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Carolina Ponte Filigranas 19 de novembro a 21 de dezembro de 2013
Carolina Ponte: para seguir por tramas afetivas Carolina Ponte exercita a arte como estado de extensão de corpos no mundo. Assim, parte do uso de linhas ou de formas arabescas para compor formas enoveladas que não têm fim. Observando, quase instintivamente, as associações entre cores, tramas, volutas vão-se criando presenças, jóias, adornos, que ao mesmo tempo nos conduzem aos gestos de construir e descartar, tal qual a ação cotidiana, banal, comezinha de desfolhar as pétalas de uma rosa, abrir um jornal diário, descascar alimentos. As obras de Carolina Ponte sobram, excedem-se, fazendo da obsessão de tramar desenhos ou tricotar linhas um gesto mais muscular do que ordenado. Porem, é justamente no ato criar associações aleatórias, em vez de afinidades eletivas, que reside o rasgo conceitual dos trabalhos da artista. Fazer e descartar, coser e desmanchar, torna-se quase inevitável pensarmos no alardeado gesto de Penélope, tramando e desfazendo, mas não tomarei este clichê como comparação, apenas ficarei com a possibilidade do engano, da desfaçatez, da tentativa de burlar o próprio tempo e as expectativas como condições conceituais da citada personagem e das obras de Carolina Ponte. O uso de um moto-contínuo, de um perpetuum móbile, de máquinas que jamais parariam de agir é um dos devaneios da civilização industrial. Não parar de funcionar geraria uma espécie de escravo de um tempo infinito, de um serviçal que jamais tiraria horas de descanso. Sabemos, obviamente, das implicações éticas desta compreensão. Se pensarmos em máquinas e não em seres humanos, outra pergunta nos chegaria de chofre: para que? Por que não desligar? Ou, respondendo com um axioma de Marcel Duchamp, “Por que não espirrar”? Estamos sempre sujeitos ao erro, à falha, ao soluço, ao cansaço, ao espirro. Ao mesmo tempo, a arte tece tramas infinitas, fitas de Moebius, Bichos, e decora altares aos deuses, grita, se esvai sem esperar respostas. Nos direcionamos para todos e para ninguém, como nos ensinara a filosofia de Nietzsche. Agir em moto-contínuo, desenhar arabescos intermináveis, tramar tecidos transbordantes, gestos de Carolina Ponte, parecem, então, nos levar a estas tarefas, estas que fazem do perpétuo, contraditoriamente, um ponto de chegada, uma meta, mas que nos torna, logo na partida, conscientes do impossível. E assim, nosso destino é desafiar o corpo nas tarefas, na extenuação, até jorrarmos fluidos, leites, mel. O fio, a filigrana nos parece, aqui, parte deste jorro. Na tentativa de ofertar ouro aos deuses, chegamos à pletora dos altares barrocos, mas, também, a uma simples folha de ouro colocada no chão da galeria, fazendo do gesto contemporâneo de Roni Horn um influxo a estes pensamentos. Se tratarmos de arabescos, os desenhos de Carolina Ponte se relacionam diretamente à caligrafia. Sim, mais do que o gesto de criar imagens compositivas, a repetição, o uso de linhas labirínticas, a pletora das cores criam escritos, escrituras. Aqui, Carolina exerce o papel de artista-iluminador, aquele que se utilizou da possibilidade de ornar as páginas, construindo escrituras sagradas. Agora, editam-se híbridos exercícios sem destinação. Ainda assim, os desenhos de Carolina Ponte guardam o “amor às linhas encaracoladas”, modo como Julian Bell se refere à atividade dos iluminadores nos mosteiros. Tais desenhos podiam se estender como ofício de mais de uma década, desenhos sem textos, ofício e adoração. Ao nomear a exposição de filigrana, Carolina Ponte também tangencia o lugar, a materialidade sobre a qual tais arabescos serão transferidos, o metal. Mas, agora, o que vemos ganhar o espaço, diferente do metal, são esculturas em lã. Na história da cultura material, observamos o gesto escultórico em civilizações que poliam pedras de raio, afiavam machados líticos, desenvolviam adornos com fios finíssimos, filigranas, de ouro, ou, ainda, transpunham tais filigranas para o chamado “plateresco” das construções sacras barrocas, desafiando a pedra a receber o mesmo fio enovelado do metal. A escultura de Carolina Ponte almeja a sinuosidade, a acomodação preguiçosa da rede, a trama que se adapta às ortogonais da arquitetura. Na escultura, Carolina produz relevos, contra-relevos, tal qual Vladimir Tatlin, assumindo a dependência, a subordinação da forma aos recursos de tencionar e estender. São construções, tais quais as narrativas das noites de Sherazade, ou do livro de areia de Borges. São narrativas, como as construções cinéticas de Soto, tão infinitas quanto a coluna de Brancusi. Assim, Carolina Ponte narra e constrói, ambiciona o sem fim. E o cubo branco, a galeria, ganha jóias, relíquias, que pendulam entre a arte e a oração, o rito e o erotismo. Ao mesmo tempo, adorno, ornamento freqüentam a lógica da subversão, do rabisco, da anulação, do rastro. A mesma lógica que orientara Daniel Buren a empreender listras paralelas nas ruas de Paris ou os caminhos marcados por pó nos quilômetros percorridos por Richard Long. Carolina Ponte nos direciona, então, a estas compreensões, olha gestos imprecisos, mas excessivos, desenha e adorna, cria combinações quase aleatórias, retira das formas o que nos parece familiar, profanado, e excede. Caixas de penteadeira, brinquedos, caminhos, enfeites, tudo nos abraça, mas a artista observa o ponto exato onde tornamos o doméstico mais complexo. E estende-se pelo chão, sobe as paredes, como se disposta a erigir monumentos, a alcançar o mais alto cume e a mais interna camada da terra. Contudo, nos resta o corpo, condição mundana e sagrada, que se pode jogar na sarjeta ou transcender, misteriosamente, na gestação de outros seres.
Marcelo Campos, 2013
Carolina Ponte: Tangled Webs Carolina Ponte exercises art as a state of extension for bodies in the world. Departing from the use of lines or arabesque forms, she composes tangled, endless forms. By almost instinctively observing the associations between colours and webs, volutes come to create presences, jewels and embellishments, which simultaneously remind us of the gestures of building up and throwing away, just like in everyday life and its banalities, such as the mundane act of removing the petals from a rose, opening up a newspaper, or peeling fruit. Carolina Ponte’s works go beyond, exceeding themselves and turning the obsession with tracing drawings or knitting lines into gestures which are muscular rather than ordered. However, it is precisely in this act of creating random associations rather than elective affinities where the conceptual tear running through the artist’s work lies. The actions of making something and throwing it away, or sewing something and dismantling it, invariably lead our thoughts to Penelope’s ostentatious gesture of weaving and undoing her work, but I do not use this cliché as a point of comparison, rather simply to highlight the potential for trickery, for sheer nerve, and for an attempt to cheat time itself and expectations as conceptual conditions for the character of Penelope and the works of Carolina Ponte. The use of perpetual motion, perpetuum mobile and of machines which will never stop working is one of industrial civilisation’s reveries. Never stopping working would produce a kind of infinite slave, a servant who would never take any time off. Obviously we are aware of the ethical implications of this understanding. If we consider machines instead of human beings, we would be faced with another question: why? Why not turn them off? Or, to reply with one of Marcel Duchamp’s axioms: “why not sneeze?” We are constantly subject to mistakes, to flaws, to hiccoughs, to fatigue and to sneezing. All the while, art weaves infinite webs, Möbius strips and critters, adorning altars to the gods, as it shouts and vanishes without expecting an answer. We direct ourselves to everybody and to nobody, as Nietzsche’s philosophy has taught us. Carolina Ponte’s actions in perpetual motion, drawing of endless arabesques and weaving of overflowing webs therefore seem to direct us towards these tasks, which paradoxically make the perpetual into a point of arrival, a goal which rather makes us, right at the beginning, conscious of the impossible. Our fate is thus to challenge the body through these tasks, exhausting it until we gush fluid, milk and honey. At this point the thread, or the filigree, seems to us to be part of this outpouring. The attempt to offer up gold to the gods leads us to the plethora of Baroque altars, but also to a simple leaf of gold placed on the floor of the gallery, making Roni Horn’s contemporary gesture into an influx towards these thoughts. In terms of arabesques, Carolina Ponte’s drawings are directly linked to calligraphy. It is not just an act of creating compositional images: repetition, the use of labyrinth-like lines and the plethora of colours create writings and deeds. Ponte performs the role of an artist-enlightener who has harnessed the potential to adorn pages, constructing sacred deeds. Hybrid exercises are now published without a destination. Still, the artist’s drawings retain a “love for swirling lines”, to use Julian Bell’s term for the activity enlighteners undertake in monasteries. Such drawings could be prolonged to serve as work for over a decade, drawings without text, work and adoration. In naming the exhibition Filigranas [Filigrees], Ponte also touches the place, the materiality upon which such arabesques will be transferred, the metal. However, what we now witness taking over the space is not metal but rather woolen sculptures. In the history of material culture, we observe sculptural gestures in civilisations which polished thunderstones, sharpened lithic hammers, developed embellishments with the finest of threads, golden filigrees, even transposing these filigrees to the so-called “Plateresque” of the sacred Baroque constructions, challenging stone to receive the same entangled metal thread. Carolina Ponte’s sculpture strives for sinuosity, the lazy accommodation of the net, the web which adapts to the orthogonal planes of architecture. Her sculpture produces reliefs and counter-reliefs such as those of Vladimir Tatlin, assuming dependency and the subordination of the form to the resources of tightening and extending. They are constructions, just like the narratives of Scheherazade’s nights, or Borge’s book of sand. They are narratives like Soto’s kinetic constructions, and as infinite as Brancusi’s column. This is Ponte’s means of narrating and constructing, aiming for the endless. And the white cube of the gallery is adorned with jewels and relics which swing between art and prayer, rites and eroticism. All the while, embellishments and adornments frequent the logic of subversion, scratches, invalidations and traces. It is the same logic which guides Daniel Buren’s parallel stripes through the streets of Paris or the powder-marked paths of the miles walked by Richard Long. Carolina Ponte thus leads us to these revelations, looking at imprecise yet excessive gestures, drawing and adorning, creating almost random combinations, removing from forms what makes them familiar or desecrated, and ultimately goes beyond. Vanity cases, toys, paths, regalia – all of these embrace us – but the artist observes the exact point where we make the domestic more complex. And she extends it to the ground, stretching it across the walls, as though willing to erect monuments, reach the Earth’s highest summit and its innermost layer. What we are left with nevertheless is our body, a mundane and sacred condition, which may be tossed in the gutter or transcended, mysteriously, through the gestation of other beings.
Marcelo Campos, 2013
Carolina Ponte
Salvador, Brasil [Brazil], 1981 Vive e trabalha em [lives and works in] Petrópolis, Brasil [Brazil]
Formação [Education] 2000-2005 ▶Gravura [Engraving]. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] 2005-2006 ▶Arte Hoje: Atitudes Contemporâneas (Márcio Botner, Bob N.). Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] 2001-2005 ▶Festival de Inverno (Davide Grassi, Mário Ramiro, Leda Catunda, Isaura Penna). Universidade Federal de Minas Gerais, Diamantina, Brasil [Brazil]
Exposições Individuais [Solo Exhibitions] 2013 ▶Filigranas. Zipper Galeria, São Paulo, Brasil [Brazil] ▶Sólo el excesso. Galería Enrique Guerrero, Cidade do México [Mexico City], México [Mexico] ▶Now Contemporary, Miami, EUA [USA] 2011 ▶Zipper Galeria, São Paulo, Brasil [Brazil]
Exposições Coletivas [Group Exhibitions] 2013 ▶Brazil am Main. Galerie Rothamel, Frankfurt, Alemanha [Germany] ▶SmART: San Miguel Arte. San Miguel Allende, México [Mexico] 2012 ▶Lugar Comum. SESC Quitandinha, Petrópolis, Brasil [Brazil] ▶Os melhores venenos. Galerias Alvarez, Porto, Portugal 2011 ▶Fronteiriços. Galeria Luciana Caravello, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] ▶Convivendo com Arte: Pintura Além dos Pinceis. Centro de Exposições da Torre Santander, São Paulo, Brasil [Brazil] ▶Desenho em Campo Ampliado. Espaco Cultural Sérgio Porto, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] ▶Pontos de Encontro: Pedro Varela e Carolina Ponte. Espaço Cultural da Caixa, Salvador, Brasil [Brazil]; Sala Theodoro de Bonn, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba, Brasil [Brazil] 2010 ▶Converging Trajectories. Modified Arts, Phoenix, Estados Unidos [USA] ▶Sobre Ilhas e Pontes. Galeria Cândido Portinari, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] ▶Diversidade e Afinidades: universo x reverso. ECCO Brasília, Brasil [Brazil] 2009 ▶Estranho Cotidiano. Galeria Movimento, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] ▶Realidades Impossíveis. Ateliê 397, São Paulo, Brasil [Brazil] ▶Pontos de Encontro: Pedro Varela e Carolina Ponte. ECCO Brasília, Brasil [Brazil] ▶Conexões. Centro de Cultura de Petrópolis, Brasil [Brazil] 2008 ▶Realidades Imposibles: 20 Artistas Brasileños Trabajando con Fotografía Hoy. Fototeca Juan Malpica Mimendi, Veracruz, México [Mexico] 2006 ▶Abre Alas. A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] ▶AH. Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] 2005 ▶PY Rata. Rio de Janeiro, Brasil [Brazil]; Niterói, Brasil [Brazil] ▶A Arte Sobe e Desce a Serra. Centro Cultural Raul de Leoni, Petrópolis, Brasil [Brazil] ▶PY Neo. Ateliê do Cadú, Niterói, Brasil [Brazil] ▶PY = X ao quadrado. Sala José Cândido de Carvalho, Niterói, Brasil [Brazil] ▶PY = X, Circuito Aberto. Niterói, Brasil [Brazil] 2004 ▶Carolina Ponte e Pedro Varela. Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] ▶XIV Salão dos Alunos da Escola de Belas Artes da UFRJ - Seleção 2004. Instituto dos Arquitetos do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] ▶Imaginário Periférico: Vestível. Centro de Artes de Nova Friburgo, Brasil [Brazil] ▶Diálogos Plurais. Centro de Artes Calouste Gulbenkian, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] ▶XII Universidarte. Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] ▶1º Salão Internacional Laisle.com. Fundación Gugg und Chain, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] ▶Exposição Coletiva de Pintura. Universidade Salgado de Oliveira, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] 2003 ▶XIII Salão da Escola de Belas Artes. Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] ▶Gravuras em Álbum. Conjunto Cultural da Caixa, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] 2002 ▶Arte no Fórum. Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] ▶UniversidArte. Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil] ▶Mostra do 33º Festival de Inverno da UFMG. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil [Brazil] ▶1ª Bienal de Gravura de Santo André. Brasil [Brazil] 2001 ▶Sala Escura. Diamantina, Brasil [Brazil] ▶MostraArte II. Salão da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Galeria Maria Martins, Rio de Janeiro, Brasil [Brazil]
Sem título [Untitled] 2013 acrílica, nanquim e caneta sobre papel [acrylic, ink and pen on paper] 230 x 130 cm [90.5 x 51.2 in]
Sem título [Untitled] 2013 acrílica, nanquim e caneta sobre papel [acrylic, ink and pen on paper] 230 x 130 cm [90.5 x 51.2 in]
Sem título [Untitled] 2013 acrílica, nanquim e caneta sobre papel [acrylic, ink and pen on paper] 230 x 130 cm [90.5 x 51.2 in]
Sem título [Untitled] 2013 acrílica, nanquim e caneta sobre papel [acrylic, ink and pen on paper] 115 x 150 cm [45.3 x 59.1 in] Realização I Accomplished by
Impressão I Printed by Sem título [Untitled] 2013 acrílica, nanquim e caneta sobre papel [acrylic, ink and pen on paper] 150 x 210 cm [59.1 x 82.7 in]
Sem título [Untitled] 2013 acrílica, nanquim e caneta sobre papel [acrylic, ink and pen on paper] 150 x 210 cm [59.1 x 82.7 in]
Sem título [Untitled] 2013 acrílica, nanquim e caneta sobre papel [acrylic, ink and pen on paper] 210 x 150 cm [59.1 x 82.7 in]
Sem título [Untitled] 2013 crochê e tapeçaria [crochet and tapestry] 240 x 160 x 160 cm [94.5 x 63.0 x 63.0 in]
Sem título [Untitled] 2013 crochê e tapeçaria [crochet and tapestry] 240 x 160 cm [94.5 x 63.0 in]
Projeto Gráfico l Graphic Design
Fotos | Photos by
Guilherme Gomes © dezembro 2013
Sem título [Untitled] 2013 crochê e tapeçaria [crochet and tapestry] 170 x 80 cm [66.9 x 31.5 in]