Revista Produção Rural

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EDITORIAL Edição 006 - Ano 1 - 2015 CNPJ: 73.606.279/0001-25 Rua Riachuelo n° 260 - Fundos 79950-000 - Naviraí - MS www.revistaproducaorural.com.br Revista Produção Rural (67) 3461-1118 TIRAGEM 4.000 exemplares DIREÇÃO E EDIÇÃO Wilson Luis Pereira Leite PROJETO GRÁFICO d.Orsi Criação e Design JORNALISTAS Silvia Zoche Borges - (MTb-MG 08223 JP) Christiane Congro Comas - (Mtb-SC 00825/9 JP) Embrapa Agropecuária Oeste Antonio Castanha Filho - Jornalista MTb 9.447-PR COLABORAÇÃO Breno Lobato - (MTb 9417-MG) Embrapa Cerrados Graziella Galinari - (MTb 3863 / PR) Embrapa Monitoramento por Satélite Sandra Zambudio - (Mtb 939/81/PR JP) Embrapa Soja Silvia Zoche Borges - (MTb-MG 08223 JP) Embrapa Agropecuária Oeste Kadijah Suleiman - (MTb 22729 RJ) COLABORADORES Antonio Alvarenga Vera Lúcia Palacio Antonini Alexandre Zadra Alceu Richetti Danilton Luiz Flumignan Fabiana Villa Alves Eny Duboc Fábio Martins Mercante Germani Concenço Gessí Ceccon Julio Cesar Salton Luís Armando Zago Machado Michely Tomazi Ronaldo Pereira de Andrade IMPRESSÃO Gráfica Regente FOTOS Capa Wilson Luís, Banco de imagens Divulgação ANUNCIE (67) 3461-1118 | (67) 9977-2046 contato@revistaproducaorural.com.br A revista não se resposabiliza pelas opiniões emitidas nos artigos assinados. É vedada a reprodução parcial ou total de qualquer conteúdo sem autorização expressa.

Revolução comemorada Há exatos 20 anos teve início no Mato Grosso do Sul a implantação de uma técnica que apostava no aumento da produção rural, um sistema que propunha a integração entre lavoura e pecuária e, posteriormente, com a floresta. A tecnologia, estudada a fundo por pesquisadores da Embrapa Agropecuária Oeste, implementou na região de Dourados uma forma de gestão que buscava melhorar a vida do homem do campo e a qualidade do solo, além de, claro, garantir produtividade e sustentabilidade. Sob a batuta de especialistas, a gênese da ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) estabeleceu-se em terras sul-mato-grossenses com sucesso. Nesta edição especial, que faz um mapeamento completo – e primoroso – deste sistema revolucionário, o leitor terá acesso a depoimentos imperdíveis dos primeiros fazendeiros do Estado a investirem no método hoje comprovadamente valioso. O tema ILPF é esmiuçado por pesquisadores que literalmente foram fundo em importantes estudos para garantir o sucesso na produção rural de propriedades de vários tamanhos, que desta forma, podem ser geridas como empresas modernas. Desde métodos para iniciar a implementação do sistema, até as formas de manter – e melhorar ainda mais – os resultados em campo, há farto material disponível, já que o vigor expresso pelas lavouras da propriedade, ocorrem com uma velocidade de reposta muito rápida, proporcionando grandes ganhos de produtividade. Se planejamento é a palavra-chave para se ter sucesso no sistema ILPF, conhecimento e experiência são pontos cruciais para a manutenção desses ganhos, por isso a edição contempla os leitores com diversos artigos que enfocam justamente esse aperfeiçoamento para o produtor rural. Há ainda informações sobre o mercado agrícola, o fortalecimento da avicultura, o problema enfrentado por todos os produtores com o velho e conhecido nematoide e as novidades sobre irrigação e o Pantanal, que acaba de conquistar documento federal que permite práticas sustentáveis da agropecuária neste santuário. Estamos no caminho certo e apresentamos esta sexta edição da Revista Produção Rural com o orgulho de quem busca sempre melhorar. Agradecemos a cada pessoa que contribuiu para este trabalho e garantimos que vamos seguir assim, lutando de sol a sol, como faz o homem do campo, como fazem os grandes profissionais, como fazem todos aqueles que não perdem a fé em tempos cada vez melhores. Boa leitura!

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NEMATOIDES SOB CONTROLE

EXCELÊNCIA

Leite para o mundo

36 ENTREVISTA

Fernando Mendes Lamas O Estado e o ILPF

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EMBRAPA na Copasul de Naviraí

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Malasianos esperam por frango brasileiro

SOLENIDADE

20 anos de pequisa

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O FIM DAS PASTAGENS DEGRADADAS

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PANTANAL: santuário assegurado

QUANTAS SEMENTES SÃO NECESSÁRIAS?

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IRRIGAÇÃO

como levar água ao deserto



PRODUÇÃO Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul produzem aproximadamente 10,8 milhões de toneladas de leite por ano e as previsões indicam que esse número deve chegar a 19 milhões até 2020. A atividade leiteira vem ganhando espaço em Santa Catarine e se mostra uma importante fonte de renda para mais de 50 mil famílias do meio rural. Santa Catarina é o quinto maior produtor nacional de leite. Entre 2000 e 2013, o aumento na produção foi de 190%, muito acima da média nacional. O Estado, que antes respondia por 5% do leite produzido no País, passou a ser responsável por 8,5% de todo o leite brasileiro. Os números são ainda maiores nas regiões oeste e sul catarinense, que cresceram 256% e 223% em produção no mesmo período. O oeste de Santa Catarina, noroeste do Rio Grande do Sul e sudoeste do Paraná são hoje as regiões que mais crescem em produtividade de leite no Brasil. Com aproximadamente 300 mil produtores distribuídos por quase todos os municípios, o sul é responsável por 33% da produção brasileira de leite. A expectativa é de que em 10 anos, a produção aumente 77% chegando a 19,5 milhões de toneladas de leite/ano.

Excelência no leite facilitará as exportações Qualificar a cadeia láctea para ser competitiva para o mercado global é o objetivo das ações da Aliança Láctea Sulbrasileira. Para estabelecer um plano de desenvolvimento integrado do leite da região sul do País, lideranças catarinenses reuniram-se, na última semana, em Chapecó (SC), com representantes do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), Faesc, Epagri, Cidasc, Sindicatos dos Produtores Rurais, cooperativas, Conseleite e Sindileite. No encontro foram debatidas as ações dos cinco grupos de trabalho:

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qualidade do leite e pagamento por qualidade; geração e transferência de tecnologia e assistência técnica e qualificação profissional; saúde animal e inspeção e conformidade legal; organização setorial, relações institucionais entre os elos da cadeia e política tributária e desenvolvimento industrial e de mercado. As definições dos três estados do sul foram apresentadas durante reunião da Aliança Láctea Sulbrasileira, no dia 22 de outubro, no município de Castro (PR). “Se realizarmos essas ações estaremos aptos para a exportação.

Atualmente, produzimos um bom leite, mas não temos uniformidade normativa entre sanidade animal, leis estaduais e impostos”, observou o vice-presidente do Conselho Paritário Produtor/Indústria de Leite do Estado (Conseleite) e vice-presidente regional da Faesc, Adelar Maximiliano Zimmer. A intenção é de que o MAPA consiga uniformar as exigências dos estados para qualificar o produto lácteo e com isso ingressar no mercado internacional. O coordenador da Aliança Láctea Sulbrasileira e secretário adjunto da

Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca, Airton Spies, explicou que a expectativa para 2023 é de que a produção brasileira de leite atinja 53 bilhões/litros/ano. “Atualmente a produção é de 36 bilhões de litros/ano e a estimativa para 2023 é de um consumo de 43 bilhões, ou seja, teremos um superávit de 10 bilhões/litros que se não for exportado a produção não poderá crescer os níveis estimados”, argumentou. Entre os possíveis mercados brasileiros para exportação estão Rússia, China e os países emergentes. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS) o recomendado para o consumo humano é de no mínimo

200 litros por pessoa/ano. Atualmente, no mundo são 7,2 bilhões de pessoas, com uma produção de 725 bilhões de litros de leite, o que permite um consumo de 100 litros/leite/ano por pessoa, exatamente a metade do recomendado. Neste contexto há uma grande oportunidade de mercado a ser conquistado pelo setor. O sul do Brasil tem excelentes condições naturais (alto índice de chuva, sol o ano todo e produtor qualificado na produção animal) para produzir leite de alta qualidade com custo competitivo. Por isso, há necessidade de organizar a cadeia produtiva para se tornar mais eficiente e chegar a to-

dos os mercados mundiais. O objetivo da Aliança Láctea Sulbrasileira é tornar a cadeia produtiva competitiva e exportadora, com qualidade do leite, reduzindo custo ao produtor, ampliando a sanidade animal; profissionalização dos agricultores a partir de assistência técnica e treinamentos. A meta é organizar as indústrias de lácteos para melhorar a logística e eficiência do setor e eliminar as diferenças tributárias dos estados para impedir que o leite seja transportado desnecessariamente de um estado para o outro correndo atrás de vantagens tributárias, o que gera custos ociosos.

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Integração Lavoura-Pecuária-Floresta: sustentabilidade no agronegócio A despeito do que afirmam alguns pseudo-ambientalistas, o Brasil possui uma das agriculturas mais sustentáveis do planeta. As áreas destinadas à produção agrícola e pecuária representam menos de um terço do território nacional. Nos últimos anos temos conquistado sucessivos ganhos de produtividade. De 1990 a 2015, enquanto a produção de grãos aumentou 245%, a área plantada teve um crescimento inferior a 50%. Esses indicadores têm sido obtidos graças ao desenvolvimento e à aplicação de tecnologias apropriadas, sobretudo com a incorporação ao processo produtivo de regiões do Cerrado, que se transformará em um dos mais promissores celeiros de produção de grãos. Dentro do contexto de agricultura sustentável, ganha destaque uma tecnologia que combina produção agrícola, florestas plantadas e criação animal realizadas em uma mesma área. Trata-se da Integração Lavoura, Pecuária, Floresta (ILPF), que pode ser implantada em cultivo consorciado, rotação ou sucessão. Na verdade, não há um modelo único de ILPF. Sua aplicação depende das condições naturais da propriedade rural em termos de solo, topografia e clima, bem como da infraestrutura de comercialização local, da experiência e do interesse de seu proprietário. Embora seja uma prática antiga, a adoção dos sistemas de integração no Brasil ainda é limitada. No entan-

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to, como aperfeiçoamento dessa tecnologia, há uma tendência de crescimento sobretudo na recuperação de áreas de pastagens degradadas. Estima-se que exista cerca de 50 milhões de hectares nessas condições. O sistema tem sido adotado com maior frequência nas regiões Centro-Oeste e Sul. Hoje, aproximadamente dois milhões de hectares utilizam os diferentes formatos de ILPF. A previsão é de que até 2030 a integração seja praticada em pelo menos 20 milhões de hectares. Atualmente os sistemas de ILPF que contemplam as espécies agrícolas pastagens e florestas conjuntamente ainda são pouco adotados. Grande parte dos pecuaristas prefere implantar apenas a ILP, deixando o florestamento para uma etapa posterior, tendo em vista as características de longo prazo das florestas plantadas. Além da recuperação de áreas degradadas, as vantagens da integração são as mais diversas. Dentre elas, podemos destacar o aumento da matéria orgânica no solo, a redução no uso de agroquímicos, a conservação dos recursos hídricos, a promoção da biodiversidade, a melhoria do bem-estar animal, a fixação de carbono e a redução da emissão de gases do efeito estufa. A ILPF constitui uma alternativa econômica e sustentável para diversificar a renda dos produtores, podendo ser adotada em grandes, médias e pequenas propriedades rurais. O sistema também contribui para a ma-

nutenção e a recuperação das Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal. A Embrapa desenvolveu tecnologias com diversas possibilidades de combinação entre os componentes agrícola, pecuário e florestal. O programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), do Ministério da Agricultura, incentiva a implantação dos sistemas de integração ILPF, com linhas de financiamento em condições favoráveis. Vale a pena conferir.

Antonio Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura

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Naviraí recebe Unidade de Referência da Embrapa na Copasul

A Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS) e a Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS) firmaram parceria com a Cooperativa Agrícola Sul-Mato-Grossense (Copasul) para montar uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) em Naviraí, sul do Estado. A região possui solos de fertilidade e textura variada. Mas, na região, a atividade pecuária é bem maior em solos argilosos. A

partir de 2004, segundo Antônio José (Tuca) Meireles Flores, gerente do departamento agronômico da Copasul, houve um aumento significativo da atividade na região. “Foi uma explosão de 20 mil hectares para 50 mil hectares nos últimos anos, sendo crescente de 10% a 15% ao ano. Mas como atualmente a área de pastagem degradada é de aproximadamente 80% do total dos 100 mil hectares utilizados em pecuária, a integração lavoura-pecuária é bem-vinda”, informa.

Para Yoshihiro Hakamada, diretor vice-presidente da Copasul, a URT em ILP e ILPF é uma grande oportunidade para os pecuaristas e para os agricultores da região de Naviraí. “Vai ampliar a área de grãos, diversificar a propriedade, além de melhorar a produção de carne com a recuperação das pastagens, aumentando assim a rentabilidade da propriedade em função da melhoria no ambiente de produção”, diz. Hakamada lembra que a região de

Naviraí possui uma pecuária mais tecnificada com carne de qualidade, participando inclusive do Programa de Apoio à Criação de Gado para o Abate Precoce (Novilho Precoce), vinculado à Secretaria de Estado da Produção e Turismo (Seprotur). “O gado da região é o Nelore e o frigorífico da região de Naviraí abastece também outros estados brasileiros e também exporta para outros países”, comenta. Mas já há pecuaristas interessados em diversificar sua área. Cerca de 10% dos pecuaristas têm começado a investir em grãos. Mas, segundo Tuca, a maioria ainda prefere arrendar para os agricultores. Cerca de 100 mil hectares na região são de agricultura: cana-de-açúcar, mandioca, soja e milho. Mais 100 mil hectares de pasto e os outros 100 mil hectares de reserva legal, área de preservação permente (APP), várzeas, parques estaduais e municipais. “Com a chegada das pesquisas da Embrapa na área da Copasul, os produtores rurais da região se sentirão mais seguros em adotar a integração”, observa Hakamada. Na URT, as pesquisas são nas áreas onde a pastagem precisa ser recuperada. Na integração, entram o gado Nelore, pastagem Piatã, milho, milho consorciado com braquiária, soja, mandioca, como também uma área integrada com floresta, onde está sendo cultivado eucalipto multiuso, que pode ser utilizado para madeira, palanque para cercas, postes, lenha, entre outros. O pesquisador Júlio Cesar Salton, da Embrapa Agropecuária Oeste, enfatiza que o uso da ILP não se limita apenas à recuperação de pastagens degradadas. “As vantagens são inúmeras. Contemplam desde o aspecto econômico pela diversificação da produção e redução dos custos de produção, passando pela melhoria da qualidade do solo pelo aumento da matéria orgânica, até a redução da emissão dos gases causadores do efeito estufa”, explica Salton. O pesquisador Ademir Zimmer, da Embrapa Gado de Corte, lembra que a URT faz parte da Rede de Fomento

Yoshihiro Hakamada, diretor vice-presidente da Copasul

em ILPF, projeto nacional que abre novas fronteiras para culturas anuais em solos considerados marginais. Quanto ao receio dos gastos com a agricultura para quem ainda é somente pecuarista, Zimmer ressalta que na verdade, a ILP é um investimento e não um gasto. “A primeira safra de soja, por exemplo, já se paga e ainda paga os custos da recuperação das pastagens”, garante. URT em Selvíria - A Embrapa Agropecuária Oeste e a Embrapa Gado de Corte possuem Unidade de Referência Tecnológica (URT) em Selvíria, na região da Costa Leste de Mato Grosso do Sul, também conhecida como Bolsão-Sul-Mato-Grossense, que também possui solos arenosos. Depois de oito anos de pesquisas e trabalho com soja, pastagem e pecuária, profissionais da Embrapa e da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) conseguiram resultados positivos. Com a integração lavoura-pecuária a média produtiva de carne subiu de seis para 20 arrobas por hectare e ainda foram obtidas 50 sacas de soja por hectare, em média, no mesmo sistema intitulado Sistema São Mateus (SSMateus). Isso significa que a prática da ILP também viabiliza a agricultura na região, sem abandonar a pecuária.

Antônio José (Tuca) Meireles Flores, gerente do departamento agronômico da Copasul

Silvia Zoche Borges (MTb-MG 08223 JP) Embrapa Agropecuária Oeste agropecuaria-oeste.imprensa@embrapa.br Telefone: (67) 3416-9742

Fotos: Wilson Luís

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Malásia abre mercado de frango para mais quatro frigoríficos brasileiros

Foto: Corret@ Local: Fazenda Califórnia - Água Boa - MT

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Quatro novos frigoríficos brasileiros foram habilitados este mês para exportar carne de frango para a Malásia, informou a secretária de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tatiana Palermo. Atualmente apenas um frigorífico nacional está habilitado a vender para a Malásia. Mas, segundo ela, os contatos entre os governos dos dois países têm se intensificado na área comercial. O Ministério programa, inclusive, uma missão oficial da ministra Kátia Abreu àquele país. Agora são cinco frigoríficos brasileiros que podem exportar frango para a Malásia. “Vamos trabalhar para habilitar outras plantas, adequando-as às

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rígidas normas de abate halal (forma como as aves devem ser mortas para consumo dos muçulmanos)”, acrescentou a secretária. Com a habilitação anunciada, a Associação Brasileira de Proteína Animal estima que o Brasil deve exportar 15 mil toneladas de carne de frango ao ano para o país asiático, o que representa 31% do total de 48 mil toneladas importadas anualmente pela Malásia. A entidade calcula que a balança comercial brasileira será incrementada com divisas anuais de US$ 35 milhões. De acordo com Tatiana Palermo, a habilitação das novas plantas de carne de frango faz parte do esforço que o Ministério da Agricultura tem feito para ampliar as exportações brasilei-

ras e conquistar novos mercados. O ministério assinou recentemente com o Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia protocolo que viabilizará a habilitação de 74 empresas brasileiras exportadoras de tripas. Desde o ano passado esses estabelecimentos estão impedidos de vender seus subprodutos de carne à Rússia, por causa de novos requisitos técnicos estabelecidos pelo país europeu. Segundo a secretária, o protocolo abre caminho para que as 74 plantas brasileiras retomem suas vendas. A assinatura ocorreu em Moscou, durante a 5ª Reunião de Ministros da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário do Brics – bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. (ABr)

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Prognósticos para a pecuária na visão da genética Utilizando as informações trazidas do campo, quero convidá-lo a uma reflexão sobre as tendências da cria analisadas pelo prisma da genética, onde inexoravelmente temos de ampliar nossa visão, trazendo fatos que cercam a pecuária e que determinarão o modus operandi da atividade daqui para frente. Antes de tudo devemos lembrar que os índices produtivos da bovinocultura de corte brasileira são reflexo primeiro da tradição extrativista herdada de nossos antepassados. Primeiramente devemos falar da inseminação artificial que disparou nos últimos 8 anos através da utilização da Inseminação Artificial por Tempo Fixo( IATF), ferramenta que para muitos profissionais apresenta o mesmo grau de importância para a pecuária que o trator teve para a agricultura, traduzindo-se em uma verdadeira revolução no meio. Iniciamos citando a IATF como fator relacionado às tendências genéticas para nosso rebanho, pois é a partir dela que observamos um aumento significativo do cruzamento, onde pelos cálculos dos produtores, os 30 kg de sobrepeso dos bezerros cruzados desmamados em relação aos não-cruzados, custeiam toda a reprodução da fazenda. O que estamos já vivenciando no campo é o uso de até 2 IATF na

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mesma vaca ou a chamada “ressincronização” nas matrizes que não emprenhem na 1ª IATF. De acordo com pesquisas recentes, a economia que se consegue com o uso da ressincronização é substancial, visto que nesse caso a quantidade de touros alocados na fazenda para servirem no repasse da IATF cai pela metade. Outro fator que influenciará no direcionamento genético dos rebanhos diz respeito à reposição de matrizes de qualidade, onde uma simples análise de custo mensal por cabeça nos leva a buscarmos matrizes o mais precoces possíveis, pois se a 1ª cria de uma novilha vier 12 meses antes que outra mais tardia, economizaremos duas arrobas no custo de produção do bezerro nascido de uma novilha precoce, (considerando um custo anual de duas arrobas por novilha no pasto). Analisando pelo âmbito do manejo e seus custos, temos estudos de experientes analistas e consultores demonstrando que o custo fixo da propriedade é o maior peso na conta final de um boi, onde em alguns casos tais custos fixos (depreciações, salários, contas fixas) de um animal criado, recriado e abatido na fazenda pode chegar a 60% do custo total, ou seja, quanto mais jovem o animal for para o abate, menor o custo para se criar, aumentando assim o lucro

da fazenda dentro da porteira. Já pelo ângulo da nutrição e disponibilidade de resíduos da agricultura vemos farta disponibilidade de farelos advindos da lavoura que vem dominando as terras férteis de nosso País. Dessa maneira, veremos possivelmente rações formuladas com preços finais muito atrativos para quem deseja intensificar seu sistema de engorda. Não poderíamos nos abster de discorrer sobre a carne que compramos, onde mesmo que o maior consumo seja por carne de panela de baixa qualidade (entende-se por qualidade no Brasil – maciez). Destrinchando o mercado consumidor com mais detalhes, enxergamos o interessante mercado da alta gastronomia, onde na busca dessa carne macia, frigoríficos criam

Bezerro ½ sangue Angus – precocidade e mercado garantido

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Vaca ½ sangue Angus e Bezerro filho de Brangus – cruzamento terminal

Garrotes Tricross, filhos de Caracu em vacas ½ Red Angus/Nelore

Animais tricross de Senepol em vacas ½ Simental

marcas de carnes, com cortes especiais, que tenham em sua proporção maior grau de raças taurinas, pois pesquisas no mundo todo concluíram que quanto maior o grau de sangue taurino maior a maciez da carne. Tais programas levam a pagamentos de prêmios que chegam a 8% sobre o preço da arroba quando atendem todos os requisitos no abate. Em vista desses aspectos se quisermos fazer uma pecuária mais rentável a tendência para os próximos anos será o direcionamento da seleção do nosso Nelore buscando precocidade e habilidade materna, devendo haver uma busca por “touros maternos” que transmitam essas características e que ainda sejam vendidos com melhores

preços apenas os animais geneticamente superiores avaliados em programas de melhoramento. Veremos também o aumento do uso da “ressincronização” da IATF utilizando sêmen de raças europeias britânicas, as quais serão expostas à reprodução com 14 meses de idade. Também veremos o aumento da venda de touros taurinos adaptados como Bonsmara, Senepol e Caracu, que trabalham muito bem no repasse da IATF gerando 100% de heterose, com adaptabilidade e com carne de maciez inigualável quando cruzados com as matrizes F1 Angus ou F1 Hereford. Da mesma forma crescerá a demanda por touros Braford, Brangus e Canchim que cobrem muito bem no

campo e produzem bezerros com metabolismo ideal para ser terminado no confinamento. Precisamos pensar em lucro por eficiência de produção na fazenda, assim não há outro caminho que não seja manter vaca no pasto, melhorando-as paulatinamente através da seleção, e utilizando-as no cruzamento industrial com raças maternas para assim produzir os excepcionais tricross que deverão ser confinados, seja após uma pequena recria nas áreas de Integração Lavoura-Pecuária, ou mesmo confinados tão logo sejam desmamados.

Alexandre Zadra é zootecnista e supervisor da CRI genética. zadra@crigenetica.com.br

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Brasil e Estados Unidos debatem agricultura Diálogo agrícola Brasil-Estados Unidos discute temas de política e seguro agrícola. Evento traz especialistas do USDA para apresentar a experiência americana

Uma das principais pautas da CNA, uma política agrícola estável e confiável, capaz de criar o ambiente jurídico e econômico propício para a produção, ainda falta ao Brasil. Para conhecer a experiência dos Estados Unidos, um dos países mais modernos do mundo na produção agrícola, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil trouxe em outubro especialistas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), da sigla em inglês, para falar sobre a política de Estado para o setor e sobre seguro agrícola. O evento “Diálogo agrícola Brasil – Estados Unidos” vai permitir o debate sobre a estrutura da lei agrícola norte americana que assegurou ao país o planejamento, em longo prazo, para uma produção agrícola bem-sucedida.

Portanto, as expectativas do segmento rural do Brasil, representado pela CNA, são que as políticas do setor alcancem níveis de eficiência e estabilidade semelhantes aos dos maiores e melhores produtores, como EUA, Austrália, União Europeia, etc. Conforme explica a economista da CNA, Fernanda Schwantes, a política agropecuária brasileira tem como principais instrumentos de operacionalização o crédito rural, o seguro rural e a política de garantia de preços mínimos. Sobretudo, nesse tripé que baliza a produção rural do país, a política de Estado precisa de eficiência em todos os seus aspectos. Tema do encontro, a experiência brasileira com seguros agrícolas também precisa de aperfeiçoamento, embora o número de produtores e

a área coberta com seguro agrícola tenham crescido desde a criação do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), em 2003. No entanto, quando comparado a outros países, a utilização do seguro agropecuário no Brasil ainda é incipiente. Além da presença do presidente da CNA, João Martins, da embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Liliana Ayalde, e da ministra Kátia Abreu, participam do “Diálogo agrícola Brasil – Estados Unidos” o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), André Nassar, o economista Jason Hafemeister, o atuário Thomas Worth, e o diretor da Agência de Gestão de Risco, Brandon Willis, todos do USDA.

Assessoria de Comunicação CNA

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Safra de grãos 2015/2016 deve superar 213,5 milhões de tonelada Estimativa divulgada pela Conab representa aumento de 0,2% a 1,7% em relação à safra passada. Para a CNA, avanço da área de soja sobre milho e algodão deve contribuir para aumentar a produção da oleaginosa

A produção brasileira de grãos e fibras na safra 2015/2016 deve totalizar de 210,3 milhões a 213,5 milhões de toneladas, crescimento que pode chegar a 1,7% a mais do que na safra 2014/2015. Estes números fazem parte da primeira estimativa de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a atual safra. O principal destaque é a soja, que deve ter incremento de mais de um milhão de toneladas na oferta e assim ultrapassar 100 milhões de toneladas, chegando a 101,9 milhões, aumento de 5,9% na comparação com a safra passada. Segundo o assessor técnico de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Alan Malinski, a oleaginosa terá aumento principalmente sobre áreas de milho na safra de verão e expansão sobre áreas novas e de pecuária. Na Bahia, a queda de área de milho primeira safra e algodão será destinada para o plantio de soja, assim como no RS, SC e PR que devem reduzir significativamente a área de milho verão. Nos estados do Sul, a geada ocorrida

em meados de setembro juntamente com o excesso de chuvas em outubro devem fazer com que o produtor reduza ainda mais a área de milho verão, substituindo pela soja. Segundo a Conab, a área total de soja na safra 2015/2016 vai ter expansão de 1,7% a 3,6%, variando de 550,8 mil hectares a 1,15 milhão de hectares. “Se esses fatores se confirmarem, a estimativa de produção de soja pode ficar até acima da projeção inicial”, explicou o técnico. O milho primeira safra, por sua vez, terá queda de produção de 5,8% a 8,9%, pela estimativa da Conab (de 28 milhões a 29 milhões de toneladas), e da área plantada. Para Alan Malinski, entre os fatores do decréscimo, estão a melhor rentabilidade oferecida pela soja e o alto desembolso para a implantação das lavouras de milho. Quanto ao trigo, o técnico da CNA avalia que o clima chuvoso e o excesso de unidade devem prejudicar a qualidade e a produtividade no cereal. Para o algodão, os produtores de Mato Grosso devem priorizar pelo cultivo do algodão safrinha em relação ao algodão safra.


Qual a aceitação do sistema Integração Lavoura-Pecuária em Mato Grosso do Sul?

Integração traz segurança econômica

de comercialização, estrutura, disponibilidade de animais, entre outras. Foram encontradas três diferentes modalidades de condução da atividade integrada. Dentre elas destaca-se a modalidade “própria”, ou seja, as atividades agrícolas e pecuárias são conduzidas pelo próprio produtor, em 90,4% das propriedades. As demais modalidades são o sistema de “parceria”, em que o proprietário das terras conduz a atividade pecuária e o parceiro a lavoura e o sistema de “arrendamento”, em que o proprietário cultiva a soja e o milho safrinha consorciado com braquiária e, após a colheita do milho, arrenda a pastagem para o pecuarista. Dentre os diferentes motivos que levaram os produtores a adotar o sistema integrado,destacam-se a segurança econômica e financeira proporcionada pela atividade e a oportunidade de reformar as pastagens degradadas e diversificar as atividades econômicas da propriedade.

Nos anos de 2013 e 2014, a Embrapa Agropecuária Oeste realizou uma pesquisa nos principais municípios produtores de grãos e carne, da Região Centro-Sul do Mato Grosso do Sul, com o objetivo de caracterizar e demonstrar as principais modalidades dos sistemas de integração lavoura-pecuária em uso no Estado. O trabalho constou de visitas e entrevistas a produtores que utilizam sistemas integrados e a técnicos que prestam assistência técnica nesses sistemas. O levantamento das informações abrangeu 18 municípios, sendo aplicados 73 questionários. Foram identificadas informações

sobre as propriedades e sobre as atividades agrícolas e pecuárias exercidas, como posse e uso da terra, área ocupada com sistemas integrados, produtividade de grãos e carne por hectare, tipo de pastagem utilizada, tempo de adoção dos sistemas integrados, formas de parcerias e arrendamentos entre agricultores e pecuaristas, tipos de sistemas de criação de bovinos, sistemas de produção agrícola (rotação), assistência e consultoria técnica, entre outras informações relevantes. De acordo com o IBGE, nestes municípios, na safra 2012/2013, a área cultivada com soja e com pastagens

foi de 1.233.369 ha e 2.764.002 ha, respectivamente. Na pesquisa constatou-se que a área com sistemas integrados totaliza 142.777 ha, correspondendo a 11,6% da área cultivada com soja e a 5,2% da área de pastagens, nos municípios pesquisados. São diversas as modalidades de rotação de sistemas integrados de produção encontradas. No entanto, a modalidade que predomina (em 26% do número de propriedades), é a utilização da rotação a cada 24 meses com lavoura e 24 meses com pecuária. Outra modalidade bastante citada pelos produtores foi a ro-

tação a cada 12 meses com lavoura e 12 meses com pecuária. Em relação ao tempo que as propriedades utilizam os sistemas integrados é recente, sendo que a grande maioria passou a adotara ILP nos últimos 10 anos. Percebeu-se que o número de produtores que adotaram o sistema integrado por maior tempo reduz-se drasticamente, sendo que apenas 5,5% o utilizam há mais de 21 anos. São muitas as formas de condução dos sistemas integrados. Essa diversidade pode ser atribuída às diferentes localizações das propriedades e formas de orientação técnica, interesse

Os produtores citaram diversas dificuldades na implantação dos sistemas integrados de produção, destacando-se o uso de máquinas e equipamentos no sistema e a falta de mão de obra capacitada para atuar nas propriedades adotantes de sistemas integrados. Diante dos benefícios com o sistema integrado, 60,3% dos produtores desejam manter a proporção de área utilizada com a integração, enquanto que 35,6% pretendem aumentar a área do sistema. Apenas 2,7% pretendem parar com o sistema integrado devido às dificuldades encontradas durante a condução da atividade, enquanto que 1,4% deseja diminuir a área com integração. O nível de satisfação, que indica o grau de atenção dada ao sistema integrado, é muito alto entre os produtores, gerando otimismo entre eles com os resultados obtidos.

Alceu Richetti - Analista da Embrapa Agropecuária Oeste Foto: Suelma Bonatto e Silvia Z. Borges

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Pesquisa indica sistemas integrados para recuperar pastagens degradadas Atualmente, mais da metade das pastagens localizadas no Cerrado brasileiro, encontram-se em algum estágio de degradação, segundo dados da Embrapa Monitoramento por Satélite (Campinas, SP). São 32 milhões de hectares em que a qualidade do pasto está abaixo do esperado, no cenário mais realista, comprometendo a produtividade e gerando prejuízos econômicos e ambientais. Boa parte destes solos é arenoso e poderiam ser recuperados, possibilitando até triplicar a produção de carne nessas áreas ou contribuir para a expansão da agricultura, além de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A soja tem se apresentado como

Cerrado - O Cerrado é um bioma do tipo savana, que possui solo pobre em nutrientes e rico em ferro e alumínio, além disso, em geral a superfície do solo tem pouca capacidade de absorver água. O clima é tropical sazonal, ou

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uma alternativa viável para lidar com solos arenosos e vem apresentando resultados positivos para o produtor quando utilizado o Sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP). Há ganhos tanto em produtividade, quanto em relação ao uso e conservação do solo, proporcionando inclusive a recuperação de pastagens degradadas. O pesquisador da Embrapa Soja (Londrina, PR), Alvadi Antonio Balbinot explica que o Brasil já tem tecnologia consolidada para cultivar a soja, seja em variedade mais adequada, em tratamento eficiente, no controle de pragas, de doenças, de plantas daninhas. “Além disso, o mercado para os grãos da oleaginosa é garantido. Pro-

seja, com temperatura média anual é de 25°C (podendo chegar a marcações de até 40°C na primavera e mínimas próximas de 10°C no inverno). O Cerrado ocupa 203,4 milhões de hectares, o que corresponde a

duzir soja significa produzir proteína e isso significa garantir a produção de carne de frango, de suínos, leite e outros produtos animais, sem esquecer do óleo”, explica. Balbinot explica que a soja é uma planta leguminosa que fixa nitrogênio (N) do ar e se torna uma combinação perfeita com pastagem, que é uma gramínea, que não retém N da atmosfera. “Podemos dizer que a pastagem beneficia a soja e a soja beneficia a pastagem, em rotação”, acrescenta. A técnica consiste em alternar espécies vegetais, numa mesma área, conservando e diminuindo a exaustão do solo.

aproximadamente 24% do território nacional, abrangendo o Distrito Federal e mais 11 estados. Com características únicas, tem importância estratégica no cultivo de grãos e na pecuária, sendo o bioma com a maior produção agropecuária do País. Sozinho, responde por 55% da produção de carne. A pecuária tem participação significativa no produto interno bruto (PIB) e gera 6,8 milhões de empregos diretos e indiretos (8,3% dos postos de trabalho totais). Apesar desses números expressivos para a produção pecuária nacional, por meio de uso de pastagem extensiva, que é a principal fonte alimentar do rebanho brasileiro e que tem um dos menores custos no mundo, estimado em 60% e 50% daquilo que é gasto da Austrália e Estados Unidos, respectivamente. A degradação das pastagens tem sido um entrave para o setor.

Rotação de culturas, por meio de cultivo de soja e de pastagens, contribui com a recuperação do solo

Recuperação de pastagens - A pecuária é beneficiada com a adoção da ILP, já que as pastagens degradadas são recuperadas, permitindo a engorda dos rebanhos a um custo de produção da arroba entre R$ 35 e R$ 50, bem inferior ao praticado pela pecuária tradicional, entre R$ 70 e R$ 100. “Após dois anos de capim e dois anos de soja, temos conseguido taxas de lotação de até 5 Unidade Animal (UA, que corresponde a um animal com 450 kg de peso vivo por hectare), numa região em que a lotação média é de 1 UA por alqueire (2,42 hectares)”, conta o pesquisador da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF) João Kluthcouski, mais conhecido como João K. “São solos considerados difíceis, mas que com o uso da tecnologia se tornam fáceis (de manejar)”, completa. “São milhares de famílias vivendo sem perspectivas nessas áreas. A adoção da ILP permitiria quase dobrar a área de produção de lavouras anuais de grãos, que hoje é de 55 milhões de hectares. Temos a oportunidade

de verificar o que está acontecendo nesses solos e avaliar os testes com os nossos materiais”, observa João K. Desta forma, o Sistema de ILP, com uso da rotação de culturas, por meio de cultivo de soja e de pastagens, é uma alternativa que pode contribuir com a recuperação das pastagens degradas. Essa atividade consiste em alternar, anualmente, espécies vegetais, numa mesma área agrícola, por meio do plantio direto. As espécies escolhidas devem ter, ao mesmo tempo, propósitos comercial e de recuperação do solo. Se adotada e conduzida de modo adequado e por um período suficientemente longo, o cultivo de soja, por meio de rotação de culturas, incluindo pastagens, apresenta inúmeras vantagens ao pecuarista, dentre elas destacam-se produção diversificada de alimentos e outros produtos agrícolas, melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo, auxilia no controle de plantas daninhas, doenças e pragas, repõe matéria or-

gânica e protege o solo da ação dos agentes climáticos. O plantio de braquiária costuma quebrar o ciclo de doenças e pragas que atacam a soja. “Porém é bom lembrar também que soja não substitui a pastagem. Ela entra nas propriedades como uma boa alternativa rentável”, ressalta Balbinot. Algumas iniciativas desenvolvidas pela Embrapa, em parceria com outras instituições, nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, oeste paulista e oeste bahiano, revelam que por meio do ILP a recuperação de pastagens é viável e apresenta resultados financeiros positivos com o passar dos anos. O destaque do sucesso dessas iniciativas fica evidenciado pela presença de planejamento, perseverança e determinação em fazer algo inovador. Porém, algumas dúvidas e situações têm se apresentado como um entrave para adoção da ILP no Cerrado brasileiro. Seria realmente viável produzir soja em solo arenoso, permeável, com baixa fertilidade natural,

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com temperaturas oscilantes, aliado a períodos de seca e estiagem? Boa parte dos produtores do Cerrado são essencialmente pecuaristas, como desenvolver novas habilidades de cultivo da terra? São questões que se tem buscado responder por meio de pesquisas e validação do sistema ILP e que vêm apresentando resultados satisfatórios e promissores. “Essas respostas envolvem quebras de paradigmas, demandando o de-

senvolvimento de novas habilidades por parte dos pecuaristas e dos agricultores, incentivando uma saudável troca de experiências e o fortalecimento de parcerias em favor do aumento da produtividade do campo”, explica o Chefe Geral da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), Guilherme Lafourcade Asmus. Para o secretário de Produção e Agricultura Familiar do Governo de Mato Grosso do Sul, Fernando La-

mas, a Integração Lavoura-Pecuária é uma das soluções, dentro do Plano ABC do Governo Federal, para ocupar de forma produtiva os 9 milhões de hectares de pastagens degradadas existentes em Mato Grosso do Sul. “É uma tecnologia acessível, que pode ser adotada pelos grandes e médios pecuaristas de gado de corte e pelos pequenos produtores de gado de leite e que traz grandes benefícios para toda a sociedade”, afirma Lamas.

Integração é uma das soluções para ocupar de forma produtiva os 9 milhões de hectares de pastagens degradadas no MS

Sistema São Mateus - A região da Costa Leste de Mato Grosso do Sul, também conhecida como Bolsão-Sul-Mato-Grossense, possui solo arenoso e chuvas distribuídas durante o ano de forma irregular. Há muitos anos acreditava-se que por esses motivos seria impossível implantar a agricultura, especialmente o cultivo de soja na região. Mas depois de oito anos de trabalho com soja, pastagem e pecuária, profissionais de instituições de pesquisa e de universidades, como Embrapa e Universidade Estadual Paulista (Unesp), demonstram números que impressionam: média de 50 sacas de soja por hectare e 20 arrobas de carne (sem carcaça) por hectare, sendo a produtividade da referência de pastagem – anterior à Integração Lavoura-Pecuária (ILP) –

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de 6 arrobas por hectare. Isso significa que a agricultura pode ser viável na região, não sendo necessário abandonar a pecuária, colocando em prática a ILP, batizada de Sistema São Mateus (SSMateus), nome dado por ter experimentos da Embrapa na Fazenda São Mateus. A diferença desse sistema, validado pela Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS) e Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS), após sete anos de experimento é que antes de implantar a lavoura é preciso fazer a correção química e física do solo e formar palhada para o plantio direto da soja. “E após a colheita retorna novamente o pasto por dois anos, voltando novamente a soja, e assim por diante”, destaca o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Júlio Cesar Salton.

O proprietário da Fazenda São Mateus, em Selvíria (MS), Mateus Arantes, foi o primeiro pecuarista a adotar o sistema. “Em 2008 a Embrapa chegou com experimento que trouxe novos conhecimentos, que resultou no Sistema São Mateus”, conta Arantes. Ele explica que, atualmente, o SSMateus ocupa uma área da fazenda de aproximadamente 600 hectares e que há oito anos era de cerca de 150 hectares. E garante que outros dois fazendeiros da região já colocam em prática a ILP. “Um deles já me ultrapassou, com mais de 1 mil hectares de área de integração”, comenta Arantes, que completa garantindo que é muito bom para a região. O produtor já se aventura no consórcio milho-braquiária, conseguindo bons resultados.

Arenito do Caiuá - No Paraná produtores da região do arenito do Caiuá (Noroeste do Estado) encontraram na soja uma alternativa para tornar seus solos produtivos e economicamente rentáveis. A região é caracterizada pelo cultivo de pastagens perenes (braquiárias) para produção de carne de bovinos, de forma extensiva e com baixa produtividade. A região concentra cerca de 107 municípios, representando 16% da área de todo o Paraná. Isso confere uma área de 3,2 milhões de hectares que são inseridos no arenito. Quem informa é o pesquisador Alvadi Antonio Balbinot, da Embrapa Soja (Londrina, PR), que vem desenvolvendo pesquisas nessa região. O arenito do Caiuá é uma região que apresenta solos com teores relativamente baixos de argila (de 8 a 15%). “Teoricamente são solos que têm uma textura muito arenosa e isso tem grande consequência em Oeste Paulista - Marcado pelas áreas de pastagens degradadas em solo arenoso, o Oeste de São Paulo começa a perceber, com a Integração Lavoura-Pecuária (ILP), a oportunidade de produzir soja e outros grãos e melhorar o desempenho da pecuária. O pesquisador João K. tem acompanhado de perto a transformação por que têm passado pelo menos 30 fazendas da região que adotam a tecnologia. Para se produzir soja em solo arenoso é preciso primeiramente fazer a correção da acidez com a aplicação de calcário e de gesso agrícola. Segundo João K, a quantidade de calcário necessária é menor que a demandada em solos argilosos. O solo precisa ainda conter um bom teor de matéria orgânica e estar coberto por palhada, condições que podem ser alcançadas após dois a três anos de cultivo de pastagem – com ou sem o gado pastejando. Assim, é possível realizar os cultivos agrícolas no Sistema Plantio Direto. “Geralmente, no primeiro ano de cultura da soja em solo arenoso, a expectativa é alcançar de 35 a 45 sacas por hectare, podendo chegar, em alguns casos, a 50 sacas por hectare, o que não é uma grande produtividade. Por essa razão, o primeiro cultivo da área deve ser o milheto

relação ao potencial agropecuário da região”, explica Balbinot. Locais que, além de apresentarem baixa capacidade de retenção de água, absorvem e armazenam poucos nutrientes. Segundo o pesquisador, do ponto de vista agronômico esse quadro é muito desafiador porque o cultivo nessas áreas sofre também a ação do clima quente, com muito vento e isso faz com que também haja perda de água do solo para a atmosfera. Esse fato tem contribuído para que muitos agricultores obtenham baixas produtividade de carne/ha. Os frutos animadores da pesquisa, no entanto, vai aos poucos mudando esse cenário. Pelo menos nas propriedades que estão adotando o Sistema de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), como forma de aumentar a rentabilidade da produção de carne/ leite/grãos. Cerca de 60 mil ha estão utilizando essa prática.

E os resultados não demoram a aparecer: depois de dois anos com pastagem de braquiária, a soja apresenta bom potencial de rendimento com custos adequados e com uma boa rentabilidade. “A pesquisa, inclusive, dispõe de dados mostrando que a pastagem que vêm depois da soja têm um potencial de produção muito grande. Não só em termos de quantidade de folhas produzidas para o consumo animal, mas de boa qualidade”, argumenta o pesquisador da Embrapa Soja. A pesquisa apresenta estatísticas que mostram ser possível obter uma rentabilidade líquida em torno de R$ 1 mil a R$1,5 mil/ha/ano, quando comparado com as propriedades que têm apenas gado de corte. “Criações extensivas desses animais, com baixa utilização de tecnologia e manejo inadequado de pastagens rendem em torno de R$ 100,00 a R$ 200,00/ ha/ano”, destaca o pesquisador.

Propriedade alcançou o recorde de 74 sacas por hectare em áreas de segundo ano de cultivo

ou o milho silagem consorciado com o capim. Com isso, ‘amansamos’ o solo”, explica João K. O plantio da soja segue as recomendações convencionais. A inoculação com rizóbio (bactéria fixadora de nitrogênio) pode ser feita tanto nas sementes quanto no sulco, seguindo todas as precauções relacionadas ao tratamento de sementes com fungicidas e inseticidas ou agroquímicos. “Os resultados são impressionantes”, aponta o pesquisador. Na safra 2014/15, uma propriedade do Grupo Viacava, em Presidente Wenceslau (SP), alcançou o recorde de 74 sacas por hectare em áreas de segundo ano

de cultivo de soja e após um veranico de 32 dias. A média geral prevista na propriedade é cerca de 45 sacas por hectare em uma área cultivada de 500 hectares. O desempenho deve ser bem superior ao do primeiro ano de cultivo, quando a produtividade média da mesma área foi de 28 sacas por hectare, sendo que o veranico havia sido de mais de 40 dias. Conquistas semelhantes foram observadas na fazenda Ybieté Porã, em Rancharia (SP), após dois anos de cultivo de pasto e dois anos com soja. “Isso também está sendo feito pela Cocamar [Cooperativa Agroindustrial], no Noroeste do Paraná, en29


tre Maringá e Paranavaí. Dezenas de produtores já utilizam essa tecnologia, representando uma área de dezenas de milhares de hectares”, afirma João K, acrescentando que essas práticas se adequam a todos os solos arenosos do Brasil Tropical. Em 2013 a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), em Presidente Prudente (SP), começou a ofertar o curso de especialização em Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), com participação de pesquisadores da Embrapa no corpo docente. O curso, que já está na quinta turma, visa qualificar profissionais do agronegócio a potencializar a exploração econômica das propriedades agrícolas de forma sustentável. Um dos

temas abordados é justamente a produção de soja em solos arenosos. Coordenador do curso de especialização, o professor Edemar Moro estima que entre 5 mil e 10 mil hectares estejam atualmente cultivados com soja a partir do sistema ILP no Oeste de São Paulo. Ele lembra que haviam casos isolados de uso do sistema na região até 2011, quando a Unoeste passou a promover dias de campo na fazenda experimental da Unoeste, em Presidente Bernardes (SP) e em propriedades rurais em parceria com a Embrapa, a Cocamar, empresas integrantes da Rede de Fomento à ILPF e outras. “Começamos a difundir a ideia de que é possível produzir soja em solo

arenoso. Estamos conseguindo mudar a mentalidade dos pecuaristas da região”, afirma. Moro cita o caso da Fazenda Campina, em Caiuá (SP), que no segundo ano de cultivo de soja em ILP alcançou produtividade de 70 sacas por hectare em um dos talhões. “Conseguimos deslocar o período de enchimento de grãos ao fazermos a semeadura em novembro, em vez de outubro. Ao plantar mais tarde, escapamos do veranico, que neste ano durou um mês”, explica. “Com o ajuste da época de semeadura, o preparo do solo e o uso da tecnologia, estamos mostrando que é viável produzir soja na região”, finaliza.

Decreto oficializa o CAR Pantanal

Matéria orgânica fornecida pelo sistema ILP retém a umidade do solo, um fator crítico em solos arenosos

Oeste da Bahia - “No dia em que o Oeste da Bahia, com 5 milhões de hectares em uso pela agricultura, passar a usar essa tecnologia, os efeitos dos veranicos serão menos drásticos”, aposta João K. Isso porque, segundo o pesquisador, a matéria orgânica fornecida pelo sistema ILP retém a umidade do solo, um fator crítico em solos arenosos, naturalmente mais secos.

No Oeste baiano, por sinal, onde solos arenosos se alternam com solos argilosos nas áreas produtivas das fazendas, algumas experiências também têm sido conduzidas, como o consórcio milho-capim-boi com e sem pastejo antecedendo a cultura da soja, e a sobre semeadura de capim em soja, em que após a colheita da leguminosa, resta a espécie forrageira ainda em fase inicial de

crescimento, mas que estará pronta para alimentar os animais no período seco. “Temos dados de fazendas onde a soja cultivada após o consórcio de milho com braquiária obteve produtividade média de 4,2 mil kg por hectare, contra 3,8 mil kg por hectare sem o consórcio”, afirma o pesquisador Lourival Vilela, também da Embrapa Cerrados.

Christiane Congro Comas (Mtb-SC 00825/9 JP) - Embrapa Agropecuária Oeste Colaboração: Breno Lobato (MTb 9417-MG) - Embrapa Cerrados Graziella Galinari (MTb 3863 / PR) - Embrapa Monitoramento por Satélite Sandra Zambudio (Mtb 939/81/PR JP) - Embrapa Soja Silvia Zoche Borges (MTb-MG 08223 JP) - Embrapa Agropecuária Oeste

Foi publicado no Diário Oficial o decreto nº 14.273 que dispõe sobre a área de uso restrito da planície inundável do Pantanal Sul-mato-grossense, oficializando o chamado ‘CAR Pantanal’. A partir do que prevê o Novo Código Florestal, o decreto normativo regulamenta a exploração ecologicamente sustentável e o uso alternativo do solo, com base nas recomendações técnicas dos órgãos oficias de pesquisa e do Imasul – Instituto do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul. O prazo final para a realização do CAR continua sendo 05 de maio de 2016. Para o presidente do Sindicato Rural de Corumbá e vice-presidente regional da Famasul - Federação da Agricultura e Pecuária de MS, Luciano Aguiar Rodrigues Leite, a normativa atende aos anseios

dos produtores rurais pantaneiros e permite a produção e a preservação da região. “O novo decreto atende ao tripé da produção sustentável, do ponto de vista social, ambiental e econômico, em uma área estratégica da pecuária sul-mato-grossense e nacional. Somos os maiores produtores de bezerro do País”, avaliou o dirigente. Para o presidente da Famasul, Mauricio Saito, a publicação do ‘CAR Pantanal’ é resultado do esforço de todos, produtores rurais, entidades representativas e do Governo Estadual, na construção de um ambiente produtivo sustentável, para um região de extrema relevância econômica, ambiental e social. “Foi um trabalho baseado em argumentos sólidos e equilíbrio. A orientação é que, a partir de agora, o produtor

rural priorize a realização do CAR, com a consulta de um profissional especializado, para assim conseguir a regularização ambiental da sua propriedade”, afirma Saito. O CAR Pantanal contempla oito municípios de Mato Grosso do Sul, sendo a totalidade dos territórios de Corumbá e Ladário e parte dos municípios de Porto Murtinho, Sonora, Coxim, Rio Verde de MT, Aquidauana e Miranda. O Pantanal é o bioma mais preservado do Brasil e concilia, há mais de 270 anos, produção pecuária e preservação do meio ambiente. Dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ratificam a posição de Corumbá como município detentor do segundo maior rebanho brasileiro, com 1,8 milhão de cabeças.

Foto: Christina Comas e Silvia Z. Borges

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O clima e a agropecuária do Bolsão Sul-Matogrossense

Danilton Luiz Flumignan* Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste

Agricultura e pecuária são atividades econômicas de risco! Mas muitas vezes os riscos podem ser minimizados ou evitados. Para isso, é fundamental a busca por conhecimento, que também atende pelo nome de informação. Um dos riscos da agropecuária é o clima. Qual produtor não acorda todos os dias, olha para o céu e se pergunta: “Será que vai chover hoje?”. Portanto, é evidente que conhecer o comportamento das chuvas na região do Bolsão sul-matogrossense, região Leste do Estado cuja cidade polo é o município de Três Lagoas, é importante para a agropecuária regional. Por exemplo, você sabia que nessa região existe um semestre que é claramente mais chuvoso e o outro mais seco? Com certeza! Mas talvez

não saiba que em média chove 1.435 mm por ano, e que 79% desse volume (1.135 mm) ocorre entre outubro e março, enquanto os 21% restante (300 mm), entre abril e setembro. E quanto aos ventos? O que você sabe sobre eles? Seria interessante usar quebra-ventos na agropecuária do Bolsão? Claro que sim, especialmente quando se sabe que quase 75% dos ventos que atingem a região do Bolsão têm sua origem nas direções nordeste, leste e sudeste. Isso quer dizer que a maior parte dos ventos vêm de Goiás, do Triângulo Mineiro e de São Paulo. Saber disso é fundamental para definir em que posições instalar os quebra-ventos e ajudar, assim, a minimizar os problemas de deficiência hídrica no campo, tão comuns nesta região.

Sabemos também que a região do Bolsão sul-matogrossense é relativamente quente e a temperatura pode, muitas vezes, estar em um nível excessivamente alto que se torna prejudicial, tanto para a produção vegetal, quanto animal. Por exemplo, o gado leiteiro é pouco tolerante a temperaturas altas. Nessas condições, o animal reduz o consumo de alimento, refletindo negativamente na produção de leite. Isso também é verdade para o gado de corte, mesmo o nelore, que é mais tolerante a temperaturas altas, típicas de países tropicais, como o nosso Brasil. Na região do Bolsão, a preocupação com temperaturas altas é pertinente. Para se ter uma ideia, a média das temperaturas máximas é superior a 31 ºC em nove dos doze meses do ano, ficando fora desta regra somente junho, julho e agosto. Ou seja, ações que proporcionem a melhoria do microclima, promovendo a diminuição da temperatura nos ambientes de produção, são fundamentais. Consciente da importância de se conhecer as características do clima da região do Bolsão sul-matogrossense para o sucesso da agropecuária regional, a Embrapa Agropecuária Oeste desenvolveu um trabalho de pesquisa que caracterizou o clima da região do Bolsão do Mato Grosso do Sul. Este documento está escrito em linguagem acessível e nele procurou-se explicar, de modo simplificado, cada elemento do clima que foi caracterizado, dentre eles: temperatura, chuvas, vento, insolação, radiação solar, entre outros. O documento foi publicado em 2015 e está intitulado “O Clima na Região do Bolsão do Mato Grosso do Sul”, podendo ser acessado na internet em http://bit.ly/1RkAX7P.

Foto: Suelma Bonatto

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ILP como estratégia para controle de nematoides

Quanto mais diversificado for o sistema de produção, menores as possibilidades de problemas com nematoides

Dr. Guilherme Lafourcade Asmus

Os nematoides fitoparasitas são pequenos vermes que atacam raízes de plantas. Em sua totalidade, são parasitos obrigatórios, ou seja: dependem da presença de plantas hospedeiras para sua nutrição e reprodução. Por consequência, o cultivo continuado de espécies de plantas hospedeiras ou suscetíveis em uma mesma área fornecerá alimento para o aumento da densidade populacional do nematoide no solo, até níveis que causem danos às plantas. Vários fatores interferem para o aumento da densidade populacional de nematoides no solo, mas, sem dúvida, o monocultivo de plantas

Um outro aspecto a considerar é que, em condições naturais, a população de nematoides no solo é muito diversificada e encontra-se em equilíbrio com os demais organismos habitantes do solo, numa relação dinâmica. Nessas condições, os nematoides nocivos às plantas são limitados a um pequeno número. É importante lembrar que há outros grupos de nematoides (bacteriógagos, fungívoros, predadores) que são importantes agentes de equilíbrio do solo, atuando em diversos processos biogeoquímicos e, portanto, são importantes para a saúde do solo. Ao estabelecer a diversidade de espécies vegetais, no tempo, o sistema ILP atua

suscetíveis é o mais importante. Por outro lado, a interrupção do cultivo sucessivo ou simultâneo de espécies vegetais boas hospedeiras causará a redução de sua população, por falta de plantas que lhe forneçam alimento. Ou seja, quanto mais diversificado for o sistema de produção, menores as possibilidades de problemas com nematoides, pois o cultivo alternado de espécies vegetais com diferentes suscetibilidades a nematoides não permite que se estabeleça a seleção e aumento populacional de nematoides indesejáveis. O sistema integrado de produção de lavoura e pecuária, ou simples-

mente Integração Lavoura-Pecuária (ILP), tem em sua lógica o arranjo que intercala, no tempo, períodos de cultivo de espécies de lavoura anuais com períodos de pastagens para a pecuária. Essa alternância de atividades, que pode ser ainda diversificada pela rotação de culturas de verão ou inverno durante o período de exploração agrícola, cria uma descontinuidade na oferta de alimento para os nematoides, em função da diferença de suscetibilidade das espécies vegetais envolvidas. Dessa forma, é muito menos provável que haja seleção e consequente aumento na densidade populacional de nematoides nocivos.

no sentido de promover a biodiversidade do solo concorrendo, dessa forma, para o controle natural de espécies parasitas. O estímulo ao crescimento da microflora devido ao expressivo aporte de matéria orgânica ao solo no sistema ILP, seja pela deposição da palhada na superfície ou pela massa de raízes produzidas por gramíneas forrageiras, é outro fator que auxilia no manejo de nematoides. Muitos microrganismos, em particular fungos e bactérias, são antagonistas de nematoides, e sua atividade promove o controle natural.

Na Figura 1, pode-se verificar o efeito de diferentes sistemas de produção sobre a densidade populacional do nematoide reniforme, Rotylenchulus reniformis. As gramíneas, no caso capim-braquiária, por não serem hospedeiras de R. reniformis, exercem um importante papel, limitando o crescimento da densidade populacional do parasita e promovendo maior diversidade dos demais grupos tróficos, que atuam sobre as espécies fitoparasitas, auxiliando no controle natural.

Foto: Suelma Bonatto e divulgação

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ENTREVISTA

Fernando Mendes Lamas

Potencial do Mato Grosso do Sul em relação ao ILPF Fernando Mendes Lamas é Secretário de Estado de Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul (Sepaf). Pesquisador e engenheiro agrônomo da Embrapa, responsável por pesquisas com a cultura do algodoeiro, sistema de produção, rotação de culturas, avaliação de linhagens/ cultivares e manejo de reguladores de crescimento. Possui experiência na área de Agronomia, com ênfase em Manejo e Tratos Culturais. Também tem experiência como professor, onde lecionou no curso de pós-graduação da Universidade Federal da Grande Dourados, até então, colaborou ministrando aulas sobre a cultura do algodoeiro. Foi chefe geral da Embrapa Agropecuária Oeste de 2008 a 2013, chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Unidade de 2002 a 2003 e de 1980 a 1997, gerente regional da Empaer-MS, atual Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), entre outros cargos. O doutor em agronomia falou com a Revista Produção Rural e esclareceu qual a percepção atual do Governo do Estado em relação ao sistema de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF).

Com o ILPF é possível melhorar significativamente a produtividade da agropecuária

Revista Produção Rural - O senhor acredita que o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), é compatível com a aptidão natural geográfica, em relação aos aspectos econômicos, climatológicas e ambientais de Mato Grosso do Sul? Quais são as expectativas do Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Produção e Agricultura Familiar (Sepaf)?

Integração Lavoura-Pecuária e para algumas situações a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta.

Fernando Mendes Lamas - O ILPF é a alternativa para que possamos eliminar um grande passivo ambiental existente em Mato Grosso do Sul, entre 8 a 9 milhões de hectares de pastagens com algum grau de degradação. As pastagens degradadas são responsáveis por processos erosivos e pelo assoreamento de rios, como é o caso do Rio Taquari, além de proporcionar baixa produtividade da pecuária. Desta forma, o Governo de Mato Grosso do Sul vê na ILPF a alternativa mais viável para mitigar o grande passivo ambiental existente no Estado. Há de se considerar que, devido às diferenças regionais, não existe um modelo de ILPF que seja adequado para todas as situações, mas os fundamentos são os mesmo.

FML - A principal estratégia é mostrar para o pecuarista que com o ILPF é possível melhorar significativamente a produtividade da pecuária (produção de carne/ha/ano e reduzir a idade de abate), entre outros benefícios. O Governo do Estado também estuda a possibilidade de dar algum incentivo via redução de alíquota de ICMS. No entanto, o que é fundamental é que o produtor veja na tecnologia uma oportunidade de melhorar o seu negócio, inclusive no que diz respeito a diversificação de renda.

RPR - O MS apresenta um potencial, com aptidões naturais diferenciadas, quando analisado no sentido de uma linha imaginária que o dividisse em Norte e Sul. Poderia nos explicar um pouco dessas aptidões naturais e como o ILPF se encaixaria nesse cenário atualmente? FML - Na região mais ao Norte, especialmente nos municípios de Coxim, Rio Verde de Mato Grosso, Pedro Gomes, Alcinópolis, Figueirão e ao Leste nos munícipios de Água Clara, Ribas do Rio Pardo, Santa Rita do Pardo, Brasilândia, Três Lagoas e Inocência, a principal atividade é a pecuária extensiva. Para estes munícipios, devido a limitações de solo e clima, apenas nos solos com maior capacidade de armazenamento de água (teor de argila > 15%), seria recomendado o ILPF, para solos com menos de 15% de argila, a Integração Pecuária Floresta nos parece mais viável. No entanto, é preciso entender bem a dinâmica das espécies florestais para serem utilizadas neste modelo, assim como o destino da madeira produzida. Para a região Sul do Estado, por sua vez, nos parece mais adequada a

RPR - Em relação às políticas públicas de fomento para que os produtores passem a adotar e praticar o uso do ILP, como o Governo do Estado está lidando com esse assunto? Já existe alguma orientação nesse sentido? Está em andamento?

RPR - Qual a maior dificuldade que o Estado do MS apresenta em relação a adoção do ILP como um sistema produtivo sustentável e que apresenta benefícios para os produtores que o utilizam? Onde o senhor acha que se encontram os entraves? FML - Temos alguns gargalos de natureza estrutural, como deficiências no sistema viário. No entanto, o Governo do Estado está elaborando projeto para superação deste gargalo no menor espaço de tempo possível. Em resumo, infraestrutura é um desafio a ser superado. RPR - Como o senhor percebe e qual a importância dos trabalhos da Embrapa, no Mato Grosso do Sul, em relação as pesquisas com ILPF? FML - Os trabalhos das Embrapa são fundamentais, no entanto, dada a importância da questão econômica na tomada de decisão do produtor, especialmente em se tratando de ILPF é necessário precificar, considerando o meio rural, as diferentes modalidade de ILPF para que tanto o agricultor, quanto o pecuarista tenham maior segurança para a sua tomada de decisão.

Foto: Stael C. Rego

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Vale a pena incluir a espécie florestal em sistemas integrados de produção?

ra, acácia negra, pópulos, paricá, teca e araucária. Em Mato Grosso do Sul esse crescimento foi mais acelerado. A área cultivada com florestas passou de 143,8 mil hectares, em 2004 para 826,9 mil hectares até julho de 2015, de acordo com a Associação Sul-mato-grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas (Reflore), um aumento de 575%. Neste ritmo de expansão, a meta de um milhão de hectares prevista para 2020, pelo Plano Estadual de Florestas deverá ser antecipada.A elevação dos preços de madeira e derivados,

entre 2002 e 2012, em função do crescimento dos mercados interno e externo, de acordo com avaliação da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), impulsionou positivamente a atratividade do negócio florestal e a expansão da área plantada no país. Neste contexto o Brasil possui a sexta maior área reflorestada do mundo, sendo o maior produtor de celulose de fibra curta e também maior produtor e consumidor de carvão vegetal oriundo de florestas plantadas. Os setores de ferro-gusa e aço e o de ferro-ligas

consomem 72% e 12%, respectivamente, de todo o carvão vegetal produzido nacionalmente. Somadas ao elevado desenvolvimento tecnológico brasileiro para o cultivo florestal, as condições favoráveis de solos, água e clima do País, incluindo o MS, contribuem para que a produtividade média brasileira de eucalipto e pinus seja muito maior do que em outros países com clima temperado ou com tradição florestal, sustentando uma posição de maior competitividade (Gráfico 1).

Foto 1. Sistema ILPF com cultivo de soja em plantio direto na palhada do capim entre renques simples de eucalipto espaçados de 25 m. Local, data, autor: Fazenda Experimental da Embrapa CPAO, Ponta Porã- MS, dezembro de 2011. Eny Duboc.

A principal característica do cultivo florestal é o de ser um investimento de médio a longo prazo. Para tomar a decisão de investir, o produtor rural deve se apoiar no desempenho atual do mercado e, principalmente, na expectativa futura de rentabilidade. Uma das estratégias para contornar possíveis perdas financeiras, por instabilidade dos mercados ou variações do clima, é a diversificação de atividades na propriedade. E o sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) possibilita essa diversificação em uma mesma área. Desta forma, os sistemas ILPF conferem maior estabilidade econômica, seja pela diversidade de ingressos financeiros até que a floresta atinja seu ponto de colheita, seja pela soma das rendas obtidas ao longo do período do consórcio ser maior do que os lucros que seriam obtidos com as atividades isoladas no mesmo período ou, ainda, pela redução dos custos de produção e aumen38

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to da produtividade. Além de ser uma opção rentável, os sistemas integrados de produção, com a inclusão do cultivo florestal, reúnem a diversificação produtiva com obtenção de diversos serviços ambientais relevantes, buscados atualmente pelo setor agropecuário. Além de promover o sequestro de carbono, a proteção do solo e da água e diminuir a pressão sobre as florestas nativas, possibilitam também a utilização de terras marginais e o aumento da produção de carne e grãos sem abertura de novas áreas, por meio da inclusão e recuperação de áreas degradadas pela agropecuária. Isso sem falar nas vantagens decorrentes das interações benéficas das árvores sobre as demais atividades ou cultivos no ILPF. Para se ter uma ideia do potencial do mercado florestal, o Brasil, em 2014, possuía 7,7 milhões de hectares cultivados com florestas, ou seja,

menos de 1% de sua área produtiva. Entretanto, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento as exportações de celulose, papel, madeira e derivados de madeira alcançaram US$ 9,95 bilhões, ficando em 4º lugar no saldo da balança comercial, abaixo apenas da comercialização internacional da soja, carnes e do complexo sucroalcooleiro representando cerca de 10% das exportações do agronegócio e 4,5 milhões de pessoas empregadas. Com o Produto Interno Bruto (PIB) setorial, de acordo com a Secretaria de Política Agrícola (SPA), estimado em US$ 56 bilhões, gerou-se cerca de 1,2% de toda a riqueza do país e 24% do valor adicionado ao PIB pelo setor agropecuário. A área cultivada com florestas no país vem crescendo ao longo dos últimos anos. De 2006 a 2014 passou de 5,75 para 7,74 milhões de hectares, incluídos os plantios com seringuei-

Gráfico 1. Produtividade média florestal (IMA – incremento médio anual, em m3/ha.ano) de coníferas (pinus) e folhosas (eucalipto) no Brasil comparada com outros países produtores, 2012. Fonte: Anuário ABRAF (2012) e Associadas individuais da ABRAF (2013). *IMA ponderado (em função da área plantada) das áreas com plantios florestais de eucalipto e pinus das empresas da ABRAF.

Apesar de várias espécies arbóreas poderem compor um ILPF, atualmente é sobre o eucalipto que se detém maior conhecimento sobre cultivo, facilidade de acesso a mudas de qualidade e disposição de material genético melhorado de uma variedade de espécies para diversos usos. Em um sistema ILPF, dado a menor quantidade de árvores por hectare, deve-se priorizar os usos mais nobres, como madeira serrada, postes para tratamento, vigas e tábuas. A produção de madeira sólida para fabricação de móveis, apesar de possuir maior valor agregado e melhores preços, necessita mercado consumidor próximo e ainda é um segmento pouco explorado no País. Durante a etapa de planejamento do arranjo dos componentes do sistema, deve-se definir qual atividade será a principal. Em

Foto 2. Sistema ILPF com pastagem implantada após o cultivo de milho e soja entre renques simples de eucalipto espaçados de 25 m. Local, data, autor: Fazenda Experimental da Embrapa CPAO, Ponta Porã- MS, setembro de 2015. Eny Duboc.

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Foto 3. Sistema silvipastoril (Integração Pecuária-Floresta) em renques com linhas triplas de eucalipto e pastagem com Brachiariabrizanthacv BRS piatã. Local, data, autor: Fazenda Minerva, Ivinhema- MS, maio de 2013. Eny Duboc.

sistemas onde se prioriza a atividade agrícola e ou pecuária, a distância entre os renques deve ser maior e menor o número de linhas em cada renque (Fotos 1 e 2). Já nos sistemas de integração, que têm como objetivo principal a produção de madeira, pode se reduzir a distância entre os renques de árvores ou aumentar o número de linhas em cada renque (Foto 3). Em ambos os casos deve-se sempre atentar para a dimensão dos equipamentos agrícolas que serão utilizados nestas áreas, bem como para a importância da realização de desbastes, quando a madeira se destinar à serraria. Apesar do ILPF ser mais complexo no planejamento e no manejo do que os monocultivos, as interações das árvores com os demais componentes do sistema propiciam uma série de vantagens e benefícios. De maneira geral, as árvores tendem a ocupar no ambiente compartimentos distintos das outras plantas e em um sistema ILPF adequadamente implantado aumentam a eficiência no uso da água, luz e nutrientes. As copas das árvores promovemmaior sombreamento e redução da velocidade dos ventos, o que diminui a taxa de evaporação e transpiração da água das plantas e do solo, contribuindo para o balanço hídrico do sistema, ou seja, aumento da umidade

disponível para as plantas. O sombreamento, na quantidade adequada, aumenta a qualidade da pastagem, tanto no teor proteico quanto na digestibilidade. O aumento da umidade favorece a atividade microbiana do solo, resultando na aceleração da decomposição da matéria orgânica, com efeito benéfico na nutrição das plantas. A proteção fornecida pelas copas também reduz os efeitos nocivos de geadas e o impacto das gotas da chuva, reduzindo o potencial de erosão, com reflexos positivos no rendimento de cultivos agrícolas e na qualidade das pastagens. As copas também proporcionam maior conforto térmico aos animais, fornecendo abrigo contra o sol, chuva ou ventos frios. A redução na variação da temperatura e da umidade relativa do ar ao longo do dia traz benefícios aos cultivos e aos animais, sendo que a diminuição do estresse animal implica em maior produtividade de carne, leite e desempenho reprodutivo, principalmente em áreas com extremos de temperatura. As raízes das árvores, além da água, buscam nutrientes em maiores profundidades. Esses nutrientes retornam à superfície do solo através da intensa queda de folhas e galhos, formando uma camada chamada de serapilheira. A serapilheira, ao se decompor, incorpora matéria orgânica

ao solo e disponibiliza maior quantidade de nutrientes, em especial nitrogênio e fósforo, aos demais cultivos no sistema. A melhor distribuição do sistema radicular também favorece o aproveitamento da adubação residual dos cultivos consorciados e reduz asperdas de nutrientes decorrentes da lavagem dos solos pela água das chuvas e as perdas causadas pela erosão. Para o sucesso dos sistemas de ILPF, o produtor rural deve fazer um planejamento detalhado e criterioso desenvolvendo um modelo adequado à sua propriedade e ao mercado regional. A escolha correta do espaçamento entre os renques de árvores da idade, lotação e época da entrada dos animais no sistema da adubação e manejo correto de todos os componentes do sistema reduzem a competição e efeitos negativos que possam existir entre os cultivos agrícolas e as espécies madeireiras e são fundamentais para a produção de bons resultados econômicos, sociais e ambientais. Considerando o cenário florestal atual e a tendência de atração para o Estado de novos empreendimentos demandantes de madeira, somados aos benefícios dos sistemas de produção integrados, não resta dúvida que vale a pena investir e acrescentar o cultivo florestal ao sistema ILPF.

Eny Duboc - Pesquisadora Embrapa Agropecuária Oeste

Foto: Eny Duboc e Suelma Bonatto

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Solenidade comemora 20 anos de pesquisa com Integração Lavoura-Pecuária

los regionais”, destacou Asmus. Guilherme parabenizou os produtores rurais que trabalham com ILP na região, alguns estavam presentes no evento, afirmando que perceberam a importância desse novo enfoque da produção integrada e que tiveram a iniciativa e ousadia de experimentar o novo, perseverar e empreender esforços para que esses conceitos fossem solidificados.

Para o representante do Governo do Estado de MS, responsável pela Secretária de Produção e Agricultura Familiar, Fernando Mendes Lamas, comemorar 20 anos de pesquisa é algo relevante. Em sua fala, ele destacou que um dos desafios do Governo é a redução do número de hectares que apresentam pastagens com algum grau de degradação. “Isso incomoda o Governo, prejudica a economia e

representa um passivo ambiental. O grande desafio e que demanda atenção é a busca por iniciativas que possibilitem a recuperação dessas pastagens e sua incorporação aos sistemas produtivos. O uso do ILP é uma forma de contribuir com a agricultura intensiva e sustentável e isso é tudo o que o Governo quer disseminar e implementar em todos os municípios do Estado”, disse Lamas.

Representantes do Governo do Estado do Mato Grosso do Sul, produtores rurais, pesquisadores, professores e estudantes reunidos durante a Timeline Integração Lavoura-Pecuária, realizada pela Embrapa Agropecuária Oeste. Atividades se dividiram entre Ponta Porã, Dourados e Naviraí.

Para comemorar os 20 anos de pesquisa em Integração Lavoura-Pecuária (ILP), a Embrapa Agropecuária Oeste realizou a “Timeline Integração Lavoura-Pecuária”. Durante a solenidade de abertura do evento, autoridades, produtores rurais, pesquisadores, professores e estudantes se reuniram com o objetivo de compartilhar o sucesso dos resultados de pesquisa. O pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Júlio Cesar Salton, é um dos responsáveis pelas primeiras pesquisas sobre o tema na Unidade e editor da publicação “20 anos de experimentação em Integração Lavoura-Pecuária (ILP) na Embrapa Agropecuária Oeste”, que foi lançada na ocasião. Ela reúne as principais atividades desenvolvidas pela Unidade no período de 1995 a 2015. A publicação impressa, em formato de

relatório, disponível pelo telefone (67) 3416-9701. “A publicação reúne, por meio de uma breve descrição, os sistemas avaliados, os projetos que deram suporte à condução do experimento, os temas estudados, tendo como base o experimento e as ações de transferência de tecnologia realizadas. A publicação também apresenta um breve relato de produtores pioneiros e usuários do Sistema Integração-Lavoura-Pecuária na região”, explica Salton. O Chefe Geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Guilherme Asmus, fez uma reflexão histórica que contextualizou a evolução das linhas de pesquisa desenvolvidas pela Unidade. “Atualmente, o foco central da Unidade é o desenvolvimento regional. A melhoria de sistemas de produção integrados, regionais e sustentáveis

do ponto de vista econômico, social e ambiental é tudo o que a Embrapa Agropecuária Oeste está objetivando realizar. Assim, pesquisas como essas são fundamentais dentro do escopo central da nossa Unidade e que respalda a importância de eventos como esse”, destacou. Ele enfatizou ainda a importância do desenvolvimento regional. “Estamos no caminho certo e o documento recentemente elaborado pelo Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, por meio da Secretaria de Estado e Desenvolvimento Econômico (Semade), intitulado “Estudos da Dimensão Territorial do Governo do Estado do MS, regiões de planejamento”, revela que hoje contamos com Unidades de Referência Tecnológica (URT), em consonância com a vocação dos po-

Representantes do Governo do Estado do Mato Grosso do Sul, produtores rurais, pesquisadores, professores e estudantes reunidos durante a Timeline Integração Lavoura-Pecuária, realizada pela Embrapa Agropecuária Oeste. Atividades se dividiram entre Ponta Porã, Dourados e Naviraí.

Christiane R. Congro Comas (Mtb-SC 00825/9 JP) Foto: Stael C. Rego

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Uso de árvores em pastagens em prol do bem-estar animal Nos últimos anos os modelos agropecuários vigentes sofrem pressões da comunidade em geral, principalmente em relação aos impactos gerados ao ambiente e ao modo em que os animais são criados. Este último fez com que o tema “bem-estar”, apesar de definido claramente e empregado há pelo menos 50 anos, emergisse com grande força. Bem-estar animal se resume a forma como o animal lida com as dificuldades que encontra em seu entorno, e pode-se dizer que quanto menores os desafios que o meio em que vive lhe impõe, maior o seu grau de bem-estar. Assume-se, assim,

que para que haja boas condições de bem-estar, alguns requisitos, conhecidos com as “cinco liberdades” e que servem como indicadores mínimos de sofrimento desnecessário e qualidade de vida para os animais, devem ser atendidos. São estes: I) livres de fome, sede e má nutrição; II) livres de dor, lesão e doença; III) livres de medo e angústia; IV) livres de desconforto; e, V) livres para manifestar o padrão comportamental da espécie. Sua aplicação ao processo produtivo de carnes possibilitou saltos qualitativos (I) nos sistemas de criação, com adequações do espaço mínimo disponível por animal, forne-

cimento de dietas balanceadas e disponibilidade de sombra em sistemas extensivos; (II) no transporte dos animais, com embarque sem estresse e em veículos apropriados, determinação de tempo e distância máximos, sem interrupção, até o abatedouro, e; (III) no abate, sem sofrimento, com atordoamento eficaz. Paralelamente às preocupações de ordem técnicas, cresce também a percepção da importância em se atender mercados consumidores mais exigentes, como os interessados na chamada “carne tropical” ou “grass-fed beef”, produzida em pastagens. Este tipo de produto, com

qualidades particulares, é oriundo, na sua maioria, de regiões tropicais, nas quais o estresse térmico é um dos problemas relacionados com menor grau de bem-estar animal. De fato, em países onde predomina o clima tropical, como o Brasil, ambiência e bem-estar animal caminham juntos, pois a alta incidência de radiação solar pode causar efeitos prejudiciais no desempenho, sanidade e reprodução dos rebanhos. Estes, somados, afetam a sustentabilidade do sistema produtivo. Ressalta-se que, conforme o nível de interação “intensidade de radiação solar x nível de adaptação ao calor do animal”, verifica-se maior ou menor estresse nos animais e diferentes graus de empobrecimento de seu bem-estar. No caso específico da carne tropical, caso se venha a exigir algum tipo de garantia de bem-estar animal, necessariamente devem ser previstas práticas de manejo capazes de proteger os animais da intensa radiação solar. Alguns dos sinais nitidamente observados em animais submetidos ao calor intenso são: diminuição do pastejo e aumento no consumo de água, elevação da frequência respiratória, batimentos cardíacos e taxa de sudação, maior agitação ou prostração (ficam deitados por longos períodos), entre outros. Neste contexto grande destaque tem sido dado aos sistemas de produção multifuncionais (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta - ILPF), que além de possibilitarem a recuperação de áreas e pastagens degradadas, proporcionam benefícios diretos e indiretos aos animais, como o fornecimento de sombra e melhoria das condições microclimáticas e ambientais. Algumas pesquisas conduzidas pela Embrapa demonstram que conforme o tipo de árvore (nativa ou exótica) e o arranjo utilizado (linha simples, dupla ou tripla) tem-se diminuição de 2°C a 8°C na temperatura ambiente dentro dos sistemas ILPF, em relação a pastagens sem árvores. A literatura científica nacional também aponta como resultados diretos do conforto térmico, maior ganho de peso e produção de leite, além de melhoria nos índices reprodutivos (menor incidência de abor-

tos, aumento nos índices de fertilidade, maior peso ao nascer). Somadas, as melhorias aportadas pelos sistemas ILPF à ambiência e ao bem-estar animal cooperam para o seu fortalecimento como ferramenta na otimização do diferencial da bovinocultura brasileira – rebanhos a pasto – e auxiliam na sua consolidação como sustentável no cenário mundial. É verdade, porém, que o conceito “bem-estar” apresenta escalas de valores que variam em função das diferentes óticas éticas, temporais, culturais, socioeconômicas. Mas não se pode negar que é um caminho sem volta. Assim, o bem-estar animal deixa de ocupar um espaço “filosófico”, embasado na ética pessoal, para se tornar aspecto prático, quantificável e aplicável, passível de ser valorado. Por fim, sob a ótica das evidentes mudanças climáticas e do aquecimento terrestre, o jargão “colocar o

boi na sombra” - usado na bolsa de valores quando o investidor ganha muito dinheiro em uma operação, ao ponto de não precisar mais trabalhar - passa a ser também sinônimo de produto final diferenciado

Fabiana Villa Alves

Foto: Fabiane Alves e divulgação

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Biomassa e atividade microbiana A atividade dos microrganismos que compõe a biomassa microbiana do solo, incluindo bactérias, actinomicetos, fungos, protozoários, algas e microfauna, resulta na decomposição da matéria orgânica do solo, participando diretamente do ciclo biogeoquímico ou seja, o percurso realizado no meio ambiente por um elemento químico essencial à vida, que, nesse artigo, nos referimos aos nutrientes. Neste sentido, os efeitos das práticas de manejo nos teores de matéria orgânica do solo são amplamente mediados pela comunidade microbiana, que atua como agente de transformação da matéria orgânica, na ciclagem de nutrientes e no fluxo de energia. A quantidade e qualidade dos resíduos vegetais nos sistemas produtivos provocam alterações na composição da comunidade microbiana, influenciando a sua taxa de decomposição. Neste sentido, os sistemas de manejo do solo atuam direta-

mente na persistência dos resíduos no solo, no tamanho da biomassa microbiana e, consequentemente, na sustentabilidade dos agroecossistemas. Assim, a biomassa microbiana do solo pode ser utilizada para indicar o nível de degradação do solo, em função do sistema de manejo utilizado. De modo geral, verificaram-se decréscimos significativos nos teores de C microbiano nos sistemas com interferência da atividade humana, quando comparados com o sistema natural (mata nativa). Ao longo do tempo, as pesquisas têm demonstrado que teores mais elevados de C microbiano no sistema Integrado-Lavoura-Pecuária (ILP), seguido pelos sistemas sob pastagem contínua, sistema plantio direto e sistema convencional, respectivamente. Do mesmo modo, a atividade microbiana (C-CO2) apresentou-se menos expressivas no sistema convencional de cultivo em relação aos demais sis-

temas cultivados. Por outro lado, o sistema Integrado-Lavoura-Pecuária propiciou os valores mais elevados, seguido pelo sistema plantio direto e pastagem, respectivamente. Quanto ao quociente microbiano, expresso pela relação entre o C microbiano e C orgânico total do solo, os valores mais elevados foram verificados nos sistemas plantio direto e ILP, indicando uma maior dinâmica da matéria orgânica do solo em comparação aos demais sistemas cultivados. As correlações positivas entre matéria orgânica do solo e carbono da biomassa microbiana e respiração basal demonstram a importância do uso de sistemas de manejo mais conservacionistas para o estabelecimento e manutenção de uma biomassa microbiana mais abundante e ativa. Além disso, os maiores níveis de similaridade verificados entre os sistemas ILP, pastagem contínua e plantio direto em relação à mata nativa indicam a importância destas

Fábio Martins Mercante Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste

práticas de manejo no equilíbrio da comunidade microbiana do solo e na melhoria da qualidade do solo. Considera-se, contudo, que a manutenção da qualidade do solo representa o fator primordial de uma agricultura sustentável. Entre os principais parâmetros para avaliar a qualidade do solo destacam-se os atributos relacionados com a dinâmica da matéria orgânica e a diversidade dos organismos do solo. Tem sido observado que os teores de carbono orgânico no solo, que se encontram estáveis sob vegetação natural, apresentam uma redução acentuada com o preparo do solo, sendo afetados especialmente pela intensidade de revolvimento e pela cobertura do solo. A utilização de métodos convencionais de preparo do solo tendem a provocar uma redução nos teores de carbono orgânico do solo, resultante do aumento da taxa de decomposição anual ou da redução da taxa

de adição de material orgânico. Por outro lado, o sistema plantio direto e o sistema ILP podem promover aumentos consideráveis nos teores de carbono orgânico e de nutrientes, principalmente, nas camadas mais superficiais do solo. A quantidade e qualidade dos resíduos vegetais nos sistemas produtivos provocam alterações na composição da comunidade microbiana, influenciando a sua taxa de decomposição. Neste sentido, os sistemas de manejo do solo atuam diretamente na persistência dos resíduos no solo, no tamanho da biomassa microbiana e, consequentemente, na sustentabilidade dos agroecossistemas. Neste contexto, tem sido verificado que o sistema Integrado-Lavoura-Pecuária apresenta-se como a melhor alternativa para a melhoria da qualidade nutricional da matéria orgânica nos sistemas, proporcionando um aumento na sua dinâmica no solo.

Foto: Chistiane Comas

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ILPF como estratégia para o manejo de plantas daninhas

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BUVA: espécie daninha adaptada ao estresse hídrico, resistente ao herbicida glyphosate, que infesta de maneira recorrente culturas agrícolas implantadas na ausência de integração de cultivos e métodos de manejo.

compreender como o manejo está afetando a comunidade de plantas infestantes. Por exemplo, a presença da pastagem e dos animais na área parece afetar o potencial ou a taxa de germinação das sementes de plantas daninhas. Devido aos recorrentes problemas de surgimento de plantas daninhas resistentes aos herbicidas, acredita-

-se que no futuro o custo de produção em monoculturas se torne tão alto devido à seleção de plantas daninhas resistentes e consequente demanda de novos herbicidas, que os sistemas integrados serão a solução mais plausível para a produção de alimentos em bases ambientalmente e economicamente sustentáveis.

Eficiência da dessecação no manejo de plantas daninhas: Ao fundo: área com braquiária implantada no sistema ILP. À frente: área com infestação de plantas daninhas decorrente da ausência de cultivos na entressafra.

Germani Concenço Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste

Germani Concenço/Embrapa. CANOLA: uma espécie de cultivo em segunda safra com alto potencial de supressão de plantas daninhas quando inserida em um sistema integrado de produção.

infestação, mas sim uma comunidade de plantas medianamente adaptadas aos diferentes estresses, as plantas daninhas companheiras do sistema, e não mais da cultura isoladamente. Assim, surgirão com maior frequência espécies daninhas menos especializadas e, portanto, de mais fácil controle. Áreas de soja em monocultura, por exemplo, tendem a apresentar infestação densa de buva e de capim-amargoso, mas a variabilidade do manejo apli-

cado na produção da soja em sistema ILP tende a reduzir a ocorrência destas espécies e parcialmente substituí-las por outras de menor importância como cordão-de-frade e losna, dentre outras. No entanto, a adoção de um sistema integrado de produção não resolve de forma mágica e imediata todos os problemas com plantas daninhas – manejar ainda se faz necessário. A adoção de determinada prática de manejo das plantas daninhas pode

Gessí Ceccon/Embrapa

A busca por tecnologias para produzir de forma mais eficiente tem sido constante na pesquisa agropecuária. Nos últimos anos, os avanços proporcionaram significativa expansão do Sistema Plantio Direto no Brasil, cujas consequências foram a possibilidade de desenvolvimento de novas formas de cultivo, destacando-se cultivos de entressafra, semeaduras consorciadas e finalmente a integração de atividades como a lavoura e a pecuária (ILP), animais e árvores, possibilitando a formatação e implementação de sistemas integrados de produção. Nos sistemas de monocultura, cada espécie necessita de um ambiente preferencial definido: a soja e o arroz crescem mais devagar que o milho, no entanto, precisam de menos luz; o trigo se desenvolve sob temperaturas baixas (inverno), e assim por diante. Como cada cultura tem um ambiente de cultivo relativamente definido, as espécies infestantes mais adaptadas ao ambiente tendem a ocorrer mais naquela cultura – são as chamadas plantas daninhas companheiras da cultura. Em sistemas integrados, existe a tendência de homogeneização nos níveis dos recursos do ambiente – ocorre aumento dos fatores escassos e normalização dos excessivos, devido à exploração de diferentes nichos ambientais em diferentes momentos. Isto faz com que normalmente uma espécie daninha em particular não seja a grande responsável pela

demandar vários anos para refletir satisfatoriamente no banco de sementes do solo. Assim, a integração de usos da mesma área – como integração lavoura-pecuária, contribui para a variabilidade em termos de espécies presentes e na equalização do banco de sementes do solo. Ao adotar a ILP, o produtor deve optar por forrageiras que promovam melhor cobertura do solo para reduzir o acesso das plantas daninhas à luz, e que sejam recomendadas para a região e clima em questão, informação esta que pode ser obtida junto a instituições de pesquisa como a Embrapa. Na escolha da forrageira, o produtor deve preferir espécies que sejam facilmente controladas na dessecação de pré-plantio, normalmente com o herbicida glyphosate. Outro ponto importante refere-se à consolidação dos resultados positivos na dinâmica de plantas daninhas observados a partir da adoção de sistemas integrados. Período médio de três a cinco anos de manejo pode ser necessário para que determinada prática de manejo interfira na comunidade infestante presente no banco de sementes do solo em nível significativo. Logo, o contínuo monitoramento da área permitirá ao produtor tanto aplicar o controle químico na hora certa, como

Foto: Gernani Conceco e Suelma Bonatto

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Cálculo para taxa de semeadura de forrageiras perenes

Com isso, a quantidade aproximada de sementes necessária para ajustar a população desejada de plantas da forrageira, pode ser obtida com a seguinte equação:

Taxa (g / área) =

área x pop (10 / PMS) x VCG

em que: área é em metros quadrados, pop (população) é o número de plantas desejáveis de forrageira por metro quadrado; PMS é o peso de mil sementes da forrageira; e VCG é o valor cultural de germinação (%), obtido em areia ou em solo semelhante ao que será utilizado na semeadura.

A taxa será em gramas de sementes comerciais pela área calculada, em metros quadrados. E, exemplifi-

Taxa =

cando: para semeadura de um hectare de B. ruziziensis, com população de 20 plantas por metro quadrado;

10.000 x 10 (10 / 5,55) x 60

Esse cálculo pode ser utilizado em dois momentos: na compra das sementes, junto ao vendedor, para saber quanto de sementes deverão ser adquiridas para a lavoura e, depois, no momento da semeadura, para ajustar a população desejada de plantas.

=

100.000 108,108

peso de mil sementes de 5,55 gramas e valor cultural de germinação de 60%, seriam necessários:

= 925 gramas por hectare

Importante adquirir sementes com garantia da germinação (não apenas viabilidade, que não garante a germinação em campo) e com alto percentual de pureza, a fim de evitar a contaminação da lavoura com plantas indesejáveis. Semear em pro-

fundidade de 2 a 4 cm, onde ocorre a melhor germinação. Além disso, deve-se ter cuidado para realizar o controle das pragas iniciais, principalmente lagartas, que reduzem a população da forrageira.

Gessí Ceccon – Engenheiro Agrônomo, doutor em Agricultura e Analista da Embrapa Agropecuária Oeste

A semeadura de uma forrageira (Brachiaria ou Panicum) em lavoura da sucessão soja-milho safrinha, tem sido utilizada para formação de pastagem para alimentação de animais, principalmente na época da seca. Essa pastagem, quando semeada solteira após a colheita da soja, permite o pastejo de maio a setembro e, quando semeada em consórcio com milho safrinha, proporciona pastejo nos meses de agosto e setembro, justamente nos meses de menor oferta de pasto nos campos de pecuária. Tanto em cultivo solteiro quanto

em consórcio com milho, é fundamental utilizar a população adequada de plantas. E, para isso, é preciso conhecer a taxa de semeadura, que é a quantidade de sementes a ser utilizada na área que será cultivada. De modo geral, o parâmetro utilizado para comercialização de sementes de forrageiras é o Valor Cultural (VC) e, para a semeadura, tem sido utilizado o número sementes puras viáveis (SPV) ou pontos de VC. No entanto, esses dois parâmetros consideram apenas a relação entre pureza e germinação das sementes, com base

apenas na sua viabilidade, que é informada pelo teste de tetrazólio. Esses critérios não consideram o vigor das sementes, que representa a capacidade das sementes germinarem em condições de campo e se transformarem em plantas. Outro fator desconsiderado é a quantidade de sementes por unidade de peso (peso de mil sementes), que também deve ser considerado no estabelecimento de plantas, a fim de evitar comparações desiguais entre espécies com diferentes quantidades de sementes por unidade de massa. Mais informações sobre esse assunto, consulte a íntegra do Artigo Científico publicado. Disponível em: http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/agrarian/article/viewArticle/3054 Foto: Gessi Ceccon e Suelma Bonatto

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A pesquisa e a utilização da Integração-Lavoura-Pecuária (ILP) em Mato Grosso do Sul

Os estudos em sistemas de integração lavoura-pecuária desenvolvidos pela Embrapa Agropecuária Oeste tiveram início em 1995 com a elaboração de um primeiro projeto de pesquisa que buscava monitorar alguns sistemas de produção e envolviam além das tradicionais lavouras de grãos como a soja, a presença de pastagens. Naquela época, embora já fosse utilizada a semeadura direta da soja, a eficiência do Sistema Plantio Direto era questionada, pois com os cultivos tradicionais com a sucessão soja/trigo ou soja/ aveia, não resultava cobertura do solo por palha na quantidade necessária e tampouco havia a prática da rotação de culturas. Tal situação resultava em elevada dependência das condições climáticas, que tornavam frequentes as frustrações de safra. 52

Revista Produção Rural

A experiência de alguns produtores e resultados de pesquisas já conhecidos serviram de estímulo à equipe de pesquisadores da Embrapa Agropecuária Oeste para proporem, na época, a rotação de soja com pastagem, considerando ciclos de dois anos. Assim, esta forma de cultivo estaria atendendo os fundamentos do Sistema Plantio Direto, pois além da ausência de preparo do solo, da cobertura total do solo pela palhada proveniente da pastagem (Braquiária) dessecada, ocorreria a efetiva rotação de culturas com a alternância da soja com a braquiária. Este experimento está sendo conduzido desde então por um grupo multidisciplinar, que vêm avaliando a eficiência de um sistema de integração lavoura-pecuária sob diversos pontos de vista. O que se encontrou ao longo

dos anos de realização dessa pesquisa foram a comprovação dos múltiplos efeitos benéficos, tanto da pastagempara a lavoura, quanto vice-versa. Quando temos em um mesmo local a alternância da soja com a pecuária, verificam-se uma série de efeitos benéficos para o solo, plantas e o ambiente, inclusive com aumento de produtividade. Estes efeitos são resultado da sinergia que ocorre e que, com o passar do tempo, se manifestam de forma mais expressiva. Dentre os benefícios, destaca-se a maior tolerância das plantas aos veranicos, reduzindo as perdas na produtividade da soja pela maior capacidade de buscar água em camadas mais profundas do solo e pelo maior volume de água armazenado no solo. Na pecuária se observa aumento na produção forra-

geira de pastagem após a soja, além de qualidade superior da forragem, permitindo maior lotação e maior precocidade na terminação dos bovinos. Para Mato Grosso do Sul, a utilização da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) é de fundamental importância, visto a grande extensão de terras ocupadas com pastagens e o elevado grau de degradação, que se verifica em boa parte destas áreas. A adoção da ILP pode, sem maiores dificuldades, multiplicar a produtividade média de carne, passando dos atuais 50 kg/ha/ano para 400 a 500 kg/ha/ano, o que teria um impacto extraordinário na economia regional. Com relação aso benefícios para a lavoura, a presença da pastagem contribui para a estabilidade da produção, na redução de perdas por erosão, na

Integração é fundamental no MS devido às terras ocupadas com pastagens

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Experimento ILP com soja e pastagem, Dourados, MS. Foto: JCS

redução do uso de pesticidas, na redução do custo de produção e ainda ocorrem outros benefícios ambientais, como a menor emissão de gases que causam o efeito estufa e a menor persistência de pesticidas no solo. Atualmente, o sucesso do sistema ILP em áreas tradicionais de agricultura é amplamente conhecido. Mas a ILP possibilita ainda a viabilização da lavoura de soja, em áreas anteriormente consideradas como inaptas aos cultivos anuais, devido às condições de solo e clima, tais como boa parte das regiões Leste e Sudeste do Estado, cujos solos são de textura média e arenosa. Muitos exemplos de sucesso já são

observados, com boas produtividades de soja, quando as lavouras são implantadas sobre pastagens, neste caso, temos a proteção do solo pela palhada que reduz as perdas de água por evaporação e possibilita o maior armazenamento da água no solo. Com a integração, ocorre posteriormente a decomposição das raízes das pastagens, proporcionando uma melhoria na estrutura do solo, viabilizando o maior aprofundamento das raízes da soja, favorecendo o suprimento de suas necessidades de nutrientes e de água. Esse sistema de produção foi denominado “Sistema São Mateus”, que foi desenvolvido pela Embrapa e validado ao longo de oito anos de

Soja sobre pastagem em sistema ILPF em Ponta Porã, MS

pesquisa realizada na fazenda São Mateus, município de Selvíria, em solo com apenas 9% de argila. Nesta região é possível observar o efeito sinérgico dos sistemas, pois as atividades isoladas, tais como produção exclusiva de pecuária ou de lavoura, na maioria das vezes não são viáveis agronomicamente e economicamente. Porém, quando estão associadas, formam um sistema de produção integrado, conhecido como Sistema ILP, em que ambas as atividades (pecuária e lavoura) são produtivas e economicamente viáveis. Em síntese, a lavoura só é viável se tivermos a pastagem e a pastagem, por sua vez, só é viável se tivermos a lavoura.

Julio Cesar Salton Pesquisador Embrapa Agropecuária Oeste Foto: Stael C. Rego, Carmen Pezarico e Julio Salton

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Carne de Angus brasileira começa a ser exportada para a Europa Os criadores de gado angus e os frigoríficos brasileiros se preparam para iniciar as exportações de carne premium para alguns países da Europa. Segundo Reynaldo Titoff Salvador, diretor do Programa Carne Angus Certificada, inicialmente serão embarcadas cerca de 15 a 20 toneladas por semana. As operações serão negociadas pelo frigorífico Marfrig. “A tendência é aumentar essa participação ao longo do ano para Alemanha e Holanda”, disse o executivo, que realizou o Angus Day, durante a Anuga 2015, maior feira de bebidas e alimentos do mundo, no estande

da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (Abiec). “O objetivo é mostrar aos europeus que o Brasil também sabe produzir carne de qualidade superior”. Durante todo o dia mais de 300 quilos de carne de angus (churrasco) foram servidos aos visitantes. Também foi lançado na feira o primeiro hambúrguer do mundo feito com carne brasileira de alta qualidade. A empresa holandesa Zandlebergen Brothers está fabricando o produto com carnes nobres importadas do Brasil e distribuirá em toda a Europa.

Viviane Taguchi


ILPF: escolha de espécie e manejo de árvores é essencial para qualidade da madeira

Quanto maior a qualidade da madeira maior o retorno financeiro

Outras espécies No Brasil existem espécies nativas com boa qualidade de madeira, porém com crescimento mais lento que o apresentado pelo eucalipto. Enquanto com o eucalipto é possível retornar os animas para a área cerca de 12 a 14 meses após o plantio, com as nativas o prazo aumenta consideravelmente para entre 24 e 36 meses ou mais,

A finalidade de uso da madeira que vai ser produzida, assim como o manejo das árvores, são aspectos essenciais a serem considerados durante o planejamento de um sistema de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Como explica o pesquisador da Embrapa Gado de Corte, André Dominghetti Ferreira, a qualidade da madeira é influenciada por vários fatores e entre os principais estão: espécie arbórea, manejo silvicultural, desrama e desbaste. “Entre as características desejáveis das árvores a serem cultivadas em sistemas de ILPF, pode-se citar fuste alto, copa pouco densa, crescimento rápido, capacidade de fornecer nitrogênio e nutrientes à pastagem, adaptação ao ambiente e tolerância à seca, ausência de efeitos tóxicos sobre os animais, capacidade de forne-

cer sombra e abrigo bem como controle da erosão”, diz Ferreira. O destaque para o eucalipto como componente arbóreo decorre de, apesar de ser uma espécie exótica, apresentar rápido crescimento e ser bem adaptada às condições de clima e solo do Brasil. “São mais de 600 espécies e nesses cerca de 80 anos de pesquisas no país, vários experimentos de melhoramento genético foram desenvolvidos dando origem a vários clones melhorados de acordo com a demanda”, acrescenta o pesquisador. Segundo ele, vários clones são indicados para produção de celulose ou carvão, por exemplo. Para ILPF são usados clones que apresentam multiplicidade de uso e densidade da madeira intermediária, podendo ser utilizados para movéis, lenha, carvão ou outros produtos, depen-

dendo da necessidade. Outras vantagens do eucalipto como componente arbóreo nos sistemas agroflorestais são: rápido crescimento e considerável produtividade de madeira, cultivo em elevado estágio tecnológico em algumas regiões brasileiras e potencial para capitalizar os sistemas agroflorestais, pois funciona como uma “poupança-verde”. “Apesar da vasta possibilidade de uso da madeira de eucalipto em ILPF, o agricultor deve dar ênfase às formas de uso mais nobres como postes, madeira serrada e laminados para a produção de móveis, obtendo assim maior lucratividade no sistema. Quanto mais nobre for o emprego da madeira, mais longo será o período para corte e maior será a complexidade do manejo a ser adotado”, informa o pesquisador.

dependendo da espécie, obrigando o pecuarista a deixar a área fechada durante esse tempo. Caso o produtor não tenha pressa, pode-se citar como opções de nativas o baru, a canafístula, o cedro rosa e o paricá. “Quanto maior a qualidade da madeira, maior o retorno financeiro. A madeira de algumas espécies é comer-

Manejo A produção de madeira de qualidade depende da aplicação de algumas técnicas como a desrama e o desbaste. A desrama consiste na retirada dos ramos laterais para a obtenção de madeira sem nós, aumentando o aproveitamento das toras das árvores. Alguns cuidados são necessários para a realização das desramas, como por exemplo, realizar a primeira desrama quando o diâmetro à altura do peito (1,30 m do solo) for de no míni-

mo seis centímetros; realizar a desrama em até no máximo 30% da altura total da árvore e fazer os cortes dos ramos bem rentes ao tronco. Geralmente são realizadas três desramas, buscando atingir seis metros de fuste livre de ramos laterais. Além de propiciar a produção de madeira de boa qualidade, outra função da desrama é permitir a entrada dos animais na área e aumentar a incidência da luz do sol, que favorece a

cializada por valores bem superiores às de outras espécies, mas tudo depende da demanda pela matéria-prima. Apesar do maior retorno financeiro, estas espécies demandam maior investimento inicial, em função principalmente do valor de aquisição da muda e manejo pós-plantio”, explica Ferreira.

produção simultânea de forrageiras. O momento ideal da primeira desrama dependerá de fatores como água, adubação e temperatura, pois influenciarão no desenvolvimento inicial das plantas. A segunda técnica - o desbaste - é utilizada para reduzir o número de árvores por hectare visando aumentar a área útil das árvores remanescentes. Além disso, é uma forma de injeção de renda no sistema, pois antecipa uma parte da renda adquirida com a madeira. A madeira proveniente dos desbastes intermediários pode ser comercializada como lenha, carvão, escoras para a construção civil, entre outras possibilidades. Podem ser realizados um ou dois desbastes, e as taxas de retirada de indivíduos são variáveis, pois dependem de fatores de crescimento e qualidade das árvores. “A decisão para realização dos desbastes deverá sempre ser tomada com o auxílio de um responsável técnico que acompanha o sistema”, orienta o pesquisador.

Kadijah Suleiman (MTb 22729 RJ) Embrapa Gado de Corte gado-de-corte.imprensa@embrapa.br Telefone: 67 3368-2203 Foto: Kadijah Suleiman

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Novas forrageiras adaptadas aos sistemas de ILP O avanço tecnológico na atividade agropecuária ainda possibilita ganhos em produtividade mesmo em sistemas especializados de monocultivo. No entanto, em cenário de instabilidade climática, política e econômica, a opção pela especialização é uma decisão de alto risco. Considerando que nos últimos anos o custo de produção da soja tem chegado cada vez mais próximo da receita; o que acontecerá se os problemas políticos e econômicos forem equacionados e o dólar voltar a valer R$ 2,00? Uma forma de reduzir riscos é a diversificação da produção e os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) são opções viáveis. A rotação de culturas anuais e pastagens é um dos

pilares deste sistema. As forrageiras além de gerarem renda direta com a produção de carne, deixam resíduos de palha e de raízes que desempenham funções ambientais. A palha protege o solo, absorvendo o impacto das gotas de chuva, e as raízes penetram nas camadas adensadas, descompactando o solo. Juntas, estas frações desempenham outras funções como a recuperação do teor de matéria orgânica do solo, o aumento da porosidade e da taxa de infiltração de água no solo, reduzem erosão e atuam no controle de plantas daninhas, pragas, doenças e nematoides. Tradicionalmente, utilizava-se na entressafra das culturas de verão, utilizava-se forrageiras anuais como o milheto e o sorgo para pastejo, nas regiões quentes, e aveia e azevém, nas regiões frias. Nas duas últimas décadas, os produtores descobriram o cultivo de forrageiras perenes, em substituição as anuais, na safrinha, e o plantio direto de soja sobre braquiária dessecada, revolucionando alguns conceitos. O cultivo de forrageiras perenes como

cultura anual aumentou a disponibilidade de forragem no pico da estação seca (inverno), quando há falta de pasto, e obteve-se palha em abundância para o plantio direto. Com isto, a Brachiaria ruziziensis retornou ao mercado em cultivo solteiro ou em consórcio com milho. Esta forrageira se destacou pela uniformidade de cobertura do solo e pelo baixo custo de sementes e, ainda, pela facilidade de dessecação. Ela substituiu o milheto com a vantagem de continuar crescendo durante a estação seca. Além desta, o capim Aruana foi outra forrageira redescoberta pelos produtores, por tolerar baixas temperaturas e pela facilidade de dessecação. Surgiu um novo perfil de consumidor que busca sementes de melhor qualidade e a menor preço e de algumas forrageiras marginalizadas pelos pecuaristas tradicionais. Recentemente, novas forrageiras foram lançadas com características favoráveis aos sistemas integrados, tais como os capins BRS Paiaguás e BRS Tamani. Ambas são plantas de porte baixo, fácil de consorciar com culturas anuais e de manejar sob pastejo. A BRS Paiaguás é uma cultivar de B. brizantha, que produz forragem de boa qualidade, é mais produtiva e dessecada com quase a mesma fa-

Nova forrageiras foram lançadas com características favoráveis ao sistemas integrados

cilidade que a B. ruziziensis. O capim BRS Tamani é uma cultivar de Panicum maximum muito produtiva e de boa qualidade, sua dessecação é semelhante ou mais fácil que as cultivares de B. brizantha, dependendo das condições climáticas do ano. O capim Xaraés é outra forrageira muito produtiva em sistemas com pastagens de 6 a 18 meses de duração e apresenta sistema radicular agressivo, embora tenha limitações como a dificuldade de dessecação e perda de qualidade em pastagens mais velhas e sem adubação. O estabelecimento dessas forrageiras com milho é uma prática domi-

nada pelos produtores. Atualmente, busca-se o manejo para o estabelecimento de forrageiras em consórcio com soja, para antecipar o primeiro pastejo. As forrageiras disponíveis no mercado apresentam algumas virtudes e limitações, que devem ser conhecidas quando do planejamento das rotações de culturas. Na Embrapa Agropecuária Oeste estão sendo desenvolvidos estudos visando identificar forrageiras com características mais favoráveis aos Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária e modalidade de cultivos que possibilite otimizar uso destas plantas.

Luís Armando Zago Machado Pesquisador Embrapa Agropecuária Oeste

Foto: Suelma Bonatto, Dalizia Aguiar e Luiz A. Zago

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O sistema ILPF convivendo com mudanças climáticas e reduzindo a emissão de gases de efeito estufa Todos os dias ouvimos alguma notícia ou alguém comentando sobre o “mudanças climáticas”, “efeito estufa”, “aquecimento global”, parece um pouco complexo, não é? Tantos números, estimativas, mas o que realmente isso tem a nossa produção agrícola? Ora, tem tudo a ver..... Como já sabemos a agricultura, principalmente em grande escala, é muito dependente do clima. Dentro de casa, ainda contornamos o calor excessivo com ar condicionado, irrigamos o jardim, nos protegemos do frio... Mas uma lavoura sem chuva é prejuízo na certa, não é? A pastagem então, com a seca e às vezes ainda geada, sobra pouco para o gado comer. E o calor excessivo, não tem como colocar ar condicionado para todos os animais! Realmente não tem muito para onde correr e além disso as estimativas sobre as mudanças do clima não ajudam muito para nossa região central do Brasil. Os cenários mostram aumento na irregularidade das chuvas e aumento da temperatura média. Já não bastasse o custo de produção cada vez maior, ainda com risco climático cada vez maior, onde vamos parar? Será que nossa agricultura está com os dias contados então? Realmente não é um cenário animador, mas nem tudo está perdido. Não podemos mudar o clima, mas podemos nos adaptar a ele. E nesse quesito a agricultura brasileira tem evoluído bastante. Hoje temos disponível diversas modalidades de sistemas integrados, onde não só a lavoura, mas também animais e árvores podem ocupar a mesma área de produção, beneficiando-se um ao outro. Apesar do uso dos sistemas integrados de lavoura-pecuária (ILP) ou ainda com floresta (ILPF) serem recentes, a pesquisa científica tem

Avaliação da emissão de metano em bovinos sob pastejo em sistema ILP. Animais com cabresto equipado com tubo para coleta de metano. Ao fundo lavoura de milho, em Dourados-MS

Avaliação da emissão de gases de efeito estufa em pastagens após deposição de urina ou esterco de bovinos, em experimento de longa-duração em Dourados-MS.

demonstrado que são melhores que os sistemas simples, como só lavoura ou só pecuária para produção frente aos efeitos adversos do clima. Mas além das formas de adaptação todos precisamos estar atentos às formas de amenizar os efeitos sobre a mudança do clima em nível global, que é dada pelo aumento dos gases de efeito estufa (GEE). Além das indústrias, os veículos, as queimadas, famosos pela emissão de GEE, a agricultura também é uma das fontes de emissão. E no cenário nacional a atividade agrícola tem um percentual significativo nas emissões, dado ser a base econômica do nosso país. Aí vem a pergunta: “Mas então quer dizer que além de produzir, comercializar, administrar as finanças, ainda temos que nos preocupar com esses gases de efeito estufa? Se ainda fosse

erosão que dá para ver as perdas de solo, mas gases, como saber o quanto está emitindo nossos sistemas de produção?” Pois é, essa pergunta é o que os órgão de pesquisa como Embrapa e outras instituições estão buscando obter nas pesquisas em nível nacional. Como sabemos, nossa produção agrícola é destinada a atender uma população cada vez mais preocupada com os impactos ao meio ambiente e buscando produtos mais ambientalmente corretos. Mesmo que hoje em dia ainda não está claro ao produtor como os gases de efeito estufa podem impactar a agricultura brasileira, não precisamos voltar muito na memória para lembrar do impacto econômico quando há restrição aos nossos produtos no mercado internacional. Já em termos mundiais dados sobre emissão para as atividades agrícolas,

porém são obtidos de médias gerais de países que já tem estudos nessa área. No Brasil, os resultados das pesquisas iniciais com gases de efeito estufa, nos diferentes sistemas de produção, tem mostrado que os produtos obtidos em sistemas integrados de produção tem um percentual de emissão bem menor do que os produtos obtidos em sistemas não integrados. Além disso, quando incluímos árvores

para produção de madeira, por exemplo, o balanço geral do sistema é positivo para o sequestro de carbono. Ou seja, fica mais carbono retido no sistema de produção do que é emitido para atmosfera. Nesse balanço, até o famoso metano emitido pelos animais é compensado pelo gás carbônico capturado pelas árvores. Portanto, podemos ver que o lado bom de tudo isso é que os sistemas

Câmara e acessórios utilizados na avaliação de emissão de gases de efeito estufa do solo

integrados, além de ajudar a conviver com os problemas climáticos cada vez mais evidentes, ainda podem contribuir para reduzir os impactos ao ambiente. Uma ótima estratégia para qualquer produtor adotar, pois não se trata de um produto ou maquinário que demanda grandes investimentos e sim de uma tecnologia que está disponível a todos e sendo aperfeiçoada a cada dia pelo próprio produtor.

Dra. Michely Tomazi Pesquisadora da Embrapa Agropecuária Oeste

Foto: Michelly Tomazzi e Suelma Bonatto

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uma propriedade agrícola. Outra possível limitante para ações de TT é que, de maneira geral, o perfil técnico dos profissionais envolvidos com assistência técnica e extensão rural tende a ser o de especialização, carecendo da visão holística de sistemas, necessária para atuação em propriedades que adotem iLPF. Dessa maneira, é possível antever que TT para estimular a adoção de sistemas iLPF exigirá ações coordenadas das competências dos setores público e privado envolvidos no agronegócio brasileiro. A Embrapa sempre adotou o estabelecimento de parcerias público-privadas (PPP) em suas ações de P&D e TT, sendo reconhecidos, por exemplo, o

Rede de fomento em iLPF As previsões indicam que, em 2050, a população mundial atingirá mais de nove bilhões de pessoas, e a produção de alimentos para essa população é o principal desafio da agricultura mundial nos próximos decênios. Acrescente-se a esse desafio que o esforço na produção de alimentos deverá ocorrer em um cenário de mudanças climáticas que afetam a produtividade agrícola e que a sociedade atual não mais aceita a expansão de áreas agrícolas, através de desmatamento da vegetação nativa, como alternativa para o aumento da oferta de alimentos. Conforme indicado por diversos organismos internacionais, o Brasil deverá ser um dos principais protagonistas nesse esforço mundial de produção de alimentos. Esse protagonismo irá requerer a intensificação tecnológica dos sistemas de produção agrícola considerando maior eficiência no uso dos recursos naturais, a não expansão de fronteiras agrícolas, a atenção às demandas sociais dos atores envolvidos nas cadeias de produção agrícola, o atendimento de exigências de consumidores finais quanto à qualidade de alimentos e a viabilidade econômica dos empreendimentos rurais.

Nesse contexto, da necessidade de intensificação sustentável da agricultura brasileira, se destacam os sistemas integrados de produção como o iLPF, que permitem a exploração de lavouras, pecuária e florestas em uma mesma propriedade com uma série de benefícios biológicos, ambientais, sociais e econômicos para a exploração agrícola. No Brasil, a adoção de sistemas iLPF pode representar uma importante quebra de paradigmas em termos de agricultura tropical mundial na medida em que esses sistemas propiciam maior eficiência e sinergismo na utilização dos fatores de produção na propriedade, resultando em expressivos aumentos na produção de grãos, carne ou leite, energia e madeiras. Por exemplo, a utilização de sistemas iLPF para recuperação e incorporação ao sistema produtivo de uma área estimada de 60 milhões de hectares de pastagens degradadas indica que a expansão da produção agrícola brasileira pode ser alcançada sem a necessidade de desmatamento e abertura de novas áreas. Sistemas integrados também desempenham importante papel na mitigação de emissões de gases de efeito estufa, e

a expansão de áreas com iLPF foi incluída no Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, ou Plano ABC, como uma das estratégias para cumprimento das metas de redução de emissão de gases assumidas pelo Brasil na Conferência das Partes (COP-15). Sistemas iLPF envolvem a utilização intensiva de tecnologia, e, embora adequados tanto para agricultura empresarial quanto para agricultura familiar, a sua adoção dependerá da existência de assistência técnica especializada em sistemas integrados e da disponibilidade de recursos financeiros. Embora exista um expressivo acervo de conhecimento e tecnologias para sistemas agrícolas convencionais, a sua utilização em sistemas de iLPF não é um processo direto. Assim, a adaptação, a geração e a transferência de novas tecnologias adequadas para iLPF são prioridades no portfólio de pesquisas da Embrapa. Ações de transferência de tecnologia (TT) em iLPF devem tomar em consideração que sistemas integrados apresentam maior complexidade e também que são amplas as possibilidades de combinações temporais e espaciais entre lavoura, pecuária e florestas em

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Fomentar o desenvolvimento e a utilização de sistemas iLPF em propriedades de pequeno, médio e grande porte; Estimular e promover atividades de pesquisa aplicada e adaptativa, bem como ações educacionais e de impacto cultural relacionados à iLPF;

sucesso de parcerias estabelecidas com fundações e associações de produtores de sementes para desenvolvimento de cultivares de diversas espécies. Seguindo essa linha de atuação, a Embrapa vem adotando, em âmbito local, regional e nacional, diversas parcerias com a iniciativa privada para implementação de ações de TT em sistemas iLPF. A Rede de Fomento iLPF é uma parceria público-privada, estabelecida, em 2012, entre a Embrapa, a John Deere, a Syngenta e a Cooperativa Agroindustrial do Paraná (Cocamar), com o objetivo principal de apoiar as ações de TT que fomentassem o uso de sistemas de iLPF na agricultura brasileira. Posteriormente, as empresas

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Contribuir para a formulação e a implementação de ações de transferência de tecnologia em iLPF;

Parker e Dow AgroSciences também ingressaram na Rede de Fomento iLPF. Nessa PPP, que tem a coordenação técnica da Embrapa, os parceiros privados aportam recursos financeiros e agregam expertise técnica, administrativa e de gestão, propiciando maior dinâmica e agilidade nas ações de TT em iLPF realizadas em todo o território nacional pelos Centros de Pesquisa da Embrapa. Dessa maneira, setor público e privado atuam conjuntamente para a expansão do uso de iLPF, em uma iniciativa de importância estratégica para a agricultura brasileira e também de grande apelo ambiental, social e econômico. Os principais objetivos da Rede de Fomento iLPF são:

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Apoiar a capacitação e o treinamento de profissionais para assistência técnica e transferência de tecnologia em sistemas de iLPF;

Participar na formulação de políticas públicas direcionadas à utilização de sistemas integrados que visem à intensificação sustentável da agricultura brasileira.

Estrutura O processo de gestão da Rede de Fomento é participativo e a governança da Rede é feita através de dois colegiados. A Assembleia Geral, que tem a participação de altos diretivos da Embrapa e das empresas participantes, é o principal colegiado da Rede Fomento e responsável pelas decisões de caráter estratégico. O Conselho Gestor, composto paritariamente por representantes da Embrapa e das empresas privadas, é o colegiado responsável pelas decisões táticas e operacionais da Rede. A Fundação Eliseu Alves é responsável pela gestão administrativo-financeira dos recursos aportados e pela implementação das decisões do Conselho Gestor. O planejamento de atividades e de alocação de recursos

é realizado para cada ano agrícola, e, atualmente, a Rede de Fomento apoia as ações de TT em iLPF da Embrapa, como a Rede Nacional de Unidades de Referência Tecnológica (URT) em iLPF e as ações de TT (dias de campo, capacitação continuada, cursos, reuniões técnicas, palestras e visitas) realizadas nessas URTs e um projeto de Comunicação em iLPF. A Rede também apoia as ações de um projeto de Sistematização de Informações geradas nas URTs, que tem como objetivo a avaliação da adoção de sistemas iLPF e dos impactos ambientais, econômicos e sociais desses sistemas. Também é objetivo desse projeto a análise estratégica das possibilidades de expansão de sistemas iLPF nos diversos biomas brasileiros.

Ronaldo Pereira de Andrade Pesquisador - Secretaria de Negócios da Embrapa Fonte: Revista Opiniões

Foto: Divulgação

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Depoimento Ake Van Der Vinne

Fazenda Cabeceira - Maracaju/MS

O produtor rural Ake Van Der Vinne, da fazenda Cabeceira, localizada em Maracaju (MS), é pioneiro no uso da Integração-Lavoura-Pecuária (ILP), no Sul do Mato Grosso do Sul, conforme demonstra a matéria publicada no Jornal da Cooagri, datado de julho/1994 e os depoimentos de outros produtores, como citado por Irineu Schwanbach. Ake acha gratificante ser considerado o pioneiro no uso do ILP no Sul do Estado. No começo tinha um problema relativamente simples que era acertar o ponto de dessecação da braquiária, que rebrotava e competia com a soja seguinte, cultivada por meio do plantio direto. “Nessa época, os rendimentos não eram bons, mas insisti. Estudei, li, conversei, errei, busquei a solução e finalmente acertei. Essa foi uma fase que exigiu muita insistência, perseverança, determinação e paciência, mas valeu a pena, pois os resultados, após superar essa e outras dificuldades que surgiram, foram e ainda são estimulantes. O desempenho do ILP é muito bom, especialmente, agora com a alta no valor da arroba do boi”, destaca. Para ele, a ajuda das instituições de pesquisa, dentre elas a Embrapa, foi muito importante, pois algumas respostas foram encontradas por meio dessas parcerias. “Naquela época, eu sempre participava de Dias de Campo e de eventos que a Embrapa e outras instituições realizavam. Estava

sempre buscando respostas e os pesquisadores da Embrapa, tanto de Dourados quanto de Campo Grande, me ajudavam com informações importantes. Acredito que a pesquisa teve um papel fundamental para a consolidação desse importante sistema produtivo”, salienta Der Vinne. Ake acredita que ainda existem desafios a serem superados e salienta a importância da adoção do ILP por outros produtores. “Ainda são poucos os agricultores que utilizam a integração das duas atividades: lavoura e pecuária, como sistema produtivo, apesar do potencial natural de nossa região favorecer essa forma de manejo. A maioria ainda segue com o sistema de produção de lavoura, alternando milho-soja-milho”, afirma ele. Para o fazendeiro, apesar de poucos produtores estarem utilizando o ILP, o número ainda é pequeno e isso impacta diretamente na qualidade ambiental das propriedades rurais do Sul do MS e explica: “Tenho em minha propriedade poucos problemas de controle e resistência de pragas e doenças, o uso da integração reduziu muito mesmo, mas ainda tenho algumas leves dificuldades nesse aspectos, especialmente, com falsa medideira, bulva e ferrugem asiática. Acredito que isso possa ser um reflexo do sistema produtivo que me cerca, onde impera a produção exclusiva de lavouras: milho-soja-milho”.

Foto: Davida Rajell

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Depoimento Dair Luiz Bigaton

Fazenda Alto Alegre - Dourados/MS

“O ILP foi um divisor de águas em minha vida e posso considerar que existe um antes e um depois da adoção do sistema” disse o produtor Dair Luiz Bigaton, proprietário da fazenda Alto Alegre, em Rio Brilhante. Ele explica que o ILP modificou sua forma de pensar o negócio rural, ou seja, a gestão da fazenda e continua: “Passei a tratá-la como uma empresa, em que tenho planejamento, cenários futuros, previsões de compra e venda, custo de produção, enfim, preciso estar atento a todas as necessidades do negócio, além de me manter ligado as questões climáticas e as mudanças que ocorrem nas estações do ano”, resume. Dair pratica o ILP há 16 anos e acredita que um dos principais benefícios do sistema foi a organização e explica que o processo exige uma capacidade de planejamento e organização financeira comprometida. “A cada seis meses é preciso ter um novo lote de animal para entrar no sistema, com isso, o fluxo de caixa da propriedade precisa estar organizado, o sistema fica prejudicado com atrasos na compra ou venda de animais, na rotação de culturas, entre outras providências que têm prazo para ser realizados”, explica. Ele acredita que a capacidade da fertilidade do solo nas pastagens é outro diferencial que o ILP proporciona. “Os investimentos feitos no solo para a agricultura (correção e complemento de fertilidade com uso de calcário, gesso e adubação) pos-

sibilitam que as pastagens produzam de forma abundante sem demandar novos investimentos, além do controle de plantas daninhas”, explica. Outra vantagem se refere ao enraizamento das raízes dos pastos. Dair disse que usa o capim Tanzânia, que chega a até um metro de profundidade e que “isso contribui muito com a sustentabilidade do solo e com a quebra do ciclo de doenças e pragas também ocorrem, pela troca de atividade entre agricultura e pecuária periodicamente”. “O ILP proporcionou para mim uma otimização nos resultados da pecuária, em algumas situações consigo antecipar um ciclo inteiro da pecuária, produzindo animais com excelente acabamento em até dois anos”, destaca Dair. E, então quando a agricultura volta ao local que um dia foi pasto, devido as modificações na qualidade do solo, no sistema radicular das plantas, colho muito mais do que nas áreas em que não tiveram pecuária anteriormente. “Hoje, eu falo com convicção que o ILP transformou minha fazenda em uma empresa, pois as receitas e despesas neste sistema são praticamente mensais e que nos dá a possibilidade de diluir as mesmas no decorrer do ano, saindo dos preços menores nas safras e nos dando mais autonomia e folga para obtenção de créditos em melhores condições”, explica Dair.

Foto: Christiane Comas

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Expansão da soja eleva safra de grãos do país, diz Conab Levantamento de campo sobre intenções de plantio na safra de grãos 2015/2016 estima produção que pode variar de 210,3 a 213,5 milhões de toneladas, aumento de 0,2% a 1,7% sobre a safra anterior, que colheu 209,8 milhões de toneladas, informou no dia 9 de outubro de 2015 a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O maior destaque da previsão é a soja, que deve ultrapassar 100 milhões de toneladas no país, pela primeira vez. A produção de milho, primeira safra, está estimada entre 28 e 29 milhões de toneladas, o que significa redução de 5,8% a 8,9% em relação à safra 2014/2015, de 30,7 milhões de toneladas. A produção de trigo deve crescer em torno de 6,7 milhões de toneladas — 11,4% a mais que na sa-

fra passada – que sofreu os efeitos do excesso de chuvas, especialmente no Rio Grande do Sul. De acordo com os técnicos da Conab, a área total de plantio está prevista entre 58,1 e 59 milhões de hectares, com aumento de até 1,5% sobre os 58,1 milhões de hectares da safra anterior. O aumento se deve, especialmente, à expansão das áreas com plantio de soja. Em contrapartida, a área do milho, primeira safra, será reduzida de 4,2 a 6,7%, em razão do crescimento do plantio de soja. O levantamento de campo foi feito entre 20 e 26 de setembro, com informações colhidas dos produtores em termos de área plantada, produção e produtividade média e pacote tecnológico a ser utilizado pelos agricultores.

FONTE: Agência Brasil Stênio Ribeiro — Repórter José Romildo – Edição

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Depoimento Irineu Darcio Schwambach

Fazenda Agromatogrosso - Ponta Porã/MS

O produtor rural Irineu Dárcio Schwambach, da fazenda Agromatogrosso, localizada em Ponta Porã (MS), destaca a importância do plantio direto como percussor do ILP na região. O uso do sistema ILP em sua propriedade foi acontecendo gradativamente. Segundo ele, quando chegou na região, por volta da década de 70, com seu pai, iniciaram com o cultivo de soja, adotando posteriormente o plantio direto, em seguida teve início as práticas de rotação de cultura, com cultivo de trigo. Gradativamente, encontraram na pecuária extensiva tradicional a possibilidade de diversificar a renda da propriedade, mas por muitos anos, os trabalhos foram conduzidos em áreas diferentes, sem integração. Com o passar do tempo, eles perceberam a necessidade de melhorar a qualidade das pastagens, que até então eram realizadas nos locais em que o solo era mais pobre. Mas, houve um tempo em que o solo ficou muito arenoso e as pastagens estacionaram. “Utilizamos diversas variedades de pastagens diferentes, até que chegou o capim Tanzânia, que proporcionou uma importante melhoria para nossas pastagens. Ao longo dessa fase também utilizamos adubos”, explica Irineu. Ele conta que seu primeiro contato com esse inovador conceito de integrar a lavoura com a pecuária surgiu por meio de conversas com o holandês e produtor rural de Maracaju, Ake Bernhard Van Der Vinne. “Hoje, já estamos completando nove anos de ILP em nossa propriedade e percebemos inúmeros benefícios que o sistema oferece”, afirma ele. Dentre eles, destacam-se: elevação da maté-

ria orgânica e melhor equilíbrio dos nutrientes no solo; eliminação das plantas daninhas, como buva e o capim amargoso e controle de pragas na lavoura. Para Irineu, as condições climáticas estão diretamente ligadas a produtividade da soja. “Em nossa propriedade percebemos que o efeito danoso da estiagem tem um impacto menor na lavoura, devido ao ILP, que aumenta a tolerância a seca, que chega até 20 dias sem chuvas, com tranquilidade. Nos anos em que a estiagem é intensa, a produtividade fica um pouco menor, porém, nos anos em que não ocorrem estiagem, a produtividade aumenta significativamente”, explica ele. A maior dificuldade observada por Irineu, e que precisa ser superadas para expansão do ILP no Centro-Oeste, passa por uma questão cultural, em que o agricultor terá que aprender sobre pecuária, ainda que inicialmente seja em pequena escala. “O ILP apresenta muitas vantagens para a propriedade rural e tanto o Mato Grosso do Sul quanto o Mato Grosso, apresentam vocação natural para esse sistema, possuem clima propício, sol, terras, talentos humanos, tecnologias, enfim, têm muitos pré-requisitos favoráveis; podemos produzir ainda mais carne e grãos”, acrescenta ele. A Embrapa Agropecuária Oeste conta com uma diversidade de pesquisadores e técnicos que auxiliam esclarecendo dúvidas, mas, especialmente, apresentando novos cenários, sinalizando caminhos de futuros e apresentando soluções para problemas que algumas vezes surgem de uma safra para outra. Foto: Maria G. Cavalcante

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Depoimento Lourenço Tenório Cavalcanti Fazenda Guará - Maracaju/MS

O produtor rural Lourenço Tenório Cavalcanti, de Maracaju (MS), da fazenda Guará, tem como focoprodução de soja e engorda de gado. Segundo ele, o ILP apresenta inúmeros benefícios, dentre os quais destaca a viabilização da rotação de culturas, a diversificação da atividade agropecuária, além de proporcionar aumento da matéria orgânica no solo, contribuindo com a melhoria da sua qualidade, por meio do uso do manejo sustentável proporcionado pelo sistema. Tenório é agricultor há mais de quarenta anos e nos últimos doze anos vem se dedicando também à pecuária. Segundo ele, nos últimos cinco anos a produtividade média de suas lavouras foi de 61 sacas por hectare. Sendo que na safra 2014/15, colheu 62,4 sc/há. “Atualmente tenho uma boa cobertura de solo e em certas áreas onde o acúmulo de palha foi maior, precisei ajustar a plantadeira, alongando para frente o disco de corte em linhas alternadas”, explica o agricultor. Ele reconhece que o uso do ILP mantém a longe-

vidade do solo, além de contribuir com o controle de plantas daninhas e explica “o meu problema com buva, hoje, é mínimo. Além disso, na minha fazenda o ILP reduziu as perdas de matéria orgânica que ocorrem nas lavouras ao longo do tempo, contribuiu com a descompactação do solo e resolveu muitos problemas com erosão”. “Quem ama sua terra e quer preservá-la, encontra neste sistema o melhor caminho. Eu recomendo a adoção e uso do ILP, como já venho fazendo ao longo dos anos, é uma caminhada que vai se consolidando com o tempo. Não é de um ano para outro que você entra na ILP, o processo é gradativo, temos que quebrar paradigmas. Eu tenho um agradecimento muito grande a fazer para os agrônomos da Embrapa, que sempre estiveram presente e continuam me apoiando, esclarecendo dúvidas e encorajando a seguir com uso do ILP. O bom nisso tudo é que esses agrônomos da Embrapa, hoje, já se tornaram meus amigos”, conclui Tenório.

Foto: Christiane Comas

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Produtores contrataram R$ 40 bilhões de crédito rural até setembro Os financiamentos para custeio, comercialização e investimento da safra agrícola 2015/2016, já contratados, chegam a R$ 40 bilhões, até setembro, o que equivale a 21% dos dos recursos previstos para o setor Os financiamentos para custeio, comercialização e investimento da safra agrícola 2015/2016, já contratados, chegam a R$ 40 bilhões, até setembro, o que equivale a 21% dos dos recursos previstos para o setor, disse o secretário Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, André Nassar. O total de empréstimos programados para a safra chega a R$ 187,7 bilhões. Segundo Nassar, a contratação de crédito agrícola vem ocorrendo den-

tro do esperado, envolvendo principalmente os bancos públicos. Ele acrescentou que há uma retração de financiamentos a cargo de bancos privados e de cooperativas de crédito. Nassar disse que o produtor rural vem retardando suas decisões sobre plantio em razão da volatilidade cambial. No entanto, ele disse acreditar que, com a entrada da safra, os produtores rurais devem aumentar a demanda por financiamento agrícola.

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Depoimento Luiz Otávio Brito Fernandes

Fazenda Pão e Mel - Rio Brilhante/MS

“O ILP é uma das ferramentas mais importantes para a diversificação e rotação de culturas, contribuindo com a sustentabilidade ambiental e econômica do sistema produtivo de nossa propriedade”, explica Luiz Otávio Brito Fernandes, proprietário da fazenda Pão e Mel, localizada em Rio Brilhante/ MS. Ele utiliza o ILP há mais de 8 anos e acredita que a implantação desse sistema trouxe maior estabilidade para a produção agrícola, além de gerar um aumento gradativo na produção ao longo do tempo, que atualmente, em média, é de cinco sacos de soja a mais por hectare ano. Outra vantagem do ILP, destacada por Luiz, é o conhecido sistema virtuoso, em que o vigor expresso pelas lavouras da propriedade, ocorrem com uma velocidade de resposta muito rápida, proporcionando grandes ganhos de produtividade. João Fernandes, tem 80 anos e é pai de Luiz. Ele se lembra do início das primeiras pesquisas com ILP na região e fala com carinho do tempo em que frequentava os primeiros Dias de Campo sobre ILP, realizados pela Embrapa Agropecuária Oeste. João comemora o fato de seus filhos estarem dando continuidade ao trabalho com a utilização do ILP e acrescenta: “Meus filhos estão sempre pesquisando e buscando novas formas de contribuir com melhorias ao sistema” . Dentre as principais dificuldades enfrentadas por

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Luiz Otávio, como agricultor, ele destaca as questões de adaptação à pecuária. “A primeira dificuldade se refere a estrutura física, como distribuição de água, cerca e curral, que exigem um investimento inicial grande. O outro desafio se refere a gestão dos sistemas integrados, como gerenciamento de mão de obra, de compra e venda de animais, feitio de cercas, fluxo de caixa, que passam a ter outra dinâmica completamente diferente do cultivo tradicional somente com agricultura. Mas, apesar da grande quebra de paradigmas que o ILP propõe, os benefícios são compensadores. Dentre eles, Luiz destaca a maior rentabilidade do sistema, a solidez e liquidez que a atividade pecuária proporciona, aliadas aas vantagens da diversificação de atividades e das receitas. “Mas o principal diferencial é a possibilidade de tornar o sistema mais produtivo e sustentável tanto economicamente quanto ecologicamente, por meio da recuperação e melhoria do potencial produtivo do solo”, salienta o produtor rural. Para ele, as pesquisas da Embrapa Agropecuária Oeste, como por exemplo os trabalhos de consórcio milho safrinha x brachiária, os estudos de comportamento dos pastos de inverno, entre outras informações, fornecidas pelos pesquisadores e técnicos são fundamentais para o aprimoramento e expansão do ILP no Estado.


Depoimento Paulo Jacinto

Fazenda Ventania - Dourados/MS

Há 8 anos Paulo Jacinto Batezini de Souza utiliza o ILP na fazenda Ventania, localizada em Dourados (MS). Para ele o ILP contribui com a sustentabilidade agrícola, por meio do melhoramento do solo da propriedade, consolidando a rotação de culturas, viabilizando palhada para o plantio direto e possibilitando melhorias nos aspectos físicos e microbiológicos do solo. Outro benefício se refere à estabilidade financeira, proporcionada pela diversificação das atividades da fazenda e pela redução dos riscos do negócio. Paulo destaca ainda que ao longo desses anos, mesmo com influência negativa do clima, houve acréscimos gradativos nas produtividades das lavouras e quantifica “nas safras em que as chuvas são boas, o aumento é de cerca de 10%, porém em anos de dificuldades climáticas, com a ocorrência de veranicos, o aumento foi de 25%”, explica o produtor. “Planejamento é a palavra-chave para se ter sucesso no ILP”, explica Paulo. O planejamento na

oferta de capim para animais na transição do verão para outono/inverno é fundamental para ser bem sucedido. Além disso, é preciso planejar o uso de áreas adjacentes no inverno para manter a mesma carga animal na fazenda durante o inverno. Para Paulo, o uso do ILP é a alternativa perfeita para sustentabilidade do sistema produtivo agrícola do Mato Grosso do Sul. Ele reforça ainda a importância da Embrapa nesse cenário. “O contato com pesquisadores e técnicos contribuíram muito com meu trabalho, especialmente para reduzir os erros na implantação do sistema e para viabilizar a adoção de novas técnicas de manejo que proporcionam melhorias ao ILP”, destaca. Paulo fala ainda que as maiores dificuldades do ILP, estão relacionadas ao período de implantação, que demanda aprendizado relacionados a pecuária e investimentos financeiros (aquisição de animais, construção de benfeitorias como curral, cercas e reservatórios de água, entre outros).

Foto: Christiane Comas

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20 anos de experimentação A Embrapa Agropecuária Oeste apresenta este relatório, que sintetiza os resultados obtidos na condução de experimentação em sistemas de produção, durante 20 anos. Tais resultados são importantes para o alcance de um dos principais objetivos deste Centro de Pesquisa, que é o de apresentar propostas de sistemas de produção que sejam

Adubação Verde e Plantas de Cobertura no Brasil: Fundamentos e Prática, em seus volumes 1 e 2, é fartamente ilustrada e traz, entre seus temas, a história do uso da adubação verde no Brasil, a situação atual e perspectivas futuras da técnica, os cuidados com as espécies, os exemplos de rotação de culturas, o melhoramento genético e os aspectos ecofisiológlcos. Apresenta, ainda, informações técnicas e práticas sobre semeadura e manejo da biomassa de adubos verdes. Esta obra reúne, na forma de perguntas e respostas, um conjunto de informações relacionadas aos sistemas de ILPF, que busca contribuir para o entendimento da importância desses sistemas, sua implantação, seus benefícios, suas particularidades regionais e principais desafios para ampliar sua adoção em todo o território brasileiro. O livro apresenta uma série de tecnologias disponíveis, suas aplicações, vantagens e desvantagens no tocante à produção de mudas por via sexuada e assexuada, bem como aspectos relacionados a uma nutrição adequada de plantios de erva-mate, visando contribuir para o desenvolvimento de uma silvicultura sustentável, bem como para a profissionalização do setor produtivo da erva-mate.

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eficientes e sustentáveis nas vertentes agronômica, econômica e ambiental . A condução deste experimento, além dos resultados aqui apresentados, também contribuiu para a ampliação de estudos multidisciplinares e na agregação de outros estudos e projetos envolvendo a Integração Lavoura-Pecuária e a Integração LavouraPecuária-Floresta.


Técnicos do Sistema CNA/SENAR viajam a Israel para ampliar conhecimentos em irrigação até no deserto Comitiva participa de uma das feiras mais importantes do setor no mundo e visitar empresas

Em Israel, o deserto foi transformado em lavouras de alta produtividade e pomares repletos de frutas. Com a metade de seu território localizada em regiões áridas, o país se tornou líder mundial em pesquisa de recursos hídricos e hoje consegue produzir alimentos suficientes para atender a mais de 90% da demanda interna, além de reutilizar 85% da água utilizada. É para conhecer um pouco dessas tecnologias e inovações desenvolvidas em Israel que três técnicos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Serviço

Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) visitaram a região entre os dias 11 e 15 de outubro. Rafael Nascimento da Costa, do SENAR; Nelson Ananias Filho, da CNA; e Josimar Gomes, doSENAR-RN, participaram da Watec, uma das feiras mais importantes do mundo sobre irrigação. Gomes atualmente desenvolve um projeto de reuso de águas cinza no plantio de palma na região de Lajes (RN). Segundo Rafael Nascimento da Costa, a feira permitiu a troca de informações sobre o reuso da água para utilização na agricultura através de sistemas de irrigação, especialmente

gotejamento, que podem ser utilizados até mesmo em pequenas propriedades. Outro ponto importante foi o contato com as novas tecnologias para a formatação de futuras capacitações de técnicos e de produtores brasileiros pelo SENAR. “Vamos verificar como a propriedade rural pode fazer a gestão da água utilizando sistemas de irrigação. Também buscamos conhecimentos sobre reuso, reciclagem de água, armazenamento e controle. A partir disso, vamos analisar o que pode ser adaptado para o Brasil e transformado em treinamentos para o nosso público. Existe uma carência muito grande de técnicos em irrigação no Brasil”, ressalta. A programação também incluiu visitas a empresas de equipamentos e instituições que trabalham com capacitação e pesquisa na área. O grupo conheceu a Soreq, maior usina de dessalinização do mundo, a Mekorot, empresa nacional de água de Israel, e a Netafim, que produz equipamentos de irrigação por gotejamento e microaspersão. Os representantes da CNA e do SENAR conheceram ainda o Instituto Galillee - que promove capacitações de técnicos em diversas áreas agrícolas e de meio ambiente e Volcani Institute, organização com atuação em pesquisa agrícola. O assessor técnico da CNA, Nelson Ananias Filho, explica que a visita também é uma retribuição à participação de representantes israelenses no seminário “Água em Debate, uso sustentável da água na agricultura: desafios e soluções”, realizado em agosto desse ano, em Brasília. Ele destaca que Israel é uma referência na gestão da escassez de água e, apesar do Brasil não se enquadrar nessa situação, a experiência poderá trazer muitos benefícios para a agropecuária brasileira. ”Queremos melhorar a nossa produção e mudar a imagem que a agricultura nacional tem de ser uma atividade que utiliza muita água. Foi uma oportunidade para buscarmos novas parcerias, tecnologias e informações, além de verificarmos possibilidades de negócios com eles”, destaca.

Assessoria de Comunicação do SENAR

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Porteira aberta Quando abro a porteira do passado e me recordo dos dias vividos no pacato sítio de São Luiz, a saudade me contagia: um pão quentinho no forno, um legume fresquinho na horta, um leite purinho na caneca, uma linguiça de porco, bem apimentada feita pelo meu sogro, Hum!!!!! Delícia de vida! A vida no sítio nos remete à paz e tranquilidade, pequenas coisas que no dado momento não parecem importante, mas deixam saudade. Morávamos em quatro famílias nesse sítio, mais quatro famílias no sítio vizinho. Uma comunidade familiar, muito unida, com muitas crianças e com muita alegria. Observávamos o crescimento das plantações, feita com carinho pelos esposos, colhíamos as deliciosas verduras plantadas por nós mesmas, enfim desfrutávamos de prazeres desconhecidos pelo povo urbano, sensações unicamente sentidas pelo convívio rural. Um dia para “lidar” com porco se tornava um encontro familiar. Todos em volta, fazendo linguiça, “cudiguim” (uma linguiça de couro), linguiça de fígado, torresmo e a deliciosa carne que ficaria imersa na banha. A criançada correndo em volta todos opinando quanto aos temperos, uns querendo que fritasse uma linguiça, outros comendo a carne pré-frita. Afinal, o que realmente era bom e gostoso era a família reunida e a calma do sítio. Toda sexta-feira à noite era dia de buscar o fermento de batatinha na casa da sogra, reunia todos os filhos, as noras e os netos, era um momento

de pôr as conversas em dia, ríamos muito, contávamos as novidades, trocávamos ideias, quando dávamos conta da hora, já era tarde e ainda tinha o pão para amassar. No sábado de manhã cilindrar os pães, assar, tudo parecia um cerimonial. O esperado momento de retirar os pães do forno e passar a manteiga, também feita em casa, e se deliciar. Isso tudo se repetiria na semana seguinte, com outras conversas, com novos anseios, com novos planos, aguardando o desenvolvimento das plantações, planejando o que fazer com o resultado da colheita, sonhando em família. O aroma de café torrado no ar, o cheiro de bolachinha saindo do forno, o perfume dos laranjais, o doce frescor das manhãs, o lindo pôr do sol por detrás dos mamoeiros maduros. A vida seguia seu curso, com sua simplicidade de caboclo, os homens partiam para roça, com a enxada nas costas para mais um dia de capina, mas ao cair da tarde, voltavam eufóricos para casa, deitavam-se nas varandas, no colo das esposas e ali podiam usufruir do melhor que a vida pode oferecer a um caboclo: a família. Como era bonito ver quatro irmãos, um pai, uma mãe, netos e nós os agregados, todos em conjunto, rumando para o mesmo ideal, abrindo as mesmas porteiras, visualizando o mesmo futuro. Tive sorte de viver tudo isso, de fazer parte dessa história, de poder contar que vencia a amizade, que acima de tudo éramos parceiros.

Vera Lúcia Palacio Antonini é empresária e acadêmica de Direito e nas horas vagas gosta de escrever crônicas

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Rússia e Brasil fecham acordo sobre fornecimento de trigo A Rússia e o Brasil assinaram um acordo sobre a simplificação das condições de fornecimento de trigo russo para o mercado brasileiro. A informação foi divulgada pelo ministro da Agricultura da Rússia, Alexander Tkachev. O acordo foi acertado durante a XVII Exposição Agro-Industrial “Outono Dourado” entre o ministro russo e a ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Katia Abreu. “Os lados assinaram um protocolo que altera o acordo entre os ministérios da agricultura dos dois países em matéria de requisitos fitossanitários para o trigo importado da Rússia para

o Brasil”, disse o ministro russo. A nova versão do documento prevê a importação de trigo apenas através de postos de controle localizados no território dos portos, com a possibilidade de produzir o subproduto obtido durante o processamento de trigo. O documento proíbe o transporte doméstico de trigo não processado no Brasil, e também inclui uma série de pontos relacionados com o controle da qualidade e a segurança do trigo exportado da Rússia para o Brasil.

Fonte Original: Sputnik




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