SEEN THROUGH HELMET VISOR : Africa Motorcycle Adventure: Namibia, Botswana, South Africa. - PART 1

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Wilson Cordebello Jr Michael Teschner

Pela viseira do capacete África: Viagem de motocicleta pela Namíbia, Botswana e África do Sul.

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Viajar de motocicleta: hobby ou paixão? O que faz com que algumas pessoas se aventurem em viagens de motocicleta mesmo sabendo dos riscos e perigos do motociclismo, hobby ou paixão? Fazer parte do cenário e não só estar passando por ele, indescritível sensação de liberdade, a visão sem janelas, sentir os cheiros, o calor, o frio , o vento, poder sair fora do caminho, interagir e fazer conexão com outras culturas, explorar e descobrir lugares incomuns, pilotar a moto por si só. Hobby ou paixão?, não importa, as recompensas superam os riscos.


Lesotho


A África cada vez mais é um destino dos sonhos de aventureiros do mundo todo. Sua diversidade cultural, desertos intermináveis, florestas exuberantes junto de seus animais selvagens proporcionam desafios e sensações únicos. Mas mesmo com todos esses atrativos, essa região nunca esteve em nossos planos para uma viagem de motocicleta, até que no inicio de 2019 alguns fatos conspiraram para nos levar a uma aventura pelo sul da África. No início de 2018 uma agência de turismo divulgou um vídeo no YouTube ( https://youtu.be/XCz66YlNbPQ ) mostrando as maravilhas da Namíbia, fazendo paródia com uma fala do presidente Trump, que algumas semanas antes havia se referido a países da Africa, como buracos de merda, (shitholes).

Esse vídeo viralizou e Michael, na mesma época, também se lembrava de ter visto uma reportagem sobre Kolmanskop, uma cidade fantasma da Namíbia tomada pelas areias do deserto. Um lugar espetacular com história da colonização alemã e a exploração de diamantes na região. Além de tudo isso, iríamos passar por três a quatro países que ainda não conhecíamos e assim iriam contribuir para a meta de Michael de ter sempre conhecido mais países do que sua própria idade. Então já com uma visão mas clara Michael começou a falar com Alex Ferguson, um colega de trabalho que vive na Africa do Sul, também apaixonado por viagens de motocicleta. Alex acabou nos incentivando ainda mais , compartilhando suas experiências e nos dando dicas de rotas, locais, estradas, hospedagem etc. Com essas informações ficamos muito empolgados e acabamos decidindo fazer essa viagem, que prometia muita adrenalina e diversão.

Após planejamento detalhado chegamos a um roteiro de 20 dias pela Africa do Sul, Namíbia e Botswana a ser realizada em Agosto, época do ano em que o calor não é muito intenso e com pouca incidência de chuva nessa região. O inicio seria na Cidade do Cabo, onde encontramos uma excelente locadora de motos, e terminaria em Johanesburgo após percorrer cerca de 6000 km por estradas asfaltadas e de terra.


A estiagem que assolava a Namibia por mais de dois anos, marcava o horizonte com terra esturricada a se perder de vista, rios secos e arbustos retorcidos que teimavam em se manter vivos . 6


Falar ou pensar sobre a África, quase sempre nos remete de imediato ao fascínio que seus animais selvagens exercem sobre nós. Nesta viagem tivemos a chance de ficar próximos deles em seu próprio habitat, uma experiência fantástica de muita emoção e adrenalina. O encontro com os “big five”, como são conhecidos o leão, o elefante, o rinoceronte, o búfalo e o leopardo, foi de tirar o folego, as zebras, girafas, e diversos tipos de antílopes enchiam de graça e beleza as extensas savanas africanas. Mas essa viagem nos proporcionou muito mais do que isso, interagir com o povo africano, negros que tiveram um estereótipo construído pelos brancos como seres estranhos, exóticos e inferiores, que não condiz em nada com o que realmente são. Um povo extremamente amigável, solicito, hospitaleiro e forte, que mesmo em condições tão adversas e com pouquíssimos recursos vivem felizes, construindo uma sociedade mais justa para todos, brancos e negros.

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Logo apĂłs chegarmos a Johannesburgo, voamos para a linda Cidade do Cabo onde passamos o final de tarde, antes de pegarmos as motos no sĂĄbado de manhĂŁ. 8


Victorskloof Lodge & Spa, nosso aconchegante hotel na Cidade do Cabo, localizado na bonita baía de Hout e onde também está o ótimo restaurante Dunes, local de nossa primeira cerveja na África. 9


No sábado de manhã retiramos as motos que tínhamos alugado na GS África. Fomos recebidos pela Candi Lee, que já tinha toda a documentação e motos prontas para iniciarmos nossa aventura, uma BMW 850GS e uma BMW 800GS Adv. 10


Logo seguimos com as motos para V&A Waterfront, junto a área portuária. Uma local vibrante com gente muito alegre aproveitando o sábado ensolarado nos restaurantes, cafés, comercio de artesanato, museus, e uma infinidade de outras atrações. O Aquário, a antiga Torre do Relógio com seus tijolos vermelhos de 1882, a roda gigante compunham um cenário espetacular junto com as aguas azuis da baia. Nas poucas horas que estivemos pelo V&A Waterfront foi suficiente para termos noção da rica cultura local. Enquanto almoçávamos, fomos premiados com um “desfile” de veleiros bem à nossa frente, na abertura na temporada de regatas em Cape Town. Uma festa muito bonita e animada, estávamos no local certo na hora certa.

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Veleiros fazendo a volta de abertura da temporada de regatas 2019/2020 na baia em frente ao V&A Waterfront na Cidade do Cabo. Ao fundo a majestosa Table Mountain. 12


V&A Waterfront, uma dos locais mais bonitos e frequentados da Cidade do Cabo. Com várias opções de entretenimento, restaurantes, museus, edifícios históricos, como o Clock Tower de 1882, é ponto de encontro para lazer de turistas e famílias locais. 13


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Cidade do Cabo vista da colina Signal Hills, um local privilegiado de onde se vê toda a cidade contornando a Baia da Mesa. A montanha Lion’s Head, o Estádio de Futebol da Copa e a Table Mountain. 16


Montanha da Mesa , uma das sete maravilhas da natureza, e um dos pontos turísticos mais visitados da Cidade do Cabo. É uma montanha de topo plano que pode ser acessado por um telefÊrico, prepare-se para longas filas.

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District Six Museum : Um museu que retrata a absurda história de um ato racista do apartheid, que em 1966 expulsou a força os habitantes de um bairro da Cidade do Cabo chamado Distrito Seis, onde viviam mais de 60.000 pessoas, em sua maioria negros e imigrantes. O governo do apartheid declarou a área do Distrito Seis como sendo exclusiva de brancos e com isso todas as famílias foram despejadas a força para áreas distantes sem nenhuma infraestrutura. Muitos tiveram que deixar suas casas somente com a roupa do corpo e algumas malas. O bairro colorido e vibrante de rica cultura, foi totalmente demolido a exceção de algumas igrejas. Ao entrar no museu, uma enorme torre construída com as placas das antigas ruas do Distrito Seis se destaca, e ao seu redor objetos e ambientes de época levam nossa imaginação ao sofrimento por que passaram as famílias que viveram essa tragédia. Com o fim do apartheid os antigos moradores passaram a reivindicar na justiça a devolução de suas propriedades, o que vem ocorrendo vagarosamente.

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Objetos originais doados por antigos moradores do Distrito Seis, lembram a vida simples dos negros e mestiรงos que lรก tinham residido.

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O Apartheid foi muito mais do que um regime de segregação racial, foi também uma forma que a minoria branca utilizou para expulsar os negros de suas terras. Em 1950 o governo classificou todos os sul-africanos em quatro grupos raciais: Preto, Branco, Colorido e Indiano, chamados de não brancos. Os locais de residência para esses grupos foram determinados pela classificação racial. Foram criadas zonas de exclusão chamadas bantustans para onde os não brancos foram removidos perdendo a cidadania sul africana. Os não brancos, só podiam circular fora dos bantustans com o passaporte interno (pass bock) que estipulava onde eles podia trabalhar e viajar, controlando e restringindo sua liberdade de ir e vir. Entre 1960 e 1983, 3,5 milhões de africanos negros foram expulsos de suas casas e forçados a irem para as regiões definidas pelo governo , em uma das maiores expulsões em massa da história moderna. Os bantustans estavam em áreas remotas e sem qualquer infraestrutura, em terras áridas que impunham uma vida miserável e sem qualquer perspectivas para seus habitantes. Os bantustans só foram eliminados em 1985 e a cidadania dos excluídos restabelecida

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A caminho do Cabo da Boa Esperança pela rodovia costeira passamos pela praia de Noordhoek. Uma praia lindíssima a cerca de 25km ao sul de Cape Town, próximo ao Chapman’s Peak 21


Cabo da Boa esperança, visita obrigatória por sua importância histórica. Descoberto no final do século XV pelos portugueses foi um marco decisivo na busca do caminho marítimo às Índias, motivo pelo qual ainda hoje é um dos pontos mais visitados na Cidade do Cabo.. 22


Terminamos nossa passagem pela Cidade do Cabo percorrendo de moto suas bonitas ruas e convivendo com sua gente alegre e hospitaleira. Pena que no domingo os museus ficam fechados. 23


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Segunda feira de manhã partimos da Cidade do Cabo em direção à Springbok. Em Kamieskroon paramos em um café muito exótico, Kuiervreugde Coffee. Com uma decoração alegre e colorida parecia mais um parque de diversões para crianças do que um café.


Chegamos ao Sperrgebiet Lodge em Springbok ao entardecer. Os chalĂŠs de madeira cobertos de palha e a ĂĄrvore Quiver faziam desse lodge um lugar especial. Fomos jantar na cidade, a 10km em estrada de terra, com a caminhonete que o dono do lodge gentilmente nos emprestou. .

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Os chalés de madeira com telhado típico feito de um capim conhecido como Kavango Reed, comum no norte da Namíbia e Botswana. Essas coberturas eram muito bem feitas e com acabamento impecável, não se via onde estavam amarradas, pareciam um manto sobre a cabana. 26


Nosso café da manhã foi na varanda dos chalés, Michael comeu um pote de 1kg de ótimo iogurte da África do Sul, que havíamos comprado na noite anterior. Seguimos viagem em direção a Hobas na Namíbia a 300km dali, sendo 100km em estrada de terra. 27


Longas retas na estrada cruzando o árido deserto em direção a fronteira da África do Sul com a Namíbia. Vez ou outra existiam pontos de parada para descanso, muito bem feitos e incrivelmente limpos e conservados, algo inimaginável nas estradas do Brasil 28


Na fronteira com a Namíbia, sem muita burocracia fizemos a imigração e alfandega. Encontramos um grupo da África do Sul que estava indo para um encontro de motociclistas em Walvis Bay a cerca de 1300 km. 29


Logo após o posto de controle de Vioolsdrift atravessamos o rio Orange, que estava praticamente seco, e entramos na Namíbia. Alguns quilômetros a frente após passamos pelo controle de fronteira de Noordoewer , seguimos pela rodovia C13 para Aussenkehr. 30


Para nossa surpresa a rodovia C13 era asfaltada, seguindo ao lado do Orange River. Chegando em Aussenkehr encontramos plantaçþes de uva a se perder de vista, que coloriam de verde aquele vale entre montanhas totalmente åridas.

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Logo depois das plantações de uva nos deparamos com cenas chocantes. Casas feitas de palha, espalhadas ao longo da estrada, onde viviam em condições terríveis famílias de negros que trabalhavam na colheita das uvas. Um triste contraste com as casas dos brancos, que moravam na fazenda.


Logo após Aussenkehr pegamos a rodovia C37, Inicialmente a estrada de areia e cascalho não era muito boa, tivemos certa dificuldade de pilotar nela, mas com tempo melhorou. Uma região de deserto impressionante, não cruzamos com ninguém por mais de 60km. 33


Mesmo com as dificuldades normais de se pilotar em uma estrada de areia e cascalho acabamos pegando o jeito e aceleramos nossas motos. Pode parecer cansativo, mas para nรณs foi muito divertido e prazeroso acelerar nossas motos e sentir o calor e o vento naquele lugar. 34


Depois de mais de 100km em terra chegamos ao Hobas Campsite, um oรกsis no meio daquele deserto, com direito a piscina, ar condicionado, restaurante, e a apenas 12km do famoso Fish River Canyon que iriamos conhecer no final da tarde. 35


No final da tarde fomos ao Fish River Canyon que fica a cerca de 12 km de Hobas. A estrada de terra e cascalho era poeirenta e com muita ondulação (costela de vaca), mas conseguíamos desenvolver boa velocidade. 36


No mirante do Fish River Canyon, jĂĄ estavam turistas de diversos paĂ­ses aguardando o por do sol. Com vistas deslumbrantes e serenidade relaxante, passamos ali algumas horas atĂŠ que o por do sol emoldurou de dourado aquela obra prima da natureza. 37


Fish River Canyon, é o segundo maior cânion do mundo e um dos mais antigos, estima-se que tenha mais de 50 milhões de anos. Tem 161 km de comprimento, largura de até 27 km e profundidade de até 550 metros. 38


Deixamos Hobas na manhã seguinte com destino a Luderitz, teríamos mais de 400km com 120km em terra. Alguns quilômetros depois de Hobas passamos ao lado do Fish River Canyon, e com o drone tivemos uma vista da imensidão daquele deserto. 39


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Depois de 20 km, chegamos ao posto de gasolina que nos haviam indicado em Hobas, mas era mais que um posto de gasolina. Carros antigos espalhados pelo pรกtio jรก nos davam ideia que se tratava de um lugar especial. 41


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Canon Roadhouse, algo inimaginável em local tão remoto. Ambientes decorados com móveis de época, carros antigos ao lado das mesas do restaurante nos convidavam a explorar cada canto daquele lugar. 43


Vibrante e colorido com pessoal simpático e alegre fez com que acabássemos ficando ali um bom tempo. Um pouco da história da região estava ali representada por veículos, placas, propagandas da época e móveis antigos. 44


Ao abastecer as motos, o rapaz que nos atendeu era filho de angolanos e falava muito bem português. Extremamente simpático como todos outros namibianos que já tínhamos conhecido. 45


Alguns quilômetros após o Canon Roadhouse cruzamos o leito seco do rio Gaab, que tinha uma bonita ponte ferroviária de aço. Na margem do rio, embaixo de uma árvore, dois túmulos solitários de soldados alemães da Schutztruppe, lembravam os mortos durante a Primeira Guerra Mundial nesta região.

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Uma impressionante plantação com milhares de palmeiras nos surpreendeu próximos a Seeheim. Soubemos depois que eram tamareiras, plantadas ali como uma alternativa de cultura que o governo da Namíbia estava introduzindo com o apoio técnico dos Emirados Árabes Unidos. 47


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A estrada de areia e cascalho tinha trechos com muita ondulação que fazia nossas motos vibrarem e levantar muita poeira. Tínhamos que manter boa distância entre as motos para não ser engolido pela poeira da moto que ia a frente. 50


Faltando uns 10 km para chegarmos a Seehein, passamos ao lado da barragem de Naute, a terceira maior da Namíbia. Além da geração de energia elétrica, essa barragem do rio Löwen , também fornece agua potável para a cidade de Keetmanshoop e para irrigação das fazendas próximas. 51


Chegamos na rodovia B4 e a Seeheim, que deveria ser um povoado, mas agora se resumia a um grande hotel construído ao lado do Fish River, que estava praticamente seco. Seeheim em alemão significa casa ao lago em alusão ao lago que se forma quando o rio esta cheio. 52


A rodovia B4 seguia em direção ao litoral acompanhada por uma ferrovia ao seu lado. Uma planície seca a se perder de vista sem nenhuma árvore sequer, onde incrivelmente se podia ver algumas vacas que permaneciam impassíveis aos calor e a seca daquele lugar.

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Chegando em Aus soprava um vento lateral muito forte que empurrava nossas motos para as laterais da estrada. Bem distante no horizonte podĂ­amos ver nuvens de areia que pareciam atĂŠ neblina, sob cĂŠu impecavelmente azul ao fundo, onde o sol brilhava. 56


Chegamos na pequena cidade de Aus, onde paramos para reabastecer as motos e nos refrescarmos um pouco. TĂ­nhamos ainda mais 130km atĂŠ Luderitz.

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Alguns quilĂ´metros depois de Aus fomos engolidos por uma tempestade de areia com ventos muito fortes. A visibilidade nĂŁo chegava a 20 metros. Paramos para documentar este momento. As motos chacoalhavam com o vento que mesmo colocadas no apoio lateral, quase eram derrubadas. 58


A pilotagem era difĂ­cil , mas nem assim reduzimos muito a velocidade. A areia fina entrava dentro do capacete e em nosso olhos, nariz e ouvidos. AlĂŠm da pouca visibilidade tĂ­nhamos que ter cuidado com os montes de areia que se formavam invadindo a estrada. 59


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Antes de Luderitz, passamos por Kolmanskop que fica a uns 2 km da rodovia. Fomos até o portão de entrada mas o horário de visitas já havia sido encerrado. O vento ainda soprava forte e areia se acumulava na pista e por todos os lados.

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Chegamos a Luderitz no final da tarde , o vento impiedoso continuava castigando e uma nuvem de areia cobria a cidade. Fomos logo procurar nosso Lodge que ficava num edifício bonito, da época do auge da exploração de diamantes. Em seu tempo, no piso térreo era um estabelecimento comercial e no piso superior residência dos proprietários. Fotos antigas espalhadas nas paredes eram testemunhas da época áurea de Luderitz. Atualmente funciona como hospedaria mantendo os ambientes e os móveis da época. O andar térreo estava ocupado por outros hóspedes e para nossa surpresa o piso superior com 6 quartos, sala de estar e banheiros estava todo reservado para nós.

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Ao lado da hospedagem, um café restaurante foi nosso refugio da tempestade de areia, logo após chegarmos a Luderitz. O dia difícil foi logo assunto de conversa animada entre Michael e uma família da antiga Alemanha Oriental. 64


Luderitz a noite estava totalmente deserta com os fortes ventos que ainda castigavam a cidade. Mesmo assim Michael se animou e foi dar uma volta a pé no centro da cidade. A arquitetura clássica alemã estava presente e preservada em diversos edifícios. 65


Goerke Haus, um palacete com arquitetura de influência bávara, foi construído pelo tenente alemão Hans Goerke, que enriqueceu com a exploração de diamantes. A igreja Felsenkirche marca a presença da congregação Luterana Evangélica na cidade. 66


Luderitz amanheceu ensolarada e sem o vento do dia anterior. Na saĂ­da algumas meninas se juntaram a nĂłs para as fotos com nossas motos. Muito alegres e simpĂĄticas, acabamos enviando as fotos para elas por whatsapp. 67


A cerca de 10 km de Luderitz chegamos novamente a Kolmanskop a tempo de fazermos a visitação nessa cidade fantasma, que se tornou atração turística da Namíbia. 68


Kolmanskop é uma cidade abandonada de mineração de diamantes a 10 km de Lüderitz. Em 1908, foram encontrados diamantes ao lado da ferrovia. A noticia se espalhou e hordas de mineiros e caçadores de fortunas alemães logo chegaram lá. Os diamantes eram encontrados na superfície, misturados com a areia do deserto. Os garimpeiros se deitavam de barriga e lentamente rastejavam na areia, para encontrá-los. Os mineiros alemães enriqueceram rapidamente e começaram a se estabelecer com suas famílias e a construir uma cidade de estilo alemão. Kolmanskop tornou-se próspera com a riqueza trazida pelos diamantes. Seus habitantes tinham uma vida confortável e luxuosa apesar de estarem em pleno deserto. Dispunham de energia elétrica, gelo, carne fresca, salão de festas, escola, piscina, cassino, boliche, um hospital que foi o primeiro no hemisfério sul a possuir uma máquina de raio X. No entanto, no final da 1ª Guerra Mundial, o campo de diamantes estava quase esgotado e em 1956 Kolmanskop foi completamente abandonado. Desde então, Kolmanskop está sendo engolido pela areia do deserto, e suas casas parecem congeladas no tempo.

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Agora dentro do horårio de visitação pudemos entrar com nossas motos e percorrer as antigas ruas da cidade. Muita areia fofa espalhadas pelo vento da noite anterior era retirada das ruas por trabalhadores com ajuda de carrinhos de mão. 70


As suntuosas mansþes das ricas famílias e administradores da cidade eram lembranças fascinantes dos tempos glandiosos de Kolmanskop, que chegou a ter cerca de 1000 habitantes. 71


Os mesmos ventos que faziam rolar as dunas no deserto, agora atravessavam as portas e janelas das casas, enchendo seus cômodos de areia, um cenårio impressionante da força dos ventos.

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As cenas incomuns das casas cheias de areia, sendo iluminados pelo sol que entrava pelas frestas e janelas eram espetaculares.

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Em cada casa as imagens eram únicas e surpreendentes. Uma estranha sensação ao imaginar que a algumas décadas as famílias de mineradores alemães viviam ali. 76


Placas em alemão identificavam os edifícios tais como, padaria, fabrica de gelo, lojas, hospital, correios, escola, etc., algo impensável para a época em região tão inóspita e remota. 77


A preocupação com a saúde, levou os habitantes de Kolmanskop a construir um hospital super moderno que podia receber até 200 pacientes. 78


Num grande edifício comunitário a cidade oferecia a seus habitantes um local para entretenimento e recreação. Com pista de boliche, academia, salão de baile, teatro, etc. Kolmanskop era um pedaço da Alemanha no deserto da Namíbia. 79


Garub : A cerca de 30 km antes de chegarmos a Aus, uma construção isolada abandonada ao lado da estrada nos chamou a atenção. Era Garub, uma antiga estação ferroviária que servia para o reabastecer de agua as antigas locomotivas a vapor, isso graças a existência de fontes de agua nessa região. A agua de boa qualidade das fontes encontradas na região foram importantes para os habitantes dos assentamentos e para a ligação entre Luderitz e Keetmanshoop pelas locomotivas a vapor. Foi somente em fevereiro de 1908 que água de boa qualidade foi descoberta no quilômetro 105 - um benefício no deserto árido. Uma linha de bitola estreita foi construída para transportar a água de bonde a dois quilômetros do poço até a linha ferroviária. Garub tornou-se uma fonte importante e confiável de água na área, tanto para os habitantes dos assentamentos quanto para as locomotivas a vapor. Durante a II Guerra Mundial a estação foi tomada pelos soldados britânicos que se aquartelaram ai, enquanto os soldados alemães se refugiaram em Aus.

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Aquela estação ferroviária, totalmente isolada na vastidão do árido deserto Namib era muito pitoresco. O dia ensolarado com um céu azul emoldurando nossas motos e as ruínas da antiga estação eram cenas de cartão postal. 81


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ApĂłs Aus tomamos a estrada de terra C13 com destino a MaltahĂśhe, nas logo percebemos que era de areia muito fofa pois atravessava as bordas das dunas de Sossusvlei. Michael ainda conseguia manter media de 30 km/h, mas eu nĂŁo. Ă?amos demorar mais de 10h para chegar ao destino, assim decidimos abortar esse trecho e seguir via Mariental.

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Chegamos a Mariental por vota das 18:30h, e tínhamos ainda mais de 120km até nossa Pousada em Maltahohë, decidimos então pousar em Mariental. Nos indicaram o Mariental Hotel, como sendo mais antigo da Namíbia, mas não estava preservado como tal. 84


Uma boa estrada asfaltada nos levou de Mariental a Maltahรถhe onde voltamos a estradas de terra. Passamos por grandes รกreas cercadas e com mata-burros para impedir que os animais escapassem de uma รกrea cercada para outra. 85


Desde Luderitz estávamos percorrendo o deserto Namib, considerado o mais antigo do mundo, com estimativa de ter mais de 55 milhões de anos. Se estende pela costa do Atlântico desde a África do Sul até Angola. Sossusvlei com suas dunas avermelhadas era o nosso próximo destino. 86


O dia que começou com expectativa de uma grande aventura terminou tristemente devido quebra de uma das motos. Faltando 70km para chegarmos às tão esperadas dunas de Sossusvlei, a corrente da motocicleta do Michael quebrou e não tínhamos condições de consertar ali. Pedimos ajuda a uma caminhonete que vinha no sentido contrário ao nosso, que nos informou que havia um lodge a cerca de 10 km de onde estávamos. Decidimos então que Michael iria buscar ajuda nesse lodge e eu ficaria aguardando junto a moto quebrada. Sem muita esperança de encontrar algum lugar com eletricidade , telefone ou internet, Michael seguiu em frente, não tínhamos outra alternativa.

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Enquanto Michael foi buscar ajuda, fiquei aguardando ali em pleno deserto Namib sob a sombra de uma das árvore ao lado da estrada. Deitado embaixo de uma árvore não demorou muito para um enxame de mosquitos me atormentar, o que me forçou a colocar o capacete naquele calor sufocante, para evitar o ataque dos atrevidos mosquitos. Mas cerca de uma hora depois uma caminhonete chegou e me informaram que eram do We Kebi Lodge, e que por solicitação do Michael tinham vindo me resgatar.

Com ajuda de quatro funcionários carregamos a moto na caçamba da caminhonete e seguimos para o Lodge, que estava a cerca de 20 minutos dali, nossa sorte não havia nos abandonado.

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Cheguei no We Kebi Lodge onde Michael já tinha feito contato com a locadora das motos na Cidade do Cabo. A Candi da GS África havia conseguido que uma Van viesse buscar a moto no dia seguinte, para levá-la até Windhoek a 470 km, onde seria consertada. 89


O We Kebi Lodge era espetacular. Chalés luxuosos com os típicos telhados de palha e um casarão central com piscina, restaurante e sala de estar muito confortável. Foi muita sorte ter um chalé disponível para nos hospedamos até conseguirmos resolver o problema com a moto. 90


Ao redor da casa principal do Lodge, um jardim de grama verde, graças a irrigação, era um oásis no meio do deserto. Duas zebras domesticadas um filhote de caama e pequenos mangustos listrados circulavam livremente pelo jardim. 91


Os chalés de We Kebi eram muito confortáveis com decoração ao mesmo tempo rústica e luxuoso. A impecável cobertura de palha dava o tom africano naquele ambiente. 92


No final da tarde, jĂĄ com todos os acertos para o resgate da moto, decidimos fazer um rĂĄpido safari pelas terras do Lodge. Foi nosso primeiro contato com animais selvagens da Ă frica. 93


Encontramos árvores com enormes ninhos de pássaros. Esses ninhos são feitos por um pequeno pássaro chamado tecelão Sociável. É na realidade um conjunto de ninhos formando um grande e único bloco, podendo ser ocupado o ano todo por até 100 casais de pássaros ​ 94


TambĂŠm vimos dois tipos de zebras: as zebras das montanhas que possuem sĂł listras pretas e brancas , grandes orelhas e a barriga branca sem listras, e as zebras de planĂ­cie que possuem orelhas menores, listras sombreadas acastanhadas entre as listras pretas e listras na barriga, uma novidade para nĂłs.

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O safari por We Kebi, uma antiga fazenda de gado, terminou no final da tarde jĂĄ com o pĂ´r do sol. Voltamos a pousada onde um delicioso jantar nos esperava. Michael jĂĄ tinha acertado tudo para nosso resgate e conserto da moto em Windhoek. 96


Em Windhoek nos encontramos com o mecânico Ruan que a Candi tinha acertado para fazer o conserto. Ruan verificou que faltava uma parafuso essencial no chassi da moto, fazendo com que ela ficasse muito instável, o que já vinha incomodando o Michael desde que saímos da África do Sul. 97


Já passava das 20:00h quando terminou o conserto da moto. Com orientação do Ruan, seguimos para o hotel Klein Windhoek Guesthouse onde chegamos ainda a tempo de jantar e tomarmos a cerveja do dia. No manhã seguinte logo cedo deixamos Windhoek com destino ao Etosha National Park. 98


Num posto em Okahandja encontramos duas mulheres muito alegres e simpáticas da etnia Himba, povos seminômades que vivem na região noroeste da Namíbia. Elas estavam ali participando de uma feira de artesanato. 99


Paramos para almoçar em Otjiwarongo, uma pequena cidade ao lado da rodovia B1. Encontramos um excelente e aconchegante restaurante com nome português, Casa Forno. Ao lado do restaurantes alguns jacarandås roxos estavam florindo. 100


Passamos ao lado de uma obra exótica, um castelo do empresário da região Rainier Arangies. Logo depois chegamos a Tsumeb, uma bonita cidade conhecida como a “porta de entrada para o norte” da Namíbia, está a cerca de 100km do Etosha National Park. 101


Abastecemos em Tsumeb e seguimos pela rodovia B1 por mais 100km, quando saímos para a rodovia B38 sentido Etosha. A presença alemã na Namíbia podia ser vista em vários lugares, mas referencia à Saxônia foi uma surpresa, a primeira vez que vimos. 102


Próximo a Etosha tivemos que entrar em estrada de terra para chegar ao nosso hotel. Poças de água na estrada, eram sinal de que havia chovido. Uma boa surpresa, já que não chovia na região há cerca de dois anos. 103


O Mokuti Etosha Lodge era espetacular, numa grande área verde onde os chalés, piscinas e restaurante, ofereciam todo o conforto para os hóspedes. Mesmo com reservas feitas 6 meses antes, só havia disponibilidade para ficarmos por uma noite. 104


No dia seguinte, as 6:00h da manhã, fomos fazer o tão esperado safari no Etosha Park. A cinco minutos do lodge fica o portão Von Lindequist, entrada para o Etosha. Antes de entrar o veículo é vistoriado, não sendo permitida a entrada com armas. 105


Atualmente o Parque Nacional Etosha ocupa uma área de 23.000 km2 , das quais cerca de 4.500km2 são ocupados pela Etosha Pan, uma grande salina formada a mais de dois milhões de anos. Abriga grande variedade de animais como leão, elefante, leopardo, girafa, chita, hiena e diversos tipos de antilopes. Existem mas de 40 fontes naturais (waterholes) espalhados que fazem desse parque um lugar único, são neles que os animais bebem agua no período da seca. Totalmente cercado, o acesso ao parque possui quatro entradas controladas para proteção dos animais contra caçadores. 106


A salina de Etosha, a maior da África, exibe uma superfície branca e esverdeada característica da mistura de sal, argila e vegetação. Durante período das chuvas é possível ver-se finos lençóis de água em sua superfície. Essa mistura de sal e argila é fonte de minerais para os animais. 107


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Chudop e Klein Okevi são dois poços naturais próximos a Namutoni. Durante período da seca são fontes comunitárias de água para os animais do parque, sendo comum se encontrar vários tipos de animais em volta dele . Não tivemos sorte, com a chuva do dia anterior os animais não apareceram.

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Nas trilhas ainda próximo a entrada do Etosha, girafas e zebras pastavam entre arbustos e árvores secas cheias de espinhos. Como conseguiam sobrevier em condição tão inóspitas.

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A adaptação dos animais a condições tão extremas era incrível, como esta hiena com seus dois filhotes vivendo em um buraco naquele solo seco e pedregoso. 112


Escondido entre arbustos secos e retorcidos encontramos um leopardo deitado tranquilamente sobre um galho prรณximo ao solo. Nem mesmo os carros de turistas parados prรณximos a ele foram capazes de perturbar o sono dessa fera. 113


Era impressionante ver como as girafas com seus grandes lĂĄbios e lĂ­ngua conseguiam selecionar as pequenas folhas verdes entre os espinhos das poucas arvores ainda com folhas. 114


Os bonitos antĂ­lopes eram os animais mais abundantes. Vimos quatro tipos, o Gnu , o Springbok o Impala e o vistosos Orix com sua pelagem cinza com manchas negras na barriga e pernas. Seus chifres longos e quase retos sĂŁo incomuns. 115


Os avestruzes podiam ser vistos uma vez ou outra nas ĂĄreas mais abertas. Encontramos tambĂŠm um grande ave com mais de um metro de comprimento chamada Abetarda Gigante, tida como a ave mais pesada que pode voar. O macho adulto pode chegar a 18kg. 116


Grandes cupinzeiros de terra acinzentada se projetavam na superfície revelando a cor da argila por baixo da vegetação rasteira. A sensação de estar em meio a vastidão desta incrível paisagem era fantástica. 117


Dentro do Etosha Park se encontra a fortaleza alemã Namutoni. Em 28 de Janeiro de 1904 foi atacado e saqueado por 500 negros da etnia Ovambo. Hoje funciona como alojamento, parada para descanso e ponto de observação de animais selvagens .

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Terminamos nosso safari pelo Etosha National Park por volta das 11:00h. A grande salina e a savana ao seu redor com a variedade de animais selvagens fazem desse parque uma experiĂŞncia inesquecĂ­vel. 119


De volta ao Mokuti Lodge, tivemos tempo livre para relaxarmos tomando a boa cerveja da Namíbia e apreciando aquele excelente hotel. Após almoço, seguimos viagem em direção a Tsumeb. 120


Como não tínhamos conseguido hospedagem para duas noites no Mokuti Lodge, decidimos pousar em Tsumeb, a cerca de 100km de Namutoni. No caminho fizemos uma parada no Lago Otjikoto, que fica ao lado da rodovia B1. Esse lago foi declarado monumento da Namíbia em 1972, tendo acesso controlado por algumas famílias que vivem em casas ao seu lado. Tem o formato de uma cratera, pois foi formado pelo rompimento da cúpula de uma caverna. Sua profundidade chega a mais de 140 metros. Durante a primeira Guerra Mundial, as tropas alemãs despejaram armas de guerra no lago antes de se renderem às tropas sul-africanas e britânicas. Algumas das armas foram retiradas e estão no museu em Tsumeb. mas muitas ainda estão no fundo do lago.

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Ao redor do Lago Otjikoto, algumas curiosidades como esse belo grafite na parede, restos de equipamentos utilizados para bombear a agua do lago para Tsumeb, uma รกrvore chamada Python, um tipo de trepadeira, com seiva venenosa, que se enrola em outras รกrvores. 122


Em Tsumeb escolhemos uma pousada pitoresca ao lado da rodovia B1, Conductors Inn. Acomodações feitas em vagões convertidos em bons quartos. Esses vagões ficam junto a um grande posto de serviços, com restaurantes, mini mercado e áreas de lazer. 123


A noite fomos jantar em Tsumeb no restaurante do Minen Hotel, cujo nome é referência às grandes minas de cobre do local. Na manhã seguinte, após excelente café da manhã, fizemos um passeio por Tsumeb antes de seguirmos para Grootfontein. 124


Seguimos pela boa rodovia B42, e antes de chegarmos a Grootfontein, saímos para a estrada de terra D2905 em direção ao local onde esta o meteorito Hoba. A paisagem já era outra, agora se via mais verde com grandes fazendas ao lado da estrada. Depois de 20km chegamos ao meteorito Hoba.

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Meteorito de Hoba O maior meteorito encontrado na Terra até hoje, pesando mais de 60 ton., caiu a 20 km a oeste de Grootfontein a cerca de 80.000 anos atrás.

Foi descoberto em 1920, quando um fazendeiro arando um campo perto de Grootfontein, percebeu que seu arado parou repentinamente. Curioso sobre o que havia encontrado, ele cavou no solo e achou um grande pedaço de metal. Estima-se que o meteorito, com uma forma cuboide (cerca de 2,7 por 2,2 metros e 1 metro de altura) tenha entre 200 e 400 milhões de anos. É composto por cerca de 84% de ferro, 16% de níquel e vestígios de cobalto e outros metais Em março de 1955 foi declarado monumento nacional da Namíbia. A área ao redor foi doada ao Conselho Nacional de Monumentos em 1987. Foi então escavado e a área ao redor foi ajardinada em pequenos terraços em forma de anfiteatro para permitir passeios turísticos.

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O desvio na estrada de cascalho dura no máximo uma hora, mas vale a pena. É incrível ficar lá pensando sobre as origens alienígenas do meteorito, o que aconteceu quando caiu etc. Era inacreditável que vândalos cortassem pedaços para levar uma lembrança. 127


Encontramos um casal de alemĂŁes muito simpĂĄtico, e iniciamos conversa animada sobre a viagem na NamĂ­bia. Com ajuda do drone tiramos boas fotos junto ao bloco de ferro. 128


Apรณs nos refrescarmos e comprar suvenires no quiosque ao lado do meteorito, deixamos esse lugar intrigante e seguimos para Grootfontein. 129


Grootfontein é uma pequena cidade muito bem organizada e limpa. Nela esta uma antiga fortaleza alemã da Schutztruppe de 1896, que hoje abriga um museu que expõe a história local. Tivemos que esperar cerca de uma hora e meia, pois estava fechado para almoço. 130


O Museu Das Alte Fort é realmente uma impressionante coleção da história dos colonizadores aqui retratada através de coleções de artefatos e fotos. Há também uma interessante exibição ao ar livre de equipamentos industriais e da agricultura da época. 131


Objetos e fotos em preto-e-branco da vida cotidiana nos dias passados dos himbas e outros grupos étnicos que viviam ali, contam a história da migração e colonização alemã na região. 132


A evolução da mecanização dos implementos agrícolas, da máquina de embrulhar manteiga, da máquina de engarrafamento de líquidos e e de tantos outros nos manteve entretidos por horas a fio. Valeu a pena a espera para visitar este museu. 133


Grootfontein a Rundu Pegamos as motos e enfrentamos o que ,no mapa , aparecia como uma reta de 250km. Não foi tão reto assim mas foi um dos dias mais quentes que enfrentamos com até 39 graus. Nos primeiros 150 km a vegetação continuava seca mas já se via árvores verdes. Embora existissem cercas ao longo da estrada, era comum ver animais soltos na estrada, principalmente cabras magras pastando onde só havia capim seco e areia. As grandes extensões de áreas cercadas indicavam a existência de fazendas na região.

Passamos por uma controle sanitário e então tudo mudou, nada mais de cercas. Nos últimos 100 km apareceram muitas aglomerações de casas feitas de barro com teto de palha ou feitas totalmente de palha e algumas casas feitas de chapa ondulada.

Algumas vezes se via pequenos aglomerados de casas dentro de cercados formando um pequeno povoado como na era medieval.

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Chegamos a Rundu ao entardecer em meio a um transito caĂłtico. Casas de chapa se misturavam a prĂŠdios comerciais. Um caos nas ruas, uma cidade sem estrutura nenhuma. Bem diferente das cidades mais ao sul da NamĂ­bia. 135


Logo chegamos ao Tambuti Lodge às margens do rio Okavango com um bonito jardim com árvores frutíferas espalhadas entre os chalés. Fomos gentilmente recebidos com um refrescante suco de hibisco, típico da região. 136


Bem próximo ao Tambuti Lodge numa pequena praia crianças se refrescavam nas aguas do rio Okavango, enquanto outras levavam agua em baldes para uma caminhonete. Na outra margem se via Angola e o sol se pondo que coloria de dourado as aguas desse exuberante e icônico rio da África.

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O Tambuti Lodge tem um restaurante africano autĂŞntico, especializado em cozinha africana utilizando ingredientes locais. Foi o primeiro restaurante de cozinha africana que encontramos. Experimentamos a salada com carne de crocodilo e o omakunde, um tira gosto feito de feijĂŁo fradinho, deliciosos. 138


Nosso jantar foi na varanda apreciando a paisagem com vista para o Rio Okavango e desfrutando pratos da cozinha africana, encerrando mais um dia espetacular de nossa viagem pela NamĂ­bia. 139


Logo cedo abastecemos a motos e seguimos pela rodovia B8 na regiĂŁo conhecida como Caprivi Strip. Ao longo desse trecho iriamos atravessar parques nacionais. EstĂĄvamos ansiosos para encontrar animais selvagens cruzando a estrada. 140


Caprivi Strip Deixamos Rundu de manhã cedo em direção à Kasane. Seriam cerca de 650km através de uma estreita faixa de terra da Namíbia entre Angola e Botswana, conhecida como Caprivi Strip.. Caprivi Strip é um estreito corredor terrestre com cerca de 450 km de comprimento e largura média de 30 km, situado no nordeste da Namíbia e que permite ligar a região de Caprivi ao resto do território namibiano. Faz fronteira com o Botswana ao sul e Angola e a Zâmbia ao norte. Sua ponta oriental fica a apenas 100m das fronteiras do Zimbábue. Sua demarcação foi negociada em 1890 entre Alemanha e o Reino Unido, permitindo que a faixa norte de Botswana fosse anexada à Namíbia. Os alemães esperavam que isso lhes desse acesso ao interior da África e ao Oceano Indico através do rio Zambeze. Eles ainda não sabiam que o Zambeze despenca pelas Cataratas Vitória ao longo de seu curso e assim impedindo a navegação em direção ao Oceano Indico.

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Seguimos pela rodovia B8, que ia margeando o rio Okavango atĂŠ Divundu, um pequeno povoado Ă s margens do rio Okavango. Diferente do trecho anterior, agora se via mais ĂĄreas verdes e na beira da estrada as casas de palha e animais na pista se repetiam como no trecho entre Grootfontein e Rundu.

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Nesse trecho vimos vårias carcaças de carros ao lado da pista. Não eram de carros antigos e enferrujados, mas aparentemente de carros mais novos que haviam sido abandonados.

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Apรณs atravessarmos a ponte sobre o Rio Okavango, entramos no Bwabwata National Park e as primeiras placas advertindo sobre presenรงa de elefantes na pista apareceram. Nossa expectativa de cruzar com eles era grande. 146


Prรณximos a Kongola, passamos por uma barreira de controle sanitรกrio e mais placas com alertas de elefantes nos deixavam ainda mais ansiosos em encontrรก-los na estrada. 147


Kongola nada mais é do que um posto de gasolina e uma loja de conveniência. Embora com fome, não nos animamos a comer os pratos prontos vendidos. Pela primeira vez vimos algumas casas em alvenaria e grandes caixas de água. 148


Nas proximidades de Kongola foi o lugar onde mais vimos pessoas na estrada , principalmente crianรงas aparentemente saindo ou indo para a escola, Sempre muito alegres e simpรกticas, acenavam ao passarmos por elas.

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Lenhas empilhadas ao lado da estrada eram vendidas pelos moradores dos muitos assentamentos da regiĂŁo. A lenha ĂŠ o principal meio utilizado para cozinhar por mais da metade das famĂ­lias da NamĂ­bia. 150


Chegamos a Katima Mulilo, uma pequena cidade, na fronteira entre a Namíbia e Zâmbia. De lá seguimos para Ngoma onde iríamos para Botswana. No caminho casas em áreas cobertas de areia muito branca chamavam a atenção.

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De forma muito tranquila cruzamos o posto de fronteira em Ngoma e seguimos em direção a Botswana. Por nove dias percorremos 3000 km pela fascinante Namíbia, um pais de paisagens impressionantes e um povo extremamente gentil e alegre, com certeza iriamos sentir muitas saudades. 152


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