Up In Smoke - King #8

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T.M. Frazier #8 Up in Smoke

Série King

Tradução Mecânica: Bia Z. Revisão Inicial: Louise, Joana, Larissa, Ana Maria, Letícia, Fernanda, Shirley, Elysa Revisão Final: Dani Leitura Final: Anne Pimenta

Data: 07/2018

Up in Smoke Copyright © 2018 T.M. Frazier ~2~


SINOPSE Sou um homem sem consciência. Eu lido com assassinatos e caos. Sou o melhor no que faço. Frankie Helburn deveria ser um trabalho fácil. Um meio para tirar o pai do esconderijo. Simples.

Exceto que não há nada simples sobre Frankie ou os segredos que ela tem. Ela é teimosa como o inferno e a coisa mais sexy que Deus já criou, fazendo crescer dentro de mim um desejo sombrio e animalesco. Ela é cocaína com pernas. Um vício que me faz questionar sobre o que nunca me importei antes. Querer coisas que eu nunca quis. Eu poderia tê-la, mas ela não é minha. Se seu pai não der as caras, ela será minha. Para matar.

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A SĂŠrie

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Prólogo SMOKE

Eu lido com assassinatos e caos. Balas e desafios. Medo e falhas. Eu esmago ossos, assim como espíritos. Eu planto sementes de onde o ódio e a tristeza crescem. Sou um homem entre os homens, mas não estou realmente vivendo. Eu não respondo a ninguém. Eu sou cruel. Desumano. Sem lei. Sem Deus. Eu sou o que resta da humanidade depois que é queimada. Depois que o bem sucumbiu ao mal. Quando as mentiras e a luxúria vagam livremente. Eu sou o que resta depois que as chamas foram apagadas. Eu sou o Inferno na Terra. Enxofre e fogo. Brasas e cinzas. Eu sou o filho da puta Smoke.

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Capítulo Um SMOKE Um ano atrás

A maioria das pessoas apagam as luzes antes de irem para a cama, mas não Morgan. Desde que eu a conheço, ela teve esse estranho hábito de manter as luzes acesas mesmo quando não está em casa. Ela até mesmo dorme com sua casa iluminada, como se fosse seu trabalho guiar os malditos aviões para o aeroporto. É assim que eu sei que algo está errado. Sua casa está escura. Muito escura. Puta que pariu. Pego minha arma e, silenciosamente, vou em direção à porta da frente. Está aberta. Eu me inclino contra ela com meu ombro e entro. Minha bota desliza sobre algo escorregadio. Um cheiro muito familiar chamusca os pelos do meu nariz. Eu conheço o cheiro da morte tão bem que posso decifrar os diferentes estágios de apodrecimento com base apenas no fedor persistente no ar. Com um cheiro, eu sei que a morte que permanece no interior é recente. Está muito escuro. Deslizo minha mão contra a parede e sigo até que as pontas dos meus dedos acertam o azulejo da cozinha e aperto o interruptor da luz acima. A casa é banhada por luz branca brilhante. Meus olhos levam alguns segundos para se ajustarem. O branco se torna vermelho. Vermelho. Pra. Caralho. — Porra! — coloco minha arma no coldre.

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Eu vi muita merda na minha vida. Eu causei muita também. Mas nada como isso. Não há uma polegada da cozinha que não esteja recémpintada de vermelho. Está espalhado pelo azulejo branco do chão como se alguém tivesse rastejado ou tivesse sido arrastado de um lado para o outro. Há respingos em todas as paredes. Todos os armários. Isso não foi apenas uma morte. Isso não foi apenas uma matança. Um tiro. Isso foi maldade pura. Eu circulo a ilha central, parando quando minha bota se conecta com um pé esbelto descalço. Não há necessidade de me apressar até ela; não é como se houvesse qualquer salvação para ela agora, mas eu empurro minha arma na cintura do meu jeans e corro para o outro lado da ilha de qualquer maneira. Eu me inclino sobre Morgan. O que resta dela. Cada centímetro de seu corpo nu está torcido e contorcido. Sua pele pálida sem defeito foi fatiada, cortada e aberta em todos os ângulos expondo dentes e crânio. Seu cabelo escuro está molhado com seu próprio sangue. Meus olhos viajam pelo seu corpo maltratado. — Não! — balanço minha cabeça sem acreditar. — Não! O que resta de seu estômago, uma vez arredondado, parece ter sido colocado em um moedor de carne de açougue. — Maldição! Eu fico de pé, mas não chego a pia a tempo, esvaziando o conteúdo do meu estômago ao redor do balcão e no chão. Eu causei minha parte de mortes, mas até mesmo minha brutalidade tem limites. Eu nunca fiz algo assim. Não com uma mulher, pelo menos. Não com um inocente, alguém que malditamente não merecia. Pela primeira vez em toda a minha vida, a visão da morte me deixa fisicamente doente. Eu me estabilizo com minhas mãos em ambos os lados da pia. — Morgan. — eu sussurro. — Porra. Eu me agacho de volta e tento embalá-la em meus braços, mas seu corpo está tão cortado e ensanguentado que não consigo segurá-la. Carnes flácidas de seus ossos caem de volta ao chão. — Eu sinto muito, garota. Eu realmente sinto muito.

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Eu me deito ao lado dela, ficando o mais perto possível sem tocála. Minha bochecha está pressionada no chão. O sangue ainda quente de Morgan entope minha orelha, ensopando minhas roupas e minha pele. Estou cercado por tudo o que resta dela. Eu quero que isso se enterre em meus ossos e fique comigo para sempre. Morgan está morta. Assim como nosso filho que não nasceu. E é tudo minha culpa.

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Capítulo Dois FRANKIE Presente

Eu vou estar morta dentro de um ano. Provavelmente, antes. Eu tento não me aprofundar no pensamento porque isso me deixa louca. Na maioria dos dias, estou a segundos de perder a cabeça e proclamar a lâmpada de mesa como minha nova melhor amiga/Rainha da Inglaterra. Estar cansada não ajuda. É como se a gravidade estivesse me puxando para baixo muito mais forte atualmente. Se eu não tiver uma boa noite de sono logo, vou começar a ouvir as cores. Todos nós morremos afinal de contas. Minha morte apenas será um pouco mais cedo do que a da maioria. Antes que as rugas tenham se definido e a velhice me faça repetir as mesmas histórias uma e outra vez. Minhas pálpebras estão pesadas. Estou lutando mais uma batalha na contínua guerra contra mim mesma para ficar acordada. Meu cotovelo desliza mais e mais para o lado da mesa, meu queixo apoiado na minha mão. Um som de arranhão na janela me dá uma sacudida. Minha espinha sobressalta. Estou acordada antes da minha testa encontrar o teclado. Tateando debaixo da minha mesa, envolvo meus dedos em volta da faca colada embaixo. Uma sombra cruza a janela, eu retiro minha mão da lâmina e solto uma respiração. É apenas Izzy, a gorda gata branca que me visita regularmente. Ela está alisando do outro lado da janela do porão, sua coleira arranhando contra o vidro. Não sei quem é o dono dela. Eu só sei que o nome dela é Izzy porque está escrito em grandes letras em sua placa de ~9~


identificação rosa e brilhante que adorna sua coleira igualmente rosa e brilhante. É apenas um maldito gato, Frankie. Eu esfrego meus olhos com as palmas das minhas mãos. Minhas pálpebras sentem como se estivessem sendo prensadas por cadeados. Eu me livro do cansaço e do súbito pânico e volto ao meu trabalho. A falta de sono não é ideal, mas até agora, vale a pena. Meu último projeto vale cada minuto de insônia e mais um pouco. Se eu fizesse o tipo de me gabar, chamaria todos na minha vida e falaria sobre como eu sozinha... bem, acho que realmente não importa porque não posso contar para ninguém. Além disso, há o pequeno fato de que eu não tenho ninguém para contar. — Izzy! — eu grito para a sombra do gato. — Estou fazendo uma coisa boa. Uma coisa realmente boa. — a gata gorda se afasta da janela com um salto exagerado, provavelmente assustada com um lagarto na grama. — Idiota. Ótimo. Não só estou falando com um gato que não possuo, como estou ofendida pela bola de pelos. Estou passando tempo demais sozinha. Hoje e ontem se misturaram. Não tenho certeza onde um começou e o outro terminou. O porão tem tão pouca luz que, às vezes, é difícil dizer se é dia ou noite. Meu telefone zumbe no meu colo, e eu pulo como se tivesse sido chutada na coluna, derrubando uma pilha de copos de café de papel. — Porra! — eu xingo, olhando para o telefone agora no chão com uma rachadura na tela. É apenas o alarme. Estou ficando mais assustada a cada dia, mas não é sem razão. Meu trabalho veio com um tipo de sacrifício. Eu irritei muita gente. O tipo de gente que a maioria das pessoas sãs não se atreveriam irritar. Eu tomei precauções, mas pode chegar o dia em que essas precauções não sejam suficientes. Talvez um dia eu termine com meu trabalho. Parando de olhar sobre meu ombro. Talvez, se eu tiver sorte, vou até mesmo evitar esse ataque cardíaco que ameaça me levar com cada ~ 10 ~


sobressalto e sacudida assustadora - bem antes de atingir a marca de um quarto de século. Provavelmente não. Eu pego meu telefone do chão e deslizo meu polegar na tela para desligar o alarme. O horário não pode estar certo. Passaram-se realmente oito horas desde que me movi da minha cadeira? Eu empurro a cadeira e me levanto, rolando meus ombros e meu pescoço. Minhas costas soltam uma série de estalos que parecem muito melhor do que soam. Minha coluna protesta contra a mudança de posição, mas eu continuo alongando, sabendo que quanto mais me mover, melhor me sentirei. Inclino na cintura e toco o chão com os braços retos e os dedos esticados. Lentamente me endireito, erguendo os braços, apontando meus dedos para o teto. Eu permaneço assim até que meus ossos sintam que voltaram para uma posição mais normal e não estão todos triturados juntos em algum lugar na parte inferior das minhas costas. Um formigamento de alívio vibra por meus músculos doloridos. Minhas pernas estão zumbindo com a sensação de formigamento. Certifico-me de usar o corrimão enquanto subo as escadas, para que não volte voando para trás, já que não consigo sentir meus pés. A sensação torturante de imobilidade felizmente cessa quando chego à porta no topo. Eu atravesso a sala de estar e dirijo-me para a cozinha. No caminho, paro no corredor. Eu beijo as pontas dos meus dedos e os levanto para pressioná-los contra a única fotografia pendurada na casa. Uma foto da minha mãe. — Ei, mamãe. — eu digo, sorrindo para ela. Ela tinha os mesmos longos cabelos escuros que eu tenho e os mesmos raros olhos amarelos/laranja. A foto foi tirada pouco antes de ela morrer, quando eu era apenas uma criança começando a andar. — Espero que eu esteja te deixando orgulhosa, onde quer que você esteja. Meu estômago ronca, lembrando-me para onde eu estava indo, e entro na cozinha. Quando foi a última vez que comi? Café da manhã? Jantar ontem à noite? Não, foi definitivamente o café da manhã. Café da manhã de ontem. Meu estômago ronca, mais alto desta vez. — Sim, sim. Eu te ouvi. — eu murmuro. O conteúdo da geladeira é... bem, não há nenhum conteúdo. A menos que o Google possa me mostrar como fazer uma refeição com meia garrafa de picles, duas fatias de queijo e um engradado de cerveja. ~ 11 ~


Eu me inclino no balcão e ligo o aplicativo de entrega da mercearia GrubTrain. Solicito alguns itens essenciais, usando os últimos quarenta dólares na minha conta. Eu uso os trinta minutos até que a comida chegue para ir no andar de cima tomar um rápido, mas muito necessário banho e mudo para uma camiseta folgada de um ombro só com o logotipo da minha banda favorita, Veruca Salt, exposto na frente. O short cinza que coloquei costumava ser uma calça de moletom, mas quando ficaram desgastadas de tanto pisar na barra das pernas muito longas, passei um par de tesouras por elas e boom. Short de moletom. Quando termino, volto para baixo e examino a correspondência. Meu sobrenome é Helburn, mas todo o correio vem sob o pseudônimo de Jackson. Meu pai havia mudado anos atrás. Insistiu que era por causa de seu trabalho com o governo. Foram alguns anos atrás que descobri que era tudo uma mentira. ELE era uma mentira. Engulo a raiva familiar subindo na minha garganta. Eu não tenho tempo, nem energia para lidar com as lembranças das ações do meu pai ou com a bagunça que ele fez de nossas vidas e a vida de inúmeros outros. Eu coloco o lixo eletrônico na lixeira e parto para a primeira das rotinas de várias-vezes-ao-dia verificar as fechaduras em todas as janelas e portas. Abrindo o painel de alarme, clico no meu código e verifico se está funcionando. Duas vezes. No quarto principal, eu piso nas roupas do meu pai espalhadas pelo chão, caminhando com determinação para a janela. Eu checo a fechadura. Está intacta. Eu volto para fora, fechando a porta atrás de mim rapidamente, soltando uma respiração que eu não tinha percebido estar segurando. Tomando dois degraus de cada vez, volto para a sala de estar do apartamento em ruínas de dois quartos e três andares. Parece a mesma coisa como no dia em que nos mudamos há quatro anos. Pregos vazios onde os inquilinos anteriores penduravam decorações e fotos saem para fora da parede em vários intervalos. A ~ 12 ~


única mobília, um maltrapilho sofá marrom de três almofadas na sala de estar - sem televisão - e um par de bancos que não combinam, escondidos sob a bancada alta que separa a pequena sala de estar da igualmente pequena cozinha. A campainha toca, e mesmo que eu estivesse esperando, ainda sou cautelosa. Eu sou sempre cautelosa. Na ponta dos pés, olho através do olho mágico. Na outra extremidade do túnel de metal está Duke, sacudindo as sobrancelhas e contorcendo seus lábios em torno de seus dentes. Eu sorrio porque é impossível não sorrir. Duke está carregando uma sacola de compras em cada mão. Ele as levanta para o olho mágico, sorrindo orgulhosamente como um caçador segurando seus abates. Destrancar todas as fechaduras na porta leva um tempo porque há oito delas. O sorriso luminoso de Duke me recebe quando finalmente abro a porta. — Ei. — Duke diz tranquilamente. — Eu vi seu pedido chegando, e quis trazer para você pessoalmente. — seu sorriso se alarga e é tão malditamente brilhante que é como olhar para o sol. Seus cachos loiros avermelhados estão sendo cruelmente esmagados por um boné de beisebol verde neon da GrubTrain. Duke levanta as sacolas novamente, flexionando seu bíceps musculoso sob sua camisa polo da GrubTrain combinando. Ele pisca quando me pega olhando seus abdominais flexionando sob o tecido. Meu rosto esquenta. Ele se inclina e me dá um abraço estranho ao redor das sacolas de compras. Ele cheira bem, a sabão irlandês. — Ei, Duke. — digo devagar, desenhando minhas palavras, então ele não tem escolha senão olhar para os meus lábios. Eu bato meus cílios e encontro seu olhar avelã. — Obrigado por trazê-los tão rápido. — Qualquer coisa por você, madame. — ele diz com um falso sotaque estilo faroeste. — Madame? Hmmmm... eu gosto do som disso. — provoco, mordendo meu lábio inferior.

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Duke muda de um pé para o outro, e percebo que ele está movendo as sacolas para cobrir a crescente protuberância em suas calças. — Seu pai está em casa hoje? — Duke pergunta, metendo a cabeça pela porta e olhando ao redor. — Trabalhando no porão como sempre. — eu digo. — Além disso, ignorando-me como sempre. — eu saio da frente e o deixo entrar. — Eu não vou te ignorar. — diz Duke sugestivamente, balançando as sobrancelhas em seu caminho para a cozinha. Eu dou uma risadinha e, brincando, dou um tapa na bunda de Duke. Estou prestes a fechar a porta, mas congelo quando sou atingida por uma quente sensação de consciência. Isso aquece meu peito e se espalha por meus membros. Meu pulso corre. Eu lentamente abro a porta de volta, em parte esperando ver alguém de pé do outro lado. Não há ninguém lá. Duke está falando comigo da cozinha, mas não estou ouvindo. Cuidadosamente, passo para a pequena plataforma de concreto da varanda e olho em todas as direções. Nada. O posto de gasolina do outro lado da rua tem alguns clientes entrando e saindo. Algumas crianças estão brincando de pega-pega no lote vazio próximo da cerca que o separa da loja de conveniência. A sensação de sufocamento na minha garganta se dissipa e encontro minha capacidade de engolir de novo. Sim. Eu estou ficando louca. — Sarah? Aonde você foi? — Duke chama da cozinha. Volto para dentro e fecho a porta, trancando todas as fechaduras por hábito. — Você e essas malditas fechaduras. Seu pai realmente é paranoico, hein? — Duke diz, vindo por traz de mim e me levantando do chão. Eu chuto meus pés no ar e rio. Ele me leva para a cozinha e me senta na ilha central. Ele gira o boné para trás e tira um baseado do bolso. Ele o acende e dá uma longa tragada. — Seu pai pode ser paranoico e ignorá-la o tempo todo, mas acho que é fantástico ele deixar você fumar maconha em casa. — diz Duke em uma expiração. ~ 14 ~


Eu encolho os ombros e tiro o baseado de seus dedos. Com uma longa tragada, seguro a fumaça no fundo de meus pulmões antes de expirar lentamente. A maconha faz seu truque e, dentro de alguns segundos, a tensão diminui, meus ombros relaxam. — Mesmo que ele não estivesse bem com isso, duvido que ele percebesse. — respondo, soando amarga. — Você está bem, senhora? — Duke pergunta, procurando em meus olhos por dicas. — Estou bem. Eu apenas não estou dormindo tão bem. — admito. É a explicação mais curta para uma questão muito maior, mas Duke e eu não temos um grande tipo de relacionamento. O tipo de relacionamento em que nós fumamos um baseado na cozinha e damos uns amassos, até que eu o envie para casa. — Aqui. — ele diz, puxando um saco de sanduíche de plástico, cheio de baseados de seu bolso traseiro. GrubTrain é apenas um dos empregos de tempo parcial de Duke. Um de pagamento menor do que o seu principal trabalho de comerciante de maconha. Ele puxa dois do saco e os coloca numa lata de café vazia no balcão. — Estes são para mais tarde. Vai ajudá-la a dormir. — O que eu te devo? — perguntei, recostando-me na minha mão e dando outra tragada. — Oh, eu posso pensar em uma coisa. Na verdade, posso pensar em muitas coisas. — Duke arrasta seu olhar sobre meu corpo. Ele ergue a mão para a boca e divertidamente morde os nódulos, fazendo um som de rosnado, que não posso deixar de rir. Com uma piscadela, ele se move para as sacolas e começa a tirar as coisas e guardá-las. Sendo meu garoto de entrega da mercearia por meses agora, ele conhece a cozinha, tanto quanto eu. — A maconha é por conta da casa, é claro. — diz ele. — Obrigada. — eu digo, e eu falo sério. Duke sempre é legal comigo. Quero dizer, ele é bom para muitas garotas, mas ele é verdadeiro e é por isso que eu quebrei minhas regras e o permiti na minha vida. Duke é o garoto popular na escola e um total mulherengo. Ele enfiou seu pau na maioria das líderes de torcida da equipe de líderes de torcida e da equipe júnior, mas ele não mente sobre isso, não lhes faz nenhuma promessa falsa. Honestidade, para mim, é a maior qualidade ~ 15 ~


que uma pessoa pode possuir. Eu valorizo isso acima de tudo. Talvez seja porque fui forçada à desonestidade durante a maior parte da minha vida. Talvez seja porque a vida inteira do meu pai foi uma mentira. Duke deve estar lendo minha mente porque ele me atira seu sorriso de Hollywood. — Você ouviu? — ele dobra as sacolas de papel e as enfia na lata de reciclagem. Ele então se atira numa recontagem animada da ‘mais hilária’ - suas palavras, não minhas - piada de pau e peido que ele ouviu de algum atleta do time de futebol na sala de musculação. Eu dou outra tragada no baseado e solto meus ombros. Inclino minha cabeça para trás e solto o ar em direção ao teto. A frente do meu cérebro parece embaçada. Uma vibração suave viaja pelo resto do meu corpo, continuando a entorpecer as bordas afiadas que me cercam. — Sabe, você não age da mesma forma aqui comigo, quando estamos sozinhos, como você faz na escola. — diz Duke do nada. Estou piscando rapidamente enquanto tento entender o que ele está dizendo. — Por que isso? Você anda com o cabelo no seu rosto, olhando o chão o dia todo. Você não fala com ninguém. Você não olha para ninguém. Aposto que a maioria das crianças na escola não pode distingui-la numa filaBingo. — Nem mesmo eu. — ele continua. — Você me ignora como se nem me conhecesse. Mas nós somos... amigos, certo? Porque aqui, comigo, você é... — Normal? — sugiro. — Pelo menos, normalzinha. — Duke balança a cabeça. — Eu não ia dizer isso. Talvez ele não iria usar essa palavra exata, mas senti que ele procurava em sua enciclopédia mental por algo parecido. — Por quê? Por que você é tão diferente aqui do que você é lá? — ele pergunta, com algo que parece uma preocupação genuína em sua voz. Eu faço sinal com meus dedos para ele como se eu fosse lhe dizer todos os meus segredos. Duke se aproxima. Meus lábios estão à sua orelha. — Eu sou o Batman. — eu sussurro. ~ 16 ~


Duke rola os olhos e geme da minha olhos piada horrível. — Sério, Sarah. Você nunca vem aos jogos. Você não sai com ninguém, exceto eu, fora da escola, bem, não que eu saiba, de qualquer maneira. — Talvez, eu esteja te dando espaço. — sugiro. É uma mentira, é claro. Uma de um milhão que eu contei ao Duke nos últimos meses. — Eu não acho que Missy ou Misty ou... Maci? — eu faço uma careta. — Iria gostar se nos visse juntos. — Bem, acontece que eu não dou a mínima para o que Melanie ou qualquer outra pessoa pensa. Eu gosto de você, Sarah. — Duke afasta meus joelhos e para entre eles. — Eu gosto muito de você. — Melanie. — eu aceno com a cabeça e estalo meus dedos. — Isso. Melanie. Eu vou ter que me lembrar dessa. Passo a ele o baseado. Ele dá uma longa tragada, agarra a parte de trás do meu pescoço com a mão segurando o baseado, usando a outra para apertar minhas bochechas, separando meus lábios. Ele sopra a fumaça na minha boca, nossos lábios a apenas um suspiro de distância. Eu inalo profundamente. Duke se afasta enquanto eu expiro. Ele pressiona a ponta brilhante do baseado entre os dedos, extinguindo o avermelhado, colocando-o atrás da orelha. — Eu acho que você também gosta de mim. — Duke diz suavemente. Ele está massageando os dedos suavemente nas minhas coxas, subindo lentamente as mãos cada vez mais acima nas minhas pernas com cada rotação de seus dedos habilidosos. — Eu gosto de você. — digo a ele. E em outra vida - não, se eu fosse outra pessoa, poderia dar a Duke uma chance de verdade. Mas não nesta vida. — Então, por que você finge que não me conhece? — Duke pressiona, franzindo os lábios. Para que ninguém nos veja juntos. Para que você não se torne dano colateral se a merda bater no ventilador. — Eu acho que não gosto do ensino médio tanto assim. Além disso, gosto de ficar na minha. Isso é tudo. — asseguro a ele. Duke me dá um olhar acusador. Ele não está engolindo isso. Nem um pouco. ~ 17 ~


Eu tento novamente. — Ou talvez. — suspiro dramaticamente e deixo meus ombros caírem. — Eu simplesmente não quero ser considerada uma das muitas no harém de Duke Weathersby. — O quê? — ele pergunta com uma risada. — O harém. O bando de beldades que corre atrás de você, deixando poças de baba no seu rastro. Não finja que você não sabe do que estou falando, Duke Weathersby. Eu ouvi esse termo um milhão de vezes, então sei que você ouviu também. — Talvez eu tenha ouvido uma vez ou duas. — Duke admite. Um sorriso espertinho luta no canto de sua boca. Ele envolve os braços em volta da minha cintura, puxando-me até a borda do balcão. — Quero dizer, acho bom que você não fale com mais ninguém. Dessa forma, eu consigo mantê-la só para mim. Duke se inclina e pressiona seus lábios contra os meus. Nossas bocas se fundem e se movem juntas. É um beijo prazeroso, sempre é. Comparo-o a terminar um ótimo livro. Um bom banho quente. Ou encontrar um par de calças jeans de matar na prateleira de 50% de desconto. Há fogos de artifício, mas não o tipo de cores explosivas, barulhos altos, o encerramento do quatro de julho. Não, o que temos é mais do tipo agitar-uma-chuvinha-pelo-jardim. Eu gosto de chuvinhas. Chuvinhas são boas. Além disso, as chances de se machucar ou se queimar são baixas. E, assim como Duke - elas são seguras. Eu devolvo seu beijo. Minha boca se abre para a dele quando ele separa meus lábios com sua língua. Meus mamilos se endurecem quando ele se aproxima, e eu sinto o calor de sua pele através das nossas camisas. Eu relaxo e me empurro contra ele, precisando sentir seu corpo duro contra o meu. Precisando lembrar que eu sou humana, que estou viva e que outra pessoa neste mundo sabe disso também. Duke Weathersby é o mais próximo que eu já tive de ter um namorado, mesmo que ele não seja meu namorado e nunca será. Nossa pseudo-relação consiste em conversa fiada, ficar chapados e dar uns amassos. O que é basicamente um monte de carícias sobre a roupa, seguidas por eu mandando Duke para casa com um caso furioso de bolas azuis.

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Duke retrocede levemente, dedilhando o decote da minha camisa, escovando minha pele em direção ao meu ombro nu. Sua testa está pressionada contra a minha. — Eu acho que deveríamos levar isso lá para cima para o seu quarto. Todas essas roupas estão ficando no caminho. — ele sussurra contra meus lábios, puxando a ponta desgastada do meu shorts de moletom. Ele balança sua ereção entre minhas pernas. Eu sorrio contra seus lábios e levanto minha bunda do balcão, moendo descaradamente contra ele. Duke geme na minha boca e agarra meus quadris, girando-os, esmagando-me contra a dureza que se erguia contra o zíper de sua calça caqui. Estou excitada. Sim. Eu sou uma mulher, afinal, e Duke é incrivelmente atraente. Tanto quanto eu sei, não sou como as outras meninas na escola, não sou imune ao charme, ao sorriso ou aos músculos de Duke Weathersby. Eu culpo a natureza e os feromônios. Aves e abelhas. Você sabe, coisas científicas e tudo mais. Uma parte de mim não gostaria de nada além de deixá-lo me arrastar para o andar de cima para que ele possa ser malvado comigo. Uma parte muito maior de mim simplesmente não pode ir lá. Eu sou uma maldita tentação. Eu sei disso. Duke também passou a saber disso. Mas ele continua voltando, e a verdade é que é o que eu quero. Que ele volte. Companhia. Contato humano. Minha amizade com ele já estava quebrando uma das minhas regras. O sexo acabaria com elas e não estou disposta a levar tão longe. Ainda não, de qualquer forma. Não enquanto há muito no caminho. Eu recuo. — Eu... eu não posso. Meu pai... — sussurro, arrastando meus dentes ao longo da pele de seu pescoço - logo abaixo da orelha - rejeitando-o ao mesmo tempo que prometo as possibilidades que o futuro poderia trazer. — Ele nunca sai do porão. — Duke me recorda, salpicando beijos ao longo do meu pescoço, tentando me convencer com seus lábios. Ele se move para minha clavícula, adicionando leves mordidas e lambidas na mistura. Sinto meus músculos tencionando. Meu desejo crescendo. A minha determinação em manter este relacionamento na classificação não recomendada para menores de 13 anos desmorona quando ele suga meu lábio inferior na sua boca e o traça com sua língua habilidosa. ~ 19 ~


Devo admitir que o menino é booooom. Há uma razão pela qual ele tem um harém. Um bem merecido. — Deixe-me fazer você gozar. — Duke sussurra, apertando os topos das minhas coxas, enviando um choque de um feliz prazer entre minhas pernas. Estou solitária.

desesperada.

Estou

carente.

Estou

excitada.

Estou

Tão sozinha. Eu não quero estar. Eu só quero sentir... outra coisa. Qualquer coisa. Algo que não venha com preocupação ou mágoa ou pânico. — Tudo bem. — eu me ouço dizer. Duke faz um som baixo em sua garganta. Um rosnado baixo. Um gemido. Ele serpenteia sua mão para cima em meu short. Apenas o calor de seus dedos está me levando até o limite. Nunca deixei ele me tocar lá antes. Nunca deixei NINGUÉM me tocar lá antes. Estou tanto excitada, quanto nervosa e totalmente imprudente, envolvendo minhas pernas ao redor de sua cintura, incitando-o a se aproximar. As pontas dos dedos de Duke escovam minhas dobras latejantes e uma carne dolorosamente negligenciada quando um estrondo ecoa através da sala. — De onde veio isso? — Duke sussurra. O porão. Veio do porão.

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Capítulo Três FRANKIE

— Merda! Seu pai! — Duke se afasta como se tivesse sido picado por uma abelha. Eu estou fora do balcão, levando-o à porta, enquanto o medo excitante1 queima no meu peito. — Desculpe, talvez em algum outro momento. Eu vou verificar o meu pai. — Eu... te vejo amanhã na escola. — diz Duke com óbvio desapontamento em sua voz. — Sim. Amanhã. Escola. — eu murmuro, destravando e destrancando a série de fechaduras. Eu abro a porta em tempo recorde. Duke sai na varanda de concreto, teclando em seu telefone. Tenho certeza de que ele está enviando mensagem para a próxima menina mais disposta em sua rota de entrega de compras. Sinceramente, queria me importar, mas já afastei essa parte de mim por agora e não consegui mais encontrá-la, ou nunca a tive para começar. Sorrio e me lembro de parecer desapontada quando tudo o que realmente quero fazer é gritar com ele para correr. Mas eu não faço. Eu espero. Eu tenho que esperar. E isso está me matando. Duke empurra seu telefone dentro do bolso. Ele me dá mais um sorriso assassino antes de me dar um selinho e se aproximar para me bater na bunda. Seu olhar permanece no meu corpo por alguns segundos. Apenas entre no seu fodido carro logo. 1

No original - white-hot fear, - significa que algo é muito excitante, entusiasmante, ou raiva.

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Espero pacientemente com o que pareça um sorriso no meu rosto quando ele vai, descendo os degraus, os olhos nunca deixando os meus até chegar ao meio da calçada onde o Prius está estacionado. Ele tem o mesmo logotipo GrubTrain verde brilhante como seu boné e camisa. Ele gira seu boné de beisebol para trás antes de entrar e ligar o motor. Ele desce a janela. — Tchau, Sarah. — ele diz com um aceno. A maneira como Sarah rola vagarosamente em seus lábios perfeitos me faz quase desejar que fosse meu nome verdadeiro. Antes do carro de Duke virar a esquina, abro o aplicativo de câmera de segurança no meu telefone, e eu estou olhando para o vídeo em preto e branco do porão. Eu avisto imediatamente que um dos monitores do computador está no chão, a tela esmagada. Minha cadeira inclinada. Estou tentando descobrir se eu deveria pegar a bolsa preta de emergência que enterrei no terreno do outro lado da rua, ou simplesmente deixá-lo e pegar o próximo ônibus para Banyan Cay, quando vejo Izzy na minha tela. A gata gorda está dando uma pausa no meu teclado em toda sua glória fofa preta e branca. Ela deve ter entrado pela janela do porão de alguma forma. Lembro-me de verificar a trava e a fiação do alarme. Eu me inclino na cintura e mantenho minhas mãos nos joelhos sentindo alguns anos mais perto de um ataque cardíaco do que nunca. Minha bunda atinge o concreto. Eu coloco minha cabeça entre os joelhos. Quanto tempo mais posso viver assim? Provavelmente não muito. Vários minutos passam antes de me sentir firme o suficiente para tentar ficar de pé. Eu me levanto e, de repente, sinto a mesma percepção calorosa que senti antes. Levanto minha cabeça, e desta vez, vejo alguém que parece estranho. Há um homem do outro lado da rua, parcialmente escondido enquanto se agacha atrás de uma grande moto preta fosca. Seu bíceps esculpido e tatuado flexiona enquanto ele trabalha em algo do outro lado do largo pneu traseiro.

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Como se ele soubesse que eu estou olhando, o homem olha por detrás do pneu. Estou presa. Eu não corro, mas também não consigo desviar o olhar. Tudo sobre ele é sombrio. Do cabelo até os ombros, a suas roupas pretas. Seu cabelo desce pelo pescoço mais longo e mais curto nos lados. Suas sobrancelhas estão juntas em uma carranca. Eu percebo que não sou eu que ele está olhando, é a sua moto. Ele é apenas um cara mexendo em sua moto. Ele não está aqui por você. Dormi, Frankie. Você precisa de dormir um pouco. O estranho joga uma chave inglesa, que quica no concreto. Posso ouvir seu grunhido de frustração do outro lado da rua. Ele afasta os joelhos e se levanta. Uau. Ele é grande. Não apenas seu corpo, mas sua presença. Um arranha-céu que dispara uma sombra infinita. Seu passo é longo e seguro, enquanto ele faz o caminho da moto até a estação de serviço. Cada passo de suas botas é uma reivindicação de propriedade sobre cada crack no asfalto. Sua camiseta preta apertada abraça os músculos ondulantes do peito e dos braços. Sua calça jeans desceu e mostra a curva alta perfeita de seu traseiro arredondado. Um cigarro apagado pendura descuidadamente de seu lábio inferior. Nunca vi ninguém como ele antes. Cru. Poderoso. Não consigo parar de observá-lo. Talvez seja porque ainda estou drogada, ou talvez seja porque o Duke e eu estávamos dando uns amassos e ainda estou excitada com luxúria. Ou porque acabei de me assustar pela terceira vez hoje. Mas esse homem é um outdoor de terror e luxúria. Uma tempestade humana. Ele é lindo. As palavras do meu pai anos antes ressoam nos meus ouvidos. É para se esconder dos homens, Frankie. Temer. Na melhor das hipóteses, eles são destinados a manipular. Seja a manipuladora, Frankie, e não a manipulada. Corra antes de se perguntar se você deve. Saiba o que eles querem do olhar em seus olhos, não das palavras que saem de suas bocas. O homem volta da estação de serviço. Ele levanta uma longa perna e se senta na sua moto com facilidade. Ela ganha vida. Estou do ~ 23 ~


outro lado da rua, mas as vibrações alcançam o asfalto e me tocam. Sinto o ruído no meu peito. A terra se levanta no ar um bom metro acima do pavimento, pois o chão treme. Ele tira sua moto do estacionamento e, em seguida, vai pela rua na direção oposta, sem olhar em minha direção. Estou desapontada. O que eu esperava desse entusiasmo momentâneo do outro lado? Esfrego meus olhos e decido que estou a uma noite sem dormir perto de criar relacionamentos falsos com celebridades na minha cabeça. Posso ouvir a nova apresentadora agora. Uma jovem mulher foi presa hoje na casa de Sam Hunt por vandalizar e invadir. A mulher era delirante, insistindo que era a esposa de Sam. Ela repetidamente gritou 'e os bebês' até que a polícia finalmente conseguiu apreender a mulher. O Sr. Hunt, que não tem filhos, confirmou que ele nunca conheceu a mulher, embora ele sinceramente espera que ela encontre e receba a ajuda que obviamente precisa. O rugido da moto é um eco ao longe. Eu volto para dentro, tranco todos os bloqueios, e agora que sei que estou segura, dirijo-me à cozinha e me lanço na barra de proteína. Quando finalmente me alimento, vou ao porão para avaliar o dano. Felizmente, o monitor que caiu está trincado, mas ainda funciona. Eu limpo o resto da bagunça e encontro Izzy quando vou a janela. Eu tento trancar, mas o trinco não fecha. O vidro acima está quebrado. Mas o alarme não disparou? Eu verifico a fiação ao redor da janela e vejo que está mastigada. Maldita gata. Eu emendo o fio e torço os fios internos. Eu prego um pedaço de madeira sobre a janela. Eu acendo uma das velas que Duke me deu e me sento no meu computador. Meus dedos voam sobre o teclado. Não poderei dormir por um tempo, então posso fazer mais algum trabalho. Depois de algumas horas, meu telefone vibra no meu colo. O alarme. Estou orgulhosa desta vez por não ter pulado de susto. Desligo tudo e volto para cima. É hora de pelo menos tentar dormir um pouco. Afinal, tenho aula pela manhã.

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Eu suspiro. Talvez eu seja uma mentirosa, mas o que disse a Duke anteriormente é verdade. Eu não gosto muito do ensino médio. Nem agora, e nem quando me formei pela primeira vez. Quatro anos atrás.

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Capítulo Quatro SMOKE

Sempre que se faz manhã, tarde, ou sempre que acordo, fico mal. A primeira coisa em que penso é na noite em que passou de ser tudo sobre meu trabalho, para tudo vingança. Não há dúvidas em minha mente que quando minha hora chegar e eu for para o inferno, a lembrança de encontrar Morgan morta em sua casa será a única que reviverei repetidamente em um ciclo sem fim. Mas talvez eu já esteja no inferno. Aquela noite me mudou. Me fez mais duro. Cruel. Mais insensível do que nunca. Exceto raiva. Isso eu sinto bem. A explosão de uma buzina de carro me traz de volta do passado. Sou grato pela distração até olhar em meu espelho retrovisor com o merdinha jogando as mãos no ar como se eu estivesse de alguma forma bloqueando-o quando estou estacionado ao lado da calçada e não há nenhum outro carro na maldita rua. Mostro meu dedo favorito pela janela da van. Eu não vou a lugar nenhum. O pequeno merda balança a cabeça e manobra seu pequeno Mazda, virando o volante com as duas mãos, como se ele estivesse dirigindo uma fodida carreta. Ele se ergue ao meu lado, bloqueando minha visão da casa que eu tenho observado durante semanas e desce a janela do passageiro. Ele está gritando, mas eu não escuto suas palavras porque não estou ouvindo porra nenhuma. O filho da puta precisa ir. Levanto minha mão como se estivesse pedindo desculpas, mas pego minha arma no painel e apoio-me contra a janela aberta. ~ 26 ~


Eu sorrio. Isso resolve. Um olhar é tudo o que é preciso para que o filho da puta bata no pedal do acelerador, o pneu guinchando contra o pavimento enquanto ele arranca. Eu guardo minha arma de volta no painel e me inclino, abrindo porta luvas. Tateio até encontrar o que estou procurando. Eu me sento, abro a garrafa e tomo duas pílulas, engolindo-as com um gole de uísque da minha garrafa. Adderall2. É necessário, especialmente hoje. Observar esta casa por semanas não é bom para uma mente que tende a vasculhar o passado quando não está se concentrando no presente. O Adderall me ajuda a me concentrar quando tenho muito tempo para pensar. Além disso, é melhor do que coca e dura muito mais. A única coisa que me mantém aqui, nesta van no lado de uma rua sem nome em Banyan Cay, além da dieta constante de uísque e anfetaminas, é claro, é vingança. Frank Helburn vai morrer pelas minhas mãos. Assim que eu conseguir encontrá-lo. Nunca passei um ano procurando por alguém. Encontrar pessoas, rastrear, é o que eu recebo uma tonelada de dinheiro para fazer. Normalmente, posso rastrear alguém por horas, dias, no máximo. Nunca a porra de um ano inteiro. Talvez eu não tenha achado Frank, mas achei a outra melhor coisa. Sua filha. Frances Helburn, que recebeu esse nome em homenagem a seu fodido pai, Frank, agora se chama Sarah Jackson. Ela tem uma vida miserável. Sério, a cadela quase não sai da casa. Pelo que posso ver, ela não tem amigos, exceto, é claro, o filho da puta de cabelos cacheados que mal parece velho o suficiente para se barbear. Apesar de que Frances poderia muito bem esconder uma 2

Adderall (anfetamina)é uma droga combinada, que estimula o sistema nervoso central. É utilizado no transtorno de deficit de atenção e hiperatividade e narcolepsia (sonolência excessiva). O uso rotineiro causa grande dependência.

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barba debaixo de todo aquele cabelo na cara. Estou surpreso que ela vá para a escola todos os dias sem ser atingida por um fodido carro. Ela me viu no outro lado da rua hoje. Eu senti seus olhos em mim. Eu fingi estar ajeitando algo na moto, quando, na realidade, acabei de fugir de sua casa depois de entrar no porão. Eu mal coloquei um pé dentro da pequena janela antes que fosse engolido por algum felino gordo que pulou além de mim no escuro, derrubando um monte de merda. Foda-se aquele gato. Eu não tive tempo de procurar pistas de onde Frank poderia estar se escondendo. A paciência não é o meu ponto forte. Encontrar Frank Helburn está testando meus próprios limites. Eu estou cada vez mais inquieto. Eu me lembro do objetivo e de quão gentil será o derramamento do sangue dele. E, por um momento ou dois, estou à vontade. Bem, à vontade, como posso estar. Eu estalo meus dedos e depois meu pescoço. Pego meu telefone e clico no arquivo que Griff me enviou há algumas semanas. Existem apenas duas imagens no arquivo e uma é de Frank e sua filha. A imagem em si é de vários anos atrás e embaçada como o inferno. Frances não tem deformidades discerníveis do que posso dizer, porém, a imagem está tão distorcida que nem sequer dá pra ver se ela está sorrindo ou não. Apenas cabelos escuros e olhos esquisitos de cor amarelo, que devem ser um outro testemunho da qualidade da imagem. Talvez eu nunca tenha visto seu rosto, mas quando estava do outro lado da rua senti seus olhos me observando com interesse, e quando vi do canto dos meus olhos seus ombros caírem, sabia que ela me tirara da lista de possíveis ameaças. Eu sorrio. Movimento errado, criança. A outra imagem é tirada de um material de segurança granulado que ainda mostra Frank Helburn deixando a cena sangrenta na casa de Morgan e sinto a raiva se erguendo através do meu corpo, se encostando na garganta, que está me estrangulando desde aquela noite. O telefone toca, e eu me encolho com o nome na minha tela. Eu atendo sem uma saudação, mas Griff é Griff e não precisa de uma. Ele fala o suficiente por nós dois.

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— Sem sinal do nosso garoto Frank? — Griff pergunta, falando rápido como se alguém pressionasse o botão de avanço rápido em sua boca. Sua voz é nasal. Elevada. Whiney. Cada palavra que ele fala soa como se estivesse reclamando mesmo sem estar. Estou ansioso para que o trabalho seja feito, então não tenho que ouvir isso todo fodido dia. — Nenhum. — confirmo. — Apenas a garota e, ocasionalmente, um entregador. Griff faz um barulho. Meio suspiro, meio rosnado. — Bem, Frank não é tão bom em cobrir seus rastros como ele pensa que é porque ontem à noite meu sobrinho Leo encontrou rastros dele na deep web onde apenas alguns sabem como chegar. Ele ainda está pirateando. Ainda está fazendo trabalhos. Leo está seguindo-o agora. Ele pode não estar lá com sua filha, mas nós o encontraremos. Em breve. — Eu vou continuar de olho. Se ele vier aqui vou saber. — falo com Griff. É verdade. Ninguém nunca veio comigo e nunca o fará. — Mas acho que é hora de descobrir o quanto Frank Helburn ama sua filha. — Eu acho que você pode estar certo. — Griff concorda. Olho pela janela para a casa escura. Pressiono o botão do altofalante. — Pegue-a. — diz Griff. Sua voz se aprofunda com a intensidade de suas palavras. Sua excitação é mais controlada agora. Mais sombria. — Pegue a filha de Frank. Eu quero me livrar desse filho da puta. Ele tirou Morgan e seu filho de você e me roubou milhões. Ele merece tudo o que acontecer com ele. — ele solta uma respiração longa diretamente no telefone causando estática na linha. — Ele precisa pagar. — outra exalação longa. — E então ele precisa PAGAR de novo. Não digo nada, mas concordo. Griff sabe que eu concordo. — Você é um homem difícil de tirar mais do que uma palavra. — Griff diz, mudando o tom de amargo para divertido em uma única risada. — Eu gosto disso em você. Eu não gosto de nada em você. — Eu ouvi que você está novamente com uma equipe de um homem só. — diz Griff, de repente mudando o assunto. Eu ranjo meus dentes. Este fodido com certeza sabe me irritar. — Não é da sua conta, Griff. — eu estalo. ~ 29 ~


Eu olho pela janela pela milionésima vez. A casa ainda está escura. — Só estou dizendo que você deve ter ficado louco pra caralho quando Rage saiu da sua equipe. — Griff continua, ignorando meu aviso. Sua menção ao nome de Rage me faz querer desistir do trabalho inteiro. — Ele não deve ter sido tão leal como você imaginou. Griff disse ELE. Minha raiva desaparece. Griff, aparentemente, não sabe de quem é Rage, não imagina o que ELA é capaz. Solto o volante. — Nós podemos ter o mesmo inimigo, Griff, mas isso não nos faz amigos. — Ótimo, porque vi de primeira mão o que acontece com seus amigos. — ele desembucha. Eu desligo o telefone e o jogo no banco do passageiro. Eu bato meu punho fechado no volante. Se Griff estivesse na minha frente, estrangularia ele bem aqui e agora. O filho da puta acha que é intocável e, até certo ponto, ele é. Sua organização cresceu nos últimos anos, mas o cara ainda é um idiota que gosta de se gabar de suas conquistas, o que dá ao seu reinado uma data de vencimento. A melhor organização do mundo não pode proteger um líder que fala pelos cotovelos. Lábios que ficam muito à vontade afundam navios, mas no meu mundo, eles também ganharão um cochilo debaixo da terra. A longevidade vem com a capacidade de ficar em silêncio. Dou a Griff mais um ano antes de alguém me pagar para cavar um buraco no chão pra ele. De todas as pessoas do mundo, tinha que ser ele a descobrir que Frank era o responsável pelo massacre que aconteceu na casa de Morgan. Uma luz se acende dentro do quarto da menina, olho enquanto sua sombra atravessa a janela. Não sei se é minha necessidade de vingança ou minha conversa com Griff, mas minha paciência está no fim. E também a liberdade desta menina. Já não aguento mais. Frances Helburn é minha.

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***

Troquei de carro e roupa. Agora estou sentado na frente da escola de olho enquanto os estudantes chegam... Frances é uma das últimas a entrar. Ela está com o mesmo uniforme escolar que usa todos os dias. Sua saia xadrez básica, suéter, blusa combinando. Se toda a razão por trás do uso de uniformes escolares é evitar a exposição indecente, então esta escola está sendo bem-sucedida, porque ela é três tamanhos maior e deixa seu corpo como um saco sem forma. Até mesmo suas meias são ridículas. São de um verde floresta e estão folgadas nas pernas, quase até os joelhos, embora continue a descer enquanto ela caminha. A camisa preta que ela usa sob o suéter tem gola, mas ela anda com os ombros inclinados para frente, escondendo não apenas seu rosto, sem qualquer sinal de ter peitos. Você não pode se esconder de mim, Frances. Não sob todas essas roupas largas. Eu te vejo. Vejo você, e vou até você. Frances tropeça na calçada, deixando cair um livro. Ela se inclina para pegá-lo, e eu vislumbro sua bunda perfeitamente arredondada, que mal estão cobertas pela calcinha vermelha. Vermelha, né? Ora, ora. Eu paro, imaginando as coisas que poderia fazer com essa bunda quando me lembro a quem está ligada. Frances é estranha, e do que posso dizer, é toda cotovelos e joelhos. Deselegante. Eu não dou a mínima para que cor dos olhos ou cabelos tem uma mulher, mas as que eu gosto de foder parecem... bem, mulheres. Tetas. Quadris. Lábios. Hoje, Frances parece mais pesada do que o resto das garotas empilhadas nas portas da frente da escola. Não seu corpo, ela não pode pesar muito, nem é alta, mas o peso é como se ela estivesse preocupada. Não é da minha conta.

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Estou prestes a entrar em problemas e, pela primeira vez em muito tempo, sinto-me entusiasmado. Energeticamente nervoso3. Pronto. Frances para. Seus olhos viajam por cima do ombro, vasculhando o estacionamento até chegarem em mim. Ela pausa e gira a cabeça para o lado. O sino toca, e ela abre as portas, desaparecendo lá dentro. Eu tenho que dar esse crédito à Frances. Ela é inteligente. Não suficientemente inteligente para me despistar, mas todos os outros que Griff e eu contratamos para encontrar seu pai não conseguiram encontrá-la também. Agora, sei por quê. Os outros estavam todos à procura de Frances Helburn. Uma jovem de vinte e poucos anos. O que eles encontraram foi uma menina da escola católica de dezoito anos chamada Sarah Jackson. Ela estava escondida em plena vista. No ensino médio de todos os lugares. Esperta. Mas não suficientemente inteligente. Abro a porta do carro na frente da escola e saio na luz do sol cegante. Seu plano era decente, enquanto durou, mas tudo acabou agora. Frances Helburn está prestes a saber que ela não é tão inteligente como pensa que é.

3

No original — amped, — que significa cheio de energia nervosa, especialmente através da tomada de anfetaminas ou drogas similares.

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Capítulo Cinco SMOKE

A recepcionista me olha de cima abaixo. Ela não consegue esconder a surpresa em seus olhos enquanto ela observa minhas tatuagens e meu uniforme da polícia. Ela para em sua cadeira atrás de sua mesa e escova um fio de cabelo atrás de sua orelha. Ela dá um sorriso educado. — Posso... posso ajudá-lo, oficial...? — ela gagueja, ligando e desvinculando seus dedos juntos. — Oficial Wiggum. — eu termino por ela, usando um tom sem emoção, mas educado. Eu rio interiormente porque ninguém parece notar que, quando me passo por policial, uso o nome de um personagem dos fodidos Simpsons. — E sim, de fato, você pode, senhora. Eu entrego a papelada falsa e verifico meu relógio como se fosse a última coisa que quero fazer antes do meu turno terminar. Seus olhos se arregalam quando ela lê os papéis, seus lábios se movendo silenciosamente. Ela olha para mim e limpa a garganta que agora está tão vermelha e cheia de manchas como o rosto dela. — Apenas um... apenas um momento, oficial. — ela se desculpa, correndo como um rato sendo perseguido por um gato. Ela está cansada. Não posso culpá-la. Provavelmente não é todos os dias que um agente de polícia vem carregando um mandado para prender um de seus alunos. Poucos minutos depois, estou no meio do escritório do diretor esperando que o próprio diretor traga Frances para mim. Eu olho para a bandeira emoldurada dos Estados Unidos pendurada acima da mesa e observo meu reflexo no vidro. É quase fácil demais.

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Capítulo Seis FRANKIE

Diretor Gregory enfia a cabeça dentro da minha aula de matemática e limpa a garganta. O Sr. Timball para sua aula de geometria; seu pincel faz uma pausa contra o quadro branco. Ele levanta as sobrancelhas em silêncio. O que você quer? — Eu preciso ver Sarah Jackson. — ele responde, olhando as filas de estudantes até encontrar-me ao fundo. Seus olhos se fecham nos meus. — Agora. Sinto cada olhar inquisitivo fazendo buracos no meu crânio enquanto saio da minha cadeira e vou até a frente da sala. Trinta cabeças girando me olham como uma estranha dança lenta sincronizada de um vídeo musical dos anos oitenta. — Pegue suas coisas. — diz Gregory, quando vê minhas mãos vazias. Eu concordo. Pegar as minhas coisas significa que tudo o que ele me vai dizer no seu escritório vai demorar um pouco, porque não voltarei a aula hoje, pelo menos não para esta. Um pressentimento corre na parte de trás do meu pescoço, e não é de todos os olhos observando meus movimentos. É o medo que paira no meu estômago e uma sensação de que tudo está prestes a mudar. De novo. Eu agarro minha bolsa e meus livros e vasculho meu cérebro em busca de um assunto relacionado com a escola, mas não faço ideia. Eu vou para frente da sala pela segunda vez. Somente o toque de um lápis contra uma mesa e um chiclete sendo mastigado podem ser ouvidos junto com o eco de meus sapatos pretos sem forma contra o piso de linóleo.

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O diretor Gregory mantém a porta aberta, e eu o sigo silenciosamente até o escritório com a cabeça baixa e os longos cabelos enrolados em meu rosto como escudo. Ele me permite entrar primeiro, e não é até que meus joelhos tenham escovado uma das duas cadeiras em frente a sua mesa que olho para cima e vejo um policial de pé na janela com suas costas largas para mim. As tatuagens coloridas ocupam cada centímetro de espaço em seus braços. Seus longos cabelos escuros estão amarrados na nuca do pescoço debaixo do chapéu. Sinto que conheço esse homem, de alguma forma, ou talvez seja apenas um déjà vu. De qualquer forma, eu começo a relaxar. Não tenho nada com a polícia. Nada que eles poderiam saber, de qualquer maneira. O motivo pelo qual o oficial está aqui é provavelmente apenas um mal-entendido. Talvez seja um dos meus vizinhos. De um lado é um traficante, e do outro é ocupado por um casal que briga todas as horas do dia e da noite e grita mais do que fala. É mais provável que um matou o outro e eles estão procurando testemunhas do que eu estar em qualquer tipo de problema. Pelo menos eu acho. — Vou deixá-los sozinhos para discutirem este assunto. — diz o diretor Gregory, lembrando-me de sua presença. — Eu estarei aqui para acompanhá-la quando estiver pronta. — ele me dá um sorriso apertado. Uma desculpa. O oficial espera até a porta fechar para se virar para me encarar. Reconheço ele instantaneamente como o homem da estação de serviço. Só agora posso ver seu rosto com mais clareza. Seus olhos brilhantes e escuros. A cicatriz acima do olho direito. Estou intrigada com ele da mesma maneira que quando o vi pela primeira vez. O oficial coloca as mãos no cinto e sorri. Eu devolvo seu sorriso, mas paro rapidamente quando ele fala, sua voz profunda e dura. — Olá, Frankie. Meu coração para. Meu sangue se transforma em gelo. Não consigo engolir. Não consigo respirar. Ele usou meu nome verdadeiro. Ele usou meu verdadeiro e fodido nome. Deixo meus livros caírem no chão e corro na direção da porta. Abro minha boca para gritar, mas antes de um único som escapar, ele ~ 35 ~


está em mim, cobrindo minha boca com uma mão tão grande que cobre a maior parte do meu rosto. Ele me puxa para trás da porta, minha mão ainda estendida em direção à maçaneta que está ficando cada vez mais longe enquanto ele me puxa de volta. As lágrimas picam na parte de trás dos meus olhos, tanto por susto como por não conseguir puxar oxigênio pelo meu nariz. Meus pensamentos se agitam e saltam do interior do meu crânio quando pulso acelera, e eu fico mais tonta e mais lenta. — Grite, e você vai morrer. — ele avisa, sua voz profunda abrindo caminho nos meus ossos. — Faça qualquer barulho, e você vai morrer. Corra, e você vai morrer. Algo duro me cutuca na parte inferior das minhas costas. Só de olhar para o reflexo na bandeira emoldurada dos Estados Unidos, acima da mesa do diretor Gregory dá para ver que a coisa dura que ele está pressionando na minha espinha é uma arma. Isso não pode estar acontecendo. Agora não. Ainda não. Eu fiz promessas. Eu tenho coisas para terminar. Eu luto contra ele, mas ele só me puxa mais forte contra seu peito duro e maciço. Ele puxa meu braço e coloca meu pulso nas minhas costas com uma mão enquanto a outra permanece firmemente sobre minha boca. Eu puxo meu pulso, mas sou recompensada com um puxão na minha outra mão e algemas se fechando quando a outra é arrancada nas minhas costas. Seus lábios estão na minha orelha. Nunca houve palavras sussurradas que carregassem tal aviso. — Você pode sair daqui comigo SILENCIOSAMENTE e sem incidentes ou você pode gritar e pedir ajuda. De qualquer forma, você ainda vai deixar esta escola comigo. Um jeito é fácil e rápido. Ninguém se machuca. Caso contrário você me fará atirar. Todo mundo se machuca. Sua escolha, diabinha. Você entende? — ele pergunta. Quando eu não respondo, ele puxa meus punhos, puxando-me para longe da parede. — Você entende? Eu aceno com a cabeça porque tenho muito medo de falar. A ameaça desse homem é tão real quanto o céu é azul. — Vamos. — ele ladra, me puxando para a porta.

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Meus joelhos cedem, e eu me sinto caindo. O homem não está nem aí. Ele me lança em meus pés antes de eu bater no chão. — Ande. — ele exige, empurrando-me para frente. Ele me seguro. Ele me segura, e não tenho escolha senão andar. Não há como permitir que pessoas inocentes sejam feridas quando este homem obviamente está aqui apenas por mim. A porta se abre e a mão sobre minha boca desaparece. Eu engulo uma enorme lufada de ar, forçando o oxigênio muito necessário de volta aos meus pulmões. O Diretor Gregory está de pé ao lado da porta. Seus olhos vão primeiro para as minhas bochechas manchadas de lágrimas e depois para as algemas agora ligando meus pulsos atrás das minhas costas. — Há alguém para quem você gostaria que eu ligasse, senhorita Jackson? — ela pergunta. — Seu pai, talvez? O homem aperta meu pulso em aviso. — Isso não será necessário. — ele responde por mim. — O pai dela já está nos esperando na delegacia. O Diretor Gregory acena com a cabeça, acreditando facilmente na mentira. Ele me dispara um olhar simpático enquanto nos conduz pelo corredor. Estudantes abrem espaço como o Mar Vermelho para nos deixar passar. Eu não sei o que ela acha que eu fiz para merecer ser presa, mas essa é a menor das minhas preocupações. Mantenho meus olhos no chão. Sussurros e risadas silenciosas seguem de perto. Saímos pelas portas da frente de vidro, e o diretor Gregory nos segue até o carro da polícia esperando no meio da calçada. — Peça ao seu pai que me ligue. — diz o diretor Gregory com tanta tristeza na voz que eu sinto que deveria ser eu a confortá-lo. O falso policial me empurra no banco de trás do carro da polícia e bate a porta. Mais uma vez, permaneço em silêncio. — Ei! Onde você está levando ela? O que aconteceu? O que diabos está acontecendo? — alguém grita. Eu congelo enquanto reconheço a voz de Duke. Não. Não. Eu canto na minha cabeça. Olho de canto através de uma parte do meu cabelo. O diretor Gregory está a mão no peito de Duke, impedindo-o de se aproximar. Ele balança a cabeça e o guia de volta pelas escadas para a escola. ~ 37 ~


— Sarah! — ele chama pelo ombro dela. — Sarah! Eu não digo nada quando o carro se afasta da escola. Longe da minha vida. Não é uma vida real, mas é tudo o que tenho. TIVE. Não é apenas a minha vida que acabou. Talvez eu tenha poupado a vida das pessoas naquela escola com meu silêncio, mas se eu não conseguir completar meu trabalho, outros irão morrer. A única questão agora é, quantos?

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Capítulo Sete FRANKIE

Eu finjo estar chorando, berrando com voz grossa e gemidos, de modo que o brutamontes no banco da frente não consiga ouvir o que realmente estou fazendo, tentando abrir a tranca das algemas com o pequeno cortador de unha escondido no interior do meu suéter. Eu sabia que meu fim estava perto, mas isso não significava que não estivesse me preparando para isso. Meu sequestrador não parece irritado com minhas lágrimas. Ele não reage de modo algum. Depois de enviar uma mensagem de texto, seus olhos voltam para a estrada sem nem olhar para mim no espelho retrovisor. Quando eu consigo abrir a tranca, solto um gemido excepcionalmente alto para disfarçar o clique das algemas enquanto se abrem, meus pulsos finalmente livres, mas eu os deixo nas minhas costas. O carro de polícia em que estou tem a coisa da gaiola que separa o banco traseiro da frente. Não há cinto porque, como a maioria dos carros policiais, as portas só abrem do lado de fora. Felizmente, é um carro de modelo mais recente, e vejo a alavanca de liberação de emergência vermelha perto do meu pé saindo da esteira no piso. Tiro meu sapato, giro meu pé e levanto a beirada da esteira. Isso dá trabalho, especialmente porque não consigo mover nenhuma outra parte do meu corpo ao fazê-lo, mas finalmente consigo deslizar meu dedo grande através do tecido da maçaneta. A maioria das pessoas lógicas escolheria pular enquanto o carro está parado em um sinal ou faixa. Mas esse homem é enorme. Suas pernas são longas e fortes, e não tenho dúvidas de que, se eu fugir enquanto estamos parados, ele vai me pegar antes de ter chance de correr alguns metros. Por outro lado, enquanto o carro está em movimento, é outra história. Posso abrir a porta e saltar. Se eu não estourar meu crânio no ~ 39 ~


pavimento ou quebrar um membro no processo, posso correr enquanto ele ainda está desacelerando. É a melhor chance que eu tenho. É a única que tenho. Nós entramos na rampa da rodovia. Eu me sento e observo o ponteiro do velocímetro aumentar. Sessenta quilômetros por hora. Setenta. Oitenta. É agora ou nunca. Respiro fundo e puxo a alavanca com o pé. O bloqueio da porta clica e eu o empurro com todas as minhas forças. — Merda! — o homem amaldiçoa enquanto pulo do veículo. As linhas amarelas pintadas se desfazem embaixo de mim enquanto caio no mato ao lado da rodovia. É a última coisa que lembro.

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Capítulo Oito SMOKE

Todos os pensamentos que eu tive sobre Frankie Helburn ser inteligente sumiram quando ela saltou do fodido carro. Puta estúpida. Eu freio e atravesso a grama meio alta, os pneus vibram abaixo de mim enquanto atravesso o terreno não pavimentado. Volto para o asfalto em uma nuvem de fumaça da borracha ardente. A porta que ela conseguiu abrir se fechou com a força da freada. Eu bato meu pé no pedal do acelerador e atravesso a grama novamente, dando voltas ao redor de onde ela caiu a mais de oitenta quilômetros por hora. Segundos depois acerto o freio até parar no lado da estrada. Eu a vejo antes de sair do carro - tentando se esconder na grama alta no centro da vala com o rosto para baixo. O seu cabelo preto brilhoso é o que a denuncia, não fazendo nada para escondê-la no mato verde, assim como um avestruz com a cabeça na areia. Eu ando xingando com uma careta no rosto. Ou melhor, até perceber que sua tentativa de se esconder é ruim demais. É porque ela não está se escondendo. Merda. Eu nem sei se a cadela está respirando.

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Capítulo Nove FRANKIE

O cheiro me atinge primeiro. Tem cheiro de roupa deixada na máquina de lavar por muito tempo. Rançoso. Mofo. E algo mais. Algo que arde minhas narinas. Urina talvez. Eu luto para abrir meus olhos. Depois de algumas tentativas, estão abertos, mas pouco. É dia. Eu sei disso porque a poeira está girando como um ciclone, se movimentando lentamente dentro de um raio de luz que brilha sob uma sombra da janela aberta. Onde diabos estou? Mas a resposta não vem. Tudo o que sei é que estou sozinha no que parece ser um quarto de motel barato. Uma velha TV com a tela quebrada está em cima de uma cômoda de madeira, faltando duas de suas quatro gavetas. O horrível papel de parede floral está mais rasgado que tudo. Alguém chegou até mesmo a colorir as lacunas com um marcador rosa como se ninguém fosse perceber o papel de parede faltante. Uma dor atinge meu peito com uma força que faz com que minha visão fique borrada enquanto tento rolar. Eu congelo e fecho meus olhos com força, como se isso pudesse parar a queimadura das minhas costelas. Todos meus músculos se unem, protestando contra minha consciência. Meu braço direito dói e vibra. Meus pensamentos estão misturados, e meus batimentos cardíacos estão ressoando no meu crânio como se eu tivesse passado a noite passada bebendo tequila. A dor alivia ligeiramente. Quando posso respirar fundo novamente, tento esfregar minha testa para acalmar a palpitação na minha cabeça, mas paro com o toque de metal na minha pele. A dor induzindo a lágrima vibra até meu cotovelo. Eu olho para cima. Meu suéter está arruinado, mostrando grandes contusões amarelas e roxas ~ 42 ~


que ocupam mais espaço em meus braços do que pele. Meus pulsos estão ligados à cabeceira da cama por algemas. Congelo enquanto as presas afiadas do medo perfuram a pele da minha garganta. Fecho os olhos com força e tento ver entre o nevoeiro e o pânico. Pense, Frankie. Pense. Qual é a última coisa que você se lembra? A memória está bem ali, mas permanece no vácuo. Eu rosno de frustração, mas o movimento me faz assobiar com mais dor quando as molas do colchão desgastado embaixo de mim se mexem sob minhas costas como se eu estivesse deitada sobre uma cama de facas. O tinir e a raspagem do metal contra o metal ecoam nos meus ouvidos enquanto tento puxar as mãos das algemas, sem sucesso. Eu tento engolir, mas minha boca está seca. Eu rolo minha língua na minha boca e sinto gosto de sangue seco nos meus dentes. Ouço uma voz profunda e familiar do lado de fora da porta fechada. Está com raiva e grossa. — Eu não vou levá-la até você. Nem fodendo. Não até que eu tenha acabado com ela. — outra pausa. — Me dê tempo e quando eu estiver pronto vou trazer a garota ou o corpo dela. — Merda. — eu amaldiçoo quando tento me sentar, esquecendo por um momento que estou ligada à cama. Fortes dores se arrastam pelos meus músculos como uma faca serrilhada. Quando finalmente diminui o suficiente para me concentrar, respiro fundo. Uma lembrança começa a se desgarrar da névoa. Um flash de vermelho e azul. Um homem com cabelos e olhos escuros. O que estava no escritório do diretor na escola. Foi um sonho? Não. Um pesadelo. Só que não estou dormindo. A dor é real. As algemas são reais. Tudo é real. Tudo volta para mim no segundo que eu vejo o uniforme do policial azul em cima de uma cadeira no canto. Escola. A caminhada até o escritório do diretor. O policial. O homem da estação de serviço. Duke gritando meu nome. Saltando do carro na estrada. — Negócios são negócios, idiota. — eu ouço o homem dizer. ~ 43 ~


Eu posso distinguir sua grande sombra andando de um lado para o outro na frente da janela. — Poupe essa merda para o seu pessoal. — ele diz. — Eu trabalho sozinho. Se você enviar alguém atrás de mim, farei com que ele não volte. Ele termina a ligação, e seus pesados passos param em frente à porta. Puxo minhas algemas novamente, ignorando a dor. Procuro na sala pequena por outra saída, outro meio de fuga, mas mesmo se eu conseguisse me libertar, não haveria nenhum lugar para ir. Procuro de novo, como se outra saída fosse aparecer, mas não há nada além de um pequeno banheiro sem janelas e paredes com papel de parede feio. A porta se abre, e os passos pesados se aproximam da cama. Eu fecho meus olhos e finjo estar dormindo, embora meu coração esteja martelando no meu peito, como se estivesse correndo para a linha de chegada em uma corrida, e não estou ganhando. Eu tento não reagir quando sua grande mão envolve meu antebraço, mas estou entrando em pânico. Ele solta meus pulsos das algemas e os deixa cair na cama. Eu o ouço caminhando pelo quarto. Eu abro um pouco os olhos e dou uma espiada. Ele está agachado sobre uma sacola preta no chão à minha direita. A porta está à minha esquerda. Não há tempo para pensar. Eu me sento devagar, mas o colchão range com meu movimento. A cabeça do homem vira na minha direção, e eu fecho os olhos novamente, esperando que ele pense que estou apenas me movendo enquanto durmo. Depois de alguns momentos, ouso olhar de novo. Suas costas estão para mim novamente. Devagar não vai funcionar desta vez. Eu não penso duas vezes porque tempo é um luxo que não tenho. Eu levanto da cama e corre pelo quarto. Minhas pernas estão ardendo porque algo está arranhando por dentro, percorrendo todos os meus músculos como facas irregulares sendo arrastadas pela minha pele. Eu corro o mais rápido possível, mas sei que não é rápido o suficiente porque estou mancando como se meus pés fossem âncoras se arrastando atrás de mim. Eu levanto meus pés e voo pelo ar com facilidade, como um jornal lançado em uma varanda no domingo de manhã. Eu acerto o colchão ~ 44 ~


com tanta força quanto saltei do carro, pousando meu estômago no tapete sujo do outro lado da cama. O ar é aspirado dos meus pulmões com o impacto. Minha bochecha arranha como se eu tivesse atingido o concreto em vez de carpetes de lã. Meu captor me pega. Ele rosna, e é como se eu pudesse sentir seu rosnado navegando em minha direção com a poeira no ar. Eu percebo isso quando ele estala os nódulos dos dedos. Eu percebo isso pelo jeito que ele vira sua cabeça de um lado para o outro e suas narinas inflam. Eu posso sentir o cheiro impregnando como uma nova fragrância de Calvin Klein. Ódio, para homens. Ele está vestido do mesmo jeito quando o vi pela primeira vez na estação de serviço. Camiseta preta apertada revelando a grande quantidade de tatuagens coloridas que se interconectam ao longo de seus braços musculosos. Colete de couro preta lisa. Calças escuras baixas de brim. Botas de couro pretas. Ele tem duas grossas pulseiras de prata adornando ambos os pulsos, uma corrente que conecta cada par. Ele se aproxima. Não são pulseiras. São algemas. Um par para cada pulso. Revolta e repugnância atravessam seu rosto bronzeado, torcendo os lábios grossos. Como eu achei esse homem bonito? — Por favor. Não me machuque. Eu vou te dar o que quiser. — eu imploro, odiando a maneira como não reconheço minha própria voz. — Sim, você vai. — ele diz, agachado mais perto, sua respiração na minha bochecha. Ele não está me tocando, mas posso senti-lo em todos os lugares. Ao meu redor. Contra minha pele, no poço crescendo no fundo do meu estômago. Na onda de adrenalina que atravessa meu coração. — Onde diabos está seu velho? Meu velho. Meu pai. Meus pulmões se inflam, atraindo um ar muito necessário, trazendo nova vida aos meus pensamentos. Ele quer meu pai, não eu. Ele não sabe a verdade.

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Eu me sinto um pouco aliviada porque significa que meu trabalho está seguro, mesmo que eu não esteja. Pelo menos por enquanto. — Me responda! — Eu... eu não sei. — minto em uma exaltação estrangulada. Volto a cabeça para o chão, meu cabelo caindo em meu rosto, eu estou acostumada a me esconder atrás dos fios. Mas ele não é um garoto do ensino médio. Meu cabelo não vai fazer muito para me proteger agora. — Puta merda. — ele rosna, pegando um punhado do meu cabelo e torcendo-o nas mãos, então não tenho escolha senão enfrentá-lo. Meu couro cabeludo queima. — Vamos tentar de novo. — ele vê. Ele me vira sobre minhas costas e restringe meu torso com suas coxas grandes em cada lado dos meus quadris. Ele levanta meus pulsos acima da minha cabeça e os segura lá. — Onde está seu velho... — suas palavras de repente estão longe. Ele se inclina mais perto. Suas sobrancelhas se erguem novamente, arqueando-se de novo, torcendo a expressão em confusão. Ele está imóvel. Não respira. Eu faço o mesmo, permanecendo o mais parada possível como se estivesse com medo de que mesmo o menor piscar de olhos provocasse sua raiva e o levasse por um caminho onde não haverá escapatória. Segundos passam antes de eu piscar de volta e ele se foi. Ele me vira nas minhas costas, mantendo o cabelo firmemente entre os dedos. Ele o torce até ouvir os cabelos rasgando do meu couro cabeludo aquecido. — A verdade. Agora. — ele exige. Eu mal consigo pensar com a pressão no interior do meu crânio. Estou à mercê deste homem, e é só se ele tiver alguma. — Eu não falo com meu pai há anos. — eu digo a ele. Meus olhos cheios de lágrimas. Ele agarra meu cabelo tão forte que não tenho escolha senão olhar para ele. Lágrimas escapam dos meus olhos e descem pelas minhas bochechas, ouvidos e cabelos. Ele examina meu rosto novamente, desta vez não em confusão, mas sim como um detector de mentiras fazendo uma varredura. Ele levanta a mão livre. Eu tento me afastar, mas só consigo infligir mais dor no meu próprio couro cabeludo. Ele me surpreende ao correr a ponta dos dedos sobre os meus lábios, rastreando lentamente a parte ~ 46 ~


superior e depois inferior. Meu estômago se revira quando o medo faz seu caminho através do meu corpo. — É uma pena eu não poder ficar com você. Você seria um belo animalzinho de estimação. — suas palavras cruéis são atadas com um significado ainda mais sombrio. — Diga-me, diabinho. — ele diz. — Por que você não me perguntou por que eu estava levando você? Ou por que você está aqui? — Eu... eu... — eu gaguejo. Merda. — Eu acho que é porque você já sabe. Ele solta meu cabelo e desce no chão aos pés. Alívio e dor caem no topo da minha cabeça. — Eu não sei o quem você é... — Não banque a idiota. Essa merda não funcionará. Não comigo. Seu velho roubou das pessoas erradas. — ele grita. No lado do seu pescoço está uma tatuagem elaborada de um relógio de bolso onde uma veia grossa pulsa diretamente sob sua mão. — Pessoas que não são tão pacientes como eu. — Eu estou te dizendo a verdade. Eu não falo com ele há anos. — digo a ele. — A pergunta é onde ele está, não se vocês andam se falando! — ele se inclina tão perto que seu nariz quase está tocando o meu. As narinas inflam. Ele está perdendo a paciência, e estou perdendo as estribeiras. — Eu não tenho dinheiro. — digo a ele. — Mas posso conseguir. Eu só preciso de um laptop, e eu posso— Mesmo que eu acreditasse em você, isso não vai acontecer. Dinheiro não é tudo que seu velho roubou. — ele está me olhando de cima como um deus que olha do céu para baixo, espiando o inferno. Ele é uma prova viva de que, como seres humanos, nossos exteriores nem sempre combinam com nossos interiores. Sua boa aparência é desperdiçada. Uma farsa. Uma distração. Não é mais eficaz do que o preenchimento do marcador como papel de parede. — Se você não me disser onde ele está, então teremos que fazê-lo vir até nós. Você sabe como vamos fazer isso? ~ 47 ~


— Não importa. Ele não virá por mim. — é a verdade. Eu me sinto um pouco mais forte por ser quem segura as cartas, mesmo que essas cartas sejam sem valor. Respiro fundo. Uma e outra vez. Cada inalação dolorosa me dá mais força. Mais determinação. Mais vontade de lutar. — Você é terrivelmente inteligente para uma garota que é tão idiota. — ele diz enquanto balança a cabeça. — Eu não sou burra. — digo através dos meus dentes. — Meu pai costumava me dizer que eu era burra. Ele também estava errado. — É mesmo? Você saltou de um carro em movimento. — ele aponta, sua voz tão profunda que ressoa como o motor de sua moto e eu posso sentir suas palavras assim como ouvi-las. — Isso foi corajoso. — argumento. Ele está me olhando com interesse, mas não diz nada. — Se você vai me matar, então faça. — eu desafio. Sua risada é baixa e ameaçadora. — Você não está fazendo muito para provar seu ponto sobre não ser burra, diabinha. Eu encontro seu olhar. — Morrer do meu jeito? Parece muito inteligente para mim. — eu encolho os ombros. — Eu não posso te dar o que você procura, então estou morta de qualquer maneira, certo? — É aí que você está enganada. Ele se agacha de novo. Ele ergue a mão para agarrar meu rosto, e quando me afasto, ele me revira vigorosamente, agarrando meu queixo, seus dedos cavando dolorosamente na minha pele. Sua respiração está perto dos meus lábios. — Nada sobre isso será em seus termos. NADA. O que ele não sabe é que nada sobre minha vida já esteve nos meus termos. Esta pode ser a primeira vez que eu fui sequestrada. Mas tenho sido uma prisioneira há anos.

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Capítulo Dez FRANKIE

— Você quer saber o que vai acontecer com você se não me disser onde está seu pai? — o homem pergunta, olhando para mim com olhos frios e duros. Eu balanço minha cabeça. O que isso importa? Ele me diz de qualquer maneira. — Eu vou fazer mais do que simplesmente te matar. — ele levanta minha mão na dele e puxa meu dedo indicador até que a articulação estale. — Vou começar removendo as unhas. Eu tento afastar minha mão, mas ele aperta e pressiona meu dedo até eu sentir a dor abrasadora. Ele solta e eu envolvo minha mão ao redor do meu dedo como uma cinta. — Depois eu vou remover seus dedos, um de cada vez. — ele agarra meu pulso. — Então suas mãos. Ele desliza a mão até meu antebraço logo abaixo do meu cotovelo espremendo dolorosamente a articulação. Minha boca se abre em um grito silencioso. — É incrível como você pode permanecer consciente e alerta enquanto tira os braços e as pernas das pessoas. Eu vi homens observarem seus membros serem removidos um a um até que mais partes deles estavam penduradas ao redor da sala do que presas aos seus corpos. O corpo humano pode demorar muito antes de desistir. Mas não vou aborrecê-la com todos os detalhes. Você vai descobrir rapidinho. Ele cava os dedos no machucado mais roxo no meu tronco. Eu silvo e o encaro com ódio. — Você vai sentir tudo. Cada pressão no osso. Todo músculo cortado. Cada veia estourar. — ele cutuca o hematoma mais uma vez antes de me soltar. ~ 49 ~


Eu esfrego meu braço dolorido enquanto ele permanece perto, olhando para mim. Observando todas as minhas reações como se estivesse me estudando. O olhar dele vai até onde estou esfregando o ferimento no meu rosto e depois de novo. Parece que ele está pensando em algo e seja lá o que for, eu não quero saber. Por um longo tempo, apenas respiramos o mesmo ar, encarando com ódio um ao outro. Ele está esperando que eu pire e diga a ele onde está meu pai, mas não conseguiria mesmo se quisesse. Amaldiçoo meu pai na minha cabeça. — Olha. Por favor. Frank não era um pai muito bom, e depois descobri que ele também não era uma boa pessoa. Honestamente, eu o entregaria a você se pudesse. Ele merece o que quer que aconteça com ele, mas não posso fazer isso. Não é possível. O homem não diz nada, mas continua a olhar para mim por um longo tempo. — Cale a boca. — ele finalmente ordena. O medo corre através de mim. Eu também posso ouvi-lo. É mais alto do que o meu próprio batimento cardíaco, que late em meus ouvidos, como uma mão batendo um ritmo instável em um tambor. Eu congelo. — Levante-se e tire suas malditas roupas. Meu estômago aperta. Meus olhos se alargam. Meu pulso acelera e meus dedos começam a se contrair. — Por favor. — imploro. — Não. Não. Por favor, não. Não. Eu sinto muito. — Tire. Logo. — desta vez, ele a repete através de dentes bem apertados. Ele me levanta do chão. Suas mãos são grandes e ásperas enquanto se envolvem em meus ombros. Eu chuto contra ele, mas ele me subjuga facilmente, me virando, então minhas costas são pressionadas firmemente em seu peito. Estou tremendo quando ele empurra a mão dentro de um buraco no meu suéter e rasga. — Não! — grito enquanto ele rasga o que resta do uniforme escolar do meu corpo, o som do tecido rasgando acaba com minha última gota de esperança. Eu preferiria que ele arrancasse meus membros e então tomasse meu corpo a força. Estou chorando pela primeira vez em toda a minha vida. ~ 50 ~


O homem se move até minha saia e dá alguns puxões na costura, deixando-a em pedaços diante dele apenas em minha calcinha e sutiã esportivos. Estou aterrorizada, mas resisto ao desejo de me cobrir com meus braços. Eu digo a mim mesma que, quando se trata disso, vou lutar com ele com tudo o que tenho, mas se isso não funcionar, o que, dado ao tamanho e a diferença de força, parece provável, então vou tentar pensar no lugar mais lindo e em momentos mais felizes. Não demoro muito para perceber que também não funcionará. Eu não tive um momento muito feliz desde... bem, nunca. Seus dedos descem pela grossa alça do meu sutiã esportivo. Eu puxo uma respiração estrangulada. Os pelos dos meus braços se arrepiam. Ele ri enquanto me circunda. — Como eu disse, — ele sussurra. — tão inteligente, mas tão estúpida. — O que... o que você vai fazer comigo? — eu consigo gritar. O calor de seu peito aquece minhas costas quando ele para atrás de mim mais uma vez. — Eu vou lutar. Eu não vou deixar que você faça isso. Por favor. Por favor, não... — Por favor, não faça o quê? — ele pergunta, parando na minha frente, cruzando os braços grandes e musculosos sobre o peito. Ele está me olhando como se minha própria presença o ofendesse. — Por favor. Apenas... não. — não consigo encontrar as palavras certas, mas espero que seja o suficiente. Fecho meus olhos e solto meu queixo no meu peito. Estou sendo empurrada para trás. Eu paro em uma cadeira de madeira com pernas quase tão bambas como as minhas. Meu cóccix grita com dor, mas não é nada comparado à dor de não poder fazer nada para me salvar. — Corte-me ou até me mate, se precisar, só não faça... isso. Por favor. Ele me olha como uma aranha avaliando a mosca apanhada em sua teia. Pânico surge no meu peito e fica preso na minha garganta. Eu tento, mas não consigo engolir. Estou preparada para a maioria das coisas, mas não para isso. Ninguém poderia estar. Ele se aproxima. Seus joelhos tocam os meus. Eu abro minha boca para gritar, mas ele cobre com a mão. — Como quiser, diabinha. De repente, há uma arma pressionada na minha testa.

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Eu estou sem reação. Eu não vejo nada além de branco, então o homem está de pé acima de mim apontando uma arma na minha cabeça. A imagem está entrando e saindo de foco. — Eu não vou ser capaz de entregar meu pai pra você apenas porque tem uma arma na minha cabeça. — diz uma versão muito mais forte de mim. Meu coração está correndo de medo, mas minha alma quer lutar como um gladiador suicida e quero viver porque tenho que viver. Passei vários anos lutando pela vida dos outros e se eu morrer, eles morrerão. Cerro os olhos com força, preparando-me para o fim. Eu peço desculpas silenciosas para todas as pessoas que nunca conheci, que nem sequer sabem que estão contando comigo. Lamento ter falhado com vocês. Eu me pergunto se sentirei alguma coisa quando a bala enviar pedaços de meu cérebro salpicando na parede atrás de mim. — Espero que eu faça uma grande bagunça, e você tenha que limpar. — eu digo, endurecendo meu corpo e olhando para seus olhos escuros e malvados. O canto de seus olhos se enruga com um sorriso que não atinge seus lábios. Meu coração está martelando no peito quando seu telefone toca, e ele atende no alto-falante sem dizer uma palavra. — Smoke. — o homem da outra extremidade cumprimenta. — Griff. — Smoke responde bruscamente. Smoke. O nome do meu sequestrador é Smoke. E Griff? Onde eu ouvi esse nome antes? — A cadela já falou? — Ainda não. — diz Smoke, inclinando a arma. Ele empurra o cano mais forte na minha pele até pressionar minha cabeça contra a parte de trás da cadeira. — Mas estou trabalhando nisso. Não o suficiente.

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— Envie fotos. — exige Griff, como se estivesse falando com o nariz entupido. Smoke ergue o telefone e encaixa a arma na minha cabeça. Ele toca algumas teclas e retorna o telefone no alto-falante. — Enviei. — Vou garantir que sejam enviadas para quem já teve contato com Frank Helburn. De um jeito ou outro, ele irá vê-las e, mais importante, entenderá a mensagem. Dê as caras ou a cadela irá morrer. — Griff diz, soando satisfeito consigo mesmo. Ele pode ficar satisfeito da forma como quiser. Não vai funcionar. — Você já conseguiu sua foto. Faça com que o filho da puta apareça. — diz Smoke. — Esperamos uma semana. Se não funcionar, jogaremos ela da ponte e arrumaremos outro plano. — diz Griff. — Melhor ainda. A machuque por uma semana. Retire partes de carne conforme você quiser, então me traga a garota. — Eu posso fazer isso do meu jeito. — Você me deve, Smoke. Se ele der as caras, ele é seu. Se não, você tem uma semana. Então a menina é minha. Smoke pigarreia em acordo, então desliga. A arma sai da minha cabeça. Ele joga o telefone na parede onde faz um buraco do tamanho de uma pizza. Dou o suspiro mais longo da história e solto meu queixo no peito. Estou tremendo de medo e adrenalina. Ainda estou tentando recuperar o fôlego quando algo macio se conecta com a minha cabeça. Outra coisa cai sobre meus pés descalços. Estou surpresa ao descobrir que é uma camiseta preta e um jeans. — Vista. — ordena Smoke, empurrando as coisas para a bolsa. Quando não me movo de imediato, ele dá uma olhada no meu corpo lentamente. Por um segundo, acho que vejo calor em seus olhos e meu corpo inteiro acende, lembrando do meu medo anterior. — Você tem dois segundos para colocar antes de você passar a semana seguinte nua. Eu rapidamente puxo os jeans sobre minhas pernas e a camisa sobre minha cabeça. O tecido de ambos é macio e elástico, mas ainda ~ 53 ~


parece lixa contra meus hematomas e machucados. De qualquer forma, estou agradecida estar coberta novamente. Uma semana. Simples assim, a minha sentença de morte foi prolongada temporariamente. Tenho sete dias para bolar um plano. Escapar. Através de suborno ou descobrindo qual é o melhor deus para rezar. Sorte a minha que ainda tenho alguns truques na minha manga, e vou usar cada um deles se precisar. Estou totalmente vestida, mas não tenho certeza do que fazer a seguir. Smoke aparece e me empurra na cadeira e puxa meu braço para baixo, segurando meu pulso em uma das pernas. — Eu estou vendo esse olhar em seus olhos. — ele diz. — É melhor parar com essa merda agora. — Que olhar é esse? — pergunto. — Esperança. Não vai te fazer nada bem. Não comigo. É melhor você continuar com medo. A esperança pode parecer o começo, mas isso vai acabar com você no final. — seus lábios escovam minha orelha. — Confie em mim.

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Capítulo Onze FRANKIE

O forte cheiro de óleo de motor e gás se apega ao interior da minha narina, despertando-me de volta à consciência. Estou grogue. O interior da minha boca está seca e tem gosto azedo. Tenho certeza de que ele me drogou, mas não sei com o quê. A minha parte doentia, a parte que ainda está sofrendo de dor, está grata, enquanto a outra parte, aquela que ele sequestrou e ameaçou, ainda está furiosa e aterrorizada. Estou deitada no banco de trás. Desta vez, não haverá fuga. Nada de pular na estrada. Ele se certificou disso. Tenho os olhos vendados. Amarrada em meus pulsos e tornozelos. Uma fita grossa cobre minha boca. Estou com os dois conjuntos de cinto de segurança. Não sei que dia é ou quanto tempo faz desde que fui sequestrada na escola. Não importa. A única coisa que importa é fugir. Demora um tempo para o meu cérebro estar completamente acordado. Eu não entrarei em pânico. Essa é a primeira regra. Respiro fundo e tento me lembrar o resto das regras. Elas são de um livro que eu li da Dra. Ida Kurshner. É parte autobiografia e parte ‘como fazer’. O livro detalhava o sequestro e a fuga subsequente que experimentara quando jovem nas mãos de um encanador que veio à sua casa para trabalhar um dia e decidiu levá-la com ele quando saiu. No final do livro, ela listou O QUE FAZER no caso de quem está lendo se encontrar alguma vez prisioneiro. Lembro-me da lista da Dra. Ida. #1) Evite ser capturado gritando e lutando. Tarde demais, senhora.

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#2) Mantenha sua compostura e dignidade. Não implore ou se torne histérico. Não chore, se possível. Sorria e ofereça elogios sem parecer manipulador. Eu acho que foi a mesma doutora que escreveu todos esses manuais de dona de casa dos anos 50. Enrole seu cabelo e passe batom antes do seu marido chegar em casa. Não o amole falando o quão mal as crianças se comportaram durante o dia. Sorria com frequência e assegure-se de que o jantar dele esteja quente e pronto. Você poderia acabar com qualquer conflito se ele achar que está fazendo um bom trabalho. Não. #3) Não desafie seu captor... Mostre a ele respeito. Sob o meu fodido cadáver, Dr. Ida. #4) Não os envolva em qualquer conversa que possa ser perturbadora para eles. Ei, Sr. Captor! Como está a família? Viu o jogo domingo? Você pode acreditar nesse tempo doido? Que tal você me soltar e nos encontrarmos em um jogo na próxima semana? Parece bom? Ok, vejo você lá! #5) Conecte-se com seu captor em um nível pessoal. Compartilhe histórias pessoais. Faça com que ele sinta que vocês têm coisas em comum. Melhor ainda, faça com que ele se preocupe com você se relacionando com ele. Ei, você gosta de matar e sequestrar? OH.MEU.DEUS, eu também! #6) Sedução. O número seis é como a Dra. Ida finalmente escapou. Ela convenceu o seu captor de que o desejava tanto quanto ele a desejava. Ela o seduziu e eles se envolveram no que ela chamou de ‘relacionamento sexual consensual não consensual’. Ao longo de alguns meses, ela ganhou confiança suficiente para que ele a deixasse sair no quintal de vez em quando, e eventualmente, ela escalou uma cerca e correu para uma casa vizinha para conseguir ajuda. O problema é que a Dra. Ida estava lidando com um homem com um colapso psicótico. Estou lidando com um homem que é realmente psicótico. ~ 56 ~


Eu vou ter que improvisar na lista, mas vou tentar. Eu devo tentar. Farei qualquer coisa para compensar os pecados do meu pai. Eu orarei a todos os deuses. Eu vou afundar para o mais baixo dos mínimos, porque vou terminar o meu trabalho, mesmo que seja com uma arma na minha cabeça e uma bala no meu cérebro depois. De uma forma ou de outra, eu serei livre.

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Capítulo Doze FRANKIE

Achar que você vai morrer em um minuto e viver no próximo é absolutamente exaustivo. Estou emocional e mentalmente drenada quando ouço as portas se abrirem, e sou puxada do veículo. A venda é puxada. A luz brilhante está criando um halo na minha visão. Uma vez que meus olhos se focam, posso ver que o veículo em que eu estava viajando é uma van preta sem marca. Não é do tipo familiar, mais do que os encanadores ou eletricistas usam. Estou de pé, mas minhas pernas estão bambas e meus pés ainda estão amarrados nos tornozelos. Eu tropeço, mas não caio, sustentada pela grande e quente palma do meu captor. Smoke agarra o meu bíceps com uma mão e se abaixa para cortar minhas amarras com a outra. — Você é rude com todos que você sequestra? — eu ladro. Eu percebo que não é uma boa insultá-lo. A Dra. Ida da minha imaginação está batendo uma régua contra minhas palmas. — Desculpe, estou desacostumado a lidar com os vivos. A maioria das pessoas que encontro param de respirar depois de alguns segundos. Vou tentar ser mais gentil na próxima vez. — diz ele. Ele está sendo sarcástico, mas é a verdade em suas palavras que me atingem no intestino. Ele geralmente não sequestra pessoas. Ele as mata. Não há cuidados posteriores envolvidos na morte. Estamos no meio de um campo em frente a um grande edifício em forma de U com janelas quebradas que parece ser uma escola abandonada. O mato, as videiras e os grafites ocupam a maior parte do exterior de tijolos queimados. A cerca de metal em ruínas que circunda o perímetro está com partes faltando, e suponho que estão em algum lugar sob a vegetação grossa que cresce entre as correntes da cerca. As partes que ainda estão de pé têm uma aparência de fio de metal no topo. Arame farpado. Não é uma escola. ~ 58 ~


É uma prisão. Ou pelo menos era. Não há sinal de vida. Nenhum som, exceto o triturar da vegetação sob nossos pés, enquanto Smoke me conduz em uma moita grossa com pelo menos um metro de altura. Fico presa várias vezes. Meu pé afundando no fundo das videiras emaranhadas e me segurando até que Smoke as corta com uma longa e serrada faca do seu cinto, me levando para dentro do prédio. Nós entramos através de um buraco do tamanho de um carro no lado do edifício. Escalamos uma pilha íngreme de tijolos quebrados para entrar. Eu tropeço, meu pé escorregando nos tijolos várias vezes até que Smoke me pega com facilidade, me colocando de volta em pé do outro lado da pilha. Ele cutuca meus ombros, e ando lentamente para a prisão, seus passos pesados seguem logo atrás, ecoando nas paredes como se houvesse mais de um dele atrás de mim. Nós nos movemos mais para dentro do bloco de celas por um largo salão. O prédio tem dois andares. Uma fileira de celas em cima da outra. Uma escada corroída está no meio da grande sala. O pó marrom se apega aos dutos de ar que correm ao longo do teto. Ferrugem espreita através das dúzias de camadas de pintura verde descascando das paredes. O grafite está em toda parte, mesmo no alto, acima das celas, onde me pergunto como o artista chegou até lá. Janelas quebradas deixam entrar uma brisa ocasional que não pode ser sentida no calor estagnado lá fora. Um pedaço de papel rasgado flutua no chão na nossa frente como uma bola de sujeira. O ar quente atinge minha pele suada. Eu tremo, o calor não fazendo nada para impedir o frio de esfaquear minha pele até meus ossos como uma picada de gelo. Meu maxilar inferior vibra. Meus dentes rangem tão alto que o som ecoa em meu cérebro. Para fazê-los parar eu aperto meu maxilar tanto que tenho certeza que meus dentes estão prestes a quebrar. Cheira a morte. Meu estômago embrulha. A decadência engrossa o ar e dificulta a respiração. É mais do que apenas um cheiro. É um sentimento. Um sentimento que receio nunca poder me livrar das minhas narinas ou dos meus pensamentos. Ele me ~ 59 ~


pega, me cobre, me prende como se eu precisasse de um lembrete de que, como os muitos que estiveram aqui antes, sou uma prisioneira. Pedaços de papel e roupas estão espalhados sobre o chão de concreto rachado. Colchões sujos e finos estão em todo lugar, exceto nas estruturas de cama de ferro, as soldas grossas nas juntas de reparos múltiplos. Alguns dos colchões estão encostados no fundo da escada. Alguns estão empilhados no meio do corredor. Alguns apenas se detinham em vários ângulos com buracos expondo suas molas como cadáveres deixados no ponto em que morreram. Há mais grafite aqui do que no exterior do prédio. Pintada no chão está uma grande estrela satânica vermelha. Fecho bem os olhos quando atravesso. Quando tenho certeza de que estou pronta, abro meus olhos novamente e olho para onde uma porta inteira de uma cela parece estar manchada de sangue. Uma grande ondulação cobre o lado direito, transformando-se em marcas de gotejamento mais finas e mais finas, mais abaixo da parede antes de se transformar em uma mancha negra no concreto. Bile sobe na minha garganta. Posso ver a violência do passado ao meu redor. Vibra no ar como fantasmas me cercando, tornando conhecida sua presença. Eles sussurram no meu ouvido, deslizando pela minha pele irritada. A brisa se transforma de quente a fria quando o sol se põe e a prisão brilha com um azul profundo à medida que a lua se ilumina. Posso ouvir os gritos do passado. Batendo contra as barras. Um último grito de quem conheceu seu desafortunado final naquela cela manchada de sangue. — Não tenho medo. — digo em voz alta. Não tenho certeza se estou falando com Smoke ou comigo mesma. Mas nem eu acredito nas minhas próprias palavras. Smoke ri, guiando-me numa célula e desliza as barras de metal com um estrondo, criando um eco sem fim. Ele utiliza uma chave antiga e fecha a cela com um clique. Isso faz meu coração pular no meu peito. O sol está quase completamente se pondo agora e a luz através das janelas é fraca, na melhor das hipóteses. — Sem luzes? — pergunto. ~ 60 ~


No segundo em que as palavras deixam meus lábios, sei que é uma pergunta estúpida. O lugar mal tem paredes firmes. Claro que não tem eletricidade. — Não me diga que você tem medo do escuro. — diz Smoke, enfiando a chave no bolso traseiro. — Não. — eu minto. — Eu não tenho medo de nada. Nem mesmo de você. O canto de seu lábio se transforma em um malvado, meio sorriso. Ele se inclina para frente com as mãos nas barras logo acima de sua cabeça. Ele me olha de cima a baixo. Os olhos dele se alargam. Ele parece com fome. Bravo. Selvagem. — Oh, diabinha. Eu duvido muito disso. Dou um passo para trás para ganhar mais distância, embora existam barras que nos separam. — Eu vi medo um milhão de vezes de mil maneiras diferentes. — diz Smoke. Ele puxa a chave mais uma vez e a gira na fechadura. Ele está dentro da cela agora. Eu estou recuando e recuando até que estou presa na parede mais distante. Smoke se aproxima e se inclina. Ele está tão perto que o nariz quase está tocando o lugar entre meu pescoço e meu ouvido. — Você não precisa me dizer que não tem medo. Conheço o medo quando eu vejo. Estou tremendo quando ele fecha os olhos e inala profundamente, a ponta do nariz corre em minha pele. — Porra, eu posso cheirar em você, garota. — Não me chame de garota. — eu digo entre dentes. Seus olhos escurecem com fúria. — Vou te chamar do que eu quiser chamar você. — Meu nome é Frankie. — eu digo com um súbito aumento de confiança.

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Ele está tão perto agora, seu peito pressionado contra o meu. — Eu sei o seu nome. Eu simplesmente não me importo. Ainda estamos presos, nem um de nós querendo fazer o primeiro movimento. Smoke vai primeiro. — Seus olhos realmente são essa cor. — ele sussurra. Estou surpresa. — O que vai acontecer comigo? — pergunto, num sussurro instável. Smoke coloca as mãos na parede ao lado da minha cabeça, me engolindo. Eu estou cara a cara com ele. — A porra do que eu quiser. — ele rosnou. — Vá se foder! — eu cuspo. Ele ri, e eu posso sentir isso no meu peito. Seus lábios deslizam contra meu maxilar. — Somente se você implorar.

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Capítulo Treze FRANKIE

Estou sozinha. Smoke se foi. Ele me deixou um colchão e algumas garrafas de água. A cela não tem nenhum banheiro, mas uma pequena pia de metal sem água corrente. Uma vez que é a única drenagem no lugar, eu a uso para aliviar minha bexiga cheia e me deitar enquanto a escuridão me cobre. Está congelando. Estou acordada, mas não tenho certeza se dormi ou não. Não me lembro de sonhar, mas também não me lembro de adormecer. Há quanto tempo estive aqui? Minutos? Horas? Dias? Tempo suficiente para me fazer entender como os presos em solitária ficam loucos. Sentada sozinha nesta cela é como andar nos trilhos do trem no escuro quando você sabe que um trem está vindo a qualquer momento. Minha pele se arrepia com ansiedade. Com o desconhecido. Quando? Quando? Quando? Meu estômago ronca com fome, mas é a minha menor preocupação. A cada poucos segundos, um ruído de assobios começa como vento soprando através de um cano. Começa baixo e fica cada vez mais alto até parecer que o teto acima de mim poderia explodir. Para completamente por alguns momentos antes de começar tudo de novo. Conto a sequência desses assobios para manter meu cérebro ocupado. Um. Dois. Três. É quando estou no quatro que o assovio para e outro tipo de barulho pode ser ouvido. Um que não vem de cano nenhum. Está vindo de baixo. Eu finjo que não é nada até ouvir passos na escada de metal. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço se arrepiam. Minhas palmas começam a suar. ~ 63 ~


Ele voltou. Eu me sento e puxo meus joelhos para o peito. Uma barreira que pode ser facilmente violada. As nuvens se deslocam pela grande janela na parede distante, revelando uma meia lua que traz luz suficiente para me lembrar que posso ver. Um fluxo amarelo instável de uma lanterna salta das paredes da minha cela e me atinge nos olhos, me cegando momentaneamente. Uma chave gira na fechadura e ouço o barulho da porta ao se abrir. Segurando um grito, agarro o colchão com força. Os meus olhos se estendem quando encaro a escuridão. A sombra que está acima de mim é grande, mas não tão grande quanto Smoke. Quando as nuvens se vão e permitem que o resto da luz da lua inunde a cela e revele mais do estranho na minha frente. Este homem é muito menor, mais magro e mais sujo do que Smoke. Ele tira o palito de dentes que está mastigando e sorri, revelando um dente da frente perdido. — Olá, querida. Eu sou Wes. — ele diz com um sorriso torto. — Smoke enviou você? — pergunto, hesitante. O homem sacode a cabeça lentamente de um lado para o outro, e por uma fração de segundo, acho que estou salva. Salva é a última coisa que estou agora. Seus olhos atravessam meu corpo como se eu não usasse nada. Os cabelos na parte de trás do meu pescoço se arrepiam. Ele se senta na cama ao meu lado. Eu imediatamente pulo e corro para a porta agora aberta. Ele se estica e agarra meu braço, me puxando de volta para baixo no colchão. — Oh, não, você não vai. Acabamos de nos conhecer. Vamos conhecer um ao outro por um tempo. — o homem sorri, e eu balanço minha cabeça. — Não, me solte.

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— Por que você tem que ser tão grosseira? Eu só quero que sejamos amigos. — Wes me lembra uma cobra rodeando um roedor antes de tirar a vida de seu corpo. Ele também parece uma cobra. De cabeça lisa. Redondo, olhos pequenos e largos, e uma língua afiada que também poderia ser bifurcada. Esse homem não está aqui para me salvar. Um pensamento surpreendente cruza minha mente. Parece idiota, até mesmo para mim. Espero que Smoke volte logo. — Smoke está te tratando bem? — pergunta o homem, sugando o lábio inferior e me arrastando mais perto no colchão. Ele tem meu pulso no controle dele e tanto quanto eu tento, estou muito machucada e dolorida para lutar contra ele. — Eu fui enviado para verificar as coisas e pelo que vejo, as coisas parecem muito boas. Tudo em mim está gritando para lutar, mas não tenho nada para lutar com ele. Estou fraca. Tão fraca. Ele se espalma através de seus jeans e meu estômago embrulha. Se já não estivesse vazio, estaria agora. — Pense em mim como sua babá secundária. — ele assobia, colocando suas mãos frias nos meus tornozelos. Ele abre minhas pernas e eu viro, tentando rastejar para longe. — Briguenta. Eu gosto das briguentas. Eu grito o mais alto que posso até que meus próprios ouvidos doem pelo som. — Smoke não está aqui, querida. É só você e eu. — eu sinto o seu joelho no colchão. — Aqui, agora. Parece que você teve um dia difícil, deixe-me melhorar. Seu aperto em torno do meu tornozelo fica mais forte. Ele usa seus joelhos para manter minhas pernas dolorosamente abertas. Meus soluços são silenciosos porque minha voz se foi. — Deixe-me ver essa boceta bonita e rosa. — ele geme, puxando a cintura do meu jeans. — Meu pau quer provar. Ele me vira e, independentemente do meu estômago vazio, sei que vou vomitar. Não há como parar. Eu tento impedi-lo, mas enquanto ele alcança seu cinto e desabotoa suas calças, sei que é só uma questão de segundos antes de irromper da minha garganta. ~ 65 ~


Ele consegue puxar meus jeans para baixo e depois chega à sua fivela. Ele solta seu pequeno pau e bombeia algumas vezes. Geme enquanto mantém seus olhos fixos no espaço entre minhas pernas. Lentamente, levanto meu joelho e espero alguns segundos agonizantes para o momento perfeito. Quando ele lambe seus lábios e alcança minha calcinha, eu endireito minha perna, chutando meu calcanhar em sua virilha. Ele uiva com dor e eu corro, mas estou fraca e lenta. Em segundos, ele está em mim, me prendendo no chão. — Eu ia ser bonzinho com você. — ele cospe, seus olhos estão pulando de sua minúscula cabeça. — Sua estúpida! Ele me bate em meu maxilar já ferido, e vejo estrelas. Wes cobre minha boca com a mão e não aguento mais. Viro contra a palma da mão, mas ele mantém a mão pressionada firmemente sobre minha boca. Meu estômago continua empurrando tudo para cima. Estou sufocando minha própria bile; meus olhos lacrimejam. Tudo está embaçado. Não consigo respirar. Não consigo ver. — Agora. — ele se inclina, sua respiração pútrida no meu rosto. Ele pressiona uma arma em minha testa. Ele fala através dos dentes, pulverizando seu cuspe no meu rosto. — Eu vou fazer você sentir toda a dor. Estou tão tonta. A sala está girando. O concreto ensanguentado e enferrujado encontra seu caminho dentro e fora da minha visão uma e outra vez. Wes está rasgando minhas roupas. Minha camisa está aberta. Mesmo com a arma na minha cabeça, estou lutando e lutando contra ele, mas não me sinto me movendo. Isto é o que significa estar fora de combate. Eu achei que teria mais sete dias. Eu estava errada. Uma explosão surge através da cela. É tão alta que substitui temporariamente qualquer outro som. Tudo o que ouço é um barulho agudo nos meus ouvidos. O peso de Wes deixa meu corpo, sua arma se afasta da minha cabeça. Ele desaparece em uma névoa de vermelho e rosa, caindo sem vida contra a estrutura da cama de ferro. Sua boca está aberta, assim como seus olhos, mas ele não vê nada.

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Wes está morto. Tento recuperar o fôlego, mas não consigo sair do chão. Eu observo imóvel enquanto o sangue de Wes se infiltra no colchão amarelado, manchando-o de um vermelho escuro. Smoke se aproxima dele, a arma na mão. Ele se agacha e sorri. — Que tal, filho da puta?

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Capítulo Quatorze FRANKIE

A sombra de Smoke no luar cobre cada centímetro do meu corpo e bloqueia a luz da janela. Eu levanto novamente, mas não há nada no meu estômago. E nada resta da minha esperança. Há um limite do que a pessoa consegue aguentar, e temo que eu esteja chegando ao ponto de não retornar. Limpo minha boca com a parte de trás da minha mão. — Você... Você o matou. — eu sussurro. — Ele interferiu. — responde Smoke. — Ninguém interfere. — ele acende um cigarro e traga, soprando anéis de fumaça na cela. Eu sinto a arma caída de Wes. Está ao meu alcance. Eu tenho uma ideia. É uma estúpida e imprudente, mas é tudo o que tenho. Dica da Dra. Ida: Se você vê uma oportunidade de escapar, agarrea. Eu finjo levantar novamente e esticar meus dedos, conectando-me com a arma. Minha boca está a poucos centímetros do pedaço do crânio de Wes. Meus dedos escovaram pedaços macios de seu cérebro, e se meu estômago já não estivesse vazio, realmente ficaria de novo. Eu posso sentir o cheiro do cobre em seu sangue e sentir o calor escapar do crânio recém-aberto do cadáver. Meus dedos encontram a arma. Passo minha mão ao redor e coloco o dedo no gatilho. Smoke está de pé atrás de mim, eu posso sentir seus olhos nas minhas costas. Eu me sento lentamente em meus joelhos apenas para me encontrar com o cano de sua arma na parte de trás da minha cabeça. — Você vai me matar, diabinha? — pergunta Smoke, soando divertido.

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Que bom que meu tormento e agonia sejam tão divertidos para ele. Não vejo como posso salvar ninguém agora. Sinto toda a esperança escorrer do meu corpo, da minha alma, como se alguém tivesse puxado a tampa do ralo. Eu tomo uma decisão. Uma decisão revoltante e estúpida. Uma que não estarei por perto para me arrepender. — Não, não vou matar você. — eu digo, mudando a arma de posição. Giro lentamente para que ele possa ter certeza de que não estou apontado para ele. Está na minha boca.

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Capítulo Quinze SMOKE

Vadia impaciente. Esta garota preferiria se matar a esperar que alguém fizesse isso. Tenho certeza de que o idiota com o cérebro espalhado pela cela é um dos homens de Griff. Ele está me checando e não tolerarei esse tipo de besteira. Eu disse a Griff que eu traria Frankie em uma semana e eu vou cumprir a minha palavra. Eu também vou levar a cabeça do filho da puta em uma caixa. Mas primeiro eu tenho que lidar com o problema em questão. Eu acho seguro dizer que o tédio não é mais um problema. Não mais. Não quando diz respeito a Frankie Helburn e não desde que eu vi o corpo dela no quarto do motel. E que maldito corpo. Mesmo arranhado e com cortes, talvez até por causa disso, eu estava repensando meus planos para ela. Uma semana não é suficientemente longa quando penso em quanto prazer poderia ter de me vingar no corpo da única filha de Frank Helburn. Eu poderia machucá-la. Seu corpo. A mente dela. Eu poderia destruí-la e devolver-lhe uma porra de uma casca vazia, apenas capaz de contar as histórias do que eu fiz com ela uma e outra vez. Eu poderia arruinar esse corpo bonito dela de todas as maneiras possíveis. Frank Helburn receberia a mensagem em alto e bom tom. Foda comigo e sofra as consequências. Mas meus planos de vingança estão arruinados assim como meu acordo com Griff se a cadela estiver morta. Eu me inclino contra a parede com uma perna levantada, minha bota plana contra ela como se ela estivesse prestes a me cantar uma canção em vez de ameaçar explodir seus miolos. Não importa o que, não ~ 70 ~


posso deixá-la puxar o gatilho. Isso irá destruir todos os meus planos e não falharei. Não por isso. Tanto quanto me dói depender de alguma coisa ou outra pessoa, preciso dessa cadela louca. Eu tento parecer tão calmo quanto posso, mas meu sangue está fervendo. Estou com raiva e irritado. Ela poderia arruinar tudo com um puxão do gatilho. — Você vai deixar esse saco de merda ser o motivo do fim? Ela fecha os olhos, e eu vejo, por sinal, que a mão que segura a arma está tremendo, pois ela está tentando criar coragem para puxar o gatilho. — Eu vou dar a você o crédito. Você é criativa, mas nesta situação, o suicídio é o caminho covarde. Eu não achei que você era uma covarde. — eu digo a ela. Essa parte é verdadeira. Ela não é a menina tímida e calma que eu pensei que era enquanto a observava. Ela é mais forte do que pensava. Provocadora. Selvagem. Sem mencionar, pirada. Frankie respira pesado. Sua camiseta está rasgada pelo meio expondo seu estômago tenso. Sua cintura é pequena e plana e da maneira como ela está respirando tão errática, posso distinguir as sombras de seu abdômen sob sua pele ferida. Suas coxas e panturrilhas são bem torneadas. Nunca a vi treinar durante todo o tempo que a observei, mas não há dúvida de que a garota faz mais trabalho físico do que apenas andar para a escola todos os dias. Seu corpo em forma não é a única coisa que me chama atenção. Bem, além de sua completa falta de autopreservação. São os olhos dela. Originalmente, eu pensei que a cor dos olhos eram apenas outra distorção daquela imagem granulada no meu telefone, mas descobri que era a única coisa precisa sobre essa imagem. Amarelo-ouro brilhante com manchas de laranja. Nunca vi nada parecido. Ela tem fodidas chamas nos olhos dela. Apropriado. — Se você quiser ir pelo caminho covarde, vá em frente. Puxe o fodido gatilho. Eu não vou parar você. — eu faço um grande movimento de varredura com o meu braço. ~ 71 ~


Ela abre os olhos e lentamente remove a arma da boca apenas para colocá-la contra a testa. Minha arma ainda está na minha mão, mas só no caso de ela decidir mover a mão dela. — Como essa é a saída covarde? — ela pergunta. Suas pupilas se dilatam. Seu lábio inferior está ferido e inchado, um pouco de sangue seco no canto. Eu quero morder a ferida e pegar o sangue fresco na minha língua antes que derrame em seu queixo. — Eu poderia morrer quando e como eu quiser. Não há outra saída pelo que vejo. Se houvesse, eu a tomaria. Mas, pelo menos, esta será a minha escolha. Não sua! Nem do meu pai. Nem dele! — seus olhos vão para o cadáver no chão. Ela abaixa a voz e endireita os ombros. Há uma determinação em suas palavras que me faz pensar que estou perdendo essa batalha. E eu não perco. — É aí que você está enganada. É assim que você quer ir? É QUANDO você quer ir? Puxar esse gatilho vai fazer você encontrar descanso, com certeza, mas você está mentindo para si mesma, se acha que fazer isso dessa maneira é morrer em seus próprios termos. É uma saída covarde. — eu lembro a ela. — Então eu sou uma covarde. — ela diz, fechando os olhos novamente e respirando fundo. Merda. Algo dentro de mim clica. Eu não quero ver essa garota explodir a cabeça dela. Não quero ver o fogo em seus olhos morrer. Que maldito desperdício. Eu penso comigo mesmo. Não consigo me alegrar em me vingar de Frank se sua filha é quem puxa o gatilho. Os lábios de Frankie estão se movendo silenciosamente. Ela está contando para si mesma. Porra. Um. Dois.

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Eu estou em cima dela assim quando aperta o gatilho. A arma dispara, a bala passa por ela e me acerta no ombro. Eu pego a arma, e eu jogo de volta ao chão, seus pulsos presos acima de sua cabeça. Seu olhar é seu próprio tipo de bala, atirando ódio através de mim. — Enfrente o seu fodido fim como gente. — eu digo, arrancando a arma das mãos e colocando-a na cintura do jeans. Estou furioso por causa de uma garota que não conheço e que queria matar a si mesma. Minha confusão é tão irritante quanto a menina lutando contra mim. — Eu deveria ter simplesmente te matado! — ela range, tentando libertar as mãos do meu controle. De uma forma realmente fodida, estou começando a admirar essa garota. Ela tem bolas maiores do que muitos homens com quem lidei neste negócio. Sua rebelião inabalável desperta algo em meu interior. Algo desconhecido. Eu penso nisso com irritação porque puta que pariu, ela me irrita. Ela está chutando e socando. Seguro-a firme. Eu me inclino para baixo. — Sim, você deveria ter me matado, diabinha. Teria sido a coisa inteligente a fazer. Mas eu vou admitir, é meio que fofo como você acha que pode acabar comigo com facilidade. Tente algo assim novamente e farei com que você deseje que a bala tivesse atingido o fodido alvo. — eu exibo minha lâmina e corro a ponta afiada em sua clavícula, cortando as primeiras camadas de pele para mostrar quão sério eu estou falando. Ela estremece, mas depois se corrige e olha para mim com firmeza, como se não pudesse sentir a pitada de dor ou o arranhão da lâmina seguido pelas gotas de sangue escorrendo pelo peito, manchando o sutiã. — Lá está ela. — eu digo. Meu pau estremece. Levanto a lâmina e seguro-a entre as pernas dela, pressionando o lado plano em cima de sua buceta através da calcinha. — Eu vou cortar você de dentro para fora. Sua morte não será bonita. Eu mantenho o controle aqui. Você não. Você seria sábia em não me testar. Os olhos dela se alargam, sua respiração curta, rápida. — Por quê? — ela pergunta, os olhos arregalados e determinados. — Por que você está fazendo isso? Tudo isso? ~ 73 ~


Eu sorrio porque não consigo me conter. Ela está testando minha paciência e minha restrição. — Porque eu peguei você, diabinha. Você é toda minha. Só eu posso dizer se você vive ou morre. — Você é um monstro. — ela sussurra em um choque exausto. Você não faz ideia. Eu retiro a lâmina e a afasto. Escovo um pedaço de cabelo escuro de seus olhos, colocando-o atrás da orelha, meus dedos pairando na delicada curva de seu pescoço machucado e cortado. — Você está certa. — eu sussurro. — Eu sou um monstro. — grosseiramente pego seu queixo, forçando-a a me olhar nos olhos. — Eu sou seu monstro.

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Capítulo Dezesseis FRANKIE

Eu acordo de um sono sem sonhos e mesmo que esteja toda machucada, sou grata por estar viva. Não sei o que estava pensando tentando me matar. Na verdade, eu sei. Me senti assustada e desesperada e me vi em um beco sem saída. Isso não é quem eu sou. Não vou cometer o erro novamente. Eu vou pensar como um momento de fraqueza e concentrar-me em fugir. Eu olho em volta e percebo que não estou mais na cela. Estou em uma cama. Uma grande. É macia e os lençóis e cobertores são simples, mas estão limpos. Eu também estou completamente nua. Porra. Eu me sento lentamente, puxando os cobertores comigo para me cobrir. A dor não me atinge como um martelo, embora eu ainda esteja muito dolorida. Smoke aparece na entrada, nu da cintura para cima. Seu peito é amplo assim como seus ombros. Seu abdômen flexiona debaixo das tatuagens coloridas que cobrem quase todos os centímetros de sua pele. Ele passa por mim, atravessando a sala, e abre uma porta no canto distante. Ele desaparece lá dentro, e eu ouço a água correr. Ele volta e arranca os lençóis do meu corpo. Estou nua, e seu olhar está vagueando pelo meu corpo. Eu posso sentir seu olhar em mim. Seus olhos ficam mais escuros. — Não! — eu grito, empurrando-o para longe enquanto ele me agarra pela cintura. Eu me ajoelho e tento me soltar de seu aperto. — Você quer um banho ou não? — ele pergunta. Eu paro e me volto para ele, cobrindo meu peito. Eu busco seu rosto por qualquer vestígio que isso pode ser uma piada, mas não encontro um.

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Eu aceno com a cabeça porque não há nada no mundo que pareça melhor aos meus músculos doloridos do que um banho. Ele me levanta novamente em seus braços fortes como se eu não pesasse nada, eu respiro profundamente pelo nariz e tento acalmar o impulso de empurrar seu peito e correr. Smoke é muito maior do que eu, mas não percebo o quanto até que eu esteja encaixada em seus braços. Ele é enorme. Mais alto do que eu uns trinta centímetros e me superando por pelo menos 45 quilos. Ele me leva ao banheiro enquanto tento me manter coberta o melhor que posso com minhas mãos sobre o meu peito e minhas pernas cruzadas em minhas coxas. Ele me coloca de pé ao lado da banheira, mas estou mais fraca do que pensava. Minhas pernas tremem. Eu tropeço. Smoke me pega. Seu braço aparece em volta da minha cintura. Ele mergulha a mão na água para verificar a temperatura. — Estou surpresa de ver você verificando a temperatura. Imagine que alegria poderia ser me jogar em água quente escaldante. — Não me tente, diabinha. Olho em volta no azulejo branco e janela alta. — Onde estamos? — pergunto. A última coisa que lembro é a cela da prisão. — Nós ainda estamos no mesmo lugar. — diz ele. — Esta é a casa do diretor. Ou pelo menos deveria ser. Eu descobri que posso ficar melhor de olho em você aqui. O banheiro pequeno não se parece nada com a prisão abandonada. Não há grafite ou pintura descascada. Tudo nele tem pelo menos vinte anos, mas não parece estar abandonado. O azulejo branco que reveste a metade inferior das paredes e que cobre o chão está limpo e a banheira com pé de garra, embora enferrujada no ralo, está intacta. Smoke, aparentemente satisfeito com a temperatura da água, me levanta novamente. Me preparo para me encolher pelo contato contra a minha pele machucada, mas ele é surpreendentemente gentil enquanto me coloca na banheira. Por que diabos ele está se importando?

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Ele tem sido um bruto. Rude. Agora ele está, de repente, todo cuidadoso? Eu acho que gostei melhor da agressão. Pelo menos, não era confuso. Eu silvo através dos meus dentes enquanto afundo na água quente quando entra em contato com minhas feridas. É apenas uma dor temporária. Depois de alguns minutos, meus músculos começam a relaxar. Eu gemo em voz alta. Estou tão longe, perdida na maravilhosa sensação, que largo minhas mãos do meu peito e quase esqueço que não estou sozinha até que Smoke fala. Ele está olhando para a água. — Aquele cara na cela, ele... eu cheguei tar...? — Não! — eu o corto, repetindo minha resposta. — Não. — Ótimo. — ele diz com um rápido aceno de cabeça. Seus lábios se transformaram em um grunhido como se ele estivesse lembrando o que aconteceu. — Por que você se importa? — pergunto. Smoke se agacha ao lado da banheira. — Porque você pertence a mim. Seu medo, sua raiva, sua fúria, seu maldito desafio. Tudo isso pertence a mim. E ninguém fode o que é meu a não ser EU. Eu suspiro, suas palavras torcendo meu interior em uma bagunça que pode rivalizar com as videiras emaranhadas do pátio da prisão. ELE, não Griff, o homem pelo qual supostamente trabalhava, o homem do qual meu pai roubou. A sobrancelha dele, aquela com uma cicatriz, se contorce. Ele olha para a água. Há mais nesta situação do que ele está falando. Muito mais. Lembro-me da minha nudez e cubro meu corpo para me proteger de seu olhar. Ele ri. — Quem você acha que te despiu? Odeio te dizer diabinha, mas já vi tudo. Cada centímetro de sua carne ferida e cortada. Ele pode estar certo, mas eu me recuso a descobrir meu corpo. Ele pode dizer que é meu dono, mas é uma mentira. Eu sou dona de mim. Ninguém mais. ~ 77 ~


Eu fecho meus olhos como se para bloqueá-lo de todas as maneiras que sou capaz, mas eles abrem novamente quando sinto uma picada no meu lábio. — Ái! Smoke está segurando uma bola de algodão no canto da minha boca, um kit médico aberto no lado da banheira, uma garrafa de álcool aberta no chão. Ele está limpando meus cortes. Estou a ponto de perguntar a ele por que, mas sufoco as palavras. Não consigo pensar em um único resultado positivo que venha dessa questão, então pergunto a ele outra coisa. — Quem era aquele cara? Aquele na cela? — pergunto. — Um babaca enviado para me verificar por um babaca ainda maior. — ele chia. — Ele não trabalha para você? — pergunto. Smoke balança a cabeça. — Não. Eu trabalho sozinho. Pelo menos, agora. — posso ver o arrependimento em seu rosto no segundo em que as palavras são faladas. Lembro-me das regras da Dra. Ida. Se relacione com seu captor. — Eu também sou melhor sozinha. — eu digo. Smoke ergue uma sobrancelha e move a bola de algodão para meu ombro. É quando percebo a gaze cobrindo o topo do seu ombro direito e a mancha de sangue embaixo da bala que eu pretendia disparar na minha cabeça. Smoke para e vira a cabeça para o lado. Há uma pergunta não dita que continua em seus lábios. — O quê? — pergunto. — Você acha que é tão diferente de todos os outros no mundo? Você não é. Há muitas pessoas lá fora, como você. Inferno, eu sou ainda mais parecida com você do que pensa. — Isso não é possível. — murmura Smoke, fechando o kit. Esta é a primeira vez que estou tentando me relacionar com ele de uma forma sem pânico, então tomo um momento e escolho minhas palavras com sabedoria. — Bem, você é um lobo solitário. Assim como eu. Governado por nada e ninguém, exceto por seu próprio conjunto de regras e moral, e acredite ou não, é assim como eu. — eu queria mentir

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para ele, mas as palavras que eu falei são a verdade. Estou sozinho neste mundo e ele também. — Você acha que isso importa? — pergunta Smoke. — Sim. Eu acho que sim. — eu argumento, então, decidindo esticar um pouco a verdade. — Nós dois usamos o que temos para fazer os outros fazerem o que nós queremos. Eu uso meus olhares para que o cara da mercearia faça entregas prometendo a ele coisas com as quais nunca vou fazer. Eu peço os vizinhos para consertar a dobradiça da porta ou religar o fogão, oferecendo sugestões de uma amizade que não sou capaz de dar. Você faz o mesmo, exceto que usa sua intimidação para conseguir o que deseja. É a sua própria marca de manipulação. Então você enxerga isso? Podemos ter nossas diferenças, mas há muito entre nós que é o mesmo. E tenho a sensação de que você é tão solitário quanto eu. — Talvez. — ele diz calmamente. Fico surpresa com a concordância. Atordoada. Isso pode realmente funcionar. Smoke lava meu corpo com uma toalha de banho. Ele é gentil e cuidadoso. Seu rosto se torce em concentração enquanto ele manobra no pior machucado no meu braço. Este homem é muito mais complicado do que eu pensava inicialmente. Ele lava entre minhas pernas, nunca tirando os olhos dos meus. Ele move a toalha para cima, arrastando-a levemente sobre os meus mamilos, continuando no corte abaixo da clavícula, onde ele olha fixamente com uma expressão de respeito. MUITO mais complicado. Smoke pisca rapidamente, deixando o pano na banheira. Com uma pequena taça de plástico, ele enxagua meu cabelo, com cuidado para não jogar água nos meus olhos. — Há uma grande diferença entre nós que você está se esquecendo. A mais importante. — E o que poderia ser isso? — pergunto, enquanto Smoke me ajuda a ficar de pé e envolve uma toalha em volta dos meus ombros. Algo frio e duro se aproxima da base da minha coluna vertebral e ossos até que todo o meu corpo esteja tenso. ~ 79 ~


Os låbios de Smoke se movem contra a ponta da minha orelha, sua voz me atravessa como um trovão. — Eu tenho as balas para puxar o gatilho.

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Capítulo Dezessete SMOKE

Frankie é uma atriz de merda. Ela é pior do que Rage, porque até Rage foi convincente, pelo menos durante os primeiros vinte minutos antes de você perceber que há algo muito errado sobre a loira com a palavra assassina escrita em seus olhos azuis. Mas Rage era Meryl fodida Streep em comparação com a lamentável performance de Frankie. Eu atiro a ela uma das minhas grandes camisetas pretas. Vai ficar enorme, mas estou exausto e não tenho vontade de procurar nas caixas de armazenamento na outra sala para ver que outras roupas podem estar lá. Frankie tenta colocar, mas geme quando levanta os braços acima de sua cabeça. Eu ando até ela e puxo a camisa, ajudando-a a puxar os braços e depois voltar para a cama. Eu começo a puxar um conjunto de algemas para amarrá-la novamente na cama. — Não! Por favor. Não! — ela implora, segurando o já ferido e cortado pulso. É a primeira vez que eu realmente ouço-a implorar. Isso desperta algo dentro de mim, fazendo meu pau saltar em atenção. Estou muito cansado para fazer qualquer coisa sobre isso. Haverá tempo para toda essa merda amanhã. Eu seguro as algemas em volta dos meus pulsos. Eu tiro meu jeans e praticamente sinto seu pânico enquanto entro ao lado dela. Eu puxo suas costas contra meu peito, embrulhando meus braços ao redor de seu corpo minúsculo, descansando minhas mãos em seu estômago plano. Ela cheira a shampoo de lavanda que acabei de passar no seu cabelo. Eu começo a relaxar com meu queixo em cima de sua cabeça quando a sinto tremendo contra mim. — O que você está fazendo? — ela pergunta com uma voz trêmula. ~ 81 ~


— É isso ou as algemas. — eu digo a ela. É agravante sentir que eu deveria explicar por que não quero fodê-la agora mesmo. Não importa o quão bonito é o seu tremor. Não importa o quão duro o meu pau está enquanto ela respira profundamente para se estabilizar, mas não para de tremer Pequena diabinha desafiadora. — Eu não consigo dormir com você tremendo como um Chihuahua assustado. — eu a repreendo. — Eu simplesmente não sei o que você... eu não quero que você... — ela diz. Suspiro. — O que você quer não importa. Seus ‘nãos’ não importam. VOCÊ não tem importância. Agora durma um pouco, antes que eu algeme você, rasgue a camisa do seu corpo, e mostre em primeira mão que você pertence a mim. — Não. Por favor. Estou no colégio. — ela geme. — Eu tenho dezessete anos. Sou muito jovem... Eu rolo meus olhos. — Eu não dou a mínima para qual é a sua idade, mesmo sabendo que você tem vinte e dois anos. Não sei por que sinto a necessidade de me defender. Especialmente para ela. Ela para de tremer e, eventualmente, adormece, fazendo um som de ronco suave através do nariz entupido de sangue seco. Ela é pequena e quente e eu me encontro encostando o nariz e lábios na curva de seu pescoço inalando o cheiro fresco do sabão de banho. — Diga-me onde está seu velho e eu vou fazer isso tudo passar. — eu digo a ela, mesmo que ela esteja dormindo. Também não é verdade. Se seu velho chegasse à maldita porta agora e se entregasse, não é como se eu pudesse deixar Frankie ir. Ela sabe e já viu demais. Ela é minha agora. Fecho meus olhos, não esperando que ela responda. Eu recebo uma resposta de qualquer forma. Para meus ouvidos, suas palavras soam e parecem como o começo do fim. — É aí que você está enganado.

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Capítulo Dezoito Estou deitada de lado em um campo gramado. Várias pedras e seixos machucam minhas costas enquanto tento me mover. Cheira a leite azedo e carne podre. Ouço o crepitar do fogo junto com ecos de gritos à distância. Então nada. Lentamente, levanto a cabeça apenas para descobrir que estou cercada por milhares de corpos ensanguentados. Eu me sento e percebo que estou no topo de uma pilha bem no centro. Não apenas um montículo de corpos. Mas partes. Homens e mulheres, todos em vários estágios de morte e decomposição. Todos curvados em posições não naturais. Pele acinzentada e ossos quebrados. O vermelho grosso se torna preto quando o sangue na roupa seca em meus olhos. Eu me levanto. Meu estômago embrulha, mas não há tempo para adormecer, só há tempo para correr. Eu tropeço entre os membros e os torsos enquanto tento descer, erguendo os joelhos. Libero meu pé afundado pressionando minha mão em carne fria e dura que contém o que parece dentes, mas não olho para ver o que toquei. Meus pés finalmente atingiram o chão, e eu estou livre da pilha. Eu congelo. Há mais corpos que grama no campo onde estou de pé. Tanto quanto posso ver. Não consigo processar o que me rodeia porque a necessidade de fugir é mais forte do que a necessidade de contemplar a morte deles ou até mesmo a minha própria. Eu ando pelo campo o melhor que posso, saltando sobre humanos como se eles fossem minas terrestres e não cadáveres. Tento não olhar longamente os olhos abaulados olhando para mim, ou as bocas congeladas - abertas em gritos mortais, mas não posso evitar. Olho então e rapidamente me afasto, mas é tarde demais. Agora posso ouvi-los. Seus gritos. Os seus últimos apelos por suas vidas. Implicando que não foram respondidos. É muito. É demais, demais. Eu me movo mais rápido. Empurro com força. Mas não sou muito rápida. Eu tropeço sobre uma perna, e quando me arrumo, minhas mãos pousam em uma cabeça cortada. Não apenas qualquer cabeça cortada. ~ 83 ~


Minha mãe. Agora, sou eu quem está gritando. Eu pego a cabeça nas minhas mãos, mas quando percebo o que exatamente estou segurando, deixo cair em meus pés e ela pousa em uma posição que parece que ela está enterrada em seu pescoço no chão, exceto que sei que não há corpo abaixo. Eu viro para o lado, e a agitação do meu estômago finalmente surge quando vomito seu conteúdo até ter certeza de que não resta mais nada. Eu me inclino com as mãos nos meus joelhos e tento recuperar o fôlego enquanto tento desligar meus pensamentos. Não poderei me libertar deste campo se eu me concentrar muito no que me rodeia. Eu tenho que continuar, continuar em movimento, mas os gritos dos mortos ao meu redor ficam mais altos, segurando-me no lugar. Eles são tão barulhentos que eu curvo meus ombros e fecho meus olhos com força na tentativa de silenciá-los. Não funciona. Estou perdido. Não sei o que fazer. Eu vou morrer agora. O eterno silêncio deve ser melhor do que os gritos agudos que se somam. — Fique quieta, garota. — ouço a voz de meu pai ecoar de algum lugar acima de mim. Retiro minhas mãos dos meus ouvidos e olho em volta, mas ele não está lá. É como se estivesse falando no microfone das nuvens. Sua voz é distante e ecoa ao meu redor. Os gritos são silenciados. — Ele vai te ouvir. — Onde você está? — pergunto, girando em um círculo. Eu mal consigo ver minhas lágrimas. Mas ainda assim, ele não está lá. Há uma explosão ao longe. Me assusto, e me cubro, mergulhando atrás de um tronco de árvore. Eu não posso dizer se sou eu tremendo ou a terra abaixo de mim. No entanto, pode ser eu porque posso ouvir meus dentes se chocando. Depois de alguns minutos, percebo que não são meus dentes, mas a minha mãe quando a cabeça dela vibra do choque da explosão. Há outra explosão. Um flash de amarelo e vermelho aparece em cima de uma pequena colina ao longe, seguida por uma enorme pluma de cinza. Eu não sei para onde vou, eu só sei que preciso sair daqui. — Corra, Frankie. Corra. — meu pai ordena com raiva, sua voz me cercando por todos os lados. Estou me afogando na sua voz, mas ainda não o vi. — Corra, — ele ordena novamente. — Seja esperta. Fique segura e CORRA. Ele está vindo até você, Frankie. CORRA, CORRA, CORRA! ~ 84 ~


— Pra onde? — eu choro, olhando para o céu coberto de nuvens acima de mim. — Pra onde você quer que eu corra? E se você quer que eu esteja em segurança, então por que você não vem me resgatar! Onde está você? Por que você não está aqui? — eu grito para o céu, ficando mais irritada com o homem que não aparece. Eu fecho meus punhos e corto as palmas das minhas mãos com as unhas. Somente o céu responde com um ruído de trovão profundo que chacoalha meus ossos. Do outro lado da pequena colina, aparece a sombra de um homem a partir de Smoke. Não é só qualquer homem. Ele é tão maciço quanto um urso. Minha espinha se endireita com consciência, medo e familiaridade. Seus passos são seguros e amplos, e percebo que é porque ele sabe para onde está indo. Ou a quem ele está indo. Eu. Ele não se importa com os corpos à sua volta. Enquanto ele caminha, o chão revirou de novo, como o trovão caindo no chão, causando um terremoto. Seu olhar sombrio está focado exclusivamente em mim. Meu sangue se transforma em gelo. O medo me estrangula. Minha garganta fica seca e grossa. Não consigo engolir. Finalmente, saindo da névoa, presto atenção no conselho do meu pai e volto a correr, mas meus pés caem no chão macio. Eu estou presa, no mesmo lugar. O pânico constringe minha respiração. Ele está tão perto agora que posso ver seu rosto. Sua pele bronzeada. Seus olhos escuros, sem emoção, que não transmitem a determinação de chegar até mim. O sol nasce das nuvens e percebo que o homem não tem sombra. Ele deve ser um demônio. Ele sorri. Não, um demônio. Não há dúvida em minha mente de que a carnificina que nos rodeia é dele. Ele é um exército de um homem que atravessa o campo ensanguentado de seu pecado, e estou próxima de enfrentar sua ira, mas não há nada que eu possa fazer, apenar olhar enquanto meu fim se aproxima. Antes que ele me alcance, chuta a cabeça da minha mãe como se fosse uma bola de praia e eu novamente sinto vontade de vomitar. Eu fecho meus olhos com força enquanto aguardo minha vez de me tornar um outro cadáver no campo. Eu só espero que seja rápido. Eu tremo quando sinto sua mão áspera contra minha bochecha. — Abra seus olhos, inferno. — diz ele. Eu recuso e balanço minha cabeça. Ele segura meu rosto com a mão, levantando-o. Eu posso sentir sua respiração contra minha pele. — Olhe para mim, meu amor. ~ 85 ~


Meu amor? Confusa com as suas palavras, finalmente obedeço e enfrento o mal. Ele é ódio personificado. Há algo terrivelmente belo sobre a pureza do seu mal. Há algo mais lá também. No fundo dos olhos. Luxúria. Admiração. Temor. Ele acaricia meu rosto de uma maneira quase amorosa. Desta vez eu não hesito. Na verdade, aconchego-me no seu toque quente. O homem olha ao nosso redor com um sorriso orgulhoso nos lábios virados para cima. — Isso é melhor do que eu esperava. — ele diz, pressionando seus lábios nos meus em um breve beijo suave que me faz sentir como se estivesse flutuando. — Melhor? — pergunto, minha cabeça girando. — O que é melhor? Ele me levanta da lama em seus braços tatuados e fortes com facilidade e me carrega junto ao seu corpo duro. — Descanse agora, meu amor. — ele sussurra, levando-me de volta ao campo, deslizando pelos corpos com facilidade sem olhar para o chão. Eu acho um conforto surpreendente em seus braços. Suspiro e me aconchego contra seu corpo, acariciando seu calor. O medo que me congelou alguns momentos antes desapareceu. Eu me sinto segura agora. Toda. — Estou tão cansada. — eu me ouço dizer. Eu bocejo e fecho meus olhos. O cansaço começa a me pegar. — Olhe. — ele sussurra, girando-me lentamente em seus braços. Abro os olhos e levanto a cabeça. Eu dou um último olhar para o lugar. O caos. O sangue. A morte. Ele ri e beija o topo da minha cabeça. — É claro que você está cansada. Olhe tudo o que você fez.

***

Saio de um pesadelo para voltar para um outro.

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Smoke está parado na porta de entrada. Seu cabelo está molhado de um banho recente e penteado pra trás. Ele não está usando camisa, apenas seu colete de couro e jeans. Seus pés estão nus. — Vista-se. Algo lá dentro deve servir. — diz Smoke, apontando para o grande recipiente de armazenamento preto no pé da cama. — Há comida na cozinha. Saia quando terminar. As janelas estão fechadas e a porta traseira aparafusada e só eu tenho a chave, então não demore. Se você não estiver fora em cinco minutos, eu vou voltar e te vestir sozinho. Toda a gentileza da noite anterior desapareceu. Meu estômago geme com vazio e torce com decepção. Smoke desaparece na entrada. Existe um kit de primeiros socorros aberto na mesa lateral. Levanto meu braço que está menos dolorido do que no dia anterior. Band-Aids e pontos de borboleta sobre os meus vários cortes. As manchas circulares cor laranja espiam por debaixo dos pontos e vejo uma garrafa aberta de iodo no kit. Eu deslizo para a borda da cama e dou boas vindas a dor, embora hoje seja suportável. Eu vasculho o grande recipiente de plástico que é preenchido com roupas e sapatos femininos de vários tamanhos. Alguns itens ainda possuem as etiquetas anexadas. Eu acho um jeans simples e macio de cor clara e uma camisa branca. Para sapatos, acho um par de Converse que é um pouco grande, mas vai servir. Na parte inferior há uma nécessaire com vários pentes e escovas. Eu escovo meu cabelo, prendo com um elástico, puxando meu cabelo no topo da minha cabeça em um rabo bagunçado. Também encontro outra coisa que me interessa em outra bolsa pequena dobrada no lado da lixeira. Não sabendo se eu precisarei, coloco-o debaixo do colchão caso eu não tenha acesso ao lugar novamente. Eu vou ao banheiro, e o que vejo refletido no espelho não me surpreende. Meus hematomas e arranhões ainda doem, mas o inchaço desapareceu e eles não estão mais roxos ou irritados. Encontro uma nova escova de dentes em um pequeno kit de viagem no banheiro e dou graças à Deus por isso. Eu saboreio a sensação de escovar meus dentes até que minhas gengivas sangrem. Lembrando que estou em uma crise de tempo, atravesso um pequeno corredor onde há uma outra porta parcialmente aberta. Eu espio na esperança de encontrar um computador, mas não tenho sorte ~ 87 ~


e Smoke não é tão burro. É outro quarto pequeno, ou pelo menos acho que é, está tão cheio de recipientes de armazenamento preto com tampas amarelas de cima a baixo que é difícil dizer. O que diabos estão neles? Mais roupas? Para quem? Por quê? A sala de estar principal é quase tão pequena quanto o quarto. Toda a casa não deve ter mais de cento e oito metros quadrados de total. Um único sofá está contra a parede com uma lareira de tijolos que alinha a parede. Não parece ter sido usado, mas é uma lareira no sul da Flórida, por que seria usado? Uma pequena mesa quadrada de duas pessoas está no canto da cozinha aberta. Tudo aqui é como no banheiro. Limpo, mas velho. O sofá é uma cor marrom desbotada e tem um rasgo no topo de uma das almofadas, expondo o estofado. A mesa da sala de jantar tem fita adesiva ao redor de uma das pernas. As cadeiras não combinam, bem como as almofadas amarradas aos assentos. Na mesa, há um prato de vidro com algo que parece biscoitos. Tem cheiro de sal e molho. Meus olhos se reviram na minha cabeça. Dá água na boca, e meu estômago ronca. — Coma. — diz Smoke, apontando para uma das cadeiras. Eu não gosto de acatar ordens, especialmente dele, mas esta é uma ordem que não posso recusar. Não me importo se é um veneno. Eu estarei com um estômago cheio, e agora um estômago cheio é tudo o que posso pensar. Há quanto tempo eu comi? Eu tento me lembrar, mas enquanto Smoke coloca biscoitos com salsicha e molho branco em um prato na minha frente, percebo que foi pelo menos por um dia. Talvez dois. Smoke deixa cair uma colher ao lado do meu prato. — Você não vai conseguir um garfo. Estou sorrindo por dentro. Curiosamente, o comentário dele me deixa orgulhosa. Eu me endireito um pouco mais. Smoke não está me subestimando. Ele sabe que vou usar qualquer coisa para minha vantagem, e ele está certo. Ele sabendo disso fará com que escapar seja mais difícil, mas cruzarei essa ponte quando chegar lá. Depois do café da manhã.

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Smoke acena com a cabeça para mim e não desperdiço mais tempo empurrando a comida dentro da minha boca. Os biscoitos são quentes e esponjosos e o molho de salsicha é salgado, muito salgado. Minha língua se alegra, e quando descubro que o fundo da panela está coberto de batatas cortadas, eu praticamente caio da minha cadeira com alegria. Smoke está de pé na cozinha me observando com aqueles olhos perigosos e sombrios. Os cabelos em meus braços arrepiam. As regras da Dr. Ida passam pela minha cabeça. Escapar. Ser amigo. Seduzir. — Você fez isso? — pergunto, com a minha boca cheia. — Não. — Smoke responde bruscamente. — Então, quem conseguiu? — eu estou mastigando e engolindo a uma velocidade recorde. — É realmente bom. — Alguém. Como devagar. Estou colocando mais comida no prato quando sinto seus olhos em mim. Eu olho para cima. — Ouça, quando você... — ele começa, mas rapidamente fecha a boca quando seu telefone toca em seu bolso. — O quê? — pergunto, curiosamente. — Não importa. — ele murmura, me fechando. A amizade, mesmo falsa, destinada a garantir a sobrevivência, será impossível com alguém que não falará comigo, mas continuarei tentando. Parar significa que não desisti e aprendi minha lição. Não vou desistir. Eu tenho mais do que em mim mesma para pensar, e vou usar o pensamento para me manter indo. Bebo todo o copo de água ao lado do meu prato e só abaixo a minha colher quando meu estômago parece estar prestes a explodir. — Obrigada por isso. — digo, levantando meu braço enfaixado e dando a ele um sorriso pequeno e falso. É tudo o que consigo reunir. Agradecer ao homem que me raptou não é fácil ou natural. Smoke acena com a cabeça, mas não fala. — Posso perguntar por quê? ~ 89 ~


— Por quê? — ele atravessa a cozinha se aproximar de mim. Nesta posição perto da mesa, seu tamanho é ainda mais intimidante. Eu quase perco a cabeço, mas engulo em seco para encontrar a coragem de continuar no jogo. Eu giro meu pescoço para encontrar seus olhos. — Por que você cuidou de meus cortes e contusões? Por que está me alimentando ou se importando se eu for torturada e morta em sete dias, afinal? — Seis. — corrige Smoke. Meu estômago afunda. Meus olhos caem no meu prato vazio. Meu queixo no meu peito. — Seis. — eu sussurro para mim mesma. — Diga-me onde está o seu velho e isso não acontecerá. — Não posso fazer isso. — digo. — Não pode ou não vai? — Ambos. Smoke me levanta pelo cotovelo e me leva de volta ao quarto onde me puxa para a cama novamente. Eu não acho que ele vai responder a minha pergunta quando ele se vira para sair, mas quando ele desaparece pelo corredor, eu juro que o ouço dizer, bastante alto para que eu ouça: — Porque você precisará de força, diabinha.

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Capítulo Dezenove SMOKE

O galo canta. O sapo coaxa. Um lobo uiva na distância. A velha casa do diretor treme e range com cada passar da brisa como um velho rabugento reclamando sobre o tempo. Eu poderia torturá-la pela informação sobre o paradeiro de seu velho como prometi, mas sou bom em ler pessoas. Ela está dizendo a verdade. Não toda a verdade, mas pelo menos sobre a parte em que ela não falou com ele em anos. Tortura é inútil, a menos que haja algo a ser revelado e torturar um inocente não é tão divertido quanto parece. E não tão divertido como derramar o sangue de seu velho será. Eu pressiono o play na caixa de som no chão e afundo no sofá. Creed ‘Arms Wide Open’ preenche o espaço vazio na sala, mas não no meu coração frio e preto. Esse nunca pode ser preenchido. Se passou oficialmente um ano desde aquela noite, e eu sinto como se afogasse em minhas dores. Engraçado, até aquela noite, não pensei que fosse capaz de sentir tristeza. Eu me sento silenciosamente no escuro, apenas capaz de ver um pouco além da ponta acesa do meu cigarro. Estou sozinho, exceto por uma garrafa meio vazia de Jack e meus próprios pensamentos de merda. Esta manhã, quase disse a Frankie a verdadeira razão pela qual eu preciso chegar ao pai dela. Em vez disso, mordi minha língua e a tranquei no quarto para o resto do dia, para evitar falar com ela por medo de deixá-la escorregar novamente. Ela não precisa saber todos os motivos. Ela é a isca. A isca não precisa saber merda nenhuma. Abaixo a garrafa e retiro a foto que fica escondida no bolso interno do meu colete. Está escuro, mas não preciso ver a foto. Eu sei o que está acontecendo. Eu só quero sentir entre meus dedos. Eu memorizei ~ 91 ~


cada curva, linha e detalhes do ultrassom. Algumas pessoas afirmam que são difíceis de distinguir, mas não esta. Não para mim. Eu vejo todas as curvas do crânio, o contorno de um pequeno coração no centro. Lábios minúsculos sugando um polegar pequeno. Pelo menos, foi o que Morgan me disse que o bebê estava fazendo, embora para mim parece que está levantando o dedo. Eu rio, mas é de curta duração. Eu alcanço a garrafa, inclinando-a e tomando vários goles antes de guardála novamente. Dizem que você não sabe quem é realmente ou o que é capaz até que você esteja conectado a outro ser humano. Este bebê, que nunca teve a chance de nascer, é essa conexão para mim. Eu sei quem eu realmente sou agora. O que eu realmente sou capaz. E sou capaz de ser um pesadelo. Eu farei essas coisas, e as farei com prazer porque estou perto. Tão perto de consertar as coisas, tão perto se Griff for tingido por Frank na foto de sua filha que enviamos para o mundo. Pego um novo telefone e digito o número de Rage. É uma reação rebote. Um hábito que eu pensei ter quebrado quando o whisky aparentemente me fazia esquecer. Coloco o telefone no bolso antes que eu possa pressionar enviar. É tarde demais. Muito tarde para reconstruir uma ponte, melhor queimar. Eu quebrei minha própria regra número um. Sem lealdades. E olhe onde parei. Fazer essa ligação seria como tentar reviver uma galinha depois que sua cabeça foi cortada e todas as suas penas foram arrancadas. Eu era o mentor de Rage. Ela tinha dezesseis anos quando a vi matar um homem pela primeira vez. O vazio em seus olhos mudou para puro prazer naquele momento. Eu queria ajudá-la em suas habilidades e reinar na merda que a levaria a sete palmos do chão ou ao corredor da morte. Eu queria ensiná-la porque não havia ninguém lá para me ensinar e descobrir essa merda sozinho é como escalar uma subida enquanto a maldita colina está se transformando em uma montanha. Rage provou que ela tinha sentimentos, mesmo não sendo como o resto da sociedade, quando se apaixonou por um motoqueiro chamado Nolan. Bom garoto. O problema é que eu a ajudei a resgatá-lo de uma merda uma noite e essa merda foi uma completa merda. Nolan foi salvo. Não posso dizer o mesmo sobre o meu relacionamento com Rage. ~ 92 ~


Olho para a porta fechada do quarto de trás, onde Frankie está adormecida e algemada na cama. Suspiro e guardo a imagem do ultrassom no meu bolso. Eu dreno a garrafa de whisky. Eu me consolo com pensamentos de vingança. De derramamento de sangue. É por isso que estou aqui. É disso que se trata. É por isso que Frankie Helburn vai morrer.

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Capítulo Vinte FRANKIE

É bem depois da meia-noite quando a porta se abre e Smoke entra. O cheiro de whisky e charuto em Smoke me atinge bem antes que ele bata sua canela na cama. — Maldita cama. — ele sussurra. Merda. Merda. Merda. Odeio ver o que ele é capaz nesse estado, mas sei que não quero descobrir, então finjo estar dormindo. Smoke se senta na beira do colchão e luta com suas botas, deixando-as cair no chão uma após a outra. Não o ouço se mover novamente, então espero, contando silenciosamente até vinte na minha cabeça. Nada ainda. Eu arrisco abrir meus olhos, e quando faço, pisco na escuridão até meus olhos se ajustarem. Ele ainda está lá, sentado à beira da cama. Ele está curvado para frente, suas costas largas banhadas pela luz da lua. Os cotovelos estão apoiados nos joelhos, o rosto nas mãos, os dedos enrolados e puxando os cabelos. Pela primeira vez desde que fui mantida contra minha vontade, o monstro parece muito menos... um monstro. Se foi o sorriso afetuoso e até mesmo as palavras arrogantes. Ele parece um homem agora, um muito problemático. Smoke suspira, depois se arrasta na cama, tirando a camisa. Eu fecho meus olhos enquanto ele desliza sob o cobertor. Ele se inclina sobre mim e eu conto com medo. Sinto sua respiração na minha bochecha. Ele solta a algema que me prende à cama. Exalo baixinho. Ele ainda não tira a algema, desta vez ele envolve seus braços em volta da minha cintura e coloca a algema que ele tirou da cama no próprio pulso, adornando-os com as algemas. Ele me puxa contra o peito da mesma maneira que fez na noite anterior, e, em alguns instantes, ele está dormindo, roncando levemente ~ 94 ~


na minha orelha, seu cálido tronco subindo e descendo uniformemente contra minhas costas. — Você está acordado? — eu pergunto para o escuro. Smoke não se move. Eu finjo tentar rolar e acotovelo ele nas costelas. Nada. Eu expiro. — Eu preciso conversar com alguém e, como você é a única pessoa ao redor, acho que também pode ser você, e desde que está desmaiado e provavelmente bêbado, não acho que se importará muito. Eu suspiro, então rio para mim mesma. Isso é tão ridículo. Falando com o homem que me apanhou porque eu preciso conversar. — Lembro-me de te ver, antes de chegar à escola. — digo. — Você estava do outro lado da rua no posto de gasolina. Eu senti você antes de te ver. Eu estava ciente de sua existência antes mesmo de eu saber que você existia. Eu sei que isso parece estúpido, mas é verdade. Eu senti você lá e, quando o vi, pensei... isso parece ainda mais estúpido, especialmente considerando tudo o que aconteceu, mas te achei o homem mais bonito que já vi. Nunca pensei nisso antes. Um rosto se mistura no outro para mim, um não mais bonito do que o próximo na maioria das vezes, exceto você. Você se destacou. Olho por cima do meu ombro para ter certeza de que ele ainda está dormindo. Seus longos cílios se deitaram contra suas bochechas bronzeadas. Suas sobrancelhas estão enrugadas, mesmo no sono. — Eu acho que isso mostra que grande juíza de caráter eu sou. Alguém tão lindo pode fazer coisas tão feias. Escreva isso. Você pode usá-lo como o título de sua autobiografia um dia. Minhas pálpebras ficam pesadas. Fecho-as e ajusto minha cabeça no travesseiro. A respiração quente de Smoke flutua na parte de trás da minha cabeça. — Agora você vai me matar, ou me entregar a outra pessoa que vai me matar. — eu digo, seguido por um bocejo. Smoke de repente se move, seus braços se fecham ao meu redor como se eu estivesse prestes a escapar. Eu pulo em suas mãos e giro minha cabeça e o encontro ainda dormindo.

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Eu deito minha cabeça de volta no travesseiro. Abaixo a voz para um sussurro enquanto o sono me leva. — Você quer saber qual é a parte realmente fodida? — eu suspiro. — Você ainda é o homem mais bonito que já vi.

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Capítulo Vinte e Um SMOKE

Você ainda é o homem mais bonito que já vi. Vou dar esse crédito a ela. Frankie não é uma atriz de merda como eu pensava. Ela é boa o suficiente para me fazer acreditar por meio segundo que pode até querer dizer isso. Mas é um truque. Eu sei que é. Eu não vou cair nessa. Não vou ser manipulado. Nem por ela. Nem por ninguém. Maldição, diabinha. Malditas tetas doces, lábios grossos, quadris com curvas, bunda arredondada e o mais falso fodido sorriso que já vi. Eu tenho que correr até o centro para buscar suprimentos, enviar um recado e verificar algo importante demais para arriscar usar o telefone. Com certeza não vou levar Frankie comigo, mas também não confio que ela não vá roer sua mão para se libertar das algemas enquanto estou fora. Eu me afasto para fazer uma ligação. Desta vez é o número de Morgan que começo a digitar. Merda. Sem outras opções, e não sendo muito longe de Logan’s Beach, limpo a tela e disco um número diferente. A saudação é exatamente o que espero, considerando pra quem eu estou ligando. — Olá! Necrotério do condado. Vocês os torram, nós os refrigeramos. Você está falando com Preppy. Como posso atendê-lo hoje?

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Mesmo que eu role meus olhos, é bom ouvir uma voz familiar. — Prep, é Smoke. — Smokey! Que merda, cara? Estive procurando por você desde que salvou minha bunda naquele hospital. Onde diabos você esteve? Eu achei que você poderia ter sido sugado para aquele mega poço que engoliu a metade da estrada 28. — Ainda acima do solo. Por enquanto, de qualquer maneira. — Sabe, senti falta dessas suas conversas bem detalhadas. — diz Preppy com um suspiro exagerado. — Podemos cantar ao redor da fogueira e trançar o cabelo um do outro em outro momento. Agora, preciso de um favor. Estou no meio de um trabalho. Preciso de uma babá para uma carga que estou transportando. — Quão grande é esta carga? — ele pergunta, entrando no modo negócios. Eu olho para a casa. — Em peso ou atitude? — Ah, é assim. — Em peso, ela não deve ter mais do que cinquenta. E vamos apenas dizer que ela não conseguiria passar em uma balança de caminhão com o tamanho de sua maldita atitude. — Notável. Para quando você precisa de alguém? — Assim que possível, irmão. — Tudo bem, cara. Entendi. Taylor e Miley passaram a noite aqui e estou de plantão para que Dre possa dormir um pouco. — eu ouço um bebê resmungando no fundo, seguido por outro chorando. Há uma batida. — Bo, o que eu falei sobre facas da cozinha! — grita Preppy ao telefone. — Quem você pode ceder? — pergunto. Há um barulho no telefone. Seguido de outro. — Bo, se você está fazendo outra bomba caseira, sua mãe vai ficar realmente, realmente louca. Louca tipo sem televisão por uma semana. — Desculpe. — ouço uma pequena voz triste cantar. — Está bem. Vá brincar no quintal, e trarei suas irmãs em um minuto. — Preppy volta para o telefone. — Crianças, você não pode ~ 98 ~


viver sem elas e não pode deixá-las sozinhas com itens domésticos que elas podem criar explosivos. — É isso que o ditado diz? — Como diabos eu iria saber. — diz Preppy. — Diga-me a localização Smoke, e eu vou mandar alguém pela manhã. Talvez eu tenha que chamar as cadelas do Bear, mas alguém estará aí para você, irmão. Será alguém em quem você pode confiar. Eu juro por uma pilha de panquecas. — Agradeço, Prep. — Você sabe, eu te devo mais do que enviar alguém para ajudar como babá, mesmo que você possa ou não ter supostamente sequestrado esse alguém. Te devo tudo, cara. Você salvou minha maldita vida. Eu balanço minha cabeça. — Eu estava no lugar certo na hora certa. — digo. — Sim, o que quer que você deixe dormir à noite. — diz Preppy. — Merda, eu tenho que ir. — o telefone parece ser jogado, mas a linha não está muda. — Bo, não corra esse cortador de grama em cima do seu... — sua voz se afasta. Eu desligo, digito a localização da prisão e envio-a para Preppy. Eu vasculho meu bolso e retiro meus cigarros. Eu acendo um e dou uma longa tragada. Talvez eu não me aproxime das pessoas, não mais e nunca novamente, mas você não consegue fazer isso neste mundo, na vida que escolhemos, se você não confiar em alguém de vez em quando. E agora, eu escolhi confiar em alguém que deu nome de fodidas estrelas do pop às suas filhas e cujo filho é a pessoa mais nova a ser registrada na lista de observação do FBI. Não há muitas pessoas que têm meu respeito. O respeito deve ser merecido. Preppy tem o meu. O homem pode ter um caso de diarreia verbal que não tem nenhuma cura, mas ele passou pelo inferno e voltou. Ele foi torturado e brutalizado como a maioria das pessoas não pode nem começar a imaginar. A maioria dos homens, o homem mais forte, tanto de corpo como de espírito, teria desmoronado depois disso. Não Preppy.

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Não Samuel fodido Clearwater. Dou mais uma tragada no meu cigarro. Sempre que trabalhei com Preppy, ele me fazia rir da merda mais estúpida, mas agora, sinto que na verdade eu não ri nos últimos anos. Estou cansado. Desgastado. A vingança é cansativa. Sinto-me mais velho do que os meus trinta e cinco anos. Paro porque algo sobre isso não parece certo. Verifico o ano no meu telefone e rolo meus olhos. Provavelmente porque eu tenho trinta seis.

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Capítulo Vinte e Dois FRANKIE

Eu tenho feito tudo errado. Escapar não é uma solução a longo prazo. Não para mim de qualquer maneira. É impossível. Estou presa dentro de uma prisão, afinal. Trabalhadores há muito desapareceram, mas as moitas e as cercas enferrujadas agora estão vigiando o único prisioneiro. Eu. Tudo o que preciso é tempo. Algumas horas. Apenas tempo suficiente para chegar a um computador antes de ser descoberta. As consequências que se danem. Smoke está no telefone na varanda da frente. Ele me deixou solta para que eu possa tomar banho e trocar de roupa. Eu só tenho alguns minutos. Estou vestida com um curto short atlético preto e uma camiseta branca dos Beatles ajustada. Gasto trinta segundos para arrancar a gola da camisa, de modo que caia no meu ombro como minha camiseta Veruca Salt favorita. Uma camiseta que provavelmente nunca mais vou ver. Olho pela janela do quarto. Tudo o que vejo é mato. Eu subo na cômoda e fico de pé, esticando meu pescoço para ver o que pode estar além da bagunça verde e marrom. Vejo algo ao longe, logo depois da cerca da prisão e, a menos que eu esteja vendo coisas, tenho certeza de que é um telhado. Se eu puder encontrar uma maneira de sair desta maldita casa. Empurro meus pés no tênis e coloco minha cabeça na porta do corredor. Encontro Smoke perto da porta da frente aberta. Ele ainda está no telefone, fumando um cigarro. Eu rastejo na direção da porta dos fundos. Está trancada e, assim como Smoke avisou, também está com um cadeado.

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Deve haver outra saída. Há uma planta em vaso no quanto. Uma palmeira de plástico em uma tigela de argila gigantesca. Não é a árvore que me interessa tanto, mas o que vejo que está escondida por trás dela. Uma porta de plástico para cães. Sem parafusos. Eu uso todo o poder em minhas pernas e ignoro a dor raspando minha espinha enquanto cavo meus dedos do pé no tapete e empurro a planta da parede até que haja apenas espaço suficiente para eu passar por ela e atravessar. Não tenho tempo para comemorar minha curta liberdade porque há um campo inteiro de vegetação e detritos para ultrapassar. Eu começo a correr.

SMOKE

A casa está quieta. Muito quieta. Eu corro para o quarto, mas já sei que está vazio. Eu volto e vejo a planta e a entrada de cachorro, a palmeira de plástico balançando com a brisa. Estou calmo enquanto pego minha arma e saio pela porta da frente. Eu estou assobiando enquanto rodeio a casa e a vejo tropeçando pelo pátio da prisão. Vamos jogar, diabinha. Sou um produto do pecado e da violência. Eu nasci com fúria, chiando através do meu sangue aquecido. Eu não posso ser o cara bom, e eu não quero ser. Frankie Helburn é a única coisa que está entre mim e Frank Helburn e eu não vou deixar tudo isso pra lá por causa de uma buceta. Eu sou a flecha. Frankie é o meu alvo. ~ 102 ~


Eu nunca erro.

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Capítulo Vinte e Três FRANKIE

Gotas de suor caem em meus olhos. Limpo-as com a palma ainda mais suada. Meus membros tremem quando levanto meus joelhos o máximo que posso, navegando pelo caminho das videiras emaranhadas. Eu tropeço algumas vezes, raspando minhas mãos em espinhos afiados. Não posso falhar. Eu não vou falhar. Eu passo pela placa derrubada que diz Centro Correcional de Broward County, onde o solo é liso. Minha respiração está dura. Meu tórax queima. Eu ando em direção à casa, correndo e tropeçando sobre uma mangueira. Eu rosno com a minha própria falta de jeito e salto os degraus da varanda raquítica. Ouço algo lá dentro e seguro um grito de alívio. Passos! Eu bato na porta selvagemente, olhando para trás a cada poucos segundos. — Vamos. Vamos. Abra a porta. — eu grito para mim mesma, sacudindo minhas mãos e mudando de pé para pé. — Qual é o problema, minha querida? — uma mulher vem à porta, enxugando as mãos em seu avental. Ela é velha, talvez no final dos setenta ou início dos oitenta anos. Estou prestes a contar a ela tudo quando paro. Se eu disser a ela algo demais ou a coisa errada, poderia estar colocando sua vida em perigo também. Merda. — Uhhh... não há exatamente um problema. Eu só estou perdida e um pouco exausta de ficar andando sobre todo aquele mato. — eu digo a ela. — Estou ficando com meu... namorado em um chalé por aqui, mas fui passear e agora não consigo encontrar meu caminho de volta.

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— Oh, nossa... Bem, entre, querida. Eu sou Zelda, é muito bom conhecê-la. — ela se afasta para me receber. — Obrigada. — eu digo, entrando na casa. É tão pequena como a casa do diretor, mas é muito mais aconchegante. Tudo é amarelo. Cortinas, papeis de parede, lençóis sobre a mesa. Cada parede tem uma prateleira alta de plantas que atravessam o comprimento daquela parede e liga até a próxima. Exceto que não há plantas nas prateleiras, em vez disso, estão repletas com estátuas de madeira. Principalmente de animais, e a maioria desses animais são alguma variação de cachorro. Algumas são pequenas e parecem como se uma criança os tivesse feito com uma faca cega e algumas são tão suaves que é óbvio que foram esculpidas pela mão de um artista habilidoso. — Adoráveis, não são? — Zelda aponta para as estátuas de madeira nas prateleiras. — Sim, muito. — respondo. — Você está hospedada na cabana do diretor? — ela pergunta, pegando-me desprevenida. Eu não quero mentir e a verdade pode causar problemas, então eu faço o que acho melhor. — É assim que se chama? — É a única casa por aqui, além desta. Ninguém esteve lá há um tempo. — Zelda diz, movendo os pés pela cozinha. — Estamos apenas passeando. Não vamos ficar muito tempo. — eu explico. Estou tentando não parecer assusta e preocupa-la. Leva tudo de mim para não vasculhar a casa em busca de um computador. — Sente-se, minha querida. — Zelda aponta para uma cadeira amarela em uma cozinha igualmente amarela. — Você precisa usar o telefone? — ela pergunta. — Na verdade gostaria de usar seu computador se você tiver um. Deixei meu celular cair e não sei o número do meu namorado de cabeça, então queria enviar uma mensagem online falando que estou bem antes de tentar voltar. — olho para o outro lado da janela. Um arrepio corre por minha espinha, e é como se eu pudesse sentir sua fúria do outro lado do campo. Não tenho muito tempo. Zelda assente. — Você gostaria de um pouco de chá?

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— Claro, eu adoraria. — passo minha perna no meu colo e toco a ponta do meu sapato na perna da mesa. Zelda coloca uma velha chaleira amarela no fogão. — Eu ganhei um desses laptops chiques. — diz ela, falando mais devagar e mais lento enquanto os segundos passam. — Meu amigo me deu no Natal. Ele configurou a internet e tudo, mas não tenho ideia de como usá-lo. Meus netos usam o WiFi quando visitam, mas eles trazem seus próprios laptops. Deixe-me buscá-lo por você. Zelda empurra os óculos pela ponte do nariz e lentamente se arrasta da cozinha. Quando ela volta, está segurando um laptop, mas tem pelo menos quatro centímetros de espessura e é azul escuro. Não era um laptop, era o primeiro laptop. — Você disse que ganhou no Natal? — eu abro o computador antigo, rezando a todos os deuses que eu posso pensar para que as conexões de internet funcionem. Meus dedos voam sobre o teclado. Peço a Zelda a senha, mas apenas para ser educada. Eu já haqueei a conexão. Estou dentro. — A senha é Natal1993. — Zelda diz com orgulho, colocando uma xícara de chá ao meu lado. — É esse o ano em que você ganhou o computador? — pergunto. — Sim! É! — ela segura sua própria xícara de chá e toma um gole. — Muito obrigada. — digo, tomando um gole rápido. Eu abaixo a xícara e volto para o computador. — Você está terrível. Você lutou com algum gado e perdeu? — Oh, isso... — eu digo, tocando meus dedos no canto do meu lábio. Eu esqueci sobre meus hematomas. — Acidente de carro. Zelda torce os lábios. Ela não está acreditando. — Com um caminhão. — acrescento. — Eu uh. Quero dizer, um caminhão bateu no meu carro. — merda. Zelda assente, mas posso dizer que ela não acredita na história, e eu não a culpo. Eu também não acreditaria em mim. Estou na deep web. Aqui não sou uma jovem desajeitada que nunca experimentou nem uma fração do que a vida tem a oferecer. Não, ~ 106 ~


aqui estou em casa. Estou a vontade para navegar pelas barreiras e obstáculos colocados para manter pessoas como eu fora. Eu poderia fazer uma chamada SOS em vez de localizar o arquivo que precisa ser transferido, mas eu não faço. Não apenas porque não tenho tempo, mas porque não posso colocar Zelda em risco. Deus sabe o que ele faria com ela se achasse que ela ajudou minha fuga de algum jeito. Depois de substituir o código bancário pelo meu, o dinheiro está lá e a transferência está finalmente acontecendo. É desleixado e não é o meu melhor trabalho, existem alguns outros códigos que eu gostaria de excluir ao longo do caminho, algumas pontas que eu gostaria de amarrar para cobrir meus rastros, mas não há tempo para pintar paisagens hoje. Isto é arte abstrata. Alguns salpicos de tinta na tela e pronto. Estou tão tentada a enviar uma mensagem SOS. Só levaria mais alguns minutos. Eu olho para Zelda. Não há tempo suficiente, e é arriscado demais. Suspiro de alívio e desapontamento, depois limpo o computador de Zelda, certificando-me de que qualquer vestígio de que eu já estive aqui seja apagado da memória antes de desligá-lo e deslizá-lo através da mesa. — Obrigada. — eu digo a ela, pegando minha xícara e tomando um novo gole de chá. Zelda se levanta e se move pela cozinha. Ela abre a geladeira e tira um grande pedaço de queijo. Ela abre uma gaveta e tira uma grande faca de cozinha. Ela me mostra um sorriso lento, o sol apanha a lâmina. Meu coração pula uma batida, e lentamente, abaixo minha xícara de chá, percebendo que essa mulher talvez não seja a vovó gentil que pareceu ser. Eu engulo seco. Zelda traz a faca até a peça de queijo. Ela assobia enquanto corta em cubos. Ela é apenas uma velhinha tentando ser hospitaleira, Frankie. Eu interiormente rio de mim mesma. Minha paranoia ainda está por perto. O pensamento é estranhamente reconfortante. A paranoia é normal para mim, e agora vou tomar ser o mais normal que eu conseguir. ~ 107 ~


Deslizo em minha cadeira. — Obrigada novamente, mas eu realmente não posso ficar... — Frankie. — uma voz familiar e muito irritada resmunga por trás. O cano de sua arma encosta na base do meu pescoço. Eu congelo. Os nervos da minha coluna saltam. Meu peito aperta. Ele pode muito bem estar me estrangulando porque não consigo respirar, mas mesmo com uma arma nas minhas costas eu não posso deixar de me sentir aliviada e até mesmo... um pouco presunçosa. — O que você FEZ? — ele pergunta através de dentes cerrados. Zelda gira com o prato. Ela vê Smoke parado atrás de mim, e para minha grande surpresa, ela não está assustada. — Eu não ouvi você entrar. — ela diz para ele. Ela se vira para mim. — Este é o caminhão? — Zelda, esse é... — eu tento apresentá-los, para mostrar a Smoke que eu não disse a essa linda mulher nada que justificasse qualquer dano vindo a ela, mas Zelda ri, me cortando. — Eu sei quem ele é, querida. — Zelda se levanta da mesa e Smoke se inclina para que ela possa plantar um beijo na bochecha dela. — Eu não estava esperando você, ou eu teria pego a boa porcelana. — ela diz com um rolar de olhos. — Você de todas as pessoas sabe que eu sou um cara de prato de papel. — ele age de forma pretenciosa com ela. Calmo. Quem diabos era esse homem, e o que ele fez com o cara que ameaçou cortar todos os meus membros enquanto eu observava? O olhar de Zelda cai para a arma. Ela estende a mão. — Você conhece as regras. — diz ela severamente, e pela primeira vez, ouço o leve vestígio de um sotaque escocês em sua voz. Smoke deixa a mão dela vazia, mas coloca a arma em seu cinto. — Preciso quebrar as regras da casa esta vez. — ele olha para mim. — Não é possível confiar exatamente nesta aqui. — Ela não parece tão ruim para mim. Nós estávamos apenas tomando chá. Ela te causou problemas? — Algo assim. — responde Smoke.

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Zelda se inclina sobre a mesa e pisca para mim. — Infernize a vida dele, moça. — ela belisca minha bochecha e sorri, então se vira para Smoke, apontando para a arma. — Uma Glock17, Smoke? Achei que você fosse um homem de Beretta. — As pessoas mudam. — ele responde, ainda olhando para mim. — Você não muda. — ela ri, golpeando-o com uma toalha de prato. — Em que universo alternativo eu acabei de cair? — pergunto, olhando de Smoke para Zelda com torpor. Ambos me ignoram. — Deixe-me pegar mais uma xícara de chá do armário de porcelana na dispensa. Levará um minuto. — diz Zelda. — Faça meu chá um uísque. — diz Smoke, sentando-se ao meu lado. Ele acende um cigarro e se vira para me encarar, suas longas pernas abertas, o joelho tocando na minha coxa. — Eu disse armário de porcelana? Eu quis dizer armário de licor. — Zelda se movimenta pela cozinha. Estamos sozinhos. De repente, não me sinto tão corajosa com a minha grande fuga, embora temporária. Além disso, Smoke está... calmo. Muito calmo. — O que você FEZ, diabinha? — Smoke fecha o laptop com o dedo indicador. Eu balanço minha cabeça. — Nada. Eu realmente não fiz nada. Não tive chance. Abra. Verifique você mesmo. Ele não está acreditando. Ele abre o laptop e digita a senha da Zelda. Natal 1993. — Como você sabe a senha dela? — pergunto. — Quem você acha que me deu o computador? — Zelda diz, voltando para a sala com uma garrafa de Jack Daniels em uma bandeja de prata com uma toalhinha de papel embaixo. Ela põe na mesa e abre a garrafa. — Eu te pegaria um copo, mas eu sei como você é. — diz ela.

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Smoke agarra a garrafa pelo gargalo e a inclina para os lábios, olhando-me enquanto seu pomo de adão sobe e desce com cada gole. Ele de alguma forma consegue fazer com que beber uísque diretamente da garrafa pareça gracioso. Graça e violência. Que combinação estranhamente bela e horrível. Smoke coloca o uísque na bandeja e volta sua atenção ao computador. Algo sobre a forma como as suas narinas inflam, como ele fica tão aquecido com a mínima coisa, faz meu sangue ferver enquanto simultaneamente me deixa com medo. Há mais deste homem do que o sequestrador/assassino extraordinário. Se eu não o odiasse tanto, talvez estivesse curiosa para saber mais sobre ele. — Isso é besteira. — Smoke murmura, fechando o laptop. — Você está mentindo. — Olha a boca! — corrige Zelda, colocando o prato de queijo sobre a mesa junto com uma caixa de biscoitos. Os sofisticados com papéis de cupcake delicadamente embalando cada tipo diferente. — O que ela fez? — Smoke pergunta a Zelda. Zelda encolhe os ombros e joga um cubo de queijo na boca enquanto fala. — Nada demais. Ela me disse que estava perdida e ficando com o namorado dela. Ela precisava usar o computador. Ela não fez nada. Eu estava de olho o tempo todo. Ela olhou para a tela, então me disse que mudou de ideia e fechou a coisa. Estamos apenas nos conhecendo. — diz Zelda. — Mas se você quiser que eu verifique, eu posso. Apenas para ter certeza de que ela não contornou... os métodos padrões. — ela olha para mim e sorri, mostrando as muitas linhas finas ao redor de sua boca. Eu tinha razão. Zelda não é uma velhinha que não sabe de nada. Esta é uma mulher que sabe tudo. Ela sabe o que eu fiz, e ela simplesmente mentiu para Smoke por mim. Mas por quê? — Por que você não pediu para usar o telefone? — ele pergunta ceticamente.

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— Pare de atormentar ela, seu bruto. Ela não queria colocar quem ela acha inocente em seus assuntos. Ela é inteligente. Um tipo para aproveitar. Uma boa combinação, se você me perguntar. Zelda empurra um bob de cabelo vermelho encaracolado no lenço amarrado ao redor da cabeça e tira a garrafa de uísque da mesa. Ela toma duas vezes mais do que Smoke antes de colocá-la de volta na mesa e limpar a boca com a parte de trás da mão. Eu sorrio para ela porque não posso evitar. Ela é gloriosa. Smoke me levanta da cadeira pelo meu braço e me puxa para a porta. — Infelizmente, não podemos ficar. — ele diz. — Entendido. — diz Zelda, sem diminuir seu grande sorriso. Ela se levanta e nos segue. — Apenas lembre-se, garoto. — ela envolve sua mão enrugada em torno do bíceps de Smoke. — Os melhores trabalhos são aqueles que você não pede. Os que você não é pago. Os que você aprende algo. Zelda se inclina e sussurra no meu ouvido. — Seja forte, moça. Quando ele ser ignorante, revide. — Obrigada. — eu digo a ela, sorrindo também e fazendo minha cara mais corajosa. Acabei de conhecê-la, mas não quero que ela se preocupe comigo, e algo em seus olhos me diz que faria exatamente isso. Zelda fala em enigmas. Ela também gosta de alimentar as pessoas. Ela conhece suas armas. Ela mentiu por mim. Ela é uma amiga de Smoke. Apesar do último item, eu decido que gosto de Zelda. Eu gosto MUITO dela. Smoke me arrasta sobre o mato e moitas pelo meu braço. Sinto a raiva soprando dele. Apesar disso, eu viro e chamo Zelda. — Obrigada pelo chá! Quando Zelda volta para dentro da casa e está fora do alcance do ouvido, Smoke grunhe: — Essa foi uma besteira estúpida. — Eu sei. — desta vez, eu concordo com ele. Foi estúpido. Mas não me arrependo. Nem por um segundo. ~ 111 ~


— Eu não sei o qual jogo você está jogando, mas você precisa parar antes de se matar ou matar alguém. — ele rosna. — Antes de me matar? — eu levanto minha voz. — Estarei morta em menos de uma semana. Você sabe disso. Eu sei disso. Meu pai não virá por mim. Você não entendeu? Não importa o que eu faça. Estou morta de qualquer jeito! Eu me viro e atravesso o campo de volta para a casa do diretor, mas eu não conto com as longas pernas de Smoke. Ele se conecta com as minhas costas, abordando-me. O ar desaparece dos meus pulmões enquanto encaro uma poça de lama. A lama enche meu nariz. Minha boca. Meus olhos. Minha garganta. Sou puxada pelo meu cabelo. Eu cuspo e tusso lodo marrom até que não esteja mais no caminho da minha respiração. Limpo meus olhos com meu antebraço, pois minhas mãos estão cobertas de lama. Smoke se levanta e me puxa para ele. Ele se inclina na cintura, o braço na parte de trás dos meus joelhos como se ele fosse me levantar nos braços. Eu soco em seu peito. — Não me toque! — desespero e terror junto com frustração enche meu grito. — O que eu te disse? — Smoke escava seus dedos na minha pele. — Você é minha para fazer o que eu quiser. Se eu quiser te tocar, eu malditamente te tocarei. Ele grunhe, me pega e me leva até a casa, não parando até que atravessamos o quarto e estamos no banheiro. Ele me põe de pé e me segura com um braço enquanto liga o chuveiro. Ele não espera que a água fique quente, puxando-me sob o jato frio enquanto ainda estou completamente vestida. Eu grito. Meus dentes batem. — Tire suas roupas. — ele exige. Congelando sob o jato, é preciso algumas batidas para eu reunir meus nervos novamente, mas quando faço, eu olho para ele com todo o desprezo que posso reunir. — Não! — eu digo, tremendo sob a água fria. Ela acaba se aquecendo, mas meu tremor não para. Só porque sou opositora não

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significa que não tenho medo, e não há nada sobre o olhar duro de Smoke me dizendo o contrário. — Por que você não escuta? — Smoke resmunga. Eu rolo meus olhos. — Você não percebeu até agora? Isso não é quem eu sou. Nem agora. Nem. NUNCA. — eu olho diretamente para seus olhos malvados. Ele rosna e se lança para mim. Eu retrocedo, mas não há para onde ir. Estou presa entre ele e a parede do chuveiro. Ele pisa atrás de mim, arrancando minhas roupas do meu corpo até eu estar completamente nua, usando nada além de lama e minha insolência. — Pare! Não! Não! — eu grito. A água agora está quente. Ele segura meu corpo nu contra ele. Eu luto e contorço até o calor ardente da água ser tudo o que eu sinto. Contra minha vontade, meus ossos e músculos doloridos ficam aliviados. Eu gemo sem pensar. Deixo minha testa cair no azulejo da parede à minha frente, a água fumegante lavando a lama e a sujeira, mergulhando em meus músculos doloridos e aquecendo meus ossos. Eu cavo minhas unhas na argamassa e desejo poder atravessar este chuveiro e sair desse buraco em que me enterrei. Estou nua na frente desse homem estranho pela segunda vez, mas vejo isso como algo mais do que apenas pele exposta. Eu me sinto vulnerável. Abalada. Exposta por dentro e por fora. — Esses poucos dias? O resto desta semana? — eu começo, sem olhar por cima do meu ombro. — De acordo com você e esse Griff, é o tempo que tenho nesta terra. Não vou fugir novamente. Só... não me algeme na cama nem me deixe presa em um quarto. — era uma honestidade que ele não merecia, mas com poucas opções, não tenho outra escolha. — Eu poderia ter pedido ajuda hoje, mas não pedi. Eu não pediria. Smoke me solta e eu ouço o barulho de suas roupas molhadas contra o azulejo enquanto ele se despe. — Eu não acho que você fará isso porque você a conhece, mas eu tenho que dizer. Apenas no caso. Por favor, não machuque Zelda. Juro que ela não sabe de nada. Não lhe contei nada. Ela não merece ser machucada ou morrer por minha causa. ~ 113 ~


Aguardo que Smoke responda. Quando ele não faz e eu não o ouço murmurando por perto, suponho que ele saiu até eu o sentir. Sua pele contra a minha. Sua pele nua. — Você está preocupada com o fato de eu machucar Zelda? Uma completa estranha para você? — Smoke pergunta, parecendo perplexo. Ele se aproxima da minha cabeça e eu me inclino, relaxando levemente quando percebo que ele está apenas indo pegar o sabonete. — Por que você se importaria? Eu digo a ele a verdade. — Porque, eu não consigo NÃO me importar. Smoke retira o sabonete do suporte lentamente, depois esfrega a barra pelas minhas costas e coxas. Eu empurro meu corpo contra o azulejo para colocar a maior distância possível entre nós, mas ele grunhe e me puxa para fora da parede. Ele arrasta a barra de sabonete de volta, deslizando-a através da minha bunda molhada. O banho começa a cheirar a ele. A sabonete irlandês. Limpo e fresco. O oposto de como eu me sinto. Suja. Usada. Presa. Ainda estou tremendo, mesmo sob o calor abrasador da água. — Eu não vou machucar Zelda. — diz Smoke, me surpreendendo. — Eu não faria isso. — Mas você me machucaria? — pergunto. — Isso é diferente. — ele argumenta. — Como... — Chega! — ele ladra. Smoke se inclina para frente novamente para colocar o sabonete de volta no suporte montado na parede. Seu nariz no meu pescoço, seu peito contra minhas costas. Seu corpo inteiro pressionado contra o meu. Ele é duro. Em toda parte. Eu suspiro e fecho meus olhos como se pudesse fazer isso desaparecer se eu me concentrar bastante. ~ 114 ~


— Você será punida por essa merda que acabou de fazer, diabinha. — Smoke diz, balançando os quadris para que sua ereção se deslize contra minha bunda ensaboada. Ele está quente. Como seda macia envolta em torno de aço duro enquanto ele arrasta sua ereção sobre minha pele de novo e de novo. Mal posso me segurar. — Vá se ferrar! — eu digo. Estou falando parte para Smoke e parte para o meu corpo que está me traindo. Meus mamilos estão duros. Eu estou dolorosamente molhada entre as minhas coxas. Só me enfurece mais. — É o que você quer para sua punição, diabinha? Que eu foda você? — Não... não. — eu gaguejo, mas suas palavras enviam um novo tipo de calafrio através de mim. Meus clitóris pulsa. Não consigo pensar direito enquanto ele está tão perto. Eu não quero isso. Eu não o quero. — Mentirosa. — Smoke acusa, escovando meus longos cabelos nas minhas costas e pressionando seus lábios na parte de trás do meu pescoço. — Eu posso sentir o quão excitada você está... — sua mão serpenteia em torno da minha cintura, se arrastando pelo meu estômago achatado até que elas se esgueiraram pelo cume das minhas coxas. — Quase tão bem quanto eu posso sentir o cheiro do seu medo. — ele aperta minha carne entre os dedos. Forte. — Não consigo decidir o que me excita mais. Eu congelo, meu sangue se transforma em gelo. — Eu... eu... — eu gaguejo. — Você disse que não me queria. — digo, lembrando das suas palavras da primeira noite que dormimos na mesma cama. — Eu não disse nada. Mas mesmo que eu tivesse. Você não sabe agora? — ele respira. — Eu sou um mentiroso. Simplesmente. Igual. A. Você. — ele lambe a pele na parte de trás do meu pescoço, viajando até a minha orelha. Desejo bate no meu estômago. Lutar contra o sentimento é tão impossível como combater Smoke e vencer.

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Abro minha boca e fecho meus olhos em um gemido silencioso, suprimindo a necessidade de voltar a esbarrar nele com tudo o que eu tenho. — Você está tentando me assustar? — eu renego. — Por quê? — ele pergunta, mordendo meu lóbulo da orelha, arrastando os dentes ao longo da borda. — Você está com medo, diabinha? Com medo do que eu posso fazer com você? Ou com medo que você possa amar? Gritar o meu nome? Me implorar por mais? Sim. — Não. — eu minto, olhando para o azulejo na minha frente. — Você está apenas brincando comigo. Tentando me assustar. Você acabou de dizer que é um mentiroso. Isso é uma mentira. Um truque para ferrar com a minha cabeça. — Isso parece uma mentira para você? — ele pressiona contra mim de novo, deixando-me sentir cada centímetro de sua rigidez enquanto desliza contra a minha bunda. A ponta de sua ereção passa por minha buceta nua e a sensação que se segue não é nada como eu já senti antes. Um tipo de corrente elétrica quente. Minha parte inferior do estômago se contrai. Minhas paredes internas espreitam sobre algo que não existe. Não, não, não parece com uma mentira. Parece desejo, confusão e luxúria. Parece estar fora de controle, aventura e possibilidades, e eu quero isso. Eu quero ele. E eu me odeio por isso. — Todas esses contusões e marcas. — ele medita. — E nenhuma delas causadas por mim. — ele arrasta uma mão pelos meus braços e pelo meu estômago. — Uma pena, mas ainda tenho tempo para deixar minha marca em você. Todo o meu corpo fica rígido. Estão tão rígida quanto um cadáver. Smoke ri de mim e estou feliz por estar de frente porque sua risada é pura tortura, fazendo com que sua ereção vibre contra minhas dobras que estão doendo por mais contato. — Você será punida, diabinha. Você pode ter certeza disso. Olho pelo ombro e encontro seus olhos escuros que escurecem ainda mais à medida que suas pupilas se dilatam. Seu olhar persistente ~ 116 ~


vai dos meus pés para meus peitos e volta para o espaço entre minhas coxas. Ele lambe o lábio inferior cheio. Meu estômago salta. Minha vontade de combatê-lo não diminui, mas meu corpo não está entendendo a mensagem. O meu núcleo aperta novamente. Eu viro para encarar o azulejo, cavando meus dentes no meu lábio inferior até provar meu próprio sangue. Seu peito pressiona contra minhas costas, e sua dureza pulsa entre minhas pernas, esfregando minhas coxas internas. Ele coloca um pouco de xampu na mão, trabalhando no meu cabelo. Ele inclina minha cabeça para trás e enxagua meu cabelo, depois desliza sua mão lisa e ensaboada em meu corpo. Estou respirando rapidamente agora. Respirações curtas e rápidas que não consigo controlar. Há um estrondo profundo em sua garganta. Sua mão viaja mais abaixo e mais abaixo no meu estômago até que esteja entre minhas pernas, e ele está trabalhando o polegar sobre o nó inchado, enviando faíscas de necessidade, dores de prazer e uma onda de auto ódio, surgindo dentro do meu corpo maltratado e alma machucada. — O que... o que você está fazendo? — pergunto, vendo flashes de luxúria quente atrás dos meus olhos fechados. — Muitas perguntas... — sua voz é calorosa e divertida. Seus dedos circundam meu clitóris enquanto ele continua a deslizar seu pau duro entre minhas pernas. A construção da pressão é tão forte que rivaliza com o doloroso. Lágrimas escapam dos meus olhos. Estou tão brava comigo mesma por estar excitada. Por Smoke estar certo. Estou tão molhada. Ele sente isso. Não há como ele não sentir. Ele se aproxima. Eu estou como uma pedra, exceto pelos tremores percorrendo meu corpo. Ele lambe a lágrima da minha bochecha e geme. Ele mergulha a ponta do dedo dentro de mim e aperto com a intrusão. É uma sensação diferente. Estranha. Parece errado e certo. Agradável e doloroso. — Sua buceta apertada também está chorando. Pergunto-me se essas lágrimas tem o mesmo gosto. Olho por cima do meu ombro quando ele tira o dedo e coloca em sua boca. Ele geme. — Medo ou desejo. Ambos tem um ótimo gosto para mim.

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Ele coloca a mão entre as minhas pernas. Quando eu tento apertar minhas coxas para mantê-lo fora, ele as abre com o joelho com um grunhido e começa a circular o meu clitóris novamente. Desta vez mais forte. Mais rápido. Estou ficando tão quieta quanto eu posso, mas sinto que algo começa a acontecer dentro do meu corpo. As faíscas que ele acende dentro de mim estão explodindo. Não consigo me segurar. O meu rosto franze enquanto tento lutar contra o orgasmo lutando para sair, mas não serve de nada. Não posso lutar contra isso. É muito forte. Estou tão perto. Arqueio minhas costas sem pensar, pressionando minha bunda contra ele, implorando por mais. Para o que preciso para me empurrar até o limite. Smoke silva. — Oh, o que eu poderia fazer com essa bucetinha bonita. O prazer se constrói e se constrói enquanto ele me acaricia mais. Mais rápido. Estou prestes a gozar em seus dedos quando o sentimento é perdido. Eu me viro. Smoke se foi. Eu não consigo ver através do vapor, então desligo o chuveiro e limpo a água dos meus olhos apenas para ver Smoke colocando a toalha na frente da pia do outro lado do banheiro. A única prova que tenho de que o aconteceu entre nós era real é o seu pau. Duro. Grosso. Enorme. A cabeça inchada e inclinada contra seu abdômen, saltando pelo topo da toalha envolta em sua cintura. — O que... o que aconteceu? — eu digo, apoiando-me contra a parede para obter apoio. Smoke dá um passo para frente, e quando eu recuo, ele se estende e puxa meu mamilo com força. Eu grito e pulo para trás, deslizando no azulejo, caindo de bunda, levando a cortina do chuveiro comigo. Smoke arranca a cortina da minha cabeça e olha para mim com um sorriso triunfante em seu rosto malvado. — O que acabou de acontecer é chamado de punição e essa foi muito branda. Na próxima vez, vou partir essa buceta apertada em duas com meu pau. ~ 118 ~


Ele vai embora, mas para. — Você quer dor? — ele pergunta. — Eu vou dar a você. Você quer prazer? Isso já é algo que você vai ter que merecer. Ele sai, batendo a porta atrás dele. Eu solto uma respiração instável. Eu esperava que o resto do meu tempo com Smoke fosse tolerável, mas não tem jeito. Não agora. Não com a minha pele dolorida com a necessidade. Estou enlouquecendo. Sobre onde estou. Sobre o que é isso. Sobre esse belo e horrível homem malvado. Sinto que já fui dividida em duas. O que Smoke fez comigo foi muito mais do que uma punição. Foi pura tortura.

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Capítulo Vinte e Quatro SMOKE

Problema não é nada novo para mim. Já tive problemas antes. Com a lei. Com mulheres. Com homens com quem trabalhei. Nomeie o problema, e eu garanto que já estive envolvido uma vez ou vinte. Frankie Helburn é um novo nível de problema. Um que meu interior, meu cérebro e meu pau não conseguem concordar. Seu maldito descaramento. Sua audácia. Como ela me desafia. Se levanta contra mim como se eu não pudesse esmagá-la com um único golpe. Então, tem o jeito como ela olha para mim, como se ela quisesse esmagar minha cara. Deus maldito. Fico duro apenas de pensar sobre isso. Ela estava tão molhada que eu podia sentir escorrendo dela mesmo que estivéssemos no chuveiro. Que gostosa ela é. Como ela estava escondendo aquela cintura minúscula, seios cheios e bunda épica embaixo daquele uniforme folgado de garota da escola é um mistério. Agora que eu vi suas curvas em toda a sua glória, não posso jamais esquecê-las. Mesmo maltratada e machucada, a cadela é linda e eu não acho que já pensei em uma cadela como bonita antes. Gostosa? Claro. Sexy? Com certeza. Empinada? Sim. Pronta para foder? Yes. Bonita? Só Frankie.

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Deixei Frankie sozinha no quarto, sem algemas, para que ela possa se vestir. Não é como se ela fosse escapar de novo. Eu cuidei daquela porta do animal de estimação e deixei fechada. Estou na varanda esperando a babá que Preppy enviou nas mensagens de texto e me disse que estaria aqui em breve. Eu espero que ele tenha enviado seu irmãozinho que trabalha com ele ou um dos prospectos do Bear dos Lawless MC. Não é quem aparece. Um som agudo começa de longe e meu pau inchado e Frankie são temporariamente esquecidos. O som vem de um pequeno motor. Um que trabalhei antes. Mais um sibilo do que um rugido. Ele fica cada vez mais alto, e eu sei quem está vindo muito antes da Vespa bebê azul aparecer e fazer uma parada dramática no meio da grama. — Merda! — eu xingo, encolhendo os ombros. Acendo um cigarro e saio para cumprimentar alguém que nunca pensei ver novamente. Alguém que jurei evitar. Minha única parceira e amiga. Rage. Rage desce e tira seu capacete cor-de-rosa revelando seus longos cabelos loiros arrojados em um rabo de cavalo apertado. Ela o ajeita com a palma das mãos. Rage parece uma adolescente típica. É assim que ela escapa sendo uma assassina fria por contrato. A maioria dos homens não conseguem ver além do corpo pequeno e o rosto bonito. Até que seja muito tarde. Rage me vê e não sorri, não reage. Ela agarra sua bolsa do compartimento de armazenamento abaixo do assento e a coloca sobre seus ombros. Ela se aproxima com as mãos na alça. Sua camisa apertada e rosa diz BITCH PLEASE em seus peitos. — Bonita camisa, princesa. — digo. Ela encolhe os ombros. — Bem, eles não tinham uma que dizia SE AFASTE OU MORRA, então fiquei com essa. — Boa decisão. — eu apago meu cigarro. — Surpreso em me ver? — Rage pergunta. ~ 121 ~


— Descontente. — respondo. — Porque está aqui? — Onde está ela? — Rage pergunta, olhando para trás de mim e ignorando minha pergunta. — Se trocando. — eu digo. — Eu não esperava te ver. — Agora ou NUNCA? — ela pergunta com um sorriso que sei ser falso porque eu a vi praticar no espelho um milhão de vezes. Eu encolho os ombros. — Não sei dizer. A culpa que senti desde a noite em que nos separamos nunca foi embora e estar de pé na frente dela agora depois daquela noite me atinge no maldito intestino, e eu quero vomitar e atirar em alguém ao mesmo tempo. — De todas as pessoas, não achei que Preppy te enviaria. Pensei que ele mandaria um prospecto do Lawless. Rage estreita os olhos para mim. — Primeiro, você de todas as pessoas sabe que ninguém me ENVIA à lugar nenhum. Em segundo lugar, ele não me enviou. Ele ia enviar o irmão dele, mas eu me ofereci ao invés. E em terceiro lugar... — ela vasculha em sua mochila e tira o que parece ser uma pequena versão de colete de motoqueiro e encolhe os ombros. — Eu sou uma Lawless. Rage se vira para mostrar o colete e na parte de trás tem o logotipo do Lawless MC. Na frente tem um patch que normalmente teria um título como Sargento de armas, mas o dela tem escrito Não me rotule. — Bonitinho. — eu digo, divertido como todo o inferno. — Ainda não posso dizer que estou surpreso. Só você pode fazer um MC tornar você um membro. O que aconteceu? Achei que não gostava de se amarrar a nenhum grupo. Rage me segue até a casa. — Você quer dizer além das ameaças de violência contra eles se não me deixassem entrar? — Sim, além disso. Ela para na varanda e gira para me encarar. — Você. — Eu? — eu dou uma tragada no meu cigarro. Ela exala e balança a cabeça. — Smoke, você era meu mentor. Meu fodido Dalai Lama. Você era minha única conexão com a humanidade antes de inserir Nolan na minha vida porque sabia que eu precisava dele e dos outros ao meu redor. Não entendi até ele. — ela ~ 122 ~


abaixa a voz. — Você e eu éramos uma equipe, e então você foi embora. Eu queria outra equipe. Eu precisava pertencer a algo novamente. — Achei que você não tinha sentimentos. — digo, a dor no meu intestino aumentando. — Você de todas as pessoas sabe que isso não é verdade. Sou eu que não sabia, mas você me mostrou. E então você me deixou. Ela empurra seu pequeno dedo indicador no meu peito. Eu olho para longe e acendo outro cigarro. — Nós não temos que fazer isso agora. — Temos sim! Você me deixou. Eu não percebi isso naquela época, mas percebi isso agora. Você era como meu irmão. Você era minha família. Então, você foi embora. — Que fodido irmão eu fui. Eu te deixei porque... — eu abaixo minha voz, incapaz de dizer as malditas palavras. — Você sabe por que eu fui embora. — Não, eu não sei. — diz Rage, balançando a cabeça e colocando sua bolsa na varanda. — Eu estuprei você, Rage. — eu digo, meu peito queimando de raiva de mim mesmo. Bile sobe na minha garganta. — Enquanto seu homem era obrigado a olhar. Você não merecia isso. Nolan não merecia ver isso. As pequenas mãos de Rage agarram meu colete. Ela é a única pessoa no mundo que pode fazer essa merda. Qualquer outro homem perderia a mão. — Olhe para mim! — ela grita, puxando meu colete. Eu olho para seus olhos azuis. — Smoke! Não houve estupro! Esse saco de merda nos obrigou a fazer sexo com armas apontadas. Isso não é estupro, e, se for, então, estuprei você também. Porque não foi só você. Você não pode levar toda a culpa. — É diferente para você! — gritei, levantando a voz acima da dela. — Por quê? Por que é diferente para mim? — ela desafia, soltando meu colete e apontando um quadril. Sua cabeça inclinada para o lado. — Porque você estava dopada. Eu vi aquele olhar nos seus olhos que você usava, afastando o mundo à sua volta e rastejando para ~ 123 ~


dentro de sua própria cabeça. Você não estava lá. Eu... fiquei duro. Eu gozei, pelo amor de Deus! Rage rola os olhos e encolhe os ombros. — Eh, cada louco com sua mania. Uma vez eu li sobre um cara que só pode gozar com uma arma na cabeça dele. Ninguém grita estupro se a mulher permite. Isso é biologia, idiota. O que mais tem aí? Porque essa desculpa é tão fraca quanto cerveja sem álcool. EU NÃO ESTOU COMPRANDO ESSA. Rage sorri e desta vez é genuíno. — O que diabos você sabe sobre biologia? — eu pergunto, sentindo o humor se iluminar em torno de nós. Ela não me culpa. Não quer dizer que não posso me culpar, mas talvez eu não tenha que me odiar tanto. Não sobre isso de qualquer maneira. — Além de ser uma especialista em germes, como você sabe, eu também sou formada agora. — Você fez faculdade? — eu olho para ela com descrença. — Em um ano e meio? Ela enruga o nariz. — Mais como uma meia hora. Apenas tempo suficiente para obrigar o reitor em me dar um diploma. É muito bonito também. Eu emoldurei. Está pendurado no meu quarto no MC. Passe lá. Eu vou mostrar para você algum dia. Eu rio. — A mesma velha Rage. — eu digo, depois reconsidero minhas palavras. — E ainda sim não é a mesma Rage. Rage para. — Não se mexa, ok? Eu vou tentar uma coisa. — ela sussurra, dando um passo em minha direção. Eu movo meus pés. Rage é imprevisível, mas ela ainda é Rage e confio nela, embora eu saiba que não deveria. — Ok, mas o que... — Eu disse não se mexa! Eu ainda estou imóvel enquanto seus minúsculos braços se envolvem em minha cintura, e ela inclina a cabeça contra mim. Eu sou muito maior e sua cabeça só chega abaixo das minhas costelas. — Obrigada por me ajudar todos aqueles anos atrás. — diz ela. — Obrigada por ser meu amigo quando eu não sabia o que deveria ser um amigo. Obrigada por me unir ao Nolan, embora você tenha feito isso da ~ 124 ~


maneira mais estranha possível. Obrigada por saber que eu precisava dele antes de eu saber que precisava dele. Apenas obrigada, Smoke. — Eu... — eu gaguejo, sem saber o que dizer. Sinto-me suavizar, e antes que eu saiba, estou colocando uma das minhas mãos sobre sua minúscula cabeça. Beijo o topo de sua cabeça. — Pronto. Acabou! — Rage anuncia, se afastando e batendo palmas. — Agora, vamos matar algo e amarrar seus intestinos como luzes de Natal. — o olhar enlouquecido em seus olhos volta, o que eu conheci e amei desde a primeira vez que vi quando tinha dezesseis anos. — Sim, a mesma velha, Rage. — eu rio. — Você conseguiu que todos esses sentimentos diminuam, não é? Os ombros dela caem. — Sim, mas é cansativo. Há tantas camadas de sentimentos, e às vezes, eu só quero explodir e esquecer tudo, mas... vale a pena. Nolan vale a pena. — Rage aponta para mim. — Você vale a pena. — Obrigado por vir, princesa. — eu digo a ela. E estou falando sério. — Você é muito hospitaleiro. Este lugar não é tão grosseiro quanto pensei que seria, então é uma vantagem. Agora, o que diabos está acontecendo aqui, e por favor, por favor, posso fazer algo envolvendo faca com quem você amarrou lá? Penso em quanto dizer a Rage. — Tudo. Me conte tudo. — ela diz com conhecimento de causa. Ela entra na casa e se aproxima do balcão da cozinha. Balanço minha cabeça e sigo-a para dentro. Eu pego uma garrafa de uísque da mesa e tomo um longo gole. — Você se lembra de Morgan? Rage assente com a cabeça. — Sim, a morena. Te peguei comendo ela um dia. Eu gostava dela. Peitos grandes. Parecia limpa. Limpa para Rage significa muito, já que ela é uma germofóbica, tem TOC e muitas outras coisas pelas quais não conheço os termos específicos. — Ela está morta. — eu digo, olhando para a garrafa na minha mão. ~ 125 ~


Rage não reage porque Rage não reage. Ela levanta o queixo e espera que eu continue. Suspiro. — A versão curta é que eu a encontrei em uma piscina de seu próprio sangue. Cortada em pedaços. Não consegui por nada no mundo descobrir quem fez isso até conseguir uma pista por Griff. Frank Helburn, um hacker desprezível, é quem fez isso, embora não tenha ideia do porquê. A menina no quarto dos fundos? É a filha dele. Estou usando ela para atrair seu velho. — Isso é tudo? — ela pergunta, conhecendo-me melhor do que me conheço. Balanço a cabeça e acendo um outro cigarro e tomo um gole maior de uísque. — Não. Isso não é tudo. Morgan... ela estava grávida de um filho meu. — Então, esta é uma missão de vingança. — diz Rage, balançando as pernas. Não há desculpas em seus lábios porque Rage não dá desculpas. Ela não conhecia Morgan e não é construída desse jeito. É reconfortante de certa forma. É familiar. E foda-se se eu preciso de sua piedade ou de qualquer outra pessoa. Eu concordo. Rage está processando, olhando para o teto, pensando profundamente. Este não é o momento de tentar sacudi-la, a menos que você queira estar na ponta da sua lâmina de cristal. Dou outro gole no uísque e decido que estou feliz que Rage veio hoje. Frankie entra na sala e faz uma pausa quando vê Rage sentada no balcão. Os olhos de Frankie se alargam de surpresa, e ela olha para mim. — Quem é essa garota? — Ela não é nenhuma garota. — eu digo, baixando o uísque. — Essa é Rage.

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Capítulo Vinte e Cinco FRANKIE

— Sente-se. — diz Smoke, puxando uma das cadeiras da mesa da sala de jantar. — Ela está bem? — pergunto, sem tirar os olhos da loira com os shorts brancos e chinelos combinando. Ela é maravilhosa e estranha com aquele olhar robotizado sem piscar seus olhos azuis brilhantes, mas nada menos que maravilhosa. — Depende da sua definição de estar bem. — responde Smoke. — Por que ela está aqui? — pergunto, desconfiada dessa nova pessoa na sala. — Para observar você. Tenho coisas para fazer na cidade. — Me observar? — pergunto. Uma faca, não, uma adaga, voa através da cozinha e aterra com a lâmina na mesa a menos de dois centímetros do meu braço, ela é branca, com o punho cristalino brilhando na luz solar. Eu olho para cima. — Sim, eu vou te observar. — diz Rage, seus olhos agora focados. — Nós vamos ser melhores amigas, tenho certeza. Não há emoção em sua voz e alguma coisa errada sobre suas palavras. Sobre ela. Sobre o jeito que ela me jogou uma porra de uma faca. — Ela é sua... — eu começo a perguntar. Rage ri, sua cabeça jogada para trás. — Negativo, parceiro de crime. — Não posso ir com você? — eu pergunto a Smoke, sem tirar meus olhos de Rage, que agora está me encarando de novo. ~ 127 ~


Ela não está piscando. — Não. — ambos respondem em uníssono. — Ela é bonita, Smoke. Mesmo toda machucada. Eu gosto do cabelo dela. E ela tem olhos de cor de gato. — diz Rage, como se eu estivesse em exibição no zoológico e não na mesma sala. — Mais como fogo. — diz Smoke, me olhando por alguns segundos antes de olhar para longe. Rage joga nele algo que não é uma faca. Smoke cai de joelhos no chão e puxa minha perna para que minha panturrilha esteja contra sua coxa. — O que você está fazendo? — pergunto. — Você sempre tem que questionar tudo? — ele geme, ajustando uma grossa pulseira preta ao redor do meu tornozelo. — O que é isso? — pergunto. — Eu tomarei isso como um sim. — diz Smoke. A pulseira tem um quadrado preto ligada a ela, um pouco menor do que um pacote de cartas. — Isso é segurança. — explica. — Um monitor de tornozelo. — ele verifica para ver se está seguro. — Como alguém em prisão domiciliar? — pergunto, lembrando de ver isso nos filmes, quando o condenado é sentenciado a um tempo em casa em vez da prisão. Eles são monitorados pela polícia e usados para garantir que o criminoso permaneça em casa durante o período de suas sentenças. — Sim, o mesmo conceito. — Exceto que... — Rage canta, apertando os lábios e balançando as pernas para fora do balcão. — isto é muuuuuuito mais divertido. — Como isso é mais divertido? — pergunto, medo surgindo em meu estômago. Os olhos de Rage se arregalam. Ela sorri de forma maníaca. Smoke trava o dispositivo no lugar e coloca a pequena chave no bolso. Ele se levanta. ~ 128 ~


— Basicamente porque vai explodir. — Rage grita de alegria, olhando com um desconfortável grande interesse a pequena caixa agora amarrada à minha perna. — É uma bomba? — exclamo, pulando como se pudesse me afastar da coisa, mas é tarde demais. Smoke continua: — Eu estabeleci os limites na cerca que circunda a prisão. A casa de Zelda está incluída. Se você sair do perímetro, ela lhe dará um sinal sonoro de aviso, então você terá dez segundos para voltar para dentro antes de explodir. O mesmo acontece se você tentar quebrar ou mexer nele de qualquer maneira. — Boom! — Rage sussurra, fazendo um movimento de explosão com as mãos. Terror dança na minha coluna vertebral. — Você colocou uma bomba... na minha perna. — eu sussurro. Eu me sento e olho para a caixa explosiva no meu tornozelo. Smoke sorri. — Você pode ver dessa maneira. — seus olhos se encontram com os meus. — Ou, você pode ver isso como se eu estivesse lhe dando alguma liberdade. — Liberdade... com uma bomba na minha perna. — Smoke acena com a cabeça. Rage ri de alegria. — Mas eu pensei que ela estivesse aqui para me observar. — eu digo. — Como eu disse. Segurança. — Smoke responde. Ele estava me dando o que pedi. Alguma liberdade durante os últimos dias. Nunca na minha vida eu pensei que poderia estar agradecida por uma bomba amarrada na minha perna, mas estou. Smoke segura algo que parece um controle para DVD. — Eu também posso desligá-lo remotamente. — ele diz, colocando-o no bolso de trás. — Oh, posso ficar com ele? — Rage pergunta, levantando as mãos como se estivesse pegando algo no ar. — Não! — Smoke e eu respondemos. ~ 129 ~


Fecho a parte do meu cérebro surtando com o fator explosivo da minha situação e, em vez disso, me concentro no aspecto minúsculo da liberdade. Eu começo a dançar ao redor da cozinha, o peso do monitor do tornozelo me fazendo sentir mais livre do que estive em dias. Smoke me observa inexpressivamente até eu bater diretamente em um armário. O monitor vibra com o impacto, e eu congelo, encontrando os olhos de Smoke. Smoke cobre a boca e percebo que é para esconder um sorriso. Estou desapontada porque gostaria de ver isso. Rage salta do balcão. — É forte. — Smoke cruza os braços sobre o peito. — Não vai sair se você derrubar ou bater nas coisas. Não funciona assim. Eu expiro. — Graças a Deus. — Não. Graças a Smoke, — corrige Rage. — Obrigada, Smoke. — eu digo, e estou falando sério. Por alguns instantes, ficamos de pé, olhando um para o outro silenciosamente até Rage limpar a garganta. — Eu tenho que ir. — diz Smoke. — Voltarei de manhã. Smoke sai da cozinha e se dirige para o quarto de trás onde o ouço atravessar os recipientes de armazenamento. — Então... — eu digo. — Seu nome é Rage. — Sim. É o diminutivo de Ragina. — Não, não é. — diz Smoke, atravessando a cozinha com uma mochila na mão. Ele para na porta e olha para mim, então para Rage. — Vá! — ela diz para ele. — Sem meninos. Sem festas. Sem álcool e sem filmes clássicos. Nós entendemos, Pai. Agora vá! Smoke empurra a porta, balançando a cabeça quando sai. Sigo Rage para a varanda onde observamos Smoke ligar sua moto e sair, passando por uma scooter azul estacionada no quintal. Smoke poderia me deixar algemada. Em uma gaiola, amarrada a uma cama. Me matando de fome. Me torturando. Mas por algum motivo, ele me deu espaço para correr. Uma babá. Um monitor de tornozelo. ~ 130 ~


— Eu sei o que você está pensando... — diz Rage. — Não, você não sabe. — eu argumento. — Eu sei. Você está pensando que talvez Smoke não seja tão monstro, afinal. Merda! — Você está errada, você sabe. — ela canta. — Como assim? Rage passa por mim dentro da casa. — O homem amarrou uma bomba na sua perna. Eu olho para a caixa preta ao redor do meu tornozelo. Merda.

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Capítulo Vinte e Seis FRANKIE

— Você se importa se eu fizer uma pergunta? — estou sentada na varanda da frente em uma das cadeiras de balanço esfarrapadas olhando sobre a paisagem da prisão. Minha curiosidade tomou o melhor de mim, e eu fiquei me perguntando algo desde que Smoke partiu. — Essa foi uma pergunta. — diz Rage. Ela vira a página da revista de noivas que está lendo e faz uma expressão de desgosto. Ela revira os olhos e fecha a revista, jogando-a em cima de uma pilha alta ao lado dela. Ela pega sua bolsa e tira outra, abrindo e fazendo a mesma cara para a primeira página. — Você é muito literal. — observo. — E Smoke estava certo. Você é muito cheia de perguntas. — Rage desiste da revista, afastando-a para o lado. Ela se senta na cadeira e dobra os pés por baixo do corpo dela. — Então, qual é a pergunta mística que você tem para mim? Alerta de spoiler, eu não faço horóscopos. — Como você conheceu Smoke? — É uma história tão antiga quanto o tempo. — diz ela com um suspiro. — Você pode até dizer uma música tão antiga quanto uma rima. — Você está tentando me dizer que vocês são a Bela e a Fera? — pergunto com uma risada. Rage enruga seu nariz. — Não, por quê? — Uh, nada. Rage faz uma pausa para pensar. — Eu acho que você pode dizer que Smoke é o Sr. Miyagi do meu Karate Kid, mas não o vejo há um longo tempo. ~ 132 ~


— O que aconteceu? — pergunto. Rage levanta a mão, examinando as unhas. — Não estava indo bem no dojo. — Então vocês nunca... — eu não sei por que estou perguntando, mas até eu percebo que a pergunta sai ciumenta quando há a possibilidade disso. Curiosa. Isso é tudo o que sou. É a natureza humana ser curioso sobre aqueles que estão à sua volta e, agora os que estão à minha volta são Rage e Smoke. É simples assim. — Isso é muito mais complicado. Nunca nos sentimos assim um pelo outro, mas merda aconteceu, quando fomos obrigados a... — ela coloca um dedo no furo que faz com a mão — ...na mira de uma pistola. — ela acrescenta. Eu não sei o que eu esperava, mas certamente não era ISSO. — Ele se sentiu culpado e caiu fora. Hoje é a primeira vez que o vejo em anos. — Smoke se sentiu culpado? — perguntei, surpreendida. Não pensei que ele fosse capaz de culpa. — Não distorça isso. Esse homem é capaz de muito mais do que você ou até mesmo ele sabe. — Rage responde criticamente. Ela alcança algo atrás de suas costas, tirando a adaga que me jogou antes. Aquela com o punho de cristal brilhante. Ela brinca com ela, girando em sua mão, pressionando a almofada do dedo indicador contra a ponta, testando a lâmina. — Você sabe, — ela começa. — eu vejo o jeito que ele olha para você. Alguns anos atrás, merda, até um ano atrás, nunca teria visto ou reconhecido o que era. Mesmo que eu tivesse, seria apenas uma observação, algo para imitar enquanto estou no trabalho e tenho que fingir sentir o mesmo que todos os outros. — Rage gira o punho da lâmina na mesa entre nós. — Mas eu vi isso hoje. Ele olha para você como se quisesse... — Eu não sei o que você acha que viuRage me corta. — Você é uma garota inteligente, Frankie. Eu posso dizer. Mas você pode ser mais ignorante ao que as pessoas estão

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sentindo do que eu, porque Smoke olha para você como se ele desejasse colocar uma bandeira em você e reivindicá-la para a pátria. Levanto minhas sobrancelhas em questionamento. Rage mexe a dela. — Eu tenho assistido esses filmes emotivos ultimamente. É essa coisa de terapia que meus pais querem que eu tente. A parte de reivindicar as coisas é de Far and Away com Tom Cruise. Ele sai do Oeste e... — ela para. — Deixa pra lá. Provavelmente entendi tudo errado mesmo. Rage olha para a lâmina nas mãos. Sentindo a necessidade de tirar qualquer fardo que esteja em seus ombros, eu digo a ela. — Eu gosto desse filme. Depois de alguns momentos de silêncio, Rage se vira para mim. — Seja honesta. Qual a sua história? Como você acabou no cativeiro de Smoke? — Ele não lhe disse? — Ele me contou o lado dele. Quero ouvir o seu lado. — Por quê? — pergunto. — Porque eu me importo com Smoke, e preciso saber se eu deveria te enterrar no pátio da prisão antes dele voltar. — diz ela. Meus olhos se alargam. Ela revira os dela. — Não se preocupe, eu diria que você desistiu, então ele não me culparia. Nós ainda seríamos amigos. — É bom saber? — eu digo e soa como uma pergunta. Não há dúvida em minha mente que isso é verdade, mas ela fala de forma tão casual, como se estivesse planejando o que comer no jantar ou falando sobre o clima. Eu sei que a lealdade de Rage está com Smoke, eu não sei se posso confiar nela. Na verdade, eu sei que não posso confiar nela. Eu conto a ela tudo mesmo assim. Bem, QUASE tudo. Eu falo pra ela sobre meu pai e como ele foi negligente comigo depois que minha mãe morreu. Sobre ter um nome falso e se inscrever no ensino médio para evitar as consequências dos atos do meu pai. O sequestro. Smoke. Smoke. SMOKE. ~ 134 ~


Eu joguei uma verdade após outra para ela como roupas até que há uma enorme pilha entre nós para ser organizada. — Bem, isso foi... revelador. — diz Rage, torcendo o fim de seu rabo de cavalo na mão. Ela ergue as pernas e senta com elas cruzadas na cadeira de balanço. — Mas eu imaginei. — Imaginou o quê? — pergunto. — Ele deu nome ao bacon. — ela sussurra. Não tenho certeza se ela está falando sozinha ou comigo. — Hã? — Pense em Smoke como um fazendeiro de porcos. — Rage começa a explicar. Não tenho ideia de onde ela está indo com isso. — Deixe-me adivinhar. Eu sou o porco neste cenário? — eu pergunto, apontando para o meu peito. Ela assente. — Sim, nessa metáfora, de qualquer maneira. Smoke ou qualquer pessoa que faz o que fazemos são fazendeiros de porcos e os criadores de porcos não nomeiam seus porcos, eles não os tratam como animais de estimação porque não são. Eles podem estar caminhando, respirando, mas são comida. Você não abraça e brinca com comida. Você não amarra arcos bonitos em volta do pescoço da sua comida. — ela mantém as mãos com as palmas pra cima e encolhe os ombros. — Você não dá nome ao bacon. — E você acha que foi o que Smoke fez? Rage assente. — Oh, Smoke é um nomeador de porcos. Nunca pensei que eu diria isso sobre ele. Mas se ele não for cuidadoso, então em breve ele será um porco... — Rage faz uma pausa e aperta os lábios. Uma onda de riso escapa, e ela cobre a boca com as mãos. — Um fodedor de porco? — eu mal consigo dizer a palavra. Rage e eu olhamos uma para a outra, e nos perdemos de rir até que nossos estômagos doem e nossos olhos lacrimejam. É tão bom rir que, uma vez que começo, não consigo parar. Tenho uma sentença de morte em minha cabeça. Eu fui raptada por um assassino, e estou sentada na frente de outro, que me comparou com um porco que leva a um abate. E estou rindo.

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— Vou te dizer uma coisa. — diz Rage, limpando as lágrimas de suas bochechas. Suas costas se endireitam quando ela me olha nos meus olhos. Sua expressão se torna séria. O sorriso dela se esvai. — Há muito mais em nós monstros do que deixamos transparecer. Olho para a prisão. — Eu acho que estou começando a entender. — Então, qual é o seu próximo plano de ação? — ela pergunta, batendo palmas. — O que faz você pensar que eu tenho um? — eu puxo meus joelhos para o meu peito. Rage olha para mim por um longo momento, então me mostra um sorriso. — Nada me faz pensar que você não tem. Mas, seja lá o que for, é melhor você se mexer. E logo. — Por que? — pergunto, curiosamente. Rage suspira. — Porque, se eu conheço Smoke, você tem muito menos tempo do que pensa.

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Capítulo Vinte e Sete FRANKIE

Você tem muito menos tempo do que você pensa. Eu estou de joelhos, pegando debaixo do colchão as roupas que escondi enquanto as palavras de Rage continuam se repetir em minha mente. Ela não me disse por que achava que eu tinha menos tempo, mas qualquer que fosse o motivo, é hora de experimentar a última dica da Dr. Ida para sobreviver no cativeiro. Sedução. Smoke me quer. Eu vi em seus olhos. Eu senti contra minhas costas. É com tudo o que tenho para trabalhar. Uma esperança. Um sentimento. Smoke só esteve fora por algumas horas. Rage saiu pouco depois de Smoke chegar. Ele não falou uma palavra comigo desde então. Ele está mais frio do que antes. Se Rage estiver certa e Smoke deu nome ao bacon, então talvez ele esteja tentando colocar distância entre nós. Ou talvez, é mais simples do que isso e ele não quer estar ao meu redor. Estou nervosa, tremendo por toda parte enquanto tomo banho e esfrego minha pele com uma toalha de banho até ficar suave. Me seco e escovo meu cabelo, depois me depilo usando a lâmina elétrica que encontro sob a pia. Eu me visto rapidamente e olho no espelho, ajustando o necessário. Meu pulso está batendo nos meus ouvidos quando me olho mais uma vez. Se passaram apenas três dias desde que pulei do carro, mas sempre fui rápida em me curar. Meus hematomas desapareceram quase por completo, exceto pelos arranhões no meu braço direito, que estão com casquinhas. É o melhor que posso fazer com o que tenho. Mas vai ser o suficiente? ~ 137 ~


Respiro fundo e abro a porta do quarto. Encontro Smoke sentado no sofá com os braços esticados sobre o topo, um cigarro na boca. Uma garrafa de whisky a seus pés. Ele parece longe em pensamentos. Suas pernas abertas. Seus braços descansando na parte de trás do sofá. Há um rádio no canto tocando ‘Take it Out on Me’ por Florida Georgia Line. — Eu gosto dessa música. — digo para chamar a atenção de Smoke. Smoke vira a cabeça em minha direção e congela, com cigarro nos lábios cheios. Seus olhos se alargaram quando ele me vê, passando o olhar de cima a baixo. — Que porra você está fazendo? — ele pergunta entre dentes cerrados. Ele está zangado. Sua veia pulsa sob sua tatuagem no pescoço. As narinas inflam. Eu deixo sua ira alimentar minha determinação, e ando com tanta confiança quanto posso reunir até o centro da sala usando apenas um sutiã preto que empurra meus seios para cima e amplifica meu decote, juntamente combinando com uma calcinha fina, não deixando nada para a imaginação. — O quê? — pergunto, fingindo inocência. Olho para o meu corpo. — Você não gosta como estou? — estou provocando ele, ou pelo menos estou tentando. O fogo ardendo em seus olhos me diz que estou fazendo isso muito certo ou muito errado. Não importa. Não posso desistir agora. Eu balanço meus quadris de um lado para o outro, engatando meus polegares nos lados da minha calcinha. — O que você está tentando provar, diabinha? — Smoke late. Suas pupilas se dilatam. — Eu não estou tentando provar nada. — digo, inclinando-me. Pego o cigarro de sua mão e trago antes de colocá-lo no cinzeiro na mesa. Smoke limpa a garganta e balança a cabeça. — Você não sabe o que diabos está fazendo. — ele range. Seus olhos permanecem no pedaço de tecido entre minhas pernas e depois viajam até meus peitos onde meus mamilos endurecem sob seu olhar.

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— Eu acho que sei. — digo em um tom sedutor que pratiquei no banheiro antes. — Grandes palavras para uma garotinha tão pequena. — Smoke diz lentamente. — Eu não sou uma garotinha! — grito, dando um passo à frente, antes de me lembrar do que estava tentando fazer e congelar. Smoke sorri, sabendo que me pegou. — O que exatamente você está jogando aqui, garotinha? Porque, não importa o que aconteça... — ele agarra o whisky do chão e o entorna na boca. Ele engole e abaixa a garrafa, lambendo os lábios. — você vai perder. Isto é o que você pensa. Eu não respondo. Porque estou focada em seus lábios cheios. O jeito que a língua dele arrasta para pegar uma gota de whisky. Merda, se recomponha, Frankie. — Você pode ter vinte e dois anos, mas tudo o que vejo é inocência. Você já foi fodida antes, diabinha? Porque eu estou apostando que não. — Isso importa? — pergunto, passando os dedos pelos meus seios. Meu coração está batendo tão forte que me sacode. Eu nunca imaginei minha primeira vez. Nunca houve minutos suficientes nos dias para mim, sem tempo para fantasias ou devaneios. Mesmo se eu tivesse imaginado, tentar seduzir meu sequestrador enquanto tremo enquanto o chão abaixo de mim está se mexendo, provavelmente não teria vindo à mente. Eu coloco meu melhor sorriso e abro meu sutiã com os dedos trêmulos. Lentamente, eu deixo cair. Ele está observando todos os meus movimentos. Quando meu sutiã bate no chão, a boca se abre, mas ele rapidamente se corrige como se já tivesse aguentado muito. — Já vi muitas mulheres nuas antes. Eu já vi VOCÊ nua antes. Você não vai me chocar, diabinha. — Eu não estou tentando te chocar, Smoke. — digo, arrastando seu nome nos meus lábios como se eu estivesse curtindo o jeito que ele soa rolando da minha língua.

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— Você está jogando um jogo muito perigoso, garotinha. — avisa Smoke. — Pare antes de perder. — Então jogue comigo. — eu digo, esfregando círculos em torno de meus mamilos endurecidos com os dedos. A maneira como ele me observa me faz querer agarrar sua cabeça e empurrar seus lábios contra meus seios. — E nós dois vamos ganhar. — Eu não fodo por aí. Este é o seu último aviso para parar com esta merda antes de terminar em uma posição que você vai se arrepender... — suas pálpebras estão pesadas. — E eu vou gostar. — Eu só quero me sentir bem. Você não quer se sentir bem? — eu coloco minha mão dentro da minha calcinha e esfrego meu clitóris dolorosa e lentamente. Eu tenho que fazer um show para ele, fazer ele me querer. Isso supostamente era algo falso. Então por que estou tão molhada? — Tudo bem, diabinha. — Smoke sorri maliciosamente. — Você acha que pode lidar com isso? Então, venha em frente, porra. Ele abaixa o zíper de sua calça e a empurra para baixo o suficiente para revelar o V embaixo. Isso leva a sua trilha de abdômen para uma protuberância muito grande que se estende sob o tecido de sua cueca boxer. Dúvida. Pânico. Preocupação. Inquietação. Terror. Horror. Tudo cai em mim de uma só vez, juntamente com uma onda de excitação tão forte e tão inesperada que cambaleio em meus pés, embriagada com ela, com a luxúria. — Uma foda é uma foda. Não vai comprar a sua liberdade. Isso não é tão fácil. Eu me ajoelho no chão e espalho meus dedos em suas coxas duras, esperando que ele não consiga me sentir tremendo. Eu sorrio para ele através dos meus cílios e lambo meus lábios. Ele agarra meu pulso grosseiramente. — Não é brincadeira, garotinha. Você se acha inteligente, e eu sei que há muitos filhos da puta que cairão nessa besteira, mas no caso de você não ter notado, não sou como outros caras. Eu posso ver exatamente essa encenação. Eu não vou comprar isso. Então, vou te avisar uma última vez antes que a merda fique real e sua buceta esteja cheia de pau e sua cabeça

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cheia de arrependimento. Você não pode comprar sua liberdade com buceta porque sua liberdade não está. A. Venda. — Não é uma encenação. — minto, defensivamente. Eu tento puxar meu pulso de seu aperto, mas ele me segura mais apertado, suas unhas mordendo minha carne. Eu engasgo. Uma corrente passa entre nós e eu sei que ele também sentiu, porque nossos olhos caem para onde ele está me segurando. Isso atravessa minha pele e volta para a dele. Smoke me solta tão de repente que eu caio de volta no tapete. — Tudo bem, faça do seu jeito. Eu estou aceitando seu blefe. Ele se aproxima e me agarra de novo, me forçando a ficar de pé. Ele passa minha calcinha pelas pernas e geme quando vê a umidade nas minhas coxas. Ele se inclina para trás no sofá, os braços espalhados pelas almofadas. Sua voz profunda diminui para um estrondo. — Pegue meu pau e me monte. — ele ordena, sua voz baixa. Rude. Exigente. Calafrios dançam pela minha espinha. Olho para a grande protuberância entre as suas pernas e engulo com força. — Eu... eu... — eu gaguejo. Eu esperava excitá-lo, mas nunca esperava excitar a mim mesma. Além disso, eu meio que esqueci a parte em que, quando se trata disso, não sei o que diabos eu realmente estou fazendo. Merda. — O que há de errado? — Smoke pergunta, sorrindo. — Mudou de ideia? Não, eu simplesmente não sei o que fazer. Eu balanço minha cabeça e tento segurar minha respiração. Smoke curva o dedo para mim. — Agora. — ele ordena. Eu me aproximo, de pé na frente dele com os joelhos contra as almofadas. Ele se estende, me agarra pela cintura e me coloca sentada em cima dele, para que eu esteja contra seu corpo grande, minhas

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pernas abertas, enquanto sua protuberância dura cutuca minha entrada nua por dentro de sua cueca. A corrente entre nós dispara novamente, exceto que desta vez vai direto para o meu núcleo. Fecho meus olhos e gemo com a sensação. Eu os abro de volta e encontro Smoke olhando para mim com confusão e admiração. Há uma mudança no ar ao nosso redor e agora eu imagino que, neste momento, ele não é meu sequestrador e não sou sua prisioneira. Ele é apenas um lindo homem muito difícil e eu sou apenas uma garota solitária morrendo de fome por contato humano. — O que... o que foi isso? — eu pergunto. Minha voz é instável. Minha respiração é curta. O verdadeiro medo e luxúria atravessam a máscara que eu estive usando, e aperto minhas coxas ao redor dele porque EU TENHO QUE FAZER ISSO. A boca de Smoke se abre. Seus dedos cavam nos meus quadris. Ele pode ver agora. Ele pode me ver. A verdadeira eu. Estou aterrorizada e entusiasmada. Minha pele está corada. Minha umidade está molhando sua boxer. Ele pega meus pulsos e os liga com as mãos atrás das minhas costas, mantendo-me no lugar. Ele olha profundamente em meus olhos como se pudesse ver todos os meus pensamentos, meus sonhos, todos os meus pesadelos. Toda a minha mentira. Meus mamilos estão impossivelmente duros. Dolorosamente duros. Ele sopra uma respiração sobre eles, e eu largo a cabeça para trás com a sensação. Ele me puxa contra ele, e quando meus mamilos encontram a pele quente e macia de seu peito musculoso, eu gemo. — Caralho! — ele xinga, soltando minhas mãos. Eu as coloco em seus ombros. As mãos dele voltam para os meus quadris. Ele me move. Me balançando contra ele. Seu pau duro esfrega implacavelmente contra o meu clitóris, enviando essa mesma corrente elétrica uma e outra vez com cada deslize. Meu estômago inferior se aperta. Minhas coxas flexionam involuntariamente em torno de suas coxas musculosas, e o gemido que sai dos seus lábios vibra ao meu núcleo. Foda-se os jogos, mesmo que seja eu quem começou. Agora, só quero mais. Muito mais. Eu o quero. ~ 142 ~


Meu corpo não pode mentir. Minhas reações a ele são reais. Minha necessidade é real. A pressão se construindo na parte inferior do estômago ameaçando explodir é muito, muito real. — Isso é tão fodido. — eu sussurro. — Faz isso ser ainda melhor. — diz Smoke, seus lábios na minha clavícula, suas mãos na minha bunda. Eu sei que isso é fodido. Eu sei que está errado. E ele está certo. O errado nisso está apenas me fazendo querer mais. Se eu vou morrer, não quero ir sem saber o que é ter um homem dentro do meu corpo. Este homem. Esse monstro. Eu sou seu monstro. Suas palavras ecoam no meu cérebro. A pressão está aumentando. Os músculos de Smoke se flexionam debaixo de mim, meus mamilos esfregam contra seu peito. Meu clitóris está doendo. — O que... o que está acontecendo? — pergunto, embora eu não saiba porque estou perguntando. Os olhos de Smoke se tornaram incrivelmente escuros. Ele arrasta a almofada do polegar nos meus lábios. — Eu não faço ideia. — ele diz, empurrando a outra mão para dentro do meu cabelo. Ele puxa a parte de trás da minha cabeça, faz uma pausa por um momento, depois pressiona meus lábios contra os dele. Um beijo. Smoke está me beijando. Seus lábios são duros, mas suaves. Sua barba faz cócegas nas minhas bochechas. Sua língua procura a entrada, e quando eu dou a ele, gememos nas bocas um do outro enquanto nossas línguas dançam uma dança desconhecida onde já conhecem todos os movimentos. É áspero e duro, terno e carente. Ele puxa meu cabelo mais forte, e a dor abrasadora dá lugar a um prazer ainda maior. Eu me afundo descaradamente contra seu colo. Nossa conexão é como TV estática. Ruidoso e confuso. Um milhão de pontos em preto e branco voando um ao outro de uma só vez. Não faz sentido, mas não precisa. Não estou no controle. E pela primeira vez na minha vida. Eu não quero estar. Nunca senti nada assim. É bom demais para parar. ~ 143 ~


Muito bom para ser real. Tenho certeza agora de que não estou beijando o homem que me raptou. Eu não tenho que fingir mais. Porque eu realmente estou beijando o homem que vi no outro lado da rua. Aquele que chamou minha atenção sem dizer uma palavra. O homem mais bonito que já vi. Estou desesperada para dar o meu corpo ao homem que pode muito bem ser aquele que tira minha vida. E agora não me importo. Porque nos braços de Smoke, me senti viva.

SMOKE

Eu sei que não há limite para o que Frankie vai fazer para ganhar sua liberdade. Por mais que eu diga a ela o contrário, sei que ela é inteligente, capaz, e acabei de saber o que mais ela é, quando veio para a sala de estar vestindo quase nada. A garota é esperta pra caralho. Ela não estava esperando que eu brincasse com ela. Que eu considerasse foder, passando do ponto que não havia como voltar atrás. Não quando ela tem em mente uma foda toda planejada. É um show. Uma farsa. Eu deveria dar o fora e dar a ela o que nem percebe que está pedindo. Eu deveria foder com seu pequeno rabo sem antes prepará-la e mostrar a ela que truques não a levarão à qualquer lugar, senão minha cama para ser fodida. Mas eu não faço. Pelo menos ainda não. Não quando o cheiro de sua buceta úmida atinge minhas narinas e me torna estúpido. É um erro cair no jogo dela, mas porra, erros não deveriam ser tão bons. Quero entrar na doce e inocente buceta de Frankie. Quero bater nela com cada pedaço de ódio e desejo nas minhas veias. Ela está jogando, e você está deixando.

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Foda-se minha voz interior. Foda-se tudo, exceto o aqui e agora. Porque no agora, eu tenho uma mão enfiada no grosso e sedoso cabelo de Frankie. Eu puxo e ela engasga em minha boca, fazendo meu pau pulsar em resposta. Eu aprofundo o beijo, mergulhando minha língua em sua boca porque quero mais dos lábios exuberantes e sua língua macia. Estou mais duro do que nunca. Eu a quero mais do que jamais quis um pedaço de bunda. Minto para mim mesmo. Eu digo que estou caindo em sua sedução para lhe ensinar uma lição para não brincar comigo. Para mostrar a ela que não vou ser manipulado, mas esses pensamentos se desvanecem quando ela pressiona contra meu pau com sua buceta quente e molhada. Ela está pingando por mim. Não há dúvida em minha mente de que Frankie me odeia. Como deveria. Mas, truque ou não, ela me quer. Ela quer isso. Talvez ela não quisesse querer, mas não dá para confundir a luxúria em seus olhos. Seus suspiros de prazer. A separação de seus lábios grossos me faz imaginar eles embrulhados em torno do meu pau, levando-me no fundo da garganta. Minhas bolas se apertam. Minha espinha formiga. Eu estou francamente voraz por ela. Seu cheiro, seu gosto. Sua maldita insubordinação. Seu medo. Quero toda ela e quero tudo de mim dentro dela. Eu vou explorar cada centímetro de seu corpo perfeito com a minha boca, dedos e com meu pau dolorido. Seus mamilos estão duros e estão na minha cara, criando uma urgência para dominar seu corpo, sua mente, sua maldita alma, estou prestes a detonar. Eu me masturbei três vezes desde o incidente do banho, imaginando seu traseiro no ar, as costas arqueadas enquanto ela se inclina contra a parede do chuveiro. — Eu preciso de mais. — eu gemo. — Mais? — ela pergunta sem fôlego. Eu pego ela pela cintura e cavo meus dedos na curva de seus quadris. Eu guio para que ela esfregue sua buceta quente contra mim com mais força. ~ 145 ~


— Eu preciso de tudo. — minha voz engrossa. Nós estamos respirando um no outro. Devorando a boca do outro. Se o mundo queimasse ao nosso redor, eu não notaria. Eu não pararia. Estou pendurado por um fodido fio. A boca de Frankie é gostosa, e eu me pergunto como é o gosto de sua buceta em comparação. O gosto dela que provei no chuveiro durou. Não importa quanto tempo tenha passado, nem quantas vezes eu escovei os dentes ou bebi whisky, nada foi capaz de tirar o gosto da minha língua. O pensamento me faz gemer em sua boca, e eu a esfrego mais forte contra mim. O calor de sua buceta no meu colo é como uma droga maldita. Mais forte e mais viciante que o sopro. Ela é cocaína com pernas, e eu sou um viciado antes mesmo de ter saboreado. O telefone vibra na mesa lateral. Eu me estico cegamente para desligá-lo, mas não consigo alcançar. Eu me inclino para bater no botão de ignorar quando leio as palavras que batem os freios deste trem antes que ultrapasse as trilhas e caia na porra da estação. PEGUEI UMA PISTA SOBRE FRANK HELBURN ONTEM. FEZ UM RÁPIDO LOGIN NA DEEP WEB. TRABALHANDO NA LOCALIZAÇÃO DELE AGORA. NÃO VAI DEMORAR PARA QUE O FILHO DA PUTA SEJA NOSSO. ENTRAREI EM CONTATO. Meu cérebro ainda está processando o texto quando outro balde de água é mergulhado sobre nossas cabeças, enquanto Zelda entra pela porta da frente carregando um prato de caçarola fumegante. — Porra. — Frankie amaldiçoa, apertando-se mais forte contra meu corpo para esconder sua nudez. Zelda não parece nem um pouco chocada. Ela coloca o prato no balcão e nos olha com uma sobrancelha levantada e uma mão no quadril. — Merda, Rage estava certa. Você realmente deu nome ao bacon.

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Capítulo Vinte e Oito FRANKIE

Smoke foi embora. Olhos rígidos e frios no lugar dos cheios de luxúria apenas alguns segundos antes. Ele me tirou de seu colo e me jogou minhas roupas como se nada tivesse mudado entre nós quando TUDO mudou. Ele deu alguma desculpa sobre ter que dar um telefonema e ter alguma merda para fazer, deixando-me sozinha com Zelda. Eu armei para seduzi-lo, mas no processo, consegui me seduzir diretamente para seus braços. Idiota. Olho para o pátio da prisão e penso em fugir, já que sei que Zelda não seria responsabilizada por minhas ações, mas lembro-me do monitor de tornozelo preso à minha perna. Me explodir parece um pouco contraproducente. Estamos sentadas no deck de trás em silêncio, canecas de chá nas mãos. Os lábios de Zelda estão comprimidos, como se estivesse tentando não sorrir. — Nós vamos falar sobre o que você viu ou você vai apenas sentar ai e tentar não rir? — pergunto, agora totalmente vestida. Puxo meus joelhos para cima e suspiro. — Oh, Frankie. — ela diz com uma risada. — Eu vou fazer o que todas as boas mães escocesas fazem e tecer essa situação em uma lição de vida que você não entenderá. — ela balança a cabeça. — Assim que eu descobrir como. — Eu estarei esperando. — digo. — Enquanto está esperando, talvez você devesse fazer algo para ocupar seu tempo. — diz Zelda. — Você tem algum hobby?

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— Não. — eu digo. — Eu não sei muito sobre minha mãe. Ela morreu quando eu era jovem, mas encontrei um monte de pinturas no sótão uma vez com o nome dela. Sou boa em desenhar, mas sempre quis experimentar minha pintura. — Por que ainda não tentou? — Zelda perguntou. — Eu estive... preocupada. Um grande cachorro amarelo vem saindo do mato com uma cobra em sua boca, a cauda balançando orgulhosamente de um lado para o outro. Ele só tem um olho. — Você conheceu O Guardião? — perguntou Zelda, inclinando-se para coçar atrás das orelhas do cachorro. Ela tira a cobra preta de sua boca. Ainda está viva, sibilando e mostrando as presas. — Oh. — ela diz, arrancando a cobra de sua boca e jogando sobre a grade. — Ele perdeu o olho lutando contra uma cobra. Parece que ainda não aprendeu a lição. O cachorro vem até mim, descansando a cabeça no meu colo. Ele fecha os olhos e suspira enquanto coço seu pescoço. Ele obviamente não é um daqueles cães que precisam de tempo para se acostumar com pessoas novas. — O Guardião? — pergunto, acariciando sua cabeça em longos traços lentos. O cão faz um barulho que parece curiosamente com ronronar, mantendo os olhos fechados. — Esse é o nome dele? Zelda ri. — Toda prisão precisa de um guardião. Eu o nomeei antes de perceber que ele é tão severo e atento quanto um coelhinho. Bom em pegar cobras, no entanto. Se ele simplesmente as matasse, ao invés de tentar ser amigo delas... Minha mente volta para Smoke. O cão não é o único que precisa aprender essa lição. Eu me mexo na minha cadeira. O Guardião olha para mim com um olho aberto como se dissesse que não gosta de ser empurrado por aí. Eu coço entre seus ouvidos um pouco mais, e seu olho fecha mais uma vez. Sua perna traseira salta do chão em apreciação. — Ele é completamente ameaçador. — eu brinco. — Nem todos os que parecem ameaçadores são ameaças de verdade. — comenta Zelda. E eu sei, instantaneamente, que ela está ~ 148 ~


falando sobre Smoke. Eu paro de acariciar o cão que só permanece um segundo mais antes de se lançar no quintal para pousar a barriga na grama sob o sol brilhante, com a longa língua saindo do lado de sua boca. — Não tenho tanta certeza sobre isso. — digo. Sinto-me desapontada, idiota e rejeitada, e ainda mais estúpida porque tudo isso é ridículo. Eu sou uma prisioneira que está prestes a ser oferecida para o abate, não uma garota que foi abandonada antes do baile de formatura. — Smoke te contou como nos conhecemos? — Zelda pergunta, então, sem esperar que eu responda, acrescenta: — Claro, ele não contou. Ela para de tricotar e olha para o pátio onde O Guardião agora está coçando as costas contra a grama em uma espécie de dança estranha, deslocando os quadris de um lado para o outro com as pernas no ar. — Smoke era apenas um menino. Tinha cerca de nove anos de idade. Barney, meu falecido marido, era um homem aposentado da Marinha. Ele encontrou Smoke coberto de sangue e terra, vagando ao redor do pátio da prisão. Ele estava meio morto de fome e seus olhos... seus olhos eram estranhos. Barney me ligou, e tentei convencer o menino a entrar em casa, dar banho, comida e abrigo, mas ele nos olhou como um animal selvagem. Ele avançou em mim com uma faca. Felizmente, meu marido o socou antes que ele pudesse me alcançar. O fez desmaiar. Ela ri como se fosse uma boa lembrança e não a cena de abertura de um filme de terror onde todos morrem no final e o assassino em série se dirige para outra cidade para começar sua série de assassinatos novamente. — O que aconteceu depois disso? — Enquanto Smoke estava desmaiado, eu o banhei e lavei sua roupa, mas ela estava tão desgastada que se desfez na lavagem, então ajeitei algumas das coisas de Barney, diminuindo-as para que coubessem nele. Coloquei um pouco de comida ao lado da cama. Quando ele acordou, desapareceu novamente. A comida desapareceu da mesa de cabeceira, mas as roupas ainda estavam no pé da cama.

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— Onde você o encontrou? — pergunto. Em algum nível, estou começando a me identificar com a criança que ela está descrevendo, e isso se assenta como uma pedra no meu intestino. Zelda suspira, juntando as sobrancelhas, ainda perturbada com o que quer que ela estivesse lembrando. — Ele estava sob a varanda no pequeno espaço. Nu. Comendo o cozido de carne e biscoitos com a mão, como um animal selvagem. Ele estava empurrando em sua boca tão rapidamente que estava sufocando. — Como você conseguiu que ele saísse? — pergunto, meu coração apertado pelo jovem Smoke. — Ele saiu sozinho, depois de um tempo. Ele me deixou vesti-lo, mas não falava, apenas me observava como se eu fosse um alienígena. Nós tentamos fazê-lo nos contar quem eram seus pais. Quando não conseguimos tirar isso dele, decidimos chamar a polícia, mas ele deve ter nos ouvido falar porque ele sumiu antes de chegarem. O Guardião saltou quando um pássaro pousou no quintal. Ele latiu e correu atrás dele de volta para o mato. — Nos próximos anos, ele vinha de vez em quando. Às vezes, ele estava enlouquecido como quando o encontramos pela primeira vez. Às vezes, ele simplesmente deixava flores selvagens na varanda da frente para mim. Ele nunca ficava a noite, não importa quantas vezes pedimos. Ele nunca tirou nada de nós mais do que uma refeição. Comecei a colocar roupas e comida na caixa da varanda para que ele pudesse vir e levá-las sempre que quisesse. Depois de um tempo, deixei outras coisas lá. Às vezes, ele as pegava. Às vezes não. Anos passaram assim até o meu Barney morrer. Smoke era adolescente. Então, foi Smoke quem começou a deixar coisas para mim. Flores. Dinheiro. Presentes. — Zelda toma um gole de chá. — É por causa dele que eu consegui manter esta casa depois que meu Barney morreu. Eu sei como é crescer sendo negligenciado. Não nesse tipo de escala, mas em algum nível. Meu coração se quebra com a versão infantil de Smoke. Lá fora sozinho no mundo. Tendo que encontrar o seu próprio caminho. Eu percebo que a dor no meu peito não é apenas por ele. É por mim também. Eu me aproximo e pego a mão de Zelda na minha, que ela cobre. Ela fecha os olhos, e quando os abre, uma única lágrima escorre pela bochecha, ficando presa nas muitas linhas de seu rosto. ~ 150 ~


— Ele ainda cuida de mim, às vezes de longe. — Zelda diz e olha para a porta de tela caindo da dobradiça e para os trilhos da varanda que está apodrecendo e desmoronando diante de nossos próprios olhos. — É por isso que eu cuido da casa principal para ele, então quando ele está por perto, tem um lugar para ficar. — E você ainda faz a comida. — digo, lembrando dos biscoitos e o molho da minha primeira manhã na prisão. — Sim. — ela sorri. — Espera, a casa principal? Você quer dizer a cabana do Guardião? Zelda assente. — Sim. Esta casa, a cabana do Guardião e a prisão foram misturadas em uma parcela de terra. — Quem é o dono? — pergunto, já sabendo a resposta. — Smoke, querida. Smoke é dono de tudo. — Por quê? — eu olho em volta do mato para o prédio da prisão principal, desmoronando e cheio de graffiti. — Quero dizer, se ele pode pagar por tudo isso, com certeza ele poderia comprar uma casa em algum lugar que não seja tão... parecido como uma prisão? — Às vezes você não consegue escolher onde se sente em casa. Às vezes, a casa escolhe você. — diz Zelda, limpando a mão em seu avental. — Zelda, por que você acha que ele tentou te afastar todos aqueles anos atrás? O que aconteceu com ele? — Ele não estava nos afastando. — argumenta Zelda. — Muito pelo contrário. Fazia assim porque não queria trazer seus problemas para nossas vidas. Você não vê? Ele estava nos amando, da única maneira que ele sabia. — Ficando longe de vocês. — digo com compreensão que começa a aparecer. — Sim, e receio que ele ainda pense dessa maneira, não importa quantas vezes eu tente dizer a ele o contrário. — Zelda sorri e balança a cabeça. — Eu queria que as coisas fossem simples, mas Smoke... ele não é um homem simples. — Mas vocês dois são próximos agora? Quero dizer, vocês parecem próximos. — eu digo. ~ 151 ~


— De certa forma, sim. De outras... bem, algumas coisas nunca mudam. — Zelda se levanta. — Vou buscar mais chá. Ela me deixa sozinha na varanda. Eu ouço latidos ao longe e vejo Guardião com outra cobra na boca. Ele está jogando no ar como se fosse um Frisbee. Meus olhos caem na caixa, no canto da varanda, e não posso evitar minha curiosidade. Ajoelho e levanto a tampa de metal enferrujada. Está vazia... exceto por um buquê de flores silvestres frescas. Zelda volta para o deck assim que Smoke aparece carregando um enorme pacote de madeira sobre o ombro. Ele está sem camisa, usando apenas seu jeans, botas e um par de luvas de trabalho. Seu corpo tatuado brilha com suor. Seus longos cabelos escuros estão amarrados em um nó no topo da cabeça. Ele coloca a madeira com facilidade na frente da cerca em ruínas e, com as mãos, ele pega um antigo tronco desintegrando e o levanta do chão, jogando-o ao lado com facilidade antes de substituí-lo por um novo. Zelda me vê observando-o. — Você sabe, só porque um relacionamento não é como a forma padrão que foi ensinado na escola não significa que ele não se encaixa. Podemos não ser triângulos ou quadrados, mas ainda somos formas. Aquele garoto lá. — ela diz, apontando a xícara de chá para Smoke. Parece estranho ouvi-la chamando-o de garoto, especialmente quando ele levanta outro tronco do chão com uma mão. — Ele é meu filho em todos os sentidos. Nem todo filho requer três refeições por dia e uma história na hora de dormir. Alguns só precisam de uma caixa na varanda e a liberdade de correr livremente. Ela dá uma sacudida em meu ombro. — Apenas dê a ele um tempo. Tempo para quê? — Tempo não é algo de que tenho muito. — digo, olhando para minhas mãos. Zelda não pergunta o porquê, e eu suspeito que ela sabe muito o que não estou lhe contando. Ela aperta meu ombro novamente e suspira. — Tempo não é algo que nós realmente temos. Não mesmo. Olho para o meu colo. ~ 152 ~


— Rage estava certa, você sente algo por ele. — Zelda diz, observando minha expressão. — Eu não posso te culpar. Eu mesma sempre fui atraída pelos complicados. Meu Barney é o mais complicado de todos. Meus olhos encontraram os dela. — Eu sei tudo, querida. — ela diz com um sorriso gentil. — Deixeme te dizer uma coisa. — ela se inclina perto e suavemente coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, agarrando minha bochecha. — Nunca subestime uma mulher, especialmente você mesma. Nós estamos no comando apesar do que qualquer um poderia dizer ou pensar. Você tem mais controle sobre sua vida do que você se dá crédito ou culpa. Além disso, Smoke parece pensar que não sente as coisas como uma pessoa normal. Que ele nasceu sem consciência ou coração, mas ele está errado. — Está? Ela assente com a cabeça. — Está. Não é que ele não sinta nada, é que sente tudo. E para um homem capaz de tais atrocidades, é difícil para ele justificar de outra maneira. E cai a ficha. Eu tenho culpado Smoke por me raptar e me manter como refém, mas na verdade, nada disso é culpa dele. É minha. Eu sou aquela que roubou o dinheiro de Griff e colocou as rodas em movimento. Eu sou aquela que embarcou em algum tipo de cruzada na deep web para salvar o mundo sem pensar direito as consequências de minhas ações. Zelda e O Guardião me fazem pensar em tudo que eu tinha no mundo antes de ter sido trazida para cá, e não era muito. Uma espécie de amizade com Duke. Uma coisa de amor-ódio unilateral com o gato intrometido do vizinho. Smoke não é o problema, eu percebo. Ele é a consequência.

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Capítulo Vinte e Nove SMOKE

Griff está perto de encontrar Frank. Logo, a vingança será minha. Estou chocado de que Griff teve uma pista sobre Frank. Eu estava começando a acreditar em Frankie quando ela disse que seu velho não apareceria, que não se importava com as ameaças. Mas era difícil se concentrar em vingança depois daquela tempestade no sofá e da mensagem de Griff. Eu acho que preciso de uma liberdade, assim como uma vítima de mordida de cobra precisa de antidoto. Estou morrendo, ou já estou morto, porque as visões de Frankie esfregando sua gostosa buceta para cima e para baixo no meu colo são tudo o que posso ver. Mesmo o trabalho físico duro de substituir as cercas de Zelda, não me cansou o suficiente para impedir que minha imaginação ficasse selvagem com o que poderia ter acontecido. O que eu queria que acontecesse. O que Frankie queria que acontecesse. Depois de levar Frankie da casa de Zelda, passei metade da noite na mesma cama com ela, tentando fingir que essa coisa não era nada. É melhor assim. Eu prometi que a entregaria a Griff. Esse era o acordo. Não posso voltar com a minha palavra quando Griff foi quem me deu a ordem de pegar Frank Helburn para começar. Frankie está dormindo. Seu corpo quente a poucos centímetros do meu. As cobertas escorregam e eu estou encarando um mamilo rosado perfeito em um peito macio e pálido que foi feito para minha boca. Eu estou muito duro. Eu salivo, imaginando minha língua batendo contra seu mamilo. Chupando. Fazendo-a gemer enquanto ela está na minha boca. Imaginando-a molhada e pronta para eu tomá-la de qualquer jeito que eu quiser. Limpo minha boca com a parte de trás da minha mão. Eu sou a porra de homem crescido, e estou babando.

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Eu tenho necessidades. Eu sou um homem. Isso é o que essa merda é. Eu escorrego da cama e me certifico de que a algema que a prende na cama esteja presa. Saio da casa, pego minha moto e dirijo para um bar local. Em poucos minutos, acho uma ruiva peituda e disposta, que levo de volta para casa. Trago a ruiva para a sala de estar, mas deixo a porta do quarto aberta. Eu digo a mim mesmo que é porque eu quero me certificar de que posso manter um olho em Frankie enquanto dorme, mas quando a ruiva desliza meu zíper para baixo, percebo que é porque eu quero manter meus olhos nela. Quando meu pau entra na boca da estranha, parece errado. Tento fechar os olhos, mas tudo o que vejo é Frankie. Eu os abro novamente, e tudo o que vejo agora são lábios vermelhos brilhantes e sombra de olhos azul escuro balançando para cima e para baixo no meu pau. Eu me sinto amolecendo. Olho para o teto e passo os dedos pelos cabelos ruivos, empalando-a no meu pau. Ela faz um som sufocado seguido de um gemido, e eu levanto meus quadris para foder sua boca, mas não consigo alcançar a liberação que está tão próxima. Eu apenas preciso… Um som de clique chama minha atenção para longe do teto. Meus olhos pousam em Frankie que se deslocou na cama. Ela está acordada. O tilintado era a algema mexendo contra a cabeceira da cama. Seus olhos estão abertos e olhando diretamente para mim. Selvagem e ofendida e outra coisa. Ciúmes? Excitação? A verdade é que eu estou mantendo meus olhos fixos sobre ela, porque é a única coisa me levando ao limite. É a boca de Frankie que estou imaginando enquanto eu fico mais grosso. Mais duro. É o gosto da buceta de Frankie na minha língua que está me fazendo foder a sua garganta. Eu quero que seja Frankie quem vai engolir cada gota do que eu lhe dar. A ruiva aparece e rola uma camisinha ao longo do meu comprimento. Ela se ergue e me pega pelo pau, mas antes que ela tenha a chance de sentar em mim, giro-a pelos quadris para que ela esteja de costas para mim. Empurro-a pelos ombros para que fique ligeiramente inclinada e não bloqueie minha visão de Frankie, que ainda está observando, mas a ruiva não a vê.

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Depois de alguns gemidos exagerados, ela gozou ou fingiu, mas eu não poderia me importar menos. Eu pego seus quadris e assumo o controle, mesmo que ela esteja por cima. Eu a empurro bruscamente enquanto fixo os olhos em Frankie com toda a intenção de incomodá-la ou sorrir para ela ou irritá-la. Punição pelo que ela fez comigo, mesmo que ela saiba ou não. Mas não consigo fazer isso. Estou muito perdido em seus olhos. Quando eu gozo, não afasto o olhar do dela, enquanto gozo mais forte do que nunca, tanto que estou vendo estrelas. Estou tão perdido que passa um tempo antes de eu voltar, mas quando faço, a ruiva desapareceu, minhas calças permanecem abertas, e os olhos de Frankie estão fechados novamente. Tomo um banho rápido, sentindo-me pior do que antes de sair em busca de um alívio que nunca veio. Eu deveria me sentir melhor. Mais poderoso. Eu mostrei a ela quem estava no controle, e, em troca, nunca me senti tão fora. Porque uma inspirada em seu cheiro no travesseiro, uma pequena provocação de sua essência, e qualquer satisfação que eu possa ter sentido antes, desapareceu, e estou duro como pedra novamente. Meu estômago é um poço oco. Minha alma estava mais negra do que esta manhã. Deslizo na cama e a alcanço, puxando-a contra meu peito. Ela tenta se livrar do meu alcance, mas a mantenho firme até ela parar de resistir. — Sssshhhh... — eu digo a ela. — Volte a dormir. — Eu odeio você. — diz ela. Eu ouço as lágrimas em suas palavras, e parecem como malditas picadas. Pela primeira vez na minha vida, posso sentir a dor das palavras atingirem como um raio em minhas costelas. Nós dois. Apesar da dor indesejada e nada bem-vinda, sinto outra coisa. Algo que se parece muito como orgulho. Ela ainda é desafiadora. Ela não desistiu. Eu não a quebrei. Eu beijo o topo de sua cabeça e suspiro em seu cabelo. — Ótimo. Você deveria mesmo.

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Capítulo Trinta FRANKIE

Eu lanço mecanicamente a bola pela décima quinta vez e o Guardião traz de volta em segundos, sentando-se nos meus pés e esperando ansiosamente por mais um lance. É tudo o que posso fazer para evitar que raiva exploda dentro de mim, e fazer algo que eu sei que vou me arrepender. Como contar a Smoke a verdade. — Tudo bem, garoto. Hora de um desafio. — desta vez, eu jogo o máximo que posso. Acho que vai parar na cerca, mas a bola bate no chão e vai saltando sobre ela em vez disso. — Merda. — eu amaldiçoo quando Warden salta sobre a cerca como um cavalo em miniatura saltando barris. Ele pousa com um grito, e eu pulo em meus pés e corro para ele. Eu não tenho certeza de onde a linha da propriedade vai acabar em minha morte se eu atravessar, mas Smoke me assegurou um sinal sonoro de aviso, então vou para o outro lado da cerca, com cuidado para não fazer muito ruído e possa ouvir o sinal sonoro caso o aviso não seja alto. Eu pulo do outro lado e olho em volta. Eu não vejo a bola ou Warden. — Onde você foi garoto? — eu grito. Warden passa por mim, um grande borrão amarelo peludo, quase me derrubando. Eu o vejo atravessar o campo e mergulhar na porta aberta de um pequeno galpão coberto com telhado de metal enferrujado. Eu atravesso a longa grama ainda ouvindo o sinal sonoro quando ouço um barulho que parece um pica-pau martelando seu bico no tronco de uma árvore, mas não pode ser um pica-pau. É muito mais lento, e então para completamente. Ao me aproximar da barraca, o perfume de pinheiro me atinge, lembrando-me das árvores altas que cobrem o terreno vazio ao redor da casa da cidade. Só faz alguns dias, mas parece uma vida. ~ 157 ~


— É melhor não haver aranhas aí. — resmungo, abrindo cuidadosamente a porta, olhando para a escuridão da barraca. As paredes da pequena sala estão cobertas com prateleiras e essas estão cheias até o teto com estátuas de madeira de todos os tipos e tamanhos, semelhantes às que eu vi na casa de Zelda. Existem várias estátuas de cães que se parecem com Warden, juntamente com muitos torsos. Torsos femininos. Alguns com seios grandes, alguns com pequenos. Um com uma grande barriga grávida arredondada em um ponto central acima da janela suja. Todos são extremamente bonitos. Fico por um momento boquiaberta em admiração, absorvendo tudo. O barulho começa novamente, me surpreendendo. Eu olho para baixo das prateleiras para o outro lado da barraca onde vejo um movimento nas sombras. Eu me aproximo lentamente até que possa distinguir a fonte do ruído que não é um pássaro, é o som de um martelo suave batendo contra a ponta de um cinzel, e que o cinzel está nas mãos de ninguém além de Smoke. Estou surpresa. Ele está sem camisa. Os músculos de seu trapézio se flexionam, apertam e rodam enquanto ele gira um bloco de madeira sobre um tipo de roda rotativa preguiçosa. Um dos seus pés descalços está apoiado contra a perna da mesa, o outro está plano no chão. Smoke criou tudo isso? Warden me aproxima com a bola de tênis na boca. Ele a deixa cair aos meus pés, e é quando Smoke olha para cima. — O que você está fazendo aqui? — ele pergunta. — Warden pulou a cerca procurando por sua bola. — Saia! — Smoke ordena. Eu apenas o escuto falando porque meus olhos estão colados na peça em que ele está trabalhando. A figura da mulher não é como as outras. É maior em escala, e não é suave e perfeita como as outras. A madeira é aninhada e rachada como se representasse contusões e arranhões. Há até um sinal logo abaixo da clavícula esquerda que parece exatamente... — Saia daqui! — avisa Smoke. Seu banco cai no chão enquanto ele se levanta com os punhos cerrados. ~ 158 ~


Eu giro e corro de volta com Warden atrás de mim, a bola ainda na boca, como se estivéssemos jogando um jogo e ele está me perseguindo. Eu salto por cima da cerca e corro para a varanda. Não paro até estar dentro da casa com a porta fechada atrás de mim. Warden deixa a bola nos meus pés, mas passo por ela no caminho para o banheiro. Eu arranco minha camisa e olho no espelho para meus hematomas e arranhões agora desbotados. Lembro-me da peça na qual Smoke estava trabalhando. Meus olhos se arregalam enquanto traço meus dedos sobre o sinal abaixo da minha clavícula esquerda.

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Capítulo Trinta e Um FRANKIE

Não consigo dormir. É tarde quando Smoke sobe na cama. Eu sinto o cheiro de whiskey que o rodeia junto do cheiro de charutos. Eu finjo estar dormindo enquanto ele tira suas roupas e entra na cama. Ele envolve seus grandes braços ao meu redor como ele normalmente faz e me puxa contra seu peito duro. Odeio que me encontre relaxando nele ao invés de lutar contra. Odeio querer o seu toque em vez de ser repelida por ele. Odeio isso, mas apesar de tudo, não o odeio. — Eu prometo que vou tentar encontrar outro jeito. — sussurra Smoke. Eu me viro para perguntar o que ele quis dizer com isso, mas ele já está profundamente adormecido. Seus cílios são longos e escuros em suas bochechas. Seus lábios cheios estão ligeiramente abertos. Não sei o que vem sobre mim, mas não posso evitar. Ergo meu pescoço e pressiono levemente meus lábios nos dele. Eu me afasto apenas para descobrir que seus olhos agora estão abertos, e ele está me olhando com uma mistura de confusão e luxúria. — Eu sou... eu só... — eu começo, mas não consigo terminar porque sou rolada em minhas costas com Smoke em cima de mim e seus lábios nos meus. Ele rola os quadris contra mim, sua longa e dura ereção pressiona minha zona sensível e acende uma luxúria carnal em mim que irá disparar. Seus lábios estão contra meu pescoço, e eu estou entrando nele. Seus lábios e língua se conectam com minha pele. Quebro em um delicioso arrepio. Então, ele se foi. A porta do banheiro bate, e o som da água atingindo a porcelana pode ser ouvida sob a porta quando o chuveiro é aberto. ~ 160 ~


Saio da cama e olho através de uma rachadura na porta. Ele está nu, apoiado contra os antebraços na parede do chuveiro. A água escorre por seu corpo esculpido enquanto ele deixa sua testa descansar em seu braço. Sua outra mão serpenteia por sua barriga, onde ele segura sua enorme ereção e começa a se acariciar. Eu deveria desviar o olhar. Deveria olhar para qualquer lugar além dele, mas não posso evitar. Eu quero odiá-lo por trazer aquela garota aqui. Eu quero não sentir essa dor, medo e ansiedade toda vez que olho para ele. Quero desejar que ele desapareça tão rápido quanto chegou, mas nada disso acontece. Eu só posso olhar Smoke com admiração e respeito e isso diminui a dor. Estou solitariamente soluçando enquanto seu ritmo se acelera, suas respirações são curtas. Ele fecha os olhos com força. Ele é áspero e quase violento consigo mesmo. Seus olhos se abrem e encontram os meus através da fenda. Eu fico quieta. Congelada no lugar. Uma lágrima rola pela minha bochecha. Ele mantém o olhar fixo no meu enquanto se acaricia mais uma vez, gozando com um gemido profundo em seus lábios; longos jatos de cor branca, cobrindo o azulejo e eu punho. Eu estou ofegante junto com ele, exceto que agora meus soluços não são tão silenciosos.

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Capítulo Trinta e Dois FRANKIE

Eu procuro meu tênis, tiro o casaco de Smoke de uma das cadeiras esperando encontrá-los embaixo. Não. Não está lá. Coloco seu casaco de volta onde encontrei quando algo cai no chão. Eu acho que é uma foto até eu perceber que é um ultrassom. Morgan Faith Clark é o nome no canto superior esquerdo. A data é do ano passado. — O que diabos é isto? — eu me pergunto em voz alta. E por que Smoke tem isso? Quando ouço o forte barulho de Smoke, coloco a foto de volta no casaco assim que ele abre a porta da frente. — Venha aqui. — diz ele. — Não consigo encontrar meu tênis. — Você não precisa deles. — ele me assegura. A última coisa que espero é ser levada para a varanda e ser apresentada a um enorme cavalete de pé. Mas é isso que me espera. Ele tem tinta de criações passadas salpicadas em torno de todas as pernas. É de segunda mão, o que para mim, torna ainda melhor, já tendo vivido outra vida. — Por que isso? — eu finalmente pergunto. — É para pintar. — diz Smoke sarcasticamente, encostado na porta. — Achei que você sabia disso. — Eu entendi, mas por que aqui? — meus pés não esperam por sua resposta. Na verdade, eu já estou atravessando o deck, examinando os materiais no momento em que a pergunta deixa minha boca. Lona esticada. Vários potes de tinta acrílica. Cores primárias apenas com um pote maior de tinta branca e pinceis de madeira para misturar cores. Há também uma vasilha de água já cheia no topo da mesa lateral e vários trapos no suporte que conecta as duas pernas da ~ 162 ~


frente. Uma dúzia de pincéis de vários tamanhos estão dentro de um cilindro preso ao lado do cavalete. — Você pinta? — eu pergunto porque, mesmo depois da nossa conversa, não posso acreditar que tudo isso é para mim. — Não. — Smoke responde com uma pequena risada. — Mas você está prestes a ficar tão entediada quanto eu. Zelda disse que você mencionou que queria pintar. Achei que gostaria de tentar. Eu não sei qual é o seu joguinho aqui. Tudo o que sei é que quero ficar. Quero me jogar nele e dizer que tentarei ocupar meu tempo até minha morte chegar. Eu quero dizer para empurrar o cavalete em cima do assassino, mas outra parte de mim está com medo de dar uma chance. Lágrimas picam meus olhos, mas eu fico de costas para Smoke. Não vou mostrar a ele o meu medo, e com certeza não vou lhe dar a minha alegria. Eu me pergunto se Dra. Ida alguma vez quis agradecer a alguém e esfaqueá-los ao mesmo tempo. — Então, isso é um suborno para eu ser menos difícil? Porque não sei se algumas pinturas vão ajudar nisso. — quando tenho certeza de que a ameaça das lágrimas desapareceu, me viro e paro justo a tempo de ver a porta de tela se fechar. Smoke se foi. Volto para o cavalete e corro minha mão sobre a tela em branco. Olho pela varanda e fecho meus olhos. Eu respiro o ar fresco. Eu observo o modo como a luz do sol está no meu rosto. Eu os abro novamente e já estou tocando as tintas e misturando as cores até obter os resultados que quero. Eu escolho um pincel, mergulho-o na água e tiro o excesso. Então, vou embora. Estou em outro mundo. Um sem medo. Ou sem bombas no tornozelo. Ou pais que abandonam seus filhos, ou homens que preferem tirar vidas do que salvá-las. Neste mundo, só eu e a tela existem. Por um tempo muito curto, estou livre.

SMOKE

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Eu tentei achar Griff sem muita sorte. Eu sei que ele disse que iria aparecer, mas preciso saber quão perto seus homens estão de encontrar Frank. Fecho o telefone e suspiro. Eu preciso saber quanto tempo falta. Eu saio para fumar. Frankie ainda está no cavalete, onde esteve nas últimas horas. Seu pé toca ao ritmo da música no rádio, e ela está cantando. Sua voz não é a de um anjo. É realmente horrível, na verdade, mas eu me vejo observando-a de qualquer maneira, enquanto ela se balança de um lado para o outro enquanto pinta. Eu não sei o que eu esperava que ela pintasse ou por quê. Eu não pensei tanto quando comprei a maldita coisa na loja de arte da cidade. Eu só queria mantê-la ocupada para que ela deixasse de fazer perguntas, deixasse de me contar histórias. Parar de me fazer como ela. De querê-la. O problema é que ela parou de fazer o esforço, mas ainda gosto dela. Eu a quero. Eu acendo meu cigarro, e meu pé escova contra uma tela que seca ao sol na parte superior. Eu me agacho e giro minha cabeça para ter uma visão melhor do que é. É um olho muito grande e muito realista. Um círculo azulado alinha o fundo dando a aparência de estar cansado. Droga. Ela é boa. Também não é apenas um olho. Dentro do olho é onde começa a arte real. É uma paisagem de algum tipo. Não, é aqui. O pátio da prisão. Só que diferente. O céu um laranja apocalíptico com nuvens castanhas. Eu me levanto para ver melhor. Eu tiro um cigarro e engasgo quando vejo o sangue. Os corpos espalhados sobre o que parece um pátio da prisão viraram o campo de batalha. No centro, um homem levando uma mulher. Santa merda. Sou eu. Somos nós. Mais especificamente, sou eu... levando Frankie para o inferno.

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Capítulo Trinta e Três FRANKIE

— Por que eles chamam você de Smoke? — pergunto. É tarde, e estamos sentados na varanda. Não falamos há muito tempo e, apesar da minha raiva, estou cansada do silêncio. Smoke está bebendo whisky diretamente da garrafa e estou lendo um romance que encontrei em uma caixa no quarto de hóspedes. Ou devo dizer que estou tentando ler um romance. Nós ficamos aqui por mais de uma hora, e li o mesmo parágrafo cem vezes sem entender uma única palavra. É difícil me concentrar quando tudo o que posso pensar é em seus lábios nos meus. O jeito que ele me balançou contra ele. A ruiva. Smoke puxa o charuto de seus lábios e o ergue antes que minha mente possa se afastar mais e antes que o embaraço tenha chance de alcançar minhas bochechas. Ele ergue a sobrancelha como se a resposta à minha pergunta sobre o seu nome fosse óbvio, mas posso sentir que há mais. — Não. — eu digo. — Não pode ser isso. Se fumar charutos fosse o motivo de chamar você de Smoke, então você já teria me dito. — eu penso por mais um minuto e decido mudar de tática para descobrir o que eu quero saber. — Qual é o seu verdadeiro nome? — Smoke. — ele responde ao redor do charuto agora de volta entre seus lábios. — Você vai me dizer se eu descobrir? — pergunto, decidindo ignorar a óbvia mentira sobre o nome real ser Smoke. — Claro. — diz ele. — Vamos lá. O que você acha? — Max? — pergunto. Ele balança a cabeça. — Jerry? ~ 165 ~


Ele rola os olhos e me dá uma olhada que diz tente mais. — Tim? Killer? Steven? Ele enruga o nariz. — Todos soam como cachorros. — Smoke zomba, dando outra tragada em seu charuto. Ele exala, obscurecendo suas feições em ondas brancas. — Eu vou te ajudar. Também não é Fido, Spike ou Spot. — Bem, todos os outros nomes que eu posso pensar são tão... normais. Tão chatos. Eles não se adequam a você. — digo a ele, embora possa estar aqui a noite inteira, e ainda acho que nunca vou encontrar algo que combine além de Smoke. — Eu não sei meu nome real. — ele admite, depositando a cinza da ponta de seu charuto em uma garrafa de cerveja vazia. — Alguma coisa deu errada com meus amigos, e depois disso, eu simplesmente não consigo lembrar. Ainda não consegui. Estou surpreso e não sei o que dizer a isso. Felizmente, não tenho que inventar algo porque ele continua depois de tomar um longo gole da garrafa de whisky. Ele limpa a boca com o dorso da mão. — A primeira vez que fui para um abrigo, eles queriam saber como me chamar e, como não sabia meu próprio nome, eles me chamaram de Johnny, por algum tempo, de qualquer maneira, mas não pegou. Meu coração dói pela versão infantil de Smoke. Abandonado sem um nome. E não APENAS abandonado. Jogado fora. Smoke limpa a garganta e olha para o horizonte. Ele parece quase tranquilo aqui. Bem, tão pacífico quanto Smoke poderia ser. Seu jeitão duro ainda está lá, mas não tão afiado a ponto de eu puxar meus dedos para longe se estivesse muito perto. — As crianças eram cruéis, especialmente os mais velhos. Esses merdinhas achavam que eram melhores do que eu, porque tinham em suas cabeças que as suas mãe e pais voltariam para eles um dia. — Mas você não. Smoke colocou o charuto na boca. — Não, eu não. A história que rondava era que meus pais olharam pra mim depois de eu nascer e depois desapareceram. Foram-se. Poof. — ele encontra meus olhos. — Desapareceram como fumaça. ~ 166 ~


Smoke estava certo. As crianças podem ser cruéis. — Então é por isso que eles te chamam de Smoke4? Ele concorda. — Sim, achei melhor do que Johnny. — ele diz, dando outra longa tragada no charuto. — Nome sensato. Smoke ri, e não havia nada malicioso no riso. Sem zombar. Sem revirar os olhos. Nenhuma ameaça de punição ou manipulação. Essa risada é genuína. Como se esse único som fosse o portal onde todas as coisas sexuais começaram. Meu corpo precisa relaxar. — Eu não acho que alguém já me chamou de sensato antes. — Eu não vou tonar um hábito. — eu digo, e então o momento se perde e nós dois ficamos em silêncio. Ambos pensam o mesmo. Não há tempo para hábito. — Estou ficando cansada. — minto. — Vou entrar. Levanto-me da cadeira e entro na casa. Eu paro na porta quando ele chama meu nome, e por um breve momento, minhas esperanças se acendem, e acho que ele está prestes a me dizer que mudou de ideia. Que ele encontrou algum jeito para que nós possamos sair dessa situação. — O quê? — eu pergunto com minhas costas ainda viradas para ele. Há outra pausa. — Nada, não importa. — ele diz, virando a cabeça. Minhas esperanças caem junto com meus ombros. Estou feliz por não poder ver as lágrimas que instantaneamente me levam aos meus olhos. Mantenho minha voz tão estável quanto possível, embora eu esteja tremendo por dentro. — Nada. — repito, abrindo a porta. Eu balanço minha cabeça. Agora estou realmente cansada. Esgotada é mais preciso. — Engraçado, nada é exatamente o que eu pensei que você diria. Eu volto para a casa, e a porta bate atrás de mim. Não estou surpresa quando ouço a porta se abrir e passos pesados me seguindo até ao interior do quarto onde já estou debaixo dos cobertores com as costas para ele. Ele não pode nem me deixar ter um momento de paz para limpar minha cabeça.

4

Smoke é fumaça em inglês.

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Eu ouço suas botas baterem no chão, o tinir de seu cinto enquanto ele se despe e entra na cama ao meu lado. Ainda não está escuro. Ele empurra o calor de seu corpo contra o meu. Ele cheira a charutos, whisky e sabão, e é preciso tudo de mim para não inalar profundamente. Não é como se eu tivesse. Seu cheiro já está impresso no meu cérebro, e vou me lembrar do resto da minha vida. Por muito tempo. Smoke envolve um braço à minha volta e eu endureço. Seu carinho apenas piora. — Eu queria poder te odiar. — sussurro, sentindo o mundo ao meu redor se fechando cada vez mais com cada hora que passa. — Eu também. — ele responde, seus lábios beijando a parte de trás da minha cabeça. — O que você quer de mim, Frankie? Não tenho certeza do que ele quer que eu diga. Não é como se fosse fazer diferença. — Nada. — sussurro, fechando os olhos. — Eu não quero absolutamente nada de você.

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Capítulo Trinta e Quatro FRANKIE

— Você me lembra alguém. — eu digo para o homem de cabelos bagunçados que está na cozinha. Smoke o apresentou como Kevin antes se retirar para só Deus sabe onde. Talvez ele esteja criando outro busto de madeira de mim para jogar fora do telhado quando eu já estiver longe. — Na verdade, agora eles me chamam de Nine. — ele corrige depois que Smoke já se foi. Ele sorri orgulhosamente. — E me deixe adivinhar, eu lembro você... de seus sonhos? — ele ergue as sobrancelhas sugestivamente. Nine abre e depois bate cada armário e gaveta na pequena cozinha em busca do que quer que ele esteja procurando para fazer seu ‘molho de macarrão mundialmente famoso’. Suas palavras, não minhas. — Não completamente. — digo. Nine é grande, mas não tão grande quanto Smoke. Ele é mais magro e alguns centímetros mais baixo. O meu palpite é que ele também é uns dez anos mais jovem, o que o faz ter minha idade. Há uma tatuagem de aparência mais nova no lado do pescoço que descreve um coração sangrando com uma faca esfaqueada através dela. É horrível, mas bem feita, quem a criou é um verdadeiro artista. O sorriso de Nine é desequilibrado. Seus olhos brilhantes. Suas pálpebras naturalmente baixas. Ele está fumando cigarros enquanto passa pela cozinha tão graciosamente como o pato de um pé. Então me lembro de quem ele me lembra. — Eu estava achando que você me lembra um amigo meu na realidade. Seu nome era... é... Duke. O nome dele é Duke. Nine coloca o cigarro debaixo da torneira e tira um baseado por trás da orelha. — Duque? Existe uma duquesa?

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Eu sorrio porque não posso não sorrir para Nine. Ele é atraente e espirituoso, e, ao contrário de algumas pessoas, é caloroso. — Por quê Nine? — pergunto. Ele pensa por alguns segundos. — Porque eu eliminei uma gangue inteira com apenas uma nove milímetros? Eu dou a ele o olhar universal para 'qual é' enquanto balanço minha cabeça e cruzo meus braços. — Eu sou como um gato e tenho nove vidas? — ele tenta novamente. Eu balanço minha cabeça. — Você terá que fazer melhor do que isso. — A verdade é... — ele se inclina e sussurra. — Não posso dizer a verdade. Se eu te disser, então vou ter que matar você. Eu estremeço. — Porra. Me desculpe por isso. Não estava pensando. Eu sou um pouco novo em tudo isso. — ele se desculpa. — Sou geralmente o cara da tecnologia, pelo menos até agora. Eu não conheço toda a história aqui, mas pelo olhar em seu rosto, percebo que um final feliz pode não estar no futuro. Normalmente sou o cara da tecnologia... — Não, mas está tudo bem. — digo. — De certa forma, não é culpa de ninguém, além de minha. — paro, uma ideia se formando. — No entanto, sei como você pode compensar isso. — Eu lá quero saber? Porque não sei se você viu Smoke, — Nine aponta uma faca para a porta da frente. — Ele pode ser tão assustador quanto lindo, mas o que ele fará comigo provavelmente não é nada comparado ao que vou ter me esperando de volta em casa se eu foder com isso. Meu irmão e os caras com quem ele corre vão acabar me matando. E depois? — ele balança a cabeça. Ele baixa a voz. — E depois eles me entregariam para o mais assustador de todos... — Quem? — pergunto com curiosidade, — Minha cunhada. — diz Nine, tragando o baseado e entregando para mim. Eu balanço minha cabeça, precisando ficar sã se eu conseguir dar o fora daqui.

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— Não é nada demais. Nada que traga a ira dos que estão no comando. Eu só preciso de um favor. — eu levanto meus ombros para o meu pescoço e olho para Nine com um sorriso exagerado. Eu tenho que fazer isso cuidadosamente, fazê-lo pensar que o resultado é ideia dele. Nine começa a cortar cebolas. Uma tonelada delas enquanto corta com o baseado pendurado em seus lábios. — Eu não vou tirar a bomba da sua perna. — ele diz sem tirar os olhos das cebolas. — Eu sinto que esse seria o começo do fim. Para nós dois. — Não, quero dizer, sim, isso seria ótimo, mas não é o que eu quero. Ele abaixa a faca e se inclina para frente. — Fala logo. — Eu quero usar o seu laptop. — eu digo, balançando meus punhos e pressionando-os no meu queixo, olhando sobre meus dedos. Nine rola os olhos, continuando a cortar. — Só por alguns minutos! — acrescento. — O que faz você pensar que tenho um laptop comigo? Ou que eu deixaria você usá-lo? — ele coloca as cebolas picadas na panela no fogão que chia. Ele traz a tábua de corte para a ilha e começa a cortar os cogumelos. — Nine, você disse que é um cara da tecnologia. — levanto minhas mãos ao peito. — Bem, eu também sou uma garota da tecnologia. E os geeks5 tecnológicos como nós não vão a lugar algum sem os laptops. Não se eles podem ajudar. Nine adiciona os cogumelos à panela e dá uma mexida. Ele sorri e se rende com um suspiro, levantando as mãos no ar. — Ok, você me pegou. Está na van, mas não posso deixar você usá-lo. Smoke me estrangularia e isso, minha querida, não é minha ideia de diversão, a menos que haja uma garota gostosa com as mãos enroladas em meu pescoço. — Posso te perguntar algo? — eu deixo minha pergunta sobre o laptop de lado em uma espera temporária.

5

Geek é um anglicismo e uma gíria inglesa que se refere a pessoas peculiares ou excêntricas, fãs de tecnologia, eletrônica, jogos eletrônicos ou de tabuleiro, histórias em quadrinhos, livros, filmes, animes e séries.

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— Fala. Mas eu não garanto uma resposta. — diz Nine. — Por que você é tão leal a ele? Smoke? — Isso é fácil. Ele salvou a vida do meu irmão. — Nine suga o suco de tomate que havia pingado pela sua mão. — Salvou? — estou surpresa. Recuo. É a última coisa que eu esperava que ele dissesse. — Sim. Ele impediu o filho da puta de acabar com Preppy no hospital. Eu nunca teria encontrado meu irmão se não fosse por Smoke. Não o encontrei até recentemente. Não teria minhas sobrinhas agora e nunca teria encontrado meu sobrinho ou minha cunhada, que eu amo, apesar do meu comentário anterior. Embora ela possa ser assustadora como o inferno quando se trata de proteger meu irmão e essas crianças. Até de mim. Então, tá vendo, eu devo a Smoke muito mais do que ser babá. É por isso que tanto quanto eu gostaria de ajudálo, minhas mãos estão amarradas. — Ele foi pago para resgatar seu irmão? Nine balança a cabeça. — Não. Ele estava lá. Viu que Preppy estava com problemas. Deu um jeito em tudo. — Realmente. — eu digo, extraindo a palavra. — Smoke tem amigos? Bem, conheci Rage e Zelda, mas imaginei que fossem apenas elas. — Eu provavelmente não deveria estar respondendo a isso. Ou qualquer coisa. — Como responder a isso afeta ou a mim ou a você de qualquer forma? Como posso usar isso contra Smoke ou melhor ainda, como posso usar essa informação para escapar? — eu levanto minha perna e coloco meu pé no balcão, apontando para meu tornozelo. — Eu tenho uma bomba na minha perna. Lembra? Nine suspira. — Bem. Sim, Smoke tem amigos. Ou pelo menos, ele tem pessoas por perto. Isso é o que eu ouço quando as pessoas falam sobre ele de qualquer maneira. Ele é uma lenda em Logan's Beach. As pessoas que conheço são leais a ele - ao longo dos anos ele foi leal a elas. Mas ele é solitário. Isso é praticamente tudo o que sei. Eu repito meu queixo no meu punho. — Interessante. Ele parece colocar montanhas entre ele e o resto do mundo.

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Nine ri e se inclina para frente com os cotovelos no balcão. — Sim. Só que ele é um alpinista realmente bom. Eu rio e provo o molho na colher que ele está me oferecendo. É tão picante que começo a tossir. — Quanta pimenta você colocou aí? — pergunto, minha boca aberta. Nine me dá um copo de água e eu bebo tão rápido que a maioria vaza dos cantos da minha boca na minha camisa. Quando termino, entrego o copo para Nine que o volta a encher. Meus olhos estão queimando. Minha garganta está arranhando. Eu bebo o próximo copo. — Uh, coloquei demais? — Nine levanta a garrafa agora vazia de flocos de pimenta vermelha seca que estava cheia apenas alguns minutos antes. — Deve ter colocado um pouco demais mesmo. — digo. Nine coloca um grande bocado do molho na boca. Aguardo ele reagir, mas ele encolhe os ombros e continua mexendo. — Está bom para mim. — ele diz, lambendo os lábios. — Voltando para Smoke. — digo quando não estou mais prestes a morrer por intoxicação por flocos de pimenta vermelha. — Smoke é um lobo solitário, mas isso não significa que os outros não cuidem dele. Ele provavelmente ainda está confuso com toda essa merda com Rage. — diz Nine. Seus olhos se arregalam e eu vejo seu arrependimento. Ele revelou demais. — Uh, esqueça que eu disse qualquer coisa. — ele vira as costas pra mim para mexer seu molho nuclear. — Por que você quer meu laptop de qualquer maneira? — ele pergunta, mudando o assunto. — Eu só quero olhar algo. Um nome. Só levará um minuto, e você pode ficar de olho o tempo todo. — asseguro, sabendo que não há como ele realmente me deixar usar. Aguardo a ideia se formar, observando o rosto dele enquanto pensa profundamente. Nine abaixa a colher e coça a parte de trás do pescoço. Eu dou mais um sorriso esperançoso. — Tudo bem, aqui está o acordo. — ele aponta pra mim e então para si mesmo. — Você me diz o nome, eu procuro pra você e te conto o que encontrar. Bingo. ~ 173 ~


— Feito. — eu digo, levantando minha mão. Nine vem e a aperta. Ele não solta. Ele sorri e fala entre seus dentes brilhantes. — Eu vou me arrepender disso, não vou? Eu também não paro de sorrir, falando pelos meus próprios dentes. — Provavelmente.

***

Nine liga o laptop. A tela tem um monte de adesivos de bandas de rock e folhas de maconha. Seu protetor de tela é um par de peitos nus. — Clássico. — eu canto. — Quem não gosta de peitos? — Nine pergunta, digitando sua senha. — Todo mundo gosta de peitos. Até as mulheres. — Isso é algum tipo de conversa sobre como todas as mulheres estão escondendo uma lésbica interior? — Isso seria legal, mas não. Você já viu essas revistas femininas populares? Você não encontrará muitas fotos de homens. Por quê? Porque as mulheres gostam de olhar para mulheres. As mulheres são lindas. Seus corpos são bonitos. A maioria das lojas de pornografia para mulheres não têm pintos gigantes balançando. Eles são úteis, mas não dá pra olhar. A não ser o meu, é claro. — Ah, claro. Ele estala os dedos. — Tudo bem, Frankie. Qual o nome? Digo a ele o nome do ultrassom que encontrei no casaco de Smoke. Nine começa sua busca. Alguns minutos depois, ambos percebemos que Morgan Faith Clark é um enigma. Ela desapareceu do planeta no ano passado. Nine não conseguiu encontrar mais nada sobre ela. — Isso é estranho. Nenhum relatório de pessoa desaparecida. Não há nada. Desde o ano passado ela simplesmente... desapareceu. — E o endereço dela? Nós sabemos onde ela morava? — eu pergunto, inclinando-me sobre o ombro de Nine. ~ 174 ~


Nine bate em algumas teclas e, em segundos, estamos olhando no google a rua de uma pequena casa azul com guarda-corpo branco e uma passarela frontal florida. — Quem é essa pessoa, afinal? Alguém importante? — Honestamente, ainda não tenho certeza. — digo, olhando para as informações na tela. — Poderia ser. — Que misteriosa. — diz Nine. — Estou puxando os registros públicos da casa. Há um monte de intimações municipais por causa da grama cheia de mato e coisas assim que me levam a acreditar que a casa está abandonada. — Você consegue saber quando foi abandonada? — Eu posso chegar perto. Sim. Aqui. A última conta foi paga em junho do ano passado, então deve ser perto de julho, eu acho. Espere, olha isso. — Nine aponta para a tela. — Morgan Faith Clark foi reportada como desaparecida por uma tia em Sarasota. Os dedos de Nine voam através do teclado e eu me vejo cheia de pressentimentos O som das teclas contam como uma música favorita em que conheço todas as palavras. — A tia informara o seu desaparecimento no dia 10 de julho, após Morgan não aparecer em sua casa em Sarasota na manhã anterior. A polícia abriu uma investigação. — ele clica em mais algumas teclas. — Mas nunca foi encontrada. As telas mudam quando Nine voa através de sites e códigos, desenterrando tudo o que a internet quer manter escondida como um arqueólogo da web. Janela após a janela aparece, então desaparece à medida que eu sigo. — Baixe o relatório da polícia. Use o caminho reverso e use o 911 no final do código se você estiver entrando no seu serviço de hospedagem. Isso geralmente funciona. Nine bufa, cinzas caindo sobre as teclas. — Como se eu nunca tivesse estado em um departamento de polícia antes. O que você acha disso, amadora? — o cigarro de Nine pende de seus lábios. — E você realmente é uma geek tecnológica, não é? Eu concordo. — Sou. Ou, pelo menos, era. — Ok, aqui. O relatório da polícia afirma que eles foram até a casa, e não houve nenhum sinal de crime. A bolsa e pertences de ~ 175 ~


Morgan não estavam lá, assim como seu carro, deixando-os a acreditar que ela pode ter saído da cidade, mas note que não houve nenhuma atividade em sua conta ou cartões depois do dia 09 de julho. — A casa tem uma câmera de segurança? — pergunto. — Já estou nisso. — Nine lê o relatório. — O relatório da polícia indica que a casa possui um sistema de segurança Aestro Pro 7688, mas quando eles tentaram acessar o feed, estava em branco. Eu balanço minha cabeça. — Não existe alimentação em branco, a menos que uma câmera esteja quebrada. — eu digo. — Aestro é segurança de ponta. Mesmo que não esteja no computador central, pode ser recuperado através de seus servidores. — Como diabos você sabe disso? — Nine pergunta, olhando-me com uma sobrancelha levantada. Ele apaga o cigarro em uma caneca de café e acende outro. Eu o arranco de sua mão antes que ele tenha a chance de levá-lo aos lábios, e dou uma longa tragada, soprando dramaticamente a fumaça na tela do computador. — Talvez um desses dias. Se as coisas funcionarem para mim. Nós nos encontraremos de novo, e eu vou te contar minha história. — digo. Nine sorri e pega o baseado, voltando para o laptop. — É um encontro. — diz ele. — Mas, não esse tipo de encontro. Eu não acho que Smoke iria gostar se fosse. — Por que ele se importaria? — Uh, eu vi o jeito que ele saiu daqui. Um homem não sai assim, a menos que esteja frustrado como todo o inferno e precisa limpar a cabeça. Além disso, vi o jeito que ele olhou para você. — Besteira. — digo. — Estou entrando no Aestro agora. Entrando em seu endereço e as datas em que ela sumiu, e com referência cruzada com os detectores de movimento conectados em alguns segundos, poderemos puxar o feed. — Nine diz. — E não é besteira. Ele olha para você como se você quisesse que ele... — Como se ele quisesse me matar. — eu termino por ele. — Sim, também. — Nine diz.

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— Não importa. Ele tem um acordo com um cara chamado Griff. Smoke está comigo enquanto esse Griff tenta fazer meu pai aparecer usando fotos minhas. Se meu pai não der as caras em alguns dias, e ele não fará, Smoke vai me levar pro Griff para que ele possa fazer o que quiser comigo por causa da dívida do meu pai. — Algo parece um pouco estranho em sua história. — diz Nine. — O que você quer dizer? É a verdade. — Não estou dizendo que não é. Só estou dizendo que se Smoke foi contratado para sequestrar você por esse tal de Griff, você não acha que ele a entregaria imediatamente? Deve haver uma razão pela qual ele não o fez. Algo mais pessoal nessa história. — Como o quê? — Eu é que vou saber, garota Frankie. Nine clica na tecla enter e aparece uma tela. Um vídeo em preto e branco. Ele avança rapidamente o vídeo e encontra o dia em questão. Ele faz uma pausa, clica em play novamente. Uma mulher, que eu suponho que seja Morgan está lá. Ela é um pouco mais velha do que eu com o cabelo escuro mais curto. Ela está sozinha e obviamente muito grávida. Está caminhando pela casa. Há uma mala aberta na ilha da cozinha. O vídeo não tem som, mas ela parece estar assobiando. Até que ela não está mais sozinha. — Merda. — Nine sussurra. Morgan se vira com surpresa, mas seja lá quem for que apareceu, está fora da câmera. Nine tenta escolher outro ângulo, mas o vídeo de repente fica em branco. — Para onde foi? — pergunto, precisando saber e ver mais. — Merda. Não tem. Alguém deve ter deletado. — Nine diz, batendo em algumas teclas. — Vou tentar recuperar. Depois de abrir algumas portas da Internet que nunca foram destinadas a serem abertas, a tela pisca com uma imagem, mas é difícil ver o que está acontecendo porque está piscando como uma lâmpada que está prestes a queimar. — Isso é tudo o que resta. — diz Nine. — Quem apagou sabia o que eles estavam fazendo, isso está extremamente seguro. — ele dá outra tragada em seu baseado e passa para mim. Eu faço o mesmo.

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— Você consegue congelar? — pergunto, inclinando-me sobre seu ombro. Nine pressiona mais algumas teclas e a imagem congela e se expande. Meu estômago treme, e eu cubro minha boca. — Puta que pariu. — Nine sussurra, seus olhos tão grandes quanto a tela do computador. Fico feliz que seja em preto e branco porque não consigo imaginar como seria em cores, se já me faz querer vomitar assim. — Eu não posso mais olhar. — digo, já que o molho de Nine ameaça queimar seu caminho de volta na minha garganta. — Você acha que Smoke poderia ter... — Eu não sei. — Nine balança a cabeça. — Eu conheço alguns fodidos doentes, mas isso... — ele se inclina para a tela e dá zoom. — Espera! Olha. Ele expande a imagem novamente. No canto, longe da cena sangrenta está um homem. — Eu vou ampliar mais. — o rosto do homem está embaçado, mas ele é pequeno demais para ser Smoke. Eu solto uma respiração que não sabia que estava segurando. — Então, tudo o que podemos entender é que o homem está usando um chapéu branco antiquado com algum tipo de fita preta ou faixa em torno dele. — eu digo. — E esse não é Smoke. — E esse não é Smoke. — repito. Eu estava esperando que isso me desse uma visão sobre o que Smoke está escondendo de mim, mas tudo o que fez foi ter mais perguntas do que nunca. — Porra. Você está vendo isso? — Nine diz, apontando para o que o homem está carregando em suas mãos. — Santa merda. — digo, cobrindo minha boca com a mão. Nine está certo. Há mais. Muito. Mais.

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Capítulo Trinta e Cinco FRANKIE

Nine coloca seu laptop de volta na van. Quando ele volta, para no balcão, comendo seu macarrão com seu molho mundialmente famoso. Eu passo porque comer disso certamente vai atear fogo ao meu estômago e eu me transformarei em um dragão. Nine limpa enquanto eu vou me trocar. Eu preciso sair. Para respirar ar fresco. Pensar. O clima está maravilhoso. Vinte e nove graus e céu azul sem nuvens. O mundo ao meu redor está, obviamente, inconsciente de que não é suposto ser tão adorável nessas circunstâncias. É estranho pensar que, eu estando aqui ou não, tudo continuará sem mim. Bom tempo. Mau. Secas. Tempestades. O dia e a noite continuarão a fazer turnos. Só porque sei o que pode acontecer comigo não significa que desisti da esperança. Ainda não, de qualquer forma. Eu quero aproveitar o belo dia, então invado o grande recipiente de armazenamento de roupas e retiro o único maiô que posso encontrar. Assim como tudo mais na caixa, é novo, com as etiquetas ainda grudadas. É um simples biquíni de cordas pretas que amarra meus quadris, atrás do meu pescoço e nas minhas costas. É um tamanho muito pequeno, então minhas bochechas da bunda ficam aparecendo, assim como o topo dos meus peitos, mas é tudo o que consegui, então eu visto e amarro meu cabelo em um bolo bagunçado no topo da minha cabeça. Pego uma toalha do banheiro e um dos romances que encontrei numa pequena estante no canto da sala de estar. Preciso de uma ~ 179 ~


distração depois de ver aquela cena horripilante no computador de Nine, e eu decido que Mercy de Debra Anastasia, um romance que eu li várias vezes antes, será exatamente o que eu preciso junto com um pouco de sol na minha pele. Eu deixo que Nine saiba para onde vou, e ele me diz que estará lá em apenas um segundo. Ele está no telefone, falando em voz baixa na mesa da sala de jantar. Deixo minha toalha no meio do pequeno quintal da frente, a única seção por quilômetros que não é uma rede emaranhada de videiras e mato. Eu não chego nem no segundo parágrafo do meu livro quando Warden aparece, empurrando meu livro com o nariz molhado. — Ok, ok, menino. — eu rio, tirando a bola de tênis da boca dele e jogando-a pelo quintal. Depois de alguns minutos de jogo, Warden cansa e se coloca ao meu lado, mastiga sua bola em vez de persegui-la. Eu faço o mesmo e tapo a cabeça com uma mão enquanto deito de bruços e seguro meu livro com a outra. — Importa se eu me juntar a você? — pergunta Nine. Eu o encontro sem camisa. Um grande sorriso pateta no rosto. Eu me sento e abaixo meu livro. — Você é a babá. Eu acho que se você me deixasse em paz, seria um pouco além disso. — Verdade. Embora Smoke logo esteja de volta. Ele acabou de ligar, então vou embora logo. Eu só queria te dar algo primeiro. — O que é? Nine me entrega um mini hd. — Esconda. Espero que você possa de alguma forma usá-lo para ajudar sua causa. — Obrigada. — digo, pegando-o e colocando-o no meio das páginas do livro. — E há uma outra coisa. — diz ele. Suas mãos se aproximam de suas costas e antes que eu saiba o que está acontecendo, ele está me jogando água fria de uma mangueira. Warden ladra, e eu grito de surpresa, depois gasto os próximos dez minutos tentando tirar a mangueira dele. Quando ficamos sem fôlego, caímos na toalha, eu seco minhas mãos, pegando meu livro, agora um pouco encharcado. Nine está de costas com as mãos atrás da cabeça e olhos fechados para o

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céu. Eu estou ao lado dele de barriga pra baixo, novamente com meus pés no ar. — Espero que tudo dê certo para você. — diz Nine, sentando-se. — E só pra constar, queria salvar você se pudesse. — Obrigada. Ele acende um cigarro. — De qualquer forma. Foi bom conhecêla. Espero que Smoke faça o que é certo logo que ele perceba o que é. — Eu também. — digo com um suspiro. O som de um motor ruidoso agita o chão. Ambos torcemos as nossas cabeças. Smoke para e desliga o motor. — Eu acho que isso é um adeus. — diz Nine. Ele me surpreende quando se inclina. — O que você está fazendo? — pergunto. — Apenas entre na dança. — ele sussurra. — Confie em mim. Estou muito chocada para me afastar. Seus lábios pousam nos meus para um beijo dois segundos demais para ser considerado uma bitoca. Sinto a presença de Smoke atrás de nós. — Quem sabe talvez nos encontremos outro um dia. — diz Nine, de pé. Ele olha para Smoke e sorri. — Ainda bem que estacionei lá atrás. — com um aceno para Smoke que se aproxima, ele se vira para sair, mas depois pausa e se ajoelha para sussurrar rapidamente. — O negócio em sua perna? Não é uma bomba. — ele se levanta de novo e depois desaparece atrás da casa. Eu nem tenho tempo para processar o que ele acabou de dizer quando uma sombra familiar é lançada sobre todo o meu corpo. Smoke. Eu olho para cima e encontro com seu olhar duro. — Merda. — eu xingo. Sua mandíbula está tensa. — O que está... — sou levada do chão e jogada sobre o ombro de Smoke com facilidade. O couro de sua jaqueta é quente contra minha

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pele nua. — O que você está fazendo? — eu pergunto, chutando e gritando, batendo meus punhos contra suas costas. — Eu deveria quebrar o pescoço dele. — ele responde. — De quem? — grito. Smoke não responde. Ele nem sequer para até voltar ao quarto. Ele me joga no colchão e remove um conjunto de algemas segurando meu pulso na cabeceira da cama. — Que diabos! — eu grito. — Eu deveria fazer muito mais do que amarrar você. — ele parece ter tentado se controlar, mas está perdendo. Sua respiração é rápida. Sua veia está pulsando em seu pescoço. Os nódulos brancos. — Eu não entendo. Por que... — não tenho a chance de terminar minha pergunta porque ele já se foi. A porta do quarto fica parcialmente aberta. Eu ouço a porta da frente fechar e seu motor rugir à vida. Estou tão ferrada. Não consigo pensar direito. Há uma sensação de afundamento que me puxa para dentro de suas profundezas. Estou chateada. Se eu tivesse alguma chance, estrangularia Smoke com minhas mãos nuas. A dor e a raiva são incapacitantes. O que diabos aconteceu? Todos os sinais apontam para que Smoke esteja com ciúmes, mas isso é mesmo possível? Ele não pode ficar com raiva por Nine me beijar. Foi apenas um beijo amigável. Mas então percebo que é exatamente o que ele está. Smoke está com ciúmes. Eu bufo. Ele não tem o direito de estar. Não depois da ruiva. Não depois dele me raptar. Estou furiosa e machucada e me sentindo mais sozinha do que nunca. Eu também estou frustrada, irritada, e mais uma vez presa - na maldita cama. Mas há algo fortificante em ter esse efeito sob Smoke. Algo satisfatório sobre fazê-lo sentir mesmo que seja uma pequena dose de como ele me fez sentir quando trouxe aquela garota aqui.

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Eu grito minhas frustrações para uma casa vazia, chutando meus pés contra o colchão. Eu puxo as algemas como se elas de alguma forma fossem se abrir magicamente. Elas não se abrem. Estou cheia de força, tão forte que eu poderia explodir. Talvez eu deveria mostrar a Smoke quando ele voltar. Talvez, isso significará algo para ele, o suficiente para me libertar. Lembro-me do V profundo na testa de Smoke. Ou talvez, será a minha última tentativa. Eu tento acalmar meu coração errático e rápido, mas enquanto deito no quarto silencioso me encontro além de inquieta. Olho para o teto, implacável, o coração batendo selvagemente. O empenho em fazer Smoke sentir ciúmes se transforma em outro tipo de sentimento que começa como um formigamento entre minhas coxas, aumentando e se transformando em algo mais poderoso até eu pressionar minhas coxas para acalmar a dor crescente. Eu digo a mim mesma que foram os romances que acenderam essa necessidade dentro de mim para sentir mais. Sentir algo. Mas sei, mesmo que esteja acontecendo, que é uma mentira. Com a minha mão livre, tento tirar o biquíni das minhas costas, mas não consigo alcançar. Eu puxo o top em vez disso, liberando meus seios. Eu me toquei antes, mas nunca achei tão satisfatório. Na maioria das vezes eu não pude me levar ao clímax. Mas eu precisava acalmar a tempestade em minha mente e meu corpo. Estar amarrada à cama limitou minhas opções. Empurro a parte de baixo do meu biquíni. Fecho meus olhos e repouso minha cabeça contra o travesseiro. Meus pés estão planos no colchão. Joelhos. Eu aperto meu mamilo, então corro minha mão levemente sobre o mamilo. Desejo aumenta na parte inferior do meu estômago. Eu mordo meu lábio inferior e movo minha mão para o outro mamilo. Parece melhor do que me lembro, embora já tenha tido um ~ 183 ~


tempo. Eu o puxo levemente e minha boca se abre em um suspiro silencioso. Talvez eu possa gozar só com isso. Estou molhada, minhas coxas escorregadias. Movo minha mão pelo meu corpo. Imagino que é a mão de outra pessoa me tocando. Querendo-me. O primeiro rosto que aparece na minha mente é o de Smoke em cima de mim. Eu balanço a cabeça e decido pensar em Duke em vez disso. Lembro-me de seus beijos. Sua boa aparência. Está funcionando até que meus dedos alcançam meu clitóris, então a imagem muda de cachos loiros e sorrisos fáceis para olhos escuros e mãos ásperas. Tatuagens e linhas franzidas. Algemas e cicatrizes. Lábios que foram feitos para o pecado. Um corpo perfeito com uma mente corrupta. Lembro-me do jeito que me senti em seu colo. Como ele usou meus quadris para me esfregar contra seu eixo duro através do jeans. Eu circulo meu clitóris com meus dedos, usando minha própria umidade para deslizar mais e mais uma e outra vez. Levanto meus quadris da cama e imagino que ele foi mais longe. Que o telefone ou Zelda não nos impediu. Imagino o som que seus jeans fazem no chão. Que ele me virou com as costas contra o sofá e sugou meus mamilos enquanto seus dedos encontraram minhas dobras doloridas e molhadas. Eu gozo antes que minha imaginação tenha a chance de avançar. É forte. Tão forte. Destruindo-me e me dando de volta prazer, dor e frustração. Está tão errado, mas não me importo. Eu apenas me importo com esse sentimento me atravessando como um rio selvagem e cheio de água. Estou gritando para a casa quieta. É um grito selvagem, desesperado, alto e implacável. Nunca experimentei um orgasmo tão forte antes. Isso é imprevisível. Minha mão ainda está entre minhas pernas abertas, meu dedo acariciando preguiçosamente meu clitóris enquanto supero as ondas de prazer. Eu tremo pela sensação de meus duros mamilos contra a brisa que atravessa a janela. Eu estou me acalmando, minha boca ainda aberta em êxtase, meus dedos mergulhando dentro de mim brevemente para rastrear círculos preguiçosos sobre meu clitóris inchado com meus próprios sucos.

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O nome de Smoke ainda ecoa pela casa e pelos meus ouvidos. Balanço minha cabeça para o lado e abro meus olhos. Eu congelo. Meus movimentos. Minha respiração. pensamentos. Porque, lá, parado na porta, está Smoke.

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Meus


Capítulo Trinta e Seis SMOKE

Eu desisti depois de ver Nine colocar sua boca em Frankie. Eu estava chateado. Ela era minha. Não dele. Meu trabalho. Meu problema. Meu tudo. Eu estava chateado comigo mesmo por estar tão furioso. Foi bom que Nine estacionou na outra direção, porque eu queria arrancar seus braços com minhas mãos e espancá-lo com seus próprios membros inúteis, e se ele estivesse perto o suficiente, eu provavelmente teria feito. Se ele se aproximasse o suficiente, eu provavelmente teria feito. Eu rosno. Eu sei que eu teria. Eu estou na minha moto a menos de dois a quilômetros abaixo da estrada quando clico nos freios e coloco meu pé no pavimento, fazendo uma curva brusca. O que diabos eu estou fazendo? Por que estou me segurando? Frankie é minha para fazer o que eu quero. Um instrumento de vingança. Nada mais. Eu não deveria fugir dela; ela deveria estar fugindo de mim. Eu volto para a casa de campo. Eu quase não baixei o descanso, antes de sair da moto e correr para a casa com passos muito determinados. Frankie não entende a extensão da minha ira. Ela me perguntou por que quando eu a algemava na cama. Por quê? Vou mostrar a ela o porquê. Estou prestes a entrar no quarto quando paro, como se houvesse uma mão pressionada no meu peito. Isso tem que ser outro de seus truques. Minha respiração para com a visão diante de mim. Meu pau endurece. Mas é um maldito truque.

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Frankie. Deitada na cama. O que eu esperava encontrar. Foi o que eu não esperava que fez minha garganta ficar seca e meus dedos tremerem ao meu lado. Ela está nua. Ela está nua, e está se tocando. É a coisa mais erótica que já vi. É prazer e dor. Céu e inferno. Perturbável, deliciosa e fodida me atrapalhando como uma sirene do fundo. O que resume tudo quando se trata de como me sinto sobre Frankie Helburn. Não posso desviar o olhar. Não posso engolir. Não agora. Nem nunca. Ela grita meu nome quando ela goza. MEU. NOME. Não consigo me segurar. Seus olhos se fecham em mim. — Você voltou. — ela sussurra, suas bochechas rosadas. Seus olhos parecem que ela acabou de usar heroína. Ela está sem foco. Drogada com luxúria. Meu pau treme dolorosamente atrás do meu jeans e não aguento mais. — Voltei. — digo. Parece um aviso, e quis que soasse assim. Eu encolho os ombros para tirar a minha jaqueta e puxo minha camisa por cima da minha cabeça, colocando a jaqueta sobre cômoda. Eu vou até a cama e coloco uma mão em seu joelho. Sua pele é macia e quente. Eu abaixo até encontrar o colchão, abrindo suas pernas. Ela está brilhante e gotejante, perfeita e rosa. — Linda pra caralho. — eu gemo. Suas coxas lisas. — Você estava pensando em mim. — eu digo, ouvindo a fome na minha própria voz. Não tento escondê-la. Já passei disso agora. Frankie balança a cabeça, seus dedos se afastando de seus lábios e indo até seus seios onde ela preguiçosamente beliscou seu mamilo, nunca tirando os olhos dos meus quando suas costas se arqueiam um pouco da cama. — Porra, Frankie. — eu tiro minhas botas, chutando-as para o chão. — Não consigo mais me segurar. — digo. E estou falando sério. ~ 187 ~


Eu sou impotente contra essa coisinha pequena. — Sem joguinhos de merda. Apenas foda. Só eu e você. Ela levanta os quadris da cama, silenciosamente implorando. Choraminga, e o som é como um golpe no meu pau. Minhas bolas se apertam. — Você foi embora. — ela diz com um sussurro em sua respiração, seus olhos se esbarrando no meu peito nu e depois mergulhando mais abaixo enquanto eu tiro meus jeans e os chuto para o lado. — Eu estava chateado. — eu digo com raiva de Frank novamente ao pensar que Nine a tocou. Frankie não reage à minha raiva. Em vez disso, ela sorri e morde o lábio inferior. Não é possível que aquilo tenha sido um show. Estacionei minha moto na casa de Zelda e depois caminhei de volta pelo campo. Ela não poderia ter me ouvido chegando, e não havia como fingir um orgasmo assim. — Por quê? — ela pergunta. Porque eu sou estúpido. Porque estou perdendo a visão do que é importante. Porque não consigo tomar decisões ou pensar em algo mais quando você estava usando aquele pequeno biquíni preto que mal cabe em você. Quando as mãos de outra pessoa estavam em você. Mãos que não são minhas. Quando eu tomaria uma bala se significasse que eu poderia estar dentro de você logo depois. O mesmo pequeno biquíni preto que Nine não conseguiu tirar os olhos mais cedo agora está empurrado para cima de suas tetas, seus mamilos duros. Quando ela gozou com meu nome em seus lábios, tive que segurar a maldita porta para me apoiar. Foi muito lindo. Ela é muito bonita. Eu a quero. Eu a quis desde o segundo em que vi seu rosto pela primeira vez. Mas agora, gozando com meu nome em seus lábios, sei que ela me quer. Eu não vou esperar. Não mais. Foda-se as consequências; não consigo me concentrar em mais nada. Foda-se tudo e todos.

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Nada está entre nós agora, exceto para Frankie, que GOZARÁ. Uma e outra vez.

FRANKIE

Os olhos de Smoke estão pesados com luxúria que são reduzidos a fendas com suas pupilas brilhantes e escuras brilhando por baixo. Ele coloca um joelho na cama e depois o outro, abrindo as minhas penas pelo colchão e cobrindo meu corpo com o dele, posicionando-se entre minhas pernas. Ele abaixa sua cueca boxer preta sobre sua bunda perfeitamente arredondada. Parece como algo de uma escultura. As tatuagens cobrem as pernas e continuam até o pescoço, mas seu traseiro é surpreendentemente sem tatuagem. Seu pau é enorme. Eu o senti contra mim, mas ainda não o tinha visto. Não é apenas apontado para alcançar sua barriga, mas é muito mais grosso do que imaginava. A ponta brilhando com necessidade. Eu coro. Calor subindo no meu pescoço e rosto enquanto ele coloca suas mãos em ambos os lados da minha cabeça. Levanto meus quadris de novo, e quando meu clitóris se encaixa contra sua dureza, coberto de uma pele macia e suave, ambos gemem. Eu estava fingindo querer ele antes. Que minha reação a ele era apenas natureza. Biologia. Foi a maior mentira que já disse, mesmo que fosse só para mim. Por essa coisa entre nós, essa carga elétrica que provoca cada vez que estamos no mesmo local, não há nada de usual nisso. Certeza também de que essa merda também não é nada natural. Eu quero Smoke. Não há como negar. Não quando era ele que imaginei me tocando quando gozei. Não quando não posso respirar direito. Não quando ele possui a capacidade de me machucar muito. Não quando eu possuo esse mesmo poder. Se Smoke estava se afastando de mim antes, ele não está mais. O olhar em seus olhos é francamente perverso. Seu bíceps e ombros ~ 189 ~


flexionam enquanto ele segura seus braços de ambos os lados ao meu redor, apoiando-se, pairando logo acima de mim. Ele está me observando enquanto passa o polegar sobre meu lábio. Fecho meus olhos e me inclino no seu toque. Ele rosna profundamente dentro de sua garganta, então cobre meus lábios e meu corpo com os dele. Smoke não me desalgema. Não há tempo. A nossa necessidade choca no ar. Acendendo o atrito entre nós como um sílex causando uma faísca. Seu beijo é duro e brutal, e eu o devolvo com tudo o que tenho. Nossas línguas não estão dançando. Estão lutando uma batalha que ambos sabemos que estamos destinados a perder e ainda assim, nenhum de nós será o primeiro a desistir. A mão dele desce entre minhas pernas enquanto a língua traga a minha, ele circunda meu clitóris já sensível uma e outra vez, trazendome de volta ao limite e depois parando. Ele faz isso de novo e de novo enquanto nunca tira os lábios dos meus. Eu estou tonta. Meu coração está batendo forte. Meu estômago está tão apertado que está a ponto de explodir a qualquer momento. Nosso beijo é apaixonadamente caótico. — Por favor. — imploro contra sua boca entre beijos. Estou aterrorizada e ansiosa, mas acima de tudo necessitada para tê-lo dentro de mim. Seus lábios se movem para o meu pescoço, ele suga e lambe a pele atrás da minha orelha. Eu sinto em todos os lugares. A umidade entre as pernas. Os lençóis embaixo de mim estão encharcados. — Eu acho que você precisa aprender uma lição. — Smoke rosna. — Quando eu disse que você era minha, eu falei sério. — Sim. Por favor. — eu imploro novamente quando ele vai mais baixo e suga um mamilo. Eu grito, alto, não me importando quem ouve ou o que acontece. — Eu preciso. Eu preciso... — eu me afasto, não me lembrando de nada que estava dizendo quando um dedo longo entra em mim, acariciando minha parede interna. Eu estou tremendo. Tremendo. Estou à beira de convulsionar quando ele para. — Quando você gozar, será enrolada em torno do meu pau e quando eu disser. Você pode achar que você tem algum controle aqui. Mas você não tem. Eu movo meus quadris em resposta, tanto em frustração e retaliação.

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Ele ri em minha pele. — É isso, diabinha. Lute comigo. Apenas esteja avisada. — ele aperta meus quadris com tanta força que vejo estrelas. — Eu luto de volta. Ele solta meus quadris e aperta contra mim, esfregando seu eixo sobre meu clitóris de novo e de novo até eu estar vendo estrelas. É pura tortura incrível. Uma agonia prazerosa. Olho entre nós, para sua ereção maciça e um pensamento ocorre em mim. — Você vai me quebrar. — eu digo, contra seus lábios, sentindo um súbito choque de pânico se apoderar. Ele sorri. — Sim, eu vou. Smoke me beija de novo. É mais profundo, mais frenético desta vez. Nossas línguas iniciam a dança tortuosa mais uma vez quando seu eixo deixa meu clitóris para se alinhar a minha entrada. Ele levanta meus quadris do colchão. — Eu nunca... — eu comecei a dizer. — Eu sei. Isso está prestes a mudar. — Smoke surge em mim com um estrondo estrangulado. Seu rosto apertado. Seu pescoço travado. Eu faço uma careta. A dor é enorme. Estou quebrando de dentro para fora. Estou sendo dividida ao meio. — É justo que eu a quebre. — Smoke geme, entrando completamente. Ele me olha nos olhos. — Já que você me quebrou. Ele chega entre nós e esfrega meu clitóris enquanto empurra para dentro de mim novamente, ignorando meus gritos de dor até que lentamente se convertem em gritos de prazer. Ele move seus lábios do meu pescoço até meu ouvido, de volta aos meus lábios e até o meu mamilo. Ele usa suas mãos para guiar meus quadris para encontrar seus impulsos, permitindo que ele vá mais fundo até que Smoke é tudo o que posso sentir. Tudo o que posso ver. Tudo o que posso pensar. Eu não sei se é o quarto tremendo ou quando a erupção começa baixo no meu estômago, se espalhando como uma bomba nuclear caindo. Estou gritando e chorando, arranhando as costas dele, rasgando sua pele. Isso só o incita a empurrar mais. Mais rápido. ~ 191 ~


Eu quero machucá-lo. Marcá-lo. Quero sua carne sob minhas unhas e sangue escorrendo pelas costas dele. Preciso acertá-lo. Lembrá-lo de mim, isto e nós, enquanto ele viver. Nada além do som da batida de sua pele contra a minha ou a maneira como ele geme meu nome importa. Agora não. Não enquanto seus lábios estão na minha pele e ele está no fundo do meu corpo. O orgasmo é tão duro, áspero e doloroso que estou chorando. Lágrimas genuínas rolam pelo meu rosto enquanto o ritmo de Smoke se acelera e ele bate em mim. Seu pau engrossando dentro de mim faz com que outra onda de prazer caia como dois furacões que se encontram no oceano. — Smoke! — eu grito. — Que buceta apertada. — o sorriso de Smoke é excitante. — Abra seus malditos olhos. — ele exige. Sua voz é um eco distante na minha cheia de luxúria, mas eu o ouço, e isso me chama de volta. E porque eu sou totalmente desafiante quando se trata do meu corpo e o controle da Smoke sobre ele. Eu faço como ele mandou e abro meus malditos olhos. Smoke segura meu rosto, deixando sua testa na minha. Ele mantém seus olhos nos meus. Os seus ataques se tornam selvagens. Nós respiramos o ar um do outro enquanto os quadris de Smoke batem contra os meus repetidas vezes. É duro e rápido e tudo o que nunca soube que eu queria. — Frankie. O, merda. Frankie! — Smoke grita. Seus músculos se esticando, seu pau se agitando antes de liberar tudo o que ele tem dentro de mim. Os jorros quentes me enchem, cobrindo minhas entranhas, escorrendo nas minhas coxas. Eu ainda estou convulsionando ao redor dele, apertando em torno dele até ele afundar contra mim. Ambos ansiosos por ar. Smoke envolve um braço ao meu redor enquanto ele respira. Meu cérebro está confuso. Estou cheia de luxúria e Smoke. — Você estava certo. — eu digo, lágrimas inexperientes nos meus olhos. Eu olho para o teto. Smoke responde sem palavras, agarrando-me mais apertado. ~ 192 ~


Abaixo a voz em um sussurro. — Você me quebrou.

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Capítulo Trinta e Sete FRANKIE

Eu acordo sozinha. Imediatamente eu sinto três coisas. Rejeição, medo e dor entre minhas pernas. Eu visto uma das camisetas de Smoke e meu converse quando tenho certeza de que ele não está na casa e vou procurar lá fora. Estou preocupada com ele. O pensamento é risível, mas é verdade, no entanto. Em primeiro lugar, não vejo nada até encontrar uma luz na extremidade do quintal da prisão principal. Eu ando em direção a ele, e encontro Smoke olhando para o chão. Ele não olha para cima enquanto me aproximo. Meus olhos seguem para onde Smoke está olhando fixamente em duas grandes pedras em cima de um montículo coberto de terra na outra forma plana. Essas não são rochas. São lápides. — Você pode perguntar. — diz Smoke, lendo minha mente. Penso que por um segundo pode ser uma armadilha de algum tipo, mas pergunto de qualquer maneira. Minha curiosidade aproveitando o melhor de mim. — Quem está enterrado aqui? — Meus pais. — Quem... quem os enterrou aqui? — pergunto, já sabendo a resposta. Ele me olha lentamente. Nossos olhos se encontram. — Eu.

***

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— Meus pais eram realmente jovens. Muito jovens. Ambos estavam presos no ciclo de festas e drogas quando eu cheguei. Nós mudamos do sofá para a garagem do prédio abandonado. Nós éramos sem-teto, na maior parte. Eles eram bons pais quando não estavam fodidos. Pelo que eu consigo lembrar, de qualquer forma. — O que aconteceu com eles? — pergunto. Não posso evitar. Eu sinto por ele. Estendo a mão e coloco em seu braço. Ele olha a nossa conexão, então, para o meu rosto, como se estivesse decidindo se vai aprovar o meu toque. Ele acena com a cabeça e eu deixo minha mão onde está. — Eles sempre foram para esta casa. Era uma das antigas dependências da prisão. Fui lá para buscá-los depois que acordei em uma cela de prisão sozinho. Eles não estavam lá. Ninguém estava. Eu odiava aquela casa. Odiava o que as coisas lá estavam fazendo com eles. Então me arrastei em minhas mãos e joelhos no espaço do tubo de ar. Cortei a linha de gás e empurrei para o tubo de água principal e acendi. Eu quase não voltei, minhas calças ficaram presas e eu tive que arrancar o tecido para ficar livre. A força da explosão me jogou até uma árvore. Deslocou meu ombro. Quebrou meu braço. Mas mal senti a dor. Tudo o que senti era como se voltar para a cela da prisão fosse felicidade. Mas então eles nunca voltaram. — Eles estavam na casa, não estavam? — pergunto. Ele concorda. — Eles estavam muito fodidos para atender a porta. Eu enterrei o que restavam de seus pertences aqui. Não foi muito. Apenas algumas roupas. A pior parte foi que depois que o choque inicial se foi, me senti aliviado. Eu não precisava mais saber se eles estavam voltando. Eles não estavam. Eu então tomei as decisões. Eu estava mais feliz porque eles estavam mortos. — Eu sinto muito. — Por quê? Porque acidentalmente matei meus pais? Não. Eu não sinto. Não mais. Estou pensando que o incidente com seus pais foi o primeiro passo na transformação do menino para o homem que sou. — Você era criança. — eu digo a ele. — Você não deveria se sentir mal. Você tinha oito anos. Não teve educação nem supervisão. Não é sua culpa. Não há nada para se sentir mal. — Você não sabe nada sobre isso. ~ 195 ~


Empurro contra o braço dele. — Não sobre o que você passou, mas eu sei uma coisa ou duas sobre ser sozinho! Depois que minha mãe morreu, meu pai apenas me bancou. Ele trabalhou no porão e, durante anos, só o via quando ele estava me dando dinheiro para comprar comida. Ele não me dizia o que fazer, nem o que não fazer. Eu quase não agia como criança, estava por conta própria, então não me venha com essa de ‘como você saberia’, porque eu sei muito. — Então, como você acabou assim— Não se atreva a dizer normal. Eu não acho que essa palavra se aplica a mim. — alguns momentos de silêncio passam entre nós antes de eu falar novamente. — Isso vai parecer ridículo, mas eu fingi que minha mãe estava lá. Fingi que estava me dizendo o que fazer. Eu fui dormir às oito da noite todas as noites porque fingi que ela estava me desejando boa noite. Cuidei da minha higiene, comi meus vegetais, tudo porque imaginei ter uma mãe que queria o melhor para mim. — E quando ela estava viva? — Eu não sei como era quando estava viva. Não lembro dela. Eu tentei e tentei e tentei lembrar; olhava a foto dela no corredor todos os dias tentando lembrar de alguma coisa: uma palavra, um olhar, até mesmo um grito ou suspiro, mas nada. A única mãe que conheço é a da minha imaginação. Então, você vê, assim como você, eu me criei. — Mas, nós ainda acabamos como pessoas muito diferentes... — Sim. — eu concordo. Você está de um lado da arma e eu estou do outro. Smoke olha de volta para o túmulo. Por um nano-segundo, sinto o calor da palma da mão na parte inferior das minhas costas antes de deixá-la cair, flexionando os dedos. Ele está tentando me consolar, ou está buscando seu próprio conforto? Parece quase uma desculpa por algo horrível. Pavor se constrói no meu intestino e se solta em meu coração. Eu não tenho certeza do porquê da confissão súbita de Smoke ou por que compartilhou esta parte de sua vida comigo, mas estou muito consciente agora de que há muito mais nisso do que eu percebi. Só há uma razão pela qual ele está escolhendo ser pessoal comigo agora, e não é bom. — Você ainda vai me levar para ele, não é? — pergunto, já sabendo a resposta. ~ 196 ~


— Eu... eu não sei. — não há emoção em sua voz. Eu dou um passo para trás e sugo uma respiração entrecortada. Seguro meu estômago como se ele estivesse me chutando. — Bem, obrigada por sua honestidade, Smoke, mas você pode guardar suas histórias para você mesmo. Eu não precisava de você antes. Eu não preciso de você agora. — eu quase tropeço em uma rocha. Smoke parece que está prestes a ajudar a me estabilizar, mas para enquanto me recupero rapidamente. — Nunca fui uma grande fã de prêmios de consolação. Minha garganta se aperta à medida que eu viro e corro de volta para a casa com lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto e decepção queimando em meu coração. — Eu disse que alguma coisa mudaria! — ele grita. Suas palavras me impedem. Eu volto até ele. As estrelas estão brilhando por cima. Um lobo uiva ao longe. Os grilos chilreiam ao nosso redor. Prova de coisas horríveis que podem acontecer nas noites mais mágicas. Vou até ele e empurro meu dedo indicador em seu peito. — Mas tudo já mudou! — Eu te disse que não tenho escolha. — ele rosna. Vejo a dor em seu rosto e ouço isso em suas palavras, mas não é o suficiente, e nunca será. — Por quê? — pergunto, repensando minha pergunta. — Sabe de uma coisa. Não importa. Você sempre tem uma escolha. Ele balança a cabeça e baixa a voz para um sussurro. — Nem sempre. Não neste maldito caso. Empurro seu peito e me afasto. — Sim, você tem. Você simplesmente não vai me escolher.

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Capítulo Trinta e Oito SMOKE

— Pode ser difícil de acreditar, já que acha que o mundo gira em torno de você, mas tanto quanto você quer que seja tudo sobre você, não é! — eu grito com Frankie, que está andando rápido. Ela não entende do que se trata. Ela não entende o que precisa ser feito para concertar as coisas. Ela tem o direito de estar frustrada, mas isso não faz a culpa ou a raiva que sinto mais fácil de aceitar. — Então, de quem é? — ela pergunta, girando para me encarar. Estamos na cozinha agora. Suas costas contra o balcão. — Porque a última vez que chequei, sou a única que está sendo mantida contra a vontade. Então, diga-me, Smoke. Para quem mais poderia ser isso? Eu pego ela pelos ombros. — É sobre o meu filho! — eu digo. A mandíbula de Frankie se abre. Ela não fala, apenas olha para mim com descrença. Ela está estreitando os olhos para mim como se não pudesse me ver, mesmo estando bem na frente dela. Olhe-me, Frankie. Por favor. Olhe-me. — O quê? — ela finalmente pergunta em um sussurro. É a última merda no mundo que eu quero contar a alguém, não importa que seja Frankie, mas não posso mais evitar. A dor escrita em seu rosto está me estrangulando por dentro. Estou ferrado. Dizer a ela não mudará nada, mas talvez possa mudar a aparência de traição em seus olhos. O olhar que coloquei lá. O mundo parou de girar. É só eu e essa linda garota irritada olhando um para o outro como se estivéssemos prestes a foder ou a arrancar nossos olhos. Talvez ambos. Quem pode nos culpar. Nós deveríamos estar em lados opostos, mas as coisas mudaram. ~ 198 ~


O único lado em que eu quero estar é na mente dela. Mente. Alma. Corpo. Sua dor é minha dor, e eu estou me afogando. — Seu o quê? — ela pergunta novamente, mais alto desta vez como se talvez não tivesse me ouvido direito. Apesar do olhar surpreso em seu rosto e da forma como suas sobrancelhas se arqueiam, eu sei que ela entendeu. Eu a levanto pela cintura, apoiando-a no balcão. Manobro-me entre suas pernas por dois motivos. Um, porque eu preciso estar tocando ela enquanto conto o que estou prestes a contar, e dois, porque preciso mantê-la no lugar, então ela não vai fugir de mim novamente. Preciso que ela fique e escute todas as palavras que estou prestes a dizer. É muito importante. — Morgan. — eu começo, sentindo minha garganta apertar. — Ela era... uma amiga. Bem, acho que mais do que uma amiga. Ela também estava no negócio, principalmente em coisas de tecnologia. De vez em quando me ajudava. Ela não me amava. Eu não a amava, mas confiávamos um no outro, e a confiança era o melhor. Pelo menos para nós era. Eu me encolho quando chego à parte da história que nunca disse em voz alta antes. — Continue, — Frankie me incita. Ela agarra levemente o meu bíceps, e toda vez que ela faz algo para me consolar, sinto que estou vivendo pela primeira vez e morrendo devastadoramente. Limpo minha garganta. — Eu estive longe, trabalhando por todo o país durante vários meses. Eu fico sem internet quando estou trabalhando em determinados lugares. Sem telefone. Nenhuma comunicação com o mundo exterior. Ela acena com a cabeça contra o meu peito, e eu abaixo a parte de trás da cabeça com a mão, enfiando os dedos pelos seus cabelos. — Quando eu voltei, fui ver Morgan, mas ela... — eu sinto meus dedos apertarem o cabelo de Frankie quando as imagens do que eu encontrei correm através do meu cérebro como um show de imagens torcidas. — Ela estava...

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— Ela não estava viva. — Frankie termina por mim. Eu aceno lentamente. — Não, ela não estava. Longe disso. Não havia nada em sua casa, apenas sangue. Mais sangue do que jamais vi, e vi meu quinhão de responsabilidade. Eu tive que olhar mais perto para perceber o que realmente aconteceu. Eu aceno com a cintura e a puxo até a seu corpo suave contra sussurra em meu peito cabeça e respiro-a.

cabeça e coloco meus braços ao redor de sua borda do balcão para que eu possa pressionar mim. Eu acho que ela vai lutar contra, mas ela em vez disso. Eu coloco meu queixo no topo da

— O que realmente aconteceu? — Frankie pergunta. — Morgan. Ela estava grávida. Eu não sabia. Não nos falamos em meses. Eu estava longe. É por isso que havia tanto sangue. Ela foi picada em pedaços. Cada centímetro dela. — Oh, meu Deus. — Frankie arfa. — Por quê? Por que diabos alguém faria isso? — ela está soluçando contra meu peito. Agora estou confortando-a. Segurando-a. Não digo a ela o que aconteceu, porque o mundo é um lugar maligno. Eu não conto a ela que é minha culpa por me aproximar de Morgan quando não deveria. Seu apego a mim era um risco que eu não deveria ter deixado ela tomar. Isso a tornou um alvo. — O bebê... era seu, não era? Eu aceno a cabeça novamente, incapaz de dizer as palavras em voz alta. Pego na minha carteira e entrego a Frankie a carta encharcada de sangue que encontrei na casa de Morgan sob seu corpo. Frankie a desdobra lentamente, como se fosse algo delicado que possa ser quebrado e não um pedaço de papel rasgado. Seus lábios se movem enquanto ela lê para si mesma. Eu não preciso mais que levar ela comigo. Eu li mil vezes. Eu sei exatamente o que diz, tendo memorizado cada palavra. VOCÊ, Não sei por que escrevo isso, já que espero que volte logo. Eu acho que estou escrevendo mais para mim, já que provavelmente vou te ver antes que possa te entregar. Mas, no caso de não conseguir falar, esse será meu segundo plano.

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Você deve saber que eu pareço ter engolido todo o buffet Golden West, mas eu adoro. Eu adoro estar grávida. A verdade é que sempre quis ser mãe. Pela primeira vez em muito tempo, estou entusiasmada com o que o futuro trará, e esse nosso filho é a melhor razão pela qual eu poderia ter que começar uma nova vida. Vou deixar essa vida. Eu vou para um lugar seguro onde eu possa criar esse erro mais lindo e bem-vindo. Eu ganhei dinheiro. Vou deixar o estado e comprar uma casa em algum lugar nos subúrbios em uma rua arborizada em uma cidade com mais de um semáforo. Quem sabe, talvez eu seja uma daquelas mães suburbanas que usam saias rodadas todos os dias, mas não jogam tênis. Você sabe, o tipo que se vangloria com a tecnologia em seus novos minifurgões e que se queixam do erro de seus nomes em suas xícaras de café na Starbucks. Claro, o meu será um copo de chá. Eu sou britânica, afinal. Com toda a seriedade, me encontro muito pronta para esta nova aventura. Esse novo desafio. Você me conhece, posso fazer tudo sozinha. Como tenho feito toda a minha vida. No entanto, você pode fazer parte disso, se quiser. Eu não espero ou quero que sejamos um casal. Você e eu somos muito realistas para algo assim. Mas podemos ser bons amigos e tentar ser bons pais. Pelo menos, melhor do que os nossos foram. Embora melhor seja algo fácil de conseguir. O que você decidir estará bem para mim. Só sei que não há meio termo. Não com isso. Não vou arriscar. Não posso. Você tem que estar fora dessa vida para estar em nossas vidas. Eu vou te dar algum tempo para pensar. É justo, já que eu tive meses para refletir sobre tudo, e você só está descobrindo agora. Você provavelmente ainda está fazendo aquela coisa de sobrancelhas irritadas que faz quando está pensando em algo. Tenho certeza disso. Não se dê rugas, seu velho. Se você decidir vir conosco, Tenho certeza de que nós dois lhe daremos o suficiente. - Eu

FRANKIE

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— Puta merda. — digo, juntando a conexão entre o vídeo de segurança que vi com Nine e a história que Smoke me conta. Meu coração se quebra por ele. Por Morgan. Sinto um desespero que nunca senti antes e uma necessidade irresistível de tirá-la de seus olhos pesados. Eu ressoo e controlo minhas lágrimas. — Pois é. — diz Smoke, tirando a carta das minhas mãos e dobrando-a de volta. Ele o põe no bolso traseiro. — É por isso que nada muda. — Ainda não entendo a conexão. O que essa carta tem a ver comigo? Com meu pai? Smoke se aproxima de sua mochila e tira uma foto que ele remexe nas mãos. É uma imagem estática em preto e branco da mesma imagem de vigilância sangrenta que Nine e eu descobrimos. A mesma data e hora no canto superior direito. — Oh, meu Deus. — suspiro, segurando minha mão sobre minha boca. Eu não tenho que fingir ficar chocada mesmo que já tenha visto antes. É tão horrível agora como foi a primeira vez. — Eu acho que vou vomitar. — digo, segurando meu estômago agitado. — Seu velho não apenas roubou de Griff. Ele roubou de mim. — Smoke aponta para o canto da imagem. Esta imagem é diferente da que eu encontrei com Nine. O fundo é o mesmo. O corpo é o mesmo. O sangue é o mesmo. Mas o homem nesta imagem é um muito diferente do que o do vídeo. Não há chapéu com listras pretas. É um homem diferente. Alguém adulterou a imagem. Uma deles é falsa. E quando eu reconheço o homem na imagem, eu sei imediatamente qual delas. Eu começo a hiperventilar; parece que alguém sentou em meu peito. — Não, não! Não pode ser. — eu começo a dizer. — Sim. Pode. — Smoke argumenta, batendo a mão no balcão. Eu entendo agora. Por que Smoke está fazendo isso. Porque eu estou aqui. O que ele quer de tudo isso. Vingança. ~ 202 ~


Porque o homem da foto não é apenas vagamente familiar. Ele é muito familiar. Ele é meu pai.

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Capítulo Trinta e Nove SMOKE

Frankie olha para mim com bochechas manchadas de lágrimas. — Não chore. Esse bastardo não merece suas lágrimas. — eu digo. — Eu não estou chorando por ele. — ela bufa. Vejo o meu reflexo em seus olhos vidrados. — Estou chorando por você. Chega. Estou morto. Recebi um golpe mortal. Algo que eu nunca conseguirei me recuperar. Meu estômago dói e minha respiração sai do meu corpo. Estou chorando por você. Não lembro da última vez que alguém chorou por mim ao invés de por minha causa. Não gosto da maneira como é no meu peito. Estranho. Desconfortável. Estou de repente me sentindo muito claustrofóbico na minha própria pele. Penso em tirar as lágrimas de Frankie com os meus polegares, descansando as mãos em ambos os lados do seu rosto. Paro por um momento, curtindo o jeito que minhas mãos tatuadas parecem contra sua pele clara e cremosa. A inclinação de seu pescoço longo e delgado. A sensação de seu pulso acelerado contra minha palma. — Me peça novamente. — diz ela, secando as lágrimas com a mão. — Te pedir o quê? — Me pedir para te dizer onde está o meu pai. — estou congelado em estado de choque, mas ela está falando sério. — Frankie, onde está o seu pai? — pergunto com cautela.

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Frankie fica em silêncio enquanto meu coração bate no meu peito. Ela olha para as mãos dela. — Tudo bem. — ela sussurra. — Tudo bem o quê? Ela endireita os ombros e me olha nos olhos. — Tudo bem, eu vou te levar até ele, eu o levarei até meu pai.

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Capítulo Quarenta SMOKE

Silêncio. Costumava ser algo que eu gostava. Algo que desejava. Eu me sentar sozinho em um quarto algumas horas depois que o mundo adormecia e apenas respirava. Por horas, era simplesmente eu. Sempre foi o suficiente para mim. Até agora. Até me encontrar na van com Frankie no banco do passageiro. Ela está olhando pela janela. Não houve uma palavra entre nós em mais de duas horas. Seus lábios grossos estão reprimidos. Seus olhos brilham com lágrimas não derramadas. Eu quero estar com raiva dela por esconder isso de mim até agora, mas estou lutando para ficar com raiva dela quando mantive parte da merda para mim mesmo na semana passada. Eu ainda estou processando tudo. Ela. Frank. Morgan. Tudo parece tão diferente agora e é de repente como se eu estivesse olhando tudo com um novo par de olhos. Eu não sei o que diabos Frankie tem para me dizer, ou porque decidiu agora me levar até seu pai, mas sei que ela está lutando com algo grande. Esperei tanto tempo para chegar a Frank Helburn. Posso aguardar alguns minutos a mais. Mesmo assim, a viagem está demorando muito. Todo buraco debaixo dos pneus incomoda. Cada sinal sonoro ao longe soa como um trem de carga vindo em nossa direção. Chegamos à casa da cidade sob o manto da noite. A mesma casa que vi de longe Frankie entrar e sair por semanas. Saio e abro a porta. Paro na frente da van e espero. Frankie não segue. ~ 206 ~


— Você vem? — pergunto, tocando na porta do passageiro. Depois de alguns segundos, ela abre e Frankie desliza pelo assento. — Você não vai me perguntar por que estamos aqui? — ela pergunta, ajeitando a camisa. Ela olha para a casa. Suas sobrancelhas se arqueiam como se estivesse vendo pela primeira vez. — Não. — respondo. — Porque eu sei que você vai me contar. É por isso que estamos aqui, certo? É hora da verdade. — eu seguro minha mão para ela. Frankie faz uma pausa, olhando entre meu rosto e minha mão. — Vamos, diabinha. — eu digo, mexendo meus dedos. Ela coloca a mão na minha. É hora da verdade.

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Capítulo Quarenta e Um FRANKIE

— Por que agora? — Smoke pergunta. Abro a porta da frente e aperto o interruptor de luz, mas nada acontece. Provavelmente porque não paguei a conta de energia no mês passado. — Por que de repente você confia em me contar? Para me dizer o que quer que tenha escondido? — Você verá em breve. — eu digo. Smoke volta para a van e traz uma lanterna. Ele dá um passo para trás, ligando-a. Ele me acompanha na casa escura, abrindo o caminho até a porta que leva ao porão. Eu tateio e sinto a parede sob o teto inclinado até encontrar o painel do gerador. Giro e, depois de alguns segundos, um barulho soa. As luzes no porão cintilam e piscam até que se ligam completamente. O botão do microfone emite um sinal sonoro com o lembrete para ajustar o relógio e, eu não pulo de susto. Parece um pouco besteira neste momento. Chegamos ao fundo da escada. Smoke coloca a lanterna e observa o lugar diante dele. Os computadores no centro da sala ganham vida. Vários pequenos espaços embaixo da bancada para evitar que tudo seja superaquecido no que parece ser um rugido coletivo. — Eu chamo de monstro. — explico quando Smoke entra na sala. Parou para olhar os oito grandes monitores. Quatro na mesa comprida e quatro montados em tubos pendurados no teto. — Você quer dizer que seu pai chama isso de monstro. — diz Smoke, examinando o trabalho da minha vida. Ele se vira para mim. — Eu pensei que você tivesse me dito que estava me levando até ele. Respiro profundamente e permaneço entre ele e o trabalho da minha vida. — Eu o levei até ele. ~ 208 ~


— Explique. — diz Smoke, cruzando os braços sobre o peito. Sua veia está pulsando de novo e sei que é um sinal de sua raiva aparecendo e sua paciência diminuindo. — Porque eu não vejo ninguém aqui senão nós e um monte de computadores que seu pai usava para roubar dinheiro de Griff. — É aí que você está errado. — eu me sento na minha mesa como uma pianista em seu instrumento. Corro as pontas dos dedos amorosamente sobre as teclas. Fecho meus olhos e respiro fundo. Os meus dedos tocam no teclado, praticando eficiência. Os monitores piscam tela após a tela. Smoke está atrás de mim e observa. — Caramba. — ele sussurra. — Você já sabia que meu pai era um hacker. O engraçado é que ele sempre me disse que trabalhava para o governo. Mais tarde, descobri que era uma mentira. Ele estava lavando dinheiro, mas ele não estava apenas lavando dinheiro, estava transferindo para o tráfico de seres humanos. Tirando dinheiro das pessoas, comprando escravos sexuais e enviando para pessoas que vendem escravas sexuais. Eu encontro meu ritmo e olho para as telas para a música visual que estou criando. — Ele passou toda a vida inútil ajudando aqueles que compram e vendem pessoas. Escondendo suas transações monetárias para que não fossem pegos. Ele era o verdadeiro monstro. ISTO. — eu agito minhas mãos para o sistema de computador que passei anos aperfeiçoando. — É meu monstro. — Que diabos?! — diz Smoke. Giro na minha cadeira e ele olha de mim para as telas, ainda piscando. — Frankie, você disse que estava me levando até seu pai. — ele rosna. — E eu disse que o fiz. — argumento. Smoke olha ao redor. — Então, onde diabos ele está? — ele pergunta entre dentes cerrados. — Não zoe comigo. — Ele está bem ali. — eu aponto para o canto escurecido do porão, onde apenas o fundo de um grande congelador azul retangular pode ser visto espreitando sob uma cobertura de telhado azul. Smoke rasga a lona. Ele se vira para mim. Seus pés pesados batem contra o chão de cimento. Ele está furioso, agressivo e lindo ao mesmo tempo. Meu ~ 209 ~


coração e minha cabeça estão batendo. Tenho medo por mim e por Smoke. Ele agarra minha cadeira, as mãos em ambos os braços descansam e se inclinam, seu rosto no meu. Eu vejo raiva queimando em seus olhos escuros, mas também vejo dor, tanta dor que o peito dói apesar da posição em que eu estou com os pés pendurados acima do chão. Ele acha que o traí. — Onde... — ele resmunga. Não retiro meus olhos dos dele. — Meu pai. Frank Helburn está lá. Ele está no refrigerador. Smoke empurra a cadeira e se ergue. — O que? Eu encontro seus olhos. — Ele está no resfriador. Ele está morto. Meu pai está morto. Ele está morto.

SMOKE

Meus ouvidos estão zumbindo. Morto. O filho da puta que eu estava procurando por todo esse tempo está MORTO. Eu atravesso a sala para o canto, onde o refrigerador azul empoeirado está no canto por baixo de uma seção de teto caído. Puxo o cadeado, mas não se move. Eu olho em volta e vejo um par de cortadores de parafusos pendurados na parede. Agarro-os, tirando o bloqueio após várias tentativas. Preciso ver por mim mesmo que o bastardo está morto. Não consigo decidir se estou feliz ou chateado. Não tive a chance de fazer isso eu mesmo, mas vou resolver isso mais tarde. A tampa do refrigerador não se move quando tento levantar. Eu me inclino nos joelhos e uso minhas costas. Finalmente. O gelo que reveste a tampa quebra ao redor do chão, saltando como diamantes minúsculos quando eles pegam a luz dos monitores de Frankie. O interior é mais uma lona azul que eu rasgo apressadamente para o lado, revelando o cadáver congelado de boca aberta de Frank Helburn. ~ 210 ~


Porra. Frankie para ao meu lado, olhando para o velho morto. Acho que ela não reage quando vê seu cadáver, mas depois vejo no canto dos seus olhos. Ela está tremendo. E também não com desespero. Eu levanto meus olhos para os dela e ela está olhando para ele com tanto ódio queimando em seus olhos que fico surpreso de o gelo não derreter. — Por quanto tempo? — pergunto. Ela encontra meus olhos. — Cinco anos.

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Capítulo Quarenta e Dois SMOKE

— Cinco anos. Isso não é possível. — eu digo. — Morgan morreu há um ano e seu pai a matou. Então você está errada ou está mentindo. — Por favor, sente-se. — Frankie implora, com uma dor no rosto que me faz parar de respirar. Eu balanço minha cabeça. — A verdade, primeiro. O que diabos está acontecendo aqui? — ela acabou de me dizer que o homem que eu busco vingança está morto. Não há como ficar calmo. Agora não. Nem nunca. — Ok. — ela se senta de volta na cadeira, e seus dedos se movem tão rápido sobre o teclado que a visão borra. — Vou começar do início, está certo? — ela pergunta sem olhar para mim. É tão diferente quando ela me pergunta antes de fazer algo. Não tenho certeza se eu adoro ou odeio isso. Ela me vê acenando para uma das telas. Ela suspira, inalando. — Nunca mais vi meu pai. — ela começa. — Mas você já sabe disso. — Continue. — a incito. Ela está puxando o vídeo de segurança do Aestro, e eu reconheço como uma empresa que faz sistemas de alta tecnologia para... bem, para pessoas como eu. — Passei o meu tempo na casa, e meu pai passou o seu aqui. Ele comia aqui embaixo. Ele tinha uma cama aqui embaixo na qual dormia na maioria das noites. Eu sempre achei que ele fosse apenas um ótimo trabalhador. Ele me disse que criava sites para o governo. — ela ri e olha para o elaborado sistema de computador. — Eu costumava mostrar aos meus amigos na escola o site da Casa Branca e me gabar de que foi meu pai quem o construiu. — ela olha para mim. — O único momento significativo que passamos juntos era quando ele estava me mostrando como usar computadores. Eu consegui digitar antes que ~ 212 ~


pudesse escrever com um lápis. Eu poderia escrever em códigos melhor do que poderia escrever o ABC. Ocasionalmente, ele me mostrou alguns truques. Eu acho que ele estava se exibindo. Era a única coisa em que ele realmente se orgulhava. E era tudo besteira. — Que tipo de truques? — pergunto. — Como invadir o mainframe da escola e acionar os sprinklers de brincadeira. — ela diz com uma risada. — Outros truques que eu aprendi só de olhar ele fazer. Eu vinha para cá e me sentava no degrau que ficava mais escuro. Ele nunca me ouviu, mas eu o observei trabalhar. Posso te dizer que nunca vi uma única foto da Casa Branca em nenhuma das suas telas. Frankie é absolutamente graciosa. Ela mal pisca quando muda de uma tela para a outra, e o fato de ela poder falar comigo enquanto meche nos computadores me faz perceber que ela está em um nível totalmente diferente de inteligência do que o resto da população. — E então, um dia... — continuou ela. — Eu aprendi o suficiente ao observá-lo e fazendo minha própria pesquisa, descobri o que ele realmente estava fazendo. — Hackeando? — Não apenas hackeando. Tráfico. Pessoas. Mulheres. — ela suspira, a raiva em suas palavras me inunda e posso sentir meu sangue ferver por ela, o que faz sentido, porque ela faz parte de mim. Os sons dos cliques do teclado ficam mais altos quando ela soca contra eles com muito mais pressão do que o necessário. Frankie balança a cabeça. — Ele foi responsável pela morte de milhares de mulheres em todo o mundo. Eu estava tão aborrecida quando descobri que não comi por semanas. Os dedos de Frankie ficam lentos. — Eu ia chamar a polícia, mas eu queria enfrentá-lo. Então, um dia, reuni toda a minha coragem e todas as minhas provas contra ele. Eu vim aqui para confrontá-lo e o encontrei caído sobre o teclado, morto. — Como ele morreu? — pergunto, curioso quanto a todos os detalhes em torno da morte do homem que perdi a oportunidade de matar.

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Frankie balançou a cabeça. — Ele sempre foi pouco saudável. Nunca dormia. Comia besteiras. Fumava dezesseis horas por dia. Eu acho que seu coração finalmente pifou. — E você não ligou para ninguém? — pergunto, me perguntando por que uma garota de sua idade não pediria ajuda. — Não havia ninguém para ligar. Eu não tenho nenhuma outra família, e se eu chamasse a polícia ou quem quer que fosse, então eu não teria conseguido ficar aqui sozinha e fazer tudo isso. — ela balança a mão para os monitores. Seus olhos vidrados. Ela funga. — Então, eu fiz uma polia com algumas correntes, pendurei no teto e o empurrei para o congelador para que ninguém soubesse de sua morte, e eu poderia viver aqui e fingir ser ele. Ficar online de qualquer maneira. Foi quando eu comecei meu trabalho. — Que é o que exatamente? — pergunto hesitante. Ela sorri, radiante de orgulho. — Quando percebi que poderia entrar na deep web e continuar seu trabalho, mas de uma maneira diferente... eu fiz. Eu conhecia os pontos de entrega. O método de transporte. Tudo estava na ponta dos meus dedos. Eu as salvei, Smoke. Eu roubei o dinheiro dos idiotas que negociavam pessoas como ações na Nasdaq, e eu contratava mercenários para resgatá-las. Centenas delas. Centenas de mulheres estão de volta às suas famílias porque eu parei tudo. — Puta merda. — eu digo, não esperando o que acabou de sair de sua boca. Tomo um momento para processar o que ela acabou de me dizer. Ele foi Frank. Por ANOS, ela está fingindo ser Frank. Ela é quem roubou de Griff. — Diga algo mais. Algo além de puta merda. — diz Frankie. — Estou maravilhado aqui. Estou chateado que você não me contou. Estou surpreso... e estou espantado. Eu estou um pouco... orgulhoso. — digo, pegando seu rosto em minhas mãos. — Ninguém nunca me disse que estava orgulhoso de mim antes. — seus olhos se acendem. — Idiotas. Todos eles. — eu digo. Quero dizer isso. Alguém deveria ter dito a essa garota todo o dia da sua vida como ela é incrível. — Eu achei que quando você me levou naquele dia era sobre o dinheiro que eu roubei. Eu não disse onde Frank estava e que ele estava morto porque... ~ 214 ~


— Você mentiu para mim. — eu acuso, parecendo mais puto do que eu realmente estou. Eu entendi suas razões para mentir, mas o bárbaro em mim ainda está chateado. — Sim, porque se eu te contasse a verdade, você saberia que fui eu quem roubou o dinheiro e— E você estaria morta de qualquer maneira. — eu termino por ela. Ela assente com a cabeça. — Porque você achou que estava procurando Frank Helburn, mas nunca esteve. Você não sabia disso, mas esse tempo todo, você estava me procurando.

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Capítulo Quarenta e Três FRANKIE

— Você me manipulou! — Smoke diz. Seu orgulho está se transformando em chateação novamente. — Sim, e eu faria novamente. — eu digo, olhando pra ele. — Porra! — Smoke xinga, levantando da cadeira e ficando de pé com tanta força que ela vai para frente, caindo no chão. — Você irritou as pessoas erradas, Frankie. — Mas espero que eu salve as certas. — eu defendo. — Eu não podia ficar parada e não fazer nada. — eu o encaro. — Qualquer um na minha posição teria feito o mesmo. Smoke bufa. — Não, eles não fariam. As pessoas que você irritou não fariam. Eu não faria. — Qualquer pessoa DECENTE na minha posição teria feito o mesmo. — eu digo, olhando para baixo. — Decente? — Smoke pergunta com uma risada. Sinto os cantos da minha boca virando para cima quando Smoke caminha até mim, me prendendo contra a parede. Ele me olha nos olhos. Eu encontro o seu olhar. Desafiando-o. Sempre o desafiando. — Minha pequena diabinha. — ele murmura. — Mas me diga uma coisa, Frankie... — ele roça seus lábios sobre os meus e em seguida o puxa, me provocando. Ele abaixa a voz para um sussurro. — Todas as pessoas decentes dobram como um pretzel o cadáver do filho da puta do seu pai morto antes de empurrá-lo em um fodido congelador? — Isso é injusto. — eu digo, falando por entre os dentes, mal movendo os lábios.

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— Isso é o que você não entende. — Smoke explica. — Neste jogo perigoso que você decidiu jogar ao lado de algumas das pessoas mais perigosas do mundo, não há regras. Não há justo e injusto. Há apenas mortos e vivos. Preto e branco. E pronto. — Exatamente! E um monte de mulheres estariam mortas se eu não tivesse feito o que fiz. Agora, elas estão vivas. Eu empurro contra o seu peito e faço um movimento em direção à escada, mas ele me puxa para trás. Um milhão de emoções estão correndo em minha mente junto com um milhão de cenários dos piores casos. — O que mais você tem? — Smoke pergunta contra o meu pescoço. Meu pulso começa a correr. — O que você quer dizer? — eu pergunto, parecendo sem fôlego. — Diga-me que outros segredos você está escondendo de mim. — Smoke me olha com os olhos estreitos e sussurra em minha orelha e eu não posso evitar o tremor que irrompe de dentro pelo meu corpo inteiro. Eu me desprendo dele e me viro para encará-lo. — Eu posso ver que há mais. Smoke me observa enquanto eu volto para a mesa. Eu me inclino e bato em algumas teclas. Eu já achei o vídeo de vigilância. Pressiono o play e Smoke observa como Morgan é surpreendida por alguém antes de tudo ficar branco. — Meu pai era um monte de coisas... — eu continuo, puxando o pendrive que Nine me deu do meu bolso e o coloco na porta de entrada. — Mas um assassino a sangue frio ele nunca foi. Pelo menos, não neste caso. — eu aponto para a imagem estática na tela que mostra um quadro muito diferente do que Smoke mostrou do meu pai indo embora. Eu mantenho o cursor sobre o canto inferior direito, bloqueando a visão completa da foto. — Alguém limpou a alimentação e em seguida alterou a foto. Você conhece este homem? — Porra, é Griff. — o rosto de Smoke fica vermelho com os nós dos dedos brancos. — Tem certeza que é real? Que este não é o falso? — Tenho certeza. — eu digo. — Como eu disse, meu pai morreu há cinco anos. Disso eu tenho certeza. Não poderia ser ele quem matou Morgan. Não foi ele. Foi Griff. — Como tem certeza? — Smoke grita. ~ 217 ~


Eu permaneço em cima e me recuso a recuar. — Tendo. Smoke exala. — Esse smoking branco que meu pai está usando nessa foto? Foi o que ele alugou uma vez para o seu próprio casamento com a minha mãe anos antes de eu ter nascido. Também é a única foto que até o melhor hacker poderia ter encontrado dele. Smoke se vira e dá um soco na parede com o punho. Eu pulo ao ouvir o som, meu coração quebrado por ele uma e outra vez. Estou em lágrimas quando o vejo desmoronar na minha frente. Meu peito se enche de amor e desespero. — Todo esse tempo. Todo esse tempo, porra! Eu vou rasgar a maldita cabeça dele fora! — Smoke! — eu grito freneticamente, tentando chamar a sua atenção. Ele me olha, mas não está me vendo. Ele soca a parede de concreto outra vez. Seus dedos estão sangrando. Seus braços pingam com vermelho. A pele rasgada, mas ele continua indo e indo. — Pare! — eu grito. — Por quê? — ele range. — Porque precisamos de um plano. — eu digo sem recuar. — O que acontece agora? Smoke fecha os olhos por um momento e quando os abre novamente estão reorientados. Ele sorri e acende um cigarro. — Agora? — ele ri maliciosamente. — Agora, Griff e todos os que ele já conheceu e amou morrem. — Smoke, olhe para mim, olhe para mim! — eu grito, parando perto de seu rosto. Precisando que ele me veja. Que me ouça. Ele olha sobre a minha cabeça, mas eu puxo o seu rosto para baixo e pressiono o meu nariz nele. — Smoke, se acalme. — Não há nada que alguém possa fazer ou dizer que irá me acalmar agora. Eu dou um passo para trás, rasgo a minha camisa e desço meus shorts até os meus pés. — Isso não é uma boa ideia agora, Frankie. — Smoke adverte.

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— Eu sou uma menina crescida. Eu aguento. — chego mais perto, pressionando meu corpo contra o dele. Ele precisa sentir a nossa ligação. Eu sei que o sexo não vai fazer a raiva dele ir embora, mas pode diminui-la um pouco. — Frankie. — ele adverte. Suas pupilas dilatam. Suas narinas inflam. Tudo o que eu sei é que sinto uma enorme necessidade de afastar um pouco a raiva pesando sobre ele tão fortemente e eu vou, com prazer, usar meu corpo para isso. Eu preciso trazer essa raiva para mim. — Bem, alguém me disse uma vez que eu era estúpida. Parece apropriado, você não acha?

SMOKE

Minha diabinha. A porra da minha diabinha fodona! Frankie tirou a minha vingança e em seguida a entregou de volta para mim, tudo em questão de minutos. Eu sou um desastre. A porra de um furacão atacando todos no meu caminho e agora é Frankie que tolamente está no meu caminho. Não há como voltar atrás. Não há como voltar atrás e fingir que eu não quero esta menina mais do que a minha próxima respiração. Eu não quero ter cuidado com ela. Ela não vai quebrar, embora o pensamento de quebrá-la, a quebrar por dentro, me faz salivar. — Eu não vou ser gentil. Eu não acho que possa ser. — eu digo, puxando seu corpo esbelto para o meu. Eu coloco minha mão na curva delicada de seu quadril e estico os meus dedos para cima, perto do alto de sua bunda redonda. Eu cavo meus dedos em sua carne, sua boca se abre e seus olhos se fecham. — Não agora. Não depois do que você me mostrou. Frankie não diz nada. Em vez disso, ela pressiona seus lábios contra o meu pescoço. Minha pequena fodida manipuladora. — Olhe para mim. — eu exijo precisando ver seu rosto. ~ 219 ~


Frankie abre os olhos e pisca rapidamente. Ela olha profundamente nos meus olhos e balança a cabeça de um lado para o outro. — Eu não quero suave. Eu só quero você. — ela sussurra. — Todo você. Eu rosno e então meus lábios estão sobre ela. Ela quer tudo de mim, então eu me entrego a ela. Todo o meu 1,90 de alma estéril e moral equivocadas. Todo o meu coração partido e negro. Tudo o que eu sou agora é dela. Ela é minha vítima e eu sou o seu algoz. Ela é minha presa e eu sou o seu predador. Ela é minha para eu fazer o que eu quiser. E o que eu quero agora é fazê-la gozar. Fazê-la gritar meu nome. Fazê-la sentir cada polegada do meu desejo por ela e mostrar que ela pertence a mim, para sempre. Eu quero ver suas lágrimas de prazer. Quero ouvir seus gritos de dor. Eu quero ela gemendo meu nome. Eu quero tudo isso. Eu tenho tudo e agora não há como voltar atrás. Vou levá-la. Tomá-la. Porque ela é minha. Há um cabo-de-guerra entre nós e eu estou perdendo o aperto da corda. Eu estive do lado errado de uma arma, mas isso? Isso... tudo o que há entre nós? Isso é novo para mim e muito mais assustador do que uma bala na porra da minha cabeça. Mas o que é ainda mais assustador? Não agir sobre isso. Não sentir sua pele na minha. Não saquear seu corpo com a metade do homem faminto que eu sou. Faminto por ela. Toda ela. É como se meu corpo não fosse mais meu quando eu afasto a sua mão e a puxo para mim. Quando eu pressiono os meus lábios nos dela. ~ 220 ~


Quando eu retiro as suas roupas e a deito, ela é mais preciosa do que um diamante de 4kg e meio. Ela é o céu e eu sou o vento. Somos um conjunto correspondente. Nós pertencemos um ao outro. Estou cansado de lutar contra ela. Cansado de ficar sozinho. Cansado de não conseguir a vingança que eu desejo. Cansado de não estar dentro dela novamente. Estou. Tão. Cansado. No entanto, olhando para ela debaixo de mim, no chão de cimento do porão, com o cadáver congelado do seu pai a apenas alguns metros de distância, eu sinto uma nova energia fluindo pelas minhas veias e eu sei que esta energia é a afeição por Frankie. Eu fodo duro. Com todo o meu ser eu transo com ela. O prazer é enorme e não é só no meu pau; está em toda parte. Não sei onde eu acabo e ela começa. É uma merda de outro mundo. Eu nunca pensei que poderia existir. Tudo com Frankie é novo. Foder é novo. Beijar é novo. Este sentimento em meu intestino de que eu poderia quebrá-la ao meio e me quebrar junto com ela é novo. Porque eu a amo. A única coisa que eu pensei ser incapaz de me ser dado por esta garota. Um presente que eu nunca vou ser capaz de pagar. Agradeço por isso. Não com as minhas palavras, mas com o meu corpo. Agradeço de todas as maneiras que posso. Rápido. Batendo duro. Tenho certeza de que ela entende a profundidade da minha gratidão antes de enviá-la para um orgasmo que faz seus calcanhares cavarem na parte inferior das minhas costas e gritar meu maldito nome. No final, eu vou ter tanto Frankie como a minha vingança.

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Capítulo Quarenta e Quatro FRANKIE

Antes de desligar o ‘monstro’, eu envio uma mensagem indetectável a Nine e espero que ele entenda o que eu estou pedindo a ele. — Você não vai enviar uma mensagem para Griff? — pergunto a Smoke, subindo as escadas. Já existe luz lá fora. Nós estivemos no porão durante toda a noite. Smoke enfia o telefone no bolso. — Ainda não. Nós temos um pouco de tempo. Depois eu mando. Griff pode esperar para descobrir que Frank está morto enquanto eu decido como matá-lo. — Eu suponho que você está com fome. — eu digo. Nenhum de nós comeu desde o dia anterior. — Voraz. — Smoke esfrega o estômago e flexiona seu abdômen sob o material fino de sua camiseta. Eu o levo para a cozinha. Encontro macarrão seco e um frasco de molho na despensa. Encontro salsicha no fundo do congelador, que felizmente ainda está congelada, mesmo com a energia desligada, o que significa que eu não devo ter estado fora por tanto tempo. Eu descongelo no micro-ondas. Smoke me olha enquanto douro a carne e adiciono o molho para ferver. Quando termino, coloco o prato na sua frente e ele se inclina, cheirando a comida como se fosse algo para ser saboreado. — Não é muito, mas foi tudo o que consegui com o que tem aqui. — eu explico. Smoke come como se fosse a melhor comida que ele já provou e algo sobre isso faz o meu coração vibrar. Ele geme de prazer enquanto mastiga e eu me inclino para frente do balcão para esconder meus mamilos endurecidos. — De longe a melhor coisa que eu já comi. — Smoke diz, mas ele não está olhando para a comida. ~ 222 ~


Ele está olhando para mim. Eu coro e em seguida me sinto desconfortável sob o seu olhar inflexível, eu volto para a minha própria comida e mudo de assunto. — Tenho certeza que há uma abundância de outras mulheres por aí que fizeram comida para você melhor do que esta. — eu espeto um rigatoni e o coloco em minha boca. É bom. Mas como eu suspeitava, não é grande coisa. A resposta de Smoke me surpreende. — Ninguém cozinhou para mim além de Zelda. Há feridas salpicadas em sua voz. Uma vulnerabilidade em seus olhos. Me faz querer cuidar dele. Cozinhar para ele algo melhor do que macarrão seco e molho enlatado. — Nunca ninguém cozinhou para mim também. — eu confesso. — Pelo menos, eu acho que não. Não lembro muito da minha mãe. Eu era muito jovem quando ela morreu e não tenho certeza de como ela era na cozinha. Meu pai você sabe a história agora. A mão de Smoke desliza sobre a mesa e cobre a minha brevemente. Ele aperta minha mão, em seguida, desliza para trás e retorna a sua concentração para a sua comida como se nada tivesse acontecido. Como se ele não tivesse apenas destruído meu mundo inteiro com a porra de um toque.

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Capítulo Quarenta e Cinco FRANKIE

Smoke está no chuveiro do andar de cima. Eu estou na cozinha, fiquei para lavar os pratos e jogar fora qualquer coisa que poderia estar podre na geladeira. Abro a geladeira e percebo que a minha preocupação é inútil. — Cerveja pode estragar? — eu murmuro para mim mesma pegando uma garrafa do pacote de seis, tirando a parte superior contra a borda do balcão. Tomo um gole. Não está super fresca, mas não está completamente ruim. Eu dou de ombros e dou outro gole antes de jogar a garrafa no chão, ao lado da pia. Ligo o rádio e pego uma esponja de esfregar para tirar o molho seco do fundo da panela. Eu estou cantando ‘Stupid Girl’ do Garbage quando uma mão cobre a minha boca por trás, abafando o meu grito. Eu deixo a panela cair na pia, água vazando sobre a borda, caindo nos meus pés. — Shhhhhh Sarah! Sou eu. Duke. Não grite. — Duke solta a minha boca e me vira. Eu estou respirando com dificuldade. Eu aponto a concha em posição de ataque sobre sua cabeça. — O que você está fazendo aqui? — eu sussurro olhando para as escadas. Eu ainda posso ouvir a água correndo no banheiro. — Eu estava entregando mantimentos ao lado e eu vi você através das cortinas. Eu só queria ter certeza de que você está bem. Eu não vi você na escola. Não desde o dia que o policial te arrastou para fora. O que foi aquilo, afinal? — Este não é o momento ou o lugar para essa história. — eu digo — Você tem que ir! — eu o empurro em direção à porta e em seguida, paro. — Afinal, como é que você entrou aqui? Duke sorri, estufando o peito com orgulho. — Eu quebrei a janela do porão quando você não voltou para a escola. Eu meio que esperava ~ 224 ~


encontrar o seu cadáver em decomposição em algum lugar da casa, mas não encontrei nada. Nenhum sinal seu, mas toda as suas coisas ainda estavam aqui. Onde diabos você estava, Sarah? Você desapareceu da face da terra. Eu não posso deixar de sorrir pela preocupação em sua voz. — Eu prometo que vou te contar tudo, mas eu não posso contar agora. Você realmente tem que ir. — eu o empurro em direção à porta e desbloqueio todas as fechaduras. Antes que eu possa abrir e dar o mais gentil dos empurrões para fora, ele coloca sua mão na porta para me impedir de abrir. Ele pega a minha mão na sua. — Duke. — eu sussurro. Duke olha para baixo como se ele não pudesse acreditar que ele está segurando minha mão novamente, esfregando o polegar sobre os meus dedos. — Eu senti sua falta, é tudo. Eu irei. Eu vou. Apenas... apenas me diga que você está bem. Que você vai ficar bem. Que tudo o que está acontecendo com você não é uma coisa de vida ou morte. — Eu vou ficar bem. — digo a ele. — Eu prometo. Duke pisca seu sorriso vencedor. — Ótimo, então eu vou ver você de volta na escola? — ele pergunta, retirando a mão da porta. Eu exalo. — Não tenho certeza. — digo deixando meus ombros caírem. Estendo a mão para a porta. — Oh. — Duke novamente me impede de abrir a porta. Eu não estava esperando que Duke envolvesse seus braços em volta de mim e pressionasse seus lábios nos meus. Ele ainda é tão suave e hábil como sempre, mas mesmo que eles fossem quentes, eu senti seus lábios frios. Errados. Eu não quero isso. Eu não quero ele. Ele não cheira a óleo, charutos e sabão. Eu empurro seu peito e desconecto meus lábios dos dele, bem quando uma voz profunda corta através do espaço entre nós. — Sai de perto dela! Smoke está a menos de dez passos de distância, usando apenas a calça jeans aberta. Seu cabelo está molhado e penteado para trás. Gotas de água caem pelo seu peito enquanto ele se move. Seus pés plantados firmemente no chão. Os olhos escuros estão frios, impiedosos. Eu posso ver o seu pulso acelerado através da veia, pulsando sob a tatuagem de relógio de bolso em seu pescoço. Ele levanta a arma e a aponta para Duke.

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— Porra! — Duke xinga. Ele empalidece piscando rapidamente como se não pudesse acreditar no que está vendo. Ele se move para trás e esquece que a porta ainda está fechada, batendo a traseira de sua cabeça contra ela. — Smoke. Não. — Ele colocou as mãos em você. — Smoke ferve. — A única razão pela qual eu ainda não disparei é que você está muito perto dele, mas assim que você se afastar, Diabinha...— Smoke ergue a arma. Eu entro na frente de Duke. — Não. Duke é meu amigo. — Você deixa todos os seus amigos enfiarem a língua na sua garganta? — Smoke diz com um grunhido. — Eu sabia que você não estava bem. — eu ouvi Duke sussurrar atrás de mim. — Eu estou bem! Eu estou bem, mas você não vai estar se não sair. — eu digo a Duke. — Agora vá e não diga nada sobre isso a ninguém. Estou falando sério. É importante. Eu prometo que vou explicar tudo isso mais tarde, mas por favor. Eu preciso de sua palavra, Duke. Duke olha com os olhos arregalados por cima do ombro para Smoke e, em seguida, se volta para mim. Eu não preciso olhar por cima do ombro. — Você... tudo bem. — ele diz em com a voz trêmula. Ele sente a porta às suas costas e quando a mão encontra a maçaneta, ele se vira de forma rápida e tropeça para fora. Smoke dá uns passos para a minha frente. — Antes que você pense em tocá-la de novo, pense sobre isso. Qualquer parte que entrar em contato com ela, eu vou arrancar do seu fodido corpo com as minhas próprias mãos. Duke avança para trás e corre para o carro GrubTrain. Smoke recua e fecha a porta. Eu dou um passo para trás, me afastando do vulcão fumegante diante de mim. — Você transou com ele? — Não! — eu atiro de volta. Agora é a minha vez de estar puta. Eu cruzo meus braços sobre o peito e viro meu quadril. — Ele é meu amigo. Ou ele era meu amigo.

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— Um amigo que você deixa te beijar? — Smoke fecha a distância entre nós. Suas narinas infladas. — Às vezes... — eu admito, engolindo em seco. Eu permaneço desafiante. — E às vezes mais. — Mais? — Smoke questiona, a palavra é um estrondo em sua garganta e toca direto entre as minhas coxas. Eu as pressiono juntas. Ele está tão perto agora. A água pinga de seu cabelo em minha camiseta. — Frankie, eu juro pelo fodido Cristo, eu preciso de uma boa razão de porque eu não devo ir atrás daquele filho da puta e pintar aquele vagão feio de vermelho com seu próprio sangue, porra. — Smoke, ele era meu amigo. Quando eu tinha que ficar longe do mundo, ele era a única pessoa que eu deixava entrar porque ele era bom e seguro. Ele é o encontro de todas as meninas na minha escola, então eu sabia que ele não estava procurando nada sério; então sim, de vez em quando ele se aproximava, me trazia mantimentos e me beijava. Às vezes um pouco mais. Nunca do que eu te dei. Nunca. Os músculos dos ombros de Smoke pareceram relaxar, mesmo que apenas uma fração. Mas os nós de seus dedos ainda estão brancos. — Minha diabinha. — ele retira o cabelo dos meus olhos. O meu escudo abaixa, juntamente com todas as outras defesas que eu tinha e não consigo impedi-lo de chegar a um lugar em que ele pode realmente me machucar e eu não quero dizer fisicamente. Mágoa física não é nada comparada ao que Smoke pode me infligir agora. Porque ele está quebrado. Por dentro. E não há como voltar atrás. Eu estou aterrorizada. Mais do que na cela da prisão como sua prisioneira. Tento permanecer desafiadora. Eu seguro meu peito e endireito meus ombros, segurando meu queixo para o alto. — E não espere que eu peça desculpas por isso. Eu não vou. Duke me fez companhia. Ele me fez rir. Ele era meu amigo. Só amigo. Eu pressiono minhas mãos espalmadas contra o peito molhado e quente de Smoke e uma corrente corre através de mim, percorrendo os pelos do meu braço até ele. Minha respiração o atrai e eu olho para Smoke. Ele está olhando para os meus braços e eu sei que ele também sentiu. Eu me inclino para ele. Ele cheira a sabão fresco e creme dental.

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Eu lembro que estou tentando provar profundamente, então não inalo tanto quanto eu quero.

algo,

inspiro

— Duke estava lá para mim. Eu não tinha ninguém. — eu digo e em seguida faço uma pausa, repensando na minha escolha de palavras. — Eu não tenho ninguém. Smoke inclina meu queixo para cima. Nossos olhos se encontram. A raiva ainda está escrita em todo o seu rosto, das sobrancelhas franzidas até o queixo duro, mas há outra coisa lá que se parece muito com preocupação. — Você me tem. — Smoke sussurra tão baixo que eu acho que posso estar imaginando. — Eu? — as palavras saem da minha boca num lamento. A resposta de Smoke é pressionar seus lábios nos meus em um beijo lento e suave que me sacode até a base. Ele me diz tudo o que preciso saber com seus lábios. Sua língua. O homem incontrolável está me mostrando controle. Estou perdida. Para ele. Para isso. Para nós. Para sempre passou quando finalmente paramos para respirar. Minha pele está corada. Lábios inchados. Buceta latejante com a necessidade implacável. Meu coração para. — Eu tenho você. — eu digo, correndo minha mão pelo seu cabelo molhado, mantendo meus dedos emaranhados neles. — Sim, você me tem. — Smoke concorda. Sua testa cai para a minha e meu coração começa a correr novamente. Suas pupilas estão dilatadas, seus olhos escuros estão brilhantes. Suas palavras lambem seu caminho em toda a minha pele. Ele me levanta em seus braços, minhas pernas instintivamente envolvendo em torno de sua cintura. — Agora eu vou ter você.

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Capítulo Quarenta e Seis SMOKE

Estamos deitados na cama. Na cama de Frankie. Uma coisa pequena com babados e que cheira a ela. Frankie está enrolada em torno de mim, sua perna por cima da minha coxa. Eu envio uma mensagem para Griff. FRANK HELBURN ESTÁ MORTO. Pronto. Nem mesmo três minutos passam. Meu telefone toca. — Você o encontrou e o matou sem permissão? Onde está meu dinheiro? — Griff estala. — Esse idiota é o único que sabe onde está meu dinheiro e é melhor ele ter dito antes de você ter acabado com ele. — Eu não o matei. — estalo de volta. — O filho da puta estava morto quando cheguei aqui. E Griff? Eu teria cuidado com meu tom se eu fosse você. Eu não sou um de seus meninos e não sou um cara que diz ‘sim, senhor’. — Não fui eu quem o matou. Eu acho que seu coração apenas pifou. Apenas lembre com quem você está falando. Há um momento de silêncio antes de Griff falar novamente. — Amanhã vou mandar uma equipe até os computadores dele. Talvez eles possam rastrear meu dinheiro. — Envie o meu. — eu digo. — O que diabos você quer que eu faça com a menina? — eu não tenho a pretensão de soar irritado porque este filho da puta está raspando em todos os meus nervos. Mais do que o normal. Olho para Frankie, o lençol envolto em cima dos seus seios, seu brilhante cabelo escuro espalhado por todo o travesseiro branco. Ela acorda com um bater de cílios. Seus olhos dourados encontram os meus. Eu estou pronto.

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Eu não posso imaginar um mundo sem ela. Não posso matá-la. Não acho que eu realmente poderia. Não quando ela já me matou ou pelo menos a pessoa que eu costumava ser. — Qualquer fodida coisa que você desejar. — Griff bufa. — Descarte a menina. Mas antes mova o corpo de Frank da mesa para que minha equipe tenha acesso completo aos seus computadores quando chegarem aí amanhã. Talvez eles possam rastrear meu maldito dinheiro. Vou transferir o seu agora. — a ligação fica muda e eu olho para o telefone. Griff não está normal. Não houve conversa fiada. Nenhuma pergunta sobre os meus planos futuros. Nenhum comentário sobre a minha equipe de um homem só. Algo está errado. Sem mencionar que esta foi a primeira vez que ele desligou na minha cara e não o contrário. — Está tudo bem? — Frankie pergunta, sonolenta. Eu desligo o telefone, fechando e o colocando sobre o criadomudo. Por mais que eu queira envolver meus braços em torno dela e afundar nela novamente para uma repetição muito necessária de ontem à noite, algo não está certo com essa ligação. Sobre o comportamento de Griff. — Será que ele acreditou? — Sim. — eu digo baixinho, mas repito a conversa em minha mente pela centésima vez nos últimos segundos, procurando a agulha no palheiro. — O que foi? — Frankie pergunta, sentando-se e envolvendo o lençol em torno de seus seios. Isso me atinge como uma bala na parte de trás. — Merda! — eu pulo da cama. — Vista-se. Temos que ir e temos que ir agora. Pela primeira vez Frankie escuta e puxa suas roupas e eu faço o mesmo. — O que aconteceu? — ela pergunta, empurrando os pés nos sapatos e puxando a camiseta sobre a cabeça. — Ele me disse para tirar seu pai de cima da mesa para dar à sua equipe um melhor acesso aos computadores quando eles chegarem aqui. — digo a ela. — E daí? — ela pergunta, puxando seus shorts.

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Pego meu colete e o visto. — E daí que na minha mensagem eu dizia que achei seu pai morto. Não disse que ele estava na merda do computador ou em uma mesa. Os olhos de Frankie se arregalam com compreensão e medo. — Câmeras? Eu concordo. — O fodido viu e ouviu tudo. — Merda! — ela diz, empurrando os pés nos sapatos. — Ele sabe que foi você e não seu pai. Ele vai estar aqui em breve. Aposto que seus homens já estão chegando aqui. — Eu tenho que te contar uma coisa. — ela diz. — Agora não, agora temos que dar o fora daqui. — eu a pego pelo braço e a levo para fora do quarto quando a janela se estilhaça. Cacos de vidro furam as minhas costas. Uma bala zumbe por meu ouvido direito antes de explodir na parede alguns centímetros sobre a cabeça de Frankie. Acima da incessante e inflexível barreira de fogo das armas, meu desejo de proteger Frankie é francamente esmagador. É o meu único objetivo. Minha única missão. A porra do trabalho mais importante que eu já tive. Enquanto a casa explode em torno de nós, um entendimento me bate mais forte do que qualquer bala. Eu não sou apenas apaixonado pela Frankie. Estou preparado para morrer por ela.

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Capítulo Quarenta e Sete FRANKIE

Tantos tiros. Eu mal passei a blusa sobre a minha cabeça quando as paredes explodem em torno de nós como se fossem feitas de papel. O aperto de Smoke em minha mão enquanto ele me puxa escada abaixo é tão forte que é quase paralisante, mas eu não digo para ele me deixar. Eu não faço. Eu preciso estar conectada a ele. Nós corremos pelas escadas, para baixo e pela porta dos fundos. O tiroteio prossegue. O ritmo queima meu pulmão e não paramos. Estou em boa forma, mas estou ficando para trás. Smoke para, puxa meu braço e me abaixa no chão em minhas mãos e joelhos. Ele me empurra em direção a uma grande árvore com um buraco escavado na parte inferior do tronco. — Se esconda aqui. — Smoke ordena. Vozes gritam umas com as outras a uma curta distância. — Eu sou um enorme alvo em movimento. Eles vão me identificar muito mais rápido do que a você, mas eu posso ultrapassá-los. Fique aqui. Fique quieta. Vou levá-los para longe de você. — Não! Não vá! — minhas palavras são um grito sussurrado seguido por um soluço sufocado. Eu estou sofrendo. Meus pés. Meus músculos, meu coração. Eu mal posso vê-lo através do borrão das minhas lágrimas como se eu estivesse olhando para ele de debaixo d’água. Eu estou me afogando nas profundezas da minha própria miséria, cada respiração que eu puxo está me matando. Meu coração está martelando um SOS frenético para o resto do meu corpo e isso está me esmagando de dentro para fora. — Me encontre aqui de manhã. — Smoke diz, chegando até o bolso interno do seu colete e tirando um marcador preto. — Se eu não estiver lá. Se eu não estiver... ~ 232 ~


— Não! — eu balanço minha cabeça e fecho os olhos, não sendo capaz de suportar o pensamento. Smoke me aperta. Ele inclina meu queixo para cima para que nossos olhos se encontrem. Sua voz não é alta, mas é muito nítida e precisa, como se ele quisesse tatuar suas palavras em minha memória. — Escute diabinha e ouça bem. Na primeira luz eu quero que você vá para este endereço. É a sede do MC Lawless. Você estará protegida lá. Eu estendo minha mão, pensando que ele vai escrever na minha palma, mas ele me surpreende, empurrando o tecido do meu short até minha perna, escrevendo diretamente sobre a pele da minha coxa. — Menos óbvio. — resmunga. — Tome isso! — ele diz, soltando um par de algemas e apertando ao redor do meu pulso. — Mostre a eles. Eles saberão que eu mandei você. Basta chegar lá e esperar por mim. Você pode fazer isso? — Sim. Mas é melhor você estar lá, Smoke. E estou falando sério. — eu estou tremendo. Meu lábio treme. — Este é um adeus ou somente um adeus por agora? Smoke escova o polegar sobre meu rosto. — Sempre com as perguntas. — ele diz com um sorriso triste no rosto belamente marcado. — Eu vou fazer tudo o que posso para encontrar você lá. — Eu vou com você. — tento argumentar mais uma vez. O som de tiros e gritos ao longe é todo o argumento de que Smoke precisa. — É a única maneira de te manter segura. — ele diz em voz baixa. Ele ternamente escova o polegar áspero sobre a minha bochecha, eu não posso evitar e me inclino ao seu toque. Eu fecho meus os olhos brevemente e, em seguida, olho para ele através dos meus cílios molhados. Mais tiros. Desta vez eles estão mais perto. Smoke olha por cima do ombro e em seguida de volta para mim. — Assim que amanhecer. — ele repete com um beijo ardente breve demais em meus lábios. — Você queria que eu escolhesse você, diabinha. Bem, isso sou eu... escolhendo você. A. Porra. Do. Meu. Coração. Parte.

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Não consigo encontrar as palavras para protestar quando ele coloca ramos sobre o meu espaço para esconder o esconderijo. Eu o escuto correr e, silenciosamente, choro no espaço escuro. Eu puxo meus joelhos no meu peito e afundo tão longe quanto posso de volta no tronco oco. Cada tiro que ouço parece um golpe direto no meu coração, porque cada um traz a possibilidade de que Smoke não vai estar lá quando a luz da manhã chegar. Isso sou eu... escolhendo você.

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Capítulo Quarenta e Oito SMOKE

Eu me movo pela floresta como um animal selvagem, porque sou um fodido animal selvagem. Está escuro, mas eu uso o meu instinto e rastejo atrás do homem de Griff. Eu corto a sua garganta e sangue jorra em meu rosto. É quente e úmido e eu não me incomodo de limpar quando largo tranquilamente o seu corpo no chão. Eu me movo sem fazer som. Minhas botas nem sequer trituram contra as folhas caídas. Eu estou em outro homem, a faca na base de sua espinha. E depois outro, o esfaqueio e torço seu pescoço. Eu me sinto como uma criança novamente. Estas árvores são a minha casa. Eu inspiro e uso o cheiro de pinho para me alimentar. Minhas mãos estão cobertas de sangue. Nenhum centímetro de minha pele pode ser vista através do vermelho grosso. Eu mato por ela. Eu matei mil vezes antes. Mas isso é diferente. Isso significa mais. Eu mato outro homem e mais outro até que tudo o que me resta são os pecados que cometi. Eu guardo a minha faca. Já é dia. Eu sei que disse a Frankie para me encontrar no clube, mas volto para ela de qualquer maneira. Ela não está lá, somente as algemas. E as algemas estão cobertas de sangue. — Não! — rujo, correndo pela floresta. Corro de volta para casa, onde, felizmente, a van está intacta. Eu acelero todo o caminho para o clube MC Lawless, com o meu pé batendo no acelerador. Eu corro até os portões e assusto Nine, que está de pé falando com o prospecto de guarda. — Ela está aqui? — pergunto, o empurrando para o lado e atravessando os portões. ~ 235 ~


— Que porra aconteceu com você? — o prospecto pergunta. Eu puxo a minha arma e a aponto para sua cabeça. — Ela. Está. Aqui? — Eu... eu... uh... — ele gagueja. — Eu estou aqui. — uma voz diz e eu giro para ver Frankie. Olho seus cabelos. Roupas rasgadas. Frankie está inteira. — Oh, obrigado, porra.

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Capítulo Quarenta e Nove SMOKE

— O quarto de hóspedes é a duas portas e a direita! — Nine diz enquanto eu corro para Frankie e a pego em meus braços. Eu a levo para o quarto e bato a porta, a empurrando contra ela. Eu ouvi o amor ser descrito como limpo ou puro. Eu já ouvi isso um milhão de vezes de um milhão de maneiras diferentes, mas sempre foi como uma incrível grande e fodida bola mágica de glitter. Não era real. Até agora. O que me faz pensar que o que eu estou sentindo por Frankie é forte, mas de jeito nenhum pode ser amor, porque não há uma maldita coisa limpa ou pura sobre os pensamentos que eu tenho a envolvendo. Nada angelical sobre as coisas que sonho em fazer com ela, dia e noite. Na verdade, meus sentimentos em relação a ela estão me enviando mais para a escuridão do que para a luz. Mais para o inferno do que para o céu. Ela não é um anjo que está aqui para me guiar em direção a um caminho melhor; ela é um demônio como eu, na Terra para fazer só Deus sabe o quê. O que ela fez foi me fazer sentir como se eu estivesse perdido na porra da minha mente, porque ao seu redor eu não me sinto... errado. As coisas que eu fiz para ela. As coisas que eu fiz com ela. Se a cada pessoa só é dada uma certa quantidade de sentimentos, de amor, então não tem como ela sentir o mesmo, porque de jeito nenhum eu iria deixá-la desperdiçar isso comigo. Todos os pensamentos sobre como nós não nos encaixamos são colocados em pausa porque os olhos de Frankie estão arregalados enquanto ela me olha.

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— O sangue. — eu percebo. Eu viro a cabeça em direção ao banheiro para pegar uma toalha, mas ela estende uma mão, me parando. A energia no quarto muda como se alguém tivesse deixado um fio desencapado numa poça de água. Frankie me olha perguntando silenciosamente se eu também posso sentir isso. Eu dou um pequeno aceno de cabeça, porque isso é tudo o que eu posso gerir. Minhas palavras me deixaram junto com o ar em meus pulmões. O cabelo de Frankie está bagunçado. Seus longos cílios tocam suas bochechas. Ela balança a cabeça. — Não limpe. Ainda não. Eu estou duro por ela. Latejante. Dolorido. Não apenas meu pau. Minha boca enche de água com o pensamento de prová-la novamente. Meus dedos contorcem com a expectativa de tocar sua nudez debaixo da camiseta. — Tem certeza? — pergunto. — Eu quero você. Assim como você está. Sangrento e bonito, Smoke. — Minha pequena diabinha. — eu rosno. Nós colidimos um com o outro no centro do quarto. Eu sinto a pressão em minhas costas como se estivéssemos sendo empurrados juntos por uma força maior do que nós mesmos. Apenas dois peões em um jogo que não é mais sobre a vida e a morte. Maior e mais complicado e mais... tudo. Frankie recua como se pudesse ler meus pensamentos e me olha por um instante antes de fechar os olhos. Ela suga uma respiração e eu estou perdido. Para nós. Para ela. Aqueles olhos. Aquele brilhante cabelo preto. Aqueles fodidos lábios macios. Sua boca está me chamando mais uma vez e Senhor me ajude quem tentar entrar no meu caminho. Ela não me quer limpo. Frankie me quer sujo. Real. E eu a quero. De qualquer maneira que eu possa ter. Ela pertence a mim. ~ 238 ~


Frankie Helburn é minha. Ela está sob minha pele. Ela está me incendiando. Minha carne queima por ela. Ela é a chama e o bálsamo, dolorosa e calmante. E eu quero mais dela. Tudo dela. Ela me possui. Corpo. Alma. Mãos sangrentas junto com o que diabos está no meu coração. É dela. Tudo isso. Eu sou apenas obcecado ou consumido por Frankie Helburn. Eu a levanto em meus braços. Suas pernas envolvem em torno da minha cintura e nossos lábios se encontram. Ela é parte de mim.

FRANKIE

Nossos dentes se chocam quando ele me levanta nos braços e me joga na cama. Ele se livra de suas roupas e das minhas, revelando seu pau espesso e inchado, se move contra o meu ombro enquanto ele me puxa para a borda do colchão e devora meus lábios e meu pescoço com a língua, mordiscando minha orelha com os dentes. Ele trilha pela minha mandíbula e eu não posso evitar, levantar meus quadris e os balançar no ar. Eu preciso senti-lo. Em mim, ao meu redor. Eu preciso que ele me mostre que eu sou sua, agora mais do que nunca, porque Smoke não sabe que amanhã tudo vai mudar e eu, egoisticamente, preciso disso. Preciso dele. Eu preciso ser sua esta noite porque no momento em que os primeiros raios de sol baterem no chão, eu vou embora. Eu já arranjei tudo com Rage e Nine. Griff não vai parar até que ele me pegue e irá matar todos e qualquer um no processo. Eu vou dar a Griff o que ele quer. Eu. E no processo espero dar a Smoke um pedaço de si mesmo de volta. A parte que ele ainda não sabe que está faltando. ~ 239 ~


Mas agora sou só eu e o belo homem ensanguentado diante de mim. Smoke morde o interior da minha coxa e então se arrasta até o meu corpo, entrelaçando os dedos pelo meu cabelo e puxando para expor meu pescoço para ele. Ele beija e suga a pele sensível atrás da minha orelha e eu sinto um zumbido nos meus mamilos e buceta. Consciência. Prazer. Antecipação. Seu calor duro escova contra minhas dobras molhadas e eu me afasto da cama. Meu núcleo dolorosamente vazio e apertado. — Por favor. — eu imploro. Smoke rosna contra a minha pele e em seguida me puxa para trás para me olhar nos olhos por um momento e pressiona um beijo duro em minha boca. Um beijo profundo. Um beijo em que ambos pedem desculpas e não se desculpam. Um beijo que me faz sentir viva. Especial. Eu sou amada por ele de uma maneira que ninguém jamais poderá me amar neste planeta. Ele me puxa de volta e paira sobre mim, apoiando na cama, em ambos os lados da minha cabeça. Seus bíceps e antebraços flexionam com cada movimento seu. Suas tatuagens dançam quando ele se abaixa para o meu corpo, encaixa seu pau em minha buceta já dolorosamente pronta e empurra com um gemido que soa como um órfão de amor e de luxúria. Eu o encontro para um golpe duro. Levantando meus quadris, puxando-o para mais perto. Durante muito tempo nós apenas olhamos nos olhos um do outro, até Smoke tentar falar. — Eu... eu quero que você saiba... — ele diz antes de ficar frustrado e parar. — Eu sei. — eu digo a ele, sentindo uma lágrima cair pelo meu rosto. — Eu sei. Smoke pega o ritmo batendo em mim cada vez mais duro. Cada vez mais rápido. Ele está me dando tudo que ele tem e embora ele ache que não é muito, para mim é tudo. Ele é tudo. O poder de Smoke. E eu não me refiro apenas aos seus músculos esculpidos. Quero dizer sua mente poderosa. Seu espírito. Ele pode ser um monstro, mas ele é o meu monstro. ~ 240 ~


Sinto a pressão no meu núcleo e vejo as cordas do pescoço de Smoke apertarem. Ele está perto e eu também. Muito perto. — Você é minha. — suas narinas inflam quando ele pega o seu ritmo, martelando duro em mim até eu ver estrelas. — Você é minha. — ele diz mais alto, empurrando ainda mais rápido e mais forte e eu percebo que ele está tentando foder essas palavras em mim. — Sim. — eu ofego quando meu orgasmo assume e empurra pelo meu corpo como um tiro de canhão. Estou me contorcendo debaixo dele, pulso após pulso de prazer como eu nunca senti explode em todas as minhas terminações nervosas até que eu posso ver apenas branco atrás dos meus olhos. Smoke grunhe segurando meus quadris no lugar enquanto ele bate em mim mais algumas vezes antes de agarrar meu rosto próximo e me forçar a olhar em seus olhos. — Minha. — sua voz cai para um sussurro e ele fecha os olhos. — Para sempre minha. O orgasmo continua a me rasgar membro a membro. Eu me regozijo com ele. Nunca em minha vida eu quis tanto estar em pedaços. Quero estar dispersa ao vento como cinza, muitos pedacinhos tão pequenos que nunca poderão ser juntados. Smoke tanto me quebrou quanto me curou. Eu estou quebrada e eu estou completa. Estou tão apaixonada e com tanto medo na porra da minha mente, mas isso não vai mudar o que devo fazer. É tão bom que dói. Eu sinto as lágrimas escorrerem dos cantos dos meus olhos. Eu o amo. O bom, o mau, o violento, o brutal e o sangrento. Eu amo tudo dele. O rosto de Smoke torce quando eu o sinto explodir dentro de mim em longos e molhados jorros quentes que me enchem até a borda. Eu gozo de novo, apertando em torno dele até a minha visão ficar borrada e tudo o que eu vejo são estrelas, sangue e Smoke.

***

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Algumas horas mais tarde eu acordo com uma batida na porta. Smoke não se incomoda em se cobrir quando ele caminha até a porta, os músculos tensos de sua bunda e seu pau enorme meio-duro em plena exibição, para o óbvio desagrado de Nine. — Cubra seu pau e vá até o andar de cima. Os caras querem conversar. — Nine diz. Smoke resmunga e olha para baixo. — Tudo bem, POR FAVOR, Smoke, você vai subir as malditas escadas? Smoke fecha a porta na cara dele. — Já volto, diabinha. — ele diz com um beijo rápido. Ele faz uma pausa e em seguida anuncia. — Eu escolhi você. Eu estou sorrindo por dentro e por fora. — E eu escolhi você. Ele sorri. Eu me sento na cama e observo enquanto ele se veste rapidamente e se dirige para a porta. Eu espero alguns minutos até eu ter certeza de que ele está lá em cima, para sair da cama e vestir minhas roupas. Eu coloco o drive USB que Nine me deu sobre o travesseiro. Eu ignoro a dor esmagadora que toma meu corpo e enche a minha mente de agonia. Eu sinto que estou morrendo, mas o que tenho de fazer é mais importante do que o que eu sinto. Eu respiro fundo e me esgueiro para fora da porta. Eu não olho para trás.

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Capítulo Cinquenta SMOKE

— Onde está Rage? — pergunto depois de explicar como Griff enquadrou o velho de Frankie com o assassino de Morgan. Estamos no escritório de Bear, no segundo andar do MC. — Esfolando os gatos da vizinhança? — Preppy escarnece, estalando seus suspensórios com os polegares. — Ela estava com Nolan em St. Augustine. Eles estão de volta agora. Ela está por aqui em algum lugar. — diz Bear, o presidente do clube. Temos muita história entre nós e uma tonelada de respeito mútuo, mas eu não sabia que tinha sua lealdade até que ele apenas se ofereceu para me ajudar a ir atrás de Griff. Eu me sinto indigno e grato, da mesma maneira que me sinto sobre o amor de Frankie. — Eu ainda estou em choque que você a deixou convencê-lo a ingressar no seu clube. — digo, acendendo um cigarro. Bear encolhe os ombros e me olha nos olhos. — Você teria feito de forma diferente? Eu balanço minha cabeça. — Porra, não. Eu sei melhor do que ninguém que é sempre melhor ter Rage com você do que contra. — Vocês dois ainda tem um negócio não resolvido. — King diz. É uma afirmação e não uma pergunta. King, também conhecido como o Rei da Calçada, completa o trio na sala. Esses caras não poderiam ser mais diferentes, mas eles são mais próximos do que a vagina de uma freira. Eles gerem Logan’s Beach e todos nela como a Máfia do lixo branco. Nada acontece nesta cidade sem eles saberem. Armas, drogas e até mesmo o fodido caminhão Twinkie.

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— Mais ou menos. — digo. — Nós conversamos um pouco. Acho que poderíamos chegar lá. — pela primeira vez estou me sentindo esperançoso sobre o futuro. Depois que eu matar Griff, é claro. A necessidade de retaliação e vingança só tem aumentado em saber quem realmente matou Morgan. Eu a sinto se espalhando dentro de mim como uma doença bem-vinda. — Sabe, você diz sem nenhuma conexão, nenhuma relação, mas você é um filho da puta comprometido. — Preppy diz, levantando a sobrancelha para mim. — Porque eu vi você mais cedo querendo matar metade desse maldito MC apenas para encontrá-la quando ela estava à dez metros de você. — Se você ficar entre mim e ela eu vou matá-lo também. — aviso, me sentindo aquecer e me preparando para uma briga. — Preppy está certo. — King diz. — Estou? — os olhos de Preppy se arregalam em choque. King acende um cigarro e continua. — Não é apenas a garota que você quer. Você diz que não está do lado de ninguém, mas você salvou Preppy no hospital. Ele não era um de seus postos de trabalho. Ele não era seu negócio. Eu penso sobre suas palavras e respondo com uma meia-verdade. — Não, mas eu tinha um outro trabalho naquele hospital. Não precisava de problemas enquanto tentava mover corpos do necrotério. — Oh, cale a fodida boca, Smokey. — Preppy diz. Eu não tenho tempo para avisá-lo sobre sua próxima morte se ele me chamar de Smokey novamente porque o garoto fala sem respirar entre as frases. Fogo rápido. A língua como uma metralhadora. — Você não tinha que fazer nada para me ajudar e sabe disso. Você poderia ter feito o seu trabalho sem se envolver em nossa merda. Você fez isso porque quis. O fodido estava certo, eu poderia, mas isso não significava que eu iria admitir isso. — Confie em mim. Isso vai ser muito mais fácil se você apenas admitir. — King diz. — Além disso, o fará calar a boca mais rápido. — Admitir o quê? — pergunto, querendo saber exatamente aonde este filho da puta está querendo chegar. ~ 244 ~


Preppy coloca a mão no meu ombro e eu o encaro como se ele apenas estivesse esfaqueando a minha avó, mas ele ignora a minha inquietação. — Que você nos amaaaaaaa. — ele canta. — Não podemos fazer isso da maneira antiga e esfaquear um ao outro? Ou talvez um excitante jogo de Roleta Russa? — pergunto. — Isso poderia ser divertido. — eu apoio o copo com uísque que Bear me entregou. — Eu pensei que vocês três eram implacáveis filhos da puta. Não podemos apenas fazer um tiroteio como nos bons velhos tempos? King ri e balança a cabeça. Ele tem um sorriso no rosto que me diz que já esteve lá antes, mas de jeito nenhum vou admitir isso. Ele ajusta o grosso cinto preto com pinos que ele usa em volta do seu antebraço. Eles não são para a decoração. Eles são armas e já vi um filho da puta ou dois conhecerem o seu fim com um dos cintos de King envolvidos em torno de seus fodidos pescoços. — Que tal um acordo? — pergunto, sacudindo a mão de Preppy do meu ombro. — Que tipo de acordo você está pensando, querida? — Bear inclina a cabeça e para a minha grande consternação, ele parece se divertir ao invés de estar irritado. — Eu vou admitir que... há um monte de outras pessoas que eu prefiro matar do que vocês três. — ofereço. — É o melhor que eu tenho. — Isso soa como promessa do clube da Rage. — Preppy murmura. Ele ajeita a gravata-borboleta e bate as palmas. Ele inclina a cabeça e em seguida olha com um sorriso enorme no rosto que parece estranho para alguém que passou por tudo o que ele já passou. — Você nos amaaaaa! — ele exclama, saltando em seus calcanhares. — Eu poderia te beijar. Venha aqui sua grande cadela corpulenta. Bear e King riem quando Preppy pula no ar vindo direto para mim. Eu saio da frente e ele cai no sofá. Recuperando sem perder a compostura, ele rola de costas. O sorriso ainda no lugar. — Você é muito feliz para alguém que foi torturado da maneira que você foi. — eu aponto, dando uma tragada em meu cigarro. Bear serve outro copo de uísque e entrega para mim. Eu tomo um gole que queima e peço que sirva mais, Bear desta vez enche quase até a borda.

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— Eu sei, doentio, não é? — Preppy pergunta. Ele pisca para mim e se senta, acendendo um baseado. — Às vezes, tudo o que você precisa é de um monte de tortura para colocar as coisas em perspectiva. O que é realmente doente foi o que aconteceu com ele. Preppy deveria estar morto. Durante muito tempo, todos, incluindo seus amigos, achavam que ele estava morto, mas ele sobreviveu e voltou à terra dos vivos. Se Preppy ainda está sorrindo depois de tudo que aconteceu com ele, eu deveria ser capaz de sorrir também. Deixar Frankie entrar. Fazer essa merda com ela mais... permanente. — Eu reconheço esse olhar. — King diz. Eu não tinha percebido que estava olhando para o meu uísque. — Que olhar pode ser este? — eu pergunto, olhando pela janela para o pátio abaixo, para a porta fechada da sala onde Frankie está. — O olhar que diz que ela te conquistou. — Bear diz, tragando seu próprio uísque. Seu sorriso é de comedor de merda. — Algumas pessoas dizem que uma boa mulher pode domar um homem. Treiná-lo. O tornar menos violento. — King diz. Ele ri. — Não é verdade. Isso o torna mais violento. Isso o torna mais tudo. — Essa é a porra da verdade. — digo, dando um trago em meu cigarro. — Algo que eu aprendi recentemente. — Quem fala, o homem coberto da cabeça aos pés com o que eu assumo ser sangue de outra pessoa. — Preppy diz. Eu olho para baixo. — Eu esqueci disso. — Eu já estive lá. — Bear diz. — Todos nós estivemos. — acrescenta King. — Ditto ou trippilo ou alguma merda assim. Eu também, é o que estou tentando dizer. — Preppy entra na conversa. Os três riem e tão difícil quanto eu tente, não posso evitar o lento tremor que cresce em meu peito e ombros até que eu estou rindo com Bear, Preppy e King. É malditamente bom. Filhos da puta! Quando o riso morre, a expressão de Bear fica séria. — Vamos pegar esse filho da puta, Smoke. Vamos planejar nosso ataque ao ~ 246 ~


complexo. Você terá a sua vingança irmão, e nós vamos ajudá-lo. — Bear diz. Concordo com a cabeça porque não sei mais o que dizer. Sinto uma merda esmagadora. Eu tusso em minha mão. — Estamos trabalhando em um jeito de entrar. Temos as nossas pessoas da tecnologia examinando os planos. Vamos queimar esse filho da puta e todos com ele. — King respira fundo. — Merda, eu não mato alguém a algum tempo. — Preppy comprime seus lábios, encolhe os ombros e começa a se esticar como se estivesse se preparando para correr uma maratona. — Soa como a porra de diversão para mim. — Estamos com você. — Bear diz. — Nós todos. O pensamento de finalmente conseguir minha vingança e ainda ficar com Frankie me faz sorrir. Eu tomo outro gole de uísque e então Bear vai comigo até o quarto onde Frankie está dormindo. Abro a porta e o sorriso morre no meu rosto, uma morte rápida. Meu coração sai do meu corpo. Frankie foi embora.

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Capítulo Cinquenta e Um FRANKIE

— Okay, vamos fazer isso. — diz Rage, tirando uma longa faca. Ela está de pé atrás de mim no quarto no clube. Estou sentada, de frente para o espelho acima da cômoda. Ela vira a faca, inspecionandoa. Depois de alguns segundos, ela parece perdida no brilho que reluz enquanto gira de novo e de novo. Limpo minha garganta, e ela olha para o meu reflexo. — Então, como fazemos isso? — pergunto. — Devemos fazer uma contagem até três? Eu acho que esse é o melhor jeito – ai! — Ou eu posso fazer isso agora. — Rage canta, já tendo feito um pequeno corte em minha pele abaixo da minha orelha. — Isso funciona também. — eu murmuro, tentando não estremecer com medo de que ela corte toda minha orelha de merda. Rage torce seus lábios enquanto trabalha para empurrar o pequeno dispositivo logo abaixo da pele debaixo da minha orelha. Quando acaba, cobre a ferida com um adesivo do mesmo tom da minha pele. — Isso deve resolver. — Algum conselho? — pergunto, me sentindo aterrorizada. Eu não quero pensar sobre o olhar no rosto de Smoke quando ele perceber que eu fui embora. Eu não quero pensar em nada além do plano e do que está por vir. Pense no agora. Sinta mais tarde. Nada mais importa. Rage levanta sua grande mochila azul que diz LEE COUNTY HIGH SCHOOL no lado e joga sobre seus ombros. Ela encolhe os ombros. — Não morra?

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Rage abre a porta, e eu a sigo pela escuridão da noite. Nós alcançamos o portão traseiro, e ela se agacha, jogando sua bolsa através de um buraco na cerca antes de rastejar por baixo da mesma. — Não morra. — repito para mim mesma em um sussurro. Eu fico de joelhos e a sigo. — Tentarei me lembrar disso. À medida que nos movemos através do escuro, me concentro no porque estamos fazendo isso. Toda a razão para eu deixar Smoke sem lhe contar. A imagem do vídeo de vigilância. Mais especificamente, no canto dela, não mostrei a Smoke. A parte em que você pode ver que Griff não deixou a casa de Morgan com as mãos vazias. Ele estava segurando um pacote de toalhas em seus braços, mas não são as toalhas que alimentaram esta missão, foi o que estava espreitando por debaixo delas. Um pequeno par de sapatos cor de rosa.

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Capítulo Cinquenta e Dois FRANKIE

— Você é Rage? — Griff pergunta, ajustando seus óculos como se ele a pudesse transformar em um cara. — Eu imaginei alguém diferente. Ele está usando o chapéu. O do vídeo. Branco com uma faixa preta em cima da aba. Ele é muito mais baixo do que imaginei, mas ele tem esse olhar em seus olhos claros e vermelhos. Ele está perturbado. Desiquilibrado. O medo que sobe até a minha garganta ameaça me estrangular, mas eu o engulo. — Alguém com um pouco mais de pênis talvez? Eu ouço muito disso. — diz Rage, franzindo os lábios, dando a impressão de que ela está entediada. Ela parece tão imperturbável. Tão composta. Gostaria de me sentir assim ou, pelo menos, fingir melhor porque estou tremendo de dentro para fora. Meu estômago está torcendo como se ele decidisse assumir a ginástica. Mas mesmo com esse nível de medo percorrendo-me, não posso deixar de notar que Rage e eu fazemos uma boa equipe. Griff parece divertido. Ele suga os dentes superiores e aperta os dedos. — Isso é exatamente o que eu esperava. — Se um pau é o que você quer, eu posso cortar o de seus caras e dar pra você. Isso faria você se sentir melhor? — ela puxa sua lâmina da bainha. Griff sorri. Sua pele excessivamente bronzeada contrasta com os dentes muito brancos. Rage, cada vez mais impaciente, me empurra para frente e eu caio no chão de joelhos. Meu queixo salta para o concreto, pois minhas mãos estão presas atrás das minhas costas. — O que é isso? Um presente? Para mim? — Griff pergunta, olhando para mim como se eu fosse uma espécie de animal que ele ~ 250 ~


nunca viu antes. Ele coloca os dedos debaixo do meu queixo, e afasto minha cabeça do seu toque. Isso faz com que eu leve um tapa na bochecha. Eu vejo estrelas. — Frankie Helburn. — diz Rage. — Fiquei sabendo que ela roubou de você. Considere-a uma oferenda para impedir uma guerra e as mortes de meus irmãos que aconteceria se essa cadela se escondesse atrás das paredes do meu clube como um pássaro assustado em vez de aceitar seu castigo como uma mulher. Agora, diga ‘obrigado’ como um bom menino para que eu possa sair daqui. Está frio, escuro e empoeirado neste fodido lugar. Você é como o Batman sem o carro legal. — ela dá a Griff uma encarada. — Ou a boa aparência. Griff ignora seu insulto e olha para mim. — Você não se importa se eu matá-la? — ele pergunta, ajeitando a jaqueta como se o fizesse parecer melhor. Rage rola os olhos e aperta seu laço de cabelo em torno de seu longo rabo de cavalo loiro. — Todos morreremos, Griff. Não aja como se fosse uma surpresa para você. Todos estamos aguardando nossa vez até encontrar a terra de novo. Só estou nos comprando um pouco mais de tempo, é tudo. Um em troca de muitos. Ouvi dizer que é a maneira como a moral funciona. Estou dando uma chance. Temos um acordo? A cadela por esquecer o meu clube? Griff coloca a mão sob o queixo e faz uma pausa por um momento. — Nós temos um acordo. Outro homem aparece e me arranca do chão, me empurrando para o outro lado da sala e me amarrando em uma pequena cadeira de metal. Rage não olha em minha direção quando eu grito enquanto ele aperta o nó em meus pulsos, cortando minha circulação. — Você não se importa de que Smoke não ficará feliz com esta revelação? — Griff pergunta com curiosidade. Sua voz é aguda para um homem. Parece a avó do Queens. — Eu não sei o que você ouviu, mas há inimizade entre mim e Smoke. — diz Rage. — Eu sei que as pessoas pensam que eu o abandonei. Apenas embalei minhas coisas e fui embora, mas foi ele que separou o time. Ele me deixou, então ele não precisou mais dividir o salário por dois. Entendeu? Não há amor perdido entre nós. Estou ansiosa para ver a cara dele quando eu contar que fui eu quem trouxe a

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cadela dele pra cá. Mas o Smoke é meu. Matar, deixar viver. Ele é meu. Isso faz parte deste acordo. — Reviste-a. — ordena Griff de repente. Eu sou levada para fora da minha cadeira e jogada no chão. Há mãos e dedos em todos os lugares, e quero dizer em todos os lugares. Meus olhos se fecham com as intrusões dolorosas. Rage ainda parece aborrecida, polindo as unhas em sua camiseta cor-de-rosa na qual se lê a MENINA BRANCA BÊBADA até que eles me jogam de volta na cadeira com tanta força que sinto minhas coxas arderem. — Nós terminamos aqui? — Rage suaviza o seu rabo de cavalo e bate o pé com impaciência. — Terminamos. — diz Griff depois que seus homens lhe dão um sinal de cabeça que assegura que não tenho nada escondido. — Foi um prazer. — Foi assustador pra caralho. — Rage se vira, seu cabelo loiro balançando de um lado para o outro enquanto ela faz o mesmo caminho para fora pelo qual ela me trouxe até que eu ouço o som da porta bater. Griff se ajoelha diante de mim e corre um dedo gordo em minha garganta. Minha pele se arrepia, a bile sobe na minha garganta enquanto eu me afasto, mas ele continua, pegando minha garganta e apertando até que não consigo respirar. — Você e eu vamos nos divertir muito. — ele diz. Meu último pensamento é de Smoke na varanda da casa na prisão, fumando um charuto, estrangulando o pescoço de uma garrafa de whisky. Eu me concentro em sua risada, pois tudo ao meu redor fica confuso e cinza. — Você não sabe muito sobre mim, não é? — pergunta Griff, ele pega uma lâmina. Ele solta minha garganta para que eu possa responder. Respiro fundo. — Eu sei que você compra e comercializa seres humanos como cartões de beisebol. — digo. Griff sorri orgulhosamente. — É verdade, mas há mais do que isso, minha querida. Você sabia que minha mãe era uma parteira? Por muitos anos, ela entregou bebês, e eu era seu pequeno ajudante. Foi ~ 252 ~


assim que consegui tirar a criança do ventre de Morgan. Foi assim que consegui mantê-lo vivo. — Você é um maldito monstro. — digo. Estou vibrando de raiva. — Não tenho interesse em ser o herói da história. Muito pelo contrário. Só estou interessado em ser o único com o máximo de dinheiro no final. Morgan estava pedindo que Smoke deixasse o negócio. Eu não poderia deixar isso acontecer, poderia? Ele é muito valioso para mim. Mas agora, você arruinou tudo. Você roubou meu dinheiro e perdi meu melhor homem. Você, sua puta, jogou fora a âncora e está afundando esse navio. Não gosto de afundar. Griff corre a lâmina na minha bochecha, o sangue goteja no meu queixo. — Onde diabos está o meu dinheiro? — ele rosna. — Eu usei para pagar mercenários para parar o seu comércio de pessoas. — Griff levanta a lâmina acima da minha cabeça. — Mas não todo ele. Escondi uma grande parte onde ninguém além de mim pode encontrá-lo. Não está em um só lugar. Eu o espalhei. Eu posso recuperá-lo, embora. — eu digo, com palavras instáveis. Griff rola os olhos. — Como se eu fosse permitir que você chegasse perto de um maldito computador depois de todo o dano que causou. Não sou tão idiota. Além disso, eu não acredito em você. — Estou te dizendo a verdade. Não tenho nada a perder. — digo. — Não mais, de qualquer maneira. Mate-me se eu estiver mentindo. Griff pensa. — Não, você não vai fazer isso. — minha esperança afunda. — Leo, meu sobrinho. Ele vai fazer isso. Você vai dizer a ele onde procurar. Leo! Estou olhando para o chão para os tênis brancos brilhantes. Levanto minha cabeça. Calças cáqui. Eu olho mais para cima. Polo verde brilhante. Ainda mais alto. Sorriso brilhante e branco. Cabelo loiro encaracolado. — Duke?

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Capítulo Cinquenta e Três SMOKE

Eu acelero minha moto ao seu limite. O motor rosna para mim quando me inclino para frente, disposto a ir mais rápido. O vento penetra contra minha pele, mas não vai me retardar. Nada me retardará. Não agora, nem nunca. A vingança me alimentou por tanto tempo. O pensamento de tirar a vida da pessoa que tirou a vida de mim. A vingança é a decisão final. A única coisa que eu pensei que poderia transformar um homem racional no próprio diabo. Eu estava um passo mais perto do diabo do que a maioria dos homens já esteve, mas eu sei agora que não é uma vingança que faz uma pessoa sã ficar louca. É amor. Por amor, estou disposto a queimar o mundo e todos nele. Por Frankie vou destruir, mutilar e vingar até que eu esteja nadando no sangue daqueles que se atreveram a colocar as mãos sobre ela. A paisagem passa como um borrão. Não consigo vê-la, mesmo que eu desacelere. Só posso ver uma coisa agora e só uma coisa. Frankie. Isso está me alimentando para ir mais rápido, empurrar mais e lutar contra o vento para chegar até ela. O pensamento de seu sorriso, sua risada, seu coração, seu corpo. Tudo dela que eu não merecia, mas não posso imaginar nunca viver sem. Por favor, esteja viva, Frankie. Por favor, esteja viva, porra!

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Capítulo Cinquenta e Quatro FRANKIE

— Eu vou levar algum tempo, tio Griff. — diz Duke, mas ele não é realmente Duke. Griff o chamou de Leo. Eu estou em estado de choque quando sou puxada para cima e arrastada para outra sala. Dou de cara com uma parede de computadores e outro com um servidor enorme. Os ventiladores sopram sobre eles do teto. Os laços dos meus pés foram cortados, mas minhas mãos ainda estão amarradas. — Mas você pode fazer isso? — Griff pergunta, sua mandíbula apertada com impaciência. Duke olha de mim para Griff. — Claro. — Ótimo, você tem duas horas. — Griff vira as costas e sai da sala. — Ou você está morto. Duke me levanta pelo meu cotovelo e me empurra para uma cadeira. — Chocada? — Duke pergunta, ligando o computador central e sentando-se ao meu lado. — Por quê? — é tudo o que posso perguntar. — Coincidência, se você acredita nisso. Eu não percebi que você era a inimiga número um do meu tio, até que ele me pediu para entrar em sua casa e instalar as câmeras no porão depois que você foi tirada da escola naquele dia por aquele policial. — Ele não é um policial. — Eu sei disso agora. — diz ele. — Desde quando você é bom em computadores? — pergunto. — Você não reprovou no seu curso de computação no último semestre? — Eu acho que eu sou como você. — diz Duke, me mostrando um sorriso triste. — Escondendo em plena vista. ~ 255 ~


Ele volta para o computador, e por um segundo, me sinto mal por Duke. Eu não conheço todos os detalhes, mas de onde vejo, ele pode ser tão vítima quanto eu. — Por onde começo? Duke limpa as palmas das mãos em sua bermuda, os dedos sobre o teclado. — Você vai querer começar com... — eu disparo o mais intrincado conhecimento exagerado do funcionamento interno da web. É uma prova para ver o que o Duke realmente sabe. Ele falha. Os olhos de Duck se arregalam. — Merda! — ele xinga, deixando a cabeça cair em suas mãos. — Deixa que eu faço. — digo a ele. — Eu prometo, vou recuperar o dinheiro do seu tio. Eu só quero que ele deixe meus amigos em paz. Por favor. — eu imploro, indo tão longe a ponto de morder meu lábio inferior. Duke rosna. Ele vai ceder. Não lhe dei muita escolha. — Tudo bem, mas não faça merda, ou estamos mortos. — diz Duke. Desculpe Duke. Ele corta as restrições dos meus pulsos e desliza o teclado para mim. Ele olha por cima do meu ombro, e eu não me incomoda de encobrir meus rastros enquanto digito os códigos que preciso. Algo me diz que o maior legado de hacker de Duke foi roubando a senha do Facebook de alguém. Meus dedos voam através das teclas enquanto toco no servidor interno e esvazio cada conta que Griff tem. Então eu faço exatamente o que eu vim aqui fazer. Por que eu tinha que vir aqui sozinha. Por que eu não poderia arriscar Smoke e seus amigos invadindo esse lugar por vingança e, possivelmente, destruindo a informação antes de eu conseguir por minhas mãos sobre ela. Quando termino, envio um backup de cada arquivo no servidor para Nine, incluindo o que eu espero que seja informação suficiente para permitir que ele localize o bebê de Smoke. Eu sou o maestro de novo, liderando minha orquestra para o mais grandioso dos finais. Durante todo o tempo, Duke está me

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observando e acenando como se o filho da puta soubesse sobre o que estou fazendo. — Mais uma coisa e tudo está pronto. — digo. — Sem gracinhas. — adverte Duke. Eu viro para encarar Duke e sorrir docemente. — Oh, eu garanto que não há nada engraçado sobre isso. — pressiono Enter. A energia do prédio acaba. A sala fica escura. — Sua puta! — Duke grita, batendo nas teclas do computador agora morto e inútil. Eu sorrio. — Oops? A porta se abre. Griff aparece flanqueado por dois homens vestidos de preto com armas. Os três homens estão vermelhos nas luzes de emergência que alinham o teto. Duke está parado e aponta para mim acusadoramente. — Ela... eu... — ele balbucia. Griff acena com a cabeça para o homem ao lado dele, que levanta a arma e dispara uma única bala no peito de Duke. Duke recua com um olhar chocado em seu rosto e sangue escorrendo de sua boca. Ele cai na mesa, quebrando-a e levando-a com ele. Estou estranhamente calma quando Griff entra na sala, me encarando. Seu punho se conecta com o meu maxilar, e por um momento, vejo estrelas. A sala está girando ao meu redor enquanto eu caio da cadeira. — O. Que. Você. Fez? — ele respira sua pergunta enquanto está sobre mim. Seu rosto irritado e vermelho se tornou ainda mais vermelho pelas luzes. — Eu tirei o seu poder. — digo, rindo de forma maníaca com o meu trocadilho. — Quanto você levou? — ele pergunta. Eu sorrio em resposta. — Quanto? — ele me soca, estendendo a mão para seu lacaio para colocar uma arma nela. ~ 257 ~


— Tudo. — digo. — Eu levei tudo. — Porra!!!!! — Griff grita, puxando seu cabelo e gritando para as paredes. — Poooooooooooorra! — Você acha que pegou meu poder? — ele ri e me chuta no estômago. Eu sinto minhas costelas quebrarem com o impacto. Eu me dobro em mim mesma tentando respirar através da dor, mas é impossível porque é demais. É tudo demais. — Você não está sorrindo agora, está? — diz Griff, apontando a arma para mim. — Nós veremos quem tem o poder quando eu acabar com você. Tudo o que está vindo em minha direção tem estado nesse caminho faz muito tempo. Estou tão preparada quanto posso. Pelo menos sou só eu morrendo neste cenário. Me endireito e fecho os olhos. Pela primeira vez na minha vida, tenho um lugar feliz para fugir. Ou melhor, uma pessoa feliz. Eu mergulho nos pensamentos de Smoke. Do nosso tempo juntos. O amor que sinto por ele é mais forte do que qualquer bala. Griff puxa o gatilho.

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Capítulo Cinquenta e Cinco SMOKE

Estaciono minha moto no topo da colina. A van para atrás de mim, e Nine e Preppy saem enquanto King e Bear param suas motos ao meu lado. Abaixo de nós está o edifício de três andares de Griff. Uma antiga biblioteca dos anos sessenta transformada em armazém em um vale tranquilo que está prestes a ser tudo menos silencioso. — Dois no topo, dois à esquerda e três guardando a porta. — diz Bear calmamente, descascando os binóculos longe de seus olhos. — E uma loira segurando o que parece um detonador. — Preppy diz. Minha cabeça se vira para ele, e rapidamente vejo o que ele está olhando. Lá está Rage, deitada de bruços na grama alta, segurando um detonador muito reconhecível em sua mão porque era um que eu ensinei a fazer. Então entendo e eu corro em direção a ela, sem se preocupar com quem me ouve. — Rage! Não! — eu grito. — Abaixe a voz! — grita King, mas é tarde demais. Já me ouviram. Terra ao meu redor começa a explodir quando balas vindo do telhado do edifício se conectam com o solo. — Rage, não! — eu grito, mas ela está com seus fones de ouvido. Seu pé tocando de um lado para o outro com a batida do que ela está ouvindo. Ela se vira e me vê, olhando para o prédio como se ela estivesse confirmando que eu estava sendo baleado. Estou quase em cima dela, eu posso quase agarrar o detonador de sua mão, mas com um último olhar, Rage me oferece algo que nunca vi no rosto antes. Uma desculpa. Seu dedo aperta o gatilho e o prédio explode de forma espetacular, vibrando pelo chão como um terremoto, caindo como um castelo de areia sendo pisoteado. ~ 259 ~


— Nãooooooooo! — eu grito, enquanto metade do edifício cai e meu coração junto com ela. — Nãooooo! — eu rolo em Rage, jogo-a em suas costas e pressiono minha arma em sua testa. Ela não reage, apenas olha para o meu rosto como se ela estivesse tentando entender algo. Ela não vai ficar assim por muito tempo. Ela vai parecer que está perdendo seu cérebro em um minuto, porque estou prestes a colocar uma bala nele. — Não posso deixar você fazer isso. — diz Bear, tirando sua própria arma e mirando na parte de trás da minha cabeça. — Então faça isso! — outra explosão sacode o chão. — Por que diabos você fez isso? — pergunto, conseguindo falar todas as outras sílabas. Minha voz treme e racha. — Por que diabos você fez isso? Bear pressiona sua arma contra minha cabeça novamente como se para me lembrar que ele ainda estava lá. — Eu não quero fazer isso, cara! — grita Bear. Eu vejo King lentamente caminhar para um lado e se preparar do outro como se eles de alguma forma pudessem me parar antes de puxar o gatilho. Eles não são tão rápidos. — Diga-me porquê! — exijo novamente. Rage olha para mim sem expressão. Não tem medo nos olhos dela. — Porque ela te ama. — ela diz suavemente, colocando a palma da mão na minha bochecha. O ato de bondade e a suavidade de seu tom me solta. — Porque você a ama. Porque eu amo você. — seu rosto se torce com dor, não de mim em cima dela, mas com suas próprias palavras. Não faz qualquer maldito sentido. Rage finalmente perdeu a cabeça completamente? — Uau. — diz Preppy. — Vocês devem arrumar um quarto. — Não assim, idiota. — diz Rage, revirando os olhos, como se eu não estivesse prestes a assassiná-la. Ela olha para mim. — Frankie me pediu, mas não consegui fazer. — ela encolhe os ombros. — Não conseguiu o que? — eu pergunto, batendo meu punho no chão ao lado de sua cabeça. — Ela me pediu para trazê-la até Griff, então esperar uma meia hora. Se ela não saísse, então queria que eu explodisse o prédio. Eu não ~ 260 ~


consegui. Não com ela dentro. Então eu coloquei os explosivos no exterior e só um dentro. Eu explodi só os de fora. Não trará o lugar para baixo até eu explodir o último, mas vai agitar o lugar um pouco. Espero que seja uma distração suficiente para que ela possa se livrar. Ainda estou tentando entender tudo, mas não há tempo. Tenho que chegar até Frankie. — É verdade, cara. — Nine diz. — Como você acha que eu sabia onde era este lugar? Por que você acha que está aqui? — Por que diabos ela faria isso? — Ela fez isso para que você não fizesse. Ela não queria que ninguém morresse quando... Santa merda. Frankie se sacrificou... por mim. Saio de Rage que se senta e me passa uma capsula. — Eu inseri uma dessas coisas na pele atrás da orelha dela antes de entrar. Ela está no lado leste do prédio. — Aqui. — diz Rage, apontando para uma luz vermelha piscando na tela. — Venha. Vocês dois podem conversar depois. — diz Bear. — Precisamos descobrir como vamos... Eu corro até minha moto. — O que você está fazendo? — gritos soam acima do motor. Olho para o armazém abaixo. — Eu vou entrar! — Vamos te cobrir! — ele grita, suas palavras perdidas no vento enquanto eu desço o morro. King estava certo. Eu derramarei o sangue de qualquer homem que se colocar no caminho do meu resgate a Frankie. Não há ninguém que eu não vá matar. Eu vou queimar o mundo por ela e aproveitar as fogueiras.

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Capítulo Cinquenta e Seis FRANKIE

Estou com tanta dor. Minha camisa está manchada de vermelho quando o sangue se filtra da ferida da bala no meu estômago. Eu aperto minhas mãos sobre ela, mas não há como parar; ele penetra através dos meus dedos e pinga no chão de concreto. Eu estou leve. Tudo ao meu redor parece diminuir de velocidade. Uma explosão soa à distância como uma bala de canhão. As paredes tremem e a poeira cai das vigas para o chão. Madeira e concreto estão caindo ao meu redor. Os homens de Griff estão correndo, mas não posso correr com eles. Não consigo me mover. Griff está gritando ordens. Um grande painel de metal cai sobre o homem com quem ele está gritando, então ele se vira para o próximo. A parede explode, a porta da garagem cai. Uma enorme moto negra aparece do nada, seus pneus girando contra o ar, caindo no chão. Smoke. Lágrimas de alívio saltam aos meus olhos, seguido por um poço de horror queimando um buraco no meu estômago. Ele não pode se arriscar assim. Não por mim. Ele tem muito a perder agora, e há muitos deles. — Não! Volte! — eu grito, mas não há como ele me ouvir sobre o rugido do motor ecoando através do grande espaço aberto. A moto balança para o lado, mas Smoke permanece ereto, saindo da pilha de metal. Ele se dirige diretamente para os dois homens que me protegem. Há um olhar nos olhos dele. Determinação. Ele está hiper-focado. Eu percebi que não importa se ele me ouviu dizer para voltar ou não. Ele está além de ouvir agora. Além do pensamento. Ele está em algum lugar que eu não consigo alcançá-lo. ~ 262 ~


Ninguém pode. Os movimentos de Smoke são fluidos. Absolutamente graciosos. Ele está usando luvas sem dedos pretas e seu colete, sem nada embaixo, exceto sua colorida pele tatuada e músculo trincado. A moto acerta a parede em uma explosão de fogo, mas Smoke não se encolhe enquanto ele é iluminado por chamas. Os dois homens de Griff o encaram, com semblante duros. Ambos levantam suas armas para Smoke. Eu quero gritar, quero saltar na frente das balas, mas uma dor aguda encontra meus movimentos, me tornando inútil. Os dedos de Smoke se flexionam ao seu lado. As narinas inflam. Ele olha para os homens mirando suas armas nele como se ele tivesse todo o tempo no mundo. Os homens disparam, mas Smoke continua a avançar sobre eles. — Merda. — o mais baixo dos dois homens xinga enquanto recarrega sua arma com mãos trêmulas. O outro faz o mesmo, mas é tarde demais para eles. Muito tarde. Smoke cruza seus braços sobre o peito, enfiando a mão sob seu colete, cada mão emerge segurando uma grande arma de metal com canos longos. Ele está ansiosamente calmo enquanto estica seus braços na frente dele e dispara uma única bala de cada arma em suas cabeças. Assim que eles caem sem vida no chão, mais homens aparecem nos lados opostos da sala. Smoke levanta os braços para os lados e dispara. Quando uma bala não acerta a cabeça por apenas alguns centímetros, ele vira sua arma para trás e dispara, acertando o homem sem mais do que um olhar em sua direção. Este não é Smoker, o sequestrador ou Smoker ,o assassino ou mesmo até mesmo, Smoker o amante. Não, este é Smoke, o homem. O salvador. Esse é Smoke que tem alguém e algo para viver. É simultaneamente aterrador e emocionante. Apesar do que aconteceu entre nós, esse homem maravilhosamente brutal veio aqui e colocou sua vida em risco para me salvar. Uma bala perfura o ombro de Smoke. Jatos de vermelho brilhante gotejam do seu braço para o pulso, penetrando na minha camisa enquanto ele se curva para me juntar em seus braços. Ele coloca uma arma pesada entre minhas mãos amarradas. ~ 263 ~


— Você consegue atirar? — ele pergunta. Eu aceno com a cabeça, mesmo que a arma pareça pesada. Como a minha própria cabeça. Eu mal posso levantá-la. — Ouça-me, e puxe o gatilho quando eu disser. — ele me dá a arma, de modo que descansa sobre seu braço, e já não está tão pesada no meu controle. — Você pode fazer isso? — Sim. — digo com um sussurro baixo. Smoke me levanta em seus braços fortes, seu sangue molha e aquece minha pele. Há um movimento para o lado. Um arrastar de pés. — Atire. — ordena Smoke, virando-nos. Eu faço o que ele manda e disparo junto com Smoke. Ouço um grunhido profundo seguido de uma queda quando seu corpo atinge algo no caminho para o chão. Smoke está em movimento, saindo do buraco que ele criou com sua moto. — Atire. — ele diz novamente, e eu faço. — Boa garota. — ele diz, e eu sorrio, ou pelo menos acho que sim. É difícil dizer com todo o alvoroço acontecendo acima de mim. Eu olho sua mandíbula, a inclinação do seu nariz, a cicatriz acima de seu olho. Penso em quão bonito é esse homem. Quão irritado e horrível, violento e bonito. Estou cansada. Oh, muito cansada. Meu pulso fica fraco. A arma cai da minha mão. Eu me concentro em Smoke. Nas linhas de seu rosto e pescoço. Eu olho para o campo que nos rodeia. Resto de construção, corpos. Sangue. Estou tendo o pesadelo novamente. Aquele em que estou nos braços de Smoke sendo carregada através de um sangrento campo de batalha. Só que desta vez não é um pesadelo. Não há medo, só conforto. Agora sei que o sentimento de segurança que me envolve no sonho, que quando ele me envolve em seus braços não está errado.

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Ele está me protegendo. Amando-me do seu modo. Então, eu deixo ele me amar. Me proteger. E fecho meus olhos, deixando a escuridão me levar. Estou perdida no sonho. Estou a salvo. Eu só preciso descansar agora. Apenas por um momento. O sentimento é abrupto. Eu deixo, fechando os olhos, porque eu tenho que fechar. Não tenho outra escolha. Estou tão cansada. Muito, muito cansada.

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Capítulo Cinquenta e Sete SMOKE

— Não! — eu grito, enquanto os olhos de Frankie se agitam e fecham. Ela está coberta de sangue escorrendo de seu estômago. Eu dou uma sacudida enquanto a terra continua a explodir ao meu redor. Eu estou correndo pela colina. King, Preppy e Bear me seguem, cobrindo-me, atirando contra qualquer pessoa que se aproxime. Nine está esperando com a van quando chegamos ao topo. — Eu achei que você tinha dito ter plantado três bombas? — pergunta Preppy. — E foi. — diz Rage. — Eu só ouvi duas. — Preppy cruza os braços sobre o peito. Rage dá uma piscadela e outra explosão soa. Levando o último pedaço do prédio com ele ao chão. — Como eu estava dizendo... — Rage sorri vitoriosamente. — Três bombas. — Vocês duas conspiram para acabar com uma organização criminosa inteira sozinhas e não conseguiram me incluir? — Preppy pergunta, fingindo tristeza, a boca aberta e a mão no peito. — Quando precisamos de um bobo da corte para realizar um trabalho, eu te chamo. — diz Rage, enfiando os fones de ouvido no bolso. — Ouça aqui, Barbie Rambo. — diz Preppy, dando um passo em direção a ela enquanto chegamos à van. — Crianças. — adverte King. Nine abre a porta e coloco Frankie gentilmente sobre o assento. Ela está desaparecendo rapidamente. Todos se dirigem para a floresta para recuperar suas motos, e Rage em sua Vespa. Preppy vem conosco, e Nine nos leva para fora e acelera a estrada.

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— Por que você fez isso? — eu pergunto a Frankie enquanto a arrasto pelo meu colo e olho para seu rosto lindo. O meu peito está doendo. Minha garganta queima sempre que ela respira por ar. Ela estremece com cada respiração fraca. — Você arriscou sua vida. — digo a ela e quero gritar, sacudi-la, puni-la por se colocar em perigo assim. Mas minha necessidade de puni-la some rapidamente quando seus olhos se fecham e seu peito treme. — Por quê? Frankie abre os olhos um pouco. Ela olha para mim. — Por você. Pelo pen drive. — ela tosse. Sua cabeça cai para o lado. Seus olhos se fecham. Desta vez eles não abrem.

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Capítulo Cinquenta e Oito SMOKE

— Eu vou te amar com tudo o que tenho e tudo o que sou. Não é muito, mas é seu se você me deixar te dar. Se você acordar. Por favor, porra, querida. Acorde! — eu imploro a Frankie enquanto a carrego até a porta da frente do clube. Coloco-a em cima da mesa de bilhar na área do escritório principal. Eu sou gentil pela primeira vez na vida, cuidadoso para não deixar sua cabeça bater. Sinto que um meteoro atingiu a Terra, dividindo-a em duas porque meu mundo foi dividido em dois. Com a súbita possibilidade de Frankie não estar mais nesse mundo, tudo pode também se desfazer de pó. Rage está me observando. Posso sentir seus olhos nas minhas costas. — Se você vai ficar de pé me encarando, poderia muito bem ajudar. — eu grito. Frankie dá um suspiro estrangulado, e por um momento, acho que ela está acordando até o som desaparecer, e nada acontece. Já fui baleado antes. Fui esfaqueado. Mas nada, nada que eu já tenha experimentado poderia comparar com a dor de possivelmente assistir a única mulher que eu realmente amei dar o último suspiro. — Smoke, não sou um maldito paramédico, não consigo consertar ela. — ela diz, sua voz calma me irrita. — Eu também não posso. — eu sussurro. Frankie foi quem reuniu todos os pedaços espalhados, todos os fragmentos irregulares de mim e meticulosamente, peça por peça, me juntou. Meu desespero se transforma em raiva quando minha garganta se fecha.

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Eu não posso fazer o mesmo por ela. — Por que esse merdinha está demorando tanto tempo! — eu rujo. Eu olho para Rage, ela está me olhando com cautela. Ela não está agitada, mas esse não é o estilo dela. Nunca foi. Ela gira o seu longo rabo de rabo loiro entre os dedos. — Ele está vindo. Eu o chamei. Ele sabe mais do que me defender. Não há dúvida em minha opinião de que isso é verdade. Qualquer homem, navio ou pessoa seria insano para ignorar Rage. E, embora eu saiba que ela mudou de muitas maneiras, fico feliz que ela ainda possa controlar o tipo de medo que deixa os homens curvando sob sua vontade. Esse medo pode muito bem salvar a vida de Frankie. Depois de toda a merda que aconteceu com essa equipe dentro dos hospitais, eles não são confiáveis. Além disso, eles têm o melhor dos melhores médicos e cirurgiões na palma da mão, então os hospitais que se danem. Minhas entranhas se apertam como se alguém tivesse me esfolado do pescoço ao pau. Estou morrendo. Sei quem eu sou. Estou morrendo como ela, porque não há como viver se Frankie não vai sobreviver. Inclino-me e coloco minha orelha contra o peito para ouvir um batimento cardíaco, e o meu próprio se apodera quando não consigo ouvir sobre o sangue correndo pelos meus ouvidos. — Aqui, dá licença. — Rage diz, se ajoelhando ao meu lado. Ela pressiona o lado de sua cabeça no peito de Frankie. Quando ela levanta a cabeça, ela coloca seu dedo indicador sob o nariz de Frankie. — É superficial, mas está lá. Eu suspiro e, de repente, sinto o golpe de meu coração no meu peito, como saber que Frankie estar respirando também está me trazendo de volta à vida. O médico corre e nos afasta. Ele trabalha em Frankie rapidamente, rasgando suas roupas e colocando uma intravenosa. Tudo acontece em um flash. Eu estou olhando por cima do ombro porque um movimento errado e este fodido será aquele que precisará de um legista.

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— Agora, esperamos. Saberemos mais se ela acordar nas próximas horas. — ele sai tão rápido quanto veio. Eu coloco minha testa no ombro de Frankie. Ela se agita, e eu a olho sem respirar. Eu não sei por quanto tempo eu fico lá com ela, mas é muito tempo. Eu suponho que Rage já tenha desaparecido até falar. — Você a ama? — ela aponta para Frankie que se agita de novo. Desta vez, os olhos de Frankie se abrem. Eu sou saudado com um sorriso bonito, mas tenso, que não posso deixar de retornar. Agachada, pego suas mãos na minha e pressiono-as até os meus lábios. Eu não afasto meus olhos dela enquanto respondo à pergunta de Rage. — Sim. Eu a amo. — eu beijo sua mão. — Tanto, tanto.

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Capítulo Cinquenta e Nove SMOKE

— Você tem um segundo para conversar? — pergunta Nolan, tocando na porta aberta. Eu sabia que isso chegaria eventualmente, e tudo bem, enquanto Frankie está dormindo. Eu guardo o pen drive e me lembro de perguntar a Frankie sobre isso mais tarde. — Eu acho que já conversei o suficiente por uma vida fodida inteira, mas por que não, né. — bato minhas mãos nas minhas coxas e me levanto. Sigo-o da sala para o pátio e fecho a porta silenciosamente atrás de mim, para que Frankie não acorde. Paro na frente de Nolan e cruzo meus braços sobre meu peito. Eu posso ser maior do que ele, mas nossa luta não é sobre o tamanho. Se o filho da puta quer me matar, eu entendo. Porra, houve um tempo que eu teria lhe entregado a maldita arma. O homem estava amarrado, espancado e foi forçado a assistir com um olho não inchado aberto enquanto eu fodia sua garota com uma arma apontada para nós. — Rage me contou. O que ela e Frankie fizeram. — ele balança a cabeça. — Essas meninas. Às vezes, acho que Rage tem bolas maiores do que as minhas. — Eu sei que as bolas dela são maiores. — eu digo. Nolan ajusta o colete do Wolf Warriors. Lembro-me de perguntar a Rage mais tarde por que diabos ela não se juntou ao MC de seu homem e se juntou aos The Lawless em vez disso. — Eu sei que você manteve distância. Eu só queria deixar você saber que eu aprecio isso. Eu também queria que você soubesse que eu agradeço por você ter salvado minha vida. Você não me devia merda nenhuma, mas o fez de qualquer maneira. — diz Nolan. — Eu fiz por Rage. — eu o corrijo.

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— Eu sei. E é por isso que você não tem uma bala na sua cabeça agora mesmo. — ele diz com um sorriso. — Vá se ferrar! — digo, me aproximando. — Você está começando a agir como ela. — não posso evitar a risada que me escapa. — Você está fazendo aquele negócio que ela faz, onde ela diz alguma coisa realmente fodida, mas com um sorriso no rosto como se tivesse contado que ela comeu todo o fodido iogurte congelado. Nolan olha para o espelho e se vira para mim, parando o sorriso. — Porra, estou fazendo isso. — diz ele. Nós dois rimos. — O que aconteceu naquela noite? Não foi sua culpa. Nada disso foi. — diz Nolan. — Eu sei disso. — digo. — Agora. — Eu queria te matar. — Nolan estala os dedos. — Eu teria matado. — eu digo. — Você é um homem melhor que eu. — Mas eu vim aqui por outro motivo. Eu tenho algo a dizer. Algo importante. Suspiro. — O quê? — Você não tem que ir de novo. Você pode ficar sem preocupações. Na verdade, depois de conversar com Rage, nós resolvemos uma coisa, mas ela não quis te pedir, então eu vou, e então você sabe, a resposta é sim, porque não vou ser eu a contar ela. — O que é? — É por ela. — Fale logo, porra! — eu gemo. — Vamos no casar. — diz Nolan. — Caramba. — eu digo, um sorriso se espalhando pelo meu rosto. Nolan volta com o sorriso, parecendo completamente orgulhoso de si mesmo. — E eu só tive que lhe pedir cerca de sessenta vezes antes dela dizer que sim.

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— Estou impressionado. — digo, porque estou impressionado. Rage de todas as pessoas. Casada? — O que você quer de mim? — Eu não vou pedir sua permissão ou nada assim porque ela é minha garota, e eu não preciso de sua fodida permissão, mas deixe-me dizer isso primeiro. Eu concordo. — Eu quero te pedir pra levá-la até o altar. — E o pai dela? — Rage é a única assassina que conheço que é próxima do pai e da mãe. — Vamos fazer uma pequena cerimônia para eles. Apenas nós quatro. Ela não quer trazê-los para perto deste mundo, e eu não a culpo. Mas vamos fazer algo aqui logo depois. No clube. E nessa parte ela quer que você apareça. Estou tão atordoado pelo pedido que eu não falo por um tempo. — E aí? — Nolan acena a mão no ar, esperando que eu responda. — E estou realmente surpreso, não há buracos de bala na parede agora, e estamos realmente falando sobre isso. — eu digo, fazendo Nolan rir. — Eu, também, filho da puta. Eu também. — diz Nolan. — Então, você vai fazer isso? Olho para o pátio e pego Rage nos observando. Ela se vira e finge estar pegando algo do chão como se não estivesse ouvindo e nos observando o tempo todo. — Sim, cara. Eu vou fazer isso. Nolan acena com a cabeça. — Ótimo. — ele se vira para sair, mas para novamente. — Tem mais uma coisa. Os Wolf Warriors estão se fundindo com os Lawless. Eu irei ser o segundo de Bear no comando. Falei com Bear, e é seu se você quiser. — ele chuta uma bolsa a seus pés que eu nem percebi que ele trouxe, então sai. Levanto e esvazio a bolsa na cama. Um novo colete de couro cheiroso cai. A parte de trás tem escrito The Lawless MC com seu logotipo e na frente, é meu nome e um novo patch por baixo. MEMBRO DE VIDA. ~ 273 ~


Eu me sento. Eles querem que eu seja parte disso. Algo maior do que eu. Eu tiro o colete de couro desgastado. Um que que não conta nem histórias nem mentiras. Eu me visto com o novo. Paro no espelho enquanto avanço e inspeciono o novo logotipo nas minhas costas. Espero me sentir sobrecarregado. Sufocado. Mas não. Eu me sinto bem. Confortável. Posso respirar novamente; da mesma forma que Frankie me faz sentir, posso respirar novamente. Sinto que pertenço. A essas pessoas. A este clube. A Frankie. Depois de trinta anos estranhos à deriva, encontrei meu lugar no mundo. Quem iria imaginar.

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Capítulo Sessenta FRANKIE Três semanas depois

— Sente-se. — ele exige, e estou muito cansada para lutar, então me sento na borda do colchão. Recuperação é cansativo. Smoke me entrega uma pasta. — Eu tenho algo para você. — O que é? — pergunto. Smoke tira seu colete e coloca sobre a parte de trás de uma cadeira próxima. — Algo não fazia sentido sobre seu pai, que era um contador e um lavador de dinheiro, de repente ocupando algo como o tráfico de seres humanos. Uma coisa não leva exatamente à outra. Então, eu fiz com que Nine procurasse para mim. Eu abro o arquivo e suspiro porque no início, eu acho que é uma foto minha que eu estou olhando, mas não sou eu. É a minha mãe. — O que é isso? — eu pergunto, meus olhos passagem pela página. É como um arquivo de RH, mas não é sobre seu trabalho, é um currículo sobre sua vida. Smoke aponta para o final da página, onde diz em grandes letras em negrito vermelho. FALECIDA em 13 de maio de 2012 em Mumbai, Índia. 13 de maio foi dois dias antes de encontrar o corpo do meu pai no porão. — Isso está errado. — eu digo balançando a cabeça. — Ela não morreu na Índia. Ela estava aqui. E a data está errada. Ela morreu quando eu era criança. Smoke balança a cabeça. — Não, ela morreu na Índia três semanas depois de ser sequestrada enquanto voltava para casa do trabalho no escritório do dentista... pelos homens de Griff.

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Pânico me atinge no peito como se eu tivesse sido atingida com uma flecha. Afiada e profunda. Eu olho para Smoke, mas ele não diz nada. Ele está me olhando com cuidado, porque está esperando que eu entenda o que ele está tentando me dizer. Finalmente, entendo. Mas entender não é apenas o sentimento que tenho quando a informação chega ao meu cérebro, é o meu coração e alma escorrendo, pisando no fundo do meu estômago. — Ela foi vendida no tráfico de seres humanos. — digo num sussurro quando bile sobe na minha garganta, e eu realmente sinto meu coração rasgar quando ele se afasta. Eu me afundo, mas Smoke me pega antes de acertar o chão, puxando-me para seu colo. — Olhe para mim. — ele exige, virando-me para encará-lo. Eu olho para ele. O arquivo cai da minha mão no chão e os papéis flutuam ao redor do tapete enquanto meus braços caem com dificuldade aos meus lados. Eu busco os olhos de Smoke, mas não sinto nada além de uma consciência doentia do que foi feito comigo e com minha mãe. — Por que você está me dizendo isso agora? — eu pergunto, minha voz fraca. Procuro qualquer coisa em sua expressão que me diga que ele está tentando me machucar intencionalmente, mas não há nada senão calma. Um navio bem construído navegando em mares tempestuosos. — Sim, sua mãe foi vendida como escrava. Nós não sabemos os detalhes do que ou quem a matou, mas sabemos que seu corpo foi encontrado em uma estrada que liga duas cidades. — Eu não... — eu começo, mas Smoke não terminou. — Frankie, seu pai sabia. Ele descobriu que ela tinha sido levada e os motivos do por que. — Ainda não entendo. — Frankie, seu pai ainda continuou fazendo aquela merda. Ele transferiu todo o dinheiro para Griff. Ele contribuiu para muitas mortes. Isso é verdade. Mas a razão pela qual ele fez isso não foi por ganância. — diz Smoke. — Ele estava tentando encontrá-la. Sua mãe. — Oh meu Deus! — eu digo, enquanto suas palavras afundam. Pressiono meu rosto no peito de Smoke e minhas lágrimas são

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absorvidas em sua camisa. — Ele estava procurando por ela. Mas mesmo assim machucou tantas outras. Smoke acena a cabeça novamente. — Sim. — ele admite, segurando meu rosto em suas grandes mãos ásperas. — Ele machucou muitas pessoas. Pessoas morreram por causa dele. Mulheres. Homens. — o sentimento ruim retorna. — Mas você não pode culpá-lo. Ele estava disposto a revirar céu e inferno em busca de sua mãe. Ele estava disposto a matar todos os que estavam entre ele e ela. — ele se inclina perto e escova os lábios levemente sobre os meus. — Eu conheço o sentimento, inferno. Meu sangue esquenta. Smoke acabou de me dar o maior presente que já recebi. Ele me devolveu minha família. Meu pai. Que não morreu de um ataque cardíaco, mas de um coração partido. A porta se abre. — Tem um minuto? — pergunta Nine. Eu olho de Smoke para Nine, que me dá um polegar para cima. — Eu... eu tenho algo para você, também. — digo com um suspiro. Os olhos de Smoke se arregalam. Ele gira lentamente com o som mais bonito no mundo flutuando através da porta aberta do pátio. Balbucinhos.

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Epílogo FRANKIE Três meses depois

Nós assumimos a residência permanente na casa do Warden. Depois de trabalhar dia e noite por meses, finalmente tenho uma conexão com uma velocidade na internet medida em uma unidade mais rápido do que o tempo que leva um boi para arar um campo, e o quarto com todo o armazenamento é agora um quarto de princesa para a filha de Smoke que Nine encontrou usando os arquivos do servidor de Griff que eu tinha enviado antes de Griff colocar uma bala no meu intestino. O nome dela é Morgan, e ela é igual a Smoke. Cabelo escuro. Olhos escuros. Estou completamente apaixonada por ambos. Nós somos uma equipe agora. Nós três. Continuo a salvar vidas, mas com a ajuda de Nine, fiquei completamente indetectável. Smoke tem passado mais tempo com King, Bear e Preppy, mas ele está mais próximo de Nine acima de tudo. Smoke ainda não colocou o colete, oficialmente pelo menos. Mesmo sabendo que ele quer. Bear disse que a decisão é dele, e ele pode demorar o tempo que precisar. Eu saberei quando ele estiver pronto, porque o colete não ficará pendurado na cadeira no canto da sala de estar. Ele não me deixa guardar. Eu acho que ele gosta de saber que está lá. Não apenas o colete. A opção. O clube. As pessoas. Bear, King, Preppy, Rage, Nine. Todos arriscaram seus pescoços por ele. Por mim. Eu não acho que ele pode colocar o colete até se acostumar com a ideia de que, uma vez que ele fizer, as pessoas vão ficar apegadas a ele o tempo todo. — Agora sim. — digo para mim mesma, descendo a escada.

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— Uau. — diz Smoke atrás de mim. Eu me junto a ele no centro do quarto. Juntos, admiramos o lugar acima da lareira onde escolhi exibir a minha pintura mais favorita. Minha primeira pintura. — Não tenho certeza de que esse seja o lugar certo. — diz Smoke. Sua testa está enrugada. — Por quê? Achei perfeito. Você não gosta? — pergunto. — É muito lindo, mas também... eu não sei. Não tenho muita certeza do que pensar. — diz Smoke. — É de um sonho que tive. — digo a ele. — Você não acha que é muito mórbido? — pergunta Smoke, envolvendo seus braços ao meu redor por trás. — VOCÊ de todas as pessoas acha muito mórbido? — eu provoco. — Eu não sei. Talvez pareça muito com um lar. — A arte é tudo sobre a percepção. O que isso faz você sentir. Todo mundo vê a arte de forma diferente. — eu digo, e é aí que eu sinto o cheiro. Couro. Couro novo. Olho para o canto do meu olho para a cadeira. A cadeira está vazia. Eu não posso evitar o sorriso se espalhando pelo meu rosto. — O que eu vejo é eu levando você para o inferno. — diz Smoke. Há uma tristeza na voz dele que faz meu coração doer. Eu me viro e me levanto na ponta dos pés, envolvendo meus braços ao redor de seu pescoço. — Não, você não está me levanto para o Inferno. — pressiono um beijo suave em seus lábios e olho profundamente em seus olhos escuros. — Você está me levando para fora dele.

Fim!!! ~ 279 ~


Continue lendo para uma cena extra especial!

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Cena Extra SMOKE

Esta cena também está incluída em: All The Rage na perspectiva de Rage.

Estou no meio da porra de uma floresta, e não quero estar aqui. Tudo o que quero fazer é matar o pedaço de merda que eu vim para matar e ir embora. Estou cansado. Mais cansado do que já estive, e sinto que está chegando aos meus músculos e ossos. Eu estou na frente de Mugs, um membro do Beach Bastards MC, e eu desejo não estar. Eu trabalho sozinho. Sempre foi assim. Mas há uma razão pela qual Mugs está lá, e o que eu quero é fazer a porra do trabalho e dar o fora daqui. Mugs é uma bagunça do caralho. Cabelo loiro oleoso na cabeça e um sorriso torto em seu rosto enquanto ele mastiga outro maldito palito de dente, que é tão grosso quanto as pernas dele. Ele está segurando casualmente uma pá em seus ombros, acabando de cavar o buraco que eu ordenei que ele cavasse. Uma das razões pelas quais estamos na floresta para começar é por causa do outro homem na minha frente. Jerry. Aquele com a boca amordaçada e os pulsos amarrados nas costas. Ele se mijou. Eu sinto cheiro da urina antes de eu ver. O filho da puta vivia como um covarde, e agora ele vai morrer como um. Aponto minha arma na cabeça dele. — Você pensou que poderia foder conosco e fugir assim, Jerry? — Jerry não consegue responder, mas eu não dou a mínima. Eu recarrego a arma. Jerry foi um trabalho designado por Bear, o VP6 do Beach Bastards MC, depois que Jerry estuprou e praticamente desfigurou a filha de um de seus irmãos.

6

Vice presidente.

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— Não... não, Smoke. Não faça isso. Eu prometo que não queria machucá-la. — grite Jerry. Não há mais do que eu odeio do que um idiota. Especialmente alguém que geme ao implorar por sua vida. Eu rio. — Você não queria machucá-la? Ela era uma criança, filho da puta. Você a estuprou, furou sua buceta virgem e não deu a mínima Então, não me diga que você não queria machucá-la apenas para que possa poupar sua própria vida, seu pedaço de merda! Agora é tarde demais para isso. Cansado da besteira de Jerry, levanto minha arma e miro contra o lado da sua cabeça. Ele cai do lado do buraco. — Mugs, tire esse merda do chão. Eu quero ele em pé quando eu explodir seus miolos. — eu ordeno. Juntos, arrastamos Jerry para o buraco fresco e o chuto para dentro. Os olhos de Jerry encaram por trás da minha cabeça. Mugs e eu viramos ao mesmo tempo. Mugs solta sua pá, pegando sua arma. Também seguro a minha, mas só porque estou em choque com o que está na minha frente. Uma garota. Uma jovem. Meu palpite é uma adolescente. O cabelo loiro puxado em um rabo de cavalo apertado. Um olhar curioso enquanto ela olha além de mim e as armas apontadas para o buraco em que Jerry está prestes a entrar. — Quem é você? — Exijo, fechando a lacuna entre nós em dois passos. Ela tem grandes olhos azuis e usa calças jeans cortadas e uma camiseta rosa apertada com as palavras Princess é o caralho em seu peito. A maioria das meninas dariam um passo para trás. A maioria das garotas tremeriam com medo. Homens mais crescidos também. Não essa garota. Não há um tremor ou lábio trêmulo para ser visto. Apenas um olhar curioso e de admiração vazia em seus olhos. Seu olhar flui rapidamente de Jerry para Mugs, depois para a arma na minha mão... que eu redireciono para sua cabeça em alerta. Então, ela faz algo que não consigo entender. A cadela sorri. Não só sorri, mas aponta para a minha arma e bate palmas como uma criança pedindo para brincar com as chaves dos pais. Ela limpa a garganta e pergunta em um sussurro: — Posso? Por favor? ~ 282 ~


— Você pode o quê? — eu vocifero, ainda não acredito no que estou vendo. — O que exatamente você está pedindo, garota? E é quando eu vejo. A dor nos olhos dela. A necessidade. Eu reconheço porque vejo isso em mim mesmo, mas essa garota, essa garota é muito MAIS de tudo isso do que nunca vi. Ela é um monstro. Uma assassina. Conheço isso, assim como reconheço o azul do céu e o marrom da terra. — Por que diabos você está sorrindo, garota? — Mugs pergunta. O filho da puta não vê o que eu vejo. Ele não veria. Se a estupidez é uma doença terminal, Mugs é o estágio quatro. Ela se vira para mim, ignorando Mugs, como se ela me pedisse ajuda. Ela aponta para Jerry e morde o lábio inferior. Eu olho para ela novamente e algo entre nós apenas faz sentido. É uma conexão. Algo forte trabalhando entre nós como um labirinto de videiras invisíveis que nos unem em algo fora deste mundo. Coço minha cabeça com o cano da minha arma. — Quantos anos você tem, menina? — Quinze. — ela responde ansiosamente. Ela se corrige. — Não, dezesseis. Hoje é meu aniversário. — eu olho para ela sem falar enquanto a compreensão continua a passar entre nós. — Bem feliz aniversário, garota. Smoke, que merda você está fazendo? — Mugs geme, acabando com minha paciência. — Vamos acabar com esse filho da puta e depois acabar com ela. Ela é uma testemunha agora. Não podemos deixá-la por aí. — ele caminha em nossa direção, mas levanto uma mão para detê-lo, empurrando-o de volta antes que ele possa dar outro passo. — Ande logo, cara. E só sei que você não vai me ajudar a escavar outro buraco. A menina olha além de mim. — Eu não serei uma testemunha se... for eu quem atirar. — ela oferece, saltando em seus pés. — Você não tem medo, tem? — eu pergunto, apenas verificando que o que vejo nela está realmente lá porque ainda não posso realmente acreditar nisso. Ela é pequena e fofa e uma criança, mas ela é o maldito diabo, e se eu fosse Mug, eu fechava a boca antes que o chão se abrisse e o ~ 283 ~


engolisse por completo. Aguardo por sua hesitação. Qualquer sinal de que isso realmente não é o que ela quer, mas não recebo nada. Ela morde os lábios novamente e balança em seus pés. — Você está bêbada ou algo assim? — pergunto, curvando uma sobrancelha e ignorando Mugs mandando eu me apressar e matá-la. Uma última tentativa de garantir que o que estou vendo é real. — Não. — ela sussurra, e por algum motivo acredito nela. Eu levanto minha arma, novamente apontando para sua cabeça. Dou outro passo em direção a ela, fechando a lacuna entre nós e pressionando o cano da arma contra sua testa. Ela não se move. Ela também não para de sorrir. Afasto minha arma e começo a rir. Eu olho em seus olhos. — Eu reconheço esse olhar. — digo, coçando meu antebraço. — Nunca vi isso em uma garota antes, no entanto. Especialmente não em uma tão jovem. Só vi isso em caras. Gente como eu. — Gente como você? — pergunta ela, esfregando a testa. — Sim, gente como eu. Bandidos. — eu estalo meus dedos. — Por favor, — ela implora, balança a cabeça. — Eu preciso. Mantenho meus olhos nela e viro para Mugs, — A menina está certa. Ela não é uma testemunha se ela mesma fizer isso. — eu digo, movendo-se para seu lado. Nós dois olhamos para Mugs que rola os olhos. — Uau, eu sabia que você gostava de uma merda fodida, Smoke, mas uma de dezesseis anos, que implora a estranhos para deixá-la matar filhos da mãe? — ele bufa. — Espero que vocês dois sejam realmente felizes juntos. — Não, não é isso... — a menina começa a argumentar. — Você não precisa explicar nada pra ele. — eu digo a ela. Abaixo minha voz para um sussurro e falo em sua orelha. — Mugs é um maldito idiota. Ele não entendeu. Ele não vê o que eu vejo. — Eu ouvi isso. — diz Mugs. — E o que eu entendo o é, quanto mais tempo estivermos aqui fora, maiores serão as chances de sermos pego. Quero dizer, eu odeio matar e dar o fora, mas nós temos que ir,

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porra. — Mugs aponta sua arma para Jerry. Sem aviso, ele puxa o gatilho, enviando um spray de sujeira que cai no buraco. — Que diabos? — eu rujo. A menina cai no chão e envolve seus braços em torno de seus joelhos, não por medo, mas decepção, como se estivesse devastada e nem sequer pudesse ficar de pé. Eu ajoelho ao lado dela. — Você está bem, garota? — eu inclino seu queixo. Ela olhou para mim com um olhar selvagem antes que as lágrimas começassem a derramar. Eu a puxo contra meu peito. — Eu vou cuidar de você. — sussurro em seu cabelo. Eu me sinto possessivo sobre ela. Como se ela sempre quisesse me encontrar. Não de forma sexual, mas de uma maneira que a faz sentir como uma família instantânea. Ela é sangue para mim, agora. Não há mais volta. Quero mostrar a ela que ela não está sozinha. Que ela não é a única que sente ou não sente da maneira como os outros fazem. Não houve ninguém assim para mim e estou determinado a ser essa pessoa para ela. — Vou te ajudar. Você gostaria disso? — pergunto. Através de suas lágrimas, ela balança a cabeça, aceitando minha oferta, embora não compreendendo completamente ao que estava concordando. — Estou brincando. — Mugs diz de repente. Ele põe a pá no chão. Ele caminha até onde estamos agachados no chão. — Vá. Ele ainda está vivo. Só tinha que saber se você estava falando sério. — Você é um maldito idiota, Mugs. — eu cuspo. — Sim, eu sei. Agora vamos nos apressar e dar o fora daqui. Eu tenho coisas para fazer. — Qual o seu nome, garota? — pergunto, mantendo-a contra mim. Ela não responde imediatamente. — Rage. — ela finalmente diz com um ganido. — Meu nome é Rage. — Rage. Eu gostei. — eu digo, oferecendo a ela minha arma. — Já atirou com uma destas antes? — eu a retiro do chão. ~ 285 ~


— Não. — ela admite. — Fique aqui. — eu a endireito na minha frente. Coloco a arma sua na mão. — Pegue, segure-a do jeito que estou segurando agora. Ela faz o que eu digo e suas mãos caem, a arma é muito mais pesada do que ela esperava que fosse. Empurro-a para frente, caminhando até onde a figura aguda de Jerry está amontoada no buraco. — Fique assim e aperte o gatilho. — digo suavemente. — Você tem certeza de que quer fazer isso? — Sim. — ela responde. Sem hesitação. Não tenho dúvidas de que ela está dizendo a verdade, mas sinto que tenho que avisá-la uma última vez. — Porque esta é uma merda que muda a vida. Você faz isso e as coisas não serão as mesmas nunca mais. Este é o tipo de merda que assombra homens crescidos à noite. — eu paro. — O tipo de merda que os faz implorar a Jesus por perdão. — Eu não preciso de perdão. — ela sussurra, apertando o gatilho. O olho de Jerry se arregala. A vida que havia alguns segundos antes, agora desapareceu. Seu olhar completamente em branco. A terra embaixo dele escurece enquanto o sangue se afasta da ferida fresca do lado da cabeça. Ela permanece imóvel, respirando com dificuldade, olhando o que resta da cabeça de Jerry com excitação selvagem. — É mesmo? — pergunto. — Todo mundo procura perdão mais cedo ou mais tarde, Princesa. Por que você não? — aponto a mão para a minha arma, que entrega. Ainda está quente. Ela se vira para mim e encolhe os ombros. — Porque não peço desculpa. — Ótimo, essa é a primeira lição, — digo, de repente virando para Mugs e puxando o gatilho rapidamente. Três balas explodem em seu peito, enviando-o para o buraco até ele cair para trás, seu corpo se juntando ao de Jerry. O que eu esqueci de dizer a um Mugs agora muito morto foi que Bear sabia que ele havia estuprado a garota antes de Jerry ter tido sua vez. Meu trabalho não era enfiar um corpo em baixo da terra esta noite, mas dois.

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— Qual é a segunda lição? — Rage pergunta, olhando a arma enquanto troco o clipe. — A segunda lição, é que, para sobreviver, você é leal a ninguém. Você não está do lado de ninguém, exceto o seu. — eu guardo a arma e a olho nos olhos para me certificar de que ela entende exatamente o que eu estou dizendo. — Você entendeu? Rage assente com a cabeça. — Sim, lealdade a ninguém. — diz ela, acrescentando: — E você? Eu rio. Essa garota. — Ninguém, garota. — eu olho para os corpos na terra e me viro para ela. — Especialmente eu.

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