativo e ditou o ritmo das partidas. Fez lembrar, ainda que de forma opaca, o meio-campo que brilhou no Milan. Marcou dois gols, um em cada partida. Por causa da fragilidade das seleções iraquiana e japonesa, a Seleção Brasileira ainda precisa de um parâmetro mais adequado para avaliar a nova função de Kaká na equipe. Rafael Ribeiro/ CBF
Mesmo com o bom retorno à seleção, a participação de Kaká na Copa de 2014 ainda é uma incógnita .............................................................................................................................................................................................................................................................
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Artigo • IMOBILIÁRIO
kÊNIO DE SOUZA PEREIRA Presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-MG keniopereira@caixaimobiliaria.com.br
Religação de energia ficou mais fácil A Cemig alterou a forma de proceder à religação de energia elétrica. A concessionária passa a adotar uma postura moderna ao desburocratizar alguns procedimentos. Agora os consumidores estão livres da obrigação de registrar o contrato de locação do ex-inquilino no Cartório de Títulos e Documentos. Essa exigência ocorria no caso de solicitação de religação da energia elétrica do imóvel que tinha débito do ex-ocupante ou que tinha sido alvo de desvio de energia. O novo titular da conta ficava semanas e até meses sem ter como ocupar o imóvel residencial ou comercial. E a energia era religada somente com a comprovação do pagamento do débito do antigo ocupante ou da indenização pelo furto da energia calculada por um perito.
a Diretora Jurídica da Cemig, Dra. Maria Celeste Morais Guimarães, eliminou essa burocracia. A partir de agora, basta o novo ocupante provar que foi outra pessoa quem consumiu ou furtou a energia para ter a situação resolvida. O interessado deve apresentar um dos seguintes documentos: contrato de compra e venda, contrato de locação, contrato de doação, arrendamento, comodato, escritura pública, IPTU, ITBI, ITR ou declaração de propriedade emitida pela prefeitura.
“Religar energia ficou bem mais fácil, ágil e livre de despesas que podiam chegar a R$ 1,5 mil com o cartório”
Antes da alteração do procedimento, a Cemig exigia a apresentação do contrato de locação, com firmas reconhecidas e registro no Cartório de Títulos e Documentos, para ligar a energia em nome do novo titular. Esse procedimento gerava um custo de R$ 600 a R$ 1,5 mil com os emolumentos do cartório. Diante do pedido deste colunista, como Presidente da Comissão do Direito Imobiliário da OAB-MG,
Assim a Cemig melhora sua relação com os consumidores e, ao mesmo tempo, elimina a possibilidade de processos judiciais de indenização entre o inquilino, que ficava sem luz, e a imobiliária e o locador, que tinham prejuízos com a perda de aluguel, o pagamento do IPTU e da taxa de condomínio pelo fato de o imóvel não poder ser ocupado prontamente, devido à falta da energia elétrica.
No sistema anterior, o locador e a imobiliária poderiam ser injustamente condenados a indenizar o inquilino, mesmo sem ter culpa pela falta de energia. Ora, é impossível o locador e a imobiliária terem conhecimento da ocorrência um furto de energia no imóvel. E eles não são responsáveis por débitos deixados por terceiros.
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Vanguarda • TECNOLOGIA
Ecológica e, em breve, mais barata O funcionamento e o custo para que consumidores de energia invistam em sistemas de geração de energia limpa na própria residência Arquivo Pessoal
Casa ecologicamente correta: energia gerada com painéis fotovoltaicos, chuveiro aquecido com bomba de calor e lâmpadas de LED e fluorescentes garantem menor consumo ..............................................................................................................................................................................................................................................................
Bianca Nazaré Na casa, o chuveiro é aquecido com bomba de calor. Uma tecnologia que consome apenas 30% do total gasto por um chuveiro elétrico convencional. As lâmpadas são fluorescentes compactas e com tecnologia LED, que também consomem menos. Localizada em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), a residência pode ser considerada umas das mais ecológicas do Brasil. O proprietário é o engenheiro eletricista Eduardo Carvalhaes Nobre. Ele está seguro
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de que, se não for a mais ecológica do país, a casa deve ser, no mínimo, a mais limpa de Minas Gerais. A certeza se deve ao fato de Nobre ter investido pesado em tecnologias alternativas e na instalação de um sistema de energia fotovoltaico - painéis que geram eletricidade com a luz do sol. Nobre foi engenheiro da Cemig durante 22 anos e, após a aposentadoria, criou a Eficiência Máxima, uma
Vanguarda • TECNOLOGIA
empresa de consultoria para a redução de despesas com energia elétrica. Eduardo usa a própria residência como um tipo de show-room. “Foi um investimento para que eu tenha um caso real, porque, até então, não existe nada igual em Minas Gerais. A pessoa vem aqui em casa e olha como é. Isso me abre mercado”. Para o engenheiro, a inexistência de outras residências com sistemas fotovoltaicos interligados à rede elétrica deve-se ao alto custo dos equipamentos. Nobre investiu R$ 80 mil na instalação dos painéis há três anos. Os módulos são capazes de gerar energia suficiente para o consumo mensal de toda a casa. O único problema é que ele e a esposa podem consumir a energia gerada pelos painéis somente no período em que há sol (entre 7h e 17h). À noite, como não há luz, a casa recebe eletricidade da concessionária. A energia gerada durante o dia vai direto para a rede da Cemig, período em que os aparelhos domésticos estão ociosos. Nobre disponibiliza, de graça, o excedente de energia gerada pelos módulos e paga pelo que consome à noite. Esse escambo é denominado Sistema Interligado à Rede Elétrica (do inglês net metering).
Eduardo, instalarem micros ou minigeradores, gerando mais do que o necessário para o consumo mensal no local, vão ganhar créditos pela disponibilidade do excedente na rede da concessionária. Nas horas ou dias em que a residência receber a energia da companhia, devido à falta de sol, vento, etc., o valor desse uso será abatido nos créditos obtidos pela transferência de energia para a rede da distribuidora. Nobre avalia esse sistema como um dos mais modernos do mundo. Ele acredita que o mercado de energias alternativas vá crescer muito, a partir do ano que vem, devido ao estímulo provocado pela nova regulamentação da Aneel. “Eu comprei esse sistema há três anos. Na época, o dólar deu um pulo muito grande, e o custo fotovoltaico era alto. Tudo ficou em torno de R$ 80 mil. Esse mesmo sistema hoje custaria cerca de R$ 40 mil. Calculando a economia, esse dinheiro voltaria daqui a 25 anos. Isso, porque eu gero energia, mas não uso e ainda compro da Cemig. Então eu não estou tendo retorno. Agora, com essa nova legislação, eu vou gerar energia e mandar para a concessionária, que vai computando em créditos de kW/h para mim”.
“Tudo ficou em torno de R$ 80 mil. Esse mesmo sistema hoje custaria cerca de R$ 40 mil” Eduardo Nobre
Mas a partir de dezembro deste ano, o engenheiro será compensado por produzir e disponibilizar a própria energia na rede elétrica. Em 13 de dezembro, as distribuidoras vão cadastrar os clientes que optarem por instalar sistemas alternativos para a geração de energia em casa (solar, eólico, hidráulico ou biomassa) interligado à rede. A decisão foi formalizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) por meio da resolução 482, publicada em 17 de abril de 2012. Esse sistema é válido somente para microgeradores de energia (com potência menor ou igual a 100 kW) ou minigeradores (com potência superior a 100 kW e menor ou igual a 1 MW). Por determinação da Aneel, clientes que, como
Como funciona?
A partir do dia 13 de dezembro, a Cemig vai deixar disponível aos interessados o formulário para solicitação da instalação de micros ou minigeradores em residências, edifícios, etc., no portal da empresa (www.cemig.com.br). O cliente deve entregar preenchido (pessoalmente ou pelo site) o formulário com a solicitação da instalação. A partir da data de entrega do documento, a companhia terá até 30 dias para aprovar a instalação. Se aprovada, o consumidor tem o aval da Cemig para instalar o sistema e, após a conclusão, ele deve acionar a empresa novamente para que seja feita a averiguação dos padrões exigidos pela concessionária. Se a instalação estiver dentro das normas, o fiscal terá autorização para instalar um medidor inteligente que vai mostrar
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Vanguarda • TECNOLOGIA
o saldo de energia gerada, o consumo e os créditos a serem recebidos. A resolução da Aneel especifica que o custo da adequação do sistema de medição para o sistema de compensação de energia é de responsabilidade do cliente interessado. O valor a ser cobrado pela Cemig para a instalação dos medidores será em torno de R$ 500, mas o ônus com a manutenção ou a troca do equipamento fica a cargo da concessionária. Nos meses em que o usuário gerar mais do que consumir, ele vai fazer jus à diferença, tendo 36 meses para utilizar os créditos, conforme explica o engenheiro de tecnologia e normalização da Cemig, Márcio Eli Moreira de Souza. “Suponhamos que você tenha gerado 150 kW/h no mês e consumido 100 kW/h. Você fica com um crédito de 50 kW/h. No mês
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seguinte, suponhamos que o total gerado tenha sido de 50 kW/h e o consumo mantido nos 100 kW/h. Você não vai pagar nada. Os 50 kW/h de diferença vão contar exatamente no primeiro mês. E se no segundo mês você também gerar mais, o crédito vai para a sua continha”. Caso o local onde foi instalado o sistema de micro ou minigeração exceder a quantidade de energia necessária para o consumo mensal, o cliente também vai poder solicitar à Cemig uma transferência desses créditos para outra unidade de consumo (casa, apartamento, empresa, etc.), desde que esteja em nome do proprietário da unidade geradora de energia. Caso contrário, pode ser considerada como venda de energia, prática proibida no Brasil. “A lei impede a exploração do negócio de geração/distribuição de energia por quem não possui outorga. É preciso ter uma concessão
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Energia Gerada pelos Painéis Fotovoltaicos
Energia Gerada pelos Painéis Fotovoltaicos
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do governo para isso. A compensação para outra residência que não seja de propriedade de quem gera a energia só pode ser feita em comunhão de fato ou de direito. Se você for casado, você traz a certidão e, automaticamente, vai compensar. O procedimento também vale de uma empresa matriz para suas filiais, desde que seja para o mesmo grupo e para a mesma base do CNPJ”, explica o engenheiro da Cemig.
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Se o volume da geração de energia for maior ou igual ao do consumo, o usuário vai pagar somente a tarifa mínima, conforme lembra Márcio. Essa taxa é cobrada pela utilização da rede elétrica da distribuidora. Fazendo as contas Para dar uma ideia do investimento necessário em cada situação, é preciso levar em conta o consumo mensal do local. Na residência de Eduardo Nobre, o consumo gira em torno de 400 kW/h ao mês. Uma simulação de orçamento realizada pela revista Vox Objetiva em uma loja especializada em energia solar de Belo Horizonte demonstra os gastos necessários para a instalação de um sistema fotovoltaico em duas situações. Uma casa de classe média, com até quatro pessoas, consome em torno de 380 kW/h por mês. Essa casa precisaria de 11 módulos fotovoltaicos de 235 W, um inversor de tensão, estrutura metálica para os painéis e material de instalação. Segundo a empresa, o investimento com material e instalação seria de R$ 40 mil. Outro local com consumo de energia elétrica igual a 170 kW/h ao mês, mais comum em residências, precisaria de cinco módulos fotovoltaicos de 235 W e o material. O investimento é de R$ 20 mil. Esses equipamentos são específicos para o clima de Belo Horizonte e região, mas podem variar de preço, dependendo da origem do material, principalmente dos painéis fotovoltaicos. Comparando esse investimento com os valores praticados pela Cemig, é possível ter uma ideia da economia a ser feita. A tarifa residencial cobrada pela companhia por quilowatt / hora é de R$ 0,40423. A primeira casa sem o sistema fotovoltaico pagaria
Com a nova regulamentação da Aneel, a promessa é de que mercado de energias alternativas cresça a partir do ano que vem .........................................................................................................................
para a distribuidora de energia R$ 153,60 por mês (excluídos os impostos e a taxa de iluminação pública). A segunda casa teria uma conta mensal de R$ 68,72. A primeira teria retorno do investimento em 21 anos e a segunda, em 24 anos. Para Eduardo Nobre, o uso de energia alternativa não ocorre somente “porque é bonito”. “Usar a energia alternativa é uma maneira de otimizar os custos de energia”, completa. Para o engenheiro Márcio Eli, a partir do ano que vem, com a expansão dos geradores de pequeno porte, os custos da energia da Cemig podem subir para os demais clientes. “Hoje, como ainda é caro, o impacto será muito pequeno, na ordem da sexta ou sétima casa de centavos. A Cemig tem 7,6 milhões de consumidores. Só que, com o passar do tempo,... A Alemanha, por exemplo, tem 27 gigawatts (GW) de potência instalada em captação solar. São duas Itaipus. Dos 27 GW, 22 GW são produzidos por painéis solares instalados em telhados. Então é muito significativo para eles. Mas nossa realidade não é essa ainda”.
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Em forma de poesia Em 1978, a japonesa Toshiko Ishii se mudou para a Serra do Paraopeba, transformando o local em um importante polo criativo da arte cerâmica André Martins A imigração japonesa para o Brasil data do ano de 1908. Para estimular a vinda de japoneses, o governo republicano apostava numa propaganda sedutora, baseada na promessa de enriquecimento rápido nos gigantescos campos espalhados pelo país. Em um dia do ano de 1930, uma moça japonesa se despedia da família, embarcando em um navio que singraria mares até a costa brasileira. Na bagagem, roupas e objetos pessoais dividiam espaço com uma boneca.
Fotos: Reprodução
Nascida aos 17 de janeiro de 1911, no seio de uma família aristocrata, Toshiko teve acesso a uma educação tradicional. Como rezava a cartilha japonesa, a menina concluiu os estudos e se versou em artes: fez canto, desenho e costura. Aos 20 anos já era considerada apta ao matrimônio, tendo a mão prometida a Nobukane Ishii. Ele voltara à terra pátria disposto a se casar. Trocadas as alianças, o fotógrafo planejava retornar ao Brasil de modo definitivo com a esposa. E assim foi feito. A viagem extenuante e repleta de tempestades não incomodava tanto quanto a saudade que Toshiko sentia dos que haviam ficado para trás. Antes de tocar nas fotografias que levara consigo, a jovem preparava um lenço que pudesse conter as lágrimas. Difícil também era tentar projetar como seria viver a meio mundo distante de suas raízes e desacostumar da vida tranquila que levava em Kyoto, a cidade natal. As únicas referências que carregava do longínquo e exótico destino final se resumiam à fartura de índios e bananas. Chegando ao Brasil, quase 30 dias após o embarque, o casal se instalou em Curitiba, depois em Morretes e Ponta Grossa – ambas cidades paranaenses. Priorizando a educação das filhas pequenas, a família
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Toshiko tinha um controle milimétrico sobre sua arte. A japonesa perseguia a perfeição nas formas e pinturas das peças ..........................................................................................................................
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Antes de aplicar a pintura nas cerâmicas, Toshiko desenhava várias vezes um mesmo objeto até alcançar o resultado esperado .........................................................................................................................
parte para São Paulo em 1940. Na capital paulista nascem mais duas meninas, no total de cinco filhas. Em 1978 acontece o encontro de Toshiko com o estado de Minas Gerais, terra que ela aprendeu a amar de modo incondicional e onde passou os últimos momentos da vida. Por recomendações médicas, o casal se transferia da intensa São Paulo para a fazenda Palhano, no Vale do Paraopeba, em Brumadinho região conhecida pelo sossego, ar puro e temperaturas amenas. Na época, Toshiko tinha 67 anos. Era natural prever uma vida de curso cada vez mais cadenciado, mas não é isso que acontece. Em passeios nas redondezas de casa, ela e o marido descobrem peças de cerâmica atribuídas a povos primitivos, o que desperta a atenção da senhora para a atividade, em plenos 70 anos de vida. As primeiras peças produzidas por Toshiko levavam a argila retirada do próprio quintal. Tratava-se de um vaso para flores do campo e alguns utensílios para a fazenda. O que iniciou sem qualquer pretensão
artística ou profissional, transformou-se em uma das maiores paixões da senhora japonesa. Não demorou muito para que, do Japão, a irmã começasse a enviar revistas e livros sobre a arte cerâmica a pedido dela. Todos os dias Toshiko seguia um roteiro pré-determinado. Era praticamente um ritual sacro. Tomado o banho de ofurô e feitas as preces no fim do dia, ela e Nobukane registravam os eventos cotidianos em um diário. Quando o marido ia para a cama, a senhorinha, já de cabeça branca, estudava o material com profunda paciência e afinco. As artistas plásticas Erli Fantini e Adel Souki já tinham conhecimentos de cerâmica, quando conheceram Toshiko, em 1982. O contato inicial teve um tom formal e obedeceu à etiqueta japonesa. “A comunicação foi um pouco difícil, pois há muito tempo ela só se comunicava em japonês. A gente marcava datas para nos encontrar e trocar conhecimentos. Não tinha aquela coisa do toque. Nossos cumprimentos eram contidos”, conta Erli. Enquanto as duas traziam a experiência e as técnicas
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KULTUR • ARTES PLÁSTICAS
Fotos: André Martins
Erli Fantini tem um ateliê na Serra do Paraopeba. Lá ela preserva um forno noborigami de três câmaras que dá um resultado belíssimo às peças ..............................................................................................................................................................................................................................................................
principalmente de modelagem, Toshiko contribuía com a sua pesquisa apurada sobre o processo de queima japonesa. Foi pela iniciativa dela que o primeiro forno em estilo japonês da região foi erguido na fazenda. Ao contrário dos fornos mineiros, o noborigami, como é conhecido, tem estrutura horizontal. Geralmente composto por três câmaras, ele atinge altíssimas temperaturas (cerca de 1300ºC) e dá origem a uma diversidade de peças. A aparência de cada uma varia de acordo com a temperatura, a disposição e a câmara onde elas são colocadas na queima. O forno de Toshiko, de uma câmara apenas, que nunca chegou a ser concluído, encantou as artistas mineiras. Até a cinza da madeira utilizada para regular a temperatura cumpria um papel, influindo na coloração dos objetos. Logo, as ceramistas realizavam
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a primeira de muitas queimas juntas de Toshiko. Adel relembra que algumas fornadas duravam três dias ininterruptos. Foi aí que ela aprendeu uma das virtudes que mais a ajudaram a evoluir como profissional. “Lembro que a Toshiko dizia pra mim: ‘Gama! Pachiênchia (Paciência)’, mas eu dizia: ‘A senhora acha que eu vou aguentar esse forno, ir lá e mexer...?’. Ela repetia: ‘Gama!’. Gama é paciência com serenidade de saber o que você está esperando”, conta com um sorriso e um olhar cheio de saudade. O contato e os ensinamentos de Toshiko estimularam Adel e Erli a adquirirem espaços próximos à fazenda Palhano. Aos poucos, o tempo tecia a história das três em uma só. Com o passar dos anos, mais que colegas podiam ser consideradas amigas. As características do trabalho de Adel se estruturaram
KULTUR • ARTES PLÁSTICAS
com o tempo. Suas peças são voltadas primordialmente para a decoração. Muitas relembram a cultura do Oriente Médio. Ela é descendente de libaneses. Cores marcantes, puxadas para a ferrugem e o ocre, são responsáveis pela autenticidade e beleza dos objetos que ganham forma pelas mãos da ceramista. Erli também seguiu pelo caminho da fabricação de peças decorativas. O trabalho une a argila a outros materiais. Pedras e metais dão um acabamento requintado às suas obras, atribuindo diferentes colorações aos objetos. A artista, graduada em desenho pela UFMG, dá origem a peças muito bem-definidas e com uma finalização precisa. Assim como é costume do Japão, Toshiko não fazia peças cerâmicas entendendo-as como elementos decorativos ou utilitários, como geralmente acontece no Ocidente. Tudo era uma coisa só. Os objetos criados obedeciam às regras da cerâmica bizen. Antes de dar forma à argila e aplicar a pintura, a ceramista fazia uma espécie de esboço do que tinha em mente. Desenhava várias vezes um mesmo objeto. Tudo era detalhado e milimetricamente pensado. “Às vezes, a Toshiko levava a mesma peça umas três vezes ao forno. Um dia ela me disse que queria um tom de verde, e eu disse: ‘Mas, Toshiko: isso é verde!’. Ela respondia: ‘Eu quero o verde da relva antes do amanhecer’. (risos) Ela sabia que por meio do cobre se chegaria ao efeito. Mas qual a quantidade? Trabalhando com qual tipo de lenha? Havia uma rigidez em relação à técnica, mas o trabalho era solto, pois ela fazia o que queria”, conta Adel. A artista, graduada pela escola Guignard da UEMG, revela que por ser originária de uma cultura totalmente contrastante, Toshiko não entendia suas peças. Após algumas explicações que envolviam a cultura local, o mesmo objeto que causava espanto era motivo de admiração. “Aí ela dizia impressionada: ‘Que bonito’”, conta em tom nostálgico. Apesar de não estar totalmente integrada aos modos e costumes mineiros, Toshiko trabalhava com elementos que surgiam da observação cotidiana. “Ela dizia que a pele das caboclas mineiras, ao se esconderem debaixo de uma quaresmeira florida, ficava muito rosada. Então o rosa era para ela uma cor
bem mineira e simbolizava a juventude, a mocidade”, detalha Adel. Algumas dessas referências podem ser encontradas nos haicais que escrevia. Flores, paisagens, animais permanecem imortalizados nos muitos cadernos de desenho da senhora Ishii. Na fazenda, o som do canto dos pássaros e das pequenas quedas d’água do mesmo córrego que corta o quintal dos ateliês de Erli, de Adel e da fazenda Palhano força uma conexão dos amigos à Toshiko, falecida em 2008, aos 96 anos de idade. “Havia algo de cativante no trato dela com as pessoas e na forma de ela lidar com a matéria. A Toshiko pegava na argila como se aquilo fosse uma preciosidade. Não fazia qualquer coisa. Dava origem a um trabalho ultrapoético, e isso ficava no todo. Ela foi um exemplo de vida. O fato de começar a estudar aos 70 anos é algo que impressiona. Numa idade em que as pessoas geralmente se aposentam, começar uma vida é, de fato, admirável”, revela Erli sorrindo. “O contato com a Toshiko não me ajudou apenas profissionalmente falando. Eu passei a ter outra visão sobre o processo de envelhecimento, sobre a calma e a espiritualidade”, finaliza Adel.
Com Toshiko, Adel Souki aprendeu a exercitar a paciência: elemento fundamental na arte cerâmica ........................................................................................................................
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KULTUR • CINEMA
Intocáveis Filme francês emociona ao mostrar a sinergia entre indivíduos pertencentes a mundos contrastantes André Martins Uma amizade improvável entre um magnata tetraplégico e um jovem imigrante senegalês. Essa é a temática do filme francês que vem emocionando e obtendo resultados expressivos mundo afora. Até o momento, Intocáveis arrecadou impressionantes US$ 400 milhões nas bilheterias mundiais. O filme caiu também nas graças dos brasileiros. Bateu O fabuloso destino de Amélie Polain, de Jean-Pierre Jeunet, tornando-se a obra cinematográfica francesa mais vista no país e no mundo. O filme leva ingredientes que o tornam praticamente irresistível: emaranha o drama a uma comédia que flerta com o politicamente incorreto. E é justamente por tangenciar várias vezes esse limite que Intocáveis é tão especial. Não há hipocrisia em retratar as “diferenças” entre os personagens e não há nenhum tipo de engajamento. A tag-line estampada no cartaz do filme “Somos todos iguais” parece mais óbvia diante da telona. A deficiência física de Phillippe (François Cluzet) ou a cor da pele de seu cuidador, Driss (Omar Sy), é o que menos interessa em Intocáveis. Os diretores Olivier Nakache e Eric Toledano apresentam uma história singela que aponta como é possível dois participantes de mundos diametralmente opostos mais que apenas interagirem, completarem um ao outro. O filme pontua também a fragmentação da juventude imigrante do país e a dificuldade de inserção na sociedade francesa. Ao contrário do que a bandeira pátria indica, a França é, sim, excludente. A conexão do filme com fatos de 2005 é instantânea. Há sete anos, Paris entrava em pânico com a onda de protestos dos jovens imigrantes que reivindicavam oportunidades
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de trabalho. O desemprego atingia 38% da população jovem imigrante de 15 a 25 anos. Intocáveis é baseado em fatos. O longa foi inspirado no livro O segundo suspiro, de Phillippe Pozzo di Borgo. Na obra, o empresário dá detalhes do acidente de parapente que o deixou sem movimentos do pescoço para baixo. O filme fala sobre o processo vertiginoso da estima abalada e a chegada do argelino Abdel, amigo que fez o magnata redescobrir a vida. Califórnia Filmes/ Divulgação
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Drama e um humor perspicaz ditam o tom de Intocáveis ...........................................................................................................................
KULTUR • LITERÁRIA
8 ANOS
Reprodução
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Amy, minha filha
O Livro de Ouro da Mitologia
Autor: Mitch Winehouse Editora: Record Páginas: 380
Autor: Thomas Bulfinch Editora: Ediouro Páginas: 360
Um ano após a morte da polêmica e talentosa Amy Winehouse, o pai da cantora inglesa, Mitch Winehouse, lança a biografia filha. Ao longo do livro, ele relata diferentes fases da vida de Amy e revela detalhes da personalidade e carreira da jovem. Até as cartas que a cantora escrevia regularmente para o pai são disponibilizadas na obra. No ano passado, Mitch criou a Amy Winehouse Foundation, que ajuda jovens com dependência química. O dinheiro arrecadado com a venda dos livros será revertido para a instituição.
Diversos mitos e histórias da Grécia e Roma Antiga são contados no bestseller do escritor e americano Thomas Bulfinch (1796-1867). O autor debate os reflexos desses mitos na cultura ocidental e em fenômenos recentes. Milhares de pessoas, dentre historiadores, professores, interessados e curiosos, têm adquirido a obra, que discute e desmembra, dentre outros acontecimentos, a violenta Guerra de Troia, e apresenta as histórias de Aquiles, Hércules, Cupido, Zeus, heróis e vilões, histórias mitológicas orientais, egípcias e nórdicas.
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KULTUR • agenda cultural
Joss Stone A jovem cantora de soul music, de 25 anos, faz show este mês em Belo Horizonte. Além da capital mineira, a inglesa passa por São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis e Porto Alegre. Joss vem para divulgar o novo álbum, The Soul Sessions – Volume 2, que está sendo lançado dez anos após a composição do primeiro disco. Ao longo da carreira, ela vendeu mais de 11 milhões de CDs, trabalhou com Ringo Star e Mick Jagger, cantou com James Brown e ganhou um Grammy, maior prêmio mundial da música. Local: Chevrolet Hall Data: 13 de novembro Horário: 21h Mais informações no site www.chevrolethallbh.com.br Divulgação
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Marisa Monte A consagrada cantora da MPB volta ao Grande Teatro do Palácio das Artes fazendo sua sétima turnê, Verdade, uma ilusão. Promovendo o seu novo disco, O Que Você Quer de Verdade, Marisa vai mostrar composições próprias e músicas nascidas de parcerias com Carlinhos Brown, Arnaldo Antunes e Dadi, além de Descalço no Parque, de Jorge Benjor. Os ingressos para os três dias de show estão sendo vendidos nas bilheterias do Palácio das Artes e pelo site da Fundação Clóvis Salgado. Local: Palácio das Artes Período: 22 a 24 de novembro Horário: 21h Mais informações no site www.palaciodasartes.com.br
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KULTUR • agenda cultural
Mostra Eric Rohmer
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O Cine Humberto Mauro recebe uma mostra bastante diversificada sobre vida e obra Eric Rohmer. Serão exibidos filmes clássicos do cineasta e oito documentários produzidos para a televisão francesa.
David Guetta Os fãs da música eletrônica podem começar a se preparar para a apresentação única dos DJs e produtores musicais David Guetta e Calvin Harris, em Belo Horizonte. O Net Festival 2012 vai levar os dois à Arena Independência, onde mais dois músicos brasileiros vão completar o line-up da festa. O francês David Guetta está na lista da Forbes como um dos 5 DJs que mais faturaram no último ano. Entre seus grandes hits que embalam pistas ao redor do mundo estão Titanium e When Love Takes Over. Local: Arena Independência Data: 15 de novembro Horário: 16h Mais informações no site www.netfestival.com.br
Local: Cine Humberto Mauro Período: de 24 de outubro a 4 de novembro Horário: tardes e noites Mais informações no site www.palaciodasartes.com.br
Bar em Bar A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel/MG) promove a quarta edição desse amplo festival gastronômico, reunindo bares de diversos bairros da cidade. O Festival acontece em Belo Horizonte, capital nacional dos bares, e em várias cidades do país. Local: Bares da Cidade Período: 1º de novembro a 2 de dezembro Mais informações no site www.abraselmg.com.br
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CRÔNICA
Joanita gontijo Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com joanitagontijo@yahoo.com.br
A travessia do desejo Ainda me lembro do cheiro de plástico novo, quando abri o presente mais esperado da minha infância. O carro vermelho, de modelo esportivo e sem capota, seria “dirigido” por minha boneca Barbie, mas eu o desejei como se aos 10 anos de idade já tivesse carteira de motorista e fosse eu mesma colocar a chave na ignição. Meus pais resistiram para me dar o brinquedo. Para eles, era caro demais e interessante de menos. Na minha opinião, Barbie não poderia mais continuar se deslocando do quarto para a copa a pé. Foram meses de apelos, longas conversas, choros e dezenas de bilhetinhos deixados dentro do sapato do meu pai, em cima do travesseiro da minha mãe, no espelho do banheiro, na mesa de almoço,...
Por isso, faço aqui um pedido: deixem que seus filhos sonhem; esperem que eles desejem. Não se antecipem às vontades deles. Na ânsia de agradar a crianças e adolescentes, nós, os pais, muitas vezes roubamos deles o direito de querer, o privilégio de lutar, a paciência de esperar e a confiança de alcançar. Talvez seja por isso que a bicicleta do Natal já esteja encostada em algum canto da sala, antes do Ano Novo; as bolas de cores e tamanhos diversos murchem no esquecimento de quem tem opções demais; a boneca que “anda” perca a graça na mesma proporção que o fabricante lança outra que “canta e dança“.
“Ao longo dos anos, meus sonhos mudaram. Alguns foram realizados e outros se perderam. E há os que esperam o momento ideal para acontecer, mas todos me tornaram mais corajosa”
Contei essa história para falar sobre a importância dos sonhos e desejos. Eles nos movem e revelam uma força e uma vontade que nos tornam invencíveis. E a conquista é como um atestado que garante nossa competência. Há quem acredite que as aspirações humanas nos condenem a estarmos sempre insatisfeitos. Outros dizem que a “sociedade do consumo” cria quereres e frustrações em demasia. Mas não estou me referindo a ambições descontroladas nem a
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cobiças insanas. Trato dos desejos que nos tornam mais fortes à medida que nos empenhamos para torná-los reais.
Ao longo dos anos, meus sonhos mudaram. Alguns foram realizados; outros se perderam. E há os que esperam o momento ideal para acontecer, mas todos me tornaram mais corajosa. Quando meus pais se negaram a me presentear imediatamente, eles me ensinaram que nada cai do céu. Tive que fazer concessões para que minha boneca finalmente desfilasse de carro entre as almofadas da cama. Aprendi a diferença entre “desejar de verdade” e “querer por querer”. Percebi que para colher é preciso plantar. Afinal não há chegada sem travessia.
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