O coração não nega

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O CORAÇÃO NÃO NEGA

VITOR CORLEONE MOREIRA DA SILVA

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O CORAÇÃO NÃO NEGA

“Vida passa, os dias se consomem... Devemos viver cada instante, Como se fosse o único instante! O sabor da vida é maravilhoso, Porém é preciso que se saiba saborear.” Vitor Corleone Moreira da Silva

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Introdução “O desejo de viver orienta as decisões e a conduta do homem, e nesse contexto a sociedade se torna o epicentro de uma disputa muitas vezes mais aguerrida e violenta que a própria guerra: o reconhecimento dos direitos e a luta por sua aceitação. Cada indivíduo possui um coração, e os rumos que o indivíduo segue, a proporção das batidas do órgão, os mitos e as verdades, as crenças e sonhos, só ao próprio dono do coração pertencem. O juízo que o ser humano faz das coisas é subjetivo, intocável, personalíssimo. É um ambiente intocável pela ação das leis, código de conduta social ou ética. Nada atinge a subjetividade do coração humano. A vida corre conforme um rio desgovernado na direção do oceano, que é a morte, sendo esta a sua direção única, e o ser humano possui a capacidade de criar as correntes que compõem tal rio, as curvas, a velocidade e ferocidade do movimento das águas. O coração do homem irrecusavelmente dita as regras da aceitação ou reprovação de todos os esteios componentes da existência individual ou coletiva, e bate tal qual o compasso de um bumbo, retumbante e cadenciado no coração de uma bateria. O mundo possui bilhões de bumbos, cadenciados ou não, fazendo barulho dentro do corpo de cada elemento, resultantes da explosão universal que a tudo criou. Poeira de estrelas, resultados mortais da maravilha da criação. O coração é subjetivo, não regrado, informal, impreciso. Relaciona-se ao meio porém não o domina, e depende do seu dono se deixar dominar por ele. Pertence ao seu dono produzir os seus juízos de valor. É o guerreiro que manipula a vida, e não se dispõe a ser compreendido. Quem o quiser julgar por seus atos ou batidas, conceitue a expressão “enleva” e esteja certo de que ao centro de um vulcão que desperta, o coração é como a chama ardente que se destaca e primeiramente pulsa em direção ao céu enaltecendo seu vigor, rebeldia ou coragem.”

Belo Horizonte, 20 de Dezembro de 2002 Vitor Corleone Moreira da Silva

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O coração não nega O coração não nega Quando a dor da saudade incomoda e aperta meu peito Ou a felicidade transborda pelos olhos Nos momentos mais difíceis, mais sofridos Onde falta o arroz e a cachaça na mesa dos brasileiros Para aliviar a fome e a sede orações ao alto O coração não nega Quando as lástimas, perseguições sociais Afugentam do bolso o dinheiro e dos olhos a coragem E sobra somente uma guimba de cigarro entre os lábios O time enche os estádio e perde no final do jogo E os jornais só comentam morte e destruição Na rotina imutável da cidade grande O coração não nega Quando vou descansar na roça, no meio da noite o cheiro de lenha Vendo as estrelas e tomando cerveja deitado na rede Às vezes ele bate forte e às vezes para de bater Bate forte o coração ao cantar a saudade Ou pela quietude do campo se assemelha às rochas O seu refúgio é a poesia E o hino pátrio da minha vida O coração não nega e eu acredito que tudo pode melhorar Sou um feliz expressador Das minhas idéias guardadas, mistificadas, obscuras, reprimidas Porque tenho uma poesia Para cada drible do Garrincha Assim como o Garrincha tem um drible Para cada gol do Pelé 05/02/2002

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A perfeição das lágrimas As lágrimas são perfeitas! Quando caem dos olhos Levam junto sonhos que são perfeitos. Sonhos jamais serão como a realidade. Nele devotamos as querências, Nele praticamos as carências Dos olhos, da alma e do coração. São lágrimas de mãe Coração sem limites. Lágrimas de namorados: Saudosas, com raiva ou angústia. Lágrimas de feridas na carne: No braço, na perna e na honra. Mas há lágrimas de alegria! As lágrimas são perfeitas Como as pérolas nos moluscos Ou como a lua, o sol ou o vento. As lágrimas são perfeitas Desde o seu nascimento Até o momento de sua morte: Enxugando-se no rosto

27/11/2002

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A caneta Eu passava dias inteiros escrevendo versos E tinha minha fiel companheira entre os dedos Até que um dia se acabou num último esforço O seu líquido vital que proporcionava realização Então eu disse pra minha caneta Você já deu o que tinha que dar minha amiga E mesmo que não nos encontremos mais Obrigado por tudo

18/11/2002

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Espera Momentos de angústia e espera Com o músculo quase sem fôlego No arfar esperançoso Com a coragem doada pelos amigos Pelos familiares e médicos À espera de um coração Que me dê a vida A fila é interminável Sorteia-se quem irá viver com um número Pessoas comuns, na mesma espera Onde o maior tesouro da existência É um pedaço de carne saudável Que a terra come Quando não há solidariedade Os vermes se fartam da boa carne E o despedaçam com seus dentes afiados, destrincham Enquanto eu já não quero comer Ansiedade Angústia Espera Por um coração querendo bater Os dias se passam A quantidade de remédios aumenta A vida vai escoando O silêncio é notável nesse quarto A dor sentida era pra ser gritada em desespero Mas não há como gritar, não há fôlego Não há coração 09/06/2002

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O bom palhaço Lá vem o bom palhaço Cansado, carente, sozinho Proporciona sorriso Mas por dentro a alma chora Chora a alma do palhaço Que faz as crianças contentes Que serve aos outros Queria o bom palhaço Não se sentir tão sozinho Encontrar um cão de rua Pra ser sua companhia Nessa noite escura No silêncio da rua Por onde vem o palhaço As pessoas não querem sorrir Ninguém nota o artista Que se cansa de ensaiar Na beirada de sua cama Uma palhaçada engraçada Uma idiotice Pra mostrar aos outros Fica triste o bom palhaço Sem ter alegria pra si E que tenta fazer sorrir Numa atitude nobre Procurando felicidade Em cada rosto calejado Nesses dias de incerteza E desespero Carente querendo um amigo Doente de ser tão sozinho Caminhando pela rua Escura, calada e deserta Com o coração na mão Na outra uma língua-de-sogra Lá vem o bom palhaço 10/10/2002

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Recordação Quando o cheiro de alguém fica no quarto Ou no espelho a marca de uma digital Nos perguntamos porquê acabou Por que a chama foi se apagar Só restando o batom manchando o lençol No quarto perfumado que nunca mais perde o cheiro Um fio de cabelo já grisalho pela ação do tempo Que tanta história ressuscita no coração Canta as notas da saudade no som triste Som do adeus Viver na solidão é inevitável A ansiedade não é defeito nem fraqueza Ruim é não se emocionar E a voz? Brisa do mar – lembranças Saudade dos gemidos e sussurros Voz do coração pede a volta Sensatez se vê perdida na sentimentalidade Cada hora que se passa leva Um pedaço da esperança desse Que ainda resiste somente por pirraça E toda noite procura lá no meio das estrelas No meio das luzes a imagem daquela A alma cobrindo-se com a luz da lua O corpo pedindo pra que voltem os abraços A saudade acreditando que a pessoa ouve as súplicas Mas é só o cheiro que ficou no quarto Não há mais o amor

16/05/2002

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Mistura Momentos de volúpia O desejo que se manifesta e se torna opção Que contraria o desprezo E constrói o amor e a realização O homem e o homem A mulher e a mulher O coração bate pra onde vão os ventos O amor escolhe os rumos e se manifesta Por dentro é o mesmo sangue humano que corre Os ideais de vitória e felicidade, solidão e vontade de viver O universo que se modifica e se mistura Os direitos e as direções Os espaço reprimido na sociedade A vontade de vencer Desejos pequenos, vaidosos, sedosos Delicados, perfeitos na simplicidade Mas a vontade aguerrida Que minoritária eleva o tom de voz O amor e o medo Coragem em tons coloridos Sorrisos e lágrimas manchando a maquiagem Viver e estar para a vida Como a semente está para a existência Momentos que se misturam Fissuras, prazeres, delícias Opções naturais não compreendidas Regência das escolhas Do homem e do homem 11/10/2002

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O choro da alma Vida, o que possuo se o meu sentimento é triste? A angústia sufoca os risos que guardei pra hoje Os mistérios da insegurança me tiram a vontade de sonhar O que será do amanhã se o hoje é sombrio? O vazio provoca ecos em um coração que era preenchido A alma em suas lamentações jorra lágrimas ao mundo Um oceano de dor afoga minhas lembranças O horizonte é gelado e cinzento A pele já não tem vida e se murcha, convalescente Os olhos ainda brilham por uma tola esperança Resistir com honra é o único consolo de quem ama Porém toda honra seria em vão se ela voltasse A razão escoaria pelos poros da pele mais rápido que o suor E o choro daria lugar à inevitável reconciliação Desejos, resquícios de um amor que não morreu A razão sabe que ela nem se preocupa e não entende Que um coração não bate em vão por ela – é por amar Não faz idéia da dor que estou passando, do vazio, da angústia Das lágrimas derramadas por uma pobre alma Que aprendeu a construir a sua felicidade Unicamente pela existência dela As horas se passam e o tempo me diz que acabou Mas a alma não se cansa de esperar por momentos de amor Que não irão mais preencher o livro da existência Seduções enamoradas que não provocarão de novo Sorrisos em um homem que foi feliz Só existem agora as lágrimas e nada mais Não possuo mais nada 03/08/2009

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Pensando na vida Estou pensando na vida Não que eu seja um ocioso Tenho muito que fazer Mas gosto de pensar na vida Em tudo. Sobre tudo. Em todos. O que cada um faz Ou deixa de fazer Não quero a imortalidade A qual é objeto de desejo impossível Não quero viver pra ver meus queridos morrerem Não quero me despedir dos amigos Eu ficaria ultrapassado Fortuna também é tão impossível que não quero Beleza? Não. Me deixa feio mesmo Pra quê tudo se depois de viver e gozar Visitar o mundo inteiro cidade por cidade Gastar rios de dinheiro e seduzir com a beleza Quê mais eu teria pra fazer Com vitalidade à flor da pele E genialidade pra sonhar Senão ficar pensando na vida?

16/09/2002

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Decadência da boemia Acabou a bebida Acabou a comida O refresco acabou O pagode parou Lamparina apagou A laranja perdeu O feijão azedou Prato sujo de canja Pia cheia se esbanja Acabou o manjar Saideira não há A dispensa vazia Água suja de larva A moleza acabou Que destino cruel Acabou o doce mel Trabalhar trabalhar Vida mansa e manjar Outra vez sacrifício Trabalhar trabalhar Pra viver, pra viver

16/09/2002

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Definição de “nós” É Nós somos culpados E ontem estivemos rebeldes Fomos nós que erramos hoje Não deveria ter sido dessa forma Há cinco dias atrás Tudo se imputa a nós mesmos Nós não temos observado É Nós somos ruins Não justificamos nossos erros Nós achamos engraçado Se transformar em decadência O que deveria ser perfeito Displicentes somos É Somos egoístas Pensamos somente em nós Ao passo de deixar de fazer Por preguiça ou por não saber Nossa índole é reprovável Nós ofendemos demais É Nossa imagem em veste amassada Nosso cabelo, Semelhante guedelha Nosso modo de ser Nossa forma reprovável de estar Somos tão imperfeitos E tão imprudentes

A ponto de não nos corrigirmos Exteriorizamos condutas Desobedientes e antiéticas É Reiterados opressores do “ser” E particularmente inconseqüentes Faltamos sim a todo instante Com a presença Ou com a perfeição Nos recusamos a sermos perfeitos E acatamos nossa humanidade Nosso modo próprio de agir Agravamos todo um sistema Pela incompetência natural E achamos natural errar É Não importa o que falamos Nada justifica Sermos humanos É Mas estamos aqui sempre Para anular a afirmação De que não tentamos Nós somos “nós” É isso que somos Apenas “nós” 13/10/2006

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Determinação Não se pode vencer alguém determinado A não ser que se tenha mais determinação Do que essa pessoa Determinação que não se compra nem se rouba A qual somente diminui Quando o seu dono a deixa de lado E pensa no fracasso ou no talvez

18/11/2002

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Soneto do casamento Se você promete não me abandonar Se você promete não se arrepender Se cuidar de mim se um dia adoecer De rolar dos olhos lágrimas de dor Se você promete que vai respeitar Se você promete que será fiel Se você promete me levar ao céu Não deixar faltar os beijos de amor Se em algum momento um de nós partir Que o outro saiba entender Que a carne morre, não tem outro jeito Mas a cada dia viver com amor Se você promete compreender, que seja Eu aceito

17/09/2002

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Lágrimas de amor Quem sabe se as minhas lágrimas Alimentassem as sementes da terra E crescessem as rosas mais lindas Pra eu te oferecer (um dia) Quem sabe se as minhas lágrimas Ao rolar dos meus olhos Formassem um rio pra eu jogar Uma garrafa com um bilhete – um sonho Quem sabe se as minhas lágrimas De amor, do qual dependo Trouxessem você pra mim (um dia) Se essas lágrimas Formassem uma cachoeira do meu quarto ao seu E viesse nadando feito sereia

06/12/2002

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Bah! Não consigo pensar Numa frase bonita que seja. Bah! Me proibiram de pensar mesmo. Minha mulher está grávida E estou desempregado... Bah! Quem se importa comigo? Bah! Bah! Bah! Bah! Pros políticos... Bah! Pros psicólogos... Quero tomar uma cerveja gelada, E ouvir um bom pagodinho Num rádio toca-fita. Ninguém quer me ajudar... Bah! Bah! Bah! Eh, canseira danada! Bah! Vamos ver no que vai dar? Bah! Pros meus adversários... Atirei o pau no gato E o gato morreu. Ahá! Bah! Ninguém se importa comigo. Minhas contas chegaram E não vou pagar. Ahá... Minha filha quer casar. Bah! 24/09/2002

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Não tem festa O champanhe pelo suco Falsidade por verdade

Pergunto onde estão todos Dia de festa e eu aqui sozinho Talvez porque não tem festa Nem conversa, nem nada Troco o abraço pela jóia Troco a pinga pelo canto Amizade pelo orgulho

Pompa e meia noite, cadê Hoje não tem festa, por que Sem palavras pra dizer Vou embora daqui Pra onde alguém entende Pergunta por exclamação Adormecer

Vou embora daqui Porque hoje não tem festa Dia de menino Que eu deixei de ser Os balões pela piada A música por um aperto de mão O bolo por um beijo

Salto-alto por chinelo Terno branco por bermuda “Répi bardei” pra alguém Parabéns não sei pra quem Se todos foram E se não tem festa hoje Não tem nada

“Répi bardei” pra alguém Parabéns não sei pra quem Porque não tem festa Roupa nova por um trapo O manjar pelo bagaço

27/09/2002

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Sozinho sem você Sozinho sem você Difícil de viver Saudade em seu lugar Convida pra sofrer Saudade de sonhar De abraço, beijo e amar Saudade de você E quando às vezes choro Lembrando que te adoro Carente esperando Que vá embora a solidão Recordo o doce beijo Tanto tempo não te vejo Triste dia, coração A chuva cái lá fora Minha solidão me adora Toca um samba no radinho Que saudade vem me ver Porque eu ainda existo Pelo seu carinho insisto Sozinho sem você

24/09/2002

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Malandro soneto Mina quero ser seu doce amor Quero te fazer com o charme apaixonar Quero ser seu astro redentor Quero te fazer o meu luar Dar umas voltas, sair por aí Tomar um trago, depois dançar Sou malandro, mas boêmio também ama Eu nasci, olha eu nasci pra ser seu par Na noite afora a boemia Luzes, música, sorriso e prazer E nós dois numa viagem de sensações Te amarei até raiar o novo dia Te mostrar que não existe sacanagem O amor de um bom malandro é sem miragem 14/05/2002

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Sem título Vem chorar no meu ombro Desgastar meus conselhos Fazer qualquer coisa Mas vem Estou desesperado Quero a sua amizade Ouvir sua voz o tempo todo Falando, falando, falando Mil coisas, coisas importantes Qualquer coisa Vem logo Você não faz idéia O quanto importa pra mim Você 03/12/2002

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Blá, blá, blá Chego num blá, blá, blá, blá Meio assim blá, blá, blá, blá Digo uma parada qualquer Carro, futebol, gole, mulher Tudo assim blá, blá, blá Tudo certo, to dentro Blá, blá, blá Papo maneiro! Reunião de elite Blá, blá, blá, blá, blá Caso velho, caso novo, caso Umas coisinhas maneiras Blá, blá, política Blá, blá, blá gandaia Blá, blá, blá, blá, blá Crise, pagode, cerveja Passa uma mulher todo mundo mexe Passa um conhecido a gente chama Blá, blá, blá, Blá, blá, blá, blá, blá papo muito bom É...papo de roda Blá, blá, blá, blá, blá Chega minha dez e meia Digo um blá, blá, blá adeus Nosso blá, blá, blá morreu Acabou. Cada um na sua Blá, blá, blá tchau amigos To indo viajar pra lua Blá, blá, blá...fui 27/09/2002

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Labirinto Toda vida ĂŠ um labirinto Cheio de passagens Caminhos longos e escuros Ou a gente vive Pra encontrar as portas Ou a gente morre Em estradas sem saĂ­da 18/11/2002

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Troca de olhares Quem é você Acima de qualquer suspeita Que toda vez me vê passar Pela rua E tenta esconder o que sente No fundo Do seu coração E despista os olhos Seu sorriso é criminoso Seus cabelos escondem O rubor do seu rosto malicioso Quem é você que esconde as batidas do coração Que tenta esconder a paixão e o desejo Ou o quer que seja de mim Até que meu vulto desapareça Lá no fim da rua Não tenho provas Mas sei Que esse olhar curioso e apaixonado Igual ao meu e sem coragem Não se cansa de olhar 14/05/2002

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Os meus problemas Tenho problemas Cadê solução Que barco é esse Que não afunda De vez E nem define Pra onde vai seguir Preciso disso Não quero aquilo e tenho Eu me procuro Eu não me encontro E chega a noite E vem o dia Aqui estou Do mesmo jeito Com os meus problemas No mesmo barco Que não afunda Nem navega Porque não tem remos Nem velas, nem ventos A hora passa Cadê o prestígio Olá sufoco Cadê resposta Cadê proposta Pra resolver Os meus problemas 19/09/2002

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O relógio O relógio tic-tac Lá na sala tic-tac Trabalhando tic-tac Sem parar Marca as horas tic-tac Passa o tempo tic-tac Sem parar Oh! Quem parou o relógio O que fez o ponteiro ficar imóvel (Silêncio) Pra onde foi o barulho (silêncio) Do relógio lá da sala Dou mais corda e tic-tac Marca as horas tic-tac Tic-tac sem parar 12/10/2002

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Saudade Deixo de contar as horas num momento Em que afloram sensações já mortas Já chorei, já sofri...saudade Quem vem brincar de roda no meu pensamento Um suspiro, viajo ao passado Bruscamente com asas forasteiras da lembrança Por antigas primaveras Que foram normais, só agora são importantes E sinto saudade. Dou um sorriso Preso às lembranças perco parte da liberdade E sem importar permaneço prisioneiro Nostálgico, melódico, devoto alegrias Recordo antigos sonhos...realizei alguns Saudade, mesmo triste, fui feliz 15/05/2002

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Sem título A chuva caindo do céu Forma uma correnteza na ladeira É música ao tocar no chão Em cada gota que se manifesta Ventania, relâmpagos, trovões Que cortam o céu dividindo as nuvens Cada luz é como o homem Nasce, faz e acontece, e depois morre Morrem as gotas no chão cheio de lama Que é certamente o paraíso delas Onde encontram-se com todas as outras Morrem, mas depois ressuscitam Secadas pelo sol formam novas nuvens Que voltam a chover tudo de novo 14/12/2002

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Fica comigo Fica comigo Vamos brincar de ser feliz Fazer o que eu sempre quis Sem regras e com liberdade Vivenciar o desejo sem medo Revelar nossos segredos Viver a paixão de verdade Sob a lua Nosso amor contagiante Um brinquedo emocionante Vem ficar comigo Nas carícias dos seus braços Encontrando os meus braços Sem medo, receio ou perigo Sob o sol Despertar ao seu lado Um eterno apaixonado Querendo o que você quiser Só nós dois, acasalados Um casal de namorados Se beijando, se amando – que vida A vida A viver com a tal felicidade Mas se me quiser apenas pela amizade Tudo bem! Espero! Não ligo Um dia ainda vai gostar de mim No dia que quiser enfim Ficar comigo 15/05/2002

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Solitária intimidade Pra ver o horizonte Com as luzes da cidade Os carros sobre o asfalto Quantas vezes eu menti Dizendo não ter problemas

Quantas vezes Me senti sozinho Procurando um amigo Procurando um amor Pra me completar Com quem conversasse Pra não me perder

Tantas vezes Me senti sozinho Sem ter alguém pra me falar Sem ninguém pra me escutar Tão triste tantas vezes Não agora Pois você está comigo

Às vezes de noite Pegava um banquinho Sentava na varanda Olhava estrelas E hoje nem isso Pois os dias são nublados Sem estrela e sem lua

Quando você for embora Eu vou ficar fechado Como faço de costume Em minha varanda Tocaria algo se soubesse Cantaria algo se pudesse Mas sou feito de papel

Pego um livro e passo as folhas Dou vida a personagens Que conversam comigo Mas a história acaba Volto a ficar em silêncio E sentir o vazio Sozinho outra vez

12/10/2002

Quantas vezes debrucei Na janela do meu quarto

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A noite é nossa Hoje a noite é nossa Vamos fazer festa A cidade é a floresta Pra pular de galho em galho A ordem é ser feliz Abaixo o baixo astral Hoje a noite é nossa O amor está no ar No rugido da leoa Nós nascemos pra sonhar E ouvir o canto dessas aves Sem medo, sem preconceito O sangue é o mesmo no peito Só a cor da plumagem é colorida E começa o clima da paquera A noite é nossa Viciei nos olhos da pantera A noite é nossa O instinto não é defeito algum Porque a floresta está a nosso dispor E hoje a noite é nossa Hoje a noite é nossa Para possuirmos cada espaço O pavão se abre e dança samba Seguimos felizes cantando Abaixo às tristezas da vida Hoje a noite é nossa 15/05/2002

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Amor Os corpos molhados se prendem E não soltam, não soltam Sob a brancura dos lençóis O amor Um som gutural ofegante Os dedos que navegam Os lábios que sussurram Os sentidos que viram estrelas Numa explosão de sensações Quando os lábios se ajuntam E os corpos se enlaçam Na erupção de um momento Então tudo se acalma O amor é eterno 20/11/2002

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Rotina Acordar Sempre ver o novo dia Nova magia Cheiro de café fresquinho Viver Desejar o bem aos outros Sonhar Final do final de semana Domingo à tarde O sol se pondo Escrever Mais uma página Das nossas vidas Adormecer Sonhar Menino que voa Menina modelo Um carro, casa, uma viagem Uma paixão Chega o novo dia Acordar de novo 16/10/2002

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Noite nublada

Noite nublada. O céu é um presente Embrulhado. Uma surpresa Escondendo um mimo Acima das nuvens Para cada olhar apaixonado que se revela Para cada mero observador Pra cada um Noite nublada. O céu é um presente Embrulhado...uma surpresa Escondendo a maravilha Acima das nuvens O presente está sendo aberto Ótimo, hoje não vai chover A noite é uma criança – lá vou eu 14/11/2002

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Sem título Nenhum homem vale mais que outro homem Porque a terra não escolhe a carne Quando a ela é oferecido o corpo Do que por motivo alheio morre A liberdade pertence a todos Na proporção escrita no direito Somos humanos, e os direitos são humanos A lei não diz que só os nobres podem ser A minha crença! A sua crença! A crença deles! A minha casa! A sua casa! A casa deles! Assim como a intimidade: invioláveis Tudo consta, mas só é garantido No dia que o sujeito vai à forra E resolve lutar pelo que é seu 13/12/2002

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Derrota Hoje acordei chateado L谩bios fechados, cabisbaixo Hoje eu estou por baixo Me sentindo derrotado Sim, por ter perdido Fiquei inconsolado Me sentindo culpado Pelos resultados Busquei a vit贸ria Um maldito instante de gl贸ria Que a sorte ou compet锚ncia roubou Eu queria ter vencido Mas fiquei triste Porque acabei derrotado 20/05/2002

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Dia do azar Vi um gato preto na rua Por isso não saí de casa Hoje é o dia do azar A bruxa está solta, solta Viajando de vassoura Pelos ares, louca Peguei o espelho e guardei A escada também, escondida Pego um trevo protetor E a ferradura da sorte Como fiz nas outras vezes Parece que estou ficando louco Mas todo cuidado é pouco Hoje é sexta-feira treze 13/12/2002

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Perguntas Espalhem as perguntas Sobre todas as coisas Sobre a vida, sobre o universo Sobre a terra, sobre o mar Não maltrate a dúvida Não precisamos entender Nem precisamos das respostas Deixem a interrogação viver Porque se alguém responde Tudo vai ficar sem graça Pra tudo há uma resposta Mas por não sabermos tudo Vivemos uma vida emocionante Desfrutemos das perguntas 24/09/2002

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Os meus versos Queria que os meus versos Devolvessem a paz ao mundo Queria que os meus versos Extinguissem as tristezas Enxugassem todo o pranto Revelassem todo o encanto Queria que os meus versos Acabassem com o desmatamento Ent茫o eu poderia ficar em paz Queria que os meus versos Colocassem fim aos conflitos N贸s somos iguais e eu Queria que os meus versos Fizessem os homens reconhecerem 07/12/2002

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Sem título Por tantas vezes esperei Por sua carta, seu telefonema Por sua presença Estou cansado de tanto esperar Já não suporto mais ficar sozinho Aqui Esperando que você venha me ver Sou uma ótima pessoa – ou quase Tenho vícios Não posso esperar o seu orgulho sumir Estou jogando a toalha Sem ressentimentos Vou atrás de um amor Vou porque não agüento mais Ficar sozinho Vou porque você só me faz sofrer Minha esperança já virou teimosia Você nunca foi o que deveria Por tantas vezes esperei Por você Sou uma pessoa quase perfeita – talvez exagerei E você só viu os vícios e defeitos Não tentou perceber mais coisas Mas compreendo Ou a gente fica com alguém Que a gente não ama Ou sofre com quem não ama a gente 20/05/2002

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Tristeza Tristeza é dor que vai e volta É a nuvem que chove nos olhos É a estrela perdendo seu brilho A fogueira perdendo o calor Tristeza é o solo rachado É a guerra perdida no amor Os anos perdidos de paz Tristeza é o sonho em pedaços É um terço de vida roubado É a chama sob a tempestade É o amigo perdendo a amizade Tristeza é como flor murchando Sem folhas, sem cor nem perfume Debaixo dos nossos olhos Uma vida desabando Um casebre incendiado Uma carta sem destino E um laço se rompendo Tristeza é dor que vai e volta Que dói sem que a gente perceba Quem vem só por causa do amor 20/05/2002

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Esperança Eu tenho esperança De que a vida seja boa E que nenhuma pessoa Chore lágrimas da fome Que as crianças Possam ter felicidade Que o amor e honestidade Prevaleçam entre os homens Que os meus desejos Sejam todos realizados Paz! Amor! Sorriso! Amigos! As aves voando no céu A vida com sabor de mel Os sonhos todos concluídos 13/12/2002

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Rosas As rosas lembram tanto O perfume da mulher que é amada Da boca rosa que oferta beijos O charme e o encanto Do corpo macio e sedoso Como as pétalas que se abrem ao sol Invadindo o território dos olhos Que se enchem com a perfeição natural A mulher amada possui o seu cheiro Os cachos lembram as folhas Sob a brisa garbosa da primavera E a pele majestosa e delicadamente macia Lembra a maciez De uma pétala de rosa 13/05/2002

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As nuvens Olha essa nuvem triste que passa no espaço Sozinha! Carente! Procurando amigo Pequena! Descrente! Procurando abrigo Na imensidão do espaço que a faz sofrer Veja a solidão da nuvem procurando abraço Prestes a chorar as mágoas, descontente Prestes a chover as lágrimas somente Pena que chorando deixa de viver Olha a nuvem triste. Tão triste! Tão triste! Desacreditada que outra nuvem existe Nesse céu tão grande pra te acompanhar Olha a nuvem – olha – essa nuvem sou eu E não vou chover, você está aqui Vendo a nuvenzinha com o seu olhar 13/11/2002

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Entre tapas e beijos Sinto-me carente sem os beijos seus Num penduricalho brilha a solidão Sempre brigamos e me diz adeus Mas depois retorna e pede meu perdão Quando vou embora sinto ciúme Sufoca a raiva do meu coração E quando distante sinto seu perfume Ressuscita o fogo da nossa paixão Quando brigamos...arrependimento Alimenta imagens nos meus pensamentos E dorme roncando em minha cama Sempre brigamos e bate a saudade As pessoas falam severas verdades Entre tapas e beijos a gente se ama 23/05/2002

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Covardia Quem é aquela pessoa que não tem coragem Que não tem vontade por medo que um dia Possa estar errada e perceber que a vida Não é aventura e nem ventania Não é só o beijo e um abraço e um sorriso Mesmo que isso seja muito prazeroso Quem é aquela pessoa com medo de errar De quem são esses olhos que não se revelam E sofrem sozinhos Que sabem que a felicidade existe Mas não tem coragem para procurar Quem é aquela pessoa que não arrisca Com indiferença vê o sonho morrendo E depois no escuro do seu quarto chora Quem é? Quem é aquela pessoa Que finge não sofrer? Que bela artista Esconde o que chorou ontem à noite É uma pessoa que acredita Que pra sempre deve ser submissa às regras Uma que um dia possuiu a liberdade Mas preferiu ficar numa gaiola aprisionada 28/11/2002

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Sem título Era o último dia de aula Escrevi uma poesia Para cada amigo Porque a distância nos separava Naquele momento Uma despedida formal de quem agora Vai viver a vida Todos ligados pelo desejo Ser feliz Meus amigos, minha escola, adeus Que um dia possamos nos reencontrar Em nossos filhos Por aí nessas ruas Pelo mundo Encerrava-se uma etapa Em cada vida Em cada amigo Chovia, era noite no velho “Padreco” E alguém chorava num canto Enquanto lia Minha poesia 12/12/2002

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Sem título Amor não pode ter planejamento Hora, dia, lugar, duração Vontade não tem regra nem momento Quem manda nos sentidos é o coração Amor não pode ser aprisionado No entanto, não existe sem vontade Amor que se produz com falsidade Não gera frutos de felicidade Amor não gera mágoas e nem pranto Às vezes briga – sempre perdão Amor real precisa ser guardado Sempre deve responder aos dois anseios Saber que o bom mesmo não é o fazer Bom mesmo é sentir-se amado 17/10/2002

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Adeus floresta Nos galhos das árvores As aves que tristes Soltam os últimos cantos Enquanto um punhado de relva Está queimando na beira do asfalto A fumaça afugenta os esquilos E os bem-te-vis vão embora

Os pardais que tem filhotes Pra onde vão agora Diz adeus o andorinhão E vai embora Seguindo a trilha dos cardeais

A cada minuto mais aumenta A fogueira da relva dançando no vento E arrasa um ipê O pobre sagüi – morador Morreu queimado Uirapuru sepulta o amigo Com seu canto fúnebre

Em pouco tempo tudo arrasado E sobre as cinzas Canta o uirapuru sem casa Adeus floresta diz o canto Adeus meu filho diz a mãe Um clima triste Esfria as horas seguintes Os carros passam na estrada E cai a tempestade sobre as cinzas

Pelas águas do ribeirão Muitos fogem

24/05/2002

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Soneto da inveja Eu quero demais e não tenho Tudo aquilo que o olhar deseja Se vejo alguma coisa boa invejo E ambiciono o que é melhor Tudo que vejo na vitrine O que acho bonito ou útil A mulher mais bonita do mundo A casa, o carro e o troféu Mesmo que tenha tantos desejos E gasto meu tempo todo nisso Não tenho! Não tenho! Não tenho! Invejo tudo pois desejo E mesmo sabendo que não terei Eu quero! Eu quero! Eu quero! 24/11/2002

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Soneto de amigo Se te dou a mão não peço recompensa Chore no meu ombro até desabafar Não me peça perdão pelas suas atitudes Não esconda nada. Não prenda. Não sofra Não diga nada Deixa o coração se revelar e sinta-se leve Estarei sempre aqui para te consolar Apoiarei você em tudo que fizer Se for pra entrar na briga entremos juntos E na hora da ressaca de cerveja Ou até na hora de cambalear a caminho de casa Sempre que precisar pode contar comigo Na angústia, na raiva...e na alegria se quiser Mas que saiba que na hora da dor eu sofrerei contigo 17/09/2002

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Nós sempre seremos amigos Perdidos pelo mundo afora Guardando na lembrança a amizade Seguimos a vida – saudade Saudade dos dias vividos Das festas no tempo de escola Das coisas que a gente sonhava Nós sempre seremos amigos Nós sempre seremos amigos Amigos, parceiros, irmãos Frente a uma decepção Ou no clima de felicidade Amizade é pra se preservar E nós seremos amigos Pela eternidade A vida nos espalhou Mas seremos amigos De festa, na dor e perigos Como sempre fomos Se um dia eu te encontrar na rua Me conte suas novidades E me dê um abraço apertado Amigos de farra e folia E nas desilusões da vida De lágrimas na despedida Como nos dias antigos A sorte nos separa mas Em nome de tudo que somos Nós sempre seremos amigos 24/05/2002

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Escola da vida Devemos saber ouvir De quem tem experiência Alguém que já foi aluno Na escola da vida Porque um dia seremos mestres De um aluno como nós mesmos Que um dia será mestre De outro aluno como ele 18/11/2002

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Sem título O amor Nos faz sorrir diante de mil problemas Dormir no meio do caos E sonhar com o paraíso O amor não tem cor nem idade Amar é viver a alegria Que pra nós foi reservada É como os raios de sol Que afugentam as sombras de manhã Nos deixa leves a pondo de voar Amor é eterno enquanto dura Amar é estar sempre livre Para aprisionar-se Nos braços da pessoa amada 24/05/2002

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O Nordeste chora Água encanada Cidade grande Todos pensam que ela sai do cano por mágica Todas as torneiras ligadas jorrando o que se pode pagar Por mágica? Não, pelo capitalismo E enquanto isso O Nordeste chora Duas horas e ainda estão ligadas Lava o beco. Lava rua e a calçada E a água pra beber, lavar os pratos É só a décima parte Só um décimo se aproveita E enquanto isso O Nordeste chora lágrimas secas O carro já está brilhando Mas a torneira ainda está ligada Formando um riacho até o esgoto Água jogada fora Água que traz a vida Que faz com que o solo do Nordeste Rache ao sol do meio dia O Nordeste chora Chora por querer beber água Chora por não poder contar com a chuva Que por aqui deveria lavar a rua – e lava Mas também é lavada pela mangueira do jardim E quem dera que esse riacho que é formado Leve água pro Nordeste ser feliz E pare de escorrer pela boca-de-lobo 10/11/2002

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Sem título Eu escrevo coisas quentes E o calor das coisas que escrevo É o retrato das pessoas Sou um poeta do cotidiano Gosto de observar os detalhes Toda vida é uma festa de estímulos Cheias de amor e de ódio dependendo do mundo As paixões são fruto da inspiração E da obrigação vital do homem em necessariamente se apaixonar O ódio é fator isolado Com o qual o homem tenta esconder estímulos fracassados A vida é curta e gosto de viver cada instante Não quero que ela seja um eterno horário político Cheia de promessas que nunca serão realizadas Ao contrário, quero que a minha vida seja um puteiro Onde tudo é depravado Mas nada fica só no projeto Tudo vai até as últimas conseqüências Olho o mundo e percebo o mundo No capitalismo não enxergo lucros, só danos Como é bom olhar em um formigueiro a pureza do socialismo (socialismo: uma formiga é igual a uma formiga) Eu escrevo a sabedoria e a tolice Eu enxergo a pureza e a cafagestagem Eu descrevo o meu povo e o meu povo 06/12/2002

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O primeiro amor O primeiro amor é o mais inútil Porque depois que acaba O segundo amor não vem com tanta intensidade A palavra amor priva-se na lembrança de uma mágoa Freia bruscamente e impede o risco Acaba-se o segundo amor E o terceiro surge mais preso ainda por mágoas antigas O primeiro amor é mais gostoso Porque junta a timidez ao assanhamento O segundo amor é desquitado O rosto já esconde uma cicatriz O terceiro amor é pior ainda Porque além das cicatrizes há a inevitável idéia De que jamais seremos felizes e que vale mais a pena Só curtir do que se entregar de novo O primeiro amor dói na angústia Pois não sabíamos sofrer O segundo amor dói menos mas dói E o terceiro em diante pouco dói O primeiro foi a escola de todos os outros E depois de tanto termos estudado Percebemos que não sabemos nada ainda 15/11/2002

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Sem título A liberdade não consiste em ser solto E paz não é de fato estar sem guerra Amor não é estar com quem se gosta Há uma gota de mentira em cada idéia Quem é livre obriga-se a ser errante E o amante tem o vício incontrolável Quem tem paz vive sempre na suspeita Vigiando quem só pensa em fazer guerra Não choram só por tristeza ou saudade Há uma réstia de absurdo em cada drama Há um pedaço de emoção em cada fato Dos boatos, muitos são enganadores Porque só o interessante se comenta E só o magnífico se conserva 13/05/2002

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As aves Ouvi o canto alegre das aves Que tentavam curar meus olhos Cansados do ‘stress’ da cidade Vida regrada cheia de machucados É pouco o que posso ver da árvore Por sorte é justamente onde cantam Vermelhas, amarelas, brancas, azuis As aves são tantas que nem posso contar Me inspiram a sair mas como escapar Dessa gaiola onde fui colocado Pra cantar o canto metódico e padronizado Parecem cantar pelo meu triunfo Quebrar todas as regras desse sistema robotizado Abrir a gaiola e sair cantando pela rua 18/11/2002

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Gênio da lâmpada Certa vez encontrei uma lâmpada Com um gênio de verdade dentro Pedi pra não perder a esperança Pedi um milhão de conhecidos e alguns amigos Amar muitas pessoas e ser amado por poucas Pedi pra não ser perfeito Pra não morrer de desgosto Pedi a coragem para lutar pelo que eu quero Força para adquirir meu espaço Bondade para ajudar ao próximo Simplicidade, patriotismo e uma cadeira só minha no Mineirão O gênio aborreceu-se e foi embora Dizendo estar a séculos aprisionado E quando sai, seu amo pede o que já tem 18/11/2002

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Sem título As palavras são como lanternas Úteis num casebre sem luz Inúteis quando a luz do dia aparece Delas podemos fazer remédio Ou agravante dos machucados Coisas interessantes Ou bobagens ilimitadas Lanterna sem pilha não funciona Palavra mal colocada não se encaixa É como a luz da lanterna Sob a luz do novo dia As palavras são como lanternas Pois ambas possuem energia E são direcionáveis pela ação humana 06/12/2002

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Nós não temos preconceito Tem alguma coisa diferente Na maneira de ser De cada cidadão No ar ecoam vozes Descontentes Que não se contentam Com a desunião Em toda cidade Ecoam rimas Que definem nova revolução Roupas sujas Com as serpentinas Resultado da comemoração Estampado lá no prédio grande Um cartaz bem colorido Que desperta alucinados gritos Pelo fim do que segrega Para todos só o bem Exclusão do que divide Cada qual com seu igual Com o diferente também Amor é incondicional E na cidade todos cantam juntos Nós não temos preconceito E abraçamos nossos irmãos Nós temos grandes defeitos Mas nós temos a união Entre nós 22/09/2001

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Pensamentos Pensamentos voam Como bolhas que os peixes soltam E que as águas carregam pra cima Explodem onde não há mais água Revelam-se Onde inicia-se o céu Ao divino pescador Que em vez de lançar a isca Joga seus grãos no mar de vento Pra que alcancem aquele peixe-homem Irrequieto que não se conforma E que tenta por meio de tumultuados pensamentos Consertar graves erros Melhorar coisas tolas E foge como peixe arisco Deixando um rastro de pensamentos Como peixe irrequieto Nunca duas vezes no mesmo coral Procurando soluções Mas sendo pescado pela inquietação 16/05/2002

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Final de ano Mais um ano se acabando Uma etapa se encerrando Com os dias que fui vivendo Com os sonhos que fui sonhando Projetos que andei buscando Batalhas, perdidas...vencidas Resta-me agradecer Colher o que andei plantando Me lembro dos dias de chuva Dos domingos no bar da favela Da Mangueira e do carnaval No vinho, no clĂĄssico das multidĂľes Poxa! Minha vida ĂŠ uma novela E aqui sou o ator principal 14/10/2002

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Sem título Às vezes penso sobre o que é viver E qual a razão de nós lutarmos tanto Ou a gente vive pra encontrar o encanto Ou nos encantamos na procura e só Nas canções tocadas que provocam espanto Nós fazemos trilha de um amor eterno Da estação florida que sepulta o inverno Retiramos rosa pra adornar saudades E viram pó, e revoam no vento, e viram vento Mas mesmo que na estrada não se ache a sorte O direcionamento da vida é sonharmos É por isso que a felicidade existe Mesmo que no fim da vida esteja a morte Porque nós nascemos pra nos realizarmos 18/05/2002

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Sem título Ao pó no ombro dos homens Dedicamos momentos de admiração Do suor na labuta Na conquista do direito de comer o pão Não me olhe como quem vê o mandante Sou feito também do suor e carrego esse pó Ofereça-me um aperto de mão Nós construímos e demolimos Nós carregamos e descarregamos Nós fazemos o que tem que ser feito E nossas emoções não são comedidas Nós exteriorizamos sentimentos Nós somos trabalhadores do sistema E não máquinas do sistema Quando chegar a hora do laurel Ofereça-me um copo que também vou beber E no momento da angústia te oferecerei meu ombro Ele estará sujo de pó Mas será confortável ao seu sofrimento Aos que mandam, a reverência E a mim a amizade

30/07/2009

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Porta fechada A sociedade é perita em destruir talentos Uma opinião errada apaga uma estrela Todo mundo é antiquado perante o novo e não percebe Ninguém dá valor ao que não é regrado no contexto Se não possuir as características da aceitação Por isso jamais devemos desistir de bater Diante de portas fechadas Se sabemos que elas estão trancadas Para o que é novo e ainda incompreendido Mesmo assim não devemos desistir de bater Elas podem se abrir 18/10/2002

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Cidade em chamas Abro os olhos e te vejo Cidade em chamas E os trajes cor de vinho das morenas E as ruas e as esmolas e as crianรงas Rezo a Deus e entรฃo choro Pra que minhas lรกgrimas Apaguem o seu fogo 11/11/2002

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