HÍBRIDO PII: EDIFÍCIO DE USO MISTO NO CENTRO DE TERESINA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI CENTRO DE TECNOLOGIA - CT DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL E ARQUITETURA – DCCA CURSO: BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO DISCIPLINA: TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO II PROF.: MSc. EDUARDO AGUIAR BEZERRA

HÍBRIDO PII: EDIFÍCIO DE USO MISTO NO CENTRO DE TERESINA

YANDRA PATRÍCIA LIMA DE OLIVEIRA

TERESINA – PI Janeiro/2017


YANDRA PATRÍCIA LIMA DE OLIVEIRA

HÍBRIDO PII: EDIFÍCIO DE USO MISTO NO CENTRO DE TERESINA

Monografia apresentada à Universidade Federal do Piauí – UFPI como requisito para a conclusão da disciplina Trabalho Final de Graduação II e obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientador: MSc. Eduardo Aguiar Bezerra

TERESINA – PI Janeiro/2017


Dedico este trabalho ao meu pai Jesuíno e minha mãe Cristiana, pela presença e incentivo sempre.


AGRADECIMENTOS

À minha mãe pelo amor e incentivo desde sempre e pelos sacrifícios que esse papel requer. Aos meus irmãos Henrique, Yarla e Yanara pela companhia, ajuda, e por me suportarem falar o tempo todo sobre esse trabalho. À minha tia Mirtes pela preocupação e apoio. Ao meu orientador Eduardo Aguiar pelas ótimas ideias e a tranquilidade transmitida sempre, e a todos os outros professores da UFPI de Arquitetura que contribuíram com conhecimento e dedicação em sala de aula. Aos meus amigos de universidade Dennys, Juliana e Renata pela disponibilidade e amizade. À todos que contribuíram fornecendo informação de boa vontade, e compartilhando conhecimento com prazer diante de um trabalho acadêmico. Ao universo, pela força, coragem e os felizes acasos. E ao meu pai, minha inspiração, pensamento e razão.


“Mesmo descobrindo de fato a causa fundamental de um problema, talvez você ainda não consiga avançar. Entretanto, eventualmente as estrelas podem entrar em alinhamento, e a recompensa será enorme” (Levitt e Dubner)


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13 2. JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 16 3. OBJETIVOS .......................................................................................................... 22 3.1. Geral: .............................................................................................................. 22 3.2. Específicos: .................................................................................................... 22 4. METODOLOGIA ................................................................................................... 23 5. DEFINIÇÕES E CONCEITOS DO EDIFÍCIO MULTIFUNCIONAL ....................... 24 5.1. Definições ....................................................................................................... 24 5.2. Conceitos ........................................................................................................ 24 6. HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DOS EDIFÍCIOS MULTIFUNCIONAIS .................... 27 6.1. No mundo ....................................................................................................... 27 6.2. No Brasil ......................................................................................................... 43 6.3. No Piauí (Teresina) ......................................................................................... 49 7. LEGISLAÇÃO ....................................................................................................... 56 8. ESTUDOS DE CASOS ......................................................................................... 62 8.1. Linked Hybrid, China....................................................................................... 62 8.2. Markthal Rotterdam, Holanda. ........................................................................ 68 8.3. Conjunto Nacional, São Paulo. ....................................................................... 74 8.4. Edifício Pirapama, Recife................................................................................ 81 9. ANÁLISE DO TERRENO ESCOLHIDO................................................................ 87 9.1. Área de Implantação e acessos ...................................................................... 87 9.2. Terreno e entorno ........................................................................................... 88 9.3. Legislação....................................................................................................... 94 9.4. Insolação e ventilação .................................................................................... 96 10. PROJETO ARQUITETÔNICO ............................................................................ 98


10.1. Programa de Necessidades .......................................................................... 98 11. MEMORIAL JUSTIFICATIVO ........................................................................... 103 11.1. Conceito...................................................................................................... 103 11.2 Partido Arquitetônico.................................................................................... 104 11.2. Solução Plástica ......................................................................................... 106 11.3. Solução Estrutural ...................................................................................... 108 11.4. Sustentabilidade ......................................................................................... 108 11.5. Edifício Garagem ........................................................................................ 109 11.6. Galeria PII e Casarão Dr. Francisco Freire de Andrade ............................. 110 12. MEMORIAL DESCRITIVO ................................................................................ 112 12.1. Disposições Gerais ..................................................................................... 112 12.2. Serviços Preliminares e Movimento de Terra ............................................. 112 12.3. Galeria PII ................................................................................................... 112 12.4. Galeria Casarão Dr. Andrade Freire ........................................................... 114 12.5. Edifício Híbrido PII ...................................................................................... 116 12.6. Edifício Garagem ........................................................................................ 119 13. REFERÊNCIAS ................................................................................................. 122 ANEXO ........................................................................................................................ I


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: População residente no centro de 1991 a 2010. ....................................... 17 Figura 2: Densidade populacional no centro de Teresina ........................................ 17 Figura 3: Centro de Teresina à tarde, rua Simplício Mendes. .................................. 19 Figura 4: Centro de Teresina à noite, rua Simplício Mendes.................................... 19 Figura 5: Ponte Vecchio, Florença ........................................................................... 28 Figura 6: Rue Rivoli, Paris, 1825. ............................................................................. 29 Figura 7: Galeria Vittorio Emanuelle, Milão. ............................................................. 30 Figura 8: Aldeia a ser construída em Indiana de acordo com a cidade ideal de Owen, 1825. .............................................................................................................. 31 Figura 9: Falanstério de Guise, 1859. ...................................................................... 32 Figura 10: Unité d’Habitation, Marselha. .................................................................. 34 Figura 11: Cidade Vertical de Ludwig Hilberseimer, 1924. ....................................... 35 Figura 12: Rockefeller Center, 1939. ........................................................................ 36 Figura 13: Plug-in-city de Peter Cook, 1964. ............................................................ 37 Figura 14: Walking city de Ron Herron, 1964. .......................................................... 38 Figura 15: T & C Tower, Taiwan, 1997. .................................................................... 39 Figura 16: Burj Khalifa, Dubai, 2010. ........................................................................ 39 Figura 17: Os 20 maiores edifícios em 2020. ........................................................... 41 Figura 18: Edifício Martinelli, 1929. .......................................................................... 44 Figura 19: Edifício Esther, São Paulo. ...................................................................... 45 Figura 20: Edifício Marquês de Herval. .................................................................... 46 Figura 21: Edifício Seguradora Brasileira. ................................................................ 46 Figura 22: Edifício COPAN. ...................................................................................... 47 Figura 23: Conjunto Nacional de David Libeskind. ................................................... 47 Figura 24: Complexo Tour Geneve, João Pessoa.................................................... 48 Figura 25: Arranha-céus mais altos do Brasil. .......................................................... 49 Figura 26: Planta baixa residência com comércio no térreo. .................................... 50 Figura 27: Casa com comércio no térreo no Conjunto Mocambinho. ....................... 50 Figura 28: Edifício Agrale Motos. ............................................................................. 51 Figura 29: Edifício Horto Boulevard. ......................................................................... 52 Figura 30: Edifício Easy Home. ................................................................................ 52


Figura 31: Edifício Jacarandá. .................................................................................. 53 Figura 32: Edifício Montserrat Residence, obras em andamento. ............................ 53 Figura 33: Edifício Riviera Residence. ..................................................................... 53 Figura 34: Hotel Arrey Express. ............................................................................... 54 Figura 35: Linked Hybrid, Pequim. ........................................................................... 62 Figura 36: Implantação Linked Hybrid. ..................................................................... 63 Figura 37: Quadras e entorno. ................................................................................. 63 Figura 38: Acessos ao Linked Hybrid. ...................................................................... 64 Figura 39: Visão geral do Linked Hybrid. ................................................................. 65 Figura 40: Diagrama de Circulação de Pedestres. ................................................... 66 Figura 41: Funções e usos. ...................................................................................... 67 Figura 42: Planta baixa passarela. ........................................................................... 67 Figura 43: Markthal Rotterdam, Holanda. ................................................................ 69 Figura 44: Implantação. ............................................................................................ 69 Figura 45: Mercado no interior do Markthal. ............................................................. 70 Figura 46: Corte, diagrama de usos e funções......................................................... 71 Figura 47: Planta baixa térreo. ................................................................................. 72 Figura 48: Planta baixa apartamentos. ..................................................................... 73 Figura 49: Apartamentos, Markthal Rotterdam......................................................... 73 Figura 50: Conjunto Nacional, São Paulo. ............................................................... 75 Figura 51: Implantação. ............................................................................................ 75 Figura 52: Diagrama de usos. .................................................................................. 77 Figura 53: Planta baixa térreo. ................................................................................. 78 Figura 54: Corte e diagrama de usos. ...................................................................... 79 Figura 55: Planta baixa Pavimento Tipo. .................................................................. 79 Figura 56: Conjunto Nacional, 1954. ........................................................................ 80 Figura 57: Edifício Pirapama, Recife. ....................................................................... 82 Figura 58: Comércio e Escritórios. ........................................................................... 82 Figura 59: Implantação. ............................................................................................ 83 Figura 60: Revestimento externo em pó de pedra. .................................................. 84 Figura 61: Planta baixa térreo. ................................................................................. 84 Figura 62: Projeto proposto. ..................................................................................... 85 Figura 63: Pavimento tipo......................................................................................... 86


Figura 64: Corte e diagrama de usos. ...................................................................... 86 Figura 65: Acessos. .................................................................................................. 88 Figura 66: Mapa de usos do entorno. ....................................................................... 89 Figura 67: Terreno Auxiliar, estacionamento rotativo ............................................... 90 Figura 68: Quadra do terreno. .................................................................................. 90 Figura 69: Lan house e lojas de roupas. .................................................................. 91 Figura 70: Estacionamento....................................................................................... 91 Figura 71: JR variedades e casa para alugar. .......................................................... 92 Figura 72: Zonas de proteção do patrimônio histórico de Teresina.......................... 93 Figura 73: Planta de Situação Existente .................................................................. 93 Figura 74: Cone de aproximação do Aeroporto........................................................ 95 Figura 75: Carta solar face noroeste e nordeste. ..................................................... 96 Figura 76: Carta solar face sudoeste e sudeste. ...................................................... 97 Figura 77: Direção dos ventos.................................................................................. 97 Figura 78: Setorização ............................................................................................. 98 Figura 79: Gráfico de áreas .................................................................................... 101 Figura 80: Fluxograma ........................................................................................... 102 Figura 81: Visão geral projeto ................................................................................ 103 Figura 82: Diagrama conceito ................................................................................ 104 Figura 83: Planta Térreo Zoneamento ................................................................... 105 Figura 84: Zoneamento planta pavimento tipo ....................................................... 106 Figura 85: Edifício Híbrido ...................................................................................... 106 Figura 86: Vista Rua David Caldas e Praça Pedro II. ............................................. 107 Figura 87: Esquema reservatório de águas............................................................ 108 Figura 88: Vista Rua Paissandu. Ed. Garagem e Entrada Condomínio. ................ 109 Figura 89: Vista Av. Antonino Freire. Galerias. ...................................................... 110 Figura 90: Frente Casarão Dr. Andrade Freire ....................................................... 111 Figura 91: Lateral esquerda Casarão Dr. Andrade Freire ...................................... 111


LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Dimensões mínimas dos compartimentos e dos vãos de iluminação, ventilação e insolação das edificações habitacionais. ............................................... 58 Tabela 2: Instalações sanitárias mínimas, restaurantes e locais para reuniões. ...... 58 Tabela 3: Número mínimo de vagas obrigatórias para veículos conforme tipo de atividade. ................................................................................................................... 60 Tabela 4: Cálculo da produção diária de lixo por tipo de edificação. ........................ 60 Tabela 5: Dimensões mínimas dos compartimentos de lixo. .................................... 61 Tabela 6: Indicadores de ocupação do solo. ............................................................ 95 Tabela 7: Pré-dimensionamento ............................................................................... 98


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1. INTRODUÇÃO

Desde que o centro de Teresina se consolidou como um bairro predominantemente comercial e os moradores começaram a migrar para outras regiões, este tornou-se um local de vida diurna possibilitando que à noite suas ruas e praças se convertessem em locais marginalizados. Além disso, o intenso comércio na região provoca um congestionamento de fluxos de pessoas, veículos e mercadorias, resultado dessa predominância funcional. Como consequência, muitos lotes são utilizados como estacionamentos aproveitando-se dessa demanda de vagas gerada. No entanto, tal uso acaba por provocar a descaracterização arquitetônica do centro histórico. Além do infortuno da destruição do patrimônio histórico teresinense, junto a instalação de estabelecimentos comerciais ocorreu o esvaziamento de moradias que deram lugar ao comércio ou permaneceram vazias para aluguel (BATISTA, 2007). Como consequência o bairro foi perdendo sua diversidade de usos, pois não somente a função residencial foi relocada para outras regiões, mas também os empreendimentos de entretenimento e lazer como boates, restaurantes e cinemas, e o comércio de apoio imediato a moradia, de frequência diária ou semanal. Segundo Jane Jacobs (1961 apud CHOAY, 2013, p.294) não é possível obrigar ninguém a morar numa vizinhança ou “[...] utilizar a rua sem motivos. Ela tem de oferecer o atrativo de uma grande quantidade de lojas e lugares públicos ao longo das calçadas; alguns desses lugares devem ficar abertos à noite. Lojas, bares e restaurantes contribuem para dar segurança à rua.” Porém, hoje o centro de Teresina não possui tais estabelecimentos ou os tem precariamente. Sendo assim, tem-se a necessidade de trazer locais de comércio e lazer voltados para os moradores do bairro e que possa ser atrativo também para residentes de outras regiões. Por isso o presente trabalho tem como objetivo desenvolver o projeto de um edifício de uso misto no centro da cidade de Teresina que agrupe as funções residencial e comercial. Edifícios de uso misto bem projetados permitem que seus usuários desfrutem de serviços variados, trabalhem e divirtam-se em um só local, ao mesmo tempo que atrai transeuntes a entrar no prédio devido sua permeabilidade espacial e presença de comércios e serviços. Conforme argumenta Scalise (2004, p.14):


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O edifício híbrido oferece a possibilidade de investigação de novas relações entre edifício e contexto urbano, entre composição e representação, assim como da relação espaço público e privado. A vocação periférica do edifício híbrido sugere que não seja visto como possível corretor de desequilíbrios, mas como instrumento que atua na multiplicação de centralidades.

Rogers (2008 apud FERREIRA, 2014) afirma que edifícios de uso misto podem funcionar como revitalizadores de áreas defasadas reconstituindo o tecido urbano, já que estes promovem a diversidade de atividades e usuários, integrando partes distintas da cidade e produzindo novas relações de uso. Por ser uma proposta num centro urbano já consolidado, não há disponibilidade de terrenos com as dimensões necessárias para o projeto, porém considerando os lotes utilizados como estacionamentos rotativos, surgem algumas opções e dentre elas está a área escolhida para a implantação do edifício. Localizada na rua David Caldas em frente à praça Pedro II, este estacionamento possui no seu entorno teatro, livraria, escola de música e dança, lojas de artesanato, entre outros (ver tópico 9. p.62). Por isso, a proposta contará com um edifício residencial multifamiliar, salas comerciais, restaurante, café e galeria de arte, essas atividades serão responsáveis por integrar o edifício ao seu entorno, onde há uma forte presença de atividades culturais, tendo a função de complementar e fortalecer o uso já estabelecido com a tipologia residencial. O edifício híbrido proposto foi pensado de modo que ele seja inovador nas suas soluções de projeto, utilizando materiais eficientes, tecnologias sustentáveis, apropriando-se do conceito de projeto integrado, a fim de que o mesmo torna-se um edifício modelo que inspire outras construções com tecnologias e soluções semelhantes, demonstrando a viabilidade das mesmas. Assim, o edifício híbrido apresenta-se nesse contexto como a solução para trazer os moradores de volta ao bairro e desenvolver as potencialidades identificadas na área, conseguindo um equilíbrio baseado em composições funcionais da antiga cidade tradicional, interagindo com ela e seus usuários tornando-a flexível e a complementando (NEVES, 2012). Este trabalho se propõe em demonstrar a importância e os benefícios das zonas de uso misto e as características e singularidades do edifício multifuncional por


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meio da análise da evolução histórica dos edifícios de uso misto e suas concepções atuais, subsidiando, assim, a produção do projeto arquitetônico. Esta monografia está dividida entre os tópicos de justificativa, que além de fundamentar a proposta com dados e conceitos relevantes irá mostrar a viabilidade da mesma; objetivo, que explanará a intenção geral e específica do projeto; metodologia, que descreverá os procedimentos realizados na construção da monografia; referencial teórico, que subsidiará o desenvolvimento do projeto; estudos de casos e a proposta em si.


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2. JUSTIFICATIVA

O centro de Teresina foi o sítio de implantação da cidade em 1852 e até meados da década de 1950/60 foi a região mais importante em termos econômicos e culturais. As praças eram movimentadas, locais de comícios, reuniões entre amigos, paqueras e passeios em família, o comércio atraia pessoas de outras cidades, as festas que aconteciam na região eram conhecidas por todos e pessoas da alta sociedade moravam no bairro (CARDOSO, 2006). Porém, a expansão da cidade para outras áreas por meio da construção de conjuntos habitacionais, pontes e vias, além do investimento em infraestrutura, saúde e educação, iniciou um processo migratório da população residente para os novos bairros que estavam surgindo na zona leste, norte, sul e sudeste. (CARDOSO, 2006) No entanto, é a partir de 1980 e 90 que o esvaziamento residencial do centro se intensifica. Na década de 80 têm-se início o processo de verticalização da cidade, no bairro Ilhotas e na zona leste, e junto a este surge uma área de segregação residencial de alto status. Ao mesmo tempo têm-se uma eclosão de “vilas e favelas” nos “desertos residenciais” deixados pela construção dos conjuntos habitacionais nas zonas sul e leste (FAÇANHA, 2004). Nessas décadas, o processo de descentralização espacial foi intensificado, principalmente com o aparecimento de supermercados em novos subcentros regionais, “aniquilando”, em parte, os pequenos comerciantes. A construção de conjuntos habitacionais nas zonas Sul e Leste estimulou o surgimento de núcleos e corredores comerciais (FAÇANHA, 2004). Por isso, o centro sofreu, além de um esvaziamento residencial, um processo de revalorização das atividades comerciais, muitos imóveis passaram a ser ocupados por pequenos comércios, além de escritórios de prestação de serviços, consultórios e laboratórios na área da saúde. No documento Agenda 2030 tem-se uma análise da situação atual: Hoje, em função da falta de interesse dos antigos proprietários ou herdeiros e pelas restrições do uso e em razão de estarem situados em uma área de preservação do patrimônio arquitetônico e histórico, muitos imóveis estão fechados, abandonados ou clandestinamente destruídos para servir de estacionamento de carros. Outras atividades comerciais acompanham a tendência de esvaziamento. Algumas delas são atingidas pela chegada dos shoppings centers [...]. O comércio de alimentos foi substituído por estruturas modernas de supermercados [...]. O setor saúde também foi atingido: clínicas, laboratórios e consultórios estão migrando para outras regiões da cidade,


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especialmente a zona Leste, onde mora grande parte do cliente potencial. (TERESINA, 2015b, p.79)

Entre os anos de 1991 e 2010 a população residente no centro reduziu 59,8%, uma diminuição de 8.165 pessoas (Figura 1) (TERESINA, 2015c), apresentando um movimento decrescente contrário a maioria dos bairros da cidade. Situação que pode ser evidenciada por meio do mapa de densidade populacional (Figura 2), que demonstra um decréscimo no entorno do bairro chegando aos valores mínimos no centro histórico. Figura 1: População residente no centro de 1991 a 2010.

Fonte: TERESINA, 2015c. Redesenho da autora. Figura 2: Densidade populacional no centro de Teresina

Fonte: IBGE, 2010.


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Embora vários fatores tenham contribuído para a situação atual do centro, como a ascensão de outras regiões, a descentralização de serviços, a evasão residencial, entre outros; esses elementos são, na verdade, segundo Jane Jacobs, consequências ou fatos isolados que incidiram de maneira secundária no paradigma atual. A causa está no que a autora chama de autodestruição da diversidade, “[...] que, entre outros efeitos, faz com que os centros urbanos se alterem constantemente e mudem de lugar. É uma força que gera distritos ultrapassados e é responsável por boa parte da estagnação e da decadência das áreas centrais” (JACOBS, 2009, p.268). Conforme explica Jacobs (2009), um uso específico torna-se atraente e desenvolve em certa localidade uma concorrência por espaço. A especulação do local permitirá apenas que os usos mais lucrativos se desenvolvam naquela região, estes se multiplicarão mais e mais enquanto os menos lucrativos serão expulsos dali. O local se tornará uma área de sucesso para aquele determinado negócio, porém para outras pessoas que desejarem morar, trabalhar ou qualquer outro uso diferente daquele estabelecido, estas não conseguirão vencer a concorrência. O grande problema deste processo é que o bairro ou a rua, neste caso o centro de Teresina, só terão movimento nos horários de funcionamento dos estabelecimentos comerciais (Figura 3), tornando-se um local marginalizado após estes (Figura 4). E sem a movimentação gerada pela diversidade de usos, os empreendimentos sofrerão com a distribuição insuficiente de pessoas ao longo do seu horário de funcionamento. E passará de uma região de estabelecimentos bemsucedidos a uma área marginalizada.


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Figura 3: Centro de Teresina à tarde, rua Simplício Mendes.

Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Figura 4: Centro de Teresina à noite, rua Simplício Mendes.

Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Em seu livro Morte e vida de grandes cidades Jane Jacobs (2009) relaciona quatro condições indispensáveis para se gerar diversidade num bairro: 1º) O local deve possuir mais de uma função principal, deve haver pessoas circulando em horários diferentes por motivos diferentes;


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2º) Os quarteirões devem ser curtos para que os pedestres possam ter oportunidade de fazer o próprio caminho; 3º) O bairro deve mesclar edifícios com idades e estados de conservação diferentes para que os imóveis sejam acessíveis a mais de um grupo, variando não somente a arquitetura, mas também o rendimento econômico. 4º) Deve haver uma alta densidade de pessoas, uma parte desta deve morar lá. A autora afirma que a maioria dos centros das grandes cidades preenche ou já preencheu estes quatros requisitos antes, por isso eles se tornaram distritos importantes, porém, hoje voltaram-se predominantemente para o trabalho e após o horário comercial restam poucas pessoas no bairro (JACOBS, 2009). Ao analisar o centro de Teresina é possível constatar que este possui dois dos quatro requisitos necessários, quadras curtas e edifícios de diferentes idades e estados de conservação, embora a descaracterização e demolição de prédios históricos ameace esta diversidade. Porém, como mencionado anteriormente, o problema está na falta de diversidade de usos, predominando o comercial e de serviços. E na baixa densidade de pessoas no horário noturno devido às poucas residências presentes no bairro. Jan Gehl defende em seu livro Cidades para pessoas que: Áreas urbanas com diversidade de funções proporcionam, todo o tempo, mais atividades dentro e perto das edificações. Áreas habitacionais, em especial, significam boas conexões com os espaços comuns importantes da cidade e um reforço acentuado da segurança real e da percebida, mesmo à noite. (2015, p.99)

Ao contrário do que muitos planejadores pensam, especialmente aqueles que seguem o pensamento modernista, a diversidade de usos não gera a desarmonia, o desproporcional, o caos, é a monotonia dos espaços homogêneos quem o faz. Segundo Jacobs (2009), quando estabelecimentos padronizados concorrem em espaços de um uso predominante, estes têm o desejo de “parecer” diferente. Por isso, é natural a utilização de cores chamativas, letreiros esquisitos e formas pitorescas e toscas, gerando elementos de uma “arquitetura kitsch”. “Quanto maior a homogeneidade de usos numa rua ou num bairro, maior a tentação de ser diferente da única maneira que restou para tal” (JACOBS, 2009, p.248). Tal fato pode ser


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facilmente constatado em um passeio ao centro da cidade de Teresina, onde há muita informação e poluição visual na tentativa de “chamar a atenção” do consumidor. Jacobs (2009) e Gehl (2015) concordam que pessoas atraem pessoas e que estas se reúnem onde as coisas acontecem e espontaneamente buscam outras para socializar-se. Porém, conforme o próprio Gehl afirma, a vida na cidade envolve quantidade e também qualidade, “a densidade sozinha não produz, necessariamente, vida nas ruas. Enquanto muitas pessoas moram e trabalham em edifícios de alta densidade, os espaços urbanos do entorno, podem, facilmente, ficar escuros e ameaçadores” (GEHL, 2015, p.68). É neste panorama que o edifício de uso misto desempenha o seu melhor papel, pois além de trazer pessoas ao bairro ele proporciona outras atividades que produzem espaços de transição entre o público e o privado, influenciando a dinâmica urbana por meio de sua permeabilidade espacial, construindo relações entre o espaço público das praças, ruas, calçadas e o espaço semipúblico dos edifícios multifuncionais (FERREIRA, 2014). A diversidade de funções ao longo da quadra e agradáveis espaços de transição produzem “vida” na rua, e é esse o objetivo dessa proposta. Um projeto de um edifício híbrido com residências multifamiliares e estabelecimentos que se relacionem e revitalizem o seu entorno, diferentemente dos que existem hoje no local, estes irão funcionar no período noturno também, tornando-se um entretenimento para os moradores do prédio e atraindo usuários de outras regiões.


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3. OBJETIVOS 3.1. Geral: Elaborar um projeto arquitetônico de um edifício híbrido com habitação multifamilar, empreendimentos comerciais e de cultura e lazer para o centro de Teresina.

3.2. Específicos: a) Discutir teorias e conceitos sobre o uso misto do solo e a tipologia de edifícios multifuncionais, abordando seu histórico e concepções atuais. b) Propor espaços e ambientes habitacionais, de comércio e cultura e lazer de maneira eficiente com soluções de projeto sustentáveis. c) Propor volumetria e soluções de fachadas que harmonizem com o conjunto arquitetônico do entorno urbano. d) Propor espaços de transição que potencializem as relações de sociabilidade com o entorno.


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4. METODOLOGIA

Este trabalho foi dividido em duas etapas. A primeira consistiu-se na elaboração de uma monografia sobre a tipologia do edifício de uso misto que subsidiará a segunda parte, esta, então, é composta pelo projeto arquitetônico e suas análises e interpretações. O desenvolvimento da primeira etapa baseou-se principalmente em pesquisas bibliográficas sobre a importância dos edifícios de uso misto, seu histórico, concepções e normatização a respeito do tema. Nessa etapa foram adotados os seguintes instrumentos de pesquisa: a) Pesquisa bibliográfica e documental, foram consultados livros, periódicos, teses, dissertações, monografias de conclusão de curso, trabalhos em congressos, entre outros; em conteúdos impressos e em meio eletrônico que continham estudos relacionados ao tema; b) Levantamento de legislação (Federal, Estadual e Municipal) e normas existentes a respeito do tema; c) Análise de estudos de caso com a tipologia do tema a fim de subsidiar a concepção do projeto; d) Levantamento de dados e usos atuais do centro e análise das informações sobre o terreno a ser implantado o edifício multifuncional, assim como o do entorno junto a Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves quando necessárias informações de edifícios inventariados. A segunda etapa constituiu-se no desenvolvimento do projeto arquitetônico e divide-se em: a) Estudo preliminar contendo programa de necessidades, fluxograma, estudos climáticos de ventilação e insolação e definição do partido arquitetônico; b) Desenvolvimento do anteprojeto; estudos volumétricos; plantas de situação, de implantação, de cobertura, plantas baixas, cortes e fachadas; c) Elaboração

do

projeto

justificativo e descritivo.

básico;

detalhamentos,

e

memorial


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5. DEFINIÇÕES E CONCEITOS DO EDIFÍCIO MULTIFUNCIONAL 5.1. Definições O edifício multifuncional é também conhecido como edifício de uso misto, multiuso ou híbrido, porém estes termos carregam consigo diferentes definições. Segundo o dicionário de língua portuguesa o vocábulo híbrido significa: 1 Diz-se do indivíduo que resulta do cruzamento de dois genitores de espécies, raças ou variedades diferentes. 2 Derivado de fontes dessemelhantes. 3 Que está composto de elementos diferentes ou incôngruos. 4 Gram Composto de elementos provenientes de línguas diversas: Vocábulo híbrido, língua híbrida. sm Animal ou planta híbridos. (TREVISAN, 2007).

Conforme a definição acima, a palavra “híbrido” ganha o seu significado quando usada no campo da ciência, mas especificadamente na genética, fora disso ela adquiri uma conotação genérica referindo-se a qualquer elemento composto de partes oriundas de fontes distintas. Esse vocábulo, diferentemente das expressões “multifuncional”, "multiuso" e “uso misto”, não foi utilizado no campo da arquitetura até a sua associação com o edifício multifuncional. Por outro lado, a definição de funcionalidade e de usos tipológicos está associado a história da arquitetura desde a classificação e caracterização dos primeiros edifícios, sendo de fundamental importância para entender-se a dinâmica das atividades realizadas em cada obra arquitetônica. O prefixo multi- vem do latim “multus” e tem o sentido de muito, logo, multifuncional quer dizer muitas funções agregadas em um só elemento. Já o adjetivo misto significa algo “1 resultante da mistura de elementos de natureza diversa. 2 Que consta de parte inteira e parte fracionária.” (TREVISAN, 2007). Ele traz a ideia de diversidade, uma união de elementos que antes separados agora passam a ter uma ligação.

5.2. Conceitos Ao abordar o edifício de uso misto faz-se necessário contemplar os conceitos das diversas nomenclaturas utilizadas para referencia-lo, são elas; edifício multifuncional, de uso misto, multiuso e híbrido.


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Joseph Fenton foi o primeiro arquiteto a aplicar o termo "híbrido" à arquitetura, ele o emprega para caracterizar os grandes arranha-céus surgidos nas cidades americanas no final do século XIX que abrigavam diferentes atividades num mesmo prédio. Segundo Neves (2012), o edifício híbrido distingue-se do multifuncional pela sua escala e forma: A sua escala adapta-se ao meio urbano, podendo incorporar parte da trama da cidade e colaborar com ela por intermédio de conexões e funções. A forma resulta dos avanços tecnológicos do século XIX, como os enquadramentos estruturais, introdução do elevador, telefone, escrita eletrônica, sistemas de ventilação e aquecimento centrais, evolução do automóvel, entre outros. (NEVES, 2012, p.21)

Logo, edifícios multifuncionais são aqueles mais simples que unem a habitação e o trabalho ou o comércio em um prédio de poucos pavimentos, sem grandes soluções de fluxos e espaços complexos. As expressões uso misto e multiuso são empregadas de modo menos frequente por autores, porém estas são utilizadas de uma maneira genérica para referir-se tantos aos edifícios multifuncionais quantos aos híbridos. Todo edifício híbrido é um edifício multifuncional, multiuso ou de uso misto, porém a retórica não é válida, porque o híbrido é uma espécie do gênero multifuncional. Segundo Neves (2012), a primeira classificação dos edifícios híbridos foi feita pelo próprio Fenton em "Hybrid Bulding", ele os separa em três grupos distintos: Híbridos no tecido, que são os que se adaptam à volumetria imposta pelo tecido urbano em que se incluem e suas condicionantes, sendo imperceptível a expressão do programa na aparência exterior do edifício; Híbridos por enxerto, nos quais cada programa se formaliza por intermédio de um volume distinto, apresentando grande expressão formal no exterior edificado; Híbridos monolíticos, em que os distintos usos se acomodam no interior de um único volume contido de grande dimensão e versatilidade. (NEVES, 2012, p.22).

Porém numa classificação mais atual dos edifícios híbridos os autores Martin Musiatowicz e Kisu Park (2008 apud NEVES) no texto “Vigor híbrido y la arte de mesclar” levam em conta não somente a formalização final do prédio, mas também sua funcionalidade, composição e relação com o entorno. Eles os separaram em cinco grupos, podendo um edifício enquadrar-se em mais de um:


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Híbrido compacto caracteriza a tendência de reduzir a expressão formal de cada programa, impedindo que a imagem exterior denote a organização interior; Híbrido como “cidade dentro de cidade” corresponde aqueles que aglutinam funções de uma cidade inteira, [...] sendo autossuficientes [...]; Híbridos como “fusão estrutural” são a consequência da complexidade estrutural imposta pelos edifícios de grande altura, resultando na fusão de tipologias estruturais distintas ou na descentralização dos núcleos estruturais [...]. Geralmente, surge um agrupamento de torres que conjuntamente formam um único sistema; Híbridos por “justaposição de seções e indeterminação espacial” caracterizam a tendência da redução programática específica de cada espaço, optando-se pela potenciação do nível de indeterminação, permitindo a sobreposição de programas sobre um mesmo espaço; Híbridos como “paisagens integradas” referem-se às tendências de incorporar espaços públicos coletivos adicionando-os à sua estrutura de modo a que tanto o espaço público como a paisagem se hibridizem com os restantes usos urbanos. (NEVES, 2012, p.25-26).

A diversidade de usos presente num edifício multifuncional permite infinitas composições de prédios, o que acaba por definir um caráter “anti-tipológico”, por isso é difícil classificar e enquadrar um edifício de uso misto numa única categoria.


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6. HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DOS EDIFÍCIOS MULTIFUNCIONAIS 6.1. No mundo Os espaços multifuncionais estão presentes nas cidades desde a Antiguidade, sendo os exemplos mais antigos conhecidos a ágora grega e o fórum romano. “A ágora pode ser apropriadamente chamada uma praça de mercado, sua função mais antiga e mais persistente foi a de ponto de encontro comunal [...] como local de assembleia e centro festivo” (MUMFORD, 1998, p.166). Sua função social de espaço aberto persistiu nos países latinos como plaza, campo, piazza, grand-place. Suas primeiras edificações públicas datam de 600 a.C., estas eram prédios cívicos, santuários e templos, além do mercados e feiras. Ela foi a percussora do fórum romano, o centro da vida pública na Roma Imperial. Este possuía em seu entorno edificações com diferentes projetos e funções como; mercado de carnes e peixes, templos, escritórios das corporações de ofício, escritórios dos juízes, câmaras de vereadores, basílica, entre outros edifícios (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011). No entanto, os primeiros edifícios a acumularem atividades variadas e a desenvolverem a tipologia multifuncional foram as termas, os maiores edifícios romanos com abóbadas. Elas eram banhos públicos, mas também proporcionavam a prática de exercícios e a socialização. Conforme afirma Fazio: Os romanos passavam mais tempo nas termas para nadar, caminhar, conversar ou ler nas bibliotecas. Tal variedade de atividades exigia uma diversidade de espaços: vestiários, latrinas, salas para banhos quentes, mornos e frios; equipamentos para a prática de exercícios, áreas de relaxamento e, se possível, jardins” (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p.141).

Na Idade Média, quando os assentamentos urbanos deram lugar as vilas medievais, habitações fortificadas e pequenas unidades agrícolas, ocorreu uma diminuição na importância dos espaços multifuncionais, pois estes estavam restritos a locais como o palácio municipal e a catedral medieval. No entanto, nesta época, muitas pessoas trabalhavam e residiam no mesmo local. “Da Antiguidade ao século XVIII, os artesãos tinham suas oficinas, os mercadores e mesmo os banqueiros tinham seus armazéns e escritórios, todos em suas casas” (RYKWERT, 2004, p.100). Segundo afirma Dziura (2009, p.43) “[...] a vida cotidiana acontecia nas habitações (quase sempre de muitos andares). Dentro do


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edifício, havia locais de habitação e trabalho. Na sociedade medieval [...] era comum o trabalho estar situado sob ou sobre as residências”. Exemplo de um edifício multifuncional distinto construído na Idade Média, a Ponte Vecchio (Figura 5), Florença, projetada por Taddeo Gaddi e reconstruída em pedra em 1345 após uma grande cheia em 1333. Possuía lojas no térreo e habitações nos pavimentos superiores. Hoje é considerada um dos monumentos mais antigos da cidade e exerce uma importante função como elemento de ligação no contexto urbano devido aos seus espaços comerciais (DZIURA, 2009). Figura 5: Ponte Vecchio, Florença

Fonte: http://www.gulliveria.com/

Nas cidades renascentistas e barrocas, assim como na idade média, as habitações comumente se situavam nos pavimentos superiores dos edifícios, enquanto lojas e fábricas ficavam no térreo. Segundo afirma Rykwert: Palácios toscanos e venezianos com três e quatro andares são os tipos mais conhecidos de habitação em que está estabelecida e fixada a combinação de moradia e dependências de trabalho. Do século XIV em diante, até os palazzi urbanos das famílias italianas mais poderosas tinham lojas ou armazéns no andar térreo e no mezanino, como nas insulӕ romanas; as melhores dependências ficavam no primeiro e no segundo andar; e apartamentos para familiares menos importantes, criados, ou mesmo locatários, nos andares superiores. (RYKWERT, 2004, p.100-101).

Com a chegada da revolução industrial, a configuração da cidade muda drasticamente, o crescimento demográfico ocorre e surgem novas funções urbanas que são justapostas a da cidade medieval e barroca. “Uma nova ordem é criada, segundo o processo tradicional da adaptação da cidade à sociedade que habita nela”


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(CHOAY,2013, p.4). Assim surgem as reformas urbanas como a de Haussamann em Paris e o urbanismo como “ciência e teoria da localização humana”. Surge também, no final do século XVIII, uma nova configuração da tipologia do edifício multifuncional, prédios destinados à rica burguesia onde no andar inferior situavam-se lojas, restaurantes, cafés e teatros; e nos superiores encontravam-se as residências. O primeiro grande exemplo dessa tipologia foram as construções da Rue Rivoli (Figura 6), projetadas pelo arquiteto Pierre François-Leonard Fontaine, em 1830 sob o comando de Napoleão. Conforme descreve Giedion: Em contraste com a prática inglesa de separar totalmente as ruas residenciais e comerciais, a Rue Rivoli compreende ambas numa só. Arcadas contínuas de pilares protegiam os lojistas das intempéries, e ao mesmo tempo impediam que as fachadas das lojas subtraíssem a dignidade da rua. Placas de anúncios e armazéns não eram tolerados (GIEDION, 2004, p.736). Figura 6: Rue Rivoli, Paris, 1825.

Fonte: GIEDION (2004, p.737).

Essa nova tipologia tornou-se comum na Europa, a passagem coberta, junto as lojas, museus, restaurantes, entre outras atividades que se instalavam no térreo e as habitações ou escritórios nos pavimentos superiores ficaram conhecidos como galerias. “A galeria [...] cria uma arquitetura mediadora entre o espaço público e o espaço privado e os transeuntes são convidados a explorá-lo graças à sua permeabilidade espacial com o entorno urbano” (DZIURA, 2009, p. 48). Dentre as mais famosas hoje estão a Galeria Vittorio Emanuelle (Figura 7), em Milão, e as Galerias Colbert e Vivienne e a Galeria d´Orleans em Paris.


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Figura 7: Galeria Vittorio Emanuelle, Milão.

Fonte: MARTIN, 2015.

Até meados do século XIX, os edifícios possuíam um limite de altura em torno de 5 pavimentos devido a limitação técnica dos sistemas construtivos e da tecnologia da época. Embora, prédios de apartamentos alcançando até dez andares de altura já existissem no período final do Império Romano (RYKWERT, 2004). Porém, uma variedade de inovações técnicas, incluindo componentes estruturais produzidos em massa, a produção do elevador de segurança por Elisha Graves Otis em 1853, e técnicas de proteção de incêndio tornaram viável a partir de 1865, aproximadamente, que arquitetos de Nova York e, a seguir Chicago, desenvolvessem o edifício conhecido como arranha-céu (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011). Giedion exemplifica as tipologias desse edifício no que ficou conhecido como Escola de Chicago: Grandes edifícios de escritórios para firmas de negócios e companhias de seguros foram os primeiros a aparecer. Edifícios de iguais proporções logo despontaram, a fim de atender a outras exigências – hotéis imensos para viajantes que passavam pela cidade e edifícios mistos, tipo-escritório-teatrohotel, como o Auditório de Adler e Sullivan (GIEDION, 2004, p.398).

Os arquitetos que produziram os edifícios altos de Chicago entre 1875 e 1925 modificaram a dinâmica de uso e de fluxo nesses prédios, criando assim novas tipologias propagadas por todo o mundo, tornando possível os grandes arranha-céus multifuncionais que se constroem hoje, conhecidos como edifícios híbridos.


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Com a Revolução Industrial também surgiram modelos e teorias urbanísticas que defenderam a multifuncionalidade dos espaços e edifícios. O inglês Robert Owen e o francês Charles Fourier, representantes do modelo progressista do pré-urbanismo, desenvolveram projetos de cidades que buscavam a integração de diferentes funções dentro de uma unidade urbana. Em sua cidade ideal (Figura 8), Owen desenhou um plano com quadras formadas por prédios que se dividiam em paralelogramos, estes possuíam escolas, refeitórios, residências, edifícios públicos, áreas verdes, entre outros (CHOAY, 2013). Figura 8: Aldeia a ser construída em Indiana de acordo com a cidade ideal de Owen, 1825.

Fonte: BENEVOLO (2005, p.568).

Charles Fourier propôs para sua cidade ideal um edifício chamado falanstério. Este consistiria em um conjunto espacial multifuncional implantado num entorno rural com ruas e oficinas no térreo, dependências comunitárias e habitações nos andares superiores. Outros serviços como teatro, igreja, armazéns, estábulos, entre outros, seriam locados em blocos conectados ao edifício principal por ruas subterrâneas. Cada falanstério deveria abranger uma comunidade de 1.200 a 5.000 pessoas e ser uma sociedade totalmente organizada para o prazer com base num sistema econômico cooperativista. (RYKWERT, 2004). Diferentemente de Owen, a proposta de Fourier concretizou-se com a construção do “Familistério de Guise” (Figura 9), uma adaptação do projeto de Fourier realizada pelo industrial Jean-Baptiste Godin em 1859, na cidade de Guise, França.


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Figura 9: Falanstério de Guise, 1859.

Fonte: TOURNAIRE, 2009.

Ebenezer Howard, autor de Garden Cities of Tomorrow, apesar de não defender o uso de áreas mistas nas cidades-jardins, reintroduziu no urbanismo um tipo de cidade mais orgânico: Uma cidade limitada, desde o princípio, em números de habitantes e densidade de habitações, numa área limitada, organizada para realizar todas as funções essenciais de uma comunidade urbana, negócios, indústria, administração, educação; equipada também com um número suficiente de parques públicos e jardins privados, a fim de guardar a saúde e manter a suavidade de todo o ambiente (MUMFORD, 1998, p.556-557).

O conceito das cidades-jardins foi utilizado na construção de muitas cidades inglesas e comunidades sustentáveis por todo o mundo, assim como em teorias urbanísticas, tais quais o Crescimento Inteligente (Smart Growth), o Novo Urbanismo e o Urbanismo Ecológico. Contemporâneo a Ebenezer Howard, o também urbanista culturalista, Camillo Sitte (1843-1903), pintor e arquiteto vienense, criticou a cidade industrial e as reformas urbanas modernas. Ele inspirou-se nas cidades medievais ao propor o modelo de cidade ideal de usos mistos com espaços semelhantes a ágoras, defendendo a sinuosidade das ruas e a integridade dos espaços urbanos (RYKWERT, 2004).


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Porém foi a doutrina dos CIAM (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna) que predominou e influenciou arquitetos em todo o mundo a partir dos anos de 1920 e 1930. Os CIAM, segundo Le Corbusier, tinham como meta lidar com problemas que o arquiteto, isoladamente, não era capaz de resolver. Dentre os 10, foi o 4° congresso, ocorrido em 1933, em um navio no percurso entre Marselha e Atenas, e na própria Atenas, que gerou o documento mais famoso do CIAM, a Carta de Atenas (GIEDION, 2004). O documento propõe o ordenamento do território urbano e a segregação das funções-chaves da cidade - habitar, trabalhar, recrear-se - por meio da política do zoneamento. A circulação, a quarta função, só teria um objetivo; estabelecer uma comunicação proveitosa entre as outras três (CIAM, 1993). A introdução dessas ideias funcionalistas resultou em visões de cidades altas, espalhadas entre vias expressas, com grandes espaços verdes. Ideias que tiveram um impacto imenso no desenvolvimento urbano em todo o mundo. Porém, também foram alvo de duras críticas, principalmente pelas teorias urbanísticas contemporâneas, conforme afirma Jan Gehl: Se tivesse pedido a esses planejadores que projetassem cidades que dificultassem a vida e desencorajassem as pessoas de ficar ao ar livre, dificilmente teríamos casos mais exemplares do que o de todas as cidades criadas no século XX sobre essa base ideológica (GEHL, 2015, p.4).

A Carta de Atenas foi fortemente influenciada pelo projeto da Ville Radieuse de Le Corbusier, uma cidade com edifícios elevados, circulação livre ao nível do solo e grandes espaços verdes. Mas foram os estudos posteriores de habitação coletiva realizados pelo arquiteto que inovaram na proposição de um conjunto habitacional construído nos arredores de Marselha, em 1952. O arrojamento da Unité d’Habitation (Figura 10) consiste em acrescentar ao edifício residencial com 337 apartamentos uma rua comercial em seu pavimento central. Essa rua contém mercados, lavanderias, salões de beleza, bancas de jornal, correio, cafeteira e quartos de hotel. No décimo andar situa-se uma creche para 150 crianças (GIEDION, 2004). A Unité d’Habitation tornou-se um clássico da arquitetura e inspirou muitos edifícios de habitação construídos nos anos 60 e 70, inclusive os blocos habitacionais das Super Quadras de Lúcio Costa, em Brasília (LIMA, 2008, p.56).


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Figura 10: Unité d’Habitation, Marselha.

Fonte: KOZLOWSKI, 1997.

Contemporâneo a Carta de Atenas, surgiram projetos teóricos e práticos que propuseram espaços e edifícios de uso misto. Os principais deles foram a Cidade Vertical (Figura 11), de 1924, projeto do arquiteto e urbanista Ludwig Hilberseimer com a colaboração de Walter Gropius, e o Edifício Rockefeller Center (Figura 12), em Nova York. Na cidade teórica de Ludwig a sobreposição vertical é contraposta à segregação horizontal. Os arquitetos propõem a união das funções de morar e trabalhar num edifício de alta densidade sobre bases de comércio, serviços e circulação. Há uma preocupação em aumentar a mobilidade urbana com o acumulo de diferentes atividades num entorno próximo, evitando o espraiamento da cidade e promovendo espaços públicos que possibilitem uma relação maior entre os habitantes (DZIURA, 2009).


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Figura 11: Cidade Vertical de Ludwig Hilberseimer, 1924.

Fonte: http://www.cittasostenibili.it/

Já o Rockefeller Center é um centro cívico que desencadeia múltiplas relações com seu entorno, agregando a si uma função comparada à ágora de Atenas e o fórum romano; constituindo-se num ponto focal para a comunidade. O Rockefeller Center (1931-39) consistia inicialmente num grupo de catorze edifícios no coração de Manhattan, abrigando atividades distintas de lazer, entretenimento, comércio e serviço, com teatros, clubes noturnos, galerias, shopping center no subterrâneo que se conecta ao sistema de metrô de Nova York, escritórios e sedes de empresas (GIEDION, 2004). Os edifícios desse conjunto multifuncional são interligados por ruas e uma praça central que o integra a paisagem urbana e faz a transição do espaço público para o privado. O Rockefeller Center promoveu a revitalização do seu entorno por meio da interdependência das funções promovida em edifícios arranha-céus e provou ser possível produzir espaços urbanos de qualidade indo contra a doutrina do Movimento Moderno. (LIMA, 2008)


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Figura 12: Rockefeller Center, 1939.

Fonte: https://www.khanacademy.org/

No 10º CIAM (1956), os fundadores do congresso tinham projetos em escalas maiores e grandes solicitações, por isso resolveram passar a organização do evento a um grupo de jovens arquitetos denominados Team X. Eles pensavam de maneira diferente dos modernistas convencionais, menos obcecados com o racionalismo puro e mais voltados para os problemas do pós-guerra e questões de contexto regional e local (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011). Suas propostas promoviam uma cidade que desenvolvesse as relações humanas, a reintegração das funções urbanas aplicada aos edifícios e uma maior preocupação com o contexto urbano, defendendo os espaços e os edifícios de uso misto. Pode-se dizer que vários movimentos posteriores foram influenciados pelas ideais do Team X, como o Novo Brutalismo, o Estruturalismo e o Metabolismo Japonês. Segundo Montaner (2013), a partir de 1960 tem-se uma situação de grande diversidade de posições com o enfraquecimento do Movimento Moderno. Ao mesmo tempo que surge uma corrente fundamentalista tentando recuperar os valores históricos da cidade, surgem também propostas de alta tecnologia e correntes a favor de uma arquitetura alternativa e ecológica.


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Nesse contexto surgiu o Grupo Archigram, constituído na Grã-Bretanha em 1960 era formado pelos componentes de dois escritórios de arquitetura, por um lado Peter Cook, Dennis Crompton e Warren Chalk, e de outro, David Greene, Ron Herron e Michael Webb. Conforme afirma Montaner (2013), as propostas de caráter ilusório partiam do princípio de progresso ilimitado e do uso de novos materiais e tecnologias. O

grupo

formulou

diversos

projetos

desde

pequenas

células

intercambiáveis até gigantescas cidades no espaço. E foram os projetos mais ambiciosos como a Plug-in-city (cidade conectável) (Figura 13), projetada por Peter Cook em 1964, e a Walking city (cidade em movimento) (Figura 14), idealizada por Ron Herron pouco antes em 1963-1964, que demonstraram a multifuncionalidade de forma mais objetiva por meio de cidades mutáveis, que tentariam se adaptar as necessidades dos usuários, seja por meio de ramificações ou movendo-se e multiplicando suas estruturas na tentativa de proporcionar mais acessibilidade e possibilidades de interação entre os habitantes. Esses projetos promovem a alta densidade nas estruturas, assim como unidades multifuncionais com diferentes funções urbanas, entre elas habitação, trabalho e comércio (DZIURA, 2009). Figura 13: Plug-in-city de Peter Cook, 1964.

Fonte: http://archigram.westminster.ac.uk


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Figura 14: Walking city de Ron Herron, 1964.

Fonte: http://archigram.westminster.ac.uk

Outro movimento que surgiu no contexto otimista dos anos 60, com a disponibilidade de recursos econômicos e tecnológicos surgidos após a superação da devastação da Segunda Guerra, foi o Megaestruturalismo, sendo o Metabolismo Japonês a escola que mais ganhou destaque dentro desta corrente, com propostas que iam desde o desenho industrial ao urbanismo (NICOLLI, 2014). Segundo Montaner (2013, p.116), “as propostas dos metabolistas japoneses surgem como reação à falta de planejamento urbano típico do Japão. Frente a uma arquitetura condenada ao isolamento, à expressividade individual e ao caos urbano sempre crescente”. Arquitetos como Kenzo Tange, Kiyonori Kikutabe, Kisho Kurokawa, Masato Otaka, Fumihiko Maki e o crítico Noboru Kawazoe pensaram em novos organismos à escala urbana tais como, urbes oceânicas, cidades aéreas, unidades agrícolas, unidades residenciais móveis e estruturas helicoidais. O Metabolismo japonês teve grande influência sobre outros países asiáticos, como Singapura e Coreia, mesmo depois que o movimento se dissolveu no Japão e o Ocidente voltou-se para a arquitetura pós-moderna. Para Rem Koolhaas: A Ásia foi o único lugar, onde a arquitetura se desenvolveu de modo realmente inovador, depois do movimento moderno. A contribuição arquitetônica dos japoneses somada às circunstâncias das economias emergentes deram margem para o surgimento de metrópoles em condições inimagináveis no Ocidente até então, mas que puderam se tornar realidade diante do processo da globalização (KOOLHAAS apud NICOLLI, 2014, p.36).

Enquanto o Ocidente vivenciava o pós-modernismo após a década de 80 com uma crescente diversidade de tendências arquitetônicas, foi nas cidades


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asiáticas que os edifícios multifuncionais alcançaram o extremo da inovação tecnológica na exploração do conceito de megaestruturas com arranha-céus monumentais com mais de 200 metros de altura, comparados aos que estavam sendo construídos em Nova York e Chicago na época. Sobre o arranha-céu monumental, Koolhaas (apud NICOLLI, 2014) afirma que sua grandiosidade gera uma ruptura da relação entre a fachada e o interior no fenômeno que ele nomeou como “lobotomia arquitetônica”, tal evento afirma a independência entre a forma e o significado desse tipo de edificação, possibilitando que cada andar possa desenvolver uma função totalmente autônoma em relação aos outros. Tais edifícios, como o T & C Tower (1997) (Figura 15) e o Burj Khalifa (2010) (Figura 16), passam a operar como “cidades dentro de cidades”, e nessa escala de grandeza, o edifício torna-se urbano e o espaço urbano do entorno é aceito como espaço residual. Figura 15: T & C Tower, Taiwan, 1997.

Figura 16: Burj Khalifa, Dubai, 2010.

Fonte: http://skyscrapercenter.com/

Fonte: http://www.burjkhalifa.ae/

Desde a década de 90 que estes arranha-céus vêm ganhando espaço no cenário da arquitetura mundial, muitas vezes na tentativa de provocar o “Efeito Bilbao” e tornar o edifício uma obra monumental com tecnologia de ponta que atraia milhares de turistas, constituindo essas cidades num modelo em função de um “marketing


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urbano” no lugar do urbanismo ou da arquitetura. Hoje 81 dos 100 mais altos arranhacéus do mundo se encontram em cidades asiáticas sendo que até 2020, 12 dos novos arranha-céus a serem construídos na Ásia e no Oriente Médio estarão entre os 20 mais altos do mundo (CTBUH, 2016) (Figura 17). Figura 17: Os 20 maiores edifícios em 2020.

Fonte: CTBUH, 2016

A discussão da multifuncionalidade nas cidades e edifícios ganhou espaço na arquitetura contemporânea com as novas teorias urbanísticas que promovem o uso de zonas e edifícios de uso misto por meio da cidade densa, compacta e sustentável. Uma dessas corrente é o Smart Growth ou Crescimento Inteligente, ele surgiu no final da década de 1990 em resposta à dispersão suburbana (urban sprawl) nas cidades dos Estados Unidos como uma estratégia que busca ajudar as comunidades a crescer e se desenvolver de forma sustentável. Entre os 10 princípios que orientam esse


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desenvolvimento está a utilização de zonas de uso misto do solo com o incentivo de edificações multifuncionais (KEELER, 2010). Seguindo a mesma ideologia, o Novo Urbanismo, movimento formado por um grupo de arquitetos em 1993 também nos Estados Unidos, defende no documento que o orienta, A Carta do Novo Urbanismo, que os bairros devem ser compactos, priorizando os pedestres e o uso misto (KEELER, 2010). Ambos possuem pontos e princípios em comuns na promoção de comunidades sustentáveis, tanto que juntos eles construíram os princípios do Urbanismo Ecológico, corrente urbanística contemporânea que agrega a sua ideologia o conceito dos Green Buildings (Edifícios Verdes). A tipologia multifuncional abrange durante sua evolução histórica diferentes concepções ideológicas e adapta sua forma e funções à sociedade e ao estilo arquitetônico recorrente. Da antiguidade à renascença as funções habitacionais e comerciais eram locadas em edifícios de até 5 pavimentos. No final do séc. XVIII os edifícios de uso misto começaram a ocupar quadras inteiras, proporcionando espaços de lazer e estar, promovendo maior permeabilidade espacial nos prédios. O surgimento dos arranha-céus, em meados do séc. XIX, difundiu um novo modelo de edifício, o híbrido. Hoje, com o aumento do preço do solo, dos custos de construção, dos cortes de gastos nas instituições e nos governos, os edifícios híbridos surgem como solução para novos modos de financiamento e gestão. Tais circunstâncias têm levado a combinação de usos tradicionais como, museu, hotel e escritórios, associados a funções de lazer e comércio. É certo que cada programa perde um pouco da sua individualidade quando agregado a um edifício multifuncional, porém estes passam a fazer parte de edifícios icônicos na cidade, possibilitando novas interações e experiências por parte dos usuários (MUSIATOWICZ; PARK,2008).


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6.2. No Brasil A implantação dos edifícios multifuncionais no Brasil ocorreu junto ao processo de verticalização nos anos de 1920 nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Esse processo de verticalização só foi possível devido às inovações tecnológicas, como o uso do elevador e das estruturas de concreto e aço no Brasil, assim como a industrialização dos centros urbanos, a execução de novos planos urbanísticos nas grandes cidades financiados por parte do Estado e investimentos do mercado imobiliário em novos modelos de prédios (DZIURA, 2009). Junto a esse processo de verticalização também se desenvolvia entre os arquitetos do Rio de Janeiro e São Paulo a arquitetura moderna brasileira com referências na vanguarda europeia, entre eles estavam Lúcio Costa, os irmãos Roberto, Oscar Niemeyer, Afonso Reidy, Rino Levi, entre outros. Porém, esses novos movimentos não ficaram retidos ao eixo Rio-São Paulo, já na segunda metade dos anos 1930 havia vários arranha-céus projetados nas cidades de Santos, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre, com o intercâmbio de profissionais do Rio e São Paulo (SEGAWA, 2002). Conforme descreve Segawa, "Cerca de quarenta anos se passaram entre os dez andares do primeiro skyscraper projetado por William Le Baron Jenney (18321907) em Chicago e as pioneiras tentativas do gênero no Rio de Janeiro e em São Paulo." (SEGAWA, 2002, p.63). O primeiro empreendimento ambicioso foi construído entre 1924 e 1929, em São Paulo. Um arranha-céu com 105,65m de altura e 25 andares, projetado pelo arquiteto húngaro Willian Fillinger, da Academia de Belas Artes de Viena. O Edifício Martinelli (Figura 18), do imigrante italiano Giuseppe Martinelli, unia as funções de comércio, residência e escritórios. Estas, porém, foram modificadas com as mudanças de proprietário, mas atualmente, segundo afirma Dziura; “o edifício conta com lojas no térreo e escritórios nos pavimentos superiores, entre eles, repartições públicas e escritórios particulares.” (DZIURA, 2009, p.87).


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Figura 18: Edifício Martinelli, 1929.

Fonte: Acervo do Instituto Moreira Salles.

Em geral os edifícios mistos construídos nas décadas de 1920 a 1950 apresentavam salas comerciais no térreo ou, quando de maior porte, os primeiros pavimentos ficavam destinados a usos não residenciais. Em muitos desses edifícios modernos a diferenciação dos usos fica evidenciada na composição dos volumes e no tratamento das fachadas (SAMPAIO apud VECCHIATTI, 2011). Um exemplo dessa tipologia é o Edifício Esther (Figura 19), localizado na cidade de São Paulo; um prédio de uso misto de alto padrão projetado por Álvaro Vital Brazil e Adhemar Marinho em 1936. O arquiteto Vital Brazil utilizou “os cincos pontos da nova arquitetura” preconizados por Le Corbusier: volume elevado sobre pilotis, planta livre com estrutura independente, fachada livre, janelas em fita e o terraço jardim. O edifício tem 12 pavimentos e a adoção da planta livre possibilitou acomodar diferentes arranjos em cada um, abrigando lojas, andares para escritórios e unidades residenciais (algumas em duplex) (SEGAWA, 2002). O projeto associa a habitação a um programa multifuncional em forma de galeria, tal dinâmica é conseguida com o uso de pilotis, que rompem com o “padrão rua” e a barreira do espaço público-privado à medida que aumentam a autonomia dos edifícios.


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Figura 19: Edifício Esther, São Paulo.

Fonte: IAB-SP

Localizado na cidade do Rio de Janeiro, o Edifício Marquês do Herval (1953-1955) (Figura 20), projeto dos arquitetos Irmãos Roberto possui 21 andares e abriga as funções de comércio no térreo e escritórios e habitações nos pavimentos superiores. Situado na Avenida Rio Branco, uma importante via comercial carioca, o edifício explora a permeabilidade espacial com a implantação de lojas no nível da rua, o recuo da fachada e as escolhas dos acessos ao lote e ao edifício (DZIURA, 2009). Para Bruand (1997), o edifício foi a realização mais original dos arquitetos devido a solução plástica e seu sistema de proteção solar com persianas basculantes com lâminas de alumínio, posteriormente retiradas pelo proprietário: A ondulação resultava de uma simples quebra de continuidade, fruto da incorporação de uma simples parede oblíqua curta entre as duas paredes principais, paralelas à rua; porém o efeito era claramente mais acentuado, pois as partes em recuo estavam sublinhadas pela moldura do edifício, muito saliente, que tornava possível restabelecer a simplicidade do volume global. [...] o Edifício Marquês do Herval constitui-se num magnífico sucesso, um dos pontos mais altos da obra dos Roberto (BRUAND, 1997, p.178-179).


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Figura 20: Edifício Marquês de Herval.

Figura 21: Edifício Seguradora Brasileira.

Fonte: Arcoweb, 2004.

Fonte: Google Maps, 2015.

Segundo Bruand (1997), uma obra-prima do gênero multifuncional foi projetada pelo arquiteto Rino Levi com a colaboração de Roberto Cerqueira César na cidade de São Paulo. O edifício Seguradora Brasileira (1948-1956) (Figura 21) é composto por dois blocos de moradia de quatorze andares ligados pelo centro por um corpo transversal que abriga os serviços comuns e os elevadores. Os dois primeiros pavimentos são formados por lojas e o subsolo serve de garagem. A separação dos volumes evidência também a distinção dos usos, demarcando o espaço público, o semi-público e o privado. Outros dois edifícios que também merecem ser citados por integrarem tão bem as múltiplas funções são o edifício Copan de Oscar Niemeyer e o Conjunto Nacional de David Libeskind, ambos na cidade de São Paulo. O edifício Copan (19511962) (Figura 22) foi projetado por Oscar Niemeyer com a colaboração do arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos. O prédio de silhueta marcante tem 32 pavimentos, possuindo galerias comerciais no térreo, cinema, escritórios e espaço para eventos e uma torre com 1.160 unidades habitacionais variando entre quitinetes e apartamentos de um quarto, possibilitando coexistência de diferentes classes sociais. A ideia de Niemeyer remetia o conteúdo dos programas dos arranha-céus das cidades


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americanas, como Chicago e Nova York. (LOBATO, 2009) Figura 22: Edifício COPAN.

Fonte: http://www.copansp.com.br/

O Conjunto Nacional (1959) (Figura 23) está situado na Avenida Paulista e está associado ao seu processo de verticalização. O edifício foi projetado pelo arquiteto David Libeskind, e possui galerias comerciais e serviços no térreo, cinema e uma torre com 26 pavimentos de habitação e escritórios. Segundo Dziura (2009), o Conjunto Nacional integra o ambiente urbano por meio de praças e galerias internas que interligam os acessos das diferentes funções, promovendo um espaço em comum para todos os usos. Figura 23: Conjunto Nacional de David Libeskind.

Fonte: Hugo Segawa, 1978.


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A ideia do edifício multifuncional com o embasamento em forma de galeria de comércio e serviços foi um modelo desenvolvido e aprimorado pela arquitetura moderna, principalmente em São Paulo, desde o final dos anos 1930 até meados dos anos de 1950. Esse modelo continua sendo replicado nos dias atuais. Porém, as novas teorias de urbanismo por uma cidade mais sustentável e compacta promoveram o modelo do edifício híbrido, mais diversificado e de alta densidade, tornando essa tipologia uma tendência imobiliária nas grandes metrópoles do país e possibilitando empreendimentos de grandes proporções como o Complexo Tour Geneve (Figura 24). Localizado em João Pessoa, com previsão de término para 2017, o edifício contará com salas comerciais, restaurantes, livraria, escritórios, apartamentos, entre outros. Ele será o segundo arranha-céu mais alto do país (Figura 25), ficando atrás somente do Infinity Coast Tower, empreendimento residencial a ser construído no Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Figura 24: Complexo Tour Geneve, João Pessoa.

Fonte: http://www.tws-empreendimentos.com.br/


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Figura 25: Arranha-céus mais altos do Brasil.

Fonte: Folha de São Paulo, 2014.

6.3. No Piauí (Teresina) Os primeiros edifícios multifuncionais do Piauí, foram, assim como na Idade Média e na Renascença, casas que incorporaram o trabalho e/ou o comércio de maneira espontânea. E nesse contexto, os conjuntos habitacionais foram responsáveis por propiciar o ambiente favorável para o desenvolvimento dessa tipologia. Com a criação da COHAB-PI (Companhia de Habitação do Piauí) em 1965 e a implementação de políticas habitacionais por parte do Governo Federal, vários conjuntos habitacionais foram construídos na cidade de Teresina, totalizando mais de 38.000 unidades até a extinção do BNH (Banco Nacional da Habitação) (MELO; BRUNA, 2009). O grande problema desses empreendimentos, segundo Melo e Bruna (2009, p.3600), era que eles se encontravam “totalmente desconectados da área urbana. Situavam-se em locais ermos e desérticos, formando verdadeiras cidadesdormitórios que foram implantadas a partir de terraplanagens excessivas, com graves danos ambientais”. Por serem dotados apenas com a infraestrutura básica, não havia uma diversidade de usos nesses conjuntos, o que estimulou os moradores a agregarem outras atividades a função habitacional, como serviços e comércio. No entanto, um bom exemplo a ser mencionado é o Conjunto Mocambinho (1982-1986), projetado pelo arquiteto Acácio Gil Borsói para abrigar 41.685 mil pessoas em 5.955 unidades habitacionais. Borsói, prevendo o futuro crescimento


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social e econômico dos moradores e a necessidade de se diversificar os usos, propôs quatro tipos de habitação, uma delas com um salão para o acréscimo de pontos comerciais de entrada independente da casa (Figura 26) (BRAZ, 2004). Hoje, essas moradias possuem, geralmente, 2 pavimentos, onde a função comercial ou de serviço é exercida no térreo e a moradia localiza-se no pavimento superior e/ou no térreo, nos fundos da casa (Figura 27). Figura 26: Planta baixa residência com comércio no térreo.

Fonte: BRAZ, 2004, p.55.

Figura 27: Casa com comércio no térreo no Conjunto Mocambinho.

Fonte: Fotografia da autora, 2016.


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Um dos primeiros edifícios de uso misto de Teresina está localizado no centro da cidade, situado na esquina da rua Barroso com a rua Paissandu. O Condomínio Thais ou Edifício Agrale Motos (como é identificado no letreiro na cobertura) (Figura 28), projeto do arquiteto Raimundo Dias, foi construído em 1983 com a colaboração do engenheiro Alberto Gaioso sob a encomenda do sr. Waldinar Meireles Pessoa, proprietário de uma empresa no ramo de motos que funcionava num casarão no mesmo local. Ele resolveu investir no ramo hoteleiro depois que pólos comerciais de peças automotivas e de motos se estabeleceram em outras regiões da cidade. Meireles percebeu ao encomendar uma pesquisa de mercado, que após a inauguração do Luxor Hotel no centro, o ramo hoteleiro tinha grande potencial¹. O prédio possuia inicialmente a fachada em concreto aparente seguindo a linha brutalista adotada pelo arquiteto em outros projetos seus como o Centro Administrativo e a Rodoviária de Teresina. O edifício possui 52 quartos distribuidos em seus quatro pavimentos e um subsolo, as lojas estão localizadas no térreo e foram pensadas desde a concepção do projeto para funcionarem de modo complementar a função principal do edifíco. Elas são alugadas pelo proprietário do imóvel, o sr. Meireles, que também gerencia o apart hotel que, segundo ele, não tem o movimento afetado pela localização no centro e sua pouca movimentação no horário da noite. Figura 28: Edifício Agrale Motos.

Fonte: Fotografia da autora, 2016. ¹Informação concedida pelo sr. Waldinar Meireles Pessoa em entrevista à autora.


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Afora este edifício, outros exemplos só surgiram mais atualmente na última década, adotando o modelo difundido pela arquitetura moderna, o prédio residencial com o embasamento em forma de galeria de comércio e serviços. Entre eles tem-se o Edifício Horto Boulevar (Figura 29), localizado no bairro Horto Florestal, projeto do arquiteto João Alberto e entregue em 2014 pela construtora Galib, o Edifício Easy Home (Figura 30), localizado na Av. Ininga em frente ao Shopping Riverside, projeto do arquiteto Gustavo Almeida e entregue também em 2014 pela Elo Engenharia, o Edifício Jacarandá (Figura 31), localizado no bairro Cristo Rei, projeto do arquiteto Júlio Medeiros e entregue em 2015 pela construtora Betacon, o Edifício Montserrat Residence (Figura 32) situado no bairro Cristo Rei com previsão de entrega pela construtora Arte Construções em 2017 e o Edifício Riviera Residence (Figura 33), situado no bairro Uruguai em frente a Uninovafapi com previsão de entrega neste ano, porém a parte da galeria de lojas já encontra-se em funcionamento. Figura 29: Edifício Horto Boulevard.

Figura 30: Edifício Easy Home.

Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Fonte: Fotografia da autora, 2016.


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Figura 31: Edifício Jacarandá.

Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Figura 32: Edifício Montserrat Residence, obras em andamento.

Fonte: Arte Construções, 2016.

Figura 33: Edifício Riviera Residence.

Fonte: Arte Construções, 2016.


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Todos esses projetos apresentam propostas bem semelhantes, ambos se situam em vias com zoneamento ZC3 e ZC6, que é caracterizada por áreas situadas ao longo de eixos de comércio e serviços diversificados e uso misto ou habitacional de densidade variável, são zonas que permitem a construção de habitações multifamiliares conjugada com outros usos. A diferença é que nos edifícios Horto Boulevard, Easy Home e Jacarandá o comércio situa-se no embasamento do prédio, enquanto nos edifícios Montserrat e Riviera as lojas estão situadas em “anexos” em frente ao edifício. Outro edifício que possui a proposta de associar o uso comercial a sua função principal é o Hotel Express (Figura 34), hotel do Grupo Arrey, localizado na Av. João XXVIII, projetado pela Projetar Arquitetura e Instalações Ltda., e inaugurado no ano de 2014. Ele possui seis andares, cento e setenta apartamentos e em seu andar térreo, assim como no Edifício Agrale Motos, foram dispostas lojas com entradas independentes do hotel. Figura 34: Hotel Arrey Express.

Fonte: http://www.hotelexpressarrey.com.br/

Porém, esta solução arquitetônica está mais preocupada em aproveitar a boa localização da via comercial para o aluguel de lojas do que em criar espaços que promovam a integração dos usos e usuários. Segundo Jansen e Mitsostergiou (2015), empreendedores e investidores sentem que misturar usos torna seu trabalho mais difícil, considerando que os riscos primários da implementação de um edifício


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multifuncional envolvem um gerenciamento mais intenso (acessos diferentes, utilidades partilhadas, requisitos de segurança) e leva a dificuldades para locação e venda se não for em uma área de comércio ou serviço estabelecida.


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7. LEGISLAÇÃO Não existem normas ou leis brasileiras que regulamentem o edifício multifuncional como um todo, suas especificações são determinadas através das compilações das legislações existentes para os usos que compôem o prédio. A legislação municipal de Teresina, por exemplo, afirma em sua lei de Ocupação do solo urbano que, “art. 8. As edificações de uso misto atenderão as prescrições para cada um dos usos.” (TERESINA, 2006b, p.1). Sobre as edificações de uso misto, a legislação municipal dispõem: Art. 29. São admitidos usos mistos, desde que se trate de usos e atividades permitidos em cada zona, de acordo com o que dispõe esta Lei. § 1° - Em edificação residencial, só será permitida a instalação de outros usos com áreas de acesso e circulação independentes. § 2° - Na edificação de uso misto (Residencial com outra Atividade), será obrigatória uma área de lazer, contínua maior ou igual a 50 % da área máxima de ocupação possível do terreno, localizada em qualquer pavimento da edificação. (TERESINA, 2006a, p.4).

A legislação municipal não permite que se integre os espaços da área de acesso da habitação multifamiliar com os outros usos, como Libeskind fez no projeto do Conjunto Nacional para promover espaços mais fluidos e de mais interação social, porém já foi um avanço comparado com a antiga lei de ocupação do solo de 1993, que determinava que todos os acessos deveriam ser independentes quando em zonas residenciais: Art. 19. Nas zonas residenciais, as atividades não habitacionais, agrupadas no mesmo prédio, deverão ter, necessariamente, áreas de acesso e circulação independentes para cada locação, não sendo permitido o acesso através de circulações internas comuns. (TERESINA, 1993, p.2).

Ao analisar as normas referentes aos tipos de usos separados para edifícios habitacionais, comerciais, restaurantes e galerias, tem-se a Nbr 9077 – Saída de emergência em edifícios, que se enquadra para todos os usos, mas que estabelece que para edifícios mistos as saídas de emergências devem satisfazer às exigências de acordo com o uso que apresentar maior risco, salvo se os acessos forem compartilhados. Além dela, existe a Nbr 15575 - Desempenho de edificações habitacionais, que dispõe, entre outras coisas, sobre o conforto acústico e térmico das edificações do tipo habitacional.


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No Código de Obras e Edificações da cidade de Teresina são estabelecidas algumas determinações a respeito das dimensões dos espaços, área mínima, vagas de estacionamentos e dimensionamento do compartimento de lixeira. Para unidades habitacionais o código determina: Art. 178. As edificações destinadas ao uso residencial terão, em cada unidade residencial, ambientes para estar, repouso, preparo de alimentos e higiene. § 1º Consideram-se ambientes de higiene a instalação sanitária e a área de serviço. § 2º Será admitida a conjugação, em um mesmo espaço, de todos os ambientes citados no caput deste artigo, excetuadas as instalações sanitárias, desde que esse espaço tenha: I - forma que permita, em seu piso, um diâmetro mínimo de 2,40m (dois metros e quarenta centímetros); II - ponto de água e esgoto para preparo de alimentos. § 3º A área líquida mínima da unidade será de 24,00m (vinte e quatro metros quadrados). [...] Art. 184. As edificações para habitações multifamiliares devem dispor, pelo menos, de ambientes, compartimentos, ou locais para: I - unidades residenciais unifamiliares; II - acesso e circulação de pessoas. [...] Art. 187. As edificações para habitações multifamiliares, incluindo aquelas de conjuntos habitacionais, devem ser dotadas de espaço para recreação infantil, com: I - área correspondente a 2% (dois por cento) da área total de construção, observada a área mínima de 15m (quinze metros quadrados) e círculo inscrito de 3,00 m (três metros); e II - separação da circulação e estacionamento de veículos e das instalações de coleta ou depósitos de lixo. [...] Art. 189. É permitida a construção de guaritas nos recuos de frente das edificações, desde que sua área 2 não exceda a 15 m (quinze metros quadrados) de projeção e 5,70 m (cinco metros e setenta centímetros) de altura. (TERESINA, 2015a, p.29-31).

A (Tabela 1) dispõem sobre as dimensões mínimas exigidas, assim como área de abertura para janelas e iluminação necessária em cada cômodo.


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Tabela 1: Dimensões mínimas dos compartimentos e dos vãos de iluminação, ventilação e insolação das edificações habitacionais.

Fonte: TERESINA, 2015c.

Sobre restaurantes, o Código de obras estabelece um número mínimo de aparelhos sanitários e lavatórios a serem instalados de acordo com a área do espaço do recinto (Tabela 2). Tabela 2: Instalações sanitárias mínimas, restaurantes e locais para reuniões.

Fonte: TERESINA, 2015a.


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O código relaciona 3 tipos de estacionamentos, ao ar livre, o coberto e o edifício garagem (o estacionamento no subsolo encontra-se nesta categoria). Para cada tipo, o código estabelece dimensões e exigências diferentes: Art. 208. Os locais cobertos para estacionamento ou guarda de veículos devem atender às seguintes exigências: I - o pé direito mínimo é 2,20 m (dois metros e vinte centímetros), excluindo a altura das vigas; II - o valor mínimo da relação entre o vão para iluminação, ventilação e insolação e a área do piso deve ser de 1/30; III - havendo mais de um pavimento, todos eles devem ser interligados por escadas e, também, por elevadores, quando o deslocamento vertical for superior a 10m (dez metros). Art. 209. Os locais para estacionamento ou guarda de veículos para fins comerciais, além das outras exigências deste Código, devem atender às seguintes: I - existência de compartimento destinado à administração; II - existência de instalações sanitárias para empregados e usuários; III - ter a superfície calçada, cimentada ou recoberta com brita ou saibro; e IV - o piso da área de permanência de veículos deve ter inclinação mínima de 1% (um por cento) para escoamento da água, assegurando-se não descarregá-la no passeio público. Art. 210. Os edifícios-garagem, além das outras exigências deste Código, devem obedecer às seguintes condições: I - as pistas de entrada e saída devem ter o tráfego livre; II - se a entrada e a saída forem feitas por vãos distintos, cada vão deve ter largura mínima de 3,00 m (três metros); III - se a entrada e a saída forem feitas em vão único, este deve ter largura mínima de 6,00 m (seis metros); IV - em todos os pavimentos, deve haver vãos para o exterior, na proporção mínima de 1/30 da área do piso; V - deve dispor de salas de administração e instalações sanitárias para usuários e empregados; VI - as rampas devem ter acessos livres (TERESINA, 2015a, p.33-34).

O Código de obras estabelece ainda um número mínimo de vagas para estacionamento de acordo com o tipo de via em que o edifício se encontra e a área construída de cada atividade desenvolvida (Tabela 3).


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Tabela 3: Número mínimo de vagas obrigatórias para veículos conforme tipo de atividade.

Fonte: TERESINA, 2015a.

Sobre o dimensionamento do compartimento de lixo (Tabela 5), o código estabelece o cálculo da produção (Tabela 4) de acordo com o uso da edificação. No caso de edifícios multifuncionais, pode ser construída uma lixeira de uso comum ou não, de acordo com a classificação dos resíduos existente na NBR 10004:004 Classificação de Resíduos sólidos. Tabela 4: Cálculo da produção diária de lixo por tipo de edificação.

Fonte: TERESINA, 2015a.


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Tabela 5: Dimensões mínimas dos compartimentos de lixo.

Fonte: TERESINA, 2015a.

O edifício de uso misto não possui normas ou legislação específica sobre seu funcionamento, sua menção é feita de forma breve e geral tanto nas normas brasileiras como na legislação municipal. Sendo assim, o estabelecido é que ele siga as exigências estabelecidas para cada um dos seus usos, e em casos conflitantes adote a determinação mais exigente.


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8. ESTUDOS DE CASOS Os estudos de caso analisados a seguir foram escolhidos a fim de que possam construir um subsídio teórico para a definição do programa de necessidades, dos sistemas construtivos e de soluções arquitetônicas diversas, como soluções de implantação, proteção solar, fluxos e emprego de novas tecnologias, por exemplo. Ao todo foram analisados quatro estudos de caso, dois em âmbito internacional; o Linked Hybrid na cidade de Pequim, na China; e o Markthal Rotterdam, em Rotterdam, na Holanda. Ambos são edifícios híbridos de arquitetura contemporânea que fizeram o uso de tecnologias sustentáveis e souberam contextualizar o edifício com seu meio urbano. No âmbito nacional, foi analisado o Conjunto Nacional situado na cidade de São Paulo, e no âmbito regional foi escolhido o Edifício Pirapama em Recife. Ambos são obras da arquitetura moderna e representam bem a tipologia do edifício de uso misto desenvolvida naquela época e que ainda é difundida nos dias atuais no país.

8.1. Linked Hybrid, China. O Linked Hybrid (Figura 35) é um complexo híbrido, que abriga apartamentos, hotel, cinema, jardim de infância, lojas, estacionamento subterrâneo e grandes áreas verdes de uso público. Projeto do escritório estadunidense Steven Holl Architects, o complexo foi construído entre 2003 e 2009 na cidade de Pequim, na China. A construção se destaca do seu entorno por possuir nove dos seus dez edifícios conectados por passarelas, sendo oito torres residenciais e um hotel. Figura 35: Linked Hybrid, Pequim.

Fonte: Archdaily, 2009.


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O complexo está situado em um terreno (Figura 36) com área total de 220.000 m² ao lado do local da antiga muralha da cidade de Pequim no distrito residencial de Dongcheng Qu. O projeto tem o objetivo de criar um novo espaço urbano baseado nos ideais urbanísticos contemporâneos (Figura 37), ao invés de desenvolver o modelo urbano tradicional com quadras segregadas da malha urbana. O conceito do projeto era produzir espaços convidativos e abertos ao público por todos os lados (Figura 38). Focado na experiência de passagem, as torres foram organizadas de forma que mudassem a experiência do pedestre conforme o seu ponto de vista, levando em consideração o movimento, tempo e sequência que cada uma adquirira (DEZEEN MAGAZINE, 2009). Figura 36: Implantação Linked Hybrid.

Fonte: Google Earth, 2016.

Figura 37: Quadras e entorno.

Fonte: Archdaily, 2009.


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Figura 38: Acessos ao Linked Hybrid.

Fonte: Archdaily, 2009.

Percebe-se na análise do projeto que as torres foram dispostas ao redor da praça e do cinema possibilitando a formação de um espaço central, ao invés ficarem isoladas no terreno, assim, elas expressam mais coletividade e integração. O projeto promove relações interativas e incentiva encontros nos espaços públicos que variam de comercial, residencial e educacional. Todo o complexo é um espaço urbano tridimensional em que os edifícios no térreo, no subsolo e nos pavimentos superiores são integrados. Os vários espaços e passagens que o complexo proporciona fazem desse híbrido uma “cidade dentro da cidade”, associando funções que o tornam autossuficiente (DEZEEN MAGAZINE, 2009). Para cada tipologia os arquitetos resolveram atribuir uma forma diferente ( Figura 39). Assim, as oito torres residenciais são composições de prismas regulares na horizontal e na vertical. Os primeiros pavimentos são prismas dispõe-se horizontalmente e os últimos na vertical com pequenos volumes sacando da volumetria principal. O Hotel encontra-se conectado a uma torre residencial, o seu formato é cilíndrico e harmoniza com os outros prédios do complexo por ter o mesmo fechamento de vidro utilizado nas passarelas, assim, parece que o edifício finaliza o percurso traçado por elas. Já o cinema situa-se no centro do complexo e, por isso, possui poucos pavimentos para não atrapalhar a visibilidade do entorno, sua volumetria é irregular com paredes inclinadas, o que dinamiza o conjunto e permite diferentes pontos de vistas para o usuário. Tanto o hotel como o cinema foram locados


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ao redor de uma lagoa artificial, assim, por determinados ângulos estes parecem flutuar sobre a água.

Figura 39: Visão geral do Linked Hybrid.

Fonte: Archdaily, 2009.

A policromia da arquitetura budista chinesa inspira a paleta de cores utilizada nos edifícios (Figura 39). A parte inferior das passarelas são membranas coloridas que brilham com a luz projetada e os peitoris das janelas foram coloridos com as cores encontradas nos templos antigos chineses (DEZEEN MAGAZINE, 2009). No nível do solo os arquitetos conseguiram, por meio do paisagismo, criar espaços agradáveis de transição entre o público e o privado. Todas as funções públicas ao nível do solo - incluindo um restaurante, hotel, escola, jardim de infância, e cinema - têm ligações com os espaços verdes envolventes do projeto (Figura 40). No nível intermediário dos edifícios mais baixos, teto-jardins de acesso público oferecem espaços verdes tranquilos, e no topo das oito torres residenciais jardins privados estão ligados aos apartamentos (ARCHDAILY, 2009).


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Figura 40: Diagrama de Circulação de Pedestres.

Fonte: Archdaily, 2009.

O térreo das oito torres residenciais foi pensado de modo a integrar o edifício ao meio urbano, tendo a função de atrair pessoas, por isso o andar abriga as lojas e os halls de entrada para os 750 apartamentos (Figura 41). No subsolo encontra-se o estacionamento. Porém o grande diferencial desse projeto são as passarelas multifuncionais (Figura 42) situadas do 12° ao 18° pavimento. Elas abrigam serviços diversos como café, galeria de arte, auditório, livraria, academia e salão de beleza. Elas fazem a ligação das oito torres residenciais e da torre do hotel, proporcionando vistas espetaculares da cidade para os moradores e os usuários do complexo. Segundo os arquitetos, essas passarelas foram pensadas na forma de um circuito, elas integram todos os prédios e induzem o usuário a percorrer todos os ambientes, gerando, assim, relações aleatórias que resultam numa experiência única para os usuários.


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Figura 41: Funções e usos.

Fonte: Archdaily, 2009.

Figura 42: Planta baixa passarela.

Fonte: Archdaily, 2009.

O Linked Hybrid ganhou a certificação LEED Gold por apresentar um projeto sustentável em várias categorias, desde o seu conceito de integração e inserção do complexo no entorno urbano até o emprego de soluções tecnológicas para a diminuição e reutilização de recursos. Uma das inovações empregadas é a


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utilização de 660 poços Geo-térmicos responsáveis pela refrigeração e o aquecimento dos edifícios situados a 100 metros abaixo da fundação. Por serem subterrâneos foi possível o emprego de mais áreas verdes no nível do solo, além da diminuição da poluição sonora e redução das emissões de CO² criados por métodos de aquecimento/arrefecimento tradicionais. Toda a água cinza utilizada no complexo é canalizada e reciclada em tanques com luzes ultravioletas. A água da lagoa, por exemplo, é reutilizada para regar os jardins (DEZEEN MAGAZINE, 2009). Além disso, os edifícios do complexo possuem um sistema de ventilação em que um ar ligeiramente abaixo da temperatura desejada é liberado pelo piso para que este desloque o ar mais quente para cima, resultando num espaço mais fresco. O projeto também conta com janelas de vidro com baixo ganho de calor e revestimentos externos de alto desempenho (DEZEEN MAGAZINE, 2009). O Linked Hybrid é um projeto que foi além do que poderia oferecer ao cliente, nele foi pensado no que se poderia oferecer à cidade. O complexo é um espaço orientado para pedestres, com uma boa transição e convivência do público e do privado, ele incentiva o uso de recursos compartilhados e reduz a necessidade de deslocamentos com veículos automotores. É um oásis urbano, provando que, espaços verdes pacíficos podem existir em uma metrópole como Pequim. E assim como a Unite d’ Habitation de Le Corbusier, o arquiteto Steven Holl não limitou os espaços de uso misto ao térreo, ele levou a multifuncionalidade para os pavimentos superiores, promovendo novas relações de convivência entre os moradores e os visitantes.

8.2. Markthal Rotterdam, Holanda. O Markthal Rotterdam (Figura 43) é um edifício de uso misto construído no ano de 2014, em Rotterdam, na Holanda. Projeto do famoso escritório holandês MVRDV, o edifício combina um prédio de apartamentos em forma de arco com um grande mercado, praça de alimentação, supermercado, lojas e estacionamento subterrâneo.


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Figura 43: Markthal Rotterdam, Holanda.

Fonte: Archdaily, 2014.

Situado ao lado de uma estação de metrô, uma igreja medieval e próximo ao importante rio Rotte (Figura 44), a proposta do edifício foi escolhida em um concurso realizado pela prefeitura da cidade, em 2004, para a construção de um mercado coberto em substituição ao mercado de alimentos frescos à céu aberto já existente no local, pois segundo as normas europeias da época, não seria mais permitida a venda ao ar livre de alimentos frescos e refrigerados (ARCHDAILY, 2014). Figura 44: Implantação.

Fonte: Google Earth, 2014.


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Como a prefeitura também visava estimular a moradia no centro da cidade, o programa de necessidades exigiu um prédio habitacional e um estacionamento. A solução encontrada pelos arquitetos foi construir o mercado no centro do edifício ligando a rua à praça em que antes acontecia o mercado ao ar livre e que hoje abriga barracas de lanches e comércio (ARCHDAILY, 2014). Era necessário que o projeto promovesse espaços públicos, abertos e acessíveis, mas que ao mesmo tempo fosse fechado devido às condições meteorológicas e a privacidade dos moradores do prédio de apartamentos situado ao redor do mercado. Por isso, optou-se por uma fachada transparente de 40 m de altura em vidro e cabos de aço, e no interior um desenho com cores exuberantes que, além de tornar-se uma distração que tira o foco das janelas dos apartamentos, convida o público a entrar no edifício (Figura 45). O exterior do Markthal é em pedra natural cinza, a mesma utilizada nas calçadas, estratégia usada para enfatizar o seu interior e promover maior permeabilidade espacial (ARCHDAILY, 2014). Figura 45: Mercado no interior do Markthal.

Fonte: Archdaily, 2014.


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O Markthal possui uma divisão de usos semelhante a utilizada na maioria dos edifícios de uso misto, estacionamento no subsolo, comércio e serviço no térreo e nos primeiros pavimentos e a função residencial locada nos pavimentos superiores com um acesso independente das áreas de uso comuns (Figura 46). No térreo ficam localizados o mercado e as lojas, tais como perfumaria, supermercado, lojas de vinhos, entre outras, e as seis entradas separadas para as escadas e os elevadores que dão acesso aos apartamentos (Figura 47). O fornecimento das lojas e do mercado chega pelo subsolo e é realizado através de uma grande plataforma de distribuição instalada no primeiro pavimento que tem acesso ao estacionamento para veículos de entrega e monta-cargas para que os moradores não sejam incomodados no momento de carga e descarga, que geralmente ocorre de manhã cedo. No primeiro pavimento também estão localizadas as despensas nos mezaninos das lojas e os bicicletários para os moradores (ARCHDAILY, 2014). Figura 46: Corte, diagrama de usos e funções.

Fonte: Archdaily, 2014. Redesenho da autora.


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Figura 47: Planta baixa térreo.

Fonte: Archdaily, 2014. Redesenho da autora.

Devido à curvatura da estrutura, o hall dos elevadores muda de localização e tamanho, ele serve no máximo a quatro apartamentos, sendo que dois possuem janelas voltadas para o mercado e todos possuem fachadas de vidro para o exterior. As janelas voltadas para o mercado são feitas com vidros triplos para evitar som e cheiro incômodo. Há várias tipologias e tamanhos dentre os 228 apartamentos (Figura 48 e Figura 49), o que proporciona uma diversidade social no prédio, desde lofts no sótão, duplex, a apartamentos com 300 m², todos possuem terraço. As coberturas têm suas entradas no décimo andar por meio de escadas interiores e um elevador de um pavimento, para tal elevador não foi necessário casa de máquinas, assim foi possível manter a forma do edifício sem um volume destoante na cobertura (ARCHDAILY, 2014).


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Figura 48: Planta baixa apartamentos.

Fonte: Archdaily, 2014. Redesenho da autora.

Figura 49: Apartamentos, Markthal Rotterdam.

Fonte: Archdaily, 2014.

O Markthal Rotterdam foi pensado como um projeto sustentável integrado e por isso ganhou o certificado Very Good BREEAM, que avalia a inserção do edifício no contexto urbano, o uso de energias sustentáveis, a inovação tecnológica do


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edifício, entre outras categorias. Um dos diferenciais desse projeto é o seu sistema de climatização, que está conectado ao sistema de aquecimento da cidade e faz o armazenamento térmico de energia no subsolo. Ele realiza a troca de calor não somente dentro dos ambientes do edifício, como também com outros prédios adjacentes. O mercado é ventilado naturalmente através do ar que entra pelas fachadas, sobe para o telhado e deixa o ambiente através dos poços de ventilação no teto. Dentro do edifício há um sistema de monitoramento do uso de energia e do consumo de CO2. Além de um sistema de saneamento inteligente para economizar água. Devido a consultoria de um ecologista, foram integrados à fachada oeste quatro espaços para morcegos e instalados dez ninhos para andorinhas na fachada norte do prédio na tentativa de melhorar o sistema ecológico e a relação com as espécies do local (ARCHDAILY, 2014). O Markthal Rotterdam é um híbrido entre mercado e residência. Ele foi implantado na região central da cidade com o objetivo de modernizar o mercado antigo e revitalizar o seu entorno. Ele conseguiu se destacar por meio de sua volumetria original e boas soluções de projeto. Ele promove a integração dos espaços ao seu redor, permitindo a visibilidade e a permeabilidade espacial dos lados extremos do edifício através da locação do mercado na região central e de suas grandes fachadas de vidro, o que ocasiona um grande fluxo de usuários. A associação de lojas e habitações junto ao mercado garante movimentação 24h por dia no prédio. Além disso, o edifício utiliza tecnologias sustentáveis para elevar a eficiência energética e reduzir os seus impactos no meio urbano.

8.3. Conjunto Nacional, São Paulo. Projetado por David Libeskind e construído, em 1959, na cidade de São Paulo, o complexo Conjunto Nacional (Figura 50) tem galerias comerciais e serviços no térreo, cinema e uma torre com 26 pavimentos de unidades habitacionais e escritórios (DZIURA, 2009). O edifício está associado ao processo de verticalização da Avenida Paulista. E foi um dos primeiros edifícios de uso misto, tornando-se, assim, devido ao seu sucesso, promovedor da tipologia multifuncional no Brasil.


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Figura 50: Conjunto Nacional, São Paulo.

Fonte: Hugo Segawa,1978.

O Conjunto Nacional está situado no quarteirão que delimita a Avenida Paulista, a Rua Augusta, a Alameda Santos e a Rua Padre João Manoel, num terreno com 14.600 m² (Figura 51). Ele foi adquirido pelo empreendedor, dono da maior rede hoteleira do país na época, José Tijurs, em 1952. “Tijurs dizia que sua intenção era transformar a Paulista na 5ª Avenida: o modelo de grande empreendimento para a época era o Rockefeller Center, de Nova York” (VIÉGAS, 2004, p.179). Figura 51: Implantação.

Fonte: Google Earth, 2015. Redesenho da autora.


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Antes da aprovação do projeto desenvolvido por Libeskind, Tjurs, conforme afirma Dziura (2009, p.103) encomendou outros estudos: Tjurs contratou o escritório Gregori Warchavchik para o projeto de um hotel e um conjunto residencial. Outras três versões de projetos foram apresentadas. No entanto, devido a imposições de legislação de uso do solo, que permitia o uso estritamente residencial na Avenida Paulista, Tjurs abriu a possibilidade de desenvolver outros estudos, por outros arquitetos. E o escolhido foi o proposto por David Libeskind. Após o ano de 1952, com a Lei nº 4313, foram permitidas edificações com outros usos, como, por exemplo, escolas, teatros cinemas e hospitais. Cabe ainda apontar que a tipologia de edifícios com galerias comerciais não havia se consolidado.

Segundo Ursini (2005), a arquitetura adotada para o Conjunto Nacional não deixa dúvidas quanto a sua filiação ao Movimento Moderno e sua inspiração na Cidade Vertical (1924) de Hilberseimer, que propunha a locação do módulo habitacional sobre bases comerciais, de serviços e de circulação, além de estabelecer uma concepção asséptica do volume. Embora Tijurs houvesse pedido somente o centro comercial, Libeskind propôs ao empresário acrescentar um bloco residencial. Por isso, projetou dois volumes retangulares que pareciam não se tocar, um vertical, que abrigaria os apartamentos, hotel e escritórios, e outro horizontal para serviços e comércio (Figura 52). A lâmina horizontal se estende por todo o lote e foi desenhada elevada do chão, possibilitando que no térreo funcionasse uma galeria de lojas e serviços, tais como supermercado, lavanderia, correios, agências bancárias, restaurantes, salão de festas (VIÉGAS, 2004).


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Figura 52: Diagrama de usos.

Fonte: Pedrosa (2014, p.12). Redesenho da autora.

O projeto integra o edifício com o ambiente urbano por meio de praças e galerias internas. Foram projetadas quatro ruas internas para dar acesso às lojas e também como passagem urbana, ligando-o as vias públicas (Figura 53). Essas galerias se cruzam num hall central onde se localizam as rampas, os elevadores e as escadas rolantes. “No nível do terraço-jardim as rampas foram cobertas por uma cúpula geodésica, de modo a permitir passagem de luz natural. O seu desenho foi inspirado nos trabalhos que Buckminster Fuller vinha desenvolvendo nos Estados Unidos.” (VIÉGAS, 2004, p.182).


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Figura 53: Planta baixa térreo.

Fonte: Meirelles, 2007.

Nos dois subsolos encontram-se os estacionamentos, das lojas, escritórios e dos apartamentos (Figura 54). Além de serviços de apoio à manutenção do prédio (depósitos, geradores, bombas, cabines de transformação, entradas da companhia telefônica). A lâmina vertical desenvolve-se sobre pilotis, no terraço jardim do bloco horizontal. Ela possui três torres contíguas com acessos independentes que permitem a convivência de usos distintos como escritórios, consultórios e habitações (Figura 55), porém, inicialmente foi projetada para abrigar somente unidades habitacionais (ARCHDAILY,2015).


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Figura 54: Corte e diagrama de usos.

Fonte: Dziura, 2009. Redesenho da autora.

Figura 55: Planta baixa Pavimento Tipo.

Fonte: Meirelles, 2007. Redesenho da autora.

Sobre o terraço jardim também foi projetado um salão de festas de dois andares, com a forma retangular, térreo sobre pilotis e esquadrias recuadas na


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fachada do 1ª pavimento. Desde o início, o local foi administrado pelo restaurante Fasano (Figura 56), que ampliou o seu espaço acrescentando ao terraço jardim um novo galpão, paralelo ao salão de festas, que não estava previsto no projeto. Tal alteração possibilitou o acréscimo de outro galpão, também no terraço jardim, para a instalação de uma academia de ginástica (VIÉGAS, 2004).

Figura 56: Conjunto Nacional, 1954.

Fonte: Vitruvius, 2014.

Libeskind utilizou muitas das soluções modernas em seu projeto, desde o conceito dos volumes puros e o emprego da cúpula geodésica ao centro, assim como, o uso de pilotis no terraço jardim e a dinamização dos espaços por meio da sinuosidade das rampas e da utilização de luz natural. Como elemento de proteção das fachadas do volume horizontal, o arquiteto utilizou brises horizontais em concreto que harmonizam com as linhas horizontais do volume vertical. Essas peças foram especificadas em alumínio, mas em virtude do seu alto custo foram substituídas por lâminas de concreto. Segundo Ursini (2005), o térreo forma um conjunto coeso de cinco quadras delimitadas pelas ruas internas, reinterpretando o traço modernista dos espaços das galerias comerciais inventadas na Paris do século XIX.


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Todo o projeto do Conjunto Nacional demonstra uma preocupação do arquiteto com o contexto urbano, de forma que o edifício foi constituído para atrair os usuários. E ele o faz com a integração dos edifícios ao ambiente urbano por meio de praças e galerias, que fazem a transição do espaço público das calçadas para o semipúblico das vias internas do conjunto, mantendo até a mesma paginação de piso, pedras portuguesas. As vias internas levam a halls e ambientes mais privativos, chegando até o espaço privado das habitações de forma gradativa e sutil (DZIURA, 2009). Um ponto negativo do complexo, porém, é a descaracterização das áreas comuns. Por ser um prédio privado com usos variados e muitos espaços abertos foi difícil, conforme afirma o próprio arquiteto, manter as áreas de uso comuns da mesma maneira que foram construídas. Assim como foram permitidas as alterações realizadas pelo restaurante Fasano, com o passar dos anos outras alterações de projeto foram autorizadas, áreas comuns do condomínio foram invadidas, as galerias internas do térreo foram loteadas e vários obstáculos foram construídos (VIÉGAS, 2004).

8.4. Edifício Pirapama, Recife. O edifício Pirapama (Figura 57) está localizado no centro da cidade de Recife, no bairro da Boa Vista. Ele foi projetado em 1956, pelos arquitetos Delfim Amorim e Lúcio Estelita, seguindo a linha moderna dos edifícios de uso misto de embasamento com comércios e serviços (Figura 58) e uma torre residencial. Ele foi inaugurado em 1961 e durante as décadas seguintes foi um importante endereço comercial e de serviços, além de referência arquitetônica na cidade.


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Figura 57: Edifício Pirapama, Recife.

Fonte: Santana e Santos (2009).

Figura 58: Comércio e Escritórios.

Fonte: Isabella Vale, 2011.

A ideia da construção do edifício partiu do interesse do advogado e político João Cleophas de Oliveira no mercado imobiliário recifense, como alternativa de investimento financeiro. Para isso, ele contratou a construtora Figueira & Jucá para a execução da obra, o engenheiro Arlindo Pontual para a elaboração do cálculo estrutural e os arquitetos Delfim Amorim e seu colaborador Lúcio Estelita para o projeto arquitetônico (NASCIMENTO, 2004). Após a consultoria de corretores imobiliários, arquitetos e agentes financeiros, percebeu-se que a conjugação das atividades comerciais no térreo e de serviços no primeiro pavimento tiraria partido da localização privilegiada do terreno


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escolhido (Figura 59), que estava situado na recém-aberta Avenida Conde da Boa Vista, porém já ganhava destaque por tornar-se um polo de serviço e comércio, por isso atraia a maior parte dos arranha-céus da cidade (NASCIMENTO, 2004). Figura 59: Implantação.

Fonte: Google Earth, 2009. Redesenho da autora.

O edifício Pirapama é composto por um volume horizontal de uso comercial e de serviços e uma lâmina vertical com o formato em barra, mais alongado e estreito, que abriga a função residencial. A horizontalidade do prédio é destacada pelas linhas determinadas pelas janelas dos diversos apartamentos; uma torre elipsoidal foi associada ao volume principal destinando-se a circulação vertical, ela é revestida por elementos vazados cerâmicos que se destacam do volume principal criando um contraste de formas. Segundo Nascimento (2004, p.4), “O revestimento externo do edifício é em pó de pedra, argamassa de alta resistência e durabilidade, nas cores vermelho e cinza” (Figura 60). Delfim também utilizou azulejos desenhados por ele mesmo para revestir algumas áreas internas do prédio, uma das grandes características do seu trabalho. As esquadrias são de madeira pintada compostas por panos de vidro e veneziana, tanto nos apartamentos quanto nos escritórios e lojas. Nos pavimentos de serviço e comércio, o painel de veneziana encobre o mecanismo de funcionamento das grades metálicas de enrolar (NASCIMENTO, 2004).


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Figura 60: Revestimento externo em pó de pedra.

Fonte: Alcília Afonso, 2012.

O acesso ao edifício (Figura 61) dava-se através de três entradas no pavimento térreo voltadas para a galeria de lojas, porém a entrada pela Rua do Hospício foi fechada recentemente a pedido dos moradores, que consideram o prédio muito aberto, dificultando o controle de pessoas, pois a entrada dos consumidores das lojas e dos residentes dá-se pelo mesmo local (REVISTA CONTINENTE, 2009). O acesso à garagem no subsolo dá-se pela Rua Sete de Setembro. Figura 61: Planta baixa térreo.

Fonte: NASCIMENTO, 2004.


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No térreo estão localizadas 23 lojas, no segundo pavimento foram locados 25 escritórios. O terceiro pavimento seria um terraço aberto com pilotis (Figura 62) que teria a função de fazer a transição do espaço semiprivado para o privado, um pavimento vazado de propriedade e usufruto dos moradores dos pavimentos superiores. Porém, como não havia um controle de acesso, “não-moradores passaram a utilizar o local para encontros e pequenos delitos. Além disto, moradores costumavam jogar lixo pela janela sobre a laje imaginada como de recreação para a comunidade” (NASCIMENTO, 2004, p.4). Teve-se então a ideia de transformar o espaço em um restaurante, porém, segundo Nascimento (2004), esta não foi concretizado e o espaço deu lugar a mais escritórios. Figura 62: Projeto proposto.

Fonte: NASCIMENTO, 2004.

O edifício Pirapama possui 13 pavimentos residenciais divididos em dois blocos com acessos realizados por duas escadas e elevadores distintos (Figura 63). O bloco A conta com 23 apartamentos de dois e três quartos. Já o bloco B possui 130 apartamentos com um quarto e quitinetes. Tal mistura de tipologias habitacionais possibilitou uma maior diversidade social entre os moradores nas primeiras décadas do prédio. Porém, a falta de manutenção das instalações do prédio, a deterioração e a marginalização dos espaços agregado ao fenômeno de esvaziamento do centro do Recife, comum aos centros urbanos contemporâneos, provocou um processo de esvaziamento e desvalorização das residências (REVISTA CONTINENTE, 2009).


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Figura 63: Pavimento tipo.

Fonte: NASCIMENTO, 2004.

O projeto de Delfim Amorim foi concebido de acordo com os ideais modernos da planta livre, a fluidez espacial e a setorização funcional (Figura 64). Durante as primeiras décadas depois de sua inauguração, o edifício Pirapama tornouse um local conhecido e requisitado pelos pontos que abrigava, com escritórios e butiques de renome (REVISTA CONTINENTE, 2009). Porém, um dos pontos negativos do projeto, sendo fruto de reclamações dos moradores, segundo Revista Continente (2009), é que o edifício residencial não tem uma portaria ou um hall privativo que faça a triagem dos residentes; os visitantes têm acesso a todos os espaços do prédio: garagem, térreo, pavimento de escritórios e até mesmo o hall das habitações. Figura 64: Corte e diagrama de usos.

Fonte: NASCIMENTO, 2004.


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9. ANÁLISE DO TERRENO ESCOLHIDO A escolha do terreno sempre esteve relacionada diretamente com o tema deste trabalho, pois a proposta objetiva desenvolver o projeto de um edifício híbrido, no centro de Teresina, num local onde já estivesse estabelecido um estacionamento, pois a intenção é aproveitar a área sem construções do lote para construir um edifício com espaços confortáveis de estar e que potencialize as relações de sociabilidade com o entorno. Como o centro não dispõe de terrenos desocupados, e os estacionamentos rotativos são construídos nos lotes dos imóveis demolidos, descaracterizando o conjunto arquitetônico, este tornou-se uma solução de terreno para o projeto. Dentre os estacionamentos existentes no centro, poucos viabilizariam a proposta devido à área do terreno, pois por agregar vários usos num mesmo edifício e ter que atender a exigências de estacionamento, por exemplo, faz-se necessário uma área mínima para o programa de necessidades. Dentre as opções de estacionamentos que possuíam uma área razoável para o projeto, foi escolhido aquele que apresentava os melhores acessos e localização.

9.1. Área de Implantação e acessos O estacionamento está localizado no centro de Teresina em frente à Praça Pedro II, na Rua David Caldas, esquina com a Rua Paissandu e com a Av. Antonino Freire (Figura 65). O terreno se conecta com as outras regiões da cidade, principalmente, pelas Av. Maranhão, Av. Miguel Rosa e Av. Frei Serafim. Porém, para chegar até elas, as ruas de acesso ao lote direcionam os seus fluxos para ruas coletoras. Assim, a av. Antonino Freire conecta-se a Av.Frei Serafim; a rua Paissandu liga-se a Av. Maranhão, a rua Treze de maio, a rua Coelho de Resende e a rua Des. Pires de Castro; e a rua David Caldas liga-se a Av. Miguel Rosa, a rua São Pedro e a rua Olavo Bilac. Apesar do centro da cidade apresentar um fluxo de veículos saturado, principalmente nos horários de pico, a Av. Antonino Freire permite a conexão à Av. Frei Serafim nos dois sentidos de forma eficaz e rápida, por possuir caixa de rolamento com quatro faixas e comprimento de apenas três quadras. Já o deslocamento pelas vias do centro é moroso e pode ser realizado por diversas rotas, pois as ruas do centro


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possuem caixa de rolamento com duas faixas, sendo que uma é utilizada como estacionamento, que não conseguem absorver o fluxo de veículos diário. Figura 65: Acessos.

Fonte: Google Earth, 2016. Redesenho da autora.

9.2. Terreno e entorno Por estar localizado no centro da cidade, o entorno do terreno está repleto de edifícios institucionais, como o Palácio de Karnak, a Igreja São Benedito, os Correios, Iapep, INSS, além de colégios e cartórios. Percebe-se também analisando o mapa de usos do entorno (Figura 66) que a maioria dos prédios exercem a atividade comercial e que nas quadras dos terrenos existem cinco imóveis ociosos, um deles está localizado no lote escolhido. Ao redor da Praça Pedro II existem edifícios de cultura, lazer e entretimento, como o Centro de Artesanato, a escola de música e balé, o Teatro 4 de setembro e a Livraria Anchieta, que tornam a localização do terreno ideal para a implantação de empreendimentos de cultura e lazer que fortaleçam e façam a integração com esse entorno utilizando o espaço da praça como extensão dessas diversas atividades, intensificando sua centralidade física em relação aos demais prédios e como praça de eventos culturais para cidade. Sendo que é uma ação


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prevista da Agenda 2030 de Teresina a implantação de empreendimentos que promovam a cultura e a gastronomia e abriguem as artes cênicas, plásticas, audiovisuais e o artesanato, bem como a história urbana (TERESINA, 2015b). Figura 66: Mapa de usos do entorno.

Fonte: Prodater, 2012. Redesenho da autora.

Considerando o pré-dimensionamento do projeto, adotou-se um terreno auxiliar, ao lado do terreno escolhido inicialmente, para abrigar o edifício garagem do prédio principal. Nos terrenos escolhidos funcionam estacionamentos rotativos, o maior deles possui área de 2.912,00 m², com 36,0 m de testada na lateral esquerda e 28,00 m na lateral direita, sendo 92,0 m de comprimento na testada frontal (Figura 73), ele possui duas curvas de nível dos 71,00 m aos 72,00 m, porém, já encontra-se totalmente pavimentado. O terreno auxiliar (Figura 67), localizado ao lado do principal (Figura 68), possui 14,00 m de testada frontal e 43,00 m de profundidade, encontra-se também


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pavimentado e possui apenas uma guarita e coberturas metálicas para os carros, sua estrutura não será aproveitada no projeto, indicando-se, então, a demolição (Figura 73). O lote pertence à pessoa física Raimunda Batista Furtado. Figura 67: Terreno Auxiliar, estacionamento rotativo

Fonte: Fotografia da autora, 2016.

O lote principal pertence a empresa Ciro Nogueira Agropecuária e Imóveis Ltda., possui três construções no terreno, além do estacionamento (Figura 68). Situado na rua Paissandu, ao lado do Restaurante Popular, há uma casa que abriga três pontos comerciais; duas lojas de roupas e uma Lan house (Figura 69). O acesso principal ao estacionamento dá-se pela rua David Caldas (Figura 70), este ocupa a totalidade da área do terreno e no seu interior há apenas uma guarita e coberturas em estrutura metálica para abrigar os veículos. Figura 68: Quadra do terreno.

Fonte: Prodater, 2012. Redesenho da autora.


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Figura 69: Lan house e lojas de roupas.

Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Figura 70: Estacionamento.

Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Na esquina com da rua David Caldas e a Av. Antonino Freire está situado um casarão de dois pavimentos onde funciona a loja JR variedades e ao seu lado está situada uma casa para alugar, atualmente sem uso (Figura 71), entre elas existe um acesso secundário ao estacionamento. As duas construções, assim como o estacionamento e as lojas de roupas e a Lan house na rua Paissandu fazem parte do mesmo terreno.


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Figura 71: JR variedades e casa para alugar.

Fonte: Fotografia da autora, 2016.

Essas duas casas na Av. Antonino Freire fazem parte do IPAC/PI – Inventário de Proteção do Acervo Cultura do Piauí, elas foram inventariadas pela Prefeitura de Teresina por meio da Fundação Cultural Monsenhor Chaves no ano de 2010 (folha de inventário em anexo). E segundo o Decreto lei n°9.616 (2009) da cidade de Teresina: Art.1ª Os munícipes interessados em obter, desta Municipalidade, quaisquer documentos, tais como certidões, consultas prévias, licenças e afins, com o fito de modificar, construir, reformar, demolir bens imóveis ou qualquer outro expediente que possa vir a alterar o patrimônio histórico e cultural do patrimônio histórico de Teresina, nas zonas ZC1-01, ZC4-01 e ZE5-01, deverão apresentar, obrigatoriamente, documentos comprobatórios de que o imóvel – objeto de reforma, construção, demolição, pintura ou qualquer tipo de modificação – não se encontra no rol de bens tombados, no inventário de proteção do acervo cultural do Piauí ou se o mesmo não compõe o entorno de um bem tombado ou autorização para a referida alteração pelas seguintes entidades: Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, Conselho Municipal de Cultura, Fundação Cultural do Piauí e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Como o terreno está localizado na zona ZC1-01 (Figura 72) toda nova construção deve submeter o projeto à Superintendência de Desenvolvimento Urbano – SDU – Centro/Norte para analise, junto às entidades competentes, da relação do edifício com seu entorno. Além disso, por estarem inventariados, as casas não podem ser demolidas e devem manter suas fachadas preservadas.


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Figura 72: Zonas de proteção do patrimônio histórico de Teresina.

Fonte: SEMPLAN, 2010. Modificado pela autora.

Sendo assim, as duas casas, onde funcionam as lojas Claro e JR variedades, serão mantidas no terreno e incorporarão usos que potencializem o fluxo de usuários no edifício projetado. No entanto, a construção que abriga as lojas de roupas e a lan house será demolida para elaboração do projeto (Figura 73), porém o uso comercial será mantido por meio de salas comerciais no edifício híbrido. Logo, a área de construção a ser utilizada do terreno será a do estacionamento, a disponibilizada pela demolição das construções e o aproveitamento das estruturas das duas casas, a fim de que elas possam ser integradas ao projeto. Figura 73: Planta de Situação Existente

Fonte: Desenho da autora, 2016.


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9.3. Legislação Quanto ao zoneamento, a Lei n° 3.560/2006 de uso do solo determina que o terreno está localizado na zona ZC1-01, “centro de média densidade caracterizado pelas atividades de comércio e serviços, correspondente à área mais antiga da cidade.” (TERESINA, 2006a, p.2). Sobre os recuos a serem adotados pelos edifícios da zona ZC1, a Lei n°3.562/2006 de ocupação do solo urbano estabelece que: Art.10ª As edificações, exceto aquelas localizadas nas zonas ZC1 e ZC4, com mais de um pavimento e até dez pavimentos têm recuos mínimos definidos pelas fórmulas: I – para recuo lateral, a partir do 2º pavimento: RML + 0,50 (N-1); II – para o recuo de fundo, a partir do 5º pavimento: RFuM + 0,50 (N-4); e III – para o recuo de frente, a partir do 7º pavimento: RFrM + 0,50 (N-6). §1º A notação RML refere-se ao recuo lateral mínimo para edificações de um pavimento. §2º A notação RFuM refere-se ao recuo de fundo mínimo para edificações de um pavimento. §3º A notação RFrM refere-se ao recuo de frente mínimo para edificações de um pavimento. §4º A notação N refere-se ao número do pavimento. Art.11ª As edificações localizadas na zona ZC1, podem ter recuos laterais nulos até 4 pavimentos, caso não haja abertura na parede voltada para aquele recuo. Parágrafo único. Não adotado o recuo lateral nulo, a parede correspondente pode ser construída com qualquer recuo igual ou superior a 1,50m. Art.13ª Nas edificações de até quatro pavimentos, localizadas nas zonas ZC1 e ZC4, os recuos mínimos de frente e fundo são os mesmos prescritos para o pavimento térreo. Art. 14ª As edificações localizadas nas zonas ZC1 e ZC4, a partir do quinto até o décimo pavimento têm recuos mínimos definidos pelas fórmulas I, II e III, do art.10, desta Lei Complementar. [...] Art.16ª Em qualquer edificação, os recuos mínimos definidos para o décimo pavimento são os mesmos para os pavimentos acima deste. (TERESINA, 2006b, p.1). [...]

A Lei n° 3.560/2006 permite ainda em seu art.34ª a construção até o limite da testada, a partir do segundo pavimento, desde que seja mantido o recuo de frente mínimo de 2,50m e o pé-direito de 3,30m para galerias comerciais no térreo, estas devem ser livres de qualquer obstáculo e interligadas aos passeios e às galerias vizinhas. Segundo a tabela 06, para a zona ZC1 deve ser adotado o índice de aproveitamento de 4,0 vezes a área do lote e a taxa de ocupação de 80%. Percebese que por ser uma região de ocupação consolidada, os índice e limites estabelecidos ao terreno são bastante permissivos, o que permite uma exploração maior da área.


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Tabela 6: Indicadores de ocupação do solo.

Fonte: TERESINA, 2006b.

As alturas dos edifícios localizados na área determinada pelo cone de aproximação do aeroporto de Teresina são fixadas pelo Departamento de Aeronáutica Civil do Ministério da Aeronáutica, e segundo este o terreno escolhido está localizado na superfície horizontal interna do cone (Figura 74), devendo possuir cota máxima de 66,77m. Figura 74: Cone de aproximação do Aeroporto.

Fonte: INFRAERO, 2011. Modificado pela autora.


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9.4. Insolação e ventilação Os dois terrenos escolhidos possuem uma inclinação de aproximadamente 60º em relação ao eixo norte – sul, por isso utilizou-se o programa SOL-AR para o estudo de insolação, para que se pudesse identificar as fachadas que receberão maior incidência solar. Defere-se das cartas solares que a fachada noroeste (orientada a 330º em relação ao norte verdadeiro), recebe sol a partir das 10:00hr da manhã até o final da tarde durante o ano inteiro. A fachada nordeste (orientada a 60º em relação ao norte verdadeiro) recebe o sol da manhã durante todo o ano, e de março a setembro recebe também o sol de 12:00 às 13:00 hr (Figura 75). Figura 75: Carta solar face noroeste e nordeste.

Fonte: Software SOL-AR 6.2. Modificado pela autora.

A fachada sudoeste (orientada a 240º em relação ao norte verdadeiro) recebe insolação durante todo o ano pelo período da tarde. Já a fachada sudeste (orientada a 150º em relação ao norte verdadeiro) recebe o sol da manhã durante todo o ano e durante os meses de dezembro e janeiro também recebe um pouco do sol da tarde até às 14:00hr (Figura 76).


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Figura 76: Carta solar face sudoeste e sudeste.

Fonte: Software SOL-AR 6.2. Modificado pela autora.

Percebe-se que a fachada mais prejudicada é a sudoeste, embora as fachadas noroeste e nordeste também recebam o sol da tarde, mas em menor intensidade. A direção das correntes de ar predominantes na cidade de Teresina é a sudeste, principalmente nos períodos chuvosos, porém as direções nordeste e leste também devem ser consideradas em menor intensidade (Figura 77).

Figura 77: Direção dos ventos.

Fonte: Desenho da autora, 2016.


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10. PROJETO ARQUITETÔNICO 10.1. Programa de Necessidades O projeto objetiva a construção de um prédio híbrido que abrigue um condomínio residencial, lojas comerciais, escritórios, restaurante e galeria de arte, utilizando-se das estruturas disponíveis das casas a serem preservadas no terreno. Sendo assim, realizou-se a divisão dos setores de acordo com os seus usos, considerando o que foi analisado no referencial teórico no tópico 7.0 Legislação; num edifício de uso misto apenas os fluxos do condomínio residencial devem ser totalmente separados dos demais. Figura 78: Setorização

Fonte: Desenho da autora, 2016.

Considerando esses seis setores, foi elaborado o programa de necessidades (Tabela 7) com as dimensões mínimas dos ambientes estabelecidas pelo Código de Obras de Teresina (2015), pela Nbr 9050/2015 e pelas indicações constantes em bibliografia. Tabela 7: Pré-dimensionamento


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Fonte: Autora, 2016.

Analisando o pré-dimensionamento, percebe-se que a área destinada para as residências multifamiliares equivale a mais de 50% do todo (Erro! Fonte de eferência não encontrada.). Isso explica-se devido ao conceito do projeto, que será discutido mais à frente, pois o mesmo foi pensado com múltiplos pavimentos, sendo os superiores destinados ao uso residencial. Figura 79: Gráfico de áreas

Fonte: Desenho da autora, 2016.

O programa de necessidades possibilitou a elaboração do fluxograma (Figura 80), sendo este o responsável por demonstrar os vínculos e interdependências existentes entre os ambientes de forma a nortear o desenvolvimento da planta baixa.


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Figura 80: Fluxograma

Fonte: Desenho da autora, 2016.


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11. MEMORIAL JUSTIFICATIVO O objetivo deste projeto é a elaboração de um edifício híbrido com habitações multifamiliares de padrões diverso, escritórios, empreendimentos comerciais, de cultura e lazer para o centro de Teresina. O edifício híbrido apresenta-se como a solução para trazer os moradores de volta ao bairro e desenvolver as potencialidades identificadas na área, criando-se um ícone por meio de sua forma, expressão e função. O edifício híbrido proposto (Figura 81) foi pensado de modo que ele seja inovador nas suas soluções de projeto, utilizando materiais eficientes, tecnologias sustentáveis, apropriando-se do conceito de projeto integrado, a fim de que o mesmo torna-se um edifício modelo que inspire outras construções com tecnologias e soluções semelhantes, demonstrando a viabilidade das mesmas. Ele faz o uso de painéis solares, teto jardim para o reaproveitamento de água, promove a diversificação social no prédio. Figura 81: Visão geral projeto

Fonte: Desenho da autora, 2016.

11.1. Conceito O conceito do projeto abrange três ideias que norteiam o partido arquitetônico. A primeira delas é a preservação das construções presentes no lote. Esse campo pretende preservar a história e a arquitetura do entorno e dos edifícios do terreno por meio de um projeto que resgate as características originais das edificações onde for possível, harmonizando-a com as novas construções. A segunda ideia é a inovação, que deve expressar-se por meio das soluções de projeto


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sustentáveis, uso de novas tecnologias e um design marcante. A terceira ideia é a integração de todas as construções num complexo híbrido que seja capaz de agregar diferentes usos e arquiteturas, porém, mantendo uma identidade de projeto. Essa integração foi alcançada através de um térreo com espaços fluidos e um elemento de união dessas três ideias, o triângulo (Figura 82). O triangulo foi escolhido para dar unidade ao complexo híbrido por ser a forma mais simples que resolve um plano, conectando três pontos distintos, sendo também a forma que simplifica os polígonos mais complexos. Assim, painéis com chapas triangulares de alumínio foram dispostos nas fachadas da Galeria, do Edifício Híbrido e do Edifício Garagem. Figura 82: Diagrama conceito

Fonte: Desenho da autora, 2016.

11.2 Partido Arquitetônico Levando-se em conta a legislação, o índice de aproveitamento e os recuos permitidos do terreno, o prédio teria um bom aproveitamento de área até o seu 6° andar, que é a mesma altura de gabarito já encontrada no entorno, no prédio do Juizado da Mulher, em frente ao Palácio de Karnak. Além disso, Gehl (2015) afirma que o contato entre os edifícios e a rua rapidamente se dissipa a partir do quinto, enquanto os edifícios mais baixos mantêm a proximidade com a via, o que é fundamental quando se almeja aumentar o interesse e a vida urbana de um local. Ainda, segundo Gehl (2015), o térreo e o 1° pavimento nos trazem interesse e intensidade, por isso, são ótimos para o comércio. Já a partir do 2° pavimento até o 5° se tem uma visão privilegiada que permite acompanhar a vida da cidade, fazendo surgir, como Jacobs se referia, “os olhos da rua”. Assim, optou-se pela garagem no


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subsolo, por um andar térreo com lojas, o 1° pavimento de escritórios, do 2° ao 4° apartamentos, a área de lazer foi localizada na cobertura devido à falta de área do terreno, com piscina, área de apoio, e jardim. A legislação exige que o acesso dos apartamentos seja exclusivo, por isso, este será realizado pela R. Paissandu, enquanto, o acesso das lojas, dos escritórios e do restaurante será realizado por meio de um grande hall que permite a passagem da calçada da R. Paissandu para a da R. David Caldas, e tem como vista a Praça Pedro II (Figura 83). Figura 83: Planta Térreo Zoneamento

Fonte: Desenho da autora, 2016.

Das lojas locadas no prédio, especificou-se o mercado, por possuir um grande uso por parte dos moradores do edifício. O café, também no térreo, por ter uma grande rotatividade e fortalecer o entorno, sendo um ponto atrativo. O restaurante, no 1° pavimento, que apesar do acesso mais reservado, possui um público direcionado e conecta-se com a via por meio da vista dos painéis de vidro. A fim de que fosse gerado uma diversificação social no prédio, era essencial que os apartamentos tivessem tamanhos diferentes, por isso há tipologias studio, com 1 quarto, 2 quartos e 3 quartos (Figura 84). Os escritórios também foram pensados de maneira a possibilitar a instalação de firmas de pequeno e médio porte.


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Figura 84: Zoneamento planta pavimento tipo

Fonte: Desenho da autora, 2016.

11.2. Solução Plástica Por estar inserido no centro histórico da cidade, em frente a uma praça marco e ao lado de imóveis com características arquitetônicas ecléticas, é importante que o novo edifício harmonize com o entorno, porém, um edifício não deve tentar "encaixar-se", pois ele pode acabar por tornar se uma cópia da cidade construída, não representando o seu tempo de fato. Figura 85: Edifício Híbrido

Fonte: Desenho da autora, 2016.


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Assim, o Edifício Híbrido (Figura 85 e Figura 86) possui um volume harmonioso e proporcional aos outros edifícios a sua volta, com sua horizontalidade marcada pelas varandas dos apartamentos, ao mesmo tempo que o avanço do volume do restaurante dinamiza o bloco retangular. Foram escolhidas cores de revestimentos que o destacassem dos demais prédios, o seu 1° pavimento é revestido em porcelanato com aparência metálica para contrastar e demarcar a diferenciação de uso. Figura 86: Vista Rua David Caldas e Praça Pedro II.

Fonte: Desenho da autora, 2016.

Brises verticais de alumínio cobrem a parede sudoeste retardando a passagem de calor e protegendo os painéis de vidro, chegando ao térreo, onde criase um corredor sombreado. A fim de manter uma unidade nas edificações do terreno, uma estrutura metálica com chapas triangulares de alumínio foi especificada em cada projeto, na galeria, na guarita do edifício principal e na fachada do edifício garagem. Ela traz movimento e modernidade na reforma da casa que abrigará a galeria. Na cobertura foi usado pergolado de vidro e perfil metálico, mesma solução adotada na marquise da Galeria, e telhado borboleta com fechamento lateral em chapas de aço, criando um ponto visual atrativo no topo do edifício.


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11.3. Solução Estrutural O projeto conta com o uso de painéis solares para o aquecimento de água e iluminação externa do prédio, o reuso de água na irrigação das áreas verdes por meio da coleta na cisterna das águas pluviais e do teto jardim. Como sistema estrutural foi adotado o uso de pilares e vigas em concreto armado, e laje nervurada por permitir maiores vãos. 11.4. Sustentabilidade No Edifício Híbrido foram instalados 36 painéis solares, na direção norte e inclinação 5%, na laje de cobertura), 231,00 m². Cada painel tem potência de 96,30kW. Eles têm objetivo de aquecer 60% da água do reservatório superior, o que corresponde a 25% da água utilizada no prédio. A água aquecida será armazenada em um boiler localizado na casa de máquinas no quinto pavimento. No prédio também foi previsto uma cisterna para a captação da água recolhida da laje de cobertura e do teto jardim (Figura 87) com o objetivo de realizar o reuso das águas cinzas para a limpeza da área externa do edifício e a irrigação dos jardins. Figura 87: Esquema reservatório de águas.

Fonte: Desenho da autora, 2016.


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11.5. Edifício Garagem Diante da impossibilidade do aumento de vagas de estacionamento para suprir a demanda requerida pela norma para restaurantes, lojas e galerias, devido a inviabilidade de projetar-se outro pavimento para este uso, já que o terreno é estreito e as rampas de acesso ocupariam muito espaço. Fez-se necessário a utilização de outro lote para abrigar o estacionamento. Foi escolhido um lote em frente ao terreno já utilizado, devido sua proximidade e por este já empregar a função de estacionamento rotativo. Por contar com testada de apenas 14,00 m, foi necessário utilizar-se os recuos totais nas laterais, o que impossibilitou a abertura de janelas nos lados. Para tornar o ambiente ventilado e iluminado, optou-se por uma abertura no telhado (lanternim) e o uso de parte da cobertura em policarbonato. Tanto a parte frontal como a posterior do estacionamento são fechadas com gradis metálicos que permitem a circulação do ar. O telhado utiliza estrutura metálica para conseguir o vão de 14,00 m. Esta apoia-se sobre pilares de concreto, que foi preferível por ser uma opção mais econômica, já que estes suportam apenas a estrutura do telhado. A fachada do edifício foi pensada de forma a manter uma identidade com o Edifício Híbrido PII, pois a mesma solução estética com triângulos em 3D foi utilizada na marquise de entrada do condomínio, que fica em frente ao estacionamento (Figura 88). Figura 88: Vista Rua Paissandu. Ed. Garagem e Entrada Condomínio.

Fonte: Desenho da autora, 2016.


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11.6. Galeria PII e Casarão Dr. Francisco Freire de Andrade Devido ao histórico e ao contexto das casas a serem preservadas no terreno, ficou claro que elas deveriam abrigar o uso cultural do Edifício Híbrido. Logo o Casarão Dr. Freire de Andrade possui uma interessante história de quando Getúlio Vargas visitou Teresina no dia 23 de setembro de 1933. O Palácio de Karnak não tinha condições de hospedar o presidente e sua comitiva, por isso Getúlio ficou hospedado na casa do casal Dr. Francisco Freire de Andrade e dona Áurea, que tiveram que se instalar em outra residência, pois a cidade ainda não possuía hotéis. O Dr. Freire de Andrade formou-se em Medicina pela Faculdade da Bahia, em 1911, foi um dos mais conceituados médicos clínico geral e cirurgião em Teresina e também foi vereador da cidade. Depois de algum tempo, também residiu na casa o governador do estado Dr. Rocha Furtado, hoje ela pertence ao Ciro Nogueira. (KRUEL, 2015). A casa do lado não possui uma história conhecida, porém, basta uma análise das casas da Av. Antonino Freire, tio de Genu Moraes, que morava num casarão nessa avenida, para constata-se a importância daqueles imóveis que antes abrigavam as famílias mais ricas da cidade. (KRUEL, 2015). Por isso, a proposta para os dois imóveis é que eles tornem-se uma galeria de arte, e o casarão, além de abrigar exposições de arte abrigaria também uma exposição permanente da sua história, dos antigos moradores e da Av. Antonino Freire e da Praça Pedro II, resgatando a história do imóvel para criar um vínculo com a sociedade a fim de preservá-lo (Figura 89). Figura 89: Vista Av. Antonino Freire. Galerias.

Fonte: Desenho da autora, 2016.


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No projeto foram usadas fotos antigas (Figura 90 e Figura 91) como referência para a reforma dos elementos descaracterizados. Portas de vidros foram colocadas no lugar das esquadrias de madeira, o balcão posterior do imóvel foi demolido para possibilitar a entrada de veículos no estacionamento. Figura 90: Frente Casarão Dr. Andrade Freire

Fonte: www.teresinaantiga.com

Figura 91: Lateral esquerda Casarão Dr. Andrade Freire

Fonte: www.teresinaantiga. Com


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12. MEMORIAL DESCRITIVO 12.1. DISPOSIÇÕES GERAIS O presente memorial tem por finalidade orientar a execução de todos os serviços da obra e deverá seguir as especificações descritas. O acabamento da obra deverá ser minucioso e com a contratação de mão de obra especializada para a execução dos serviços. Deverá ser feita a compatibilização dos projetos de arquitetura, estrutural e de instalações e no caso de persistirem dúvidas na interpretação de qualquer elemento do projeto, deve ser consultado o autor do projeto arquitetônico. 12.2. SERVIÇOS PRELIMINARES E MOVIMENTO DE TERRA A casa da rua Paissandu deverá ser demolida, assim como as guaritas dos estacionamentos e suas coberturas metálicas. Os entulhos deverão ser retirados dos terrenos. Após toda a limpeza do terreno deverá ser feita a regularização do mesmo. Toda a escavação e aterro necessários deverão ser realizados para atender aos níveis descritos em projeto arquitetônico. Após o movimento de terra inicial, a edificação deverá ser locada seguindo as dimensões presentes no projeto arquitetônico e estrutural. 12.3. GALERIA PII 12.3.1. Estrutura Com a proposta de demolição de paredes para a formação de um grande hall de exposição e a abertura de uma entrada de serviço, faz-se necessário reavaliação da estrutura para posterior reforço se necessário. 12.3.2.Cobertura Deverá ser construída uma marquise em pergolado de perfil metálico com cobertura de vidro temperado 6mm. O telhado em madeira e telha colonial da parte posterior deverá ser coberto por uma platibanda para a instalação do painel metálico. 12.3.3.Forro O forro será em placas de gesso 0,60x0,60 m, com espessura de 3mm, acabamento liso e pintura acrílica Coral ou similar na cor branco neve. 12.3.4.Esquadrias


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As esquadrias foram especificadas no projeto, contando, dimensões, materiais e tipologias. Deverá ser instalada janela com mesma composição e desenho da levantada no imóvel 1,05 x 1,80m/1,10m, em madeira e vidro. As portas internas serão de abrir, do tipo liso, de compensado de madeira, com dimensões de 80 cm, pintadas com esmalte sintético com massa, na cor branca, com forras de madeira de espessura dentro dos padrões (mínimo de 2,1cm). As ferragens serão do tipo cromada e as fechaduras também cromadas. As maçanetas terão que ser do tipo alavanca. As janelas são em alumínio anodizado na cor branca e vidro liso incolor 4mm. 12.3.5. Revestimentos 12.3.5.1.Paredes As paredes do banheiro das áreas comuns receberão revestimento cerâmico esmaltado Forma Branco Br da marca Eliane, ou produto similar, nas dimensões 45 x 45 cm até a altura do forro, ajuntado com rejunte epóxi branco e argamassa na cor cerâmica. As paredes externas serão revestidas com cerâmica serão pintadas com tinta acrílica textura branca da marca coral ou similar. As paredes internas serão emassadas e pintadas com tinta acrílica na cor branco gelo com acabamento acetinado da marca coral ou similar. 12.3.5.2.Pisos O piso da sala de exposição será laminado Durafloor, ou similar, New Way Super Click 7mm x 18,7cm x 1,34m, cor Pátina Bege. O piso dos banheiros será porcelanato antiderrapante 45x45cm, da marca Eliane, Forma Branco Ac, com junta de assentamento 3mm na cor branca. O piso dos banheiros de uso comum do edifício será de porcelanato 60x60cm, antiderrapante, da marca Eliane, Clean Atria Na Ip, juntado com junta seca 2mm e argamassa na cor da cerâmica e rodapé de 7 cm em cantoneira de alumínio natural de 1,5”. 12.3.6. Louças e metais 12.3.6.1. Baterias Sanitárias Lavatório de de semiencaixe retangular com mesa Deca código L.843.17 420 x 550 160 MM. Barras de apoio horizontais 80 cm em aço galvanizado e


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revestimento em pvc Deca, barra de apoio vertical 70 cm e 40cm em aço galvanizado com revestimento em pvc. Bacia sanitária convencional Deca, linha Quadra. O banheiro terá os seguintes acessórios: espelho liso 4mm colocado sobre MDF; papeleira Deca Liv, código 2020.C22; porta papel higiênico linha Bobdrick cód. B272; assento de poliéster com fixação cromada A.P51 linha Vogue Plus para os vasos sanitários; saboneteira de parede Deca Liv, cód. 2010.C22, e lixeira de parede da linha Bobdrick cód. B.275. 12.3.6.2.Copa Bancada em granito polido esp.3mm, na cor branco Dallas. Cuba retangular em aço inox acetinado linha Bl. Cód. 94020107. As torneiras terão misturadores monocromado de mesa de linha C LINK cód. 2256 e o sifão em aço inox com 2” cód. 1680C.112, todas da Deca.

12.4. GALERIA CASARÃO DR. ANDRADE FREIRE 12.4.1 Estrutura e Alvenaria Na planta ouve duas indicações de demolição, logo, faz-se necessário a avaliação da estrutura para análise de reforço se necessário. A reconstrução do balcão demolido deverá anteceder de um estudo dos materiais a serem utilizados. 12.4.2. Cobertura Estrutura pré-existente em madeira e telha colonial. Inclinação 30%. 12.4.3. Forro Conforme indicado na planta o forro da loja é em madeira. O da sala de exposição do térreo é em placas de gesso 0,60x0,60 m, com espessura de 3mm, acabamento liso e pintura acrílica Coral ou similar na cor branco neve. E os outros cômodos possuem apenas laje de concreto pintada com tinta acrílica Coral ou similar na cor branco neve. 12.4.4. Esquadrias As esquadrias foram especificadas no projeto, contando, dimensões, materiais e tipologias. Deverão ser instaladas janelas com mesma composição e desenho das constantes no imóvel 1,10 x 2,10m/0,90m, em madeira e vidro. As portas deverão ser em madeira e vidro, com a mesma composição e desenho das originais do imóvel nas dimensões de 1,25 m x 3,00 m.


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12.4.5. Revestimentos 12.4.5.1 Paredes As paredes do banheiro das áreas comuns receberão revestimento cerâmico esmaltado Forma Branco Br da marca Eliane, ou produto similar, nas dimensões 45 x 45 cm até a altura do forro, ajuntado com rejunte epóxi branco e argamassa na cor cerâmica. As paredes externas serão revestidas com cerâmica serão pintadas com tinta acrílica textura branca da marca coral ou similar. As paredes internas serão emassadas e pintadas com tinta acrílica na cor branco gelo com acabamento acetinado da marca coral ou similar. 12.4.5.2 Pisos O piso da sala de exposição será laminado Durafloor, ou similar, New Way Super Click 7mm x 18,7cm x 1,34m, cor Pátina Bege. O piso dos banheiros será porcelanato antiderrapante 45x45cm, da marca Eliane, Forma Branco Ac, com junta de assentamento 3mm na cor branca. O piso dos banheiros de uso comum do edifício será de porcelanato 60x60cm, antiderrapante, da marca Eliane, Clean Atria Na Ip, juntado com junta seca 2mm e argamassa na cor da cerâmica e rodapé de 7 cm em cantoneira de alumínio natural de 1,5”. O piso da recepção é em cerâmica vermelha original, devendo o balcão reconstruído possuir a mesma paginação. O piso do corredor do 2° pavimento é em madeira original. 12.4.6. Louças e Metais 12.4.6.1. Baterias Sanitárias Lavatório de de semiencaixe retangular com mesa Deca código L.843.17 420 x 550 160 MM. Barras de apoio horizontais 80 cm em aço galvanizado e revestimento em pvc Deca, barra de apoio vertical 70 cm e 40cm em aço galvanizado com revestimento em pvc. Bacia sanitária convencional Deca, linha Quadra. O banheiro terá os seguintes acessórios: espelho liso 4mm colocado sobre MDF; papeleira Deca Liv, código 2020.C22; porta papel higiênico linha Bobdrick cód. B272; assento de poliéster com fixação cromada A.P51 linha Vogue Plus para os vasos sanitários; saboneteira de parede Deca Liv, cód. 2010.C22, e lixeira de parede da linha Bobdrick cód. B.275.


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12.4.6.2. Copa Bancada em granito polido esp.3mm, na cor branco Dallas. Cuba retangular em aço inox acetinado linha Bl. Cód. 94020107. As torneiras terão misturadores monocromado de mesa de linha C LINK cód. 2256 e o sifão em aço inox com 2” cód. 1680C.112, todas da Deca.

12.5. EDIFÍCIO HÍBRIDO PII 12.5.1. Fundações Deverá ser realizada a sondagem do solo por profissionais capacitados a fim de determinar o melhor tipo de fundação a ser utilizado na construção. 12.5.2. Estrutura O sistema estrutural do edifício apresenta pilares e vigas em concreto armado, e laje nervurada, o que possibilita vão maiores. 12.5.3. Cobertura A cobertura do edifício será em telha metálica termo acústica, marca Eternit ou similar, do tipo sanduíche com inclinação de 10% e espessura de 30mm, com preenchimento interno de poliuretano. A telha da cobertura da área de apoio terá fechamento em chapas de aço na cor branca. O hall de saída do elevador na cobertura será coberto por pergolado de perfil metálico com cobertura em vidro temperado 6mm. 12.5.4. Forro O forro da guarita e do banheiro será em placas de gesso 0,60x0,60 m, com espessura de 3mm, acabamento liso e pintura acrílica Coral ou similar na cor branco neve. 12.5.5. Esquadrias As esquadrias foram especificadas no projeto, contando, dimensões, materiais e tipologias. As portas internas serão de abrir, do tipo liso, de compensado de madeira, com dimensões de 80 cm, pintadas com esmalte sintético com massa, na cor branca, com forras de madeira de espessura dentro dos padrões (mínimo de 2,1cm). As ferragens serão do tipo cromada e as fechaduras também cromadas. As maçanetas terão que ser do tipo alavanca.


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As janelas são em alumínio anodizado na cor branca e vidro liso incolor 4mm. Os gradis metálicos são em tela de ferro pintado na cor branca com montantes tubular de Ø4cm. Os painéis de vidro terão montantes retangulares em alumínio anodizado na cor branca e vidro liso temperado 6mm com película fumê. Brise Aeroscreen Plano HunterDouglas perfurados em aluzinc, fixados sobre suportes em polímero especial, inseridos em tubos de alumínio extrudado. 12.5.6. Revestimentos 12.5.6.1.Paredes As paredes do banheiro das áreas comuns receberão revestimento cerâmico esmaltado Forma Branco Br da marca Eliane, ou produto similar, nas dimensões 45 x 45 cm até a altura do forro, ajuntado com rejunte epóxi branco e argamassa na cor cerâmica. As paredes externas do edifício receberão, do 2 ° ao 5° pavimento, revestimento cerâmico 4,5 x 4,5 cm na cor cinza claro da marca Portobello ou similar, linha Colors, uso de rejunte 1,5mm na cor cinza. As paredes externas do edifício receberão, no térreo e 1° pavimento, revestimento de porcelanato STEEL CORTEN MATE NAT RET, 60 x 120 cm, na cor marrom metálico, da marca Portobello, ou similar, linha Steel, uso de rejunte 1,5 mm na cor camurça. Aa paredes externas serão revestidas com cerâmica serão pintadas com tinta acrílica textura branca da marca coral ou similar. As paredes internas serão emassadas e pintadas com tinta acrílica na cor branco gelo com acabamento acetinado da marca coral ou similar. 12.5.6.2. Pisos As calçadas de acesso aos edifícios receberão pavimentação com placas pré-fabricadas de concreto de alto desempenho fixas assentadas diretamente sobre a base, com espessura de 30 mm e modulação de 40x80 mm e 80x80 mm Pavimentação em cimento queimado na cor natural moldado in loco (paginação 1,20 x 1,20 m) com as juntas de dilatação de isopor com espessura 10mm. O piso da escada enclausurada será cerâmico 60x60 cm, na cor cinza, resistente ao escorregamento, da marca Eliane, Arena cinza ext, ou similar, ajuntado


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com junta seca e argamassa na cor da cerâmica e rodapé de 7 cm em cantoneira de alumínio natural de 1,5”. O piso externo do térreo será cerâmica 60x60 cm, na cor bege, resistente ao escorregamento, da marca Eliane, Ecostone Crema Na, ou similar, juntado com junta seca 3mm. O piso da área comum e do hall do condomínio será porcelanato 100x100 cm, na cor branco e bege, acabamento polido, antiderrapante, da marca Eliane, Ross White, ou similar, juntado com junta seca 2mm. O piso das lojas, escritórios, restaurante será porcelanato 60x60 cm, na cor branca, acabamento acetinado, antiderrapante, da marca Eliane, Munari Marfim Dual, ou similar, juntado com junta seca 3mm. O piso dos banheiros de uso comum do edifício será de porcelanato 60x60cm, antiderrapante, da marca Eliane, Clean Atria Na Ip, juntado com junta seca 2mm e argamassa na cor da cerâmica e rodapé de 7 cm em cantoneira de alumínio natural de 1,5”. O piso dos banheiros dos apartamentos será porcelanato antiderrapante 45x45cm, da marca Eliane, Forma Branco Ac, com junta de assentamento 3mm na cor branca. O piso do deck será porcelanato, aparência deck, Maxigres parquet plus caramelo ac 0,60 x 0,60 m, da marca Eliane, ou similar. 12.5.7. Louças e Metais 12.5.7.1. Baterias Sanitárias Será instalada lavatório de semi encaixe com mesa Carrara da marca Deca na cor branca, dimensões 500 x 550 x 205 mm, código L.62.17, com torneira de mesa bica alta para lavatório flex código 1198.C20. A bacia sanitária será com caixa acoplada da linha Carrara da marca Deca na cor branca, código P.606.17, com as válvulas de descarga da linha Hidra Duo código 2545.C. O chuveiro com tubo de parede deca balance 12, código 1954.C.CT.ARE e o registro de pressão cromado da linha Targa código 1416.C40.034 da Deca. Os banheiros acessíveis terão Lavatório de de semiencaixe retangular com mesa Deca código L.843.17 420 x 550 160 MM. Barras de apoio horizontais 80 cm em aço galvanizado e revestimento em pvc Deca, barra de apoio vertical 70 cm e


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40cm em aço galvanizado com revestimento em pvc. Bacia sanitária convencional Deca, linha Quadra. O banheiro terá os seguintes acessórios: espelho liso 4mm colocado sobre MDF; papeleira Deca Liv, código 2020.C22; porta papel higiênico linha Bobdrick cód. B272; assento de poliéster com fixação cromada A.P51 linha Vogue Plus para os vasos sanitários; saboneteira de parede Deca Liv, cód. 2010.C22, e lixeira de parede da linha Bobdrick cód. B.275. A divisória do boxe será em vidro temperado 6mm, h= 1,70 m, e a bancada em granito polido esp.3mm, na cor branco Dallas. 12.5.7.2. Copa Bancada em granito polido esp.3mm, na cor branco Dallas. Cuba retangular em aço inox acetinado linha Bl. Cód. 94020107. As torneiras terão misturadores monocromado de mesa de linha C LINK cód. 2256 e o sifão em aço inox com 2” cód. 1680C.112, todas da Deca.

12.6. EDIFÍCIO GARAGEM 12.6.1. Fundações Deverá ser realizada a sondagem do solo por profissionais capacitados a fim de determinar o melhor tipo de fundação a ser utilizado na construção. Recomenda-se a utilização de sapatas, pois são de rápida execução e não requerem equipamentos e peças específicas no canteiro, tornando-a uma opção mais econômica. 12.6.2. Estrutura O sistema estrutural do edifício apresenta pilares e vigas em concreto armado, sendo a cobertura sustentada por treliças metálicas, o que possibilita vão livre na garagem e a instalação do lanternim. O painel da fachada é revestido por chapas de alumínio composto sustentado por montantes metálicos chumbados na estrutura do edifício. 12.6.3. Cobertura A cobertura do edifício será em telha metálica termo acústica, marca Eternit ou similar, do tipo sanduíche com inclinação de 10% e espessura de 30mm, com preenchimento interno de poliuretano.


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O telhado terá lanternim coberto por placas de policarbonato compacto, com proteção UV, espessura de 4mm, na dimensão de 2,05 x 3,00 m, da marca Polysolution ou similar. 12.6.4. Forro O forro da guarita e do banheiro será em placas de gesso 0,60x0,60 m, com espessura de 3mm, acabamento liso e pintura acrílica Coral ou similar na cor branco neve. A estrutura do telhado será aparente na área da garagem. 12.6.5. Esquadrias As esquadrias foram especificadas no projeto, contando, dimensões, materiais e tipologias. As portas internas serão de abrir, do tipo liso, de compensado de madeira, com dimensões de 80 cm, pintadas com esmalte sintético com massa, na cor branca, com forras de madeira de espessura dentro dos padrões (mínimo de 2,1cm). As ferragens serão do tipo cromada e as fechaduras também cromadas. As maçanetas terão que ser do tipo alavanca. As janelas são em alumínio anodizado na cor branca e vidro liso incolor 4mm. Os gradis metálicos são em tela de ferro pintado na cor branca com montantes tubular de Ø4cm. 12.6.6. Revestimentos 12.6.6.1. Paredes A parede do banheiro receberá revestimento cerâmico esmaltado Forma Branco Br da marca Eliane, ou produto similar, nas dimensões 45 x 45 cm até a altura do forro, ajuntado com rejunte epóxi branco e argamassa na cor cerâmica. Aa paredes externas serão pintadas com tinta acrílica textura branca da marca coral ou similar. As paredes internas da guarita e da garagem serão emassadas e pintadas com tinta látex na cor branco gelo da marca coral ou similar. 12.6.6.2. Pisos As calçadas de acesso aos edifícios receberão pavimentação com placas pré-fabricadas de concreto de alto desempenho fixas assentadas diretamente sobre a base, com espessura de 30 mm e modulação de 40x80 mm e 80x80 mm


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Pavimentação em cimento queimado moldado in loco (paginação 1,20 x 1,20 m) na cor verde com pigmentação de Pó Xadrez ou similar, com as juntas de dilatação de isopor com espessura 10mm. O piso da guarita e do banheiro deverá ser revestido com cerâmica esmaltada Forma Branco Br superfície acetinada no tamanho 0,45x0,45 m da marca Eliane ou similar, ajuntado com junta seca e argamassa na cor da cerâmica e rodapé de 7 cm em cantoneira de alumínio natural de 1,5”. 12.6.7. Louças e metais 12.6.7.1. Baterias Sanitárias Será instalada lavatório de semi encaixe com mesa Carrara da marca Deca na cor branca, dimensões 500 x 550 x 205 mm, código L.62.17, com torneira de mesa bica alta para lavatório flex código 1198.C20. A bacia sanitária será com caixa acoplada da linha Carrara da marca Deca na cor branca, código P.606.17, com as válvulas de descarga da linha Hidra Duo código 2545.C. O chuveiro com tubo de parede deca balance 12, código 1954.C.CT.ARE e o registro de pressão cromado da linha Targa código 1416.C40.034 da Deca. O banheiro terá os seguintes acessórios: espelho liso 4mm colocado sobre MDF; papeleira Deca Liv, código 2020.C22; porta papel higiênico linha Bobdrick cód. B272; assento de poliéster com fixação cromada A.P51 linha Vogue Plus para os vasos sanitários; saboneteira de parede Deca Liv, cód. 2010.C22, e lixeira de parede da linha Bobdrick cód. B.275. A divisória do boxe será em vidro temperado 6mm, h= 1,70 m, e a bancada em granito polido esp.3mm, na cor branco Dallas.


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I

ANEXO


II


III


IV


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