Jornal Voz da Leste

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AGENDA CULTURAL

O QUE ROLA EM SP

Biblioteca CEU Lajeado

Rua Manuel da Mota Coutinho, 293 Lajeado - 08451-420 Telefones: 11 2153-9930 e 2153-9966 smeceulajeado@prefeitura.sp.gov.br Biblioteca CEU Parque São Carlos “Barbosa Lima Sobrinho”

Rua Clarear, 141 Vila Jacuí - Jardim São Carlos - 08062-590 Telefone: 11 2045-4261 ceupqsaocarlosbiblioteca@prefeitura.sp.gov.br Biblioteca CEU Parque Veredas “Paulo Leminski”

Rua Daniel Muller, 347 Itaim Paulista - 08141-290 Telefone: 11 2563-6212 ceupqveredasbiblioteca@prefeitura.sp.gov.br

Biblioteca CEU Quinta do Sol

Avenida Luiz Imparato, 564 Cangaíba - 03819-160 Telefone: 11 3396-8591 ceuquintadosol@prefeitura.sp.gov.br BIBLIOTECAS DOS CEUS NA ZONA LESTE

A rede de bibliotecas dos Céus cidade de São Paulo possui algumas bibliotecas temáticas. Consulte as atrações de cada espaço. Os Céus ainda possuem atividades esportivas e culturais para todas as idades. Biblioteca CEU Água Azul

Avenida dos Metalúrgicos, 1300 COHAB Cidade Tiradentes - 08471-000 Telefones: 11 2285-0335 , 2282-7157 e 2016-4476 smeceuaguaazul@prefeitura. sp.gov.br Biblioteca CEU Alto Alegre

Rua Bento Guelfi, s/n Jardim Laranjeira - Iguatemi - 08381-001 Telefones: 11 2075-1018 e 2075-1019 Diretoria Regional de Educação – São Mateus smeceualtoalegrebiblioteca@prefeitura.sp.gov.br Biblioteca CEU Aricanduva “Mario Quintana”

Rua Olga Fadel Abarca, s/n Jardim Santa Terezinha – 03572-020 Telefones: 11 2723-7513, 2723-7519 e 2723-7511 sme_ceuaricanduva-biblioteca@prefeitura. sp.gov.br

Biblioteca CEU Azul da Cor do Mar

Rua Ernesto de Souza Cruz, 2171 Cidade Antonio Estevão de Carvalho - 08225-380 Telefone: 11 3397-9019 smeceuazuldacordomar@prefeitura.sp.gov.br Biblioteca CEU Formosa

Rua Sargento Claudiner Evaristo Dias, s/n Parque Santo Antônio - Vila Formosa - 03385150 – Telefone: 11 2216-4622 – Diretoria Regional de Educação – Itaquera smeceuformosa@prefeitura.sp.gov.br Biblioteca CEU Inácio Monteiro “Adelaide de Castro Alves Guimarães”

Rua Barão Barroso do Amazonas, s/n Cohab Prestes Maia - 08472-720 Telefone: 11 2518-9014 smeceuinaciomonteiro@prefeitura.sp.gov.br

Biblioteca CEU Jambeiro “Eugênia Alvaro Moreyra”

Av. José Pinheiro Borges, 60 Guaianases - Telefone: 11 2960-2017 bibliotecaceujambeiro@prefeitura.sp.gov.br

Biblioteca CEU Rosa da China “Juó Bananére”

Rua Clara Petrela, 113 Jd. São Roberto - 03978-500 Telefones: 11 2701-2318 e 2701-2315 smeceurosachina@prefeitura.sp.gov.br

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CASAS DE CULTURA

MUSEUS

Programação Capoeira - terça e quinta-feira das 19h as 21h 1Hip Hop – quarta e sexta das 19h as 21h 1 Teatro Vocacional quarta das 18h as 21h 1 Teatro Vocacional das 14h as 17h Domingo 1 Dança Contemporânea Vocacional das 14h as 17h Quarta e Quinta 1 Artes Visuais – esgotado 1 Artesanato das 14h as 17h Terça e quinta-feira 11 Todo último sábado de cada mês ocorrere a ocupação cultural O que Dizem os Umbigos. Dia 27 o Sarau recebe a partir das 19h a Banda Florandu Acorde.

Antiga hospedaria dos imigrantes que chegavam ao país, atualmente em reforma o museu abriga documentos e acervos relativos à imigração de estrangeiros. Atualmente o Museu conta com exposição virtual sobre a “Revolução” de 1932 . Tradicionalmente o espaco realiza a festa das Nações com comidas, danças e cultura em geral de vários países que vieram pra São Paulo. Rua Visconde de Parnaíba, 1316 - São Paulo / SP - CEP: 03164-300|Tel.: (11) 3311-7700| 2692-1866| 2692-9218 E-mail: museudaimigracao@museudaimigracao.org.br

Casa de Cultura do Itaim Paulista

Casa de Cultura da Penha

Programação a consultar Centro Cultural da Penha (Teatro Martins Penna|Biblioteca José Paulo Paes) Largo do Rosário, 20, Penha. Próximo do Shopping Penha. Zona Leste. tel.2295-0401 Atendimento: 3ª a dom., das 10h às 22h. Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes

Programação a consultar Rua Inácio Monteiro, altura do nº 6.900, esq. com Rua Alexandre Davidenko, Cidade Tiradentes. Zona Leste.

Biblioteca CEU São Mateus “Camilo Pedro dos Reis”

Rua Curumatim, 221 Pq. Boa Esperança - 08341-240 Telefone: 11 2732-8117 ceusaomateusbiblioteca@prefeitura.sp.gov.br Biblioteca CEU São Rafael “Mário Palmério”

Av. Ragueb Chofhi, 1.400 São Rafael - 08395-320 Telefone: 11 2752-1043 ceubibliotecasaorafael@prefeitura.sp.gov.br

Biblioteca CEU Tiquatira

Rua Capachós, s/n Jardim Célia - 08191-330 Telefone: 11 3678-5383 / 3678-5384 ceutrespontes@prefeitura.sp.gov.br

Biblioteca CEU Vila Curuçá “João Cabral de Mello Neto”

Av. Marechal Tito, 3452 Jd. Miragaia- 08115-000 Telefone: 11 6563-6137 ceucurucabiblioteca@prefeitura.sp.gov.br

O lugar é uma das preciosidades históricas da cidade, e fica bem no coração da zona leste. A casa foi construída em 1698, segundo consta o registro que comprova a construção do imóvel. No início do século XIX o terreno abrigava uma olaria que produzia exclusivamente telhas. Com o desenvolvimento econômico resultante da imigração italiana, o lugar também passou a produzir tijolos. Hoje abriga um Museu dedicado a exposições de arte, artesanato, história colonial e da Zona Leste. Seu acervo é composto por bens fotográficos, arqueológicos, móveis e de memorial oral. Zona Leste: Um Novo Olhar Mostra lança olhar sobre a região leste da cidade, resgatando aspectos materiais e humanos da ocupação da região mais populosa da cidade. Abertura no domingo, dia 9 de dezembro, às 11 horas. Entrada gratuita e livre. Serviço: Rua Guabiju, 49, Tatuapé, zona Leste – São Paulo| Tel.: (11) 2296-4330 www.museudacidade.sp.gov.br/casadotatuape

Capela de São Miguel Arcanjo

Rua Manuel Quirino de Mattos, s/nº Jardim Sapopemba - 03969-000 Telefones: 11 2075-9117 e 2075-9118 smeceusapopemba@prefeitura.sp.gov.br

Biblioteca CEU Três Pontes

Casa do Tatuapé

PONTO DE CULTURA

Biblioteca CEU Sapopemba

Avenida Condessa Elizabeth Robiano com a Rua Kampala, 270 Penha - 03704-015 Telefone: 11 2227-0516 (CEU) Diretoria Regional de Educação – Penha culturaceutiquara@gmail.com

Museu da Imigração do Estado de São Paulo

FÁBRICAS DE CULTURA

Programação dos Cursos de Férias - 02 a 31 de Julho de 2013 Nessas férias as Fábricas de Culturas estão com várias oficinas – técnicas circenses, teatro, dança, artes visuais, artesanato, multimeos, arte urbana. Consulte a programação de cada lugar. Fábrica de Cultura Vila Curuça

Endereço: Rua Pedra Dourada, 65. Próximo a Avenida Nordestina (altura do nº 5800). Telefone para contato: (11) 2016-3316 Fábrica de Cultura Itaim Paulista

Endereço: Avenida Estudantes da China, nº 500. Telefone para contato: (11) 2025-1991

Raro monumento da história do Brasil, a capela abriga exposições de arqueologia, murais, entalhes e moveis que permitem entender um pouco do passado colonial da cidade. A Capela hoje é um Ponto de Cultura e Museu. Atualmente abriga a exposição fotográfica Punctum e Studium no Patrimônio, fruto dos alunos do curso de Fotografia e Patrimônio oferecida pela espaço. Serviço: Quintas e sextas das 10h. às 12h. e das 13h. às 16h. (fechada das 12h. às 13h. para almoço). Somente visitas agendadas pelo telefone 2032 - 3921 ou capela.visitacao@ hotmail.com, (sujeito a disponibilidade de agenda.) Sábados das 10h às 12h. e das 13h. às 16h. (fechada das 12h. às 13h. para almoço). Somente público espontâneo. Segunda à quarta, domingos e feriados, fechada. Ingresso R$ 4,00 (inteira) R$ 2,00 (meia) estudantes com identificação escolar. Isentos Crianças até 7 anos idosos a partir de 60 anos professores e estudantes da rede pública portadores de necessidades especiais. Endereço: Praça Padre Aleixo Mafra (Praça do Forró) s/n http://capeladesaomiguelarcanjo.blogspot.com.br MUSICA

Batidas & Rimas

O grupo de rap D’ Quebrada com o apoio do Programa VAI/ 2013 realiza o Projeto Batidas & Rimas misturando Hip Hop com gêneros musicais da Black Music como o Jazz , Funk, Soul, Rock, Samba Rock, entre outros. O grupo D’ Quebrada foi formado em 2005 pelos MC’s: Doidera, Dan e Duin, oriundos Cidade Tiradentes, na Zona Leste. A primeira edição do projeto acontecerá no CEU Água Azul, o grupo se apresentará com a Banda e os convidados: Crew MB2O, James Bantu, Viegas, João Carllos & Os Corações Partidos.

Dia 28 (domingo), das 15h às 19h. CEU Água Azul – Av. dos Metalúrgicos, 1.262. Cidade Tiradentes, Zona Leste. Entrada franca. (11) 97997-8433. andreoliveira777@hotmail.com Samba do amélia

Acontece desde maio de 2011 é realizado todo terceiro sábado do mês com o melhor do samba de raiz e apresentação de composições originais. A comunidade pesquisa as letras e musicalidade das Velhas Guardas, dos compositores e dos sambistas consagrados e de outras comunidades de samba. Dia 20 (sábado), das 17h às 22 h. Rua Juvenal Moreira,28. Travessa da Avenida Laranja da China. Vila Jacuí. Jardim das Camélias. Zona Leste. Entrada franca (11) 9789.6269 (Sidney Medeiros)/ 9140.0207 (Ricardo de Macedo). http://csdocamelia.blogspot.com.br/ Comunidade Maria Cursi

Foi fundada por um grupo de amigos e realiza suas apresentações de samba todos os sábados. O público tem a chance de conferir samba de raiz e de terreiro. Conta com consagrados nomes da música brasileira, assim como o de compositores da própria comunidade da Maria Cursi. Todos os sábados, das 20h às 00h. Avenida Maria Cursi, 799 - São Mateus (altura do nº 2680 da Av. MateoBei). Zona Leste. Entrada franca. 9188-9186 c/ Reinan. Samba Da Tenda

Roda de samba formada em 2001 por músicos e compositores de São Miguel Paulista com o objetivo de resgatar o samba popular e apresentar composições da comunidade. Acontece no último sábado do mês. Dia 27 (sábado), das 17h ás 21h. CDC Tide Setúbal – Rua Mário Dallari, 170. Jardim São Vicente. São Miguel Paulista, Zona Leste. Entrada franca. (11) 2297-5969/8419-0665 c/ Ney. Samba Do Olaria

Iniciou em 2004 com uma reunião de amigos e instrumentistas num bate-papo sobre a autenticidade do ritmo, sem a intenção de prosseguir regularmente. Em formato de Samba de Mesa, o encontro acontece sem hora para acabar. Todos os músicos são da comunidade da Vila Alpina. Todos os sábados, a partir das 18h. Rua Gaspar Barreto, 387. Vila Alpina. Zona Leste. Entrada franca. (11) 2917- 5974 c/ Ricardo Romano. Pagode Do Sobrado

Teve início em janeiro de 2007 quando o Sr. Alisson e sua família resolveram abrir as portas da sua casa para enaltecer o Samba Raiz e o Partido Alto. Todos os domingos, das 18h às 22h. Av. Sítio Novo, 11B - Jd. Lenize (em frente à escola Cyro Barreiros) – Guarulhos. Entrada R$ 3,00 ou 1 kg de alimento não perecível. (11) 97080- 4607/96753-6865. Terreiro De Compositores

Encontro de sambistas e compositores na Zona Leste, que se reúnem para apresentar suas músicas e evidenciar as composições de samba que são reunidas em um caderno para que todos possam acompanhar a letra e seguir a melodia. Todas as quintas-feiras, das 20h às 23h. Quadra da Escola de Samba Unidos de São Lucas – Rua Carminha,264. Parque São Lucas, Zona leste. Entrada franca. (11) 7228-5080/98667270. terreirodecompositores@gmail.com.



EDITORIAL

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alvorecer A região leste é a mais povoada de São Paulo, antiga morada de tribos indígenas, lugar do início da colonização portuguesa na cidade, morada de imigrantes de muitos paises e regiões do país, um mundo inteiro tempera aqui. É na borda dessa região que temos a honra de lançar um jornal novo para mostrar as delícias desse cantinho da cidade, lugar que sofre tanto preconceito pelo imaginário paulistano fortemente influenciado por uma mídia que mostra a periferia apenas pela ótica da precariedade, esquecendo que aqui a vida pulsa. E é esta vida pulsante que queremos pincelar com o Voz da Leste, aqui se respira muita cultura e arte, gente atuando em busca de uma outra cidade, de uma nova forma de existir nesse mundo onde querem transformar tudo em mercadoria, mas na periferia temos certeza, sob nosso ponto de vista, a vida, a felicidade, a arte, a cultura, o sorriso e a luta não estão à venda. Um coletivo de pessoas resolveu se juntar e criar um meio de comunicação que mostre uma outra zona leste que não é apenas aquela do sangue mostrado no Datena e SPTV, mas também a do colorido que vai do Brás à Cidade Tirantes, o tempero que anda da Mooca ao Itaim Paulista, as estórias da Penha, de São Miguel, de Ermelino Matarazzo, as lutas nossas em Itaquera ou no Belém. Não importam tanto os bairros em si, mas as pessoas que os habitam e costuram suas vidas entre o sol nascente e o resto da cidade, valorizando os artistas locais, os coletivos culturais, as bandeiras de luta, as memórias de moradores e moradoras que construíram e constroem essa parte da cidade. Nessa primeira edição apresentamos os impasses e lutas da copa para a zona leste, as manifestações que tomaram as ruas da cidade. Também temperamos com textos apresentando coletivos culturais da região e dicas de músicos que já trilham um caminho em sua arte. Tudo recheado com belas ilustrações feitas exclusivamente pra o jornal. Visite também nossa página no facebook e nosso blog: vozdaleste.blogspot.com. Gostaríamos de agradecer a todos que contribuíram de alguma forma para que este projeto saísse no papel, nossos parceiros, colaboradores e a Equipe do VAI, sem os quais este jornal não seria possível. O Voz da Leste é seu, é nosso, participe, colabore, envie-nos críticas, sugestões, pautas, textos, imagens e boa leitura. Elaine Mineiro e Marcel C. Couto - Editores São Paulo, Julho de 2013.

Pássaro no dia - Lese Pierre

EXPEDIENTE • Editores: Elaine Mineiro e Marcel Cabral Couto • Arte e Diagramação: Lese Pierre, Paloma Valéria dos Santos, Patrícia Portugal e Patrícia Mayumi Ishirara • Ilustrações: Cadu, Ebbios e Normal • Jornalistas: Aurélia Cavalcante, Lívia Lima e Maurício de Moraes Noronha (Muro) • Revisão: Marília Magalhães Cunha • Colaboradores: Adailton Alves Teixeira, Antonio Miotto, Dimitry Uziel, Escobar Franelas, Débora Freitas, Daniel Marques da Silva, Danilo Morcelli, Ligia Costa, Marcela Cristina dos Santos, Nina Cappello, Queila Rodrigues, Ruana Negri e Sandra Frietha • Parceiros: ANEL-SP, Casa de Cultura do Itaim Paulista, Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, Coletivo DAR, GRCS Escola de Samba Unidos de Santa Bárbara, Jornal Brasil de Fato e Sarau o Que Dizem os Umbigos,Vander Ramos • Administração: Adriano Borges, Elaine Mineiro, Marcel Cabral Couto e Simone Estrela • Contatos: e-mail: vozdaleste@gmail.com; facebook: https:// www.facebook.com/VozDaLeste; Blog: vozdaleste.blogspot.com; • Anúncios: anunciosvozdaleste@gmail.com; Cel: 963811073 (Marcel) • Gráfica: Taiga Gráfica e Editora Ltda. Tiragem: 3.000 exemplares.

Realização:


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Redução da

Maioridade Penal:

DEBATE Contra ou a favor? Texto: Lívia Lima Ilustrações: Cadu

Após a comoção pública diante do assassinato de Victor Hugo Deppman, de 19 anos, durante uma tentativa de assalto feita por um jovem de 17 anos, muito se discutiu sobre as propostas que estão em votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, sobre a possível redução da maioridade penal. Apesar de pesquisas indicarem que a maioria da população aprova, as opiniões de especialistas são contrárias à redução. Dentre esses especialistas estão desde defensores de direitos humanos, até juristas (que alegam que a redução é inviável, pois altera uma cláusula pétrea da Constituição). A seguir, uma opinião a favor e outra contra a redução da maioridade penal:

A FAVOR Nosso país tem vivido dias em que a vida se tornou algo tão banal, que menores infratores estão cometendo crimes hediondos sem qualquer tipo de receio ou pudor. A partir do momento que estes jovens tiverem a certeza que seus crimes não ficarão impunes, eles deverão pensar duas vezes antes de sair matando a torto e a direito. Nossos governos deveriam investir na construção de prisões isoladas em regiões não habitadas, onde os presos tenham que trabalhar para se sustentar e para indenizar todos que foram prejudicados por seus atos. E em educação, a melhor ferramenta para impedir que estes jovens entrem no mundo da criminalidade. Mônia Gentilim, 28 anos, analista administrativa.

CONTRA Estamos diante de uma resposta rápida assumida por muitas pessoas, numa articulação entre a sensação de insegurança, a espetacularização da vida e o oportunismo político. A base para a “solução” apresentada se contrapõe a alguns dados, como a informação divulgada pela Fundação Casa (São Paulo) neste ano, que significativamente apontam que, dos aproximadamente 9.016 internos, apenas 0,6% estão encarcerados por motivo de assassinato. A medida de redução da maioridade penal não deseja a ressocialização de adolescentes, mas o encarceramento violento, marcado por distintas violações de direitos humanos. Além do mais, seguindo os passos do atual estado, a redução da maioridade penal ampliará cada vez mais a criminalização de uma classe, de uma cor e etnia, e de um território nas cidades: a população pobre, negra e periférica. Eduardo Brasileiro, 22 anos, coordenador de projeto social.


NOSSOS DIREITOS

DIREITOS

HUMANOS

PROJETO DE COTAS RACIAIS DA ANEL – SP A juventude negra tem direito ao futuro! Do Portal da ANEL – Assembléia Nacional dos Estudantes - Livre. Em 23/04/13

O Brasil é um país racista m nosso país, a realidade do povo negro mostra que estamos muito longe de viver no “Brasil da Igualdade Racial”. As senzalas modernas são o trabalho terceirizado, a violência policial, a precariedade dos serviços públicos, a política de criminalização da pobreza e a higienização étnico-racial da população afrodescendente. O movimento negro já teve importantes conquistas, a começar pela criminalização do racismo, que, apesar de raramente sair do papel, é uma ferramenta de amparo, pois inibe e coíbe a prática do preconceito. Contudo, combater o racismo é muito mais do que simplesmente punir as práticas preconceituosas. Passa, também, por exigirmos do Estado e dos governos que os crimes históricos contra o povo negro sejam reparados. Por isso mesmo, nas últimas décadas, as lutas do movimento negro têm se voltado fundamentalmente para as ações afirmativas e as reparações, que amenizem as marcas deixadas por uma história de um povo que foi escravizado, humilhado e teve seus direitos pisoteados e sonegados. As cotas raciais são ações afirmativas, ou seja, políticas e medidas que podem “minimizar” os efeitos da discriminação, marginalização e segregação. Por isso, estas ações também são conhecidas como “discriminação positiva”.

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Cotas Raciais: uma medida necessária Sabemos que as cotas raciais não vão acabar com o racismo. No entanto, essa reivindicação é parte da luta ne-

cessária para que o povo negro conquiste, de fato, a igualdade e tenha a devida reparação pelos séculos de escravidão, marginalização e exclusão. Infelizmente, a educação em nosso país está longe de emancipar a população e produzir conhecimento para atender às necessidades sociais. Sempre esteve aliada aos antigos interesses de uma elite conservadora, em sua grande maioria branca e herdeira do pensamento escravocrata. Essa elite forjou uma educação com o objetivo de construir valores éticos e morais que reafirmassem a suposta democracia racial existente no Brasil e escondessem a herança dos negros na história do país. Tratou, assim, de homogeneizar, higienizar e padronizar culturalmente as práticas e os saberes, prevalecendo sempre um padrão estético e histórico vinculado à sociedade europeia. Alguns dados do IBGE (2010) comprovam o abismo social e racial existente na educação. Apenas 5,9% dos jovens brancos, com 15 anos de idade ou mais, são analfabetos. Essa proporção aumenta para 13% nos jovens pardos e para 14,4% nos jovens pretos da mesma idade. Se olharmos para o ensino superior, veremos que apenas 8,3% dos estudantes das universidades públicas são negros. Por isso, a luta pelas cotas raciais é, em primeiro lugar e acima de tudo, uma luta contra o racismo e não pela democratização do acesso ao ensino superior. Infelizmente, ainda hoje, são reservados aos negros os bancos nas escolas públicas sucateadas, no melhor dos casos, nas universidades particulares. As universidades públicas ainda são um sonho distante. A obrigatoriedade das cotas é um avanço, mas a ampliação do acesso à universidade atravessa necessariamente a luta pelo fim do funil do vestibular, a estatização das universidades privadas e por mais investimentos na educação pública, sendo, portanto, indissociável da luta por outro projeto de educação. Por outro lado, a adoção de cotas sociais para estudantes da rede pública de ensino não atende diretamente à juventude negra. Aplicar apenas as cotas sociais reforça a ideia de que não existem mecanismos de exclusão racial no Brasil e, por conseguinte, não é necessária uma política de reparação histórica específica ao povo negro. E os números demonstram o contrário: há enormes diferenças nos níveis de alfabetização e condições de vida, de brancos e negros, mesmo entre aqueles que freqüentam a escola pública. Mesmo que os negros sejam a maioria dos estudantes

4 de baixa renda, eles, além de sofrerem com a pobreza, sofrem também com a opressão racial. Por isso, os negros são a maioria entre os jovens analfabetos e abandonam os estudos mais cedo. Além da compreensão implícita, na sociedade, de que a universidade não é o lugar dos negros. Dessa forma, apenas com as cotas sociais, assistiríamos a uma maior inclusão dos brancos e, ainda, estaríamos contribuindo ao não-reconhecimento das profundas marcas do racismo em nossa sociedade. Portanto, defendemos as cotas raciais, desvinculadas das sociais, visando promover a reparação histórica ao povo negro, que ainda sofre com as consequências de séculos de escravidão e racismo em nosso país. PIMESP: elitização, preconceito e precarização no ensino superior paulista! O governo Alckmin apresentou, no fim de 2012, seu projeto de “democratização” do ensino superior paulista, o Programa de Inclusão com Mérito do Ensino Superior Paulista (PIMESP). O programa prevê, em linhas gerais, uma meta de que 50% das vagas das três universidades estaduais paulistas e da FATEC correspondam a alunos da rede pública e negros com uma prazo de 10 anos para que se reavalie o programa. Os alunos serão selecionados pelo ENEM e pelo Saresp. Entretanto, os cotistas serão integrados ao Instituto Comunitário do Ensino Superior (ICESP), um tipo de “college” semipresencial de dois anos, em parceria com a UNIVESP, no qual os alunos terão aulas de reforço (nivelamento) de exatas, humanas e biológicas. Após um ano do “college”, só os cotistas com aprovação integral poderão ingressar na FATEC. Depois do segundo ano, apenas os cotistas com rendimento superior a 70%, além de receberem um diploma de ensino superior sequencial, poderão ingressar na universidade. A ordem de preenchimento das vagas e a escolha dos cursos serão determinadas segundo o ranking dos alunos no “college”. Todos os cotistas ganharão uma bolsa ínfima de meio salário mínimo. O projeto deve ser ainda aprovado pelos Conselhos Universitários para ser implementado a partir de 2014. Esse projeto pressupõe que os negros cotistas não poderão ter o mesmo desempenho que os brancos e que, portanto, vão piorar a qualidade de ensino das universidades públicas. Por isso, precisam de uma antessala antes do acesso à universidade, dois anos de curso preparatório. O PIMESP só aumenta o

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Iniciativas: 1) Intensificar a campanha contra o PIMESP e pela defesa das cotas raciais, apresentando o nosso projeto nas escolas e universidades com debates, passagens em sala, etc. 2) Material online síntese da proposta e publicação do texto no blog da executiva. 3) Próximo boletim da ANEL apresentando o nosso projeto indicado para o inicio do mês de maio. 4) Setorial de opressões na executiva estadual, aberto para a participação de todos, com o objetivo de aprofundar e divulgar o tema. 5) Nota exigindo a aplicação do projeto de lei que prevê o ensino sobre a história da África e do povo negro. 6) Indicar para a executiva estadual redigir uma moção de apoio à luta dos estudantes da UNESP por permanência estudantil. caráter meritocrático do acesso ao ensino superior público no estado, cobrando altos índices de aprovação dos alunos. A exigência de mais de 70% de rendimento aos cotistas é mais um obstáculo para os jovens negros, que, na prática, vai provocar uma alta taxa de evasão do “college”. O projeto do governo estadual também reserva aos cotistas uma educação de péssima qualidade, com ensino à distância, ampliando as funções da UNIVESP (Universidade Virtual do Estado de São Paulo). Além disso, instaura o ensino superior sequencial, de dois anos, os famosos “escolões” de 3º grau, com o intuito de formar rapidamente mão de obra semiespecializada.

O projeto de Cotas Raciais da ANEL – SP A Executiva Estadual da ANEL – SP quer elaborar uma proposta de cotas raciais do movimento estudantil independente, com o objetivo de proporcionar aos estudantes do estado de São Paulo um programa voltado a contemplar as necessidades da juventude negra. Essa iniciativa é muito importante neste momento, pois o conjunto do movimento estudantil e negro paulista, que se encontra em luta contra o PIMESP, está polarizado por outros projetos de cotas de parlamentares da ALESP. A seguir, as linhas gerais de nosso projeto de cotas raciais:

1) Reservar uma porcentagem das vagas das três universidades estaduais paulistas (USP, UNESP e UNICAMP) e do Centro Paula Souza (FATEC e ETEC) às cotas raciais, para todos os cursos e períodos. Essa porcentagem será idêntica à porcentagem de negros na população do estado de São Paulo, segundo a pesquisa mais recente do IBGE. 2) Os alunos deverão escolher entre o processo seletivo tradicional e as cotas raciais na hora da inscrição ao Exame de Vestibular. O direito dos alunos às cotas raciais será determinado por meio do método da autodeclaração coletiva. 3) As instituições públicas de ensino técnico e superior do estado – USP, UNESP, UNICAMP e o Centro Paula Souza – deverão destinar verbas específicas às políticas de Permanência Estudantil voltadas a todos os(as) estudantes cotistas, que serão geridas por uma comissão de estudantes, funcionários e professores autônoma. Políticas de Permanência Estudantil são as medidas institucionais que visam assegurar moradia estudantil, alimentação, transporte, bolsas sem contrapartida, creches, entre outros direitos dos estudantes. Texto extraído de: http://anelonlinesp.blogspot.com. br/2013/04/em-defesa-da-juventude-negraanel-sp.html.


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O Povo

POLÍTICA Rede Livre Leste organizou um debate na saída do metrô Itaquera para discutir os rumos das manifestações nas periferias de São Paulo

toma as ruas

Desde as Diretas Já em 1984 não se via manifestações tão grandiosas no Brasil Texto: Elaine Mineiro e Marcel C. Couto Foto: Elaine Mineiro

“O

Brasil acordou” é uma das frases mais ouvidas nas últimas semanas, seja nas redes sociais, seja nas faixas das ruas e na boca do povo. Nunca se falou tanto sobre política, e isso na mesma semana da Copa das Confederações que, bem sabemos, se trata da maior paixão nacional, ao menos para uma maioria da população. Como explicar esse fenômeno de “despertar” brasileiro, bem na época de uma paixão nacional, o futebol? São muitas as respostas para essas manifestações pelo Brasil, alguns dizem que o pais acordou, outros que setores deste país sul-americano nunca dormiram, como o caso dos movimentos sociais, das periferias, dos partidos de esquerda e da mídia alternativa (aquela que não está ligada aos grandes grupos – Folha, Abril, Globo, Estadão, Record, Band, SBT) que há anos denunciam as barbáries que ocorrem em nosso país de Norte ao Sul. Mas o estopim foi o aumento das passagens de metrô, trem e ônibus, denunciando não apenas os lucros excessivos das empresas de transporte, mas também um sistema de locomoção que não é verdadeiramente público e não garante o DIREITO DE IR E VIR, garantido pela Consti-

tuição de 1988. Foi nesse cenário que o Movimento Passe Livre (MPL) ganhou fama ao levar às ruas não apenas essas denuncias mas o debate sobre o Direito à Cidade e sua construção coletiva (leia sobre o MPL abaixo). Há décadas os movimentos sociais ocupam as ruas para exigir seus direitos e a mudança radical do sistema político brasileiro (político, econômico, social, cultural, ambiental) que se funda numa falsa democracia onde poucos mandam e tem direitos de fato enquanto o resto da população vive à míngua . Os motivos são muitos: o abusivo dinheiro público gasto com as obras da Copa, Olimpíadas, e agora com a vinda do Papa, se somaram aos péssimos serviços públicos oferecidos pelos governos federal, estadual, e municipal; a repressão dos movimentos sociais, estudantis e da sociedade civil organizada; as violações de Direitos Humanos que a Polícia Militar cotidiana e sistematicamente praticam pelo Brasil profundo, entre outras mazelas que estavam presas na garganta. Conquistas e caminhos do movimento As conquistas do MPL nas cidades com as reduções das passagens e o enterro da PEC 37 (PEC da impunidade) pelo

Congresso são algumas das conquistas das ruas, mais uma prova de que apenas a sociedade organizada em torno de objetivos comuns podem mudar o cenário de uma democracia burguesa excludente para uma democracia socialmente justa. Contudo, temos que ficar alertas, os setores conservadores da direita brasileira, capitaneados pela mídia burguesa de plantão (já mencionadas acima) podem desviar os movimentos populares para um estado ainda mais autoritário, privatista e elitista. Vide os ataques às pessoas que hasteavam as bandeiras vermelhas de seus partidos ou movimentos sociais, bandeiras que há décadas já estavam acordadas nas ruas exigindo um outro país, pessoas que há muito apanham da PM e são taxadas pela imprensa como vagabundos, baderneiros, que atrapalham o trânsito, e que agora se vêem obrigados a baixar suas bandeiras porque o resto do Brasil “despertou”. Dois exemplos marcantes são a Uneafro e o Coletivo de teatro Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes. A primeira entidade é reconhecida pela lutas pelo direito da população negra, historicamente excluída e marginalizada, e a segunda um premiado coletivo de teatro da zona leste, que foram hostilizados por estarem com ca-

misetas vermelhas, tendo que abandonar as manifestações sob o risco de agressão física. Isso nos leva à pergunta: afinal para onde vão as manifestações? As organizações populares precisam se reunir, criar comitês, formando uma ampla rede para frear os desvios à direita das manifestações, tais como estão sendo feitas nas periferias de São Paulo. Ano que vem é a Copa, em 2016 as Olimpíadas, período ideal para mostrar para o mundo que a nossa Primavera de lutas está apenas começando em direção ao país que queremos, e que não é esse vendido em comerciais de TV. A Periferia nunca dormiu, a zona Leste e reflexão sobre as manifestações. Diversos grupos da Zona leste se articularam para pensar os rumos das últimas manifestações que eclodiram em toda cidade e no país. Na quarta-feira, 03 de julho a Rede Livre Leste promoveu o “Debate Livre Leste”, atividade que reuniu cerca de 50 pessoas na passarela sul do metrô Itaquera. Superando o frio, o vento, e com visão privilegiada do “Itaquerão”, diversas pessoas, a grande maioria moradora da Zona Leste, opinaram sobre os rumos da ação política e quais

as principais metas dos grupos organizados e militantes. Várias pautas foram levantadas mas a maioria convergiu para a ampliação da comunicação e colaboração entre os diversos movimentos que atuam na região. Uma sistematização sobre o encontro está sendo escrita e logo será divulgada. A “Sexta Socialista” de julho também se dedicou ao mesmo tema. A atividade, que acontece há dois anos em Guaianases toda primeira sexta-feira do mês, reúne moradores, estudantes e trabalhadores da região para discutir temas relevantes para a sociedade, como política, cultura, educação entre outros. O convidado dessa atividade, ontem realizada no Instituto Paulista da Juventude, foi o integrante do Movimento Passe Livre, Marcelo, que falou da experiência do movimento, da luta pelo passe livre e principalmente dos rumos que as manifestações tomaram com o crescimento da participação de uma classe média não organizada nas passeatas. O militante do MPL já se prontificou a voltar ao espaço para uma discussão mais aprofundada sobre Mobilidade Urbana. Outros debates manifestações e atividades da Zona Leste continuam acontecendo... fique ligado.


POLÍTICA

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copa pra quem?

Julho de 2013

Desde as leis que favorecem grandes corporações, até os valores dos ingressos para os jogos, a Copa do Mundo no país do futebol está cada vez mais se tornando um evento para poucos Texto: Lívia Lima Fotos: [1] Débora Freitas e [2] Escobar Franelas [1]

“cerca de 1600 famílias de seis comunidades da região terão que sair de suas casas”

Q

uando em 30 de outubro de 2007 a FIFA anunciou que o Brasil sediaria pela segunda vez o evento esportivo mais importante do mundo, os amantes do futebol ficaram eufóricos. Desde então, a preparação para a Copa do Mundo em 2014 tem mobilizado o país. Entretanto, a pouco mais de um ano para o início do torneio, um clima de incerteza e insatisfação tem permeado a conversa das pessoas. Do preço dos ingressos, com valores inacessíveis para a grande maioria dos brasileiros, à falta de investimentos em infraestrutura, turismo, educação, a população se pergunta: “Afinal, a Copa é para quem?”.

QUEM PAGA A CONTA? Inicialmente, a CBF afirmou que os investimentos para os estádios viriam da iniciativa

Canteiro de obras do estádio do Corinthians, em Itaquera

privada. O que aconteceu, porém, foi a intensa utilização de recursos públicos nas obras. De acordo com a Matriz de Responsabilidades da Copa, a soma dos gastos com obras nos estádios sedes dos jogos será de mais de 7 bilhões de reais, cerca de 30% a mais do inicialmente planejado. Apenas para o futuro estádio do Corinthians, em Itaquera, local programado para receber a abertura do evento no dia 12 de junho de 2014, o governo concedeu R$820 milhões, entre empréstimos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e títulos de isenção fiscal da prefeitura. Se para a construção dos estádios, a conclusão dos projetos está em ritmo acelerado, os investimentos em mobilidade urbana e transporte público não atingiram a expectativa da população.

Em Itaquera, além da Arena Corinthians, está prevista a construção do Parque Linear do Rio Verde, a ampliação de avenidas e vias de acesso às estações de Metrô e trens da CPTM. “O plano de mobilidade urbana para o torneio prevê que mais de 80% desse público chegue ao local por meio do sistema metroferroviário, que fica a 800 metros do estádio. Segundo a FIFA, é recomendado que esse sistema transporte cerca de 50 mil passageiros/hora/sentido. São Paulo já tem o dobro dessa capacidade. Até 2014, a oferta de acesso direto à Arena Corinthians – pelas linhas 3-Vermelha do Metrô e 11-Coral da CPTM – será de 110 mil passageiros/hora/sentido”, afirma André Cintra, da assessoria de comunicação do SPCOPA - Comitê Especial para a Copa do Mundo de 2014.

Segundo reportagem da agência A Pública, verbas que deveriam ser destinadas para 16 obras de melhorias de todo o sistema viário da zona leste, como, por exemplo, na ligação de Guaianases à Radial Leste, só estão sendo utilizadas no entorno da Arena Corinthians. Para todos os projetos de infraestrutura, a Prefeitura e o Governo do Estado estimaram gastos de R$478 milhões. Porém, até agora tem-se investido apenas nas vias próximas ao estádio, enquanto tantas outras áreas que dependem do dinheiro público, gerado pelos impostos da população, não são realizados.

QUEM VAI ASSISTIR? A população que vive em comunidades na região também tem se sentido ameaçada com a proximidade do evento. Segundo o projeto urbanístico do complexo que engloba o

Parque Linear e o Polo Tecnológico, cerca de 1600 famílias de seis comunidades da região terão que sair de suas casas. De acordo com o SPCOPA, apenas 13 famílias terão suas casas realocadas devido às obras do sistema viário para a Copa do Mundo. Mais próxima do estádio, a 1 km de distância, a Comunidade da Paz, que possui cerca de 300 famílias, terá que ser removida devido à construção do Parque Linear do Rio Verde, e por ter sua localização considerada em área de risco. Com mandado já expedido com data para a reintegração de posse do terreno, que pertence, ironicamente, à Companhia Metropolitana de Habitação – Cohab, as famílias ainda não sabem para onde vão e as informações não são transmitidas claramente. Além das remoções das comunidades, as pessoas mais


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Julho de 2013

pobres estão sendo cada vez mais afastadas da região, que sofre com a especulação imobiliária. Desde o anúncio de que a abertura da Copa seria em Itaquera, a valorização dos imóveis subiu cerca de 40%. O bairro parece estar se tornando um lugar melhor para viver, mas não para aqueles que já estão nele.

QUEM VAI LUCRAR? Segundo o estudo “Brasil Sustentável – impactos socioeconômicos da Copa do Mundo de 2012”, realizado pela Ernsrt & Young e FGV, o evento produzirá, de 2010 até 2014, R$142 bilhões adicionais na economia, movimentando o mercado interno. O Ministério do Esporte afirma que serão gerados 330 mil empregos permanentes e 380 mil temporários em áreas de hospedagem, alimentação, segurança, dentre outras. Porém, ainda são muito tímidos os investimentos do governo em outros setores além das obras de infraestrutura,

POLÍTICA

sobretudo em empreendedorismo, educação e capacitação para receber e atender os cerca de 600 mil turistas esperados durante os jogos em 2014. Assim como aconteceu na África do Sul, a maioria dos empregos até agora foram gerados na área da construção civil, que com a conclusão das obras, deixará os trabalhadores sem ocupação. Além disso, de acordo com a Lei Geral da Copa, o comércio local, principalmente o informal, será prejudicado, pois a legislação garante à FIFA exclusividade de venda e propaganda dos produtos e serviços das empresas patrocinadoras do evento. Desde as leis de exceção que favorecem grandes corporações, até os valores dos ingressos para os jogos, com pacotes que já estão à venda por valores entre US$ 590 (R$ 1.189) e US$ 4.543 (R$ 9.086), a Copa do Mundo no país do futebol está cada vez mais se tornando um evento para poucos.

“Desde o anúncio de que a abertura da Copa seria em Itaquera, a valorização dos imóveis subiu cerca de 40%. O bairro parece estar se tornando um lugar melhor para viver, mas não para aqueles que já estão nele.”

Prefeitura e Estado investem dinheiro público, que é nosso, para beneficio de quem? Depois de 2014 que vai pagar essa conta?

[2]

5 PERGUNTAS PARA O COMITÊ POPULAR DA COPA-SP 1) Até o momento, quais foram as melhorias para a população da zona leste com a realização da Copa do Mundo em 2014? Itaquera e toda a zona leste é hoje uma região estratégica para a expansão urbana de São Paulo. Cortada pela Av. Jacu Pessego, ela liga a Marginal Tietê e as rodovias Dutra e Ayrton Senna ao norte (aeroporto internacional e Rio de Janeiro) à Rodovia dos Imigrantes e Anchieta ao sul (Pólo Industrial do ABC e Porto de Santos). Nesse sentido, com a chegada da Copa do Mundo, a construção do estádio e uma série de obras viárias e de infraestrutura estão em execução em ritmo acelerado e intenso, promovendo o chamado “desenvolvimento” da região, o que no ponto de vista do Comitê Popular da Copa significa a transformação urbana de padrão segregador, beneficiando os setores da construção civil e imobiliário, gerando especulação a partir da terra e grandes lucros para esses setores - como a megaempresa Odebrecht. Por outro lado, é evidente a substituição da população daquele bairro, tradicionalmente operária e de classe baixa, por outra com maior poder aquisitivo. Dentro desse contexto, para a população de Itaquera fica mais evidente os prejuízos em relação aos benefícios. 2) Dos projetos previstos de infraestrutura para a região, quais estão efetivamente acontecendo? Alguns projetos benéficos para a região, como é o caso do Pólo Institucional de Itaquera já estão em fase de acabamento, porém até o final da Copa do Mundo eles serão utilizados única e exclusivamente pela FIFA, e após o término desse prazo não há projetos e nem licitações em andamento para a continuidade dos serviços nesse equipamento urbano de tamanho importância. Esse é o mesmo caso da FATEC, não há informações sobre a realização de concurso para contratação de professores, o que fará com que esses espaços fiquem ociosos e subutilizados, mesmo com o tamanho investimento que foi feito ali. As únicas obras que de fato irão ocorrer, mas que se mantém com um caráter duvidoso em relação ao quão benéficas serão para a população de Itaquera, são as obras viárias.

3) O que o Comitê espera e reivindica com a Copa do Mundo na cidade e na zona leste? Nós não somos contra a Copa, gostamos de futebol e também queremos ver o Brasil campão, assim como todos os brasileiros, porém somos contra a maneira que essa preparação vem ocorrendo, passando por cima dos direitos do brasileiros, conquistados com muita luta, passando por cima de inúmeras comunidades sem que seja apresentado um projeto ou uma alternativa digna de moradia, escondendo-se informações importantes para que todos nós possamos nos preparar. O Comitê é contra a mercantilização do futebol, a transformação do futebol e dos esportes em geral utilizado como justificativa para o aceleramento ou não realização do processo de licenciamento dos projetos que, na maioria das vezes favorecem os direitos privados em detrimento dos direitos públicos, assim como a especulação imobiliária. 4) Sobre a economia e os negócios da região, de que forma ela pode ser estimulada com a Copa do Mundo? Especificamente os negócios da região dificilmente serão estimulados pois apenas a FIFA e seus patrocinadores poderão exercer os serviços de comercialização no entorno do estádio, a chamada zona de exclusão, nos dias de evento, e em outros momentos não haverá muita procura por esses serviços. 5) Qual o legado que a Copa do Mundo pode trazer para a zona leste? Após a Copa a perspectiva do Comitê Popular é uma profunda transformação naquela região que é hoje alvo da especulação imobiliária, acompanhando um processo mais amplo que se percebe em todas as regiões da cidade de expulsão dos mais pobres e exploração da terra urbana como ativo financeiro. Também temos como perspectiva a permanência de certas tecnologias de controle e monitoramento que serão experimentadas durante a Copa e devem permanecer para o controle e repressão/criminalização de trabalhadores e movimentos sociais. Além disso, vislumbramos uma enorme dívida pública decorrente de investimentos públicos bilionários em um evento privado, além da isenção de impostos para a FIFA e parceiros. Por fim, acreditamos que a forma autoritária nas decisões sobre obras e projetos de transformação urbana deve permanecer como regra, inviabilizando a participação popular e o acesso à informação, direitos constitucionais.

*O Comitê da Copa é um espaço de denúncias e proposições sobre a Copa de 2014, que acontece em todas as cidades que sediarão o evento. www.comitepopularsp.wordpress.com Caso haja mais dúvidas é só nos contatar. Forte abraço, Comitê Popular da Copa - SP


POLÍTICA

movimentos

sociais

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Julho de 2013

o que é o movimento passe livre (mpl) Por uma vida sem catracas! Texto: Nina Cappello, integrante do Movimento Passe Livre Foto: Antonio Miotto

Ato na praça da Sé pediu o reajuste nas tarifas de trêm, metrô e ônibus que haviam subido 20 centavos

“No Brasil, em 2010, eram mais de 37 milhões de pessoas que não podiam usar o transporte público simplesmente por não ter dinheiro para pagar a tarifa”

O

Movimento Passe Livre (MPL) é um movimento social autônomo, apartidário, horizontal e independente, que luta por um transporte público de verdade, gratuito para o conjunto da população, fora da iniciativa privada e decidido de acordo com a vontade de quem mais entende como ele deve funcionar: os próprios usuários. O Movimento existe desde 2005, e surge em um contexto em que cidades como Salvador, através daquilo que ficou conhecido como a Revolta do Buzu, e Florianópolis, com a Revolta da Catraca, levam milhares de pessoas às ruas para protestar contra o aumento das passagens. Desde então, a luta tem sido vitoriosa em diversas cidades, como foi em Florianópolis por duas vezes, em Vitória, Natal, Teresina, Aracaju, Taboão da Serra, e

mais recentemente em Porto Alegre. Nestas cidades, a população se organizou e foi para a rua mostrar que estava insatisfeita com a forma como o transporte público funciona e com mais um aumento de tarifa, e conseguindo, através da pressão popular fazer com que as Prefeituras fossem obrigadas a voltar atrás em suas decisões. Cada aumento de tarifa significa excluir ainda mais pessoas do acesso à cidade. No Brasil, em 2010, eram mais de 37 milhões de pessoas que não podiam usar o transporte público simplesmente por não ter dinheiro para pagar a tarifa. O Movimento Passe Livre entende que o transporte público deveria ser tratado como um direito, assim como a saúde pública e a educação pública, por exemplo. Se não temos que passar por uma catraca quando entramos em um posto de saúde da prefeitura, porque

aceitamos com tanta naturalidade girar uma catraca quando entramos em um ônibus público? É por isso que defendemos a tarifa zero para o transporte público municipal. Entendemos que a cobrança de tarifa é uma opção política, e não técnica, como sempre se argumenta. Isso se evidenciou recentemente, por exemplo, com a notícia de que Haddad estudava um aumento nos impostos da gasolina para possibilitar uma redução nas tarifas de ônibus. Em São Paulo, há diversos exemplos de projetos que perpetuam uma lógica na qual se investe mais em transporte privado do que em transporte público. a chamada Ponte Estaiada, na Marginal Pinheiros (e outras que vieram depois seguindo a mesma lógica) que custou mais de 250 milhões de reais e sequer prevê a passagem de pedestres ou de transporte público. É por

isso que defendemos uma inversão de prioridades. Um estudo interessante do IPEA realizado em 2011 mostra que os automóveis recebem até 90% dos subsídios dados ao transporte de passageiros no país, o que significa que hoje se gasta 12 vezes mais com transporte privado do que com o público. Em algumas cidades que adotaram a Tarifa Zero, além de outras repercussões positivas, deixou-se de gastar parte do orçamento que era direcionado a esses investimentos, como a construção de vias, pontes, recapeamento de ruas, e houve até uma redução nos gastos com a saúde pública. Para nós, ir para a rua se manifestar contra o aumento das tarifas, é também se manifestar pelo direito de participar da gestão do transporte público na cidade. Se hoje a Prefeitura prioriza mais os carros do que os ônibus, é porque não há

qualquer discussão sobre quais deveriam ser as prioridades com a população. Há um debate muito interessante para se realizar agora, por exemplo, com o Bilhete Mensal que está sendo implementado pela Prefeitura. Serão no mínimo 400 milhões de reais a mais no subsídio para o transporte público, valor bastante significativo, uma vez que hoje apenas 660 milhões do orçamento são destinados para tal finalidade. Mas será que esse aumento em mais de 50% no quanto se subsidia o transporte público representa uma inversão de fato? Será que um bilhete que custará no mínimo 140 reais, apenas para quem só anda de ônibus, representa de fato uma melhoria no acesso ao transporte público? Só com muita luta vamos conquistar um transporte público voltado para os nossos interesses, sem catraca e sem tarifa, com ônibus de madrugada e aos finais de semana, e com linhas que sirvam para atender as necessidades dos que usam o transporte diariamente. Lutar por um transporte verdadeiramente público, é lutar por uma cidade que possa ser desfrutada e pensada por todos os cidadãos. Por isso estamos desde maio chamando a todos para se organizarem contra mais um aumento injusto, decidido por poucos, que dificulta ainda mais o acesso a uma cidade já tão excludente como São Paulo. Enquanto existir tarifa, haverá resistência popular!


olho na

mídia

S

ob ordens da Casa Branca iniciou-se em primeiro de abril de 1964 o golpe de estado militar brasileiro. Todo aparato montado para enfraquecer uma insurgência comunista na América Latina teve origem “in USA”. O principal canal de TV (Rede Globo) foi financiado por verba norte-americana; é só lembrarmo-nos do grupo “time life” não é mesmo doutor Marinho?

A

s substâncias alteradoras de consciência têm uma história paralela à própria história da humanidade. Em praticamente todas as sociedades há indícios de consumo de drogas, grupo no qual podemos incluir modernamente, entre as mais consumidas e acessíveis: o tabaco, açúcar, chocolate e álcool. Não há um critério claro que defina por que algumas substâncias são consideradas lícitas enquanto outras, ilícitas, como é o caso do ópio, LSD, cocaína, maconha, sálvia. Desde que Richard Nixon declarou Guerra às Drogas, há 40 anos, estima-se que só os EUA tenham gasto cerca de 1 trilhão de dólares com essa política, que comprovadamente não foi efetiva. Entre 1998 e 2008 o número de usuários de opiáceos aumentou 34,5%, os de cocaína 27% e os de cannabis 8,5%. A ONU estima em cerca de 160 milhões o número de usuários de maconha no mundo e em 250 milhões o número de usuários de drogas ilícitas, sendo que desse montante, menos de 10% apresenta uso problemático. A proibição prejudica a área da pesquisa, não nos permitindo ter conhecimento sobre os reais efeitos benéficos ou maléficos que as substâncias tem

POLÍTICA

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Julho de 2013

Resquícios da ditadura na mídia brasileira Texto: Maurício de Moraes Noronha (Muro)

Não foi surpresa nenhuma quando este mesmo senhor veio, por meio de um editorial no jornal O Globo, declarar seu total apoio aos militares golpistas. “Participamos da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das lnstituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada. Quando a nossa redação foi invadida por tropas anti-revolucionárias,

mantivemo-nos firmes em nossa posição. Prosseguimos apoiando o movimento vitorioso desde os primeiros momentos de correção de rumos até o atual processo de abertura, que se deverá consolidar com a posse do novo presidente.” Como um cão de guarda dos yankes ele cumpriu fielmente seu papel. “Temos permanecidos fiéis aos seus objetivos, embora conflitando em várias oportunidades com aqueles que pretenderam assumir o controle do processo revolucionário, esquecendo-se de que os acontecimentos se iniciaram”, como reconheceu o Marechal Costa e Silva, “por exigência inelutável do povo brasileiro”. Declarou na época o dono da Globo.* E por mais injusto que pareça ser, as organizações da família Marinho usufruem de uma concessão pública para transmissão de rádio e TV. E sempre que se cogita a hipótese de se discutir tais concessões, é dito em alto e bom tom, com chamada no Jornal

Nacional e tudo mais, que a liberdade de imprensa está sendo cerceada. Quarenta anos depois do golpe a ditadura continua em curso. Mesmo com a recémcriado Comissão da Verdade** os abusos de poder, desrespeito aos direitos humanos, tortura de presos políticos, morte de militantes, entre tantas outras atrocidades cometidas pelo regime militar continuam acontecendo nos dias atuais. O negro, o pobre, o favelado são os perseguidos de hoje. A diferença é que com a chegada da democracia estes atos foram sendo encobertos pela mídia. Quem viu alguma nota imparcial da imprensa burguesa sobre as atrocidades cometidas em Pinheirinho? A mesma mídia que foi criada pelos golpistas continua realizando seu trabalho. Recentemente foi sancionado pelo prefeito Fernando Haddad o projeto de

em reação com nossos corpos. Em alguns estados dos EUA, por exemplo, a maconha de uso medicinal já é permitida, comprovando os efeitos positivos que a erva pode ter no auxílio do tratamento de doenças como o câncer. A proibição não nos permite ter controle sobre que substâncias estamos ingerindo, pois sabemos que com a venda ilegal, não há armazenamento adequado das drogas e clareza sobre que substâncias estão sendo misturadas a elas no processo produtivo. Além disso, há um aumento substancial das margens de lucro através da manutenção do mercado ilegal de drogas (a ONU estima que o tráfico de drogas movimente 500 bilhões de dólares por ano, extraoficialmente fala-se em até 1 trilhão); gerando lucro às instituições que reinserem esses montantes na economia mundial, mantendo a população na linha de fogo da guerra entre a polícia e os poderes paralelos que trabalham nesse mercado (PCC/ Comando Vermelho) e justificando a criminalização da pobreza através da militarização das favelas e periferias, como vimos nos últimos anos com a inserção das UPPs nas favelas do Rio. A última reforma da Lei de

Drogas no país data de 2006, e determinou que os usuários não seriam mais presos por porte de drogas. Embora não haja uma quantidade definida que determine como distinguir traficantes de usuários, ao mesmo tempo que este último teve abrandamento na pena, foi determinado que a pena para traficantes seria de 3 a 5 anos, sem direito a liberdade provisória. De 2006 a 2012, a população carcerária subiu 142%. O Brasil tem hoje 513 802 pessoas presas (69% a mais que o número de vagas oferecido pelo sistema penitenciário) das quais 42,5% não foram condenadas e aguardam julgamento presas. Entre 2006 e 2010 houve um aumento de 118% no número de presos por tráfico de drogas no Brasil, que foi de 39 700 para 86 591 pessoas. Desses, apenas 7% portavam mais de 100 gramas de maconha, 57% dos acusados não apresentavam antecedentes e 61% não tinham dinheiro para pagar um advogado. A maioria das mulheres presas hoje no Brasil, que já são 5% da população carcerária do país, é mãe solteira, pobre e afrodescendente. Segundo o DEPEN, cerca de 28 mil é o contingente de presas no no país, das quais 40% foram

A Proibição mata: Legalize a vida

lei 380/10 dos vereadores Jamil Murad e Orlando Silva que permite a substituição de nomes de logradouros que homenageiam carrascos da ditadura. Andando por ai é fácil de percebermos algumas bem conhecidas: Avenida Presidente Castelo Branco (marginal Tietê); Rua Doutor Sérgio Fleury, Via elevada Presidente Arthur da Costa e Silva (minhocão), Rua João Batista Figueiredo, Praça Augusto Rademaker Grunewald...entre outras vias. Ah temos também a antiga avenida das Águas Espraiadas, mais conhecida como Avenida Jornalista Roberto Marinho. Será que essa também sofrerá alterações no registro? Se for o caso fica a dica de homenagear um jornalista de verdade, Vladmir Herzog é um ótimo nome! * **

Trecho retirado do site Carta Maior Lei nº 12.528, de 18 de novembro de 2011

artigo

Texto: Ligia Costa

presas por conta do tráfico de drogas. As mulheres cumprem um papel inferior na hierarquia do tráfico, sendo mulas; geralmente são ex-trabalhadoras de setores de serviços informais e pouco reconhecidos, como empregadas domésticas, que veem no tráfico uma fonte de renda. Em última instância, a legalização das drogas tem pauta paralela a outras demandas sociais, como a legalização do aborto. Como é sabido, é possível abortar de forma segura, desde se pague pelo acesso a clínicas clandestinas. Em contrapartida, às mulheres pobres resta recorrer a métodos dolorosos e arriscados, como substâncias abortivas que provocam contrações e hemorragias. A reivindicação de que todas as mulheres possam fazer abortos seguros, assistidos pelo SUS, sem

o risco de serem criminalizadas é similar à que todas as pessoas possam optar sobre o que usar de substâncias alteradoras de consciência. E no caso dos usuários problemáticos de crack em situação de rua, se desejarem assistência, que sejam atendidos pela rede pública de forma voluntária e multi-setorial, que proponha tratamentos efetivos, com acompanhamento de equipes capacitadas, levando em consideração que o maior problema desses usuários é a própria situação de abandono a qual estão submetidos. A Marcha da Maconha aconteceu em 41 cidades no ano de 2013, e tem como objetivo levantar o debate de drogas e reivindicar que o Estado tenha outra politica de drogas, que não a criminalização da pobreza, dos usuários e dos movimentos sociais.


ENTRETENIMENTO

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Julho de 2013

Ebbios — 2013

traçados

ROBSONGS

The Concept

Robsongs é o recente projeto solo do vocalista e guitarrista da banda paulistana The Concept. Este projeto paralelo surge na melancolia do quarto do artista, onde tudo é criado, mixado e masterizado pelo próprio, em um bairro do extremo leste de São Paulo, Itaim Paulista, para ser mais preciso. Robson Gomes, ou Robsongs, paira sobre uma atmosfera psicodélica, flutuando entre os estilos pós punk e shoegaze. Em 2013 lançou seus três primeiros EPs: Essa Grande Falta de Você, Chuva de Tijolos e Tudo é Preto e Branco, álbuns que podem ser conferidos nos links ao lado:

The Concept, banda fincada no Itaim Paulista, comemora seus 20 anos de estrada em novembro próximo após tocar por inúmeras cidades, em casas noturnas, festivais e centros culturais pelo Brasil. Em 2012 abriram a turnê brasileira da banda estadunidense Ringo Deathstarr e, há menos de 2 meses, abriram para o show de Stephen Malkmus, vocalista da consagrada banda norte-americana Pavement, em São Paulo. Por ora, se preparam para lançar mais um álbum, previsto para outubro de 2013.

Texto: Dimitry Uziel

www.facebook.com/TheRobsongs www.theblogthatcelebratesitselfrecords.com

Texto: Dimitry Uziel

https://myspace.com/the.concept/blog http://tnb.art.br/rede/theconcept

fica a DICA banzo periférico Texto: Elaine Mineiro

https://www.facebook.com/NhocuneSoul http://bandanhocunesoul.blogspot.com.br

As experiências de vida de Tita Reis e sua militância artística ditam o ritmo e a sonoridade do seu primeiro CD, “Sujeito Periférico”, o nome do trabalho já adianta que o cotidiano da periferia é exaltado, analisado, denunciado e celebrado. Na mesma sintonia a banda Nhocuné Soul lança o disco Banzo, em que se ouve a ancestralidade negra recheada de uma mistura altamente contagiante de samba, soul, rap... assim é o terceiro álbum da banda. Os dois CDs expressam a crônica do cotidiano das quebradas de São Paulo, a zona leste está no nome da Banda, na letra das músicas, nas parcerias...

https://www.facebook.com/tita.reis http://titareis.bandcamp.com


Julho de 2013

entrevista

Mais sobre ele: http://saraudonhocune.blogspot.com.br/ http://www.recantodasletras.com.br/ autor.php?id=74021 http://textolivre.com.br/component/ comprofiler/userprofile/Batalhafam

1) Quem é Zé Carlos Batalhafam? ZCB - A pergunta é interessante, milenar, de difícil resposta e, sempre reducionista. Vivo na zona leste de São Paulo mas sou natural de Jales, uma cidadezinha agradável do interior paulista. Por vocação, treino e “natureza”, sou escritor, um poeta. Na verdade, o que sou mesmo, é um aprendiz; um operário da vida e das letras.

NEGRITUDE Depois da mãe África Teu berço é Palmares Tua dança Tua ginga Teus deuses natura. E antes de tudo, Teu berço é cultura Tua graça Tua raça Africandura. (in, Palavras Cruzadas, folheto, impresso. SP: maio de 92, ano 1, nº 4)

FACE A FACE Escrever é como fazer espelhos; deixar refletir o rosto de quem lê. (in, Trilogia das palavras. SP: RG, 2007)

MEMÓRIA ZL

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2) Como a poesia ou a literatura iniciou-se em sua vida? ZCB - O mergulho no mundo da literatura foi prosaico, deuse, ainda na infância; a partir da leitura de gibis e os livros de Monteiro Lobato. A poesia também veio na idade escolar; a partir dos poemas de Cecília Meireles e Manuel Bandeira. Só mais tarde, na adolescência, fui descobrindo os clássicos russos, Gorki, Tostoi... os ingleses, Byron, Shelley e Wordsworth... e na idade adulta, os lusófonos, Eça de Queiroz, Pessoa, Florbela Espanca, Drummond, Machado de Assis... 3) Quando você começou a praticar seus escritos? Foi como a maioria de nossos confrades - na adolescência? ZCB - Sim, na adolescência. O primeiro conto nasceu da provocação de uma professora de português que pediu à classe para que escrevesse uma redação diferente, que deixasse a mente fluir; saiu um conto futurista. Já o primeiro poemeto foi escrito para uma platônica namoradinha; somente 30 anos depois ela soube que foi musa e amada. 4) E quando foi que você enveredou mais profissionalmente pelo caminho das letras? ZCB - Em 1987 publiquei meu primeiro livro, “Verdades & Mentiras”. Desempregado e cursando o Técnico de Publicidade, me vi obrigado a sobreviver do livro. Isso durou dois anos. Noite após noite, vendia os livros na porta de cinemas, bares e restaurantes de São Paulo. Em diversos momentos, me encontrei com Plínio Marcos que também vendia seus livros da mesma maneira. Foi uma fase difícil mas muito interessante, pois a cidade e as pessoas eram mais generosas, abertas às experimentações da época. Hoje aproveito bem as janelas daquela experiência. 5) Quando o vi pela primeira vez, foi durante o Primavera nos Dentes, em Itaquera, mais ou menos em 1989, 90. O que foi aquilo? ZCB - Naquele período, de 89 a 93, fui assessor de Comunicação, Imprensa e Cultura na subprefeitura de Itaquera. Para juntar os grupos e artistas da região, juntamente com os poetas Erorci Santana, Talmo Pedrosa e Dilson Botto, em 1990 elaboramos e executamos o projeto Primavera nos Dentes. O objetivo foi abrir espaço e dar visibilidade à produção cultural local. Reunimos diversos grupos de dança, teatro e poetas; publicamos uma coletânea de poesia e estabelecemos um circuito cultural com apresentações de dança, teatro e leitura de poemas nas escolas públicas do território. Foram mais de três meses de agito e milhares de jovens e adolescentes contemplados pelo projeto. Itaquera virou um caldeirão cultural. A partir do Primavera nos Dentes, o bairro ganhou três ótimos espaços para a arte, a cultura e o lazer: a Praça da Cultural, no

Zé Carlos Batalhafam Texto e Foto: Escobar Franelas

“Zé Carlos Batalhafam, autor de obras seminais como “Verdades e Mentiras” (poesia) “Trilogia das Palavras” (poesia) e “Vila Nhocuné – Memórias da Tapera da Finada Ignêz & Outras Memórias” (história), é um incansável batalhador da palavra enquanto arte e da cultura enquanto expressão cidadã. Lá se vão vinte e poucos anos como um dos articuladores do Primavera nos Dentes, primeiro movimento literário organizado na região de Itaquera. Agora responde pela direção e curadoria do Sarau do Nhocuné, onde mensalmente reúne um panteão de poetas (da região e de outras “pasárgadas”), para declamar, trocar idéias e saberes dentro de um bar na Vila Nhocuné. Há muito que queria trocar um dedo de prosa com ele, saber de sua vida, sua poesia, o que pensa sobre diversos assuntos, coisas assim... e essa oportunidade nunca surgia. Então apelei para a tecnologia que temos em mãos hoje. Comecei a mandar as perguntas via e-mail e ele respondia quando podia. São estas respostas que estão aí, comprovando a sapiência e experiência de um batalhador incansável e um homem com uma vertiginosa apropriação da palavra.” centro; a Praça Brasil (hoje Mãe Menininha do Gantois) e o Parque Raul Seixas e sua Casa da Cultura, no conjunto José Bonifácio (Cohab II). Além disso, otimizamos outros espaços, como a Praça Dilva Gomes, na Cohab I. Com o Primavera nos Dentes, Itaquera passou por uma efervescência cultural fantástica. Deixou raízes. 6) “[...] não há rima, amigo, amiga / só há o perigo, que não rima com a vida. / Uma rima que não atina com nada. [...]” (Religare, in Trilogia das Palavras). Sua poesia nos explicita uma “solidão” diante da vida. Estamos condenados a viver sós, na arte? Ou estamos condenados a sermos sós, enquanto artistas? ZCB - O Religare é um poema social, político, mas é interessante a leitura que você faz. De fato, penso que a solidão seja um estado (e condição) importante para a criação mas não usaria o termo “condenados”, pois não penso que ela (a solidão) seja ruim. Além do quê, a arte, por mais coletiva que seja, sua elaboração se dá, sempre, no plano individual. Claro que os fatores coletivos influenciam a criação, mas ela é sempre individual e, quando compartilhada, é recriada, reproduzida. Na arte; na criação, a solidão é nosso “fado”, e nesse sentido, até em função do “ego”, sim, estamos “condenados”. 7) Zé Carlos Batalhafam, o que você está tramando no momento? ZCB - Com outros “comparsas”, entre os quais incluo-o, estou desenvolvendo ações culturais (Sarau do Nhocuné) para acúmulo de forças e, a partir de outubro próximo, pretendo “atacar” o governo federal, e outras instâncias governamentais, para forçá-los a implantar um Pólo de Cultura na região de Vila Nhocuné. Penso que esse seja um dos papéis dos produtores culturais: lutar na “trincheira” da cultura, forçar o provimento de espaços culturais na cidade. 8) Batalha, você é um otimista, realista, reformista ou idealista? ZCB - Reparou como essa pergunta nos remete à primeira?!. Penso que, nada e ninguém, seja apenas isso ou aquilo. A depender do momento, da conjuntura, da situação, agimos e reagimos, sempre de forma diferente. Sou um poeta; faz um tempão que rompi com alguns dogmas e não penso, exclusivamente, de forma linear; mas, no geral, me considero um otimista. Você já ouviu Maria Bethânia?! : “Eu sou a chuva que lança a areia do Saara sobre os automóveis de Roma. Eu sou a sereia que dança, destemida Iara...” 9) Mas, afinal, o que é a poesia? Ou, melhor ainda, o que é arte? ZCB - A definição do que seja “poesia” e “arte”, passa sempre pelos valores relativos. Muitos já tentaram definir o que seja poesia, e é variado o entendimento. No geral, poesia é definida como: a forma pela qual a linguagem humana é utilizada para transmitir ou expressar a beleza (e aqui vale lembrar que, o que é belo para uns, pode não ser para outros). Porém, todo texto que toque a sensibilidade, que emocione, seguramente é poético, possui poesia; sobretudo, quando sua linguagem é alegórica, sugira imagens e fuja do lugar comum. A “arte”, também depende dos valores relativos para ser conceituada. E dentre esses valores, o elemento estético, é o que melhor a define. Cada época e cada comunidade cultural, têm seus valores.


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As lutas pela Memória e um Memorial na Zl de São Paulo Grupo de Memória da Zona Leste de São Paulo convida a comunidade a pensar qual passado será resgatado e transmitido pelo Memorial que será construído na região Texto: Danilo Morcelli

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“por Décadas essa memória foi manipulada criando uma identidade negativa à grande parte dos que habitam essa região. O Memorial é só uma parte de uma história de muita luta, muitas relações e muita gente envolvida...”

Se você se interessar pelo Grupo de Memória da Zona Leste de São Paulo ou sobre outros aspectos da memória e do patrimônio da região, contate o autor deste texto: Danilo Morcelli, no e-mail pessoal danmorcelli@gmail.com.

s lutas por um espaço de memória na Zona Leste de São Paulo figuravam em pauta desde a década de 1990, com diversos grupos e espaços de discussão, acentuadas com os movimentos pela educação e pela implementação da USPLeste na região. Data do ano de 2003 uma das principais reivindicações da região que tomou voz na figura do Padre Ticão – líder comunitário – que é o Memorial da Zona Leste. As reivindicações por um espaço de memória colocaram a questão em debate, iniciando os primeiros encontros e discussões, que foram de certa forma amornando-se na comunidade ao longo do tempo, não concretizando o memorial em si. No ano de 2012 houve novas reivindicações e negociações por parte do Padre Ticão com a USP-Leste para a implantação do Memorial da Zona Leste e tudo indicaria que ele seria de fato implementado – sobretudo com as perspectivas de expansão da unidade, em virtude das comemorações dos dez anos de lançamento de sua pedra fundamental – com a concepção das reuniões ocorridas anos antes. Esse é um momento importante pois a comunidade volta a se reunir para debater suas memórias, e a construção deste espaço. Não nego meu papel em fazer as sugestões críticas de maneira à contribuir com esse projeto;

desde as proposições iniciais a comunidade já não era a mesma, o embasamento e o conhecimento da comunidade já era outro, muito havia se avançado na questão. O Padre Ticão, que estava à frente das proposições me convidou para o debate e solicitou que organizássemos todos os interessados na memória, e reavivássemos o debate sobre o Memorial. A proposta era que as reivindicações e os debates da comunidade embasassem e contribuíssem com o projeto, e que ela participasse ativamente da construção desse, já que é ela que está sendo ali retratada. Ainda mais, queríamos unir na discussão a pluralidade de memórias e de entes que a reivindicam. Assim, realizamos um encontro dia 31 de Março de 2012. Os interessados foram convidados pelos mais diversos meios, inclusive pelo jornal comunitário. Nesse encontro debatemos diversos pontos, como a importância da memória, as diferenças entre história e memória, entre museu, memorial, centros de memória... A questão do patrimônio na região, e o próprio projeto do até então Memorial. Participaram deste encontro pessoas das mais variadas origens e vivências. Nas discussões cada um carregava sua bagagem, sua experiência pessoal e todos foram ouvidos. Essa reunião foi o estopim para criação do Grupo de

Memória da Zona Leste que tem se encontrado desde então. Grupo surgido da reivindicação da comunidade por um espaço em que suas memórias fossem expressas, articulando suas ações pela memória e pelo patrimônio da zona leste – em sua forma mais ampla. Durante os encontros do grupo, o projeto do “Memorial da Zona Leste” foi aprovado, com recursos da Fundação Tide Setúbal para o projeto do edifício, que foi projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake, à ser instalado como anexo da USP-Leste (em sua expansão), até o ano de 2014, em um terreno em que atualmente existe uma curiosa chaminé de uma indústria da qual não restam memórias na comunidade. O projeto diversas vezes apresentado para a comunidade, poucas vezes absorvendo as numerosas críticas e pontuações feitas. Residem aí dicotomias: um projeto que teve sua concepção na comunidade, quando passou para o âmbito da institucionalização, intensas discussões foram ignoradas assim como de certa forma a comunidade que o idealizou. Em resposta às reivindicações da comunidade, a Universidade de São Paulo destacou uma equipe formada por professores de outros países com realidades totalmente diferentes, e que na discussão com a comunidade, declararam desconhecer totalmente a

região em questão. Os envolvidos no projeto mostraram um perigoso desconhecimento da realidade diversa da região, e uma perigosa idealização norteadora, não condizente com essa realidade diversa. Nessa institucionalização, o projeto do memorial foi se transformando e se adaptando; o que era de inicio “Memorial da Zona Leste” virou um “Centro de Memória e Convenções”. Seria essa uma vitória da comunidade que conquistou um espaço de memória ou uma derrota, pois ela não é ao mínimo capaz de tomar suas próprias decisões e decidir sobre o seu próprio destino? Se esse é um memorial da comunidade para a comunidade, porque ela é restringida dos aspectos mais básicos de decisões? Não estamos nós aptos para lidar com uma maior participação comunitária nas diversas esferas de poder e nos meios institucionais, e que interferem na comunidade? A memória é importante pois parte da história da região se encontra naqueles que a vivenciaram, ou possuíram algum contato com quem a vivenciou. Por décadas essa memória foi manipulada criando uma identidade negativa à grande parte dos que habitam essa região. O Memorial é só uma parte de uma história de muita luta, muitas relações e muita gente envolvida...


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patrimõnio

histórico Chácara do Seu Antônio Tombada, agora parque ecológico, uma conquista dos moradores pela preservação Texto: Sandra Frietha Fotos: [1] Karol Max/CLN e [2] Marcel Cabral Couto

Zona leste minha vida, terra esquecida Passa desapercebida mesmo para quem vive numa região que para muitos é somente dormitório Se atentar na riqueza que temos e dos acontecimentos vivenciados aqui. Das memórias que o tempo e a falta de conservação, ou da falta de informação, não lembramos mais. Ou, porque o poder público ou uma instituição privada achou melhor renovar, pondo a baixo trabalho exaustivo de muitas vidas. Sandra Frietha

Saiba mais informações sobre a programação e história da Casa de Cultura do Itaim Paulista no endereço: http://centroculturalitaimpaulista.blogspot.com.br/

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O

começo da colonização no Itaim Paulista foi através dos portugueses no século XVII, que por meio das sesmarias, (concessões de cultivo agrícola – modelo este trazido de Portugal) os senhores da época vieram para o lado leste cultivar e plantar. Passados os tempos, novas pessoas foram adquirindo posses de terras e passaram a ter a região como lugar de veraneio. A chácara do Seu Antônio é um exemplo disso. Nela há várias espécies nativas da mata atlântica, algumas já são até mesmo tombadas como patrimônio ambiental pela prefeitura, e sua derrubada é proibida e acarreta prisão por crime ambiental. Uma curiosidade: foi nesta chácara onde houve a construção da primeira piscina da região, explica Marcel Cabral, editor do Jornal Voz da Leste. Por possuir vários pés de jabuticabas, era comum nos meses de outubro a dezembro, passar em frente ao local e ver na calçada os frutos caídos. Era utilizada como medida, para a venda das frutas, uma lata de óleo. Tenho saudades desse tempo... Nos anos 90, a chácara teve seu auge com uma das festas mais badaladas da região – A Festa do Cachorro Louco –, onde passaram por ela não só moradores do Itaim e adjacências, mas também de outras regiões, como nos conta Sandro Garcia – baixista da banda Continental Combo. Ele é proprietário do estúdio Quadrophenia e nos anos 90 tocava com a banda The Charts (que teve grande repercussão no cenário underground de São Paulo) e anos mais tarde tocou com a banda Violeta de Outono; com Kid Vinil (ex integrante da banda Magazine – conhecida pelo sucesso nos anos 80 “Eu sou boy”) e tocou também com Cadão Volpado (ex-integrante da banda Fellini e ex-apresentador do programa

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Metrópolis da TV Cultura). Na época, Sandro residia na zona norte e veio prestigiar seus amigos e vizinhos. “Lembro muito, mas muito vagamente da festa, sei que foi bem bacana, fui assistir a banda The Ultimates, e guardo na memória um show muito divertido com algumas figuras pedindo sons. Estavamos com os amigos de sempre por lá, e depois de algumas cervejas, virando a noite no evento, voltamos de condução” – relembra o baixista. Bem bacana esse intercâmbio e troca de experiências, não acham? Mas em 2006 a chácara teve o risco de ser loteada para construção de um condomínio de alto luxo, segundo apuraram ativistas da causa ambiental no bairro, como os livreiros Jorge Lins dos Santos e Jonilson Montalvão. Através dessa iniciativa, apresentaram ao vereador João Antônio a necessidade de preservar o parque. O vereador, a

partir dai, apresentou à câmara municipal, para votação, o Projeto de Lei 593/2006, onde pedia a desapropriação de uma das chácaras mais antigas do Itaim Paulista, para transformá-la em um parque público. Depois de quatro anos da primeira reunião do Fórum de Meio Ambiente do Itaim Paulista, a chácara finalmente entrou em obras para abrigar o Parque Ecológico Central do Itaim Paulista, nosso patrimônio. Tenho a informação de que em breve, o local será a nova sede do Centro Cultural Itaim Paulista, conhecida hoje como Casa de Cultura do Itaim Paulista, esta será deslocada de seu então endereço de fundação (Rua Barão de Alagoas, inaugurada em 1984). Em 2013, a casa de Cultura completou 28 anos de existência e prestação de serviços a comunidade. Nos anos 90, teve o fomento cultural na região com diversos programas culturais, e

[1] Vista aérea do futuro Parque Ecológico Central do Itaim Paulista, que abrange uma área de 33 mil m2, está localizada entre as ruas Antônio João de Medeiros e Alfredo Moreira Pinto, paralelas à Avenida Tibúrcio de Souza [2] Casarão da antiga chácara abrigará sede administrativa do parque

também com a vinda de artistas de gabarito, como a atriz Ester Goes, a banda punk Inocentes, entre outros. Uma pena, é que, com sua mudança para o novo endereço, certamente o prédio será mais uma história que a se tornar ruina. Imaginem se não tivessem pessoas preocupadas, engajadas e sem medo de brigar pelo direito que reconhecem ter, perderíamos mais esse paraíso ambiental pelo motivo da tal demolição, com um detalhe, para benefício de poucos.


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O valor de uma lembrança Texto: Aurélia Cavalcante

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magens, momentos, experiências... Vem uma recordação: fotografias. Antigamente uma máquina fotográfica era artigo para poucos: hoje você adquire uma máquina digital até em forma de parcelamento. E, melhor que isso: já dispara o flash e logo em seguida, descarrega todo conteúdo em seu computador. Prático! Mas, e aqueles álbuns de fotografia da família, de uma boda importante ou até aquele registro dos primeiros passos daquela criança linda? Bom, quem quiser ver, que acesse o Instagram, Facebook ou qualquer outro site de redes sociais do momento. Poucas pessoas irão imprimir e guardar. Existem DVDs, CDs e tantos pen drives com memória suficiente para guardar tudo isso. Ah, e a espontaneidade das fotos? Esqueça! Ninguém mais quer sair feio, com a boca aberta ou olhando distraídamente para outro canto, que não seja o do clique: no caso de erro,

sejam bem-vindos! Texto: Marcela Santos

O

que escrever para esse jornal? Que nasce assim, meio sem jeito, meio tímido, mas sem pedir licença, porque foi planejado, foi esperado e, agora, é parido... Como uma criança, escuta-se o primeiro choro que a princípio não tem formato nenhum, não é dor, nem desconforto emocional, nem medo. É apenas um choro, mas que diz muito: é a primeira manifestação da existência! Passa-se do não ser, não existir ao existir. O neném está no mundo e, a partir de agora, participará dele! Esse pequeno ser – Voz da Leste – que está em suas mãos em formato de jornal é o mais recente membro da família. O que esperar dele? O que nos revelará? O que trará de novo, fantástico, maravilhoso, vulgar e espantoso? Bem, ainda não se sabe. Ainda não se quer saber. Porque estamos

encantados com essa nova vida que tem rostinho de joelho e hipnotiza a todos, os quais aguardavam a gestação e o parto. Alguns dirão: os olhos são do pai, a boquinha é da mãe, as sobrancelhas são da tia, da irmã mais velha... Com quem se parecerá? Qual trejeito terá? Andará, logo? Enfim, perguntas enigmáticas que só poderão ser desvendadas com o tempo. O que podemos ousar pensar é, talvez, sobre a primeira sensação experimentada pela existência, o “espantar-se”. Emoção sentida por todos aqueles que nascem. Após rasgar o ventre da mãe, passando quase que imediatamente ao seu colo. Segundo depois de brotar do nada, de uma flor, de túnel, de um buraco para o viver... Rompe, não apenas com a parte da sua matriz, mas de si mesmo. Duas metamorfoses- da mãe

é só acionar o botão apagar e você terá apenas fotos com poses bem planejadas e sempre bem focadas. Contudo, se tem uma coisa que a tecnologia jamais irá apagar são as lembranças daqueles momentos: os sorrisos de satisfação daquele almoço de domingo, aquele pessoal do colégio que cresceu e tomou seu rumo, do seu cachorro fazendo arte ou até mesmo daquele namorado que você tinha uma paixão enorme, mas, que infelizmente ou felizmente (na maioria dos casos) não deu certo... Mas, existe o lado bom da mordernidade: um celular pode fazer o ‘papel’ de uma máquina, e, naquela hora de aperto seus olhos podem captar o que pode se transformar numa foto: o metrô que quebrou pela quarta vez na semana; aquele buraco que nunca é tapado na estrada; eternizar um sorriso banguela daquele seu sobrinho danado ou até o cochilo despretensioso de seu namorado cansado. Claro que também existem os ‘sem noção’ que registram cada barbaridade... mas, estes eu nem vou dedicar espaço nesta crônica. Cabe a todos nós, achar o equilíbrio entre os avanços tecnológicos e o viver o cotidiano, entre fotos que podem só pontuar um momento ou ser uma eterna lembrança marcante e nostálgica.”

CRÔNICAS e do filho. A fissura dolorosa do parto é tão, igualmente, dolorosa para aquele que é parido... Já que também é atravessado pelo existir. O choro é a fala inicial dessa criatura que vem desprovida, entre tantas coisas, da própria voz. Ainda não tem ferramentas para verbalizar o que sente, mas essa fala meio misteriosa, barulhenta, desesperadora, sonora não é primitiva, pois cumpre com excelência o que deseja expressar- “Estou no mundo!”. Porém aquele que o recebe, aquele que tanto o aguardava, esse entende seu significado. A expressão é sem formato, sem função aparente, mas carrega em si o desespero, o espantar e o experimentar de novas vidas. Quer o Existir causar tanto desconforto para os seres que se deparam com a existência de si e do outro? Quer ele

causar tanto horror, angustia e medo? Essa pequenina vida não vem para confortá-los, não! Ela desempenhará o seu papel: incomodar, transtornar, frustrar, indagar, desarticular, criticar, pensar, desestruturar etc. A morte traz o conforto, o viver não. Serenidade, paz de espírito, silêncio, calmaria, falta de desejo, há na morte... Pois é lá que encontramos a ausência de tudo... O que queremos e desejamos é vida... Muita vida... E para ela... Muitas frustrações, turbulência, caos, desordem... Barulho... Choro... Então, preparem-se para essa criança que vem faminta de existência... De existir... Que quer experimentar infinitamente os espantos do parto já vivido... E, nós que aqui estamos já paridos há muitos anos, tenhamos a sorte de compartilhar generosamente com esses estalos diários de fascinação que só o viver possibilita.

Que sejamos flagrados, como uma pequena criança, encantados com as banalidades do cotidiano e que fiquemos frustrados com a morte de uma pequena formiga, porque ela, embora frágil e imperceptível, carrega em si muita vida... Que sejamos tocados... Que essa transformação venha em formato de vislumbre, contemplação ingênua, olhar aguçado, adubo para novas ideias, fertilizantes para florescimentos intelectuais, reflexivos e críticos. Que rejuvenesça a alma. Seja bemvindo, filho novo!


TEATRO,

A GENTE HACE POR AQUI!

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urante a universidade, me interessei em pesquisar a dramaturgia latinoamericana como documento histórico. Apesar do pleno incentivo da maioria dos meus professores, embarquei numa pesquisa precariamente e parcialmente realizada, em parte por limitações pessoais e também por conta do ínfimo apoio de uma Universidade privada, cujo núcleo de pesquisa era mais “pra inglês ver”, do que de fato para o que ele deveria servir. Enfim... Começo fazendo referência a esta experiência e a este tempo, justamente porque foi o momento em que despertei meu olhar para produção teatral latino-americana e me dei conta da disparidade entre o que se produz e que se conhece. Muitos são os textos, os grupos, os espetáculos, mas o acesso é pequeno, se comparado a outras referências, sobretudo

europeias. Mesmo nós artistas, a não ser que haja um interesse específico e pontual, conhecemos e acessamos pouco ou nada de uma produção artístico-cultural imensa e que muito nos diz respeito. Na época em que escolhi pesquisar o teatro latinoamericano, lembro ter ouvido de alguns colegas artistas que deveria aproveitar a temática (dramaturgia como documento histórico), mas utilizar outras referências, pois o que se produzia na América Latina, em termos de Artes Cênicas, ainda era inferior perante outras pesquisas estéticas e blá, blá, blá. Porém, como não fui convencida por essa prosa, que entendo ser mera reprodução de um discurso cultural hegemônico, acabei por fazer várias descobertas pelo meio do caminho. Dentre elas, que há pluralidade, potência e muita qualidade no teatro produzido por nosotros!

Em Mogi das Cruzes festival de teatro trouxe grupos da América Latina Texto e Fotos: Queila Rodrigues

“Se queres ser universal, começa por pintar sua aldeia” Liev Tolstói

De 22 à 28 de abril de 2013, o I FIIT de Mogi das Cruzes recebeu os grupos: Mamulengo da Folia;Teatro El Baúl (Colômbia); Clara Trupi de Ovos y Assovios (Mogi das Cruzes); Teatro de Rabia (Chile); Myashiro Teatro de Bonecos (Curitiba);Teatro Hugo e Ines (Peru); Cia. do Escândalo (Mogi das Cruzes); The Bag Lady Theater (Espanha); Pombas Urbanas (SP); Contadores de Mentira (Suzano); e Contraelviento Teatro (Equador).

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o mês de Abril, deste ano, tive a oportunidade de acompanhar o FIIT - I Festival Internacional de Itinerâncias Teatrais de Mogi das Cruzes, promovido pelo Galpão Arthur Netto e pela Clara Trupi de Ovos y Assovios. Além de artistas do Alto Tietê e de São Paulo, o festival recebeu também grupos da Europa e América Latina. Aproveitando-me desta experiência, retomo a discussão anterior sobre pluralidade, potência e qualidade da cena teatral latino-americana, evidentes, por exemplo, nas diversas propostas estéticas compartilhadas pelos grupos que compuseram a programação deste Festival. Impossibilitada, pelo limite de tempo e espaço, me atenho a falar apenas de três, das treze¹ apresentações realizadas durante o festival, a primeira delas, “Divino Pastor Gôngora”, monólogo do ator e diretor Jorge Romero Mora, que integrou o Teatro El Baúl (Bogotá/Colômbia) e o Workcenter de Jerzy Grotowisk. Criado a partir de um texto, também monólogo, do mexicano Jaime Chabaud, este expetáculo trouxe à cena apenas um ator e adereços simples, porém sua proposta cênica, pautada, sobretudo no trabalho do ator, nos colocou prisioneiros na mesma cela em que ele se encontrava, atentos à sua narra-


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Jorge Romero Mora (Colômbia) e Manoel Lucena Mesquita Junior (Galpão Arthur Netto)

tiva de como fora parar ali, num contexto em que se viu cercado pelo poder inquisidor da Igreja (Séc. XVII) e pelos desdobramentos da Revolução. Do Brasil, e mais especificamente de Mogi das Cruzes, cito a Cia. do Escândalo (Galpão Arthur Netto), com o espetáculo “O Sequestro do Secretário de Cultura”, dirigido por Manoel Lucena Mesquita Jr. Como o próprio nome já diz, trata-se de um sequestro da figura que responde (ou deveria), como poder público, pelos interesses e necessidades dos trabalhadores de cultura. Num jogo cênico, em que um grupo de teatro interpreta um grupo de teatro nestas condições, a Cia. questiona os limites do poder e autonomia de quem ocupa este cargo, assim como a própria organização e clareza de quem, por direito e militância, exerce seu papel de cidadão-ar-

16 tista na luta por mais acesso e democratização dos recursos públicos para/entre os produtores de cultura, os artistas. Trata-se de uma crítica e também de uma auto-crítica, um olhar distanciado para o outro e para si próprio. De Quito/ Equador, é a terceira referência que escolhi mencionar. O espetáculo “Al final de la Noche”, proposta cênica do grupo Contraelviento Teatro. Pessoalmente, este coletivo me chamou atenção, não só pela presença marcante da atriz Verònica Falconí, mas também pela identificação com seu processo criativo e posicionamento político. Segundo Falconí, este espetáculo possui duas versões, a primeira com cinco atores e a segunda, que assistimos, apenas com ela em cena, apresentando-nos uma mulher num diálogo inquietante consigo mesma. Como se revisitasse a própria memória, a mulher ou as mulheres em que ela se transforma com as experiências vividas, se (re)vê em situações diversas e adversas, em que se inclui um constante embate e enfrentamento da moral e das imposições sociais, graças à sua condição de jovem e mulher, num tempo em que não há espaço para uma e nem para as duas coisas juntas. No debate que sucedeu a apresentação, Verònica falou a respeito do processo de criação do grupo, cuja premissa é o ator-criador: “...não sou uma intérprete! Sou uma criadora que se junta com outro criador...”, característica pontual do chamado Teatro de Grupo. Patricio Vallejo Aristizabál, diretor do espetáculo e também do grupo Contraelviento, acrescenta a fala da atriz e define essa forma de organização como uma pátria secreta, onde todos os cidadãos tem os mesmos direitos; um teatro de rebelião/rebeldia

em que se tenta inventar o mundo em cena. Vallejo também diz que cada um faz teatro porque necessita fazê-lo, ponto de vista que se encontra com o de Jorge Romero Mora. Durante a entrevista que me concedeu, assim como na oficina que ministrou no Galpão Arthur Netto, pautando-se na sua experiência com grupo El Baúl e com Workcenter, Mora fala da necessidade de construir uma poesia que possa dizer o que se quer dizer, o que necessita que seja dito, sem esquecer a base, as raízes, para que as folhas não caiam e a arte continue a florescer. Nas palavras dele, “fazer teatro é uma boa experiência que você quer repetir”, para Vallejo é necessário modelar essa arte como um artesão e como as avós, tecer os fios com calma e rigor, desmanchando e refazendo os pontos, tantas vezes forem necessárias. Seja pela excelência do trabalho do ator, demonstrada e compartilhada na experiência de Jorge Romero Mora; seja pela horizontalidade no processo criativo e pelo minucioso cuidado proposto pelo grupo Contraelviento Teatro; ou mesmo pela coragem e pelo risco apontado pela Cia. do Escândalo e consequentemente pelo Galpão Arthur Netto para realização deste festival, assim como para a discussão apresentada por meio de seu espetáculo... Olhando com calma e atenção para essas três experiências, sem contar as que, infelizmente, não pude tratar aqui, retomo o início dessa prosa e outra vez defendo a pluralidade, a potência e a qualidade no teatro que há tempos tem sido produzido na América Latina. Portanto, hermanos... Fa-

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çamos um esforço, e sem desconsiderar as demais experiências também relevantes para o teatro como um todo, “deseuropeizemos” nosso olhar, nossas referências e sejamos parte também da construção de outra ótica para quem somos nós ou para o que nos “convenceram” de que somos. Alhures!

Cena de “O Sequestro do Secretário de Cultura” da Cia. do Escândalo de (Mogi das Cruzes)

No Pulo Do Coelho Texto e Foto: Ruana Negri

ensaio

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m sono profundo o coração bate ritmado, enquanto a mente ajuda a bombear as experiências absorvidas pelo corpo. Algumas são digeridas, outras encontram-se indigestas, armazenadas no estômago, entre os intestinos e na pele. Ao despertar, o corpo programado e cheio de vícios é acionado por teclas de

conforto. Esse corpo respira, porém, surgem barreiras na audição, visão e no campo tátil. O perceber torna-se mecânico, penetrar ou tocar o íntimo do indivíduo protegido não é algo fácil. Com certa frequência essas barreiras são trincadas, fissuras dadas por curtos-circuitos gerados no organismo. E assim, no quintal de casa, pelo caminho do trabalho,

dentro do metrô ou do ônibus...Nos deparamos com o “coelho bandido”, reflexo de nós mesmos. Salteadores e reféns de nosso próprio corpo, despreparados mas vivos para deixar brotar sensibilidade entre os nossos pulos.


A ZL de todos nós ou a reinvenção por meio das expressões artísticas Texto: Adailton Alves Teixeira

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zona leste da cidade de São Paulo, segunda maior em extensão e maior em população (são mais de quatro milhões de habitantes), sempre foi um local de trabalhadores. Os primeiros bairros, do centro para o fundão, Brás e Mooca, receberam levas de imigrantes europeus na virada do século XIX para o XX, e depois, começaram a receber brasileiros de outras partes do país que vinham trabalhar

O vendedor de rimas Texto: Maurício de Moraes Noronha (Muro) De Recife, PERNAMBUCO

S

egundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) a cidade do Recife (PE) tem uma população de mais de um milhão e meio de pessoas dividindo um espaço territorial de 218 km², rodeados pela Mata Atlântica. O principal meio de transporte público utilizado pela maior aglomeração urbana do norte/nordeste, quinta maior cidade do país são os ônibus, que por sinal estão cada vez mais cheios e congestionados no trânsito caótico da cidade da lama. Entre um ônibus e outro que vão passando nos pontos da cidade, observa atentamente um rapaz de mochila nas costas, camiseta larga, bermuda e chinelo, do qual o mais apropriado é o que não esteja tão lotado e que o motorista seja compreensível e o deixe subir por detrás do ônibus para vender suas rimas para

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na recente cidade industrial. Essa região foi crescendo acompanhando o que era símbolo de progresso à época: a linha do trem. Assim, os bairros iam se desenvolvendo em torno das estações de trem. Um exemplo é o próprio bairro de São Miguel Paulista (que já foi muito maior, pois agregava Ermelino, Itaim e Itaquera) que, apesar de ser muito antigo – pois, juntamente com Pinheiros, formam os bairros mais antigos

resistências de São Paulo –, seu desenvolvimento só ocorreu depois da década de 1930, com a chegada de uma indústria química ao bairro. Essa característica de ser uma região de e para trabalhadores, sempre fez com que aspectos estruturais fossem relegados a último plano, daí a luta de seus moradores ao longo da história, por moradia, saneamento básico, escolas, entre outros. Quanto aos equipamentos culturais, por não serem vistos como artigos de primeira necessidade, foram e são colocados em último lugar. Não obstante, isso não significa que a zona leste seja destituída de expressões culturais, muito pelo contrário. Afinal arte não é feita por equipamentos culturais ou apenas nesses lugares. E

as-

Quebradas de lá

os passageiros da viagem da vez. Seu nome, Rafael Beiton da Silva. Assim o batizou Dona Elisabeth e Seu Sebastião. No meio da galera todos o chamam de Gênio Mc. Ele tem 25 anos é casado e pai de um filho. Entra, pede licença e começa a cantar seus versos pra quem quiser escutar. Alguns tiram seus fones de ouvidos e prestam atenção na desenvoltura criativa com que vai versando e rimando aquele rapaz que acabara de entrar no coletivo. O talento é recompensado com gorjetas depositadas num chapéu que é passado de banco em banco para o público que também é passageiro. E a história foi se repetindo de parada em parada por uns tempos até que Gênio conseguiu dinheiro o suficiente pra gravar um CD demo. “...: Eu comecei a fazer esse tipo de trabalho pra poder gravar meu disco, o meu intuito não era só ganhar di-

nheiro” diz o rapaz. Então foi aí que ele vendeu mais de duas mil cópias e comprou equipamentos que utiliza na realização de uma batalha de rap que organiza em sua comunidade, a batalha do terminal. Nascido no interior de São Paulo, Gênio veio morar no Recife com a mãe quando tinha 13 anos. Por isso costuma dizer que é metade daqui e metade de lá. “Eu gosto dessa parada...dessa essência que tenho aqui, entendesse? De certa forma tem uma parte de mim de São Paulo e outra parte de mim aqui.” Comenta Gênio. Berço da poesia nacional, Pernambuco já viu crescer por estas caatingas, florestas e cidades grandes nomes da literatura como Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Joaquim Cardoso entre tantos outros multifacetados artistas contemporâneos. Chico Science e suas poesias musicadas por

é justamente aí que esse povo valoroso mostra seu valor inventivo. Apesar da proliferação de bares e igrejas, como forma de disseminar a violência e o controle (respectivamente ou vice-versa?), pois como já dizia Chico Science, em Da lama ao caos, “quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça”, muitos desses lugares são recriados, tornam-se pontos de encontro, criam-se saraus, subvertendo sua ordem primeira. Principalmente os botecos. Nominar todas as experiências é impossível, seja pelo reduzido espaço, seja por desconhecimento mesmo, pois em região tão extensa, a cada dia se descobrem novas experiências. Mesmo assim, vale a pena citar algumas: o Centro Cultural Arte em Construção, gerido pelo grupo Pombas Urbanas, com uma programação cultural vastíssima e também com formação, possibilitando a criação de outros coletivos; a experiência compartilhada do CDC Patriarca, entre o Dolores Boca Aberta Mecatrônica de Artes e outros coletivos, como bandas musicais e grupos teatrais; a Mostra de Teatro de São Miguel Paulista, realizada pelo Buraco d`Oráculo desde 2002, bem como seus circuitos teatrais de rua pelas quebradas; a proliferação dos saraus como O que dizem os umbigos, no Itaim Paulista, o Slam, em Guilhermina Esperança; os ensaios abertos de circo com o grupo DoBalaio, realizados em praças... Essas experiências demonstram a riqueza cultural da ZL, sempre tão castigada pelo abandono do poder público e a ausência de políticas públicas de cultura.

E é na perspectiva de construção de políticas públicas de cultura de Estado que, além da realização de ações práticas, a zona leste já legou à cidade diversos movimentos culturais: Movimento Popular de Arte (MPA), da década de 1980, que nos deixaram nomes expressivos na música, como Raberuan, Sacha Arcanjo, Zulu de Arrebatá e Edvaldo Santana, na poesia, como Akira Yamasaki e Claúdio Gomes. Nomear é sempre um risco, pois desse movimento existem muitos outros nomes importantes para as artes da zona leste, para a cidade e para o Brasil. Além do MPA, outros movimentos surgiram e agonizaram, seja pela dificuldade de organização, cansaço e outros tantos motivos que enfrentamos todos os dias. Cabe citar ainda o Levante Leste, Fórum de Cultura da Zona Leste, que tornou a se rearticular e tem realizado encontros sistemáticos. O importante é destacar aqui que, com ou sem políticas públicas, os artistas batalhadores da zona leste nunca deixaram de praticar suas artes. Ao mesmo tempo, sempre se organizaram para buscar melhores condições de expressão para as mesmas. Fazer, mas sem deixar de buscar melhores condições materiais para que as expressões artísticas cresçam e floresçam. Afinal, se fazem sem recursos, onde poderiam chegar com melhores condições materiais? E por isso vale a pena lutar todos os dias, pois se nossos antepassados lutaram para construir esses bairros, agora é o momento de lutarmos para dignificá-los cada vez mais. E a arte é uma das possibilidades.

alfaias regionais e guitarras distorcidas. Alguns costumam dizer que artista aqui não nasce, brota da terra, tamanha é a riqueza e a diversidade cultural presentes neste lugar. Sempre lendo para aprimorar seu vocabulário, Gênio nos conta de onde vêm suas influências. “Solano Trindade, Manuel Bandeira, Clarice Lispector, a gente busca inspiração no cordel também. Os muleques que estão chegando agora estão muito pra fora...e quem já está aqui há al-

gum tempo faz essa correria mesmo, valoriza o que somos”comenta Gênio. Gênio é um sonhador que acredita que o rap seja uma ferramenta social muito importante. “Pra mim é uma ferramenta que eu uso pra contribuir na formação de outras pessoas enquanto cidadão”. E de coletivo em coletivo ele vai cantando sua história. E o trânsito às vezes perde um pouco a importância quando entra num ônibus um vendedor de rimas.


CULTURA

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expressão

musical

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Cia. Porto de Luanda: Os Tambores da Resistência ecoam em Itaquera

Texto: Daniel Marques Foto: Queila Rodrigues

N

o que o Maracatu, manifestação cultural que possui mais de 300 anos de existência, pode nos ensinar em tempos tão tecnológicos e de uma crescente diminuição das relações humanas? Ainda mais se tratando de um Maracatu feito na periferia de São Paulo como é o caso da Cia Porto de Luanda? Itaquera, bairro da zona leste de São Paulo, periferia, muita movimentação: de um lado a construção do estádio Arena Corinthians, o “Itaquerão”; do outro o Shopping Itaquera e a Estação de Metrô. É preciso ficar atento e com os ouvidos bem abertos, pois em meio a tanto caos, construções, desapropriações e especulações imobiliárias há um som que não para de ecoar: o som da Cia. Porto de Luanda que há 10 anos se manifesta através dos tambores do Maracatu. O Maracatu é uma manifestação popular de origem africana, trazida ao Brasil pelos negros que aqui foram escravizados, ritmo representado através de uma corte real que possui reis e rainhas, entre tantos outros personagens que exaltam a chegada do povo africano em terras brasileiras. Todas as suas tradições são entoadas e tocadas tendo forte relação com a africanidade e suas influências religiosas através dos tambores, além de possuir também elementos da cultura europeia e indígena. Para conhecer melhor sobre essa manifestação fui bater um papo com os coordenadores da Cia. Porto de Luanda, para saber um pouco mais sobre a história desse grupo que faz do toque do tambor instrumento vivo de construção de identidade, forma autêntica de expressão e possibilidades de formação cidadã. É dentro da EE. Milton Cruzeiro na Rua Alamandas, nº36, que todos os sábados o Porto de Luanda desenvolve o projeto “Identidade Tambor”, oferecendo oficinas de Dança e Percussão do Maracatu de Baque Virado, tradicional da região de Pernambuco e estudos sobre a história dos grupos tradicionais dessa manifestação, chamados de “Nações”.

A Cia Porto de Luanda nos possibilita um foco de resistência, um auxílio no processo de formação de identidade e fortalecimento do indivíduo e do coletivo através do Maracatu

Segundo Silvio Ribeiro, músico e arte-educador, um dos fundadores da Cia, o “Porto”, nasce no ano de 2003 em Itaquera com a ajuda de amigos e alunos. Iniciam o projeto independente de recursos financeiros. “O nome Cia Porto de Luanda é uma homenagem para os escravos que eram muito sofridos e enganados e vinham a ser convidados para ir para Luanda, para ir em algum evento, mas na verdade eles embarcavam nos navios negreiros.”,diz Silvio. Em Pernambuco, nordeste brasileiro, o Maracatu tem sua tradição enraizada há séculos. Tendo em vista esse dado, não podemos ignorar o fato de que as periferias de São Paulo têm uma forte influência negra, indígena e nordestina, povos esses que sempre de alguma forma foram e são minorizados, seja por seus sotaques, cores ou crenças. Na contramão dessa realidade, um Maracatu que é feito na periferia (como é o caso do “Porto”) tem o caráter político-sócio-cultural de res-

tituição de um legado negado ao povo e subjugado por uma sociedade intolerante e pouco aberta à diversidade cultural. “Por que que na periferia o Maracatu e toda a informação da cultura tem que chegar? Porque é aqui que “tá o caldo da coisa”, os centros, a religiosidade e a gente tem que compreender o que é isso”, diz Gelson dos Santos, um dos coordenadores do projeto. Instrumentos e danças mostram a cultura de cada “Nação” Nas aulas os alunos são estimulados a aprenderem tanto a dança quanto o toque da percussão. Alfaias, Caixas, Gonguês, Agbes, Ganzás são os instrumentos utilizados para executar os baques (ritmos diferenciados dentro do maracatu que correspondem as características de cada nação). “O tambor vem da criação do homem, a origem da humanidade é africana então não tem como fugir”, diz Adilson Camarão, coordenador da percussão, sobre os tambores e baques.

Sobre a Dança, Mariana Ramos coordenadora desta modalidade dentro do “Porto” nos relata:“Vejo de maneira imprescindível ter a dança no maracatu, é de uma riqueza cultural e visual muito extensa. No Porto dou oficinas que ensinam desde a percepção musical na dança do maracatu, história e os passos das nações que trabalhamos mais ( o Estrela Brilhante de Recife e o de Igarassu e Porto Rico). A Cia Porto de Luanda nos possibilita um foco de resistência, um auxilio no processo de formação de identidade e fortalecimento do indivíduo e do coletivo através do Maracatu. A periferia pode até ser uma região com grandes índices de exclusão social, porém com muitos (e põe muitos nisso!) pontos de resistências populares que trazem à tona a beleza de um povo que teve sua história roubada e que por vezes não se reconhece. Mas neste percurso em busca de uma formação de identidade e fortalecimento do indiví-

duo e do coletivo, o Maracatu tem um papel imprescindível em tocar os corações e fazer os quadris se libertarem ao som dos tambores. Que existam e resistam cada vez mais “Portos de Luanda” e que possam ser ouvidas de todas as partes canções entoadas por um povo que se manifesta através do tambor e faz com que suas vozes ecoem por todas as partes. “ Alpes de Itaquera”

de Adilson Camarão coordenador de percussão)

“Lá de Itaquera se escuta os tambores Fazendo zuada pro povo canta Eu sou, sou Porto de Luanda Eu sou Trago brilho no olhar Aprendi em Recife a tocar o Baque Virado”.


CULTURA

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Livros de cabeceira Texto: Escobar Franelas

visão

literária

C

omo leitor voraz que sempre fui, tive (tenho) meus livros prediletos, aos quais eu volto para uma leitura às vezes completa, ou então para degustação de algum trecho. Assim, desde que li O Pequeno Príncipe, por volta dos 13, 14 anos, o livro passou a habitar debaixo do meu colchão para releituras ou consultas esporádicas. Do mesmo jeito foi com Aventuras de Huck, de Mark Twain.

Com o tempo a gente vai depurando o gosto e os gestos. Passei, desde a adolescência, a levar para a cama livros de poesia ou HQ. Lembro de um Hamlet estilo graphic novel que era do meu irmão, adorava ler aquilo, decorei até algumas falas... Drummond, Vinícius, Cecília e Bandeira passaram a fazer parte da tchurma que morava debaixo do travesseiro. Pro o colchão não ficar muito alto, adotei uma espécie de rodízio, aos quais se somaram, com o passar dos anos, a Bíblia (basicamente o livro de Eclesiastes e, menos constantemente, Salmos, Cantares e Provérbios), Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, Cartas a Um Jovem Poeta, de Rainer Maria Rilke e, mais recentemente, Poesia Pois É Poesia, de Décio Pignatari. Mais recentemente uma

vírgula, pois quem mal nasceu e já se mudou para a cabeceira da cama é Bentevi, Itaim, do poeta e produtor cultural Akira Yamasaki. Livro soberbo, inspirado, robusto, nasce já antológico, cheio de vida e flores. Tem sido alvo de leituras, releituras, transleituras e outras “turas” quase todas as noites antes de dormir. Mais que isso, é quase o incenso que perfuma a antessala de meu sono, naqueles minutos gostosos em que os cílios vão baixando as portas e... quando você acorda, o livro tá caído no chão. Pincei três poemas aqui, só pra servir de indicação. Sugiro uma visitinha ao sítio virtual deste poeta vistoso (http://blogdoakirayamasaki.blogspot.com.br/), para deleite e boa companhia. Lá tem pão, café, leite, chá, broa, bolacha e outros manjares deliciosos. Fartem-se!

“pausa” a caixa do posto de gasolina suspirou enquanto introduzia o mastercard na maquininha: - ai que calor de repente acho que estou com monopausa - comadre, não seria na menopausa? - monopausa, menopausa acho que é só uma minipausa débito ou crédito?

(para nilson galvão)

do ninho de tsunamis um escapou e saiu pra passear das desgraças que semeou uma ficou em particular fukushima e a poesia inútil perplexa diante do mar

“poça” sobre a poça o passo passa: - licença, lua

OS NARCO-ARTISTAS E UM PODER PÚBLICO MAIS PODER DO QUE PÚBLICO Texto: Queila Rodrigues Fotos: [1] arquivo do Grupo Contadores de Mentira; [2] e [3] Queila Rodrigues Ilustração: Cadu

“É que do outro lado do muro tem uma coisa que eu quero espiar.” Pagu

“poema inútil”

V

ivemos em uma democracia questionável, temos uma Constituição Federal e nos pautamos numa Declaração Universal dos Direitos Humanos, cuja prática é extremamente limitada e tão questionável quanto. Na (i)lógica de um regime político que não atende seu próprio conceito e da discrepância entre teoria e prática, no que se refere aos direitos adquiridos em luta, está cada vez ainda mais complicado e agoniante pensar e compreender a ótica pela qual o poder público olha para as manifestações culturais e para os artistas do país. Apesar dos direitos culturais figurarem como “indispensáveis à dignidade e ao livre desenvolvimento da nossa personalidade” (artigo XXII da Declaração Universal dos Direitos Humanos) e serem “garantidos” pelo Estado em sua Constituição Federal/1989 (artigo 215), há que

embate

cultural

se considerar, pontuar e denunciar que, na prática, a cultura (e pensando aqui no sentido amplo do termo) é tida como e tratada com valor secundário. A ignorância, o preconceito e o desrespeito passam por questões étnicas; religiosas; de gênero; dentre outras; assim como o descaso e o destrato das manifestações artísticas e dos artistas, sobretudo populares/periféricos. E por ser esta uma ampla discussão, como referência, abordaremos aqui apenas dois casos específicos: o fechamento do Teatro Contadores de Mentira (Suzano); e o “bolo” dado aos artistas-produtores de cultura do Itaim Paulista (zona leste de SP). A seguir, trechos da Carta de Repúdio sobre a atitude de Lacração da Cultura de Suzano¹, elaborada e veiculada, em redes sociais, pelo grupo em questão:


CULTURA

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Julho de 2013 [1]

“Na noite de sextafeira, dia 12 de abril de 2013, às 20h30, o Teatro Contadores de Mentira foi “invadido” por fiscais da prefeitura escoltados por policiais militares e civis além do advogado Dr. Gustavo Ferreira, identificando-se como responsável jurídico da Prefeitura Municipal de Suzano. De forma a nos deixar acuados e com medo, fomos interrogados de maneira intimidadora a respeito da documentação de funcionamento do espaço. [...] “O aparato contava com aproximadamente 10 viaturas, da policia militar e da guarda civil municipal, cerca de 20 homens, cães farejadores, força tática, além da CET. Sob a alegação de que ofereceríamos alto risco de violência, lesão corporal e desacato aos fiscais de postura. A imprensa local também estava na ação, avisados com antecedência pela própria Prefeitura.”

N

ão precisa ser um especialista na área do Direito, e nem conhecedor pleno das garantias constitucionais, para concluir que houve excesso por parte do poder público nesta ação de desalojamento. Portanto, algumas questões inquietam: por que e para que tanto aparato numa ação de desocupação de um grupo de teatro? Um coletivo artístico ofereceria mesmo tanto perigo para a sociedade ou teria força de resistência física contra dez viaturas (PM e GCM), cães farejadores e Força Tática? O que justificaria a presença prévia da imprensa local, mediante aviso antecipado da própria prefeitura? Cabe ressaltar que, na mesma carta de repúdio, em nenhum momento o grupo se apresenta contrário à fiscalização do espaço, mas sim à forma como foi realizada: sem notificação prévia, sem consideração pelos trâmites em andamento e com uma abordagem distinta da realizada em outros prédios, inclusive públicos. É que este não é um caso isolado, pois há tempos e por toda parte, diversos coletivos artísticos vem sofrendo este tipo de intervenção autoritária e descabida; não só em espaços geridos por grupos independentes (em caráter de ocupação ou não), como também em locais públicos (ruas, parques e praças) geralmente ocupados por artistas populares. Uma situação como esta, vi-

[3]

[1] Chegada da Polícia Civil de Suzano, para lacrar o teatro [2] Lacre do teatro [3] Convocação para reunião de discussão sobre os festejos do aniversário do Itaim Paulista, feito pelo chefe de gabinete da subprefeitura, Sr. Marlon Sales da Silva, que faltou ao encontro [2]

vida pelo Grupo Contadores de Mentira, nos leva a pensar que quem se propõe a fazer arte (para além apenas da estética), quase sempre, carrega o fado de ser visto como uma espécie de narco-artista: traficante de uma droga ilícita, cujos efeitos colaterais (de grama em grama) podem atingir diretamente a sociedade, despertando-a para outros sentidos que não os impostos pelo poder instituído. Logo, essa droga de arte/artista precisa ser combatida antes que mais gente tenha acesso e torne-se (in) dependente. Talvez seja essa uma possível ótica do poder, aliás, parafraseando Chapolin Colorado, suspeitei desde o princípio! Partimos agora para discussão de outra situação, dessa vez sem aparato policial e imprensa oficial, porém, com descaso e falta de respeito semelhante. Já é sabido pelas bandas da nossa querida zona leste, que as Casas de Cultura, apesar de públicas, são administradas (salvo exceções?) de maneira quase privada; sem contar o despreparo da maioria dos funcionários, a ausência de programação de interesse público e a burocratização do acesso aos produtores de cultura e comunidade local. Um desses exemplos é a Casa de Cultura do Itaim Paulista, que nos últimos tempos andou mal das pernas e, por hora, graças à resistência dos coletivos artísticos da região, somados ao interesse

e apoio da nova coordenação, tenta abrir-se para um novo momento, cuja iniciativa é democratizar o acesso e instigar a participação dos artistas e da comunidade. Apesar desse desejo e do esforço de alguns para transformação e ocupação efetiva deste espaço, ainda é preciso ultrapassar as barreiras burocráticas acumuladas ao longo dos últimos anos e lidar com o fato de que as Casas de Cultura ainda permanecem sob a gestão das subprefeituras, que parecem desconhecer ou mesmo fechar os olhos para realidade e necessidades dos agentes de cultura locais e suas produções. É preciso dizer que, neste momento, este é um dos temas recorrentes nos debates de formação do Fórum de Cultura da Zona Leste. Cuja expectativa, inclusive gerada pela fala do próprio Secretário Municipal de Cultura (Juca Ferreira), é de que as Casas de Cultura voltem a ser geridas pela Secretaria, na tentativa de afinar o diálogo entre poder público e produtores culturais, mas enquanto isso, no lustre do castelo, a relação dos artistas com a subprefeitura segue complicada. A exemplo disso, podemos citar o convite feito pelo Chefe de Gabinete da Subprefeitura do Itaim Paulista, Sr. Marlon Sales da Silva, para os artistas locais, a fim de discutir os festejos para comemoração do aniversário do bairro em 2013.

Ironicamente, o convite termina com a frase: “sua presença é muito importante”. Entretanto, o anfitrião não esteve presente para receber os convidados e tão pouco compareceu o supervisor de cultura Thiago Estanislau, também aguardado para conversa. Os artistas locais se prepararam para esta reunião, divulgaram pelo bairro e em redes sociais, na tentativa de alcançar o maior número de pessoas para um possível e raro diálogo, porém, ao chegarem na Casa de Cultura, foram surpreendidos pelas cadeiras vazias e pela notícia de que o Chefe de Gabinete não viria mais, pois teria um compromisso mais importante na Secretaria. O jornalista Vander Ramos, também morador do bairro, registrou em matéria publicada no site Itaim Paulista São Paulo - SP (www.itaim.paulista.com)², o (des)encontro com as cadeiras vazias; e a indignação dos artistas presentes. Das quais, algumas manifestações, peço licença para reproduzir aqui: “Não podemos acreditar em quem não está aqui. [...] Se marcou e convidou, tem que estar [...], afirma Samara Oliveira, organizadora do Sarau “O que dizem os Umbigos?!”./ “A gente gostaria de dialogar, mas como? [...] Quem são as personalidades que serão homenageadas no dia 24 de junho, isto tem que ser divulgado antes. Poderiam homenagear o Mestre Guilhermão, que muito fez pela capoeira no Itaim.”, questiona e propõe Daniel Marques, também organizador do Sarau “O que dizem os Umbigos?!”./ “...é uma vergonha essas duas cadeiras vazias, as eleições já se passaram, eles não merecem nosso crédito, ao menos por hoje.”, desabafa Terê Cordeiro, poetisa local/ “Gostaria de ler esse manifesto, mas o Chefe de Gabinete não veio, lamentável a falta de respeito.”, comenta Punk, músico e grafiteiro do Itaim.

Vander encerra a matéria com o pedido de desculpas do Chefe de Gabinete, justificando que a reunião havia sido sugerida pela coordenação da Casa de Cultura e que, no mesmo dia, tinha sido convocado pela Secretaria para outra atividade. As palavras do próprio, segundo a publicação citada, afirmam o seguinte: “apoiei a ideia, pois a reunião era para tranquilizar os artistas locais que os mesmos vão ser contemplados em novas oportunidades...”. Muito bem, uma justificativa e tanto, somada aos termos tranquilizar os artistas e novas oportunidades. Em 2013 o bairro do Itaim Paulista completou 402 anos e que fique registrado, a programação de aniversário não teve participação direta e nem apoio dos artistas locais, como também é importante ressaltar que os agentes culturais desta e de outras regiões, não carecem de tranquilizantes e nem do discurso de novas oportunidades, mas sim de respeito aos seus direitos e às suas manifestações, enquanto cidadãos-artistas/produtores de cultura. Tanto o episódio das cadeiras vazias no Itaim Paulista, quanto a ação que resultou no lacre do Teatro Contadores de Mentira em Suzano, evidenciam a invisibilidade do poder público quando o assunto é de interesse coletivo e o seu autoritarismo quando o interesse é próprio, revelando-nos o poder acima do público. A falta de respeito e reconhecimento do trabalho dos artistas infringe os direitos adquiridos e garantidos constitucionalmente, atingindo não só os agentes culturais, mas a população como um todo, que perde junto e misturado. Num momento político de insatisfação plena e repleto de manifestações de descontentamento por todos os lados, o olhar do poder público para as questões culturais ainda se apresenta deste modo, se fazendo de cego ou pagando de louco. Porém, “porque há direito ao grito. Então eu grito”, já disse Clarisse Lispector... Então, no ecoar de vozes conscientes e corpos resistentes, resta-nos unir forças e permanecer em luta pela garantia e ampliação de plenos de direitos, e não de extrema direita. Alhures!!!

¹Carta de repúdio na íntegra: http://www.facebook.com/TeatroContadores ²Matéria completa: http://www.itaimpaulista.com.br/portal/index.php?secao=news&subsecao=5&id_noticia=2248


AGENDA CULTURAL

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SARAUS

Sarau O Que Dizem Os Umbigos!?

Esta atividade foi criada agosto de 2009, para que os moradores de Itaim Paulista pudessem realizar manifestações artísticas. Nesta edição com lançamentos do CD “Universo Preto Paralelo” de Ba Kimbuta e do livro “ Enquanto o tambor não chama”, de Sérgio Ballouk e Lançamento da primeira edição do Jornal Voz da Leste Dia 20 (sábado), a partir das 18h. Escola de Samba Unidos de Santa Bárbara – Rua José Cardoso Pimentel,01. Itaim Paulista, Zona Leste. Entrada franca. (11) 9740-9626/ 47542493 c/ Samara. http://oquedizemosumbigos. blogspot.com.

O QUE ROLA EM SP

PEÇAS

A Exceção E A Regra

(Cia. Estável) A Exceção e a Regra, um dos textos mais montados do alemão Brecht, principal autor e formulador teatral do século 20, tem morte, julgamento e razões opostas. A disputa não se dá entre concorrentes mas entre o livre empreendedorismo exemplar e o trabalhador comum. Adivinha quem tem razão? Ou melhor, quem ganha num jogo de cartas marcadas? Quer dizer, qual é mesmo a regra? Qual é a exceção? Dias 06 e 07 de julho, sábado e domingo, 19:00 horas, 1 hora de duração – Livre GRÁTIS Experimentos Cênicos

DA BRAVA COMPANHIA Em duas peças curtas a Brava Companhia, com seu humor particular, traça uma crítica aguda ao ideário neoliberal e presta uma homenagem ao autor Reinaldo Maia, que em vida militou por um teatro crítico, divertido e socialmente engajado.

Toni C Lança A Biografia Do Rapper Sabotage

“Sabotage - Um Bom Lugar” é a primeira biografia definitiva de um rapper brasileiro, também é a primeira de uma bateria de ações que marcam os dez anos da ausência do músico, o rapper completaria quarenta anos caso estivesse vivo. Rappin Hood, Celo X, Ganjaman, Sandrão, Helião e Mano Brown, são alguns dos que concederam entrevistas exclusivas para a obra. Sabotage era o Maurinho do Canão, o sobrenome emprestou da favela onde nasceu, encravada no Brooklin, o bairro que mais se desenvolvia economicamente no país, que redemocratizava. Essa é mais uma ação, do autor Toni C que atua em várias ações em prol do Hip Hop e da Literatura como o romance “O Hip-Hop Está Morto!”, o documentário “ É tudo Nosso! O Hip-Hop Fazendo História”, organizador dos livros #Poucas Palavras, de Renan Inquérito, Um sonho de Periferia, Hip-Hop a Lápis e Literatura do Oprimido. Dia 09 e 10 (terça e quarta-feira), a partir das 17h. Itaú Cultural – Av. Paulista, 149. Bela Vista. (11) 2168-1777. Dia 17 (quartafeira), a partir das 21h. Sarau da Cooperifa – Rua Bartolomeu dos Santos, 797. Chácara Santana, Zona Sul. (11) 58917403. Dia 27 (terça-feira), a partir das 19h. Livraria Suburbano Convicto – Rua Treze de Maio, 70. Bela Vista. (11) 2569-9151. Dia 30 (terça-feira), a partir das 19h. Livraria Pátio Paulista – Rua Treze de Maio, 1.947. Paraíso. (11) 3289-5873. Informações: http://www. literarua.com.br/sabotage

Quadratura do círculo

SESC

Sesc Belenzinho

16 de maio a 11 de agosto Campo de Futebol, Ciclovia e Capoeira, teatro, dança, Pscina. Atualmente esta rolando a exposição fotográfica do famoso fotógrafo Sebastião Salgado. Mostra “HQBR21” apresenta panorama do quadrinho brasileiro A mostra “HQBR21 – O Quadrinho Brasileiro do Novo Século” fica em cartaz no Sesc Belenzinho de 16 de maio a 11 de agosto, com entrada é Catraca livre. Além da mostra, a programação inclui o espetáculo “A Noite dos Palhaços Mudos”, baseada numa HQ assinada pelo quadrinista Laerte. A exposição apresenta um panorama histórico e estético dos quadrinhos a partir dos anos 2000 e os principais expoentes da produção nacional contemporânea para os adultos. Endereço: Rua Padre Adelino, 1000 Belenzinho - Leste - São Paulo (11) 2076-9700 http://www.sescsp.org.br/sesc TEATROS

Teatro Flávio Império

Programação a consultar R. Prof. Alves Pedroso, 600, Cangaíba. Zona Leste.|tel. 2621-2719.|Em reforma. Teatro Martins Penna

Programação a consultar (Centro Cultural da Penha) Largo do Rosário, 20, Penha. Próximo do Shopping Penha. Zona Leste.|tel. 2295-0401. Bilheteria uma hora antes do espetáculo. Teatro Zanoni Ferrite

SUAS IDÉIAS

CIRCULAM

POR

AQUI!

Programação a consultar (dentro da Biblioteca Paulo Setúbal) Av. Renata, 163, Vila Formosa. Zona Leste|tel. 2216-1520. Bilheteria: 3ª a dom., das 14h às 19h30. Engenho Teatral

Programação De O6 de julho a O4 de agosto/2013 Sábados e Domingos às 19 horas GRÁTIS

Feita para a rua, a montagem mostra a pregação fraudulenta que cultiva a fé no dinheiro e no sucesso. Júlio E Aderaldo – Um Dia Na Vida De Dois Sobreviventes

Uma dupla de artistas de rua (Júlio, o cego, e Aderaldo, o guia) entra num bar e provoca uma seqüência de equívocos, pois o cego pensa estar num templo religioso. Dias 13 e 14 de julho, sábado e domingo, 19:00 horas 1 GRÁTIS 1 80 minutos de duração – Recomendado para maiores de 12 anos 1 Não se proíbe a entrada de crianças acompanhadas O Perrengue Da Lona Preta (Trupe Lona Preta)

Durante uma hora, os palhaços Rabiola e Chico Remela reconstroem, de forma divertida, os símbolos pretensamente eternos da ordem vigente. Nada melhor do que um palhaço para tratar de coisas “sagradas” como o “direito” à propriedade privada dos meios de produção e outros símbolos da cultura oficial. Dias 20 e 21 de julho, sábado e domingo, 19:00 horas | GRÁTIS | 1 hora de duração – Recomendado para maiores de 12 anos Não se proíbe a entrada de crianças acompanhadas A Farsa Da Justiça (Cia. Estudo De Cena)

O espetáculo narra o julgamento de um sobrevivente do massacre de Eldorado dos Carajás que se fingiu de morto para garantir a vida. Após o espetáculo, o ENGENHO encerra a mostra apresentando três cenas curtas do seu TEATRO DE BOLSO. Dias 03 e 04 de agosto, sábado e domingo, 19:00 horas 1 GRÁTIS

(Des)água

Coletivo Alma estreia espetáculo sobre a relação das cidades com os rios. Montagem teatral de rua do coletivo ALMA (Aliança Libertária Meio Ambiente) trata da mercantilização da água como metáfora para discutir a expansão desordenada e desigual das cidades. A partir do teatro épico e com músicas especialmente compostas para a peça, o grupo propõe a reflexão sobre os conflitos entre o meio urbano e o natural. Na sequência da Mostra de teatro “Engenho mostra um pouco do que gosta VIII”, nos dias 10 e 11 de agosto, às 19 horas, o coletivo ALMA apresenta (Des)água no Engenho Teatral! 10/08 e 11/08, sábado e domingo, às 19h Ingressos grátis, na hora, no teatro Local: Engenho Teatral, dentro do Clube Escola Tatuapé | Estação Carrão do Metrô | Estacionamento gratuito no local Rua Monte Serrat, 230 – Fone 2092-8865 | 18/08, domingo às 15h http://engenhoteatral.wordpress.com/ Instituto Pombas Urbanas

Este mês o Centro Cultural Arte em Construção dialoga com diversas linguagens artísticas. Dia 23 (terça-feira), das 09h30 e 15h. Todo Mundo Tem Um Sonho (grupo Pombas Urbanas)

Espetáculo Infantil: Todo Mundo Tem Um Sonho, do grupo Pombas Urbanas que resgata as origens do circoteatro no Brasil e recria o universo das antigas e populares companhias de circo mambembe. Ópera do Trabalho (grupo Buraco d’ Oráculo)

Dia 27 (sábado), 19h. Espetáculo: Ópera do Trabalho , do grupo Buraco d’ Oráculo. Centro Cultural Arte em Construção – Avenida dos Metalúrgicos, 2100 .Cidade Tiradentes, Zona leste. Entrada franca (11) 2285 – 7758 Teatro No Sacolão Das Artes (Zona Sul)

A Brava Companhia realiza diversas ações no Sacolão das Artes, convidando Companhias teatrais de outras regiões e apresentando seus espetáculos para a comunidade e alunos das escolas do entorno do espaço. Dia 21 (domingo), 16h. Uma Jornada De João E Maria (Cia De Teatro Nóis Na Mala)

Peça da Cia de Teatro Nóis na Mala que conta a história de duas crianças de uma pequena vila do sertão, João e Maria, no qual os pais teriam que escolher abandona-los, na esperança de que eles tivessem uma melhor sorte em outro lar, leva João e Maria a entrarem em uma jornada cheia de desafios, inimigos e aliados, que os obrigará a fazerem suas próprias escolhas. Folias Galileu (Grupo Folias D’arte)

Dia 27 (sábado),20h. FOLIAS GALILEU - Grupo Folias d’Arte. Numa espécie de excursão pelos recônditos do Galpão do Folias, o público se depara com um caleidoscópio da narrativa deste importante cientista, Galileu frente ao seu dilema ético. Sacolão das Artes - Av. Cândido José Xavier, 577 – Parque Santo Antônio. Zona Sul. Entrada franca. (11) 5819-2564. http://blogdabrava.blogspot.com/

OUTROS EVENTOS 2º Rua De Fazer

Dia 21 de Julho Oficinas: Fanzine “Jornal Popular”, fotografia e Vídeo Bate-papo: obra história popular Atrações: Rap – Juntos na Luta, Arte Maloquera e Efeito Sonoro; Mpb e outros artistas do bairro. Endereço: Rua Henrique Montes – Jardim Lourdes, Lageado Reunião sobre o Memorial da Zona Leste – Com o Ruy Otahke

Dia 07 de Agosto de 2013 - às 18 horas, no Salão São Bento da Igreja São Francisco de Assis, Ermelino Matarazzo, na Av. Miguel Rachid, 997. Aula Inaugural da Escola de Cidadania,

Com o Professor Mário Sergio Cortella Dia 02 de Agosto de 2013 - às 19:30 horas, no Salão São Bento da Igreja São Francisco de Assis, Ermelino Matarazzo, na Av. Miguel Rachid, 997. Seminário de Políticas Públicas para a Periferia

Programação 20/07/2013 - Sábado 09h30 - Café da manhã, troca de ideias, intervenções livres • 10h00 – Abertura Roda de Capoeira • 10h30 – Lançamento do Fórum de Cultura da Zona Leste • Apresentação do histórico e contextualização: Luciano Carvalho • 11h00 – Debate e ato estético: O que queremos para cultura na periferia? Levantamento das demandas (locais) no painel Juquinha • OBS: (Queila e Elaine estão responsáveis por montar e organizar o painel) 12h00 – Almoço, troca de ideias, intervenções livres • 14h00 – MESA • Tema: O que a Secretaria Municipal de Cultura tem para a periferia? Apresentação/Mediação: Serginho e Leandro Hoehne (15 min para cada mediador) Convidado: Juca Ferreira (30 min) • 15h00 – Debate • 17h00 – Encerramento. Apresentação do grupo “Pau e Lata” Noite cultural: Sarau O Que Dizem os Umbigos e lançamento do Jornal Voz da Leste 21/07/2013 – Domingo 09h30 - Café da manhã, troca de ideias, intervenções livres • 10h00 - MESA Tema: Panorama das Políticas Públicas de Cultura. Apresentação/Mediação: Harika Maia (15 min) Convidados: Moreira e Ana Paula do Val (30 min para cada convidado) • 11h15 – Debate • 12h00 – Almoço, troca de ideias, intervenções livres •13h00 – GTs GT Política Pública (pensar políticas estruturais). GT Fomento periferia (exposição da sistematização do GT) • 14h00 – Assembleia Apresentação dos resultados do GT • 15h00 – Debate • 16h00 – Volta para os GTs 17h00 – Reapresentação objetiva dos resultados, a partir do debate anterior/ Conclusão e encaminhamentos • 18h00 - Encerramento 22 a 24.07 – De segunda até quarta-feira GT para construção da carta (princípios, questões micro e macro, fomento periferia). Com integração de pessoas dos outros GTs, concluir texto e encaminhar ao grupo 26.07 – Sexta-feira Entrega Oficial da Carta ao Secretário Juca Ferreira, na Secretaria Municipal de Cultura 27.07 – Sábado Pré-conferência de Cultura da Leste a Leitura pública da Carta Endereços Seminário: CDC do Patriarca, Dolores Boca Aberta. Rua Frederico Botero, 60, Cidade Patriarca – Zona Leste – São Paulo


Edição 001, Zona Leste/ São Paulo, SP/ Brasil - Julho de 2013.

AQUI, VOCÊ É PEÇA FUNDAMENTAL SOLTE SUA VOZ, FAÇA PARTE DA HISTÓRIA DA ZL

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As Vozes ADRIANO BORGES, Estudante, administrador do Jornal Voz da Leste, 19 anos, morador do Itaim Paulista. Tem interesse em movimentos populares e da periferia.| Adailton Alves Teixeira, Mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Unesp; diretor, ator, integrante do Buraco d`Oráculo.| ANTONIO MIOTTO [Toni], Paulistano, de 47 anos, que transita quase que por toda a cidade. Historiador diletante por formação e por profissão um atento observador social. Com uma câmera na mão, etnograficamente pedala no cotidiano da megacidade, pois acredita na bicicleta como meio de transporte e de integração do sujeito com o seu contexto social.| AURÉLIA CAVALCANTE, Jornalista, cronista, trabalha no comércio, mora em Furnas.| CAIO EDUARDO MILLER FERNANDES (Cadu), 28 anos,desenhista, ilustrador, mora em Guarulhos, estudou história em quadrinhos no CEPADE e INPACTO QUADRINHOS, além de ilustração digital na Quanta Academia de Artes. Atualmente trabalha como freelancer criando ilustrações, caricaturas e logotipos • caioeduardomiller.blogspot.com.br.| DANIEL MARQUES, Ativista cultural, arte-educador, produtor do Sarau o que Dizem Umbigos, militante da Rede Livre Leste e do Fórum de Cultura da Zona Leste, morador do Itaim Paulista.| DANILO MORCELLI, Morador da zona leste de São Paulo, é gestor ambiental, mestre em Mudança Social e Participação Política, estuda a memória, o patrimônio e as transformações ambientais, tem especial interesse pela região onde vive.| DÉBORA FREITAS, Fotógrafa, moradora do bairro do Aricanduva.| DIMITRY UZIEL PEIXOTO, Designer gráfico e produtor áudio visual, morador do Itaim Paulista.| EBBIOS LIMA, Ilustrador, designer gráfico, modelador 3D e escritor, morador do Itaim Paulista • ebbios@gmail.com/ ebbios.com.br.| ELAINE MINEIRO, 29 anos, educadora, militante cultural, editora do Jornal Voz da Leste e participante do Fórum de Cultura da Zona Leste, é moradora da cidade Tiradentes.| ESCOBAR FRANELAS, educador e escritor paulistano, 44 anos. Autor de”Hardrockcorenroll” (poesia) e “Antes de Evanescer” (romance), também trabalha com audiovisual. • escobarfranelas.blogspot.com/ facebook.com/escobar.franelas| LESE PIERRE, Diretor de Arte/Artista Plástico - Pernambucano, ministra oficina no MAM - Museu de Arte Moderna e Galeria Choque Cultural. Mora no centro de São Paulo • lesepierre@gmail.com/ lesepierre.com.br| LÍGIA COSTA, 26 anos. Estudante de letras na FFLCH e militante do PSTU, moradora do centro de São Paulo.| LÍVIA LIMA, 26 anos, moradora do Jardim Nordeste (Artur Alvim), é jornalista, escreve para o Blog Mural (Folha de S. Paulo) sobre periferia, participa da Pastoral da Juventude da Diocese de São Miguel Paulista.| MARCELA CRISTINA DOS SANTOS, Professora de filosofia, formada pela Universidade Federal de São Paulo e estudante de teoria da psicanálise, leciona na rede pública de educação • cristinamarcelamcs@hotmail.com| MARCEL CABRAL COUTO, 29 anos, professor da Etec de Carapicuíba, editor do Jornal Voz da Leste, educador social, integrante do Fórum de Cultura da Zona Leste, tem interesse por memória política, patrimônio, América Latina e cultura em geral, é morador do Itaim Paulista.| MARÍLIA MAGALHÃES CUNHA, 25 anos, professora de Língua Portuguesa e orientação de estudo na rede estadual de São Paulo, mantém páginas e blogs com fins educativos, moradora do bairro República.| MAURÍCIO DE MORAES NORONHA (MURO), formado em jornalismo pela Unicsul, grafiteiro nas horas vagas, poeta sem talento, carteiro, 28 anos de pura aventura....amante da vida e defensor assíduo do bem comum!| NINA CAPPELO, 23 anos, estudante de direito, militante do Movimento Passe Livre, luta por uma tarifa zero no transporte público e por uma vida sem catracas.| PALOMA VALÉRIA DOS SANTOS, 29 anos, designer gráfico e de produto, idealizadora do MEOestudio. Pesquisa sobre artesanato, cultura popular e música, é moradora do Itaim Paulista • pombavalente@gmail.com/ www.meoestudio.blogspot.com| PATRÍCIA MAYUMI ISHIHARA, 29 anos, designer editorial, estudas novas interfaces digitais para o design, moradora do bairro do Aricanduva.| PATRÍCIA PORTUGAL, designer gráfico, moradora do Jardim São Paulo.|Queila Rodrigues, é atriz e educadora, formada em História pela Universidade do Grande ABC, é uma das organizadoras do “Sarau O que dizem os Umbigos?!”, integrante da Rede Livre Leste e do Fórum de Cultura da Zona Leste.| SANDRA FRIETHA, Assistente de atendimento (call center), poetisa e escritora de contos, moradora do Itaim Paulista.| SIMONE ESTRELA, Estudante, moradora da Vila Matilde.

telefone: 11 963811073 vozdaleste.blogspot.com facebook.com/VozDaLeste anunciosvozdaleste@gmail.com vozdaleste@gmail.com

Saiba onde encontrar nosso jornal!!! Casa de Cultura do ITAIM PAULISTA • Centro de Formação Cultura de Cidade Tiradentes • Dolores Boca Aberta em PATRIARCA • Coletivo Alma em ITAQUERA • Memorial da PENHA • Banca de Jornal da VILA ZELINA • Casa Amarela em SÃO MIGUEL PAULISTA • Teatro do Engenho na VILA CARRÃO • Sarau O que Dizem os Umbigos no ITAIM PAULISTA • Buraco do Oraculo en SÃO MIGUEL PAULISTA • IPJ em GUAIANAZES • Contadores de Mentira em SUZANO • Ecla na BELA VISTA • Ação Educativa na VILA BUARQUE • Circo do Balaio em ERMELINO MATRAZZO • Cec Ademir em SÃO MIGUEL PAULISTA • Cenpec na CONSOLAÇÃO • Espaço Cultural Carlos Marighella em GUAIANASES • Unifesp Guarulhos no PIMENTAS • USP Leste em ERMELINO MATARAZZO

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