SEEN THROUGH HELMET VISOR

Page 1

1


2


Viajar de motocicleta: hobby ou paixão? O que faz com que algumas pessoas se aventurem em viagens de motocicleta mesmo sabendo dos riscos e perigos do motociclismo, hobby ou paixão? Fazer parte do cenário e não só estar passando por ele, indescritível sensação de liberdade, a visão sem janelas, sentir os cheiros, a temperatura, o vento, poder sair fora do caminho, interagir e fazer conexão com outras culturas, explorar e descobrir lugares incomuns, pilotar a moto por si só. Hobby ou paixão?, não importa, as recompensas superam os riscos.

3


4


BRASIL

JORNADA ATACAMA Ao final de uma viagem de moto ao sul do Chile e Argentina, eu e Michael começamos a fazer um balanço daquela aventura. As cenas de momentos vividos tão intensamente brotavam em nossas mentes. Nos demos conta então, de quantas coisas havíamos visto e vivido em um espaço de tempo relativamente curto, dos pampas a desertos da patagônia, de intermináveis planícies aos altos vulcões da Cordilheira dos Andes, de pinguins e lobos marinhos a guanacos e vicunhas nos altiplanos da Cordilheira dos Andes Tudo era ainda mais impressionante agora em nossa recordações, parecendo irreal, mas as milhares de fotos e filmes de nossas câmeras eram o testemunho de que não tínhamos sonhado.

OCEANO ATLANTICO

Já pensando na próxima viagem queríamos mais aventura, sentir o prazer que somente os grandes desafios e o medo do desconhecido proporcionam. Assim decidimos que teria que ser por regiões mais rústicas e selvagens, por

estradas de terra e cascalho que nos levassem a condições e ambientes incomuns, com desafios e surpresas além de nossa imaginação. A região do deserto do Atacama, no Chile, surgiu como uma provável opção pois pelo que já tínhamos ouvido falar tinha muito desses ingredientes que estávamos buscando. Do volta as nossas casas depois de alguns meses e muitas pesquisas, o roteiro da próxima aventura já estava definido: Viagem de motocicleta pelo Deserto do Atacama e Cordilheira dos Andes, que passamos a chamar de “Jornada Atacama”. Iniciaríamos em Santiago, de onde iriamos então para San Pedro do Atacama pelo litoral chileno. A partir de San Pedro do Atacama, retornaríamos para Santiago fazendo ziguezagues pela Cordilheira dos Andes, cruzando a fronteira do Chile com Argentina por quatro vezes. Percorreríamos cerca de 4800 km em 17 dias de viagem.

5


6


BOLIVIA

PARAGUAI

OCEANO PACIFICO

CHILE

BRASIL

ARGENTINA

Santiago

URUGUAI7


SANTIAGO Finalmente chegou o grande dia, embarcamos logo cedo em voo para Santiago eu, Sandra, esposa de Michael, e as amigas Dio e Debora. Aproveitamos o resto do dia para city tour e jantar com amigos brasileiros, que moraram em Santiago, enquanto aguardรกvamos por Michael que sรณ chegaria tarde da noite.

8


AS MOTOS No dia seguinte, eu e Michael, fomos retirar as motos que tínhamos alugado na agencia KTM local. Seria a primeira vez que iriamos pilotar essas motos e a ansiedade era grande. Como duas crianças com brinquedo novo, pegamos as motos e percorremos as avenidas e ruas de Santiago nessas maquinas espetaculares até o hotel. Aproveitamos o resto do dia para desfrutarmos de Santiago, já que iriamos iniciar nossa aventura somente no dia seguinte.

9


SANTIAGO O almoço em restaurante turístico do Mercado Municipal onde os frutos do mar, incluindo o imperdível caranguejo gigante Centolla foram as estrelas de nosso banquete. Final do dia em Santiago e a Cordilheira dos Andes se

mostrava majestosa para nós fazendo com que nossa ansiedade em dar inicio a nossa aventura aumentasse ainda mais.

10


BOLIVIA

Calama

San Pedro Atacama Antofagasta

Taltal

ARGENTINA Chañaral

CHILE Caldera DISTANCIAS (km)

OCEANO PACIFICO Huasco Punta de Choros

La Serena Tongoy

Valparaiso : 155 Tongoy : 405 La Serena : 60 Punta de Choros : 130 Huasco : 175 Caldera : 285 Chañaral : 105 Antofagasta : 410 Calama : 245 San Pedro Atacama: 135 TOTAL ETAPA I : 2105

BRASIL

URUGUAI

Valparaiso

Santiago

11


SANTIAGO A SAN PEDRO DO ATACAMA

Essa etapa estava planejada para ser feita em 5 dias, percorrendo 2.100km pela costa do Chile até Antofagasta e de lá para San Pedro do Atacama, onde nos encontraríamos com Sandra, Dio e Debora. Um trecho sem dificuldades, praticamente todo ele sobre estradas asfaltadas, mas tivemos um imprevisto quando nos perdemos após Punta de Choros. Levamos mais de 6 horas para percorrer 40 km de uma trilha

precária sobre dunas e areais, o que nos forçou a dormir em casa de “pescadores” de algas numa pequena comunidade chamada Los Bronzes. Esse contratempo, embora tenha nos atrasado em quase um dia, foi de muita aventura e ainda nos deu a oportunidade de conhecer gente simples que com sua solidariedade e hospitalidade nos ajudaram e nos acolheram em suas casas.

12


VALPARAISO Saímos de Santiago logo cedo, e em 2 horas chegamos a Valparaiso, onde fizemos uma rápida parada no porto, em frente ao belíssimo e imponente edifício da Armada de Chile. Seguindo por uma avenida a beira mar chegamos a Viña del Mar com suas praias de areia branca e canteiros de flores em uma longa avenida que acompanha a orla litorânea. O Oceano Pacífico agora nos acompanhava por uma estrada sinuosa que nos levaria até a cidade de La Serena onde iríamos pernoitar.

13


LITORAL CHILENO Seguimos pela estrada margeando o litoral chileno que passava por várias cidades pequenas, algumas com condomínios e edifícios luxuosos e outras pequenas vilas de pescadores. O céu esbranquiçado pelo tempo nublado, ofuscava um pouco a beleza do lugar. Almoçamos em uma dessas vilas de pescadores na praia de La Laguna, onde desfrutamos de frutos do mar e ainda ganhamos um mapa detalhado da região de um chileno, também apaixonado por motos, que conhecemos no restaurante. .

14


TONGOY De La Lagura, seguimos pela Ruta 5, tĂ­nhamos ainda cerca de 370km pela frente atĂŠ chegar em La Serena onde iriamos pernoitar. A falta de gasolina no posto da Ruta 5 nos fez desviar de nossa rota e passar por Tongoy, uma pequena cidade de pescadores, que nos presenteou com centenas de barquinhos

amarelos em sua baia, onde os habitantes locais se refrescavam no mar. Soubemos mais tarde que Tongoy era um importante centro produtor de frutos do mar. Motos reabastecidas, seguimos para La Serena onde chegamos no inicio da noite.

15


DESERTO DO ATACAMA Após La Serena a paisagem verde deu lugar a uma região muito árida, cactos espinhosos e retorcidos era o que mais se via, estávamos entrando no famoso Deserto Atacama.

Como planejado, saímos da Ruta 5 e seguimos em estrada de terra para Punta de Choros , vilarejo no litoral conhecido por ser casa dos pinguins de Humboldt.

16


PUNTA DE CHOROS Um pequeno povoado de pescadores com praias de areias muito brancas com um mar azul turquesa que estava um pouco agitado. Pequenos barcos e quiosques na praia convidavam os turistas para os passeios para ver golfinhos e os pinguins de Humboldt, habitantes das pequenas ilhas que ficavam bem prรณximas da praia. Aproveitamos para almoรงar ali, contemplando esse lugar tรฃo especial, um lugar para se voltar um dia.

17


PERDIDOS

P e r d id o s

Saímos de Punta Choros e ao invésde devoltarmos voltarmos para para aa Ruta estrada queque havíamos vindo, resolvemos tomar tomar uma outra, Saímos de Punta de de Choros e ao invés Ruta55pela pelamesma mesma estrada havíamos vindo, resolvemos umaque outra pelo mapa que havíamos ganhado em La Laguna, também nos levaria a Ruta 5 já próximos a Vallenar. estrada de terra que pelo mapa que havíamos ganhado em La Laguna, também nos levaria a Ruta 5 já próximos a Vallenar. Trecho sinalizado, nossos mapas indicando estradasque quenão nãoexistiam existiam ee informações informações desencontradas habitantes da da região, Trecho mal mal sinalizado, nossos mapas indicando estradas desencontradasdos dospoucos poucos habitantes nos fizeram tomar um caminho totalmente errado. região, nos fizeram tomar um caminho totalmente errado. Acabamos voltando ao litoral e de repente a estrada acabou e restou somente uma trilha de areia e pedras que não conseguíamos localizar no Acabamos voltando ao litoral e de repente a estrada acabou e restou somente uma trilha de areia e pedras que não conseguíamos mapa, estávamos perdidos. localizar no mapa, estávamos perdidos.

18


PERDIDOS Decidimos continuar pela trilha na esperança de encontrar uma estrada que nos levasse de volta para a Ruta 5. Mas a trilha foi piorando, piorando e acabou definitivamente. Estávamos andando sobre dunas, pedras e areais que com nossas motos pesadas tornavam a pilotagem muito difícil e cansativa e para piorar nossas duas garrafas de agua tinham acabado. Seguíamos sem encontrar uma viva alma até que avistamos uma casa onde um pescador nos disse que logo a frente existia um pequeno povoado onde poderíamos obter ajuda.

19


PERDIDOS Finalmente conseguimos chegar num local com pouco mais de 5 casas. Lá nos deram agua para beber, e nos disseram que teríamos que ir até Los Bronzes, que ficava a aproximadamente 20 km de onde estávamos e de lá, por uma estrada de cascalho, chegaríamos a Huasco de volta a Ruta 5. Até o povoado de Los Bronzes, não existia estrada, teríamos que continuar seguindo por areais e dunas iguais e até piores

aos que já tínhamos passado. Como existiam varias trilhas por essa região, corríamos ainda o risco de nos perdermos. Então começamos a pensar em alternativas e conseguimos que um dos moradores, que tinha uma caminhonete, ir conosco para nos guiar e também levar nossas bagagens para que as motos ficarem mais leves e facilitasse nossa pilotagem pelos areais.

20


PERDIDOS Subíamos e descíamos dunas, e nada de chegar, os areais e trilhas por todo lado. A caminhonete seguia a nossa frente nos orientando no caminho a seguir. A areia muito fofa tornava a pilotagem muito difícil, eu já estava esgotado. O motorista da caminhonete dizia que faltava somente mais 5 minutos para chegarmos, mas andávamos, andávamos e nada de Los Bronzes. Eu já não aguentava mais, as câimbras nas pernas eram insuportáveis e decidi, por segurança, deixar a moto ali e ir na caminhonete, mais tarde viria busca-la.

21


LOS BRONZES Finalmente avistamos Los Bronzes, um aglomerado de pouco mais de 10 casas num lugar remoto a beira mar. Um casal, amigo do motorista, nos deixou pernoitar em sua casa. Pessoas muito simples e amáveis, que viviam da colheita de uma alga marinha, que só existia ali, e que eram vendidas para o Japão. Michael, vendo meu cansaço, foi buscar minha moto que estava a alguns quilômetros dali. Estávamos tomando um lanche e conversando quando a dona Mirian pediu licença para ligar a televisão, ela era fã apaixonada do cantor brasileiro Roberto Carlos, que iria se apresentar no Festival Internacional da Canção, naquela noite em Viña del Mar. Michael ainda ficou algumas horas tomando cerveja e assistindo ao show de Roberto Carlos, eu estava esgotado, fui dormir no quarto de “hóspedes”.

22


LOS BRONZES Mal o dia amanheceu e já estávamos preparando nossas motos para seguir viagem. Pudemos ver agora o quão inóspito era aquele lugar. A costa era de rochas vulcânicas onde as algas eram colhidas e deixadas secando em montes ao ar livre. Uma vez por mês o comprador vinha buscá-las e também trazer agua e mantimentos para as famílias que ali viviam. Nos despedimos de nossos novos amigos, que ainda nos guiou com sua caminhonete, até a estrada de cascalho para Huasco.

23


HUASCO A CHAÑARAL Depois de uns 40 km em estrada de cascalho chegamos em Huasco, uma pequena cidade portuária onde uma usina termoelétrica a carvão, se destacava no horizonte. Aproveitamos para tomar uma cerveja e telefonar para Sandra e amigas, pois já estávamos sem nos comunicar com elas há mais de um dia. Decidimos em seguir pelas rodovias costeiras até Caldera e lá sim pegarmos a Ruta 5 com destino a Chañaral onde iriamos pousar. Nesse trecho o deserto “mergulhava” diretamente no mar sem esboçar uma mínima faixa de praia e vez ou outra a rodovia cruzava alguns vilarejos que mais pareciam cidades fantasmas.

24


PUERTO VIEJO Dentre os povoados que cruzamos, o que mais nos impressionou foi Puerto Viejo. Localizado em uma pequena baia, com casinhas coloridas bem simples e na sua maioria de madeira. Fizemos um rápido recorrido pelas suas ruas de terra sem nenhuma

infraestrutura, um silencio total sem uma viva alma pelas ruas, só o barulho do vento assoviando e muita poeira no ar . Se não fosse por algumas pessoas que havíamos visto na estrada poderíamos dizer que se tratava de uma cidade fantasma. Como seria viver num lugar como este?

25


BAHIA INGLESA A poucos quilômetros de Puerto Viejo uma supressa nos aguardava, Bahia Inglesa, balneário com uma linda praia de areia muito branca e mar azul turquesa. O deserto do Atacama mergulhava no mar do outro lado da baia contrastando com as praias de areia branca da Bahia Inglesa. Aproveitamos para almoçar em restaurante em frente a praia acompanhado com a já nossa velha conhecida cerveja Kunstmann.

26


CALDERA Com muita preguiça colocamos nossas bikes na estrada novamente e em 15 minutos já estávamos em Caldera, um cidade portuária bem arrumada, com algum verde de poucas arvores espalhadas por suas ruas. Depois de uma volta pela cidade seguimos viagem agora tomando novamente a Ruta 5, que nos levaria até Chañaral. Nesse trecho havia um movimento mais intenso na estrada, principalmente de caminhões e a nossa direita o deserto continuava mas agora com formações rochosas mais altas, que mergulhavam no mar de forma impressionante.

27


CALDERA A CHAÑARAL O mar azul turquesa e o deserto do Atacama nos acompanhou durante todo o percurso entre Caldera até Chañaral. A aridez do deserto com e formações rochosas que cada vez ficavam mais altas, contrastava com a beleza do mar, fazendo daquele cenário ao mesmo tempo desolador e bonito.

28


CHAÑARAL Chegando em Chañaral nos deparamos com um cenário inusitado. A cidade ficava numa baia no sopé de montanhas que acabavam no mar, e a sua frente uma enorme planície de areia que acabava se encontrando com as montanhas que circundavam a baia. Um local intrigante, não parecia natural, seria resultado de mineração ?

29


CHAÑARAL Os contrastes de Chañaral: a beira do mar com suas casas coloridas e cercada por montanhas sem nenhum rastro

de vegetação, onde foi construído o Farol do Milênio, no ano de 2000 em comemoração a mudança do milênio.

30


PARQUE NACIONAL PAN DE AZUCAR Em Chañaral ficamos sabendo que estávamos próximos ao Parque Nacional Pão de Açúcar, e que existia uma estrada de terra de aproximadamente 30 km, que cruzava todo o parque e depois dava acesso a Ruta 5. Não pensamos duas vezes, entre pilotar nossas bikes por

uma estrada de terra dentro de um parque nacional e uma auto estrada no deserto, optamos por cruzar o parque, com certeza seria muito mais divertido. Preparamos nossas motos e logo cedo saímos em direção ao parque.

31


PARQUE NACIONAL PAN DE AZUCAR Logo após passarmos pela planície de areia, entramos no parque Pão de Açúcar, a paisagem mudou drasticamente, parecia que estávamos em outro mundo. Formações rochosas estranhas brotavam nas areias, dando a impressão de um cenário de destruição como se terremoto tivesse atingido aquele lugar.

32


PARQUE NACIONAL PAN DE AZUCAR Depois de um trecho acompanhando o litoral, entramos no interior do parque por uma estrada de terra estabilizada com sal, era solida e sem buracos. As cores das montanhas jรก se mostravam diferentes e alguns arbustos verdes apareciam ocasionalmente ao lado da estrada.

33


PARQUE NACIONAL PAN DE AZUCAR Finalmente voltamos a ver o verde nas paisagens, e mesmo cobrindo somente parte das encostas e planícies já nos dava uma sensação diferente, o verde parecia mais verde do que realmente era. A sensação de que ali existia vida era envolvente.

34


TALTAL Após deixarmos o Parque Nacional Pan de Azucar, decidimos ir pela Ruta 1 que seguia pelo litoral, pois era muito monótono pilotar nossas bikes pela Ruta 5, com longas retas e uma paisagem que não se alterava por quilômetros. Logo chegamos a Taltal, uma pequena cidade com algumas praias e uma avenida na orla onde a única coisa verde que se via eram algumas palmeiras solitárias. Seguimos pela Ruta 1 por mais 50 km até um povoado chamado Paposo, quando o asfalto terminou e deu lugar a uma trilha esburacada e cheia de pedras em péssimas condições. Não era mais possível seguir por essa estrada.

35


TALTAL As montanhas áridas do deserto do Atacama, emolduradas pelo azul do céu e do mar, mergulhavam no Oceano Pacífico, de uma forma abrupta. A impressão era de que o encontro do deserto com o mar não era harmonioso, mas que havia uma ruptura abrupta e impactante entre a terra e o mar..

36


ROTA DAS MINAS DE COBRE Sem condições de seguir pela Ruta 1, tomamos a Ruta B-710,que liga o litoral desde Paposo até o entroncamento com Ruta 5. Nesse trecho encontramos varias minas de cobre, mas em nenhuma delas era permitido visitação

Do nível do mar atingimos 2000 metros de altitude ziguezagueando por entre as montanhas do Atacama, fazendo nossa pilotagem nesse trecho muito divertida.

37


ROTA DAS MINAS DE COBRE Após os primeiros 50 km bastante sinuosos, a Ruta B710 torna-se uma grande reta cortando o deserto, de areia avermelhada e pontilhado de pedras espalhadas por toda parte, que não pareciam ser dali. Nesse trecho não existia nada vivo, absolutamente nada, a viseira de nossos capacetes não tinham marcas de um mosquito sequer. Agora estávamos deixando o oceano para trás e nos dirigíamos para o entroncamento com a Ruta 5, onde tínhamos encontro marcado com La Mano del Desierto, símbolo de nossa jornada.

38


LA MANO DEL DESIERTO Finalmente chegamos ao símbolo de nossa jornada, A Mão do Deserto. Uma escultura enorme de uma mão erguida emergindo das areias do deserto. É uma obra do

artista chileno Mário Irarrázabal que foi construída em 1990 às margens da Ruta 5 e a cerca de 70 quilômetros de Antofagasta. Parada obrigatória dos turistas que passam pela região.

39


ANTOFAGASTA Um porto muito importante e uma cidade moderna e muito bonita com lindos jardins na movimentada avenida que contorna a orla marítima. Aproveitamos o fim de tarde para tomarmos uma

merecida cerveja de metro, sim de metro, servida na mesa em um tubo, e fazer um passeio de moto pelas ruinas de uma antiga fundição de prata da região, chamada ruinas de Huanchaca.

40


RUMO A SAN PEDRO ATACAMA De Antofagasta seguimos pela Ruta 5 ate o entroncamento com a Ruta 23. Longas retas em uma região com absolutamente nada, somente areia e pedras. Nesse trecho iriamos ter o primeiro contato com as

grandes altitudes dos Andes. Estávamos saindo de Antofagasta ao nível do mar para passar dos 3.400 metros de altitude próximo a San Pedro do Atacama.

41


DESERTO DO ATACAMA Nos chamou a atenção algumas formações que se elevavam no meio do deserto onde se via caminhões de mineradoras descartando os rejeitos das minas de cobre, formando verdadeiras montanhas desses resíduos no deserto do Atacama. A poluição também já tinha chegado ao remoto deserto do Atacama.

42


FERROVIA ANTOFAGASTA – BOLIVIA Próximo ao povoado de Sierra Gorda, a ferrovia que liga Antofagasta a Bolívia cruza a rodovia que estávamos seguindo. Por sorte, no momento em que chegamos nesse cruzamento o trem estava passando assim tivemos que parar e aguardar sua passagem.

Junto a esse cruzamento havia um posto de combustível onde estavam estacionados caminhões enormes, que transportavam equipamentos pesados da indústria mineira. Aproveitamos a parada para fotos e conversar com o pessoal local.

43


RUINAS DE CIDADE MINEIRA Alguns quilômetros após Sierra Gorda encontramos, ao lado da estrada, ruinas de uma antiga cidade de mineiros que tinham trabalhado nas minas de salitre da região na década de 50. As casas eram feitas de adobe, e com o esgotamento

da mina, os moradores foram deixando a cidade, que acabou totalmente desabitada. Hoje somente restam ruínas das antigas casas, que acabou virando atração turística para quem passa na rodovia a caminho de Calama.

44


CALAMA No meio do deserto, Calama é a maior cidade da região e conhecida como capital mineira do Chile. Próximo a ela esta a maior mina de cobre a céu aberto do mundo, Chuquicamata. Com profundidade de 900 metros e largura de 4,5 km é a maior do mundo. Para visitá-la somente mediante

agendamento em dias determinados, infelizmente não tínhamos tempo disponível, Fomos ao aeroporto esperar por Sandra, Dio e Debora que estavam vindo de Santiago para depois seguirem de carro para San Pedro Atacama onde iriamos ficar por dois dias.

45


CALAMA A SAN PEDRO DE ATACAMA Retas muito longas cortando o deserto marcavam o trecho entre Calama a San Pedro Atacama. Seguíamos subindo em direção a Cordilheira dos Andes, a altitude aumentava gradativamente, passamos por trechos acima dos 3400 metros até chegar a San Pedro de Atacama.

46


CALAMA A SAN PEDRO DE ATACAMA Por quilômetros seguimos pelo deserto que se alterava em cores mais claras e avermelhadas até que vimos uma região mais alta com formações estranhas que chamou nossa atenção. Paramos e por uma estrada de terra fomos explorar o local

Descobrimos que ali era o Valle de la Luna de onde pudemos ver ao longe um oásis, como se fosse uma ilha verde, se destacando no meio do deserto. Nesse oásis ficava a cidade de San Pedro de Atacama.

47


CHEGADA A SAN PEDRO DE ATACAMA Próximo a San Pedro, por incrível que pareça, vimos algumas nuvens negras anunciando chuva. Mal estacionamos as motos no hotel e uma das coisas mais raras nessa região ocorreu: começou a chover. Embora fosse uma chuva bem fina que durou somente alguns minutos, era algo inédito numa região conhecida por ser a mais árida e seca do mundo.

Era com certeza o Atacama nos dando as boas vindas. Michael foi recebido como “fazedor de chuvas”, pelo pessoal do hotel, pois segundo eles faziam 7 anos que não chovia. Após jantar no restaurante do hotel fomos dormir , pois já tínhamos programado para o dia seguinte, bem cedo, uma excursão aos Gêiseres del Tatio.

48


GEISER DEL TATIO Pontualmente as 4 horas da manhã uma Vam veio nos buscar no hotel para irmos aos Gêiser del Tatio. Uma hora de viagem para poder ver os jatos de agua e vapor logo ao amanhecer. Sonolentos seguimos viagem sacolejando na Vam por estradas de terra e asfalto cheia de curvas. Seguimos assim, sem ver nada na escuridão da madrugada, até

que com os primeiros raios de sol chegamos ao Tatio, uma planície gelada a 4200 metros de altitude, com algumas fumarolas de vapor subindo no horizonte. Estava começando nossa aventura pelos Gêiseres del Tatio. Estávamos com sorte, havia nevado na noite anterior fazendo aquele cenário ainda mais místico.

49


GEISER DEL TATIO Ainda com pouca luz do sol, os jatos de agua e vapor subiam alto saindo de buracos do solo. Turistas ficavam aguardando os jatos, que se repetiam normalmente a cada 3 minutos, em volta dos buracos demarcados por círculos de pedras, que limitavam a aproximação dos gêiseres.

Os efeitos da altitude logo se mostraram, caminhar por entre os gêiseres se mostrava mais difícil e cansativo. Nosso guia nos deu então uma regra de ouro: “ se caminhar- não fale, se falar- não caminhe”, e também folhas de coca para mascar.

50


51


PISCINAS DE AGUAS SULFUROSAS Aos mais corajosos havia uma atração a mais além dos próprios gêiseres. Uma piscina formada por agua quente que brotavam do chão ,estava disponível para quem quisesse se aventurar a ficar de roupa de banho com temperatura

ambiente entre 3 a 4 graus centrígrados. Mesmo com a informação que essas aguas sulfurosas eram excelentes para a saúde, somente Debora e Michael se dispuseram a entrar na piscina com outros turistas.

52


GEISER DEL TATIO A medida que ia amanhecendo as cores se tornavam mais definidas e já se podia ver a terra marrom avermelhada pontilhada de montinhos brancos que marcavam a paisagem. Esses montinhos eram pequenos arbustos cobertos de

gelo e neve. Por volta das 10h já se viam poucos jatos de vapor, hora de terminar o passeio com um bom café da manhã servido ali mesmo, regado a chá de folhas de coca para nos ajudar no mal da altitude.

53


VALE DO RIO PUTANA O retorno para San Pedro de Atacama ainda nos reservava boas surpresas. A primeira foi o rio Putana num vale muito verde no meio do deserto. Aquela pequena área verde era uma prova da força que a agua tem em transformar uma região totalmente árida em vida. Lhamas, guanacos e vicunhas pastavam tranquilamente pelas áreas verdes ao lado do curso do rio e nos alagados os pássaros cuidavam de seus ninhos tranquilamente.

54


VALE DO RIO PUTANA Área alagada pelo rio Putana, chamada de Vado Putana, transforma o deserto em paraíso para as guanacos, vicunhas que pastavam pelas áreas verdes e diversas aves que fazem seus ninhos no meio do alagado. No local existiam pequenos currais feitos de pedra que eram utilizados pelos indígenas para recolher as lhamas domesticadas durante a noite.

55


MACHUCA A próxima parada foi num vilarejo chamado Machuca, uma pequena comunidade indígena que era ponto de parada dos turistas que vinham aos Gêiseres de Tatio. Com uma pequena infraestrutura de lanchonetes e banheiros servia como ponto de apoio para as excussões.

56


MACHUCA A igreja cercada por um muro de adobe e com a frente pintada de branco, se destacava no alto da colina. Na ĂĄrea reservada para os veĂ­culos dos turistas se

podia comprar artesanato e tambĂŠm comer espetinho de carne de lhama, numa lanchonete improvisada bastante simples.

57


MACHUCA Embora fosse um povoado bem simples estava todo preparado para os turistas, tirar fotos com filhotes de lhama, comer espetinho de carne de lhama e o artesanato eram fonte de renda para os indĂ­genas.

58


TOCONAO Chegamos a San Pedro do Atacama por volta das 12:00h e ainda com um pouco do mal estar da altitude não almoçamos. Por volta das 15h uma Vam veio nos buscar no hotel para nos levar até o Salar do Atacama. Depois de cerca de 40 km chegamos a Toconao, um povoado as margens do Salar do Atacama. Paramos na praça central, onde varias lojas cheias de turistas compravam artigos de lã de vicunha, os mais caros, lã de lhama e outros artesanatos típicos,

feitos principalmente de madeira de cactos. Nesta praça dois edifícios se destacavam, um era a igreja e o outro uma torre separada uns 30 metros em frente da igreja. A Torre era na realidade o campanário da igreja, mas havia sido construída separado da nave da igreja em função de no passado os constantes terremotos derrubarem a torre sobre a igreja e a destruindo. Assim ficando separadas, caso a torre viesse a ruir não destruiria a nave da igreja.

59


SALAR DO ATACAMA Depois das compras em Toconao, seguimos para o Salar do Atacama e em 15 minutos já estávamos no portal de entrada onde após pagar alguns pesos, tivemos acesso ao Salar. Diferente do que imaginávamos , era uma grande planície coberta por uma crosta de sal petrificada muito áspera e de formas irregulares, algumas pontiagudas e cortantes. Um cenário único, mas sem nenhuma beleza, parecia na realidade uma região totalmente devastada. Só era possível caminhar pelas estreitas trilhas existentes. De coloração branca acinzentada, possuía algumas lagoas bem rasas onde se viam flamingos e alguns pássaros em busca de comida. Os flamingos coloridos de branco e rosa eram as únicas coisas belas que se destacavam naquela planície. Nessas lagoas existiam pequenos moluscos que eram os alimentos dos flamingos e outros pássaros que viviam no Salar. Era difícil de se imaginar que naquele ambiente todo em sal e de lagoas de agua muito salgada pudesse existir qualquer tipo de vida.

60


SALAR DO ATACAMA Os flamingos com seu colorido rosa e branco quebravam a monotonia daquele cenário tão rústico que se estendia pelo horizonte a perder de vista. De acordo com o guia, existem 3 tipos de flamingos na região e o que estávamos vendo era o chamado flamingo andino. O Salar do Atacama é considerado o terceiro maior do mundo com 100 km de comprimento por 80 km de largura.

61


SALAR DO ATACAMA Nas lagoas de agua salgada, viviam pequenos moluscos que serviam de alimentos para os pássaros e alguns roedores que pudemos ver se escondendo na estruturas irregulares do sal.

Além dos flamingos outros pássaros também se alimentavam nas lagoas, entre eles um pequeno pássaro chamado Playero, que migra do ártico canadense para o extremo sul do Chile.

62


SAN PEDRO ATACAMA Chegamos de volta A San Pedro Atacama no final da tarde, a tempo ainda de fazer um passeio a pĂŠ por suas ruas . O local mais movimentado era conhecido como Calle Caracoles, uma rua rustica onde se encontrava de tudo: restaurantes, bares, agencias de turismo, lojas de artesanatos indĂ­genas, identificadas com suas bandeiras de quadriculados multicoloridos. Turistas do mundo todo se misturavam aos habitantes locais, em sua maioria descendentes de indĂ­genas, gente simples e hospitaleira.

63


SAN PEDRO ATACAMA Os efeitos da altitude definitivamente tinham passado e agora com o por do sol, todos estavam famintos, nĂŁo foi muito difĂ­cil escolher um dos charmosos restaurantes existentes por ali e desfrutar de boa comida . Voltamos ao hotel com o plano do dia seguinte discutido : parte da manhĂŁ passear por San Pedro, e a tarde, a partir das 15:00h, ir conhecer o Vale da Lua e o Vale da Morte. Esse seria o nosso ultimo dia em San Pedro, no dia seguinte eu e Michael iriamos seguir nossa viagem de moto, enquanto Sandra, Dio e Debora retornariam ao Brasil.

64


SAN PEDRO ATACAMA No centro de San Pedro as casas eram todas pintadas de branco, com uma grande praça próximo a igreja. Em volta dessa praça vários restaurantes e bares, com suas varandas abertas para a rua eram um convite para tomar uma cerveja preguiçosa. Próximo a praça encontramos um tipo de mercado onde se vendiam artesanato e ervas medicinais, principalmente folha de coca. Acabamos nos envolvendo com o clima da cidade e já sem tempo para almoçar tomamos um lanche rápido e voltamos ao hotel de onde uma van nos iria levar para conhecer o Vale da Lua e o Vale da Morte.

65


VALLE DE LA MUERTE Nossa primeira parada foi poucos quilómetros de San Pedro no Vale da Morte que também é conhecido como Vale de Marte. Formações rochosas e dunas de coloração avermelhada, se estendiam a perder de vista, sem qualquer traço de vegetação, realmente parecia que estávamos em Marte. Ao fundo ainda se via o Licancabur, agora com parte do seu cume nevado encoberto por algumas nuvens.

66


VALE DE LA MUERTE Embora fosse totalmente árido, esse vale é de uma beleza espetacular, para onde se olhasse havia alguma duna, uma formação de rochas de cor diferente ou a combinação delas eram magicas e atraiam nossa atenção nos seus detalhes.

67


VALLE DE LA MUERTE Depois de muitas fotos e brincadeiras seguimos para o Vale da Lua, mas com uma parada no alto de um paredão de pedras, com uma visão impressionante de todo o vale, e onde uma formação

rochosa avançava no abismo formado pelo paredão, conhecida como Pedra do Coiote, era ponto obrigatório para fotos dos mais corajosos.

68


VALLE DE LA MUERTE Antes de chegarmos ao Vale da Lua, fizemos mais uma parada, agora para ver uma escultura natural chamada de Três Marias, por lembrar a santa em posição de oração. Tentamos, mas não conseguimos perceber essa semelhança.

Nas proximidades também havia outra mais parecida com a cabeça de um lagarto de uma casa de pedra que segundo o utilizada no passado por tropeiros como descanso.

escultura e ruinas guia era área de

69


VALLE DE LA LUNA No final da tarde chegamos no famoso Vale da Lua para finalizarmos o dia vendo o por do sol como fazem a maioria dos turistas. Mas para isso tínhamos que enfrentar uma caminhada em subida ao topo de uma duna, ponto ideal de contemplação desse lugar mágico.

70


VALLE DE LA LUNA Uma grande duna de areia fina junto com uma formação chamada anfiteatro, se destacavam naquela paisagem que realmente lembrava solo lunar. Ficamos ali aguardando o por do sol, junto com dezenas de turistas

71


SAN PEDRO ATACAMA As nuvens não deixaram que o por do sol se mostrasse em sua plenitude, mas mesmo assim foi um espetáculo digno de ser reverenciado e fazer nossos pensamentos voar longe em nossa reflexões. Voltamos a San Pedro Atacama e fomos jantar no mesmo restaurante da noite anterior, encerrando nosso ultimo dia nesta cidade magica. Na manha seguinte iniciaríamos a segunda fase de nossa Jornada Atacama.

72


BOLIVIA Vulcão Licancabur

San Pedro Atacama

Paso Jama (Altitude 4292 m)

Susques San Salvador Jujuy Salta Cafayate

Fiambala

OCEANO PACIFICO

DISTANCIAS (km) Susques : 314 San Salvador Jujuy : 220 Salta : 98 Cafayate : 212 Fiambala : 520 TOTAL ETAPA II : 1364

BRASIL

ARGENTINA Santiago

URUGUAI 73


SÃO PEDRO DE ATACANA A FIAMBALA

Nessa etapa vamos cruzar a Cordilheira dos Andes atravessando a fronteira do Chile com Argentina e seguir sentido sul até Fiambala. Hoje nosso plano era cruzar a fronteira pelo Paso Sico, em estrada de cascalho, mas o oficial da imigração nos informou que esse Paso estava intransitável desde que o rally Dakar tinha passado por lá em Janeiro. Devido as fortes chuvas na região haviam ocorrido vários desmoronamentos interrompendo totalmente a passagem de qualquer veículo.

para mais de 4800 metros em menos de 50 km na Cordilheira dos Andes. Para enfrentar essas altitudes o chá de folhas de coca já estava em nossa bagagem.

Decidimos então seguir pelo Paso Jama, que era em asfalto e estava aberto ao trafego. Com essa alteração, hoje iriamos até San Salvador de Jujuy e não mais a Cachi, conforme plano original. Sairíamos de 2400 metros de altitude de San Pedro de Atacama

Mas essas são as possibilidades que viajar de moto dos dão, sair do caminho para buscar aventuras. Não pensamos duas vezes, la fomos nós, e essa decisão nos coroou com umas das mais fantásticas paisagens que vimos por toda a viagem, a sorte continuava ao nosso lado.

Com a mudança de planos Michael consultou o mapa para ajustar nossa roteiro e achou algo que nos interessou, embora não estivesse em nosso roteiro Iríamos passar ao lado da Lagoa Verde aos pés do vulcão Licancabur, mas para irmos ate ela teríamos que fazer um desvio em estrada de terra, e entrar na Bolívia, o que não estava efetivamente em nossos planos.

74


LAGUNA VERDE Cerca de 40km depois de San Pedro Atacama, deixamos a estrada asfaltada, e entramos a esquerda numa estrada de terra de cor marrom avermelhada que com o céu muito azul de poucas nuvens e ao fundo o imponente vulcão Licancabur com seu cume

nevado, compunham um cenário indescritível. Já sentíamos os efeitos da altitude, estávamos a mais de 4500 metros de altitude. Nesse local conseguimos algumas das fotos mais bonitas de nossa viagem , verdadeiras pinturas.

75


76


ENTRANDO NA BOLIVIA Chegamos a fronteira com a Bolívia, onde existia um modesto posto da imigração e muitas pessoas e veículos parados aguardando liberação para atravessar a fronteira. A maioria das pessoas que estavam aguardando eram bolivianos que haviam vindo ao Chile fazer compras e agora estavam retornando para suas casas. Depois de muita burocracia e “conversa” conseguimos autorização para atravessar a fronteira sem ter que ir até posto da alfandega que ficava a mais de 50 quilômetros de onde estávamos. Finalmente pudemos entrar e 6 quilômetros a frente paramos novamente para pagar US$ 40, cada moto para poder entrar na Reserva Nacional de Fauna Andina Eduardo Avaroa.

77


LAGUNA VERDE Na Bolívia estrada era completamente diferente, com muito cascalho solto uma trilha estreita se formava e por onde era menos difícil a pilotagem das motos. Numa escapada dessas trilhas, Wilson entrou numa parte de muito cascalho e caiu, sem danificar a moto mas ele ficou com perna muito dolorida por vários dias. Logo chegamos em uma primeira lagoa, a Lagoa Branca, nada de especial mas alguns metros a frente finalmente a belíssima Lagoa Verde, que mais parecia uma grande esmeralda incrustrada aos pés do vulcão Licancabur do que uma lagoa. Uma vista que recompensava todas as dificuldades enfrentadas.

78


79


80


PASO JAMA Voltamos a Ruta 27 em direção fronteira com a Argentina. Nesse trecho percorremos mais de 300 km em altitudes acima dos 4.000 metros em nossa primeira travessia da Cordilheira dos Antes. A paisagem era “lunar” com planícies e montanhas coloridas em

tons de beije e marrom avermelhado. De vez em quando apareciam pequenas áreas alagadas com vegetação rasteira onde vicunhas pastavam tranquilamente.

81


82


83


PASO JAMA : QUASE UMA TRAGÉDIA. Chegamos a fronteira com a Argentina embaixo de chuva e muito frio. Passamos pela imigração e alfandega e seguimos viagem. Algumas horas depois a chuva deu uma trégua e Michael parou para consultar o mapa, eu que estava atrás, passei por ele e foi minha sorte. Michael viu e me avisou, pelo intercomunicador, que meu tanque reserva estava vazando muita gasolina em cima dos escapamentos da moto. Parei imediatamente e levantei o tanque que havia se soltado

parcialmente da rabeta da moto e ficado na frente dos canos de escape, que com o calor dos gases furou e a gasolina começou a vazar sobre o escapamento da moto. Por muita sorte não ocorreu um incêndio que teria destruído a moto e antecipado de forma trágica o término de minha viagem. Lição aprendida, tanque reserva tem que estar muito bem amarrado e protegido na moto. Passado o susto, aproveitamos e reabastecemos as motos com o que havia sobrado de gasolina e seguimos viagem.

84


CORDILHEIRA DOS ANDES : LADO ARGENTINO Agora com pouca gasolina, paramos em Susques e reabastecemos num posto de gasolina em ruinas, embaixo de chuva, que havia voltado com toda força novamente. Finalmente a chuva parou e agora o lado argentino da Cordilheira dos Andes era completamente diferente do lado chileno. A vegetação rasteira estava presente dando um colorido

alegre para aquelas montanhas, ainda estávamos a cerca de 4000 metros de altitude. Grandes cactos apareceram concentrados num pequeno trecho e depois desapareceram, caprichos da natureza. Pilotar nossas motos por aquela estrada sinuosa em descida, naquele cenário, era muito especial, a recompensa pelo longo trecho sob chuva.

85


86


SALINAS GRANDE Logo depois da descida da serra entramos num grande vale, onde a estrada cruzava o salar de Salinas Grande. Uma planície branca a se perder de vista mas o céu ainda encoberto prejudicou nossas fotos, mesmo assim a visão daquele

mar de sal era impressionante. Diferente de outros salares que já tinhamos visto, era totalmente branco, uma pintura a 3400 metros de altitude.

87


88


QUEBRADAS DE HUMAHUACA. Após Salinas Grandes, atravessamos o vale e a estrada começou a subir novamente e chegamos a 4.200 m de altitude. A neblina muito densa restringia nossa visão a menos de 20 metros. Era uma estrada com curvas muita fechadas subindo fortemente a montanha. Chegamos no topo e começou uma descida acentuada sem ter noção de onde estávamos, pois não conseguíamos ver nada além da faixa amarela da estrada no asfalto da estrada.

De repente saímos da neblina e pudemos ver que estávamos descendo as encostas de um cânion profundo, com a estrada serpenteando por formações rochosas singulares de tons marrom avermelhado a verde escuro, A neblina agora estava sobre nossas cabeças encobrindo todo o céu. Estávamos vivendo um momento mágico, nos sentimos dentro de uma obra de arte, a indescritível Quebrada de Humahuaca.

89


90


91


SAN SALVADOR DE JUJUY Seguimos pela Ruta 52 até Purmamarca, uma cidadezinha muito bonita ainda no Vale de Humahuaca, até o entroncamento com a Ruta 9 que nos levaria até San Salvador de Jujuy, nosso destino de hoje.

Próximo a Purmamarca, notamos começavam a aparecer algumas montanhas rochas de varias cores. Na ruta 9 entramos vale muito verde, e ao anoitecer chegamos em Salvador de Jujuy, mortos de cansado.

que com num San

92


SAN SALVADOR JUJUY A CAFAYATE O plano de hoje era irmos para Cafayate, com uma parada para almoço em Salta. Tomamos a Ruta 9 e ai já tivemos a primeira surpresa, a estrada era muito estreita, parecia uma estrada de terra que havia sido asfaltada. Era tão estreita que não permitia que dois

veículos cruzassem sem ter que sair fora da pista. Interessante que se tratava de uma Ruta Nacional Argentina. Mas era muito pitoresca e bucólica, cheia de curvas, que fizeram nossa alegria, e floresta muito rica, com vegetação diversificada e de um verde que não víamos a tempo.

93


SALTA Nossa passagem por Salta foi rápida, com um recorrido pela parte central onde a arquitetura da época da colonização espanhola esta bem preservada, destaque para a Catedral e Mosteiro Franciscano.

94


SALTA A CAFAYATE Após almoço em Salta seguimos pela Ruta 68 para Cafayate. A rodovia nos seus primeiros 150 quilômetros percorria o vale do Rio de las Conchas com a floresta cobrindo as suas margens e montanhas. Numa das parada para fotos, vimos ao longe duas bicicletas vindo em nossa direção. Esperamos e ai conhecemos os verdadeiros aventureiros, uma família francesa viajando com duas bicicletas. Fabian e Carine, com suas filhas de 3 e 7 anos, haviam saído de Quito no Equador, e pretendiam pedalar 10.000 km até Ushuaia, no extremo sul da Argentina. No site http://www.unefamilleunmonde.com/ , seguimos a viagem dessa família aventureira.

95


QUEBRADA CAFAYATE Faltando uns 60 km para chegarmos a Cafayate, a paisagem mudou completamente. As montanhas agora sem vegetação eram multicoloridas. As formações rochosas de formas únicas e cores fortes e indescritíveis era mais uma das boas surpresas que tínhamos nessa nossa aventura. Essa região é conhecida como Quebrada de Cafayate ou Quebradas de las Conchas.

96


97


98


99


CAFAYATE Cafayate é uma simpática cidadezinha, famosa pela produção de vinhos, sendo considerada a segunda região produtora da Argentina, perdendo só para a região de Mendoza. Chegamos a tempo de desfrutarmos o fim de tarde nos jardins do hotel junto a piscina. Uma chuva inesperada interrompeu nosso happy hour nos jardins, mas que continuou no interior do hotel. Terminamos esse dia espetacular com jantar em bom restaurante regado com excelente vinho da região.

100


CAFAYATE A FIAMBALA Foi com essa imagem em nossas janelas que despertamos em Cafayate para iniciamos mais um dia de nossa Jornada. No café da manhã conhecemos um casal brasileiro que viajava em veículo 4x4 e que estavam vindo de Fiambala, nosso destino daquele dia. Mais uma vez a sorte nos ajudou, esse casal nos informou que devido as fortes chuvas, as estradas que tinhamos planejado passar estavam com transito interrompido em função de muitos desmoronamentos. Com a orientação deles alteramos nosso roteiro para escapar desses trechos e tentar chegar a Fiambala no final do dia.

101


CAFAYATE A FIAMBALA Hoje iriamos pilotar nossas motos por um trecho de 300 km pela icônica Ruta 40, que em seus mais de 5000km cruza a Argentina de Norte a Sul paralela a Cordilheira dos Andes. Saindo de Cafayate passamos por luxuosos Hotéis Spa das vinícolas da região, frequentado por turistas amantes dos vinhos finos. Inicialmente seguimos pelo Ruta 40 até o entroncamento com a Ruta 307, onde tivemos que fazer um desvio em função da Ruta 40 estar interditada nesse trecho. A rodovia acompanhava o Rio Santa Maria que atravessamos para tomar a Ruta 307.

102


MUSEU PACHAMAMA Uns 10 minutos após entrarmos na Ruta 307, no povoado de Amaicha del Valle, apareceram varias placas indicando Museo Pachamama, não tinhamos idéia do que se tratava, assim decidimos ir verificar. Algo espetacular nos esperava, um museu todo dedicado a cultura indígena da região, havia sido

construído por um artista local, com recursos próprios, numa área de mais de 10000 m2 . No pátio varias esculturas e pinturas dos deuses estavam distribuídos ao redor do edifico onde estavam as salas de exposição. Era algo inimaginável num lugar tão remoto .

103


MUSEU PACHAMAMA As esculturas eram dedicadas aos deuses, Pachamama ( Mãe Terra) , ao deus Sol e a deusa Lua. Todo construído em pedras esse museu é obra do artista Hector Cruz, que o projetou, construiu e o mantem a suas custas.

104


MUSEU PACHAMAMA Nas varias salas de exposição estavam retratados modos de vida dos indígenas na época da invasão espanhola, uma grande maquete da região com seus vales e montanhas, utensílios e ferramentas da época.

105


SANTA MARIA A estrada de terra esta muito divertida, mas infelizmente terminou na cidadezinha de Santa Maria, onde aproveitamos para almoรงar e reabastecer a motos.

106


RUTA 40 EM TERRA. A visita ao museu Pachamama nos atrasou em mais de 3 horas, mas tinha valido a pena. Voltamos a estrada, agora na Ruta 40, e tinhamos pela frente cerca de 50km em estrada de terra A estrada era muito boa e passava por vรกrios povoados e rios que atravessavam a pista, chamados de badenes, espalhando lama e pedras. Alguns com correnteza forte que chegava a deslocar as motos. Com todo o cuidado conseguimos vencer esses desafios sem nenhum incidente.

107


108


FIAMBALA Continuamos pela Ruta 40, agora asfaltada, e 15 km a frente estava interditada por desmoronamento, com a passagem sendo feita em meia pista em comboios coordenados pela policia. Ai ficamos parados por cerca de uma hora, nos atrasando ainda mais. Por falta de gasolina em Belén tivemos que ir ate San Blas de los Sauces.

Chegamos em Fiambala já era noite, encontrar uma pousada para pernoitar foi mais uma dificuldade, pois todas estava lotadas. Finalmente conseguimos 2 quartos em uma pousada ainda não inaugurada onde só nós pernoitamos. Assim completamos a Etapa II de nossa Jornada.

109


OCEANO PACIFICO

DISTANCIAS (km) Copiapó : 515 Vicuña : 400 San Juan : 562 Mendoza : 180 Santiago : 370 TOTAL ETAPA III : 2027

110


FIAMBALA A SANTIAGO Bla bal bla..

Nessa última etapa de nossa Jornada iriamos cruzar a Cordilheira dos Andes por três vezes até voltar ao nosso ponto de partida em Santiago, no Chile. A nossa ansiedade era muito grande, seria a primeira vez que iriamos atravessar as grandes altitudes da Cordilheira dos Andes em estrada de terra acima dos 4700 metros. O tempo estava ensolarado o que nos animou a levantar logo cedo, arrumar a bagagem em nossas motos para seguir viagem. Nosso plano era de cumprir essa etapa em 5 dias, onde daríamos sequencia no nosso ziguezague atravessando a Cordilheira dos Andes , principal palco de nossa aventura.

Os Passos de San Francisco e Agua Negra eram as estrelas dessa etapa, as informações que tinhamos das belezas e singularidades por que iriamos passar nessas regiões nos animavam muito. O ar fresco das montanhas e o céu azul era tudo o que precisávamos para iniciar essa Etapa., Assim nos despedimos de Fiambala e tomamos a direção do Paso San Francisco, na fronteira da Argentina com Chile. Tinhamos certeza que muitas aventuras nos estavam reservadas para essa Etapa.

111


FIAMBALA AO PASSO SAN FRANCISCO. Tomamos a Ruta 60 em direção ao Paso San Francisco, e cerca de 50 quilômetros depois a região começou a ficar árida e montanhas coloridas, como as que tinhamos visto em Purmamarca e Cafayate se elevavam a nossa frente. A Ruta 60 nesse trecho estava asfaltada , o que nos permitiu desenvolver boa velocidade e nos divertir pilotando nossas bikes.

112


PASSO SAN FRANCISCO. Estรกvamos ganhando altitude rapidamente, de 1500 metros em Fiambala chegamos a 3500 metros em 100 km. Fizemos vรกrias paradas para tomar chรก de folhas de coca e fotografar guanacos e jumentos nos pequenos oรกsis que vez ou outra surgiam ao lado da estrada.

113


REFUGIOS E HOTEL DE LUXO Nos últimos 100 quilômetros antes de chegarmos a fronteira com o Chile encontramos alguns refúgios de montanha, que eram pequenas cabanas onde qualquer pessoa poderia fazer uso em caso de nevasca ou emergência. Em seu interior tinha agua, agasalho, cobertor, lenha para uma lareira. Esses refúgios estavam ligados a uma central de

emergência que podia ser acessada através de intercomunicador. Nesse trecho conhecemos também o Hotel Cortaderas, um hotel de montanha que havia sido inaugurado ha pouco tempo. As instalações do hotel eram muito boas, uma ótima opção de hospedagem, num lugar único.

114


PASSO SAN FRANCISCO. Já próximos a fronteira um cenário espetacular de descortinou para nós, algo totalmente novo e indescritível. Agora as montanhas mais altas mostravam seus cumes nevados e mantos de vegetação rasteira de cor amarelada, cobriam os vales e encostas das montanhas.

O tempo também havia mudado, algumas nuvens acinzentadas já se mostravam no horizonte. Era impressionante, a cada curva éramos surpreendidos com festival de cores e formas, simplesmente fantástico e intrigante, a composição de cores dava um ar místico àquela paisagem.

115


PORTAL PARA OUTRA DIMENSÃO? Como definir uma paisagem como esta que nos leva a sentir sensações tão distintas dependendo para onde olhamos. Seria um portal? Para onde nos levaria?

116


117


PUESTO DE CONTROL LAS GRUTAS. Faltavam ainda uns 40 km para a fronteira com o Chile quando chegamos ao posto imigração e alfandegário Las Grutas, onde fomos muito bem recebidos pelos oficiais argentinos e também acabamos fazendo amizade com dois viajantes que como tantos gostavam muito de motos. Bate papo agradável com eles e com os simpáticos e prestativos oficiais argentinos que nos deram muitas dicas dos trechos que

teríamos pela frente. Essa é uma das magicas que o motociclismo, a conexão espontânea entre pessoas até então desconhecidas. Acabamos sendo presenteados com uma garrafa de bom vinho argentino. Nesta região existiam vários vulcões e montanhas que marcavam o horizonte com uma paisagem indescritível.

118


OJOS DEL SALADO. Dentre as várias montanhas dessa região, uma se destacava não só por sua imponência e beleza mas também pelo seu espetacular pico nevado. Diferente das outras montanhas, suas encostas pareciam ter sido lapidadas. Era na realidade um vulcão, o mais alto do mundo com 6.893 metros de altura.

119


120


PRESENTE DA NATUREZA Depois do Posto de Controle argentino continuamos subindo a cordilheira e de repente fomos surpreendidos inicialmente por um tipo de nevoeiro e uma chuva fina e muito frio. Quase chegando no marco da fronteira, mais uma

das boas surpresas, começou a nevar. Timidamente mas era neve. Como duas crianças brincamos com aquele inesperado presente da natureza. Após curtir aquele momento único, fomos em frente, e a partir de agora em estrada de terra.

121


122


PASO SAN FRANCISCO A COPIAPÓ Debaixo de uma chuva fina e muito frio, seguimos viagem pela estrada de terra e cascalho. Fazia muito frio pois estávamos acima de 4500 metros de altitude.

Poucos quilômetros depois da fronteira, parou de chover e nos deparamos com uma maravilhosa lagoa verde ao lado da estrada.

123


LAGUNA VERDE Totalmente isolada a 4.300 metros de altitude, a Laguna Verde com sua coloração fantástica, contrasta com as montanhas nevadas e a paisagem desértica em torno dela. A medida que nos aproximamos sua beleza nos hipnotizava.

124


DE VOLTA AO ATACAMA Após 100 km da fronteira, chegamos no posto de Controle Aduaneiro e Imigração do Chile, já na aridez do Deserto do Atacama. Fomos alertados pelos oficiais que a partir dali

iniciaríamos descida íngreme pela Quebrada de los Perros, em estrada bem acidentada e estreita. Rapidamente fizemos imigração e alfandega e seguimos viagem.

125


QUEBRADA LOS PERROS Os oficiais tinha razรฃo, agora estรกvamos descendo de forma abrupta em passagens estreitas entre montanhas numa estrada de cascalho e areia.

Algumas vezes apareciam faixas brancas de sal que se destacavam no cenรกrio dominado pelo tons marrom e beije das montanhas.

126


127


128


COPIAPÓ Depois de 200 km descendo a Cordilheira dos Andes, chegamos a região de Copiapó, onde após passarmos por uma região rochosa de coloração roxa, já se podia ver alguma vegetação e grandes vales .

129


COPIAPÓ Chegamos a Copiapó, que para quem não se lembra, foi palco do acidente com os 33 mineiros que ficaram soterrados em uma mina por mais de 30 dias. Uma cidade moderna e agitada, tivemos ate dificuldade de arrumar hotel, mas acabamos ficando numa boa pensão chamada “La Casona”

nome que no Brasil poderia ter conotação pejorativa ou no mínimo ambígua. Mas que aqui era muito boa e tinha o que precisávamos após um dia espetacular mas cansativo. Na praça central nos chamou atenção as arvores muito estranhas com seus troncos deformados.

130


COPIAPO Arvores com seus troncos todos deformados , chamadas pimenteiras, são a atração da praça Plat no centro de Copiapó que davam um ar meio fantasmagórico àquela praça.

131


COPIAPO A VICUÑA Hoje nosso dia seria tranquilo, a diversão ficaria por conta de pilotar nossas motos pelas autoestradas do Chile no deserto do Atacama novamente.

Iriamos até a cidade de Vicuña, a cerca de 400km ao sul de Copiapó, onde pousaríamos para atravessar a Cordilheira dos Andes no dia seguinte.

132


VALE DO RIO ELQUI Próximo a La Serena tomamos a Ruta 41 em direção a Vicuña, e neste trecho o Rio Elqui acompanhava a estrada e tornava aquele vale, no meio da aridez do Atacama, em uma região viva onde cabras e videiras se espalhavam ao lado da estrada.

Há uns 20 km de Vicuña o Rio Elqui estava represado formando um grande lago, onde muitas pessoas se divertiam praticando windsurfe e kitesurfe. Era realmente incrível imaginar um lago no meio do deserto ser palco para esportes aquáticos.

133


VICUÑA Vicuña uma cidadezinha muito bonita e muito tranquila com ar bucólico das cidades do interior nos esperava. A igreja e uma torre se destacavam na grande praça central, onde pessoas muito simpáticas já nos informaram onde

Poderíamos encontrar um bom hotel para nos hospedarmos. Nos foi recomendado a Hosteria de Vicuña, que no passado tinha sido a sede de uma fazenda e atualmente era um excelente hotel.

134


HOSTERIA DE VICUĂ‘A O hotel era espetacular, uma antiga sede de fazenda havia sido transformada em hotel adaptando as instalaçþes e mantendo um jardim florido e com grandes palmeiras. Os quartos tinham acesso direto a esse jardim onde

nossas bikes ficaram estacionadas em meio a quiosques e flores. Nem fomos ver outras alternativas de hospedagem, esse lugar era muito especial.

135


OBSERVATORIO ASTRONOMICO CERRO MAMALLUCA Nosso “Spa” aos pés da Cordilheira dos Andes. A noite ainda fomos ao Observatório Astronômico Cerro Mamalluca, onde num tour guiado por astrônomos tivemos uma aula de astronomia e pudemos observar algumas constelações e planetas graças a ausência de nuvens e ao céu limpíssimo sem efeito de qualquer poluição, Saturno estava visível de forma exuberante naquela noite.

136


PASO DE AGUA NEGRA O grande dia havia chegado, hoje iriamos atravessar o Paso de Agua Negra, 250 km em estrada de terra e 4780 metros de altitude. Fomos liberados pela Policia de fronteira somente as 9:00h para seguir viagem, em função das fortes chuvas no lado argentino da Cordilheira dos Andes. .

Seguimos pela Ruta 41 em direção a fronteira com Argentina. Nesse trecho o rio Elqui continuava nos acompanhando e nas encostas muito áridas formadas por rochas vulcânicas grandes parreirais surgiam inexplicavelmente.

137


PARREIRAIS NA CORDILHEIRA Uma tela fina de plástico para permitir passagem do sol, mas impedir que as uvas fossem danificadas pela areia fina trazidos pelos fortes ventos, cobriam os parreirais que iam das encostas das montanhas da cordilheira até a beira da estrada. Como era possível os parreirais sobreviverem em terreno tão árido.?

138


POSTO DE CONTROLE CHILENO. Cerca de 90km após Vicuña chegamos ao Posto de Controle Alfandegário e Imigratório do Chile. Atendido com muita eficiência e simpatia pelos oficiais chilenos, estávamos fazendo a liberação de nossas motos quando chegou um casal argentino em uma moto BMW 1200 GS.

Rapidamente começamos uma conversa animada e soubemos que eles iriam seguir o mesmo roteiro que faríamos naquele dia. Como fomos liberados antes deles, ficamos de nos encontrar em Las Flores para jantarmos juntos. Agora tinhamos 250 km em terra pela frente.

139


O PREGO. O dia estava espetacular, a estrada de cascalho era muito boa, estávamos nos divertindo. Mas de repente Michael parou, um grande prego havia furado seu pneu traseiro. Tentamos reparar com o spray selante, mas não funcionou. A válvula esta entupida. Nisso o casal argentino nos alcançou e parou para nos ajudar..

Mas nosso spray acabou e não vedou o furo. Vimos então duas casinhas a uns 300 metros de onde estávamos. Michael foi até la e por sorte haviam dois mineiros chilenos que deram a Michael outra lata de spray selante mas que também não funcionou. .

140


DE VOLTA A VICUÑA Já sem condição de recuperar o pneu ali, a única alternativa era voltar para Vicuña, mas como? Foi quando uma caminhonete chegou e foi nas casinhas mas logo em seguida veio em nossa direção. Era o proprietário da mina que tinha vindo buscar os dois mineiros que trabalhavam para ele. Prontamente se dispor a nos dar carona ate Vicuña. Levamos a moto junto as casinhas, tiramos a roda

traseira, eu fui na caminhonete e Michael voltou com a outra moto. Nossos amigos argentinos só então seguiram viagem, amizade de poucas horas com essa solidariedade, coisas do motociclismo. Tivemos que explicar tudo para os oficiais do Posto de Controle chileno, já que tinhamos dado saída do Chile mas não tinhamos dado entrada na Argentina.

141


EL MAGO Chegando em Vicuña, o motorista da caminhonete já nos deixou em uma borracharia, chamada “ El Mago”, onde um senhor simpático reparou nosso pneu. Voltamos ao Hotel, que ficava próximo a borracharia, e com a ajuda da recepcionista

contratamos um taxi para nos levar na manhã seguinte para onde tinhamos deixado a moto. O dia não tinha sido como planejado, mas estávamos contentes mesmo assim, superação das dificuldades também era motivo de alegria comemoração

142


VOLTANDO A FRONTEIRA. Bem cedo seguimos de taxi para a fronteira onde tinhamos deixado a moto. Os oficiais da alfandega foram muito prestativos e nos liberaram rapidamente mesmo sob condições tão inédita de estarmos saindo duas vezes do Chile em menos de 24h.

A moto estava onde tinhamos deixado, onde uma cabra solitária nos recebeu. Montamos a roda rapidamente e seguimos viagem, estávamos atrasados em um dia no nosso plano de viagem.

143


PASO DE AGUA NEGRA A estrada de cascalho era muito boa e seguia por um vale de montanhas muito altas. Logo encontramos um pequeno lago de aguas verdes. O Rio Elqui seguia ao lado da estrada atĂŠ que a subida da montanha se tornou mais Ă­ngreme.

A vista era espetacular, entre as montanhas na maioria de cor acinzentada, surgiam algumas multicoloridas que mais pareciam pinturas. Muitas curvas faziam a pilotagem muito divertida.

144


PASO DE AGUA NEGRA Que lugar espetacular, a estrada de cascalho ia serpenteando entre as montanhas e ganhando altitude. Por ser de cascalho a estrada não agredia mas se harmonizava com o ambiente. As encostas eram muito íngremes e a pilotagem entre cascalho e areia na beira de abismos era

desafiante e ao mesmo tempo prazerosa. Mesmo com toda a aridez havia uma beleza inexplicável, o azul do céu e as montanhas com suas formas e suas cores variando em tons de marrom e beije e uma em especial multicolorida eram fantásticas.

145


146


147


148


149


PASO DE AGUA NEGRA Chegamos ao topo , como alpinistas comemoramos muito essa conquista e deixamos nosso sticker na placa para marcar nossa passagem por ali, nos fez falta uma bandeira. Era possível ver parte do caminho que tinhamos percorrido, e

muitas montanhas agora eram vistas abaixo de nós, pois estávamos a 4780 metros de altitude. Algumas montanhas com seu picos nevados , se misturavam com a nuvens brancas num céu espetacularmente azul

150


151


OS PENITENTES A partir do marco estávamos na Argentina, e de agora em diante desceríamos dos 4780 metros para cerca de 1800 metros até Las Flores quando iriamos pegar a Ruta 149 para Calingasta.

Ainda encontramos ao lado da estrada algumas formações de neve, remanescentes do inverno, que ocorrem nesta região e são chamadas “penitentes”, obras de arte da natureza.

152


LAS FLORES Próximo a Las Flores os sinais das fortes chuvas, da noite anterior, ainda estavam presentes com muita lama e grandes poças de agua. Já era por volta das 16:00 quando paramos para almoçar em um simpático restaurante que tinha hasteadas as bandeira do Brasil, Chile e Argentina. Após almoço tomamos Ruta 412 em direção a Calingasta, onde deveríamos chegar no final da tarde.

153


PNEU FURADO NOVAMENTE A estrada de pista única, era asfaltada e de trafego intenso. Após um dia todo em estrada de cascalho, acelerávamos nossas bikes quando o pneu da moto de Michael furou novamente, o mesmo que já tinha furado no Chile. Rapidamente desmontamos a roda, e passamos a pedir carona para carros que passavam, até que um micro-ônibus

parou e me levou até a cidade de Rodeo a uns 30 km de onde estávamos. Enquanto isso Michael ficou esperando junto das motos num frio de doer. Já estava escurecendo quando retornei com o pneu consertado. Como já estava anoitecendo, decidimos ir para San Juan por ser uma estrada mais segura para viajarmos durante a noite.

154


SAN JUAN Depois de uma trecho sob chuva e frio chegamos a San Juan por volta das 22:00h. Uma cidade bonita e rapidamente encontramos um bom hotel onde estava sendo realizado uma festa de casamento. Convidados elegantemente vestidos no hall do hotel e nós molhados e sujos de barro dos pé a cabeça, era divertido ver como nos olhavam. Mas nada abalava nosso

humor, estávamos em estado de graça. Tinhamos realizado um sonho hoje, cruzar o Paso de Agua Negra a 4780 metros de altitude, por estradas estreitas de cascalho a beira de precipícios com suas paisagens únicas Um bom banho quente e um jantar foram suficientes para estarmos prontos para as aventuras do dia seguinte , que começaram com fotos de San Juan.

155


ULTIMO DIA. Hoje iriamos cruzar a Cordilheira dos Antes pela quarta vez com destino a Santiago no Chile. Seguimos pela Ruta 40 até próximo a Mendoza onde saímos para a Ruta 52 em direção a Huspallata.

Com muitas curvas e uma paisagem espetacular entre montanhas que eram marcadas por arbustos que floridos de amarelo, que se espalhavam pelos vales.

156


157


VILLAVICENCIO JĂĄ tinhamos percorrido cerca de 90 km quando chegamos ao vilarejo Villavicencio. NĂŁo resistimos a um restaurante a beira da estrada onde aproveitamos para degustar as delicias do local.

Por sorte paramos ali, pois nos informaram que havia ocorrido um desmoronamento hĂĄ uns 15km e a passagem estava interrompida. Assim tivemos que retornar e seguir para Santiago via Mendoza.

158


SEM GASOLINA O imprevisto a caminho de Uspallata nos fez perder cerca de 200 km, assim precisaríamos reabastecer nossas motos para poder chegar a Santiago. Paramos em Mendoza , mas por ter sido feriado na sexta feira, os caminhões tanques não reabasteceram os postos Assim não havia gasolina em nenhum posto de Mendoza. Um motorista nos informou que na Ruta 7,um posto há uns

100 quilômetros a caminho de Santiago, tinha gasolina. Sem alternativas e tendo que chegar em Santiago ainda hoje, arriscamos e seguimos viagem sem ter gasolina suficiente para chegar ao nosso destino. Chegamos a esse posto quase sem combustível, e tivemos que enfrentar uma fila enorme para abastecer nossas bikes, era domingo e muitos chilenos retornavam do feriado.

159


PASO LOS LIBERTADORES Chegamos a fronteira entre Argentina e Chile ao entardecer, as sombras jรก se mostravam nos vales e montanhas. Esse passo jรก era nosso conhecido de outras viagens, mas sempre nos surpreendia com a beleza de sua altas montanhas, incluindo o Aconcรกgua com seus quase 7000 metros de altitude.

Los Caracoles, um conjunto de muitas curvas em ziguezague pelas encostas das montanhas era garantia de diversรฃo na pilotagem de nossas bikes.

160


161


ESTAÇÃO FERROVIARIA ABANDONADA As ruinas de uma antiga estação ferroviária era ponto de parada obrigatório para nossas fotos. Desta vez fomos além das fotos, colocamos nossas motos dentro da estação. Essa estação pertencia a ferrovia

Ferrocarril Transandino Andes-Mendoza, que ligava a cidade de Andes no Chile até Mendoza na Argentina. Funcionou de 1910 até 1984. Bem que poderia ser reativado para turismo.

162


163


DE VOLTA AO CHILE. Chegamos ao complexo fronteiriço Argentina –Chile, onde fizemos toda a tramitação alfandegaria e de imigração para darmos saída da Argentina e entrada no Chile. Tudo muito bem organizado e integrado. Esse paso é o mais importante na integração comercial entre Argentina e Chile e por

onde também passam a maioria das importações e exportações do Brasil para o Chile . Uma fila se acumulava em função de ser domingo e fim de feriado prolongado. Tempo para bater papo com outros motociclistas.

164


SANTIAGO – FIM DA JORNADA ATACAMA.. O sol já se punha no horizonte quando estávamos chegando a Santiago, de onde tinhamos iniciado nossa jornada há 17 dias atrás. Quando avistamos essa imagem, paramos instintivamente nossa motos e ficamos contemplando com admiração até que o sol se pusesse totalmente entre as montanhas. Não era uma despedida, mas um até breve, pois com certeza voltaríamos.

165


166


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.