Alessandra Duarte | Luz em Túlia

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Alessandra Duarte Luz em Túlia 22 de fevereiro a 16 de março de 2013



Paisagem em construção O lugar, que antes era definido pelos limites impostos por paredes, agora não tem mais nada. É a luz, em tons de amarelo, laranja e vermelho, que toma todo o espaço, parecendo escorrer de cima para baixo. É agora nessa parede de luz que nossos olhos encontram o limite. No meio do caminho está uma escada em caracol, que não leva mais a lugar nenhum. E uma porta com o batente, que ainda se mantém em pé, não se sabe por quanto tempo, mas que já não serve para nada. O que restou de grades e janelas está encostado em um canto. Nada disso tem mais serventia. Não há mais dentro nem fora, em cima ou embaixo. Não há do que se proteger ou através do que olhar. No chão, o indício de que ali existiu uma construção. Os entulhos – esses sim uma presença de traços firmes – se misturam com um pouco de grama e areia de um jardim que parece tentar resistir, não se sabe há quanto tempo e nem por quanto tempo mais. Luz em Túlia é a tela que dá nome à segunda mostra individual de Alessandra Duarte na Zipper Galeria e nos faz lembrar da definição primeira de paisagem: espaço que se abrange em um lance de vista. Qualquer lugar pode ser paisagem desde que se tenha alguém olhando para ele. É a presença humana que caracteriza a paisagem. Nas telas de Alessandra Duarte, a presença humana são rastros, vestígios, que aparecem, se repetem e se sobrepõem a todo momento. Se sua produção anterior era marcada pelo convívio de uma forte arquitetura moderna com grandiosos jardins à la Burle Marx, cada um ocupando seu espaço cuidadosamente calculado, agora é no que restou de seu antigo ateliê, demolido, que a artista encontra lugar para sua pintura. É nesse lugar tomado por entulhos e restos que estão elementos da natureza e da arquitetura misturados. A figura humana, que antes mais parecia ocupar um papel secundário, tendo como função dar a escala de grandeza de tudo o que estava à sua volta, não aparece mais nas telas. É sua ausência que afirma sua presença, construída pelos rastros e vestígios deixados nos lugares. E também

é de rastros e vestígios que a pintura de Alessandra Duarte se constrói. Linhas decididas que parecem duvidar em alguns momentos, cores que se mantém uniformes até chegar ao limite, uma luz que parece fazer força para estar ali, ou, ao contrário, parece estar indo embora aos poucos. Nada está inteiro, nada é uniforme em uma pintura que parece ser feita de pequenos acontecimentos, inúmeros e sucessivos. Entre os trabalhos chama atenção Se entranha, uma paisagem pintada em formato vertical – proporção destinada a outro gênero clássico da pintura: o retrato. Uma paisagem personificada. Uma paisagem-coisa, objeto, passível de construção. Talvez por isso a jovem artista tenha se interessado em ir de fato para o espaço e construir suas próprias paisagens. No conjunto de fotografias que completam a exposição, restos de demolições são tomados por intervenções de cor e sensações de rastros luz. Ao se agruparem em duplas ou trios, essas imagens buscam se distanciar do lugar onde foram feitas e construir significados nas relações entre elas, criando assim novas paisagens possíveis. E construção parece ser outra palavra-chave aqui. Talvez não à toa, a última tela em exposição a ser pintada, A Maré em Túlio, como o nome anuncia, tem sua superfície tomada pelo que aparentam ser restos de construção, amontoados em uma grande massa que parece se movimentar como uma onda. Se sua presença é marcante pelo conjunto, também chama atenção pelo tratamento individualizado dado a cada um dos elementos que a constituem. Cada pedaço traz em si a marca da sua construção, que parece não ter acabado ainda. Linhas firmes se misturam ao branco da tela não preenchido, a espaços preenchidos de maneira mais afirmativa ou ainda em dúvida, e traços que parecem perder a certeza, ou a força ao longo do caminho. Talvez por isso a tela pareça se mexer. E talvez por isso, só nela apareça a figura humana tentando entrar.

Fernanda Lopes, 2013








Landscape in Construction Place, previously defined by its wall-imposed limits, now has nothing. It is light, in tones of yellow, orange and red, that fill the whole space, seemingly seeping downwards. Now it’s on this wall of light that our eyes find the limit. On the way, a spiral staircase that leads nowhere. And a door with its frame, still upright, for how long no-one knows, but that no longer serves any purpose. The remains of railings and windows resting in a corner. None of it of any use. There is no more inside or outside, above or below. There is nothing from which to protect oneself or through which to look. On the floor, a sign that there had been a construction there. Rubble – this really does display firm traits - mixed with a bit of grass and sand from a garden that appears to be trying to resist, who know for how long or how much longer. Luz em Túlia is the painting that gives its name to Alessandra Duarte’s second solo exhibition at the Zipper Gallery and brings to mind the primary definition of landscape: extensive space at a glance. Anywhere can be landscape, provided there is someone looking at it. It is human presence that characterizes landscape. Human presence, in Duarte’s pictures, is represented by traces and vestiges that are constantly appearing, repeating themselves and overlapping. Whereas her earlier work was marked by the presence of modern architecture with grandiose gardens à la Burle Marx, each occupying its own carefully calculated space, now it is in what remained of her old, demolished studio, that the artist finds place for her painting. It is in this place strewn with rubble and remains that we find a mixture of the elements of nature and of architecture. The human figure, which beforehand seemed to occupy a secondary role, with the function of conferring the grand scale of everything that was around it, no longer appears on the paintings. Human absence affirms its presence, constructed by the traces and vestiges left in the places. And it is also from traces and vestiges that Alessandra Duarte’s painting is constructed.

Decisive lines that seem to doubt at times, colours that remain uniform until reaching the limit, a light that seems to make an effort to be there, or, on the contrary, seems to be slowly going away. Nothing is complete, nothing is uniform on a painting that seems to be made from small, countless and successive happenings. Among the works one’s attention is drawn to Se entranha, a landscape painted in vertical format – a perspective meant for another classical genre of painting: portrait. A personified landscape. A landscape-thing, object, that could perhaps be constructed. Perhaps this is why the young artist became interested in actually moving into space and constructing her own landscapes. In the set of photographs that complete the exhibition, demolition rubble is appropriated by interventions of colour and sensations of light trails. Grouped into twos or threes, these images attempt to distance themselves from the place they were made and build meanings in the relations between them, thus creating new possible landscapes. And construction seems to be another key word here. Perhaps not by chance, the final painting on show to be painted, A Maré em Túlio, as the name announces, has its surface covered by what appear to be construction scraps, piled up into a big mass that seems to be moving like a wave. While as a set, the paintings have a striking presence, the individualized treatment given to each of the constitutive elements also catches the eye. Each piece brings within it the mark of its construction, seemingly unfinished. Firm lines scrambled into the white of the unfilled canvas, the spaces filled in a more assertive manner or still in doubt, and lines that seem to lose their certainty, or strength along the way. Perhaps that is why the painting seems to be in motion. And perhaps that is why, the human figure only appears in it trying to enter.

Fernanda Lopes, 2013 translation: Ben Kohn










Alessandra Duarte

São Paulo, Brasil [Brazil], 1984 Vive e trabalha em [lives and works in] São Paulo, Brasil [Brazil]

Formação [Education] 2007 •Artes Plásticas e História da Arte [Studio Arts and Art History]. Bard College, Annadale-on-Hudson, EUA [USA]

Exposições Individuais [Solo Exhibitions] 2013 •Luz em Túlia. Zipper Galeria, São Paulo, Brasil [Brazil] 2012 •Individuais Simultâneas. Museu de Arte de Goiânia, Brasil [Brazil] 2011 •Já Vou. Zipper Galeria, São Paulo, Brasil [Brazil] 2006 •Torsionisms. Richard B. and Emily H. Fisher Gallery. Bard College, Annandale-on-Hudson, EUA [USA]

Exposições Coletivas [Group Exhibitions] 2012 •XIV Salão Municipal de Artes Plásticas. Joao Pessoa, Brasil [Brazil] •Arte Agora 1. Galeria Lourdina Jean Rabieh, São Paulo, Brasil [Brazil] •Diálogo Sobre o Diálogo Sobre o Diálogo. Pinacoteca Municipal Miguel Dutra, Piracicaba, Brasil [Brazil] •A Cidade e suas Desconexões Antrópicas. 63º Salao de Abril, Fortaleza, Brasil [Brazil] •Fecho Éclair. Zipper Galeria, São Paulo, Brasil [Brazil] 2011 •Gira. CABA – Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina •XIV Leilão de Pratos para Arte. Associação Cultural de Amigos do Museu Lasar Segall, São Paulo, Brasil [Brazil] •43° Salão de Arte Contemporânea de Piracicaba. Pinacoteca Municipal Miguel Dutra, Piracicaba, São Paulo, Brasil [Brazil] •Convivendo com Arte: Pintura Além dos Pinceis. Centro de Exposições da Torre Santander, São Paulo, Brasil [Brazil] •Programa de Exposições 2011. Museu de Arte de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, Brasil [Brazil] •Até Meio Quilo. Pinacoteca de Santos, Santos, Brasil [Brazil]; Museu de Arte Contemporânea de Campinas, Brasil [Brazil]; Museu de Arte de Ribeirão Preto, Brasil [Brazil]; Fundação Badesc, Florianópolis, Brasil [Brazil] •Auto Serviço de Livros. Espaço G, Valparaiso, Chile 2010 •Auto Serviço de Livros. Espaço Tijuana, Galeria Vermelho, São Paulo, Brasil [Brazil] 2008 •Wish you Were Here 7. A.I.R. Gallery, Nova York [New York], EUA [USA] 2007 •Small Works. SOHO20 Chelsea Gallery, Nova York [New York], EUA [USA] •Selected Works of Graduating Seniors. Richard B. and Emily H. Fisher Gallery. Bard College, Annandale-on-Hudson, EUA [USA] 2006 •No Back Circles. Arts Society of Kingston, EUA [USA] 2005 •The Junior Show. Richard B. and Emily H. Fisher Gallery. Bard College, Annandale-on-Hudson, EUA [USA]

Premios [Awards] 2011 •Residência Artística [Artist Residency]. INsideOUT Curatoria Forense. Boiçucanga, Brasil [Brazil] 2003-2007 •Bolsa de Estudos [Fellowship]. Bard College, Annandale-on-Hudson, EUA [USA]


A Maré em Túlio 2013 oléo sobre tela [oil on canvas] 190 x 320 cm [74.8 x 126 in]

Eremitério 2012 oléo sobre tela [oil on canvas] 290 x 165 cm [114.1 x 64.9 in]

Acravado Limoeiro 2012 oléo sobre tela [oil on canvas] 230 x 150 cm [90.5 x 59 in]

Se Entranha 2012 oléo sobre tela [oil on canvas] 230 x 150 cm [90.5 x 59 in]

Remêmoro 2013 oléo sobre tela [oil on canvas] 120 x 90 cm [47.2 x 35.4 in]

Pulsaste Tua Parte 2013 oléo sobre tela [oil on canvas] 120 x 90 cm [47.2 x 35.4 in]

Adligar-nos-emos 2013 oléo sobre tela [oil on canvas] 160 x 290 cm [63 x 114.1 in]

Luz em Túlia 2012 oléo sobre tela [oil on canvas] 150 x 230 cm [59 x 90.5 in]

Atijolado 2013 oléo sobre tela [oil on canvas] 90 x 100 cm [35.4 x 39.3 in]

Da série [From the series] Pinturas Transitórias I 2013 jato de tinta sobre papel algodão [inkjet on cotton paper] 83 x 56 cm [32.6 x 22 in]

Da série [From the series] Pinturas Transitórias I 2013 jato de tinta sobre papel algodão [inkjet on cotton paper] 43 x 63 cm [16.9 x 24.8 in]

Da série [From the series] Pinturas Transitórias I 2013 jato de tinta sobre papel algodão [inkjet on cotton paper] 43 x 63 cm [16.9 x 24.8 in]

Da série [From the series] Pinturas Transitórias I 2013 jato de tinta sobre papel algodão [inkjet on cotton paper] 63 x 43 cm [24.8 x 16.9 in]

Da série [From the series] Pinturas Transitórias I 2013 jato de tinta sobre papel algodão [inkjet on cotton paper] 63 x 43 cm [24.8 x 16.9 in]

Da série [From the series] Pinturas Transitórias I 2013 jato de tinta sobre papel algodão [inkjet on cotton paper] 63 x 43 cm [24.8 x 16.9 in]

Da série [From the series] Pinturas Transitórias I 2013 jato de tinta sobre papel algodão [inkjet on cotton paper] 63 x 43 cm [24.8 x 16.9 in]

Da série [From the series] Pinturas Transitórias I 2013 jato de tinta sobre papel algodão [inkjet on cotton paper] 56 x 83 cm [22 x 32.6 in]


Realização I Accomplished by

Impressão I Printed by

Projeto Gráfico l Graphic Design

Fotos | Photos by Guilherme Gomes Chefe Editorial | Editor-in-Chief Deborah Alves © fevereiro 2013



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