O Lavrador das Lavras Vazias

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O LAVRADOR DAS LAVRAS VAZIAS

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O LAVRADOR DAS LAVRAS VAZIAS

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“A coragem, embora louvável no indivíduo humano, não é tão bela quanto o medo. Bonito é sentir medo, pois é com o medo que vem a superação. Quem nunca sentiu medo diante dos perigos da vida, ou diante de uma situação assustadora, é inconseqüente. Vitorioso é o que teve medo e conseguiu atravessar tal situação”. Vitor Corleone Moreira da Silva

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Comentário “Superação.Sentimento louvável que se esconde no interior das pessoas mais frágeis. Desperta com fúria e promove ao homem a realização de façanhas jamais pensadas. O inatingível se torna o topo onde é cravada a bandeira da conquista. É nos momentos mais difíceis da vida que ela se faz presente. Marca dos vencedores que trazem no rosto as provas de tão dura batalha que é a sobrevivência. Vivemos à procura de novas e mais emocionantes conquistas a cada dia, e muitas vezes deixamos simplesmente de cuidarmos de nós mesmos. O desejo pelo novo nos move com tamanha ferocidade que nossos instintos mais íntimos e mais delicados acabam sendo deixados de lado em detrimento das conquistas e dos objetos do desejo. Na vida nada é tão ruim que não possa ficar pior conforme os acontecimentos se desenvolvem, e o limite entre o desespero diante dos fatos e a coragem para reverter qualquer quadro é o que torna cada conquista mais preciosa. A dor se torna saborosa quando o que foi passado é reflexo de momentos em que a vitória é vivenciada. Isso é bom, pois quanto mais nós garimparmos o garimpo da vida mais riquezas serão encontradas nas Lavras. Superação. Força propulsora que permite a resistência. É isso que o lavrador procura em Lavras onde não existem riquezas. Procura formas para resistir à todas as dores e tormentos que seu pobre corpo calejado e faminto possui. O auxílio para sobreviver em um ambiente onde tudo é novo: mágoas que jamais foram sentidas, mundos que jamais foram visitados, sentimentos e aspirações impossíveis, o exílio. Nas Lavras não havia ouro, o lavrador insistia em procurar riquezas para sua alma.”

Santa Rita de Caldas, 13 de Março de 2009

Vitor Corleone Moreira da Silva

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As palavras mais bonitas da língua portuguesa Amor Paz Felicidade Esperança Amizade Sentimento de igualdade Pensamento, urbanidade Pai, mãe, irmão Deus Aurora Natureza Floresta Lua, mar, amar, amar, amar Seresta, orquestra, relva Riacho, desejo, selva Beleza Certeza Momentos de prazer Realização Simplicidade, companheirismo Arte, cultura, fartura, aventura, doçura, cura Maravilha Sorriso e fraternidade Fantasia Infância, paixão, saudade Flora, fauna, animais Vida, Brasil, Minas Gerais 29/12/2006

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Monotonia Só se passaram dois Ainda faltam muitos Stress, exaustão, fadiga Monotonia, fim de tarde E eu preso à essa função Regrada, complexa e numérica Monotonia, um segundo mais Ah! ‘Pasárgada’ Me espera que eu vou! Movimentos inúteis Palavras que nada dizem Horas que não passam Elas demoram a ir mas vão Monotonia Do meu lado e à minha frente Um segundo mais Meus olhos hipnotizados Mórbidos somente contam Parado no tempo Monotonia Olhando o ponteiro do relógio 18/05/2006

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Lágrimas Canto das águas ouvi. O toque das águas senti. As quais pareciam pedir Que as ensinasse a sorrir. Eram águas tão turvas! Eram águas tão frias Que conduziam meu corpo Ao sereno das noites vazias. Vi na imensidão das águas Na contra-mão da vida vagando, A mãe natureza do mundo Na imensidão das águas chorando. Tomei banho nas águas, tomei... E as ondas levaram-me ao fundo. O lixo coloriu o mar Com o capitalismo do mundo. Eram águas tristes Da mãe, do pai, do filho insano E tornaram tristes também A vida de todo o oceano. Canto dos cisnes...ouvi. Cisnes cantam para morrer O som mais triste da vida, A vida não pode perder... Senão transborda ás águas, Com a pureza destas lágrimas Um livro manchado de sangue, Da vida, sofridas páginas. 18/04/2001

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Amazona Livre como as andorinhas A amazona do campo O perfume – um encanto Que provoca o meu desejo Os mais brilhantes cacheados Os mais sorridentes e macios Nos olhos a fonte de brilho Perfumes que voam nos ares Se a aurora vem tarde Amazona acorda o dia Com sua presença que radia emoção A terra tem o cheiro dela Os passos têm a maciez das nuvens Pura como os passarinhos Perfeita como flor que se abre Marchando com o Manga-larga Um corcel branco imponente A presença dela é um alegre soneto Cantilena, seu som ofegante Que já fez versos em muitos corações O alecrim saúda a sua passagem Amazona morena O corpo mais lindo do mundo Os lábios mais perfeitos Cor e perfume do campo Dona de muitos corações E do coração que a ninguém pertence 07/08/2001

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A extração do ouro Vivemos todos da extração do ouro E o nosso desejo é o brilho dourado que possibilita tudo Nessas Lavras ensolaradas de chão rachado e seco Só o ouro importa e a fome existe Se nos matamos é pelo ouro O ouro guia os passos na terra e cospe no barro do chão O ouro nos chama de idiotas Mas nós damos a vida para encontrá-lo Somos o dedo recortando o barro seco Somos a pá devorando a terra rachada de sol Vivemos de lavrar minas cheias de ossos Queremos o ouro para comprar comida Queremos o ouro para comprar panelas Para devorar o mundo e estamos dispostos a morrer na busca Sem acordarmos desse pesadelo escaldante Passamos o dia sob o sol ardente Vivemos todos da extração do ouro A água é pouca pra que todos saciem a sede mas a carne quer riqueza Um terço do ouro para os impostos Muitos engolem o ouro que encontram e não pagam Muitas desavenças na Lavra – o sangue é constante Nós somos homens de roupas rasgadas Somos movidos a esperança e ambição De encontrar essas pedras nas Lavras cheias de ossos De pessoas que procuraram o ouro Nós somos enxadas consumindo a terra Nós somos ossos cobertos de pele sufocando o barro Para que ele cuspa o tão sonhado laurel dourado Vivemos a buscar essa riqueza Sem receio aos cânceres que o sol nos presenteia a cada instante Não tememos o sol do meio-dia Vivemos todos da extração do ouro 30/06/2001

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Viver Viver É procurar diamante onde só há cristais Procurar pela água onde só existe areia Estar em um labirinto e procurar a porta Escapar da chuva e se esconder do sol Viver é desfrutar do que o momento apronta e se entregar ao amor À aventura É se aventurar onde só há quietude Desejar luzes à noite e a sombra quando é dia É querer um cobertor no inverno e dormir sem roupa no verão Sentir o perfume da flor na primavera Viver é nos encantarmos com as coisas que nos fazem bem Chorar quando estamos tristes Chorar quando estamos felizes Admirar as coisas boas da vida. Simples que se tornam eternas Viver é procurar amigos onde só há diamantes Se impressionar com a simplicidade do artesanato E não enxergar maravilhas inexplicáveis na tecnologia Ouvir nossa música preferida Cantar, sorrir, cantar Viver é tudo que nós podemos ser E aquelas coisas que não conseguimos vivemos na fantasia É desatar os nós que fecham os caminhos Olhando as estrelas viajar no espaço Procurar o fim do mundo É procurar por terra onde só existe o mar É procurar por água onde só há areia Chegar ao fundo do poço E ter a certeza de que ninguém jogará uma corda Viver é desprezar as coisas que não suportamos E guardar no peito quem admiramos Viver é querer ser jovem quando se está velho E querer ser velho nunca 20/10/2006

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Anjo do sonho E vai às noites E vaga errante Enegrecido pelas folhagens E escondido pelas estrelas O puritano Espelho da essência juvenil Ou como a dor puerperal Iluminado pelas certezas E reluzindo a experiência Guardião do entendimento Razão e aprendizado De sua vida onipresente Luz que os olhos não compreendem E vai à vida E vai tentador Sempre com o brasão dos sonhos Da liberdade que o fortalece E o faz vagar nas noites E o faz descansar nos dias 22/04/2001

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Encontro com a saudade Encontro hoje o cenho da saudade Como o sol carente ao doce lírio E me deito no amargor do meu penar Como a explosão de estrelas no noturno Abro os braços e abraço o nada Abro os olhos e jorram derrotas Vivo a vida e encontro a saudade Sonho, e não vejo a luz Encontro a expressão do charme Perdida na extensão de amores Mas só eu estou sofrendo Descubro a evolução da vida Esbarro em tons de várias cores Mas só eu sou incolor Encontro hoje o cenho da saudade Como o sol carente ao seco rio E me deito no amargor do meu penar Como a noite sobre a indefesa cidade Caminhando não me movo Estando só, eu sou um povo A labareda arde minha pele Sem eu estar próximo ao fogo Encontro o portal dos sonhos E o ermo coberto de dores No chão rachado pelo sol do meio-dia Sigo passos de quem não ri E que passa a vida só Vivendo com a saudade Sofrendo de ansiedade Enquanto passam-se as horas 20/04/2001

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Descoberta E vejo que eu descobri liberdade Ao passo que longe havia o intransponível E hoje para mim não é mais que uma curva na estrada Sonhador, um eterno sonhador Por nunca ter a expectativa da realização Desafiando a posição ocupada na existência Provador de amores verdadeiros e falsos Loucuras, carnavais que se passaram Os quais assassinavam a insanidade na ressaca da quarta-feira Beijos verdadeiros provados E já houve morte no final da primavera Ao fim de um amor passageiro, resistente ao dia das cinzas E vejo que eu descobri a consciência Pois em tempos de loucura eu sonhava com a lua E agora também sonho com as estrelas Em tempos longínquos da escassa juventude A vontade de viver porejava num acréscimo pelo desconhecido E hoje tenho saudade daqueles tempos 13/04/2006

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Vinho Vê, que o vinho me fez insídia... Devolveu-me à lembrança meu peditório Fez minha boca regurgitar poemas antigos Meus atos serem reprovados pela teleologia Vê, que o vinho me fez injúria... Pensamentos perdidos revoar em coração cheio de nada Pensar que o sofrimento não é recidivo E por um momento as palavras cheias de prazer Vê, que o vinho me fez incúria; O meu corpo repleto de vigor Tirou dos meus olhos a policromia Retirou a lucidez e me levou ao fundo do poço Vê que o vinho não teve piedade Dores passadas me debelaram Grilhão de meu infortúnio me enclausurou Rastejar perante minha face no espelho Vê, o vinho fez de mim um escravo 15/04/2001

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Universo inóspito Nos braços Da blasfêmia desesperadora A alma calva que chora e se perde Triste, gemedora No amaríssimo penar De sua existência onírica Perde-se no sol de verão que resseca sonhos Sendo coberta por raios dourados Raios que alimentam a voracidade das folhas E como o lírio voraz Como o livro de paz Ou como a andorinha que voa Existe a alma nesse espaço bélico De guerra, mas que não há inimigos A extensão dos desejos De amargurado humano Que na utopia guarda lucidez Pois é trágica sua realidade Onde o intróito de sua existência É como o rio gárrulo Como o pranto forçado Ou como o golfinho que mergulha Vive, e vive somente Como se realiza qualquer outro tipo de ação A alma geme no universo inóspito O seu pesar ecoa em gritos de desespero Nos braços da blasfêmia desesperadora Ela é chorosa Calva de risos pela carência de tudo Gemedora e fraca 22/05/2001

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Valsa de olhares Quando lembro de você eu enlouqueço E minha loucura é sempre pensar em você Quando te vejo minha boca sorri E meu sorriso é o espelho do seu olhar Se não te vejo me sinto cego E meu caminho é sem destino Quando passo pelas calçadas eu percebo luzes Lembrando você, luz que me guia! Quando te encontro não consigo falar Mas meu sorriso ecoa do coração aos olhares Se te encontro não te posso tocar Mas o toque dos meus desejos bate o coração como tambor São apenas valsas de olhares de uma pessoa que ama E tem que se contentar em não ser amado São valsas que dançaríamos juntos Se não fosse a minha loucura ou se talvez fosse real Quando lembro de você eu enlouqueço E minha loucura é sempre pensar em você 09/06/2001

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Vida vazia Se não vem o pranto Vai-se o riso Uma gota de encanto Forma um paraíso Se não murcha a rosa Floresce a dor A vida é chorosa Carente de amor A figura de morte Afoga a vida E acaba, perdida... Seca e sem sorte Se não vai juventude A velhice vem O tempo ilude E mata também Se não vem a fome Vai-se a fartura A dor consome Os prazeres da cura Se não vem a fúria Vai-se a paz Extrema penúria Alegria jaz Se não vem vingança Vai-se o perdão Adeus esperança Como vai solidão Se não vem saudade Vai-se o costume Não há piedade Só medo e ciúme Sem forças, mudo Sem ter alegria É um homem no escuro É uma vida vazia 22/05/2001

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Diferenças Dorida agonia Doloroso penar É assim minha vida Quando longe está É triste o meu dia Sempre a esperar E a noite sofrida Quando longe está Mas quando está perto Vivo sempre a sorrir Nos beijos molhados A me seduzir O sorriso é constante A vida é tão bela Não há agonia Quando estou com ela 11/05/2001

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Sabiá Vai sabiá, canta alto sabiá Seu canto da mata ecoa no ar E ressuscita a brisa calma

E um adeus estragou a canção Sabiá aprisionado Na gaiola de madeira Pendurada na porteira Vai morrer de solidão

Seu canto tem vida Sua vida é cantar Seu canto da terra viaja no ar

E a mata perdeu seu canto E a vida perdeu a graça

Quase uma chuva Estragou a aurora Nesse dia o sabiá se calou Colheu seu canto e se refugiou Longe, lá no seu ninho

13/04/2001

Quase um barulho Trovejou na canção Nesse dia o sabiá voou No outro dia o sabiá voltou Cantando bem mais bonito Ave preferida Canta alto sabiá Seu canto da terra ecoa no ar Mas quase um uivo o levou embora Quase o inverno o levou Pra outras matas Canta sabiá no campo Canta sabiá na mata No alto das árvores Nos telhados nas casas do campo Eu vou sempre ouvir seu canto Quase o medo, e a chuva, E o trovão, e o inverno Mesmo assim o sabiá voltou Canta, sabiá do campo Canta, sabiá da aurora Vai sabiá, canta alto sabiá Como seus antepassados Seu canto da terra ecoa no ar 19


Diário Encontrei o espinho Quando quis tocar a flor Encontrei o vazio Quando procurei amor Encontrei o branco Quando olhei o horizonte Eu senti o gelo Sob a luz do sol poente Não senti o gosto Quando procurei sabor Não vivi coragem Quando a vida trouxe horror Eu me vi mais vivo Quando quis morrer de amor Eu estive alto Quando quis me sobpor Rastejei na terra Mas queria estar no mar Eu sentia fogo Sob o brilho do luar Mudo, de repente Sem a voz transparecer Um diário em branco Não vivi, mas quis viver 23/05/2001

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Nada acontece por acaso Nada acontece por acaso Tudo é predestinado No momento certo E na hora exata Olhe ao seu redor Veja sua importância Todos precisam de você E você precisa de todos Você é importante Não se esqueça disso Antes de pensar Que ninguém nota A sua existência Nada acontece por acaso Reparte comigo sua mágoa E guarda só pra você A alegria Toma o meu ombro amigo pra chorar E as minhas palavras de consolo Nada acontece por acaso Se você está caminhando na estrada A estrada existe Porque você existe Não há razão de existir vitória Se você não estiver vivo Para alcança-la 02/07/2006

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Belo É belo acordar E ver o sol brilhando no céu Os pássaros cantando Sob o céu azul, sobre o azul do mar É belo dizer Palavras amigas, frases de consolo É belo sentir saudade Tudo é belo quando a beleza é o sonho que sonhamos É belo sonhar com um mundo Cheio de paz para se viver É belo presenciar as águas do mar tocando a areia Ver as ondas indomáveis no azul do oceano Indo e vindo – que lindo Olhar no azul do céu as nuvens passando Os passarinhos voando É belo observar a bailarina dançando Com sua sandália de cristal e vestido branco Os olhos se encantam – que linda Que perfeição – que pequenina É belo ver a bailarina dançando Do palco aos olhos e dos olhos às estrelas É belo sentir que os sonhos são o que nos fazem felizes É belo, é belo amar! Enfim É belo viver A vida, o amor, a amizade É belo 29/12/2002

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As ondas da vida A vida vem em ondas que nos arrastam Como os barcos que o oceano leva E não podemos fazer nada Porque a vida vem e quebra os remos A vida vem em forma de ventos E confundem as nossas velas Ficamos à mercê da vida Não podemos controlar E mesmo assim gostamos de vivê-la A vida vem em ondas que nos afogam Para que possamos aprender a nadar A vida rouba nossos movimentos Mas não nos deixa perecer A vida vem em ondas que nos levam Para uma ilha onde ficamos sozinhos Uma ilha deserta e pequenina Cercada de vida por todos os lados A vida vem em ondas que evaporam E cobrem o céu sobre nós A vida cai do céu e nos banha De vida A vida vem em ondas que nos levam De um lado a outro sem rumo A vida cega nossos olhos E nos deixa ver somente a vida Tentamos voltar Só que as ondas Tornam-se correntezas Então a vida acaba Na queda de uma cachoeira 29/12/2002

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Conceito de amor Amor é sentir-se além dos desejos E da solidão Se perder no meio de qualquer assunto Quem ama pensa em ficar junto Quem ama esquece o orgulho Amor é metade mais metade igual a um Mar de estrelas desaguando – carícias viris Quem ama não pensa em mais nada Só em ser feliz Numa overdose de sensações eternas Que matam de amores quando a lua nasce E no outro dia ressuscitam os homens Dá pra ver nos olhos, dá pra ver na face. Observar o arco-íris que atravessa o céu do mundo E expressar olhando ele os desejos mais profundos Acordar – todo dia – E dar um basta na tristeza Descobrir as maravilhas Do mar, do céu, da natureza O que perdemos da vida É só o que não permitimos que aconteça Amor não é pra terminar Sem prazer Amor não é pra se guardar Só viver 29/12/2002

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A bailarina Num arranjo divino a estrela sob os olhos do público Graciosamente Desenvolve passo a passo sua arte O seu encanto É a bailarina Ela me faz gostar de coisas que jamais gostei Ela me faz pensar em coisas que jamais pensei Despertou os sonhos que não eu já nem sonhava E puderam acordar de tão profundo sono dentro de mim É como se a gravidade se ajoelhasse aos seus pés A bailarina voa graciosamente É como se o vento a carregasse Só que exageradamente pra longe, pra muito longe Sua alma suspira paz e tranqüilidade Só lhe faltam asas – é um anjo Voando sobre o palco de um lado a outro Encantando nossos olhos que não se cansam De admirar a bailarina Que perfeição Quanta paz ela proporciona Quem dera que ela bailasse Com tanta magia e sutileza só para mim - seria belo Mas a bailarina é um anjo E como todo anjo, não voa em um canto só O seu brilho é intenso – minha alma suspira Quando acaba o espetáculo fico ansioso Para ver novamente a bailarina Que consegue com sua tranqüilidade brilhar mais que uma estrela Ela brilha mais do que uma estrela 29/12/2002

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Momentos de terror O terror de alguns momentos Já rasgou minha face Com lágrimas afiadas Vi o sol fugir levando o dia Deixando apenas a escuridão

Difícil caminhar Se os pés já não têm força Os momentos de terror Prosseguem quando vou dormir Nos jornais jogados ao chão Cheio de fome E a luz no fim do túnel Ainda está muito longe Não sei se terei tempo de alcançar

Momentos que fizeram O coração parar de bater E os olhos perderem O dom da visão Perdi A capacidade da coragem

Minha face costurada Como chão rachando seco Petrifica pouco a pouco Nessas Lavras geladas De pessoas desconhecidas

Momentos cruéis Que levam embora a luz Dos astros celestes e deixam As queixas tarimbadas De quem sofre Leva o som do oceano Leva o vento da montanha Leva a música do campo O canto do passarinho O gingado da capoeira Leva

A luz de uma vela Ilumina minha presença Dando ar de importância Em vão Sou só eu E os meus momentos Terroristas e sem piedade Batendo em quem não tem defesa Porém apanha de pé Sem cair momento algum

O sorriso das meninas Brincando de ciranda Faz a flor murchar mais cedo Nessas Lavras desconhecidas A invernia desabar Socando meu rosto com o vento Gelado, seco...rude

Sucumbindo pouco a pouco Igual ao tronco do ipê Quando cortam os seus galhos 20/07/2006

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O prisioneiro Aconteceu ontem quando eu escrevia Fiquei preso em meu próprio texto Não sei como sair desse lugar desconhecido Está frio aqui e tudo é tão diferente Aqui embaixo não existe sol Lavras sem pedras preciosas Preciso encontrar um jeito de sair daqui Essas palavras não são o meu mundo Essa prisão me toca, rasgando pedaços da minha pele Sou a liberdade que faz com que o rio corra E a tarde morra dócil Para nascer a noite sob brilho de lua E depois o dia nascer e se repetir tudo de novo No esporte da existência Preciso sair daqui Esse texto regrado com sabor de fome E frio em um cobertor cheio de furos As minhas mãos estão levantadas ao ar esperando Não há chaves nessa prisão e não há portas Perecer Sonhar Chorar Preciso sair daqui, mas há furiosos vulcões... Rachando o sol e levando as pedras das Lavras As que esperava encontrar Preciosas, que nesse instante São o que menos procuro Só quero sair da prisão e voltar a ser eu 30/01/2006

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O dono do mundo Um dia eu acordei chateado E comprei a rua onde morava Mas a raiva não passou Comprei meu bairro e minha cidade Mas o sentimento ruim não cessava Por um preço generoso Comprei meu país e o mundo E a lua que gira ao seu redor Vi um garoto chorando E comprei as suas lágrimas com um prato de comida Minha alma sofria Por eu não poder comprar a alegria Então comprei o sol, as plantas e o universo... Fiquei triste Por não poder comprar um sorriso Mesmo que existam tantos em todo lugar Todo mundo tem Por que então não consigo Felicidade De que adianta o mundo inteiro Se o que eu quero é do tamanho de uma uva Por que sonhar se já possuo o mundo E tudo o que me falta não posso comprar com o dinheiro Um dia eu acordei com raiva e descontente Contentei em comprar um cigarro e uma pinga barata Por não poder comprar o que eu mais precisava 28/04/2001

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Mudanças na paisagem No início tudo era tão mágico Parecia que eu estava sonhando Abandonei minha vidinha de brincadeiras de queimada Minha vida normal, real e feliz Deixei de lado as conquistas na pelada de rua Queria sucesso maior do que as bolinhas de gude despojadas Na batalha Queria aventura maior do que escalar árvores a procura de ameixas Agora tudo está mudado Esse bairro, essas ruas As pessoas na rua não são as mesmas Antes eu chegava na janela e o cortiço estava em festa Agora só vejo detalhes arquitetônicos Que bom! Um passarinho cantando no poste de luz Faz tempo que eu não via um desses Agora as horas voam e o tempo é curto Antes uma hora dessas nós estaríamos sujos de lama brincando Ou na feirinha comprando doces Ou roubando mangas no quintal do vizinho As horas voam e o tempo muda A vida parou diante de mim em um breve instante Mas não há mais tempo para isso A magia é quanto eu poderei render Para que as conquistas E o sucesso E a aventura Possam continuar sendo produzidas 26/07/2006

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A verde e rosa Hoje à noite vai sair a Verde e Rosa Com um enredo que é o retrato do povo Chegou A Estação Primeira E quando hoje despontar a gloriosa No coração da bateria Verde e Rosa A emoção correrá os quatro ventos A Estação Primeira que anuncia Paz, amor, esperança...alegria Som do surdo no compasso a marcação Bate forte no pulsar o coração Uma canção suave Tranqüila como o vôo das aves E doce como o mel do campo A Mangueira é um coração na avenida Pulsando no ritmo da bateria Levando milhões a acompanhar Cada verso do seu enredo Com o samba no pé, com o samba nas mãos... Com o samba no olhar Velha guarda, o cartão-postal do morro Verde e Rosa, cartão-postal do Rio Chegou, chegou, chegou A Estação Primeira De Mangueira Chegou 12/02/2002

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Sentinela É noite As bandeiras já foram arriadas A poeira anuncia que a ordem unida Cessou a poucos instantes Silêncio O gramado recebe a luz do luar e a geada A voz de ordem ainda ecoa no ar...e some A Calmaria é impressionante Não se ouve um grilo sequer Sinto-me como se estivesse Sendo observado por milhões de olhares Mas não há ninguém Só a noite E o silêncio E eu Os pavilhões contam A história desse lugar Basta olhar para eles por alguns segundos As luzes acesas na estátua Tem a cor das pessoas e o suor A ações em prol da vida O trabalho Tudo Os cães rompem o silêncio Por alguns instantes e param O canil dorme como se estivesse sob efeito de sonífero Pareço estar só Mas tenho um bastão e uma lanterna E a noite E o silêncio 29/01/2006

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Raça Negra Amanhã... ‘Quem sabe amanhã talvez’ ‘Quem sabe’ O amor seja mais feliz do que hoje Que possamos ser iguais Dividir o nosso espaço Com pessoas de outra cor Que mereçam nossa companhia E ‘o tempo Coloque tudo no seu lugar’ Que eu não precise Pedir ‘perdão’ por amar

‘E aí’ ‘Um beijo, um abraço, Um olhar, um sorriso...’ ‘Assim é o amor’ Sem distinção de raça E a raça negra é confiante no amor Não ‘faz doer’ Só quer o seu ‘espaço’ ‘Extrapola’ só em comemorar Porque a igualdade entre todos ‘É tudo que eu preciso’ ‘Pro dia nascer feliz’ Eu sou a raça negra! E se assim for ‘Maravilha’

‘Quem sabe amanhã talvez’ ‘Quem sabe’ A sociedade ‘cheia de manias’ ‘Que não liga pro meu sofrimento’ ‘E não sabe de mim’ Reconheça que só ao meu lado (Nas noites de solidão e estrelas) Seu dia nascerá feliz

24/08/2002

‘Quem sabe amanhã talvez’ ‘Quem sabe’ Precise de um tempo pra pensar Mas pensar em como é bom Viver e ser igual Onde não existam diferenças Entre o negro e o branco ‘O tempo coloca tudo no seu lugar’ E não nos deixa pensar no ‘fim’ A barreira que nos espera ou Esquece que somos vida Porque o único ‘fim’ verdadeiro Direitos reconhecidos ‘Aquilo que tem que ser será’ ‘A vida inteira’ ‘Como se fosse Um adolescente sonhador’ Que o vento vem E carrega os pensamentos E os levam pra dentro de um ‘Espelho’ A consciência de cada homem 32


As ruas de Belo Horizonte Para mim as ruas mais belas de Belo Horizonte São as ruas do bairro Gutierrez E as ruas do bairro Belvedere No Gutierrez é como se as subidas íngremes das montanhas Se erguessem para olhar pra Deus E o Belvedere tão calmo Permite ouvir nossos próprios passos Existem ruas movimentadas como a Curitiba A rua São Paulo, a Rio de Janeiro, A avenida Assis Chateaubriand E Existem ruas calmas Como a rua Enéas, a rua da Bandeira, a rua um Cada uma conta sua história desde o nascimento de barro batido Existem ruas que são tão distantes (de mim) Ruas do bairro Boa Vista As ruas do bairro Saudade que trazem saudade E a rua Liliana, filha da avenida Santa Albertina No bairro Casa Branca, vizinho do bairro São Geraldo Existem ruas importantes para a cidade Como a rua dos Guajajaras, a rua dos Timbiras A rua dos Tupis, Tupinambás, rua Padre Eustáquio E ruas que são pouco importantes, pouco visitadas, pouco comentadas Só que a rua que eu mais aprecio E que eu acho mais importante Não é uma rua, nem avenida, não é um bairro...é um lugar Um corredor cercado de iguais liberdades verdes nos dois lados A paz interior de uma passarela tranqüila Onde não se ouve os carros que passam ao seu redor E onde sinto a liberdade 13/04/2002

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Embaixador do vício Quem roubou nossos direitos Tão humanos tão perfeitos E a justiça fez cessar Sentem fome as crianças Olhos quase sem esperança Rasos d’água de chorar Quero ir e vir sem medo Minha família e meu emprego Liberdade, o meu sossego, Igualdade eu sempre quis Eu sempre quis Eu me sinto perseguido Deus do céu não sou bandido Só preciso ser feliz E onde está o padrão de vida Nesses becos sem saída Lá no alto da favela Era meu sonho de liberdade Balas cruzam o céu da cidade Segurança já não há E o que vai ser deles Aqueles que o futuro condenou? Sem escola é tão difícil Vira embaixador do vício Quem não pôde ser doutor 13/07/2007

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O doce dos dias Qual o sabor das manhãs? Onde nada mais existe do que o mesmo sol Aquecendo as ruas e telhados das casas. Evaporando os minúsculos cristais de gelo, Que se formam todas madrugadas sobre as mesmas lajes. Não há doce, não existe ternura alguma. O açúcar da disposição destila e se torna cachaça, O licor da saúde nada mais é que o vinho. O que os pássaros procuram com o canto? Por que essas rosas estão se abrindo? Por que as nuvens passam no espaço com alegria Se não há alegria nem doçura alguma? Tudo é normal e o normal é que provoca. É voraz o tempo que consome as perguntas E me deixa sempre sem as respostas. Eu queria sentir o sabor da manhã Escorrendo em minha boca, mas não existe mel. O sabor da manhã não há Porque não há o pão. Não há o doce porque na boca só há saliva E na vida não há nada mais Do que a própria vida.

17/06/2006

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Volúpias Sempre que me lembro dos prazeres A esperança percorre todos os meus músculos Os dias cheios de volúpias Banham a boca de nostalgia e desejo Os dias que foram frios São para mim o antigo orvalho Havia aquela que trazia calor e encanto Lembro-me, e um sorriso aparece no meu rosto Volúpias, prazeres da carne As noites eram um vendaval de sorrisos e vinhos Barulho de taças Volúpias, beijos molhados O irrealizável a longo prazo – momentos passageiros Banho dourado que fica só na lembrança Tempero doce que percorre o corpo As sensações viris que desenham loucuras Os sentidos de todo o corpo Afogam-se no mar de forçosa volúpia Nós somos leigos em matéria de amor Somos tolos e a paixão nos consome E momentos de apenas carícia e satisfação Provocam lembranças insaciáveis Prazeres por toda a vida É o laurel da jornada cheia de dores E o adversário mais forte É a incerteza que nos persegue Nos caminhos que sempre traçamos Volúpias, a satisfação não possui limites Todo homem recorda momentos O sabor do prazer reside nos lábios 20/05/2001

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