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PARAZÃOHEBDO Ano um

Número Zero

ano II - número DOZE / 15 de maio de 2015 / Belém - Pará

FUTEBOL, HUMOR E CULTURA

Retrospectiva em

chaRGES

do campeonato paraense 2015

Compre o seu!! pOSTERS COMEMORATIVOS DO bICAMPEONATO DO REMO. Com a arte do cartunista Paulo Emman e do quadrinista da Marvel Joe Bennet

cOBERTURA COMPLETA DO aMAZÔNIA COMICOM 2015, EM ABAETETUBA, que REUNiu GRANDES NOMES Da hq PARAENSE E DÁ INÍCIO a UMA NOVA ERA PARA OS ARTISTAS locais.


Paulo Emman Comprem os Posters Comemorativos. Bicampeonato Do Remo 2014-15.

Com a arte do cartunista Paulo Emman e do quadrinista da Marvel Joe Bennet, os posters serão feitos sob encomenda. Impressos no papel de ótima qualidade no formato A3 ( 30x40 cm). Preço promocional de Apenas R$ 10 reais. Escalação

Dono da bola Paulo Emman Dono do campo Lu Hollanda Dono do apito

Walter Pinto Dono do placar Harold Brand Dono das bandeirinhas Junior Lopes Dono da maca Paulo Mashiro Dono das camisas Ricardo Lima Colaboradores especiais Luiz Pê/Sodré/ Ítalo Gadelha

Timaço Goleiro: Tomaz Brandão Lateral direito: Elihu Duayer ( RJ) Lateral esquerdo: Elias Pinto Zagueiro central: João Bento 1º Volante: Mauro Bentes 2º Volante: Meia direita: Meia esquerda: Versales (SP) Ponta direita: Marcelo Seabra Ponta esquerda: Marcelo Rampazzo Centroavante: Mário Quadros Administração e internet Alícia Ana Paula

Administração Trav. nove de janeiro,2383 - Bloco B 1001- S. Brás Fones: (91) 3199.0472 Redação e contatos: pauloemman@yahoo.com.br hollandaluciane@yahoo.com.br


Walter Pinto

Era no tempo das radionovelas Era no tempo das radionovelas. As famílias, especialmente mãe, tias, meninos e meninas, se reuniam na sala, em torno do velho rádio de fusível, grande e poderoso. As vozes aveludadas dos radio-atores emocionavam a todos. As novelas, muitas compradas de autores cubanos, melosas e dramáticas, batiam fundo nos corações dos ouvintes. Lágrimas rolavam nos dramas e nos lares daquela época. A cidade, como que enfeitiçada, parava quando a novela começava. Não lembro bem se era “O direito de nascer” ou “Anastácia, a mulher sem destino”. Não importa, era um clássico desses arrasaquarteirão, que toda a cidade ouvia, numa época em que a televisão engatinhava. Na casa da dona Alba, ninguém podia dar um pio, um gemido, na hora da novela. Só se ouviam os radio-atores e, não raras vezes, o soluço de alguém, na sala, emocionado. Na casa vizinha à nossa, na antiga travessa Estrela, a novela de rádio era um sacerdócio, uma paixão irrefreável. Dona Alba não perdia nenhum capítulo, nem suas irmãs, filhas e sobrinhas, umas sete mulheres que ali residiam. Fausto, o marido trabalhava o dia inteiro, era funcionário de uma representação comercial. Um homem viciado em jogo, qualquer tipo de jogo. O do bicho era o que mais lhe comia o salário. Por isso, andava sempre na corda-bamba, pendurado na mercearia, devendo tudo e todos, inclusive os agiotas implacáveis. Um dia, a crise se instalou mais fortemente. O dinheiro foi todo para os credores. O taberneiro deixou de aviar. O Fausto não teve

alternativa, decidiu vender os poucos bens que tinha. Na verdade, bem de verdade, só o rádio. Sem consultar a Alba, o Fausto vendeu o amado receptor. E por azar, justo no último dia da novela tão aguardada pela família. Ao meio dia, um senhor bateu à porta, com um recibo de compra e levou o rádio, para o desespero da dona Alba, pego de surpresa. O Fausto nem imaginava a gravidade do momento. Não dava a mínima para novelas. Os nervos à flor da pele. O último capítulo, o mais aguardado. E a família sem o rádio. O Fausto chegou no mesmo horário de sempre. Sentou pra jantar. A Alba colocou o prato, serviu a comida e foi para o quarto. Trinta minutos depois, voltou à cozinha e constatou o efeito fulminante do racumim. O Fausto morreu como um rato, tremendo e espumando. A morte do Fausto comoveu os vizinhos, mas muitos deram razão à Alba. Lembrei desse antigo drama suburbano na noite da quinta-feira, 7 de maio, noite da lenta agonia azul, em que o Remo perdeu a Copa Verde para um humilde Cuiabá. Talvez, como bom bicolor, jamais imaginasse que o time mato-grossense conseguisse a façanha de virar uma vantagem tão dilatada. Por isso decidi, naquele dia, cancelar a tv a cabo lá de casa. Não seria um bom dia para ver futebol. Bastaria ouvir os fogos estourando, a estrepitosa comemoração da galera azulina. Fiquei sem tv a cabo e por isso não vi um dos jogos mais espetaculares de todos os tempos. Nunca vou me perdoar por este erro. Nunca.

Venha para o PARAZÃOHEBDO . Ajude no financiamento coletivo que será lançado em breve. PARAZÃOHEBDO (91) 3199.0472 / 99223.6464


Pedro Maués

Desarranjo do Reginaldo Bracelete As tradicionais peladas disputadas no campo do Tietê, animavam as manhãs dominicais, movimentando os moradores do Cajueirinho, os vendedores de iguarias e bebidas, os aposentados e os saudosistas do bom futebol praticado outrora, eis que as partidas reuniam, quase sempre, ex-atletas de times locais, alguns deles cultores de grandes jornadas num passado não muito distante, enquanto outros só jogavam porque eram abnegados, esforçados e, não raro, responsáveis pelos jogos de camisa, bolas, apitos e aluguel do campo, em função da pouca intimidade com a pelota. Atlético X Londrina sempre teve acirrada disputa ali naquele bairro, um verdadeiro derby do futebol pelada abaetetubense, com as partidas entre si disputadas devidamente anotadas, registradas e computadas pelo Sr Américo Tenebroso, uma espécie de escrivão juramentado daquele prélio, responsável pela elaboração das súmulas, pela anotação do número de faltas, cartões amarelos e demais advertências oriundas do árbitro Cajado Boca Insossa, sempre contratado pra mediar as contendas. Pela equipe do Londrina, dois jogadores mereceram destaques individuais naquela chuvosa manhã de maio, que deixara o campo de jogo em precárias condições, apresentando muitas poças d’água e lama em seu retângulo, prenunciando muito trabalho já no dia seguinte à lavadeira Ana Cegonha, corpulenta e desdentada senhora, mãe de uns dois ou três atletas que ali corriam atrás da bola e encarregada da lavagem do material utilizado. Marquinhos Capivara e Reginaldo Bracelete, lateral esquerdo e atacante , respectivamente, faziam parte do grupo dos esforçados, e procuravam suprimir a pouca técnica e quase nenhuma intimidade com a bola, através do vigor físico e da dedicação, muito embora naquela manhã estivessem acometidos e curtindo

elihu duayer

uma gigantesca ressaca, fruto da noite anterior vivida lá na Sede dos Peixeiros, regada a Cortezano, cervejas e carne em conserva com cebola, nos braços de suas amadas comensais. Quando o treinador do Londrina estava distribuindo as camisas a seus comandados, percebeu o estado semi letárgico dos dois mancebos e, didático, indagou a ambos se eles estavam em condições de jogar, no que foi prontamente respondido pelo meneio positivo daquelas duas maltratadas cabeças. Jamais ficariam de fora daquela peleja que, como sempre, oferecia ao vencedor 5 engradados de cerveja, além de 30 kgs de carne, a serem consumidos após o jogo lá no balneário Jardim de Alá, como previamente apostado e combinado. Logo nos primeiros minutos de jogo, o que se viu foi um contido Marquinhos Capivara, optando sempre em correr pelo lado do

campo em que uma frondosa mangueira, generosamente, oferecia sombra e tranquilidade a quem por ali corria. Eis que no primeiro lançamento ao Porco no Urucu, lépido ponta direita adversário, nosso herói resolveu partir em alta velocidade atrás daquele endiabrado camisa 7. Quando se preparava pra dar o bote eis que, subitamente, um forte jato de vômito no estilo gofada, eclodiu de sua boca, espalhando pequenos pedaços de cebola e de conserva, misturados num líquido esverdeado, nas costas de seu algoz que, enojado e imundo, deixou a bola de lado e partiu para um chuveiro vizinho. Marquinhos Capivara, envergonhado e combalido, foi substituído, não sem antes ser advertido com cartão amarelo. Já com o Reginaldo Bracelete a tragicomédia foi maior.O jogo estava caminhando para seu final e a acirrada disputa, jogadas ríspidas e lances incríveis, davam à disputa um caráter de epopeia, embora o

placar insistisse em permanecer igualado. O Londrina atacava mais. Era mais agudo. Buscava incessantemente o gol adversário, mas esbarrava nas boas defesas do Riba Cara de Porco, guarda metas e uma barreira quase intransponível àqueles atletas que buscavam e pensavam nas dezenas de loiras geladas e nos substanciais nacos de bisteca que os aguardavam. O meio campista Barriga Azul, emérito maestro da equipe, fez jogada de mestre e num lampejo de craque, descobriu Reginaldo Bracelete entrando em diagonal, fazendo um milimétrico lançamento buscando o arisco atacante. Nesse mesmo instante o zagueiro adversário Mauro Pus saiu para fazer a cobertura do lateral, e a dividida foi inevitável. A estourada de bola, também. O resultado foi a queda desastrada dos oponentes. Mauro Pus, que carregava a fama de zagueiro carniceiro, levantou quase instantaneamente, passou as mãos friccionando a canela e voltou à sua posição de origem. Já Reginaldo bracelete, coitado, com seu físico de jogador de baralho, foi parar numa poça de lama marrom escura, ali ficando literalmente imundo e com um odor fétido a afetar as narinas de que quem dele se aproximasse para socorrê-lo. A partida prosseguia e nada do Bracelete sair do lamaçal. Seus companheiros clamavam por sua volta e ele ali, inerte, aparentando dor e vergonha, não levantava e muito menos esboçava qualquer reação nesse sentido. Foi aí que o capitão do time, Cheira Bilha, resolveu ir pessoalmente em direção ao imundo atleta e, para surpresa geral, percebeu o real motivo que o mantinha ali:além das dores provocadas pela dividida, foi um desarranjo intestinal que tomou conta do Reginaldo Bracelete. Estava todo sujo de fezes e encontrou no lamaçal um subterfúgio apropriado para esconder toda a imundice que tomara conta de si. A muito custo saiu do lamaçal.Depois de trocar o short,obviamente.


Sodré

Camisa de botão Lucivaldo era filho do seu... do seu...Excremento. Aquele unzinho mesmo que partia a nossa bola ao meio quando ela caía no terreno dele. Era menino de casa pra escola e da escola pra casa. A gente não via Lucivaldo na bandalha com a patota da rua. Quando muito, aproveitava o sono do pai à tarde, o seu... Excremento, e formava a grade na hora da chuva. Deus o livre se fosse flagrado na patifaria com os moleques da rua. Jogava de bermuda e camisa de botão, e por aí a gente tira a encarnação em cima do pequeno. Mas ele nem thum. Aproveitava o que podia daquele momento mágico de subversão. Quando passava a chuva, rapidola se recompunha, calçava a sandália, reassumia seu cantinho e secava a roupa no corpo, sentado embaixo da acácia defronte de casa, olhando os outros jogar. Era mais velho que a gente. Já estudava o segundo grau no Deodoro. Não se dava com todo mundo da rua. Se envolvia discretamente numa pelada no asfalto, por causa das intermediações que faziam alguns moleques que pegavam carona no radinho de pilha dele. Era um ouvinte assíduo da programação AM do início da tarde. Logo após o almoço, todo arrumadinho, de camisa de botão, sandália e bermuda, para driblar o mormaço, acomodava-se embaixo da árvore e sintonizava o radinho. Uns poucos da molecada se achegavam.

brahim darwich

Puxavam uma conversa, comentavam a última e triste música lançada pelo Fernando Mendes, que trazia uma menina de cadeira de rodas e olhar

triste enredando os versos. E por ali ficavam até o pampeiro arriar. Esta era a relação que Lucivaldo se permitia. Selecionava os colegas da

rua, e destes instantes embaixo da árvore ou das carreiras clandestinas nos rachas sob a chuva da tarde, não passava. Em nenhum outro momento coletivo com a patincha se envolvia. Só capa, o Lucivaldo. Nessa de ouvir radinho. De ficar dando trela pra molecada naquela hora que bate o vento morno, plena uma da tarde, o pequeno abriu o jogo: era frequentador contumaz da Riachuelo. Ora, quem diria. O pequeno que até jogar bola de bermuda e camisa de botão jogava. Surpresa e curiosidade no ar, junto com o mormaço da uma. A molecada excitada, queira saber como era, quanto era, se não tinha perigo. Lucivaldo, naquele comportamento todo, naquela obediência seca, cega, bruta à tradição, ao puritanismo do seu... Excremento e da facção burguesa da Mauriti, olha, olha, máxima contradição! Dominando a tentadora arte da luxúria, Lucivaldo foi quem iniciou os meninos da rua na mais sedutora das subversões. Marcou dia e hora. Ao lado da Telepará. Foram uns cinco, tudo na faixa dos quinze, dezesseis anos. Claro que eu estava no meio. Disputei a vez aguerridamente com a enorme concorrência dos marinheiros que pela Riachuelo flanavam. Não era santo. Eu era um garoto que gostava de ouvir rádio embaixo do pé de acácia, de jogar bola na rua e me enxeria, já, nas delícias proibidas.


REMO 1X2 PARAUAPEBAS 01/02/2015

retrospectiva em charges

tAPAJÓS 2 X0 PAYSANDU 05/02/2015

O final do Campeonato Paraense deste ano, não poderia ter sido mais emocionante. O ano de 2015 reacendeu novamente a rivalidade entre Remo e Paysandu que andava meio cambaleante por causa da longa má fase do time azulino. Foi só vencer duas partidas seguidas para os remistas voltarem à tona nas encarnaçoes e vingarem as gozações bicolores. Tiraram o Papão em duas semifinais na Copa Verde e do Parazão. Nisso, quando o Remo estava prestes a ficar mais um ano sem divisão. Com a chegada do técnico Cacaio, numa reviravolta heroica, garante o título do Parazão ao Leão, que por pouco, não leva o Remo a sua primeira participação Internacional. Tudo isto nos traços dos melhores cartunistas do PARAZÃOHEBDO para o leitor entender. Com os craques Paulo Emman, Walter Pinto, Luiz Pê, Junior Lopes, Ítalo Gadelha e João Bento.

reMO 2 X0 rIO bRANCO

reMO 2 X0 PAYSANDU 05/02/2015

pAISANDU 3X1 reMO

RADAMÉS, O VALOR AGREGADO


DECISÃO DO PRIMEIRO TURNO

rexpa ELIMINADOS do primeiro turno

NOVO TÉCNICO DO PAPÃO

TÉCNICO LECHEVA, CAMPEÃO DO 1º TURNO COM O iNDEPENTENTE


DISCUSSÃO PELA DIVISÃO DA RENDA DO REXPA

CALVÁRIO DO LEÃO

PAPÃO 2X1 REMO

REMO2x1 paysandu

DECISÃO DO PARAZÃO GALO X LEÃO


A volta dos mortos-vivos

coleta dos torcedores para ajudar o remo

cacaio chega pra arrumar a casa

Remo campeão segundo turno

cuiabá 5 x 1 Remo cuiabá campeão da copa verde REMO : CAMPEÃO paraense 2015


Festa dos Quadrinhos

em Abaetetuba “

textos: paulo emman Nos dias 30 de abril a 03 de maio aconteceu, o AmazôniaComicon 2015 – Festival de Histórias em Quadrinhos e Cultura Pop da Amazônia na cidade de Abaetetuba. O evento que é o marco inicial deste novo momento da história dos quadrinhos paraenses. Realizado pela prefeitura de Abaetetuba e com a organização da Associação de Quadrinistas Ponto de Fuga e CEMJA - Centro de Estudos e Memória da Juventude Amazônica à frente Luiz Cláudio Negrão e Carmen Saraiva na coordenação geral, Álvaro Andrade e Marisandra Bitencourt na produção, o festival teve o total apoio da prefeita de Abaetetuba Francineti Carvalho e do secretário de educação Jefferson Felgueiras. Contando com a participação unicamente de quadrinistas paraenses, o festival apresentou o que há de melhor na “universal” HQ paraense e cidades vizinhas como Cametá e Tucuruí. O grande homenageado do festival foi o quadrinista paraense Joe Bennett, um dos principais artistas brasileiros trabalhando para as grandes editoras americanas como a Marvel e a DC . O time foi

Harada, Paulo Emman e Rosinaldo

Abaetetuba, a Capital do Quadrinho na Amazônia

A prefeita Francineti Carvalho com Luiz Cláudio e Joe Bennett

complementado pelo roteirista de quadrinhos Gian Danton e os desenhistas : Jack Jadson, Alan Yango, Paulo Emman, Erick Souza,

Sonia Bibe Luyten

Márcio Loezer, Otoniel Oliveira, Carlos Paul, Vince Souza, Rosinaldo Pinheiro, Eliezer França, Ricardo Harada e Gisele Henriques.

Bennet, JackJadson e Carlos Paul

Os convidados especiais foram: a pesquisadora e especialista em HQ Sonia Bibe Luyten, com a palestra “Quem tem medo de Histórias em Quadrinhos em Sala de aula” e Sidney Gusman, da editora Maurício de Souza, falando sobre sua experiência como editor e a sua atuação na editora mais importante do Brasil. O evento teve uma ampla programação inédita em Abaetetuba, como as oficinas de Maquiagem de cinema e efeitos especiais com Nelson Borges, shows de humor com o grupo Massacote, Do quadrinho ao cinema, exposição de Rabledo Carvalho e Miguel Soares- artistas abaetetubenses, Mangá Amazônico com Gleise Sardinha ( Abaetetuba), show com as bandas Rasengan, Dislexia e Shinobi 88, Marcha Zumbi e concurso de Cosplay dentre outras atrações como games para a garotada e tudo mais.

Sidney Gusman


Gian Danton

Até uma Enterprise!

Sonia Luyten ( centro) com Carmen Saraiva e Luiz Cláudio Negrão

Depois das dificuldades, o ACC foi realizado em 2015 Um projeto de muitos anos de luta tentando convencer as instituições em Belém de que era possível realizar este evento e trazer grandes nomes da HQ mundial para a cidade. E nem precisava ir muito longe, quando, curiosamente, alguns destes nomes dos quadrinhos moram em Belém, Ananindeua e Icoaraci, exatamente. Sempre batendo na barreira do descrédito e das burocracias, mas como o tempo é o senhor de tudo, numa confluência de acontecimentos dignos de um roteiro de histórias em quadrinhos, o dominó solta a primeira pedra que converge num evento encampado pela prefeitura de Abaetetuba. Os artistas foram confirmando participação e a prefeita

Francinetti Carvalho recebe o AmazôniaComicon 2015 com tapete vermelho. Muitas emoções A emoção fez parte do evento em todos os momentos, mas quando Sidney Gusman trouxe uma mensagem em vídeo feito pelo próprio Maurício de Souza, especialmente para o festival e para a cidade de Abaetetuba, a prefeita Francineti Carvalho foi às lágrimas. Para quem estava no Ginásio Hildo Carvalho foi um momento inesquecível. Era algo inimaginável para todos, que um dia, o pai da Turma da Mônica, uma lenda viva dos quadrinhos, estaria falando para povo de Abaeté. (P.E)

“ Morei mais de dez anos no Pará, entre as décadas de 1980 e 1990. Neste período descobri que o estado é carente de muitas coisas, mas certamente não de talentos de quadrinhos. Desde que saí do estado, em 1993, tenho acompanhado o surgimento de grandes quadrinistas e, a cada evento que vou sempre ouço falar muito bem da nona arte paraora. Mas, por outro lado, o próprio paraense mal conhece esses talentos, até por termos poucos eventos. O Amazônia Comicon veio para mostrar que essa situação pode ser mudada. Foi impressionante ver um evento como esse em uma cidade do interior, ainda mais no interior de um estado da região Norte. Montar uma Comicon em Abaetetuba exigiu coragem, mas os resultados foram compensadores. Durante três dias a

cidade respirou quadrinhos. Palestras, mesas redondas, filmes, exposições. E o miriti ficou pop: o artesanato símbolo da cidade deu forma a personagens populares, como Homer Simpson e o Homem de Ferro. Tivemos até uma Enterprise! Joe Bennett, o famoso desenhista, grande estrela da Marvel e da DC, foi homenageado pela primeira vez no Pará com uma bela exposição. Foi emocionantev ver um depoimento inédito de Maurício de Sousa, especialmente para os leitores da cidade (quem não é fã das histórias da Mônica?) e assistir a performática palestra de Sidney Gusman (responsável por vários projetos inovadores, como os álbums MSP 50, em que cinquenta autores homenagearam o criador da dentuça mais querida do Brasil).”

Álvaro Andrade e Vince Souza com Gian Danton A prefeita Francineti Carvalho e o Secretário de Educação Jefferson Felgueiras


A prefeita de Abaetetuba Francineti Carvalho recebe uma placa oferecida pelo Coordenador do Amazônia Comicon Luiz Cláudio Negrão. Com a presença dos artistas e do Secretário de Educação Jefferson Felgueiras.

Um momento especial do evento Em uma visita à região das ilhas, os artistas, a convite da prefeita visitaram a Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino fundamental Nossa Sra. Do Perpétuo Socorro e as surpresas continuaram acontecendo. Toda a escola estava decorada com os personagens da Turma da Mônica, deixando Sidney Gusman maravilhado. Ao voltar à cidade, Gusman colocou a prefeita para falar ao celular com o próprio Maurício de Souza, fechando assim com chave de ouro este momento tão importantae para o festival e para o município de Abaetetuba.

Pose para posteridade

Julio Nessin, Francineti Carvalho, Sonia luyten e Sidney Gusman

Jadson e Bennett

Luiz Cláudio Negrão

Sandra Bittencout e Paulo Mashiro


Valorizando a cultura A ideia de reunir artistas, estudiosos, editores, chamar o interesse do público, misturar quadrinhos com a cultura pop num momento em que acontecia o tradicional Festival do Miriti, o MiritiFest em Abaetetuba, é de uma sensibilidade que merece respeito. Quando a prefeita Francineti Carvalho abriu os braços para o Amazônia Comicon 2015, fica a certeza de que é uma pessoa que pensa na vida cultural da cidade. Ao abraçar o ACC 2015, Abaetetuba abriu os braços para o mundo, abriu as portas para o futuro. Esta realização coloca hoje, Abaetetuba no mundo. Todas as postagens feitas pelas pessoas

A prefeita de Abaeté Francineti Carvalho

que participaram do evento, são compartilhadas aos milhares e a afirmação que rola nas redes sociais é que a Amazônia realizou um festival internacional de quadrinhos e foi na cidade de Abaetetuba. Esta mentalidade mostra que Belém pode aproveitar esta experiência e incluir o evento no calendário oficial da cidade, já que como pólo cultural, a capital tem muito mais condições de contribuir com a consolidação deste projeto. Mas isto não tirará o título que Abaetetuba já conquistou a partir deste primeiro evento, de ser a Capital dos Quadrinhos na Amazônia. (P.E)

A nova geração e as atrações do festival Os festivais Comicom são eventos realizados com o objetivo de expor, mostrar, apresentar, informar, vender, agregar e confraternizar. São eventos onde os profissionais e os aficcionados por HQ se encontram, mas também é o lugar onde as novas gerações de artistas surgem. No Amazônia Comicon 2015 não foi diferente. De Belém veio Paulo Mashiro, deTucuruí Erick Blake e Jean, de Cametá, Gisele Fernandes. Artistas insurgentes que fizeram o sacríficio de uma viagem distante para estar nas presença de astros como Joe Bennett, Jack Jadson, Sonia Luyten, dentre outros artistas que lá estiveram como convidados. O próximo evento, provavelmente confirmará Abaetetuba como o grande encontros dos fãs dos quadrinhos no Norte do Brasil. Apesar de todo esforço para a realização, o festival teve uma adesão tímida entre os comerciantes, mas alguns acreditaram e colocaram seus produtos à venda no Ginásio Gildo Carvalho, como o Deco, dono da Dellê, Camisetas com sua grife rockenroll e a Maratauíra’s. É um bom sinal para que, em outras

Homem de Ferro feito de Miriti

Eric Blake com Alan Yango

Gisele Henriques

realização se tenha um volume maior de participações já que pelo que foi visto, o evento só tende a crescer. O fato de ter sido escolhido o momento em que acontece o MIritifest, pode ter tirado público do evento, mas segundo a visão da prefeita Francineti, “isto só agrega valores aos eventos, já que as atividades não competem, mas se complementam.” disse.

Deco, dono da Dellê, camisetas

Paulo Mashiro

Vince Souza Interprise Imaginem encontrar o Homem de Ferro, HomemAranha, Homer Simpson e a nave de Jornada nas Estrelas Entreprise, todas as esculturas feitas de miriti. E isso tudo em Abaetetuba, durante o Amazônia Comicon 2015. O evento reuniu alguns nomes do cenário paraense de quadrinhos. Joe Bennett que foi um dos homenageados com uma exposição de alguns trabalhos dividindo o espaço com outros amigos de longa data como Jack Jadson e Carlos Paul. Também serviu de lançamento do quadrinho “Preterito Mais Que Perfeito” de Otoniel Oliveira. Um momento surpresa foi uma mensagem mandada em vídeo por Maurício de Souza saudando a cidade de Abaetetuba e o evento. Oficinas e palestras também tiveram o seu destaque com apresentações de Sidney Gusman, Sonia Luyten, Giselle Henrique, Ricardo Harada, Gian Danton, Paulo Emmanuel e Rosinado Pinheiro com a sua Turma do Açai. Abaetetuba que também é conhecida como a terra do miriti, já foi inspiração para as animações “Admirimiriti” e “Nossa Senhora dos Miritis”, ambas, de Andrei Miralha. Alias a animação também foi tema de uma das palestras. E quando se fala em animação, se fala de audiovisual, com a exibição do documentário “VHQ – Uma breve história do quadrinho paraense”. Foi a primeira participação do documentário em um evento de quadrinhos paraenses. Por coincidência, alguns entrevistados do documentário marcaram presença no evento. Nomes como Luiz Cláudio e Alan Yango que estiveram a desde o início na coordenação do Amazônia Comicon. Encontrei outros talentos que os próprios paraenses desconheciam como foi a caso de Eric Blake. Só afirma mais ainda a posição como o primeiro documentário paraense do estado do Pará e do Brasil. Assim como no documentário que firmou uma reunião de gerações no evento. Que também se registre em vídeo. Este ano ainda tem mais Amazônia Comicon em Belém.


Joe Bennett, a trajetória do artista paulo emman

O grande homenageado do desta primeira edição do Amazônia Comicon foi o desenhista de quadrinhos que publica atualmente na DC Comics, Joe Bennett. Nascido em Belém, Bennett tem uma carreira vitoriosa no mercado americano, e faz parte , hoje , do seleto grupo de estrelas internacionais brasileiras publicando no exterior. Dono de um talento poderoso, Bennett procura, também, trabalhar sua própria identidade como autor e seus projetos estão na agulha aguardando novas propostas editoriais. Bennett começou a publicar quadrinhos na década de 70, quando garoto, passou pelos fanzines publicando o CRASH!. E Penumbra. Nos meados dos anos 80, um prêmio nacional, oferecido pela Press Editorial, o prêmio Maciota, o levou a publicar sua primeira revista profissional. Na década de 1990, passou a publicar quadrinhos de terror para duas grandes revistas de quadrinhos de horror brasileiros: Calafrio e Mestres do Terror. Seu primeiro grande trabalho com HQ foi para a Marvel Comics em 1994. Desde então, trabalhou em vários títulos como The Amazing SpiderMan , Captain America (vol. 2), Fantastic Four (vol. 3), O Incrível Hulk (vol. 2), Thor e, mais recentemente Capitão América e a Falcon . Outras editoras importantes, também apareceram como em Chaos! Comics , CrossGen , Dark Horse , DC Comics e Vertigo .

Joe Bennett: Emoção na homenagem

Seus outros créditos incluem Conan, o Bárbaro , Doc Samson , Elektra (vol. 2), Hawkeye (vol. 3), Nova (vol. 3), X-51: Homem-Máquina , Buffy the Vampire Slayer , Birds of Prey , Hawkman (vol. . 4), Mulher-Gavião ,

The Green Hornet , Mark of Charon e Supremo. Em 2005, ele assinou um contrato de três anos para trabalhar exclusivamente para a DC Comics. Bennett trabalhou com outros vários artistas na maxissérie 52, também trabalhou em uma série de questões de Checkmate , escrita por Greg Rucka . Serviu como um desenhista de preenchimento para a quinta edição do Run Salvação e desenhou todo o seis-edição Terror Titans minissérie escrita por Sean McKeever . Trabalho de Bennett já pode ser visto nas páginas de Teen Titans onde ele assumiu a prancheta de colegas brasileiros Eddy Barrows, começando com a edição 71. Enfim, um artista merecedor da grande homenagem a ele prestada pelo Amazônia Comicon 2015. (P.E)


Lançamentos em destaque

Opera Graphica Editora lançou o álbum A Insólita Família Titã, que apresenta duas histórias completas ilustradas por Joe Bennett: A Insólita Família Titã, escrita em parceria com Gian Danton, e Powers, de sua própria autoria. Ambas as histórias estão sendo relançadas pela primeira vez depois de décadas. R$ 30,00 Venda pelo site da editora.

Gian Danton oferece, neste livro, sua experiência de mais de duas décadas lidando com as Histórias em Quadrinhos, seja produzindo roteiros, seja ministrando cursos sobre o assunto. Este trabalho parte também de outras obras suas, como o fanzine A difícil arte de escrever quadrinhos e o Manual do roteirista, escrito em parceria com ABS Moraes, um dos mais talentosos

escritores de quadrinhos da nova geração.Em O roteiro nas Histórias em Quadrinhos “o neófito pode encontrar todas as dicas para se tornar um roteirista de qualidade. Quanto: R$ 30,00 Os livros podem ser adquiridos através do e-mail: profivancarlo@gmail.com

Gamemania, de Gisele Henriques. “Os Jogos Eletrônicos Educacionais como Ferramenta no Desenvolvimento de Competências”, defendido em 2012, durante sua graduação no curso de Licenciatura em Artes Visuais pela Uniasselvi. Mais Informações no blog:blogdagiselehenriques.blogspot. com.br

Máximus Para compra é diretamente com o autor. Contatar via zap: (091) 982933847, pra quem é de fora, através de depósito em conta e via correios. dados no blog: http://yangoverso.blogspot.com alanyango@gmail.com

Graphic Novels A MSP prepara o lançamento para todo Brasil de mais um lote das Graphics MSP. O Penadinho, com Paulo Krumbin e Cristina Eiko, tem lançamento marcado e em breve estará em todas as livrarias e bancas de revistas de todo país. Sidney Gusman é o responsável editorial pelos projetos.


Felipe Gillet

A vida de Gaspar Vianna em quadrinhos Felipe Gillet é assessor de imprensa do HCGV

A história do médico patologista paraense Gaspar Vianna que teve a morte causada a partir de uma contaminação durante uma necrópsia, é considerado um dos heróis da ciência e recebeu o título de Mártir da Ciência Brasileira, terá sua história contada através de uma das mais populares formas da arte gráfica, as histórias em quadrinhos. O desafio foi aceito pelo quadrinista Joe Bennett, profissional dos quadrinhos, trabalhando para as editoras americanas como a DC Comics e Marvel Comics, e Ruy José, que também, atua no mercado norteamericano com roteirista e arte-finalizador. O roteiro é assinado pelos dois artistas. A história de Gaspar Vianna será apresentada no formato graphic novel, que são quadrinhos publicados em formato de livros. Serão mais de 40 páginas coloridas, onde a vida, obra e morte do cientista são mostradas às novas gerações, que pouco ainda sabem sobre os seus feitos. O trabalho, que recebeu o título de “Gaspar Vianna, o Legado de um Herói”, terá um lançamento em breve e deverá ser distribuído entre alunos do ensino médio da escolas públicas. A vida de Gaspar Vianna será tema de duas publicações no ano de 2015. Uma delas, um livro, escrito pelo Dr. Habib Fraiha Neto, promete ser a obra definitiva sobre o ilustre paraense, que foi escolhido pela revista “Médicos”, da USP, para figurar entre os dez mais notáveis cientistas do Brasil. “Será

um trabalho único, com todas as informações e material iconográfico inédito sobre Gaspar, além de CD com palestras e a gravação de um poema sobre ele, de autoria do cônego Apio Campos”, diz o autor do livro, que inclusive possui verdadeiras

preciosidades no seu acervo, como a carteira de identidade de Gaspar Vianna, doada por familiares do cientista. O livro será lançado pela editora do Instituto Evandro Chagas.

As páginas finalizadas com a arte de Joe Bennett e Ruy José, deram aventura à vida de Gaspar Vianna. O lançamento será realizado em Breve no Hospital das Clínicas Gaspar Vianna.


Harold Brand

Sobre crimes e senso comum A violência só faz aumentar nesta cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará, qualquer esforço de imaginação em termos de ficarmos chocados não supera a realidade. Você tem mais medo da polícia ou do criminoso? Um povo alegre e afetuoso acima da média, religioso acima de tudo, alienado também em nível máximo, levemente masoquista. Um cronista local chamou nossa cidade de “Belém, cidade miserável, governada por anões”. Dois fatos recentes, um pessoal: meu filho há cerca de um mês escapou de morrer quando na Travessa Fernando Guilhon a bala atravessou o vidro do passageiro dianteiro e se alojou no interior do carro, isto após a primeira bala fraca não ter perfurado o vidro da frente do carro, após tiro frontal, pois minha irmã não parou de dirigir, eram duas da tarde de um domingo, próximo ao Complexo da Feira . Eles nasceram de novo. Recentemente uma parenta direta do Superintendente do Sistema Penal no Pará foi atingida de forma mortal por bala perdida...da própria polícia. Chegamos a esse estado de coisas, quando extrema violência, em uma das cidades mais violentas do Brasil, já é encarada pela população como banalidade,

emman

normalidade, nossas páginas da mídia impressa ou virtual tem a cor de sangue,quando programas sensacionalistas há muito tempo, claramente reacionários propõe pena de morte para crimes hediondos ou redução da maioridade penal. No contexto do momento político do país, quase bipolar, com o poder entregue aos mesmos políticos corruptos de sempre, a raposa tomando conta do galinheiro, então

começamos a vislumbrar um quadro caótico onde apenas ações pontuais tem lugar e apoio, surgem os superheróis ou super-bacanas, uma visão parcial une-se a uma intervenção emergencial do Estado para um problema complexo. O cenário não é dos mais bonitos para se contemplar, cadeias lotadas de negros, pardos e pobres, índices de assassinatos altíssimos entre os jovens de 17 a 25 anos,

Loja B4 Adm. Mauro Bentes

PAPELARIA, PRESENTES, ACESSÓRIOS PARA COMPUTADORES, ARTIGOS FEMININOS, BRINQUEDOS E ARMARINHOS EM GERAL.

sistema penal que socializa o aprendizado tipo pós- graduação no crime . Criminalidade e pobreza extrema não são fenômenos unidimensionais, faz-se necessário políticas articuladas, integradas para enfrentamento em rede pois o crime organizado seja o tradicional, seja o das milícias ou da banda podre da polícia é bem mais ágil que as redes de enfrentamento institucionalizadas. Poder corrupto em todas as suas instâncias no Brasil é endêmico e o exemplo das elites corruptas junto com o lamentável jeitinho brasileiro, tão antigo quanto a Carta de Caminha, deixam qualquer possibilidade de solução no invólucro das belas teses. O senso comum tenta não ver este Brasil desigual, violento, corrupto, criminoso e miserável, nos ensinaram e aprendemos na escola que este é um país do futuro, a canção dizia que moramos em um lugar “abençoado por Deus e bonito por natureza”. Coitado de Deus, suas costas estão muito largas e deve lamentar uma visão que beira a miragem. Prefiro o poeta urbano que perguntou: que país é este???

* Haroldo Brandão é Psicólogo


Marlon Vilhena

Os lutadores A porrada era seca. Ninguém se metia no assunto deles, tinha mais era gente apostando quase com tanta garra e peso quanto aqueles dois. Gritos, uivos, palmas, brega tocando nas caixas de som, um pouco de tudo no cais do Ver-o-peso. Cheiro de peixe e de cerveja choca. Cestas abarrotadas de açaí, alguns comendo pupunha cozida àquela hora mesmo. Outros até continuavam a assistir à novela na tevezinha ajeitada por cima de um dos balcões que serviam coca-cola com coxinha frita pela manhã, sem se importar com nada que acontecia às costas. — toma, filhadaputa. — pois eu aposto uma Pitú inteirinha, muleque. vai dar o Zé Galo nessa merda. — vai dar é porra nenhuma. o Zé Firula vai levar a melhor. E dá-lhe mais gritos de pega, toma, mete o cacete. Os pescadores mais afoitos faziam roda para os Zés não saírem derrubando os carregamentos em volta do espaço aberto. — ei, dá uma olhada nas minhas caixas que eu vou ali pra ver direito essa história. Galo desferiu um soco bem em cima do olho de Firula, que cambaleou para trás cuspindo um filete de sangue nas pedras do calçamento. A cada acerto, fosse de qualquer um dos lados, a gritaria aumentava. A briga era boa, equilibrada, e não era tão frequente naquele local. Por isso tamanha empolgação por parte de quem acompanhava a dupla se

junior lOpes

surrando. Nenhum dos presentes sabia dizer com certeza o que motivou a disputa entre eles que, inclusive, eram amigos de longa data. A dona Jeusa achava que tinha ouvido o Firula falar algo sobre a mãe do Galo. Já Paulão da Toca afirmava, coçando a cabeça de cabelos ralos, que o lance era por uma dívida antiga, e que o Firula se cansou de cobrar do outro, então resolveu acertar a conta com juros ali mesmo. De qualquer maneira, o espetáculo agradava o povo, que vinha labutando desde bem cedo no cais.

Um espetáculo para esquentar um pouco o sangue nas veias. Firula se aproximou e deu rasteira bem dada, fazendo Galo desabar de bruços, como um saco de sarja cheio de arroz. Pequeno golpe surpresa que aprendera na capoeira que praticava desde garotinho. Aproveitou o momento para montar no peito de Galo e desferir uma série de murros no rosto dele, que buscava se esquivar para lá e para cá, sem sucesso. Teve espectador que já queria apartar, outros incentivavam aos berros. Dona Babé aumentou o

volume do brega no sonzinho em seu balcão de venda. Eram dois lutadores bons, mas vencedor só pode haver um, como todo mundo sabe. Ninguém gosta de empate. Zé Firula se levantou, o corpo escuro brilhando de suor debaixo das luzes, os punhos cheios de sangue do amigo. Um dos pescadores dividiu a grana das apostas com ele, várias notas de dois, cinco e dez amassadas de tanta vibração. Aquele que tinha apostado a Pitú passou a garrafa, que Firula virou na boca com uma grande golada. Afinal, a polícia chegou para azedar a situação, daí que muita gente se fingiu de desentendida. Os oficiais perguntavam, o mais moço até ameaçava um e outro trabalhador, mas obtiveram apenas palavras desencontradas. Enquanto isso, os Zés sumiram, nenhum dos presentes viu por onde foram. — e aí, Galo, quanto tu tem contigo? — tu sabe que eu tô zerado. isso tudo foi pra quê, diabo? — então umbora beber na Tamandaré, que é o que a gente faz de melhor hoje. Zé Galo pegou a branquinha da mão do companheiro e fez cara feia quando o álcool queimou as feridas na boca. Era bom demais.

* Marlon Vilhena é Químico e escritor

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