Frenesi-a poesia da vida

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Frenesi

FRENESI A POESIA DA VIDA

VITOR CORLEONE MOREIRA DA SILVA

1 Vitor Corleone Moreira da Silva


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2 Vitor Corleone Moreira da Silva


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“Ofereço a você essas pétalas banhadas de orvalho Como prova de que todas as minhas promessas Não passaram em vão O tempo não leva embora o que tem que ser eterno A vida não consome o que deveria ser Pois já estava escrito em palavras perenes Nas páginas do Livro de Deus”

Belo Horizonte, 15/08/2009

Vitor Corleone Moreira da Silva

3 Vitor Corleone Moreira da Silva


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O sabor do clímax Noite O prazer e a excitação colorem os instintos Nossos corpos unidos A lua no céu convidando para o amor Os dedos percorrendo todo o corpo Pétalas de rosas lançadas ao vento Perfumes inebriantes que provocam beijos Momentos doces Mãos que se acariciam Bocas que se unem E dividem desejos cada vez mais ardentes O vento do inverno toca nos corpos E denuncia na fumaça que exalam Toda a excitação dos sabores do amor Mãos que percorrem o corpo E descobrem caminhos jamais explorados Procuram sabores nunca provados E experiências ainda não vividas Doce O suor denuncia que o inverno perdeu os efeitos O sabor da noite exala cheiros de amor Que pairam no ar das quatro paredes As pétalas colorem o chão de vermelho Lançam-se sobre os lençóis brancos Repousando suavemente um jovial encanto Silêncio Quietude 06/08/2009 4 Vitor Corleone Moreira da Silva


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Mãos que percorrem o corpo Dedos a percorrer o corpo Saboreando o gosto do desejo que arde Olhares que se quebram como taças ao solo E não resistem ao poder da sedução Os dedos sentem o sabor da carne E as unhas despedaçam a resistência Notas de violino semelham aos sussurros Um encanto jovem gotejando suor O cheio do amor exalando no ar Dedos que desvendam caminhos E percorrem estradas jamais percorridas Despertam sensações que não foram sentidas Exaltam o poder da sedução 12/08/2009

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Instinto Devoto a você todo o instinto De amor, aquele que sinto Para que ao seu bel-prazer se faça Conforme a sua vontade Talvez pela sua pirraça Ou suas mudanças de humor O que quiser fazer dele Porque o meu instinto é de pele Poreja em sua direção Escorre em meus lábios e mãos Enlaça o seu corpo inteiro Apossa, domina, festeja Adora quando você beija Reprova toda a solidão Carente prisioneiro se faz Quando a saudade bate à porta O meu instinto é de fogo E foge dos ventos do frio Por isso que só nos seus braços Encontra o refúgio da paz E a calmaria dos rios Um mundo cheio de brilhos O paraíso do amor 21/07/2008

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As coisas da vida Sou aquele tipo de poeta Que aprecia as coisas simples da vida Como a natureza, a noite, a aurora O cotidiano, a paixão, a fé inabalável A conversa agradável dos amigos Uma roda de samba, a seresta, o amor incontido A família, as maravilhas do universo O nosso futuro, e o que já se passou Palavras – um reino onde tudo é possível Ações – o inevitável que promove a realização Porque a vida fica, e quem vai sou eu Que as palavras sejam o remédio e não a chibata E que as ações sejam sábias e cheias de amor Como o criador das coisas simples que aprecio 25/09/2002

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Portas fechadas Eu aprendi a não desistir Foi a vida que me fez forte desse jeito Oh! Quantas portas fechadas Bem me lembro, muitas portas Eu já andei bem cabisbaixo Com o rosto desfigurado Lábios segurando a guimba Mãos dentro do bolso do Jeans Olhos fixos no jornal caçando emprego Oh! Quantas portas fechadas Bem me lembro, tantas portas Quem fechou todas as portas? Insisti em bater Persisti em procurar uma porta que se abrisse Fechado, sem vagas, experiência É só o que sabem dizer? É só o que sabem escrever? Pois eu sei fazer muitas coisas O mundo verá como sou bom nisso Oh, se verá Quando eu conseguir abrir uma porta Ou quando a porta se abrir para mim 15/08/2001

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Aguardente de sonhos Em meu caminho o empecilho Levou dos meus olhos o brilho Por causa de alguns fracassos Perdi toda a juventude Eu fiz o melhor que pude Gastei a força dos meus braços Nas palavras de criança Pensava que a minha vingança Era crescer, que enfadonho Por dias nublados passei Chegando em um bar me entreguei Famosa aguardente de sonhos Sem nexo, sem um destino Eu que era só um menino Cujo brilho foi roubado Fiquei, e a hora se passa Sou eu e minha velha pirraça Brindando o fracasso passado 25/04/2001

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A próxima hora A aurora O dia já quer nascer Tanto tempo, passa o tempo Vai-se o orvalho, vem o vento O galo sacode as penas Vai o tempo, vai a lua E mais ilustre ainda Vira a Terra em torno de si Abalada Explosão da próxima hora A aurora A aurora barulhenta Que traz o dia Um nascimento Em dulçor Em fantasia A aurora Aurora porque o sol vai brilhar no céu A colméia que produz o mel Mais ligeiro que a próxima hora O tiziu cantar no mato A lebre saltar no campo A fonte que alimenta os cardumes Doce, tanto quanto um beijo Alva, como o branco queijo Ligeiramente clara Alegremente A aurora 20/07/2001

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BH BH Que é bonita Que é grande E me faz sonhar De meus versos BH Que é inspiração Que é jardim Cidade de montanhas Que tocam o céu Suas ruas bordadas De carros e casas Seus bairros traçados De prédio e luar BH E faz justiça Ao seu nome O horizonte é lindo Cheio de belezas E carícias naturais E meiguices De carro e casas bordadas Suas belas ruas, nuas Que se cobrem de passos De pessoas que vem De pessoas que vão De meus sofrimentos, BH De minhas alegrias, BH Em poesia fulgura Sob a luz da lua Cheia de arvoredos Como o céu de estrelas BH 22/04/2001

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Passos negros Estão todos ocupando suas funções E no canto a marmita embrulhada Comentando o último jogo da seleção Carregando vigas de uma tonelada Assalariados Mal representados Explorados Mal pagos Abandonados Comentando o último jogo da seleção Cada um realizando sua função Uma piada – o sorriso onipresente E no canto a marmita embrulhada Na memória os versos de um repente A nostalgia A alegria Mais um dia A magia A fantasia A fantasia é só um conto de criança O cimento é o sangue da construção A tinta a maquiagem que torna a pele bonita E no canto uma marmita embrulhada Do trabalhador Do pintor Do construtor Prova do poder do capital Quando toca o sino Anuncia o horário do almoço Esfomeados 12 Vitor Corleone Moreira da Silva


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Tão apressados Enfileirados Cada um abrindo sua marmita Quando toca o sino Cada um retorna à sua função Chega ao fim outro dia Vão embora e deixam mais construção Cheiro de tinta secando Pedras molhadas, suor, gesso Levam nos braços a marmita vazia Levam no bolso o ordenado Pensando em construir Enquanto se amontoam no interior do ônibus Assalariados Mal representados Injustiçados Explorados Mal pagos Abandonados Cansados Comentando o último jogo da seleção 20/07/2001

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Taça de cristal Repousa ao solo Os estilhaços da taça que a pouco mergulhou Os meus dedos já são fracos Já não podem sustentar o vício Tudo o que fiz foi pela aventura A procura pelo desconhecido Nada conquistado tinha mais importância Do que o que poderia ser ainda conquistado Rude, desvencilhado Espelho daquela taça de cristal Minha imagem Mergulhando como fruto da mangueira Dói a sensação de não ser nada Na reflexão profunda Vejo no chão cristalizados homens Dos amigos, das atitudes dos amigos Dos inimigos, das atitudes dos inimigos Um soluço vaga no ar sem resposta Sou um velho Não preciso de conselhos Vou morrer logo Não preciso de auxílio Não me preocupa nada É uma pena Era uma taça de estimação 18/01/2002

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Noite só Noite bonita lá fora A luz fluorescente da lua Derramada nos muros brancos Esse cortiço é mais bonito à noite Se eu tivesse uma namorada Queria passear nas vielas Olhar o horizonte da cidade Estrelas cintilando o espaço negro O sereno e o silêncio inquebrável Se eu tivesse uma namorada Mas não há O vento carregando perfumes A brisa acordando amantes Quietude Muros brancos iluminados E fico a observar coisas simples Um suspiro Uma música Lembranças de uma poesia E eu aqui olhando a lua Poetizando Fazendo a hora passar Se eu tivesse uma namorada 28/02/2002

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Gritos que morrem Nós somos todos os gritos que morrem E não sentimos o frio do inverno Nós somos choro dos rios que correm Somos páginas de um livro eterno Nós somos todos o alvor da alvorada Ouvimos ‘ângelus’ na prece que ecoa Somos o vento que corre na estrada Somos o eco da ave que voa Nós somos gritos, lendas sem corpo Nossa existência é o nosso segredo Nós somos gritos, vozes sem rosto Somos mistérios e não temos medo Somos barulho e sonhos e fábulas Somos a voz do que tem sangue quente Somos o pano ou os meros retalhos E o retrato de toda essa gente Se lá ao longe há um triste gemido Que ecoa, voa, e dói Se há um grito disperso, perdido Há o grito que produz e destrói Somos o grito de choro ou de riso Somos a angústia do adoecido Pranto do inferno, canto do paraíso Somos o grito, sussurro ou gemido Somos os gritos que morrem com o tempo E não deixamos o mundo calado No forte estio ou na estação dos ventos O grito ecoa pra todos os lados 16 Vitor Corleone Moreira da Silva


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Nós somos todos os gritos que sofrem E o sofrimento é o respirar da vida Nós somos todos os gritos que morrem E viajamos no bailar da brisa Nós somos todos o som do oceano Somos o fogo, a terra, o céu Onde há vida, nós gritos estamos Nos versos, nos lápis, papel E não temos medo da morte Pois os gritos são sonhos que correm Renovação, um canto de sorte Nós somos todos os gritos que morrem 28/06/2001

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Fim de tarde na rua Balneário O fim de tarde na rua Balneário É consumido pelas brincadeiras O futebol e o vôo dos pombos E o sol se escondendo no horizonte Um tronco sobre a calçada Onde os bêbados confraternizam Todos os dias no sol poente Provando um copo de cachaça Moram na rua Balneário Povos de diferentes países Os japoneses já se retiraram E até Hilarina recolheu seus passos O Christiano não largou da pipa Nem namorados se despediram E a noite vai caindo A tarde morre na rua Balneário Na melodia da igreja As brincadeiras terminam Até o Tiago já se foi pra escola E a tarde morre na rua Balneário 30/06/2001

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Sem título Tem horas na vida em que não há vida O coração fica sem saída O choro não hesita em rolar dos olhos Tem horas onde a solidão é o refúgio e consolo Para que não sejamos alvo de olhares penosos Que somente servem para magoar mais Tem horas em que queremos curar uma ferida E horas em que precisamos desabafar Somos todos filhos da eterna paixão Às vezes chora o coração E ficamos sem saber o que fazer Se vai embora uma pessoa Que se tornou tudo e muito mais que o próprio tudo Tem horas em que não há espaço Pensamos em morrer Quando um grande amor vai embora Despedaça sonhos que eram motivos de vida A saudade provoca fissuras amargas no coração Fica latejando na cabeça uma lembrança Daqueles sorrisos que talvez não voltarão Saudade Lábios rosados que não se vê mais o riso Plantados no jardim das lembranças 18/01/2009

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Minha morte Quando eu morrer Não quero lágrimas em volta de um caixão Com flores cobrindo meu corpo Se minha vida foi lutar pelo meio ambiente E a chuva que me agradou foi a que amparava à seca O ideal não morre Só o que é da terra se devolve Quando eu morrer Não quero tristeza por eu estar descansando E sim alegria e uma grande festa Nada de caixão pois a madeira é de lei E muitas vezes a lei não é o mais correto Deixe-a em forma de árvore E dê minhas cinzas para ela se alimentar Quando eu morrer Repartam tudo de valor que eu possuir Exceto aquelas coisas que eu valorizei Que não se compram com dinheiro E não tem valor comercial Mas que fiquem com quem poderá fazer bom uso Se esqueçam de mim e vivam a vida 01/05/2001

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Vida urbana Quero acordar um dia E ser servido de frutos maduros Ver os passarinhos cantando nas árvores E não ser somente mais uma silhueta no asfalto Não ter que dar o meu suor Por alguns meros trocados Que eu seja reconhecido Por aquilo que eu sou Não quero ter que agradar ninguém Não quero aquilo Não quero ser alguém Que os outros querem que eu seja Quero acordar tarde Sem que o despertador me avise as coisas Quero que haja alguém Esperando-me para dar um bom dia Não quero ser o primeiro a dizer Não quero ser somente uma célula No mundo globalizado onde tudo é coletivo As obrigações, os resultados, tudo Quero poder pelo menos um dia Soltar o grito entalado na garganta Quero poder chupar limão Fazendo barulhinho Quero andar desarrumado Sem que ninguém Olhe com desprezo pra mim pensando que Não tenho dinheiro Quero mostrar que tenho sentimentos E não sou um robô Não sou somente uma fonte de trabalho Não quero ser somente o braço Sustentando resultados de uma empresa Não quero ser 21 Vitor Corleone Moreira da Silva


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O carvão que move o trem Sem que o valor seja reconhecido Quero que alguém se preocupe Comigo Quero ouvir o meu som predileto Quero um almoço de verdade Quero deitar sobre uma grama extensa Quero esquecer Pelo menos um dia A fumaça desses automóveis O barulho dos sapatos no chão Os olhares dos robotizados Quero poder dormir tarde um dia Quero um dia sem preocupações Eu quero um dia Inteiro somente para mim Se possível Quero poder dizer meu nome Quero tomar um banho bem gostoso Deitar sob lençóis macios de verdade Sem me preocupar Em despertar no dia seguinte Eu queria um dia Eu queria um dia de vida 30/06/2001

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A serra assassinada Aquela serra que era bonita Que tinha um jacarandá no topo Uma mata robusta onde perdi minha pipa Assassinada A serra que era coberta Tornou-se uma serra desnuda Quando eu chegava no topo Abraçava num suspiro o horizonte Mas a serra não tem mais o cheiro de mato Pra onde será que foi o curió Pobre serra Quanto dó Pobre serra que morreu Antes fosse a canção mais bonita A que meus ouvidos escutaram ontem à tarde Rasgação de serrado, malha de fogo, ardência e só Oh saudade dos passeios, antes fosse A brisa que agora corre com cheiro de queimado Ou a rosa de perfume doce Oh vida, antes fosse Era uma visão bonita Pudera, eram muitas aves voando juntas A luza reluzia um feixe branco de luz Brando que seduzia a gente No caminho das árvores As borboletas todas as manhãs voavam juntas Quando o sol surgia no céu Uma vez quando eu estava lá A lua me inspirou a escrever A poesia mais bonita que eu já li 23 Vitor Corleone Moreira da Silva


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A natureza era perfeita e existia harmonia O coração batia forte O nariz respirava ar puro e fresco Antes fosse o alecrim mais bonito O que hoje floresce nessa terra Bem debaixo dos meus pés Era a mata da serra Resedás, dama-da-noite, lírios Rouxinóis voavam sobre ipês amarelos Orquídeas, copo-de-leite, rosas Tempestade hoje varre alegrias Porque tudo se tornou em cinzas Vergasta açoitou belos dias Fez do lucro horizonte da vista Reduziu mata densa a sertão Velha serra, só saudade Velhos dias, só vontades Lá no alto um edifício Velha relva, asfalto de pedra Olho a serra assassinada Pobre vida, pobre serra 21/06/2001

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É hoje o dia É Mais uma vez o manto azul Vestindo corpos dos guerreiros celestes Em mais um dia de vitória Mais uma batalha do guerreiro dos campos Sob os acordes o sacode que é terrível Bandeiras e foguetes Milhões de fanáticos juntos por um ideal Hoje o sacode É hoje o dia Em cada lance que imortaliza esses versos Onde o inacreditável acontece Onde o terrível mostra a sua força É hoje 28/07/2001

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Máquina de fabricar amores Foi inventada há poucos meses A máquina de fabricar amores Cada um pode ter uma Custa barato demais Você pode leva-la onde for Você pode pendura-la no pescoço Pode até guarda-la no bolso É fácil manusear Vem com manual de instruções Você quer saber mais? A máquina de fabricar amores É um invento multiuso Será vendida em todo o mundo Todos irão querer comprar É o melhor presente que há Funciona com pilha Com bateria Funciona até com gasolina Ou com tração de corda Se mesmo assim você não tiver dinheiro Pode carrega-la na energia solar Que é de graça Funciona na eletricidade também E com diversos outros combustíveis Você quer saber mais? Na compra de uma máquina Você leva de brinde e um cupom O brinde é uma caixa vazia Cheia de sentimentos E o cupom te dá direito De concorrer a um sorteio Uma máquina de fabricar carinho 26 Vitor Corleone Moreira da Silva


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E uma viagem ao mundo dos sonhos Com direito a acompanhante Você quer saber mais? Você pode comprar sua máquina Sem mesmo sair de casa Compre pelo telefone Ou pela internet no computador Os revendedores passarão Vendendo de porta em porta Vendendo de casa em casa As máquinas São um ótimo brinquedo E quem está com o nome no SPC Pode comprar assim mesmo Que o cheque é garantido Você quer saber mais? É um invento seguro Tem dois séculos de garantia Vai ficar para os seus tataranetos De herança Todos podem usa-la Todos podem comprar Será vendida em todas as lojas Todos deveriam possuir as suas Será vendida Até mesmo nos camelôs no centro É o melhor presente que há É fácil demais manusear Você quer saber mais? 29/06/2001

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Lar das traças Vivemos todos nesse lar das traças Somos um muito Quase um todo mundo Não temos carro importado Não temos casas à beira do mar Somos um formigueiro Perambulando pela terra ao redor da casa E o canto das traças Que roça as roupas É o que nos desperta todos os dias É o que nos faz perder o sono Somos mãos e pés e patas Guiando os atalhos da luta Somos cabeças e estômagos e bocas Sentindo as barreiras da vontade Nosso vinho é zurrapa Nosso indumento é o trapo Somos uma colméia A rainha recebendo privilégios E os súditos se matando por ela Vivemos todos nesse lar de vozes Vivemos todos nesse lar de olhos Vivemos todos nesse lar de dores E o canto das traças Que roça as roupas É a cantiga de ninar É nosso travesseiro que já está até fino É o que nos faz perder o sono E nos desperta todo dia Vivemos todos nesse lar das traças 26/06/2001

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O amor O amor é um risco Pelo qual correm os homens Quando vem corta o peito É o melhor dos defeitos De toda a humanidade É o mal necessário para viver Machucado que é bom de machucar Nunca tem preconceito Se for errado ou direito Só busca a felicidade O amor faz feliz Quando vem da maneira Mais sincera Faz do inverno e do outono Primavera De arco-íris a sentimentalidade Mas tem vez que o amor Só faz sofrer Nossa vida tem jeito de novela E a quem nunca – saudade Sofreu de verdade Atire a primeira pedra 11/12/2003

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Volta pra mim Você foi Meu presente mais querido Cobertor nas madrugadas Fostes o mel que me fez bem Coração de ouro Fostes lua Doce estrela Mas um dia te perdi Minha lucidez também E então A solidão viveu comigo Fiz do álcool meu amigo Só Deus sabe o que chorei Se ainda me ama Volta Não posso viver assim Conviver com a solidão 22/10/2008

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Morena Numa curva de estrada Conheci morena Bem mais feliz Vivi a vida ao lado dela No pensamento Sempre a imagem da pequena Sempre quero estar com ela Pra sorrir meu coração Apaixonados Só vivemos alegria O destino quis que fosse eterno Em cada beijo Despertamos fantasia Seu olhar já me contou Que a fiz mulher nos meus braços Nessa vida só o bem Desejo para alguém Que foi o sol que iluminou Meu coração Hei de amar Eu vou ser Amor eu juro De modo inocente, belo e puro Em cada hora Em cada dia O seu amor 09/08/2008

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Porta aberta A namorada Que deixou a porta aberta Foi embora encoberta Por desilusão de amor Homem de ferro Arrancou da inocência Um amor de inconseqüência De distância e de dor Riso garboso Conquistou os olhos belos Decretou, bateu martelo Esse coração tem dono E vai chorando E naquela mesma porta Lembrança passada e morta Vai chorar outro abandono E eu duvido Que quem fez sofrer bem dorme Tudo bem, nos seus conformes Sem remorso a magoar Aconteceu Fez sofrer e ficou só No final ficou pior Só por não saber amar 11/10/2008

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Realista O preço do arroz tá subindo O feijão não pára de aumentar Ái meu Deus o mundo ta perdido Não sei onde vamos parar Desemprego nos bairros é grande Muita gente virando ladrão Tem santo já se aposentando Muito pranto, clamor e oração O salário não dá pro sustento Me agüento com ele doutor Deus do céu...pra onde vai o dinheiro Com certeza não vai pra onde eu vou Mas tristeza eu encontro nas ruas Molecada implorando as esmolas Muitos deles são grandes talentos Só precisam de casa e escola A saúde – de mal a pior Nos seus olhos – insatisfação Chora, chora cidade perdida Chora forte pois tem coração A tristeza no beco ecoou Tem caboclo ao relento no frio O preço do arroz ta subindo E após a invernia o estio E após o estio o lampejo Desespero ecoou no chuvisco Deus do céu, vai cair o barraco Ser pobre é profissão de risco O jornal só me trás má notícia É incêndio, é maldade, assassínio Ser pobre é profissão perigo Provisão de dias de extermínio Ái doutor o mundo ta perdido É só guerra entre e plebe 33 Vitor Corleone Moreira da Silva


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Meu povo Se amanhã eu não despertar mudo Pode crer que eu vou cantar de novo Eu vou ter que cobrar a canção Nesses dias De dor e de espanto Me dá um Real pra eu cantar Que eu canto 13/10/2001

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Arco-íris de Mururoa As nossa águas tem a cor dos olhos negros As nossas matas tem folhagens de concreto É de concreto o gavião sobre os rochedos Como é de pedra o amor, o orgulho, o afeto Nosso arco-íris tem a cor da chama acesa Em tons brilhantes nesse céu cheio envenenado É de concreto o pão e o vinho sobre a mesa E de concreto são as folhas no cerrado Contaminadas são as águas do oceano E os peixes brilham irradiação Nós somos vítimas do experimento humano Que fez de pedra urubu-rei e azulão Nosso arco-íris tem a cora da chama acesa E seu brilhar é voz que na terra ecoa É de plutônio o remédio da nossa tristeza Nós somos pedras no atol de Mururoa Nosso trigo é regado com gasolina Nossas casas são feitas de ossos humanos Nossos temperos fazemos com cocaína Somos um nada nas águas dos oceanos Nosso arco-íris tem a cora da chama acesa Nossos relógios – de bateria nuclear Desafiamos a força da natureza Esse é um erro difícil de concertar Nós somos todos a rocha de Mururoa Somos a mancha na história da humanidade Não temos vida e nem mesmo somos pessoas Nós somos pedra e só pedra na realidade 35 Vitor Corleone Moreira da Silva


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Nosso arco-íris tem a cor da chama acesa Os nossos olhos têm lágrimas nucleares Nosso arco-íris é fogo, é luz, é tristeza Encontra a morte dos peixes em nossos mares De nossa soja extraímos doce petróleo O nosso sopro resulta em combustão Mercúrio puro é a íris em nossos olhos É de concreto a pele de nossas mãos Nosso arco-íris tem a cor da chama acesa A cor do fogo, lembrança de eras boas Fotos antigas, da plebe e da realeza Nós somos pedras no atol de Mururoa 29/06/2001

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Relato do lírio negro Serei visto como louco Se o resto do mundo Cismar com isso Se seis bilhões me acham cego Como poderei provar que não sou Seis bilhões me acham maldito Como provar o contrário Serei visto como errante Se possuir muitas lembranças Se eu fosse a verdade e a virtude Como poderia um só Converter seis bilhões Se são eles que fazem leis Quem me assegura justiça Se seis bilhões acham certo Viver de ensinamentos profanos Como irão aprender de um só lírio Se seis bilhões quiserem cachaça Como venderei refresco de limão Se seis bilhões acham que o prazer Da carne, do sangue, dos olhos É virtude, é bom, faz bem Serei chamado de idiota Se não pensar como eles Se eu não for como eles Os seis bilhões que me rodeiam A maioria à minha volta Quem serei Eu sou o lírio negro No meio de seis bilhões De lírios verdes 20/06/2001 37 Vitor Corleone Moreira da Silva


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Perseguição Quando deixo para trás exclusões E tento caminhar sorrindo Vejo que o a divisão não morre Que vive a perseguir Até mesmo na água barrenta Vejo a face do que foi o abandono Nem lamenta meu corpo de porre Nem execram, meus olhos com sono E quando encontro o cenho imortal Do sofrer racista que por aí deixei Desperto minha sentimentalidade Tanto mal, tanta dor suportei Perseguido, sofrido chorei Não de amor, mas de dor, sem igualdade 03/04/2005

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O sambinha na roda da morte O maconheiro só quer samba O playboyzinho só quer samba Na rodinha os capoeiristas E os lutadores de TaeKwonDô Ta todo mundo curtindo esse samba Até os traficantes do morro Tem cadete na roda de samba Tem rameira e donzela também Tá todo mundo no embalo do samba O advogado, o juiz e o ladrão O surfista e o salva-vidas Até o publicitário Tá dançando na roda de samba Também tem os monges do Kung Fú E os samurais do Karatê Que vieram de longe pra ver O que era uma roda de samba Tem neguinho no samba E tem Ariano também Tem oficial das forças armadas Tem torcedor do Flamengo e do Vasco Tem torcedor do Cruzeiro e do Galo Tem torcedor do Curintia e do Verdão Tem Gremista e tem Colorado Ta dominada essa roda de samba Tem funkeiro na roda de samba E tem tocador de gaita Tem tenor italiano E tem mafioso da Sicília Tem os reis de Corleone Que são poderosos chefões Tem criança dançando no embalo Ta todo mundo na roda de samba Os mercenários do oriente médio 39 Vitor Corleone Moreira da Silva


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Que querem a redenção do pecado Mesmo que a base de explosão do pecado Deram folga pra guerra de lá E vieram curtir esse samba Tem poeta do morro no samba E tem poeta da zona sul Um escreve pra caralho E o outro é filho de um senador Tem mocinha mimada dançando E favelada do mais alto escalão Os roqueiros também estão no samba Os ex-presidiários e os policiais Os cachorros e os açougueiros Tem australiano no samba Esse samba tem gente demais Esse é o samba na roda da morte Que não tem letra nem muita beleza Sem melodia E com muito barulho Que é tocado em qualquer esquina Esse é o samba Tocado a qualquer hora do dia Esse é o samba na roda da morte Esse é o samba da falta de sorte Esse é o samba do medo e terror Esse é o samba da bala perdida Esse é o samba do corpo encontrado Ta todo mundo pulando E cantando No embalo da roda de samba 30/06/2001

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Estrela azul Eu procuro minha estrela no céu O mais azulado de todos os astros Que me deu de presente o azul de seu rastro Levou para o espaço meus pensamentos Eu procuro minha estrela no céu Mesmo não sendo uma estrela cadente De brilho povoar o meu mundo sem gente Para trazer alegria ao meu sentimento No céu de incontáveis estrelas Sempre busco a mais bela e azul Esteja em Touro ou CRUZEIRO do Sul Ou qualquer outra constelação A estrela que eu quero encontrar Deve ser amável, mais doce que o mel Eu procuro minha estrela no céu Para consolar, minha solidão 30/06/2001

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Bandeira do Brasil Régia força nos conduz Auriverde, branco e anil Mas por que é tanto o verde Na Bandeira do Brasil É o brasão da esperança Do infante e do senil Mas por que é tanto o louro Na bandeira do Brasil É tão grande e poderosa Esperança pueril Mas por que é tanto o céu Na bandeira do Brasil Régia bela respeitada Pelo olhar feminil Mas por que é tanto o branco Na bandeira do Brasil É a história tarimbada Do que foi o pau-brasil Mas por que há tanto corte Nessas matas do Brasil É um verso suspiroso Sonho belo, singelo e sutil Mas por que tanta pobreza Nas ruas desse Brasil Nossa representação Que o mundo inteiro viu Mas por que balas perdidas Sobre o céu do meu Brasil 42 Vitor Corleone Moreira da Silva


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É a face da esperança Do velhote e do infantil Pura, grande e gloriosa A bandeira do Brasil Não há outra mais bonita Auriverde, azul, anil Mas por que discriminar O povo do meu Brasil Tem que haver maior justiça Luz do garbo juvenil Porque não tem cabimento Sob o meu entendimento Fome e exclusão Sob o chão onde há a sombra Da bandeira do Brasil 19/06/2001

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Paixão pelas rosas Quando as rosas florescem Sob resoluto orvalho E exalam o airoso perfume Odor que provoca ciúme No criador de fragrâncias As rosas trescalam O olor se torna ubíquo Aos ventos floreia Nas noites, nas luas cheias O vinco no rosto desfaz As rosas silentes Abrem-se como liquido mercúrio Derramado sobre o chão Aflorando a sensação De vida, sem dor ou perjúrio A vida é viva quando é bela E quando vejo o vergel florido De estulto me torno sábio O sorriso denota os lábios Liberta-se a paz reprimida Rosa no meio dos verdes Rosa bonita no roseiral Aberta, semelhante jasmim Perfumada, mais que o alecrim Silente Maria-sem-vergonha Floreada de folhas e ramos Sorrindo para a alvorada Pétalas de orvalho pingadas Secando-se ao sol nascente Tulipas 44 Vitor Corleone Moreira da Silva


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Mastruço A cura pela admiração Esperanças que duram Sonhos que voltam No meio da roseira Olhos que não possuíam brilho Refletem o verde dos lírios E se encantam com os frutos Da laranjeira cheia Lírio branco Espelho da alma Puro, tal qual o loureiro Lá no campo a açucena Bailando, parece que acena Para a vida e a saúda Arbustos esverdeados O pensamento nos dias futuros As reflexões do passado Os prazeres do presente Jamelão Jambeiro coberto de sonhos corados Alegria nas belas gardênias Contagia O choro e a dor são incertos No toque das rosas Sente-se o líber Maracanã, amigo da natureza Rosas são crianças da terra Ressuscitam esperança Dão beleza Felicidade da jaçanã O arbusto lutando contra os galhos As pétalas bonitas da resedá 45 Vitor Corleone Moreira da Silva


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Lírio segurando o orvalho Magia imensurável Luz, alegria, vida Primavera quando chega É assim Lírio por todos E todos pelo alecrim Ninguém por mim E todos pela margarida Quando as rosas florescem Sob resoluto orvalho E exalam airosa fragrância A vida é uma eterna infância Nas flores, nos frutos, nos galhos As rosas trescalam O perfume é ubíquo silente A manhã que clareia Perfumada e tão cheia De pássaros que voam e cantam Trazem coisas boas pra gente 25/05/2000

46 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Fim de tarde Quando passa o entardecer dos dias Sob o frio do vento do leste Roçando as rochas sombrias A seara, as nuvens de peste Vênus brilhando no horizonte Anuncia que o dia se vai O sono dos peixes na fonte O orvalho que nas noites cai O sol se escondendo no monte Deixa a noite jorrar o desejo A lua lá no horizonte Amantes trocando beijos Sob o abraço dos ventos As luzes da cidade acesa Devota saudade quem sofre Lembrando de anos dourados Faces garridas de amor Flechas pingadas de dor Flores cobertas de cor Luzes, pessoas, namorados E o sol se esconde no alem Deixa a noite cobrir de desejos Sereno e brisa também Amantes trocando beijos Vento passa por entre pinheiros Anuncia a chegadas dos astros Aves cessam o cancioneiro Lobos iniciam os passos Momento peremptório de frio 47 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Orvalho cai no chão A brisa sepulta o estio O silencio é o fim da canção O sol se esconde da rua A noite desperta desejos No céu a imagem da lua Amantes trocando beijos A vida se contorna E quando a alegria retorna O sonho inacabado aparece Aventura preenche o vazio O sonho, nas pistas de dança Sonho que vem sem querer A luz da lua, o frio A vontade de viver Os desejos de prazer E o sol se esconde, enfim A noite provoca desejos A lua, amante de mim Dá abraços, carícias e beijos 03/06/2000

48 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Relatos da guerrilha Todos os países estão em guerra Volta e meia Passam tanques pelas ruas da cidade Não há mais a paz na terra Ninguém se recorda do amor e amizade Ninguém sai mais de casa Sem ter nas mãos um fuzil carregado Que restou das flores? Cravo e rosa em brasa Que restou do campo, sertão e cerrado? Saudades dos dias de paz Cirandas de roda Saudade Não restaram risos na minha cidade Não restou amor, de algum tempo atrás Hoje a guerrilha consome os dias Muitos homens, muitos alvos plebeus O sangue encharca alegrias Que restou dos sonhos? Lágrimas a Deus Se passa um míssil incendeia toca Lançam granadas, retornam torpedos Por necessidade é que supero os medos E as cenas tristes me fazem chorar Se passa um tanque bombardeando Os meus olhos seguem onde quer que vá Sob meus pés uma flor murchando Lançando bombas navios no mar Se passa um míssil recortando os ares Se passa um bote recortando os mares Se passa um tanque estremecendo a terra Resistência é o trabalho da vida Muitas nações foram dizimadas 49 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

A alegria foi assassinada Poucas cabeças, muitos bonés Poucos pintores, muitos pincéis Barulho de espadas A liberdade aprisionada Satélites caindo no chão Paz e alegria – que bem – que saudade Não restou na terra o amor entre irmãos Que restou dos versos de antiga canção Que restou das juras de amor a amizade Que restou dos risos da minha cidade Se acendo vela, lágrimas apagam Muitos soldados em cima do monte Aviões voando no alvo, na mira Dias de paz – que saudade Pisam-se os galhos e granadas acionam Os filhos morrem e as mães se emocionam Dias de horror, parece mentira Dias de amor, que saudade Serenidade, conto infantil Que as crianças não escutam mais Quando reina a guerra, quem conta é o fuzil Não há mais beijos, não existe paz As moças rezam, as almas choram Os pequenos aprendem a atirar Viúvas choram, almas penam Sujam-se de sangue as águas do mar Relatos da guerrilha Essas letras são minhas filhas Restaram da chama de uma fogueira Só vejo mortes e o sol não brilha Guerra nos campos, guerra nas ruas 50 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Noites de fogo, não surge a lua Com vergonha do horror da terra Passam barcos cheios de soldados Disparando tiros, levando reféns Os povos estão condenados A se destruírem e não restar ninguém Ouço tiros, não assusto mais Só vejo mortes nessa guerrilha Eu queria a vida, eu queria a paz O mundo de antes era maravilha Vozes ecoando na mata Fuzis e o poder do fogo Tristeza, uma vida ingrata Pessoas disparam contra o próprio povo As palavras chorosas saindo dos lábios As feridas são como troféus Não há alegria, só refugiados Só há morte escura, só há fogaréu Quando dormimos Pensamos que não iremos acordar Se o sono não vem Já não importa Se existem risos dentro de mim Eu não acredito Eu não acredito Se existe esperança, revela cidade Pois não há futuro para a mocidade Se disserem que a paz Que a paz vem vindo Eu não acredito Eu não acredito Feridas 51 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

De rifles que a tudo acertam De pessoas que sempre erram Perdidas seguindo ideais Perdidos de armas na mão Seguindo adiante Tiros vindos do horizonte Pessoas marchando para morrer Se tiverem sorte, sem sofrer Perigos Caças cruzando o céu Feridos sendo carregados Enfermarias onde estão os fracos Se recuperando pra voltarem, bravos Para novamente serem fácil alvo Nas manhãs de chuva Cheiro de terra Barro, pessoas rastejam Retaguarda cheia de cavalos Cavaleiros empunhando a morte nas mãos Saudade dos dias de amor Pessoas se matam sem um motivo Não há laurel em se estar vivo Pra viver assim era melhor morrer Do jasmim do campo nada restou E o som dos tiros é triste canção Até mesmo a rosa no campo murchou Ou se acaba a guerra Ou se acaba tudo Cada vez que relato o meu corpo chora Um suor vermelho regado de sangue O que escrevo é triste, a paz foi embora O papel manchado, o corpo exangue 52 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Rios cheios de corpos e sangue Fontes misturadas com lágrimas Pessoas sujas de óleo E a dor estampada em cada rosto Armadilhas e mais armadilhas Mortes por todos os lados Que maravilha... O mundo antigamente Que maravilha – cantava o passarinho Que melodia – canções cheias de carinho Que simpatia – os adolescentes Que nostalgia – dias tão distantes Tristeza, guerra, e só Relatados em papel sujo de sangue Queria ver risos nos lábios de alguém Sorriria junto, seria demais Coragem que desperta por dentro Apenas para continuar resistindo Mas a vontade de quem vos relata Era reviver um dia de paz 27/06/2001

53 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Queria ter você por perto Toda noite no meu quarto Eu penso em você Só você não sabe que eu te quero Queria ter você por perto Para fazer você feliz e ser também Eu finjo alegrias em poesias Que nada dizem E prometo palavras que nunca se cumprirão Conto as horas Passa o tempo e eu sozinho Recordando sorrisos e olhares As horas mortas silenciosamente passam Não consigo dormir Queria ter você por perto Para me sentir alegre Pelo menos um dia Coração Bate esperançoso por momentos que não existem A lucidez foge dos olhos Queria ter você por perto Queria... Não existiriam lágrimas A noite não seria tão fria A minha vida vazia Se encheria de amor Dias que jamais virão Restando sonhar e devotar em palavras O que a carne não pode viver Queria ter você por perto 21/06/2008

54 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Sem título Tristeza é dor que mata e não perdoa Os erros cometidos por quem ama Tristeza é dor que chega e apaga a chama Dos olhos tira o brilho e faz sofrer Nos olhos forma o céu e a lagoa As lágrimas que rolam sobre a face Tristeza é dor que morre mas renasce Mais forte e com vontade de vencer Vencer quem ama e pensa estar perdido Vencer quem sofre e sente-se oprimido Ou quem está nas mãos de quem magoa Tristeza é dor que julga e só condena Aos olhos só castiga e envenena Tristeza é dor que mata e não perdoa 22/01/2004

55 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Sem título Às vezes me olho no espelho E percebo a minha beleza Cada curva do meu rosto é bela Minha expressão facial Lindo e perfeito homem Sem exagero afirmo Que eu sou um homem lindo e provocante Os detalhes do meu corpo Com tal sutileza desenhados O sorriso é o ápice da perfeição Os olhos têm a chaga da chama acesa Os fios de cabelo Fios de seda ou como águas Que caem na cachoeira Me amar, gostar de mim Necessidade básica da felicidade Pergunto ao espelho se existe Alguém mais belo do que eu E ele responde sorrindo Sou eu, sou eu, sou eu 17/01/2004

56 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Sem título Olha só pra mim sem gosto e sem vaidade Olhos mergulhados no vazio do horizonte Sou como a criança debruçada sobre a ponte Procurando o brinco que afundou no riachinho Chagas no meu corpo maltratado de saudade Calvo de esperanças, de razão e de prazer Cheio de desejos que não podem acontecer De doar meus beijos, os abraços e carinhos Uma chuva de lágrimas sob meu olhar Lavando delírios que não podem sanar Essa sensação que só me faz sofrer Olha só pra mim sem sonho e sem vontade Fingindo alegrias, retocando saudades Olha só pra mim sem vida, sem você 17/11/2008

57 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Destino de quem ama À meia noite a solidão Convida para sofrer Todo dia sem você Do meu lado em nossa cama Com a luz do quarto acesa Eu escrevo poesias Relembrando nossos dias É o destino de quem ama O destino de quem espera Você, bem mais do que tudo Sem você não há alegria Labirinto de desejo E agora você já sabe Pára de ler esses versos Não olha com esses olhos perversos Vem cá Me dá um beijo 22/06/2008

58 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Você e eu Olha só você sozinha E olha só pra mim tão só Se a distância não se opusesse A vida seria melhor Quem dera que você quisesse Estar comigo aonde eu for Seria a chama que te aquece Chegado o inverno o cobertor Mostraria-te o bel-prazer O supra-sumo do querer Que até então não percebeu Eu daria um beijo doce Ah! Quem dera que fosse O amor maior: você e eu 20/03/2008

59 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Sem título Você e eu Somos iguais o sol e a lua Iluminam as mesmas ruas Mas não podem se encontrar Gostamos de tantas coisas De histórias e de poesia Da relva e da luz do dia Colorindo todo o mundo É difícil ser assim Se você tão longe sabe Que eu quero estar contigo Mas se esconde de mim E a tristeza é dor que cabe Em lugares escondidos 05/01/2008

60 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Humanóides A existência em sociedade e valores A ética E comportamentos sociais pré-determinados A assimilação das leis e dos ensinamentos Justiça O certo e o errado, a conduta O amor e o ódio, a perfeição e o erro grotesco O falar e o ficar calado O fazer e o deixar de fazer Ta, mas e aí? O que eu tenho a ver com isso? O que temos a ver com isso? Pra começar, pra que? Por que inventaram a lei? Por que inventaram a regra? Quem inventou estava certo ou errado? O que é o erro e o acerto? O que é o tudo e o nada? O tempo? As horas? Os códigos de conduta? Sim...vão me responder Para que as pessoas tenham conduta E não cometam o que é errado perante a justiça Tudo bem...falaram, mas e aí? Por que? Pra que? O mundo... A sociedade... 61 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

A correção... O certo e o errado... A lei... Isso... Aquilo... Conceitos... Me defendo dizendo que dane-se tudo isso Eu quero saber o que sou eu O que é esse mundo e o que é tudo Pensamos que esse planeta mixuruca é algo valioso Mas não é nada É um planeta minúsculo Uma gota do universo E nesse contexto O universo é o oceano Seus humanóides Ciência...tecnologia...matemática... Os estudos da física... E aí? Vai pra onde a afirmação? Vivemos e nem sabemos o que somos Como somos Somos por que? Estamos por que? Para que? E o que vai acontecer conosco? No meio de um universo Que nós nem sabemos o que é Fazendo-nos de valores que seguimos Só porque alguém um dia disse que isso é o certo E se amanhã eu sair pelado na rua? Vou ser preso... 62 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Ta, mas e aí... Vou ficar preso em uma cela pequena e suja. Ta, mas e aí... Dirão que eu fiz algo errado... Ta bom, mas e aí... Para quê? O que alguém vai ganhar ou perder com isso? A poeira de estrela continuará no mesmo lugar A distância é algo longe para nós insignificantes Daqui até no sol são poucos metros de distância E um cometa que se diz gigantesco, é apenas poeira É gigante porque forma uma enorme cratera Em um minúsculo planeta Cheio de humanóides e outros óides Que não são humanóides É pequeno demais o valor Porque quem dá o valor nem sabe o que é o valor Achamos que a lei é certa e que errado é o crime Mas lei e crime não são nada Nós somos tão insignificantes Que nem sabemos quem somos nós Por que andamos ao invés de rastejar? Por que comemos? Por que nos vestimos? Por que não voamos... “Porque não temos asas”...dirão E quem foi que disse que tem que possuir as asas Para voar? Quem determinou? Quem estabeleceu os conceitos de como fazer? Por que somos? Fazemos sexo Reproduzimos 63 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Vestimos roupas de pano Mas eu mudo de nome se alguém souber o que É o pano Bebemos água Cagamos Ta, aí alguém vai falar que é nojento colocar isso Numa poesia Eu digo apenas que se dane E pronto Isso porque a poesia é insignificante Aliás tudo é insignificante Nós todos somos insignificantes Tudo é insignificante Para nós que somos insignificantes é importante Um carro elegante Uma roupa caríssima Um estilista para criar as roupas da estação Uma mulher gostosa ou um homem lindo Dinheiro, luxo, fama Ta, mas e aí... Humanóides Que nem ao menos sabem o que são Num planeta medíocre perdido em uma galáxia Mais insignificante ainda No meio de ‘trocentas’ galáxias Fala sério É como se a galáxia da via Láctea fosse Uma formiga no meio de um formigueiro E esse formigueiro estivesse em um jardim E esse jardim se localizasse em uma praça E a praça pertencesse a um bairro O bairro seria o menos populoso de uma cidade E a cidade a menos populosa do estado O estado o menor do país De um planeta pequeno 64 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Cheio de humanóides e outros óides Que são chamados de animais E plantas E pedras E água E ar Segregação racial O preto diferente do branco Idiotice...conceito de humanóide inferior Uma faca abre você no meio e o que vai ter dentro É carne da mesma cor As suas fezes têm a mesma cor e a sua urina O cabelo da sua cabeça nasce preto E morre branco Você tem o mesmo bago do outro E o mesmo anus A sua barba cresce igual à do outro Você fede do mesmo jeito que o preto fede Poucos minutos depois de morrer O fedor é o mesmo E se acha superior Ta, mas você sabe o que você é? Sabe como foi criado? Sabe o que pode acontecer Com a galáxia a qualquer momento? Com as galáxias ao mesmo tempo? Com você? Carros, máquinas, fábricas, prédios... Para nós que somos insignificantes Humanóides São coisas extraordinárias Ta, mas sinceramente Dane-se tudo isso

65 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

“Ái, que coisa feia, esse cara falando palavrão” Falem alguma coisa que eu ainda não sei Me digam quem foi que disse que amor é elogio E merda é palavrão Me digam quem é o dono da verdade Quem afirma baseado na diretriz universal Que sexo é profano E que amor é celestial Humanóides Que nem ao menos sabem o que há Na galáxia mais próxima A não ser o que fala Quem diz que já foi na lua Através do que observa Num olho de vidro que tem décadas de idade E não pode ver o cometa mais medíocre Se aproximar da terra E ser visto na noite do sertão Onde o céu é mais visível Por causa da poluição que é menor Humanóides Que usam roupas para esconder pipiu e perereca E olham isso a todo tempo na internet Nas revistas Ao vivo E pensam nisso uma boa parte do tempo Até mesmo quando o momento é inconveniente “Nossa! Que cara mais nojento”, dirão Sei, e daí? Qual a diferença entre a lavagem Que os porcos comem E o caviar? O champanhe? 66 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

O escargô – nem sei se é assim que escreve esse isso Ta, mas voltando ao assunto... Qual a diferença? Alguém vai dizer que a lavagem é o resto É a sobra, é o nojento E o escargô é o luxo A limpeza, o padrão Na boa...o escargô na verdade É líquido, e cálcio, e gordura, e proteínas Fósforo, vitaminas, zinco É uma coisa mais conhecida como lesma É caro para se comprar Ta, mas na verdade Quem paga caro no escargô Ta pagando o mesmo material genético da lavagem Que é líquida, tem cálcio, gordura, proteínas Fósforo, vitaminas, zinco Tem tudo que tem no escargô Mas os porcos não gostam de comer escargô Porque acham a lavagem mais saborosa E menos melequenta No estômago de quem comeu o escargô Vai ter algo parecido com a lavagem Duvida? É só vomitar para comprovar Humanóides Que vivem a riqueza E nem sabem a composição universal do prazer Não estou falando de prazer da carne Porque a carne na verdade É apenas uma reles composição química Simples e insignificante Resultado de uma experiência genética do tempo O crescimento de uma ameba que evoluiu 67 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Humanóides

Bebeu cerveja Ficou bêbado Dormiu na rua Tá, mas e aí? É feio Por que? Fez cocô na calça... Fez xixi na roupa por não agüentar... Sei, mas e aí? Quem foi que inventou a feiúra e a beleza? Quem foi que disse o certo e o errado? Os conceitos são seguidos por conveniência É o teor da disciplina...seguir O que já estava determinado Quem vai provar que em algum lugar No meio do universo desconhecido Humanóides assim como esses Aplaudem o indivíduo bêbado “Quê...extraterrestres não existem...”, afirmam Tá, mas e aí? Terra é um planeta Planeta igual a outros planetas do sistema solar Redondos, girando em torno de um sol Planetas que pertencem à Via Láctea Via Láctea é uma galáxia Conhecemos algumas galáxias Não conhecemos bilhões de galáxias Galáxias que possuem planetas Planetas que giram em torno de sóis Planetas que são redondos E possuem óides que não são humanóides Ou talvez até sejam humanóides 68 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

O que aconteceu aqui nesse planeta Pode ter acontecido igual em outros planetas Disso não tenho dúvida Só não afirmo que são iguais Humanóides Presos a conceitos que seguem apenas Porque os pais seguiam E os pais dos pais E os pais Morar dentro de uma casa Comprar móveis Pagar a conta de água e de luz A conta de telefone Comprar comida Namorar Haver a necessidade de beijar De abraçar e de fazer amor De onde veio isso? Quem inventou? Por que tem que ser assim? Doenças... A AIDS que mata é vista como algo de outro mundo Mas tudo mata, até mesmo o ar que respiramos Ele mistura radicais livres dentro de nós Tudo mata até a vida Nos mata com o passar do tempo Então por que agir com desprezo? Afastar? Medo como se o aidético estivesse doente. Homossexuais Preconceito e receio 69 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Por que? Só porque gostam de pessoas Do mesmo sexo Você homem gosta de você e se admira no espelho Você ama as curvas do seu corpo E se possível fosse casaria contigo É natural que outro homem admire Além do seu próprio corpo O corpo de outro humanóide Humanóides Que nascem Crescem Trabalham e descansam Descansam e trabalham A manutenção do planeta E obtenção do direito de se manter O que é a vida? Por que estamos nesse planeta e como fomos criados? O que vai acontecer com a galáxia? O que vai acontecer conosco? Até que ponto somos vulneráveis? E até que ponto a vulnerabilidade Pode ser considerada uma defesa Ou ameaça? Somos apenas fungos infestando um farelo de pão E nada mais.

19/02/2007

70 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Reconciliação Nos desencontros nos encontrávamos amando De momentos curtos fazíamos eternas horas Por que parou, se era um sonho real? Por que morreu, se o amor era imortal? Nas madrugadas recordo seus olhos tristes Dizendo adeus, dizendo e partindo O que deveria ser não foi e o sonho se interrompe Deixa rolar dos olhos uma chuva de saudade O gosto do batom nos meus lábios trêmulos De tudo. A voz que consola o pranto Sedução manhosa que provem do encanto Distância, dor que resta do sentimento E aqueles olhos que choravam nos bons momentos Hoje choram te pedindo para voltar 14/09/2008

71 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

O tempo e as coisas O tempo passa Eu envelheço Me sobram coisas que não quero Me faltam coisas que desejo O tempo passa Procuro me livrar do que não quero E conquistar o que desejo Não consigo O tempo e as coisas Não irei realizar todos os sonhos Nem me livrar do que me sobra Quase tudo que eu não tive e desejo Não consigo deixar de querer E o que tenho envelhece comigo 22/12/2002

72 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Paraíso A serra coberta de lírios Os pomares cobertos de flores As casas repletas de risos E a vida repleta de amores Os pássaros voando nos ares As matas colorindo os montes O amor prevalece aos males Os peixes saltando nas fontes É esse o lugar que procuro Descansar no topo da serra Quando olhasse por cima do muro Enxergava o amor sobre a terra É esse o lugar que procuro Onde a vida encontra o amor O resgate encontra o apuro E o orvalho encontra a flor Aroeira espelhando vida E perfumes a resedá As paineiras com as cores mais lindas Que a natureza lhes dá Esquilos subindo nos troncos A serra cheia de beleza Ar puro adentrando nos brônquios Amor prevalece às tristezas É esse o lugar que procuro Descansar no topo da serra Quando olhasse por cima do muro Enxergava a ilusão de quem erra De quem erra e pede perdão É esse o lugar que procuro Preconceitos não existem não 73 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

E as maldades não perduram O orvalho ressuscita à flor Se a chuva não cair do céu A vida repleta de amor Abelhas exportando mel Os vales cheios de mata De beleza as margaridas Um lar, até para as baratas O pau-d’arco coberto de vida É esse o lugar que procuro Descansar no topo da serra Quando olhasse por cima do muro Enxergava as belezas da terra É esse o lugar que procuro Do que tem, nada se tira O resgate encontra o apuro E o amor afoga a ira A meia-noite é silenciosa O dia cheio de barulho A aurora desabrocha a rosa E os pombos soltam seu arrulho A tristeza é sempre ausente E o andorinhão voa livre Quando um chora toda a gente Chora junto com o que vive É esse o lugar que procuro Descansar numa rede macia De relance os saltos de anuros Toda vida com alegria Um carinho à pessoa que ama É esse o lugar que procuro O homem dorme em sua cama 74 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Sem medo de qualquer apuro A água cristalina e pura O ar sem poluição Nas árvores, fruta madura Nos homens, conscientização A alegria é filha do bem A esperança é irmã do olhar E mãe da ternura também Como a noite é a mãe do luar É esse o lugar que procuro Descansar no topo da serra Sem pensar que a solidão do escuro É castigo para o homem que erra Pois na vida nós todos erramos É esse o lugar que procuro Enxergar as pessoas que amamos Quando olhar por cima do muro A campina coberta de mato Descansar nos finais de semana Descobrir que a vida, de fato É a própria inspiração humana O sol nasce para dar calor Para o homem, o rio, a passarada A tristeza desafia o amor A tristeza sai prejudicada É esse o lugar que procuro 25/05/2001

75 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Amendoim Como aquele que sai da casca Eu sou a semente dos cobertores da vida Meu fervor onírico e vespertino Encontra as canções ávidas do poente Ao meu redor a azaléia azougada Dá ao meu nascimento O axioma da minha existência Como aquele que encontra os portais dos sonhos Eu sou cruzador das palavras e frases Meu tom grená revela minha ousadia Corajoso em meu desabar fescenino Encontro a terra, minha mãe iniludível Como aquele que execra o mal E como aquele que se enche de cor Eu sou em égide de minha existência Amendoim mordido pela vida esparsa Que o sabor dulçoroso comove os lábios Dessa vida madrasta assumidamente idônea Como a gota de orvalho solitária Que se tornou escrava do jugo da terra Por não encontrar égide nas pétalas da flor Sou escravo das estradas da vida Em que o poente faz embuste em sua elegia Como o grão de alpiste no papo das rolinhas Como o vento que balança as folhas da goiabeira E como a ferida na história Que teima em não cicatrizar nunca Eu sou guiador dos atos dúbios Diletos pelos raios ardentes do sol poente Como o homem cheio de cautela entoando a cantilena E como o canhestro pardal que encontra a vida Eu sou principiante desta comoção 76 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Como aquele que deseja o reinado Colendo entre os que o viram fraco Ardem sempre em meu peito vontades Ora de ser imortal, ora livre Como aquele que surge do seio da terra E encontra os cordões dourados da vida Sou aluno da ingente escola Que me testa volta e meia Ora no nascente, ora no poente, ora agora Procurando mostrar as fraquezas De ser somente um mortal Em meio à fúria dos dentes esparsos da vida Que se ajuntam e consomem minha puerícia E que retornam para derramar Como rio de óleo puríssimo de soja Minha essência senil Como aquele barco solitário no oceano Eu sou neste imenso chão Rodeado pela grama esverdeada E pelos passos sincronizados da centopéia Como aquele romântico Que sofreu e amou em sua vida Como a reverência do rei sabiá Sou juiz dos meus atos profanos E sou o réu do meu julgamento Como a cachoeira que deságua pedra adentro Sou eu sempre correndo para o mesmo vazio Pois sou banhado pelos raios da incerteza Como pérola que é filha da ostra Sou filho da terra e do tempo E desafio sempre o alvor matutino Até que o amanhã me surpreenda Como o conciliábulo dos gafanhotos 77 Vitor Corleone Moreira da Silva


Frenesi

Para destruir as folhas da árvore Eu sou e desafio à heresia concreta Do axioma da minha existência A qual foi feita por chorosa azaléia Ao ver minha rebeldia florescer E mostrar-se em minha pele grená Como aquele que erra um dia E tenta por toda a vida sanar seu erro Sou escravo da minha imperfeição A qual foi dada por minha mãe terra Para que em minha existência Não fosse eu o leão tirano do meu reino O qual desejo conquistar algum dia Como aquele que tem benevolência E como aquele que provoca Eu sou...ora bom e justo, ora não Sou aquele apedrejado Ao lutar por seu ideal Como a utopia coarctada Pelo sufoco dos atos da realidade Sou eu esmagado pelos dentes da vida E meu gemido único Ou minhas palavras ciciadas São os desejos impossíveis Em coleio banhando meu corpo grená Nesse cordame que encontro sempre Nos caminhos execrando o mal Que é minha curta vivência Sou filho da existência do mundo Vítima do vento como a goiabeira 09/10/2001

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Frenesi

79 Vitor Corleone Moreira da Silva


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