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Sumário

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CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 1

Poison

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O barulho da multidão conversando, gritos, música alta e o mau cheiro de esgoto e perfume barato misturados. por si já demonstrava que não estava em um planeta decente. Luzes piscavam e anúncios holográficos anunciavam sexo e jogatina.

Colocou botas de cano alto, calças, luvas e um casaco longo com capuz. Dois blasters carregados na cintura e adagas afiadas embutidas nas botas e nas luvas. Andar desarmado neste planeta era pedir por problemas.

Acostumado a andar seminu, o casaco grosso irritou suas costas e coçava muito. Como o objetivo era não chamar atenção, continuou com o casaco, mas ficou ainda mais irritado. Pisou em algo pastoso que estava no chão e xingou:

- Odeio este planeta de merda!

No meio da multidão, as pessoas continuavam a esbarrar nele enquanto passavam. Tão acostumado que estava com os outros abrindo passagem para ele que estranhou o contato físico indesejado e saiu empurrando os que ousavam pisar na sua frente.

Chegou no bar e pediu uma bebida que estava quente e tinha gosto de mijo. Certamente a clientela não estava lá pela qualidade do produto. Uma ronduviana com pouca roupa o abordou e acariciou o seu braço.

- Olá, grandão! No segundo andar temos uma casa de prazer. Gostaria de subir comigo?

Poison apenas abaixou o capuz e olhou ela nos olhos. Ela imediatamente jogou-se para trás, caindo de bunda no chão e arrastando-se para trás de uma mesa.

- N-nós t-também temos bots sexuais...

Poison riu, tomou mais um gole da sua bebida e respondeu:

- Gostei de você, vou aceitar...

A fêmea soltou um grito apavorado e saiu correndo. Em uma mesa reservada lá nos fundos do bar, seu contato acenou, chamando.

Deixou a bebida no balcão, sabendo que nunca ia conseguir tomar aquele mijo mesmo, caminhou até a

mesa.

- O que você disse para a ronduviana que a assustou tanto?

- Falei que gostei dela, ela deve estar correndo até agora!

Ele deu uma gargalhada, bebeu sua bebida e chegou mais perto de Poison que estava sentado à sua frente, olhou para os lados, certificando-se que não estavam sendo ouvidos:

- A informação que tenho para você hoje vale o dobro dos créditos usuais. Me pague agora...

- O dobro? Você está me extorquindo mais do que o normal. Já é o informante mais bem pago das galáxias! - E alguma vez não valeu a pena?

Resmungando, Poison aproximou o pulso no

dispositivo e fez a transferência. O valor transferido

facilmente sustentaria uma família inteira por um ano. Mas ele tinha razão: sempre valia a pena.

Dois sujeitos apareceram aqui

procurando um tradutor que estivesse programado com línguas humanas.

Isso nem é novidade, estão surgindo escravas humanas como ratos ultimamente.

Você não entendeu: essa fêmea ainda não tinha

nenhum tradutor. O custo de um tradutor que entenda humanos era tão alto que eles não tinham dinheiro suficiente para adquirir, então tiveram que pedir um

adiantamento ao leiloeiro e prometeram trazer outra humana em um mês. Enquanto eles arrumavam o dinheiro, consegui levantar a ficha deles.

- Quem eles são, piratas, pequenos traficantes?

Não! São guardas de fronteira do quadrante 9! Cidadãos cumpridores da lei, acima de qualquer suspeita.

- E por que isso me interessaria?

- Eu tenho que fazer todo o seu

trabalho? Eles são guardas corruptos que patrulham as fronteiras! É por lá

que os traficantes de escravas humanas estão

conseguindo passar! A humana que eles tinham a tiracolo era o pagamento para eles ficarem de olhos fechados e não denunciar!

- Então, quem fizer uma tocaia no quadrante 9 poderá roubar o carregamento todo!

Desde que possua um pequeno exército de

retaguarda. Traficantes de escravos não estão para

brincadeira, andam armados até os dentes.

- Isso pode ser facilmente arranjado.

Poison saiu andando pela multidão, ziguezagueando para certificar-se que não estava sendo seguido. Passou por diversos bares, hotéis decadentes, comércios

duvidosos e casas de prostituição. Foi até um terminal público de comunicação vazio. Inseriu um drive de

criptografia e digitou a seguinte mensagem.

“Descobri

a porta de entrada para a mercadoria desejada. Prepare-se para uma grande transação. Quero abater duas naves com um tiro só. No dia exato te mandarei

as coordenadas, traga todos os amigos. P.”

Tendo absoluta certeza de que não fora seguido, sentindo muita coceira nas costas, arrancou o casaco ali mesmo, no meio da multidão. Imediatamente ouviu-se um murmúrio coletivo e todos os transeuntes abriram espaço, aterrorizados. Poison sorriu com o canto da boca, coçouse e declarou:

- Bem melhor assim! Hora de agir!

Ellen

Acordei com uma dor terrível na nuca e muito frio.

Meu corpo inteiro doía, como se eu estivesse sendo triturada, mas o pior de tudo era a dor excruciante na nuca, os nervos do pescoço pinçavam refletindo a dor na coluna vertebral. Minhas mãos e pés estavam muito gelados. Antes mesmo de conseguir abrir os olhos já identifiquei que algo muito terrível tinha acontecido comigo, mas eu não conseguia lembrar o que era. Um acidente de carro na neve? Eu não coloquei as correntes e o carro deslizou?

Consegui, com muito esforço abrir os olhos e olhar ao meu redor. Estava deitada no chão metálico gelado e do meu lado havia vários corpos também ali jogados. Estou em um necrotério? Incapaz de me levantar e sair dali, mexendo apenas o pescoço e sentindo muita dor, observei o ambiente. Estava em uma penumbra, poucas luzes saíam de leds embutidos na parede e aos poucos comecei a perceber que os “corpos” ao meu lado, apesar de gelados, estavam ainda respirando e eram todas mulheres, mulheres jovens de vários tamanhos e tipos físicos. Pelo que pude observar elas também estavam com pouca roupa, algumas só de pijama, outras de calções e camiseta.

A porta atrás de mim deslizou e mais uma mulher foi jogada ao nosso lado, inconsciente, com a delicadeza de quem joga um saco de batatas no chão. Tentei virar meu rosto para trás e descobrir quem era responsável por isso, mas meu corpo amortecido ainda não estava obedecendo. Imediatamente pensei em sequestro e escravidão sexual. Todos os filmes que já assisti me surgiram em um flash. Para que eles queriam tantas mulheres jovens?

Ao meu lado uma jovem negra com um lindo cabelo black também havia acordado, ela usava apenas um camisetão comprido e tinha as pernas nuas. Seu lábios estavam roxos e via seus olhos mexendo e o esforço que ela também fazia para mover-se, sem conseguir.

Rolei de lado e como não consegui espaço acabei de frente com ela, nossos rostos quase se tocando. Seu olhar era de pânico. A porta abriu-se novamente e dessa vez consegui ver a parte inferior de nossos sequestradores. O ser não estava usando sapatos ou calças, uma pele rugosa como a de um crocodilo em um tom de marrom doentio e

patas com unhas dos pés compridas que pareciam afiadas. O ser jogou outro corpo ao nosso lado, dessa vez nem dando-se ao trabalho de colocá-lo sob o chão, jogou em cima dos outros. Escutei uma voz rouca mais rosnando

que falando. De alguma maneira, meu cérebro registrou o significado:

- Essa é a última vadia, podemos partir.

Olhei para a moça à minha frente e articulei as palavras:

- Você também ouviu?

Ela, com os olhos ainda arregalados foi responder mas quando o som não saiu, ela sinalizou afirmativamente com a cabeça. Começamos sentir uma vibração no chão, silenciosa. Lágrimas escorreram dos meus olhos e ardiam. Se tudo aquilo que eu estava vendo não era imaginação da minha cabeça, nossa situação não era nada boa. O que poderíamos fazer?

Mais à frente, uma das mulheres levantou-se bruscamente, tentou dar alguns passos e novamente caiu sentada no chão:

- Quero sair daqui! Me tirem daqui! Socorro!

As outras mulheres começaram a gritar também, mas não conseguiram levantar-se. Um dos homens-lagarto entrou e disse para os outros que vinham logo atrás:

- Andem logo, seus preguiçosos! Vocês já sabem como fica difícil trancá-las depois que elas saem da sedação! Vou

levar a gritadora comigo. Separem mais uma para os fiscais na fronteira do quadrante 9. Ela será nossa propina.

- Qual delas, chefe?

Qualquer uma, tanto faz!

Eu, totalmente paralisada do pescoço para baixo, apenas enxergava suas botas. Ele deu um chute no meu ombro que me fez chorar de dor. – Pode ser essa que está mais perto da porta!

Os homens-lagarto me arrastaram por alguns metros e me jogaram em uma jaula grande, longe das outras. Ainda não podia sentir minhas pernas e só fiquei lá jogada no chão, com frio e chorando no chão sem poder me mover. Muito tempo se passou, consegui sentar um pouco e mexer os pés. Não havia água ou comida ali. Logo à frente havia caixas e mais caixas empilhadas e o contorno do que parecia ser um portão de descarga.

Eu podia observar por uma escotilha bem no alto que deixava filtrar alguma luminosidade. Alguns flashs de luminosidade maior me davam a impressão de estarmos nos movendo muito rápido. Após tanto tempo no escuro, acabei por dormir novamente e acordei com a abertura do portão de carga. Os homens-lagarto me retiraram da jaula e foram me empurrando para fora, onde havia muita luz. A luz cegava meus olhos e pude divisar que estava em um

pequeno espaçoporto onde um logotipo oficial aparecia com um símbolo. Os dois machos que apareceram estavam uniformizados e agiam com autoridade.

Meu coração começou a bater disparado, pois de

alguma forma,

reconheci que aqueles dois pareciam autoridades policiais. Me desvencilhei dos homens lagartos e fui correndo até eles:

Por favor, por favor! Estou sendo raptada! Me ajudem! Tem ou...

Eles nem se dignaram a olhar para mim. Um deles me agarrou pelo pescoço e me jogou contra uma parede fria, uma de suas pernas entre as minhas me impossibilitando de correr ou chutar. Olhei incrédula, procurando entender o motivo, se eles não tinham me entendido, ou se fiz algo errado. Aparentando apenas tédio, um deles me algemou e o outro continuou a reclamar com meus captores:

-Pelo menos esta aqui tem um tradutor instalado! A última que vocês entregaram estava sem e perdemos boa parte do nosso lucro. Sabe como é difícil encontrar tradutores que entendam a língua humana? Esses animais nem ao menos falam a mesma língua, existem vários dialetos! Da próxima viagem iremos exigir duas fêmeas para compensar o nosso prejuízo. Avise Dalcor, aquele verme sujo!

Os homens-lagarto

se entreolharam e assentiram, entrando rapidamente de volta à nave. Em estado de

choque não resisti a entrar em uma nave bem menor e ser jogada em uma nova cela.

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