Competências Profissionais Laureate - Módulo 3 - Capacidade de Adaptação

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Competências Profissionais Laureate

Módulo 3 - Capacidade de Adaptação

Claudia Kober Josefa Rizzo

CODESE Coordenadoria de Desenvolvimento Educacional Competências Profissionais Laureate · 21


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Módulo 3 Capacidade de Adaptação Claudia Kober Josefa Rizzo

Introdução “Para que serve ir à escola, se não se adquire nela os meios para agir no e sobre o mundo?” (Perrenoud, 2009, p.14)

Desde que nasce o ser humano está em constante adaptação às novas situações que lhe são apresentadas. O bebê que deixa de ser alimentado no peito e passa para a mamadeira, a entrada na pré-escola e mais tarde, nos diferentes níveis de ensino, as mudanças de casa ou mesmo de cidade: são pequenos exemplos de quantas adaptações se fazem necessárias. O ingresso no mundo do trabalho traz ainda mais necessidades de adaptação: a horários, demandas, companheiros, chefes, responsabilidades etc. E, se estamos em uma sociedade que se transforma o tempo todo, num ritmo frenético nem sempre fácil de acompanhar, o mundo do trabalho exige, hoje mais do que no passado, que o indivíduo se adapte às suas transformações. Mudam as estruturas, as formas de organização, os produtos e serviços e as antigas descrições de cargos e funções quase não têm mais razão de ser. Ao responder às necessidades que lhe são colocadas exige-se do trabalhador, entre outras competências, a de adaptar-se, já que a todo o momento é preciso encontrar respostas a novas situações de modo flexível e versátil. Importante, no entanto, salientar que trata-se de uma capacidade que não pode ser vista apenas como uma adaptação da subjetividade do trabalhador às exigências do trabalho nas organizações, mas também como a capacidade de transformar o ambiente para que ele seja mais adequado às suas necessidades pessoais ou mesmo inovar sua relação com o trabalho de modo autônomo e criativo em busca de um trabalho mais significativo e não apenas mais produtivo. Um trabalho que permita satisfação e realização pessoal. Daí a importância de desenvolver essa competência junto aos nossos estudantes. O objetivo desse módulo é apresentar a competência capacidade de adaptação e seus comportamentos associados, procurando mostrar de que forma ela pode ser trabalhada em sala de aula e como o processo ensino aprendizagem pode ter um ganho substancial ao colocá-la em prática. Para auxiliar a compreensão dessa competência, Competências Profissionais Laureate · 23


será abordado o conceito de resiliência, que deverá ser aprofundado em texto complementar. Para finalizar o módulo, você deverá responder as questões de múltipla escolha para verificação do conteúdo do módulo, bem como do artigo indicado.

Capacidade de adaptação e resiliência Capacidade de adaptação é a capacidade de perceber, interpretar e responder ao ambiente. É a capacidade de se adaptar e trabalhar eficazmente em situações diferentes e/ou com diferentes indivíduos ou grupos. É a adaptação às mudanças de acordo com as circunstâncias e necessidades. É o valor de enfrentar situações críticas ou o ambiente, mantendo um nível de bem-estar físico e mental que permita que a pessoa continue a agir de forma eficaz. Em outras palavras, adaptar-se às mudanças mantendo uma atitude positiva e construtiva. Segundo Lopez, Quintana e Garcia, os indivíduos que se adaptam a essas novas exigências são também “capazes de buscar e aproveitar as novas oportunidades, adotar novas perspectivas ou tomar decisões em momentos de incerteza” (2012, p.79 ). As transformações na sociedade e no mundo do trabalho ocorridas nas últimas décadas têm imposto aos indivíduos crescentes níveis de stress: velocidade das informações e comunicações, competitividade crescente entre as organizações, demandas de aperfeiçoamento constante, só para citar alguns aspectos com os quais deve-se lidar no dia-a-dia. Não é para menos que nunca se tomou tanta medicação relacionada à busca do bem-estar psíquico, tais como ansiolíticos e antidepressivos. É nesse contexto que surge no campo da Psicologia e das ciências humanas o conceito de resiliência, emprestada da física e definida no dicionário Houaiss pela “propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica”. O mesmo dicionário porém, já registra o sentido humano do conceito: “capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças”. É, pois, no sentido da resiliência que vai-se entender a competência capacidade de adaptação. Assim como a própria noção de competência, a conceitualização de resiliência é nova e polissêmica. Para Souza e Cerveny trata-se de um conjunto de traços de personalidade, capacidades ou habilidades que tornam as pessoas resistentes a doenças psíquicas quando passam por experiências traumáticas (apud RIBEIRO et al, 2011, p. 624). Já Tavares amplia esse conceito colocando-o numa perspectiva mais social, seja das organizações, seja mesmo da sociedade como um todo. Ele define resiliência do ponto de vista psicológico como “uma capacidade de as pessoas, individualmente ou em grupo, resistirem a situações adversas sem perder o seu equilíbrio inicial, isto é, a 24 · Competências Profissionais Laureate


capacidade de se acomodar e reequilibrar constantemente” (apud PINHEIRO, 2004, p. 69). Para esse autor, a resiliência não deveria ser considerada, portanto, um atributo individual, mas pode estar presente nas instituições/organizações, gerando até mesmo uma sociedade mais resiliente. Fica a questão relativa ao desenvolvimento dessa capacidade, sintetizadas por Débora Nemer Pinheiro : (...) como algumas pessoas conseguem enfrentar situações adversas ao desenvolvimento humano? Por que alguns são mais vulneráveis que outros diante de situações de risco? Por que outros indivíduos apresentam invulnerabilidade e competência para manejar situações estressantes? Como alguns seres humanos podem se recuperar de grandes perdas materiais e/ ou emocionais? Quais seriam as variáveis que possibilitam a alguns superar seus infortúnios de forma a estes não interferirem no desenvolvimento emocional posterior? (2004, p. 68) Estudos citados pela autora indicam que fatores internos e externos compõem a formação da resiliência: a personalidade, as relações e dinâmicas familiares vividas pelo indivíduo desde o nascimento, bem como as condições de vida e redes de apoio encontradas têm papel importante no seu desenvolvimento, mas, qual o papel das instituições de ensino nesse processo? Flach (apud PINHEIRO, 2004, p. 69) apresenta características de ambientes facilitadores de resiliência: “estruturas coerentes e flexíveis; respeito; reconhecimento; garantia de privacidade; tolerância às mudanças; limites de comportamento definidos e realistas; comunicação aberta; tolerância aos conflitos; busca de reconciliação; sentido de comunidade; empatia.” Tanto Tavares quanto Flach relacionam a presença de resiliência no contexto de organizações e grupos e é nesse sentido que podemos considerar que a sala de aula pode ser um ambiente facilitador de resiliência, uma vez que “ajudar as pessoas a descobrir as suas capacidades, aceitá-las e confirmá-las positiva e incondicionalmente é, em boa medida, a maneira de as tornar mais confiantes e resilientes para enfrentar a vida do dia-a-dia por mais adversa e difícil que se apresente” (TAVARES, apud PINHEIRO, 2004, p. 69). Para um maior aprofundamento do tema, leia agora o artigo de Débora Patrícia Nemer Pinheiro, indicado na bibliografia e que se encontra na Unidade Web, que traz uma revisão do conceito de resiliência e de pesquisas sobre seus fatores determinantes.

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Comportamentos Associados Para que o docente possa ajudar o estudante a desenvolver sua capacidade de adaptação, é importante que se possa identificar quais comportamentos estão associados a essa competência. Seguem os comportamentos associados à capacidade de adaptação: 1. Ter a capacidade de se adaptar e trabalhar eficazmente em diferentes situações / pessoas / grupos. 2. Capacidade de entender e apreciar diferentes perspectivas ou opostos um problema. 3. Adaptar-se às novas exigências de uma situação. 4. Aceitar facilmente mudanças na organização ou exigências de trabalho. 5. Lidar com novos desafios e riscos naturalmente. 6. Aplicar as regras ou procedimentos flexíveis, dependendo da situação individual de cumprir os objetivos da organização. 7. Modificar os pontos de vista com base em novas informações. 8. Ser capaz de desenvolver análise de pressupostos específicos éticos básicos semelhantes aos que ocorrem frequentemente em sua área de atuação profissional. 9. Propor decisões de acordo com a análise e ser capaz de defendê-los racionalmente. 10. Integrar as mudanças que ocorrem em seu ambiente. 11. Interpretar os fatos de forma flexível. Como se pode perceber, a capacidade de adaptação pode se revelar tanto na simples adequação a um novo equipamento ou software de trabalho, quanto no momento de realizar tarefas para as quais não estava inicialmente designado, ter um novo chefe ou ainda, num momento mais crítico, ser expatriado e ter de assumir um novo cargo em um país que não conhece bem, cuja cultura não é a sua. Ou, numa situação ainda mais tensa, ser demitido. Qualquer um desses momentos na vida de um profissional vai provocar um desequilíbrio com o qual terá de lidar, um stress que exige a mobilização de recursos psicológicos e subjetivos que permitam sua superação e a volta a um estado de bem-estar. Num ambiente de trabalho competitivo e demandante como o atual, não faltam tais situações quase cotidianas. Pode-se verificar também, a partir dos comportamentos associados listados acima que, se todas as competências estudadas nesse curso são interrelacionadas, há sinergias maiores entre algumas delas. Nesse sentido, a competência de adaptação trabalha junto com a capacidade de aprender sempre e de forma autônoma, uma vez que os novos conhecimentos, habilidades e atitudes adquiridos pelo indivíduo ajudam-no a criar alternativas e respostas às situações e mudanças que lhe são apresentadas.

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Capacidade de adaptação na sala de aula Nos quadros abaixo estão destacados exemplos de atividades formativas indicados por Lopez, Quintana e Garcia (2012, p. 81-85) que podem ser desenvolvidas em sala de aula. São apresentados também alguns indicadores de desenvolvimento da competência, úteis para a construção da ferramenta de avaliação.

Quadro 1 Desnvolvimento da competência

Atividade Formativas

- Sessão informativa sobre a própria competência, seu desenvolvimento e sua avaliação. - Role-playing de situações profissionais reais. - Trabalhos em grupo sobre um tema específico de estudo, com programação precisa das etapas e acompanhamento do docente ao longo do processo. A cada etapa do trabalho mudam-se os papéis dos estudantes: coordenador, secretário, encarregado de levantamento de conteúdo, por exemplo. - Reflexão sobre casos práticos propostos pelo docente que incluem situações de análise sob perspectivas diferentes. - Projetos que implicam o uso de conhecimentos em situações ou problemas não explicados em aula. - Debates sobre as mudanças na carreira estudada ao longo das últimas décadas: o que mudou, por que, que necessidades de formação se impõem hoje?

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Quadro 2 Avaliação da competência

Indicadores de desenvolvimento

- Grau de interpretação das situações e fatos sob diferentes pontos de vista. - Grau de uso da informação para alcançar seus objetivos. - Grau de tomada de decisões em situação com pouca informação. - Adequação de seu comportamento às necessidades da nova situação. - Grau de adequação de seu comportamento ou método de trabalho a outras pessoas. - Capacidade de observação das mudanças que se produzem em seu ambiente. - Aceitação das mudanças sem oferecer resistência. - Identificação de novas necessidades ou oportunidades e preparação para enfrentá-las. - Reconhecimento da mudança e capacidade de ver as oportunidades oferecidas. - Incorporação da nova aprendizagem.

Procedimentos de avaliação Instrumentos de avaliação

- Capacidade de assumir novas tarefas. - Supervisão do docente do processo de trabalho do estudante. - Coavaliação entre estudantes. - Auto avaliação das atitudes. - Modelos de auto avaliação e coavaliação da competência. - Modelos do docente para a avaliação contínua. - Escalas ou rubricas para a coavaliação, auto avaliação ou avaliação do docente das atividades.

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BIBLIOGRAFIA LOPEZ, Maria José Terron, QUINTANA, Paloma V. e GARCIA, Maria José G. Guía para el diseño de recursos docentes que fomenten el desarrollo y evaluación de las competências transversales em educación. Málaga: Fundación Vértice, 2012. PINHEIRO, Débora Patrícia Nemer. A resiliência em discussão. Psicol. estud., Maringá , v. 9, n. 1, abr. 2004 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722004000100009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 13 jan. 2014. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722004000100009. RIBEIRO, Ana Cláudia de Araújo et al . Resiliência no trabalho contemporâneo: promoção e/ou desgaste da saúde mental. Psicol. estud., Maringá , v. 16, n. 4, dez. 2011 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722011000400013&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 13 jan. 2014. http:// dx.doi.org/10.1590/S1413-73722011000400013.

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