Soneto, convite para sonhar

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SONETO, CONVITE PARA SONHAR 1


“No dia em que nós perdermos A capacidade de sentir prazer Pela leitura Seremos como folhas secas Que o vento leva embora Sem raízes Para segurá-las no abrigo Da terra” Vitor Corleone Moreira da Silva

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Introdução “O soneto é a forma poética que eu mais aprecio. Admiro a arte que provoca sensações nas pessoas, isso me comove e me conquista a ponto de despertar em mim a vontade de escrever mais. Ao escrever esta obra procurei harmonizar a arte da realidade com a arte da fantasia, o conceito moderno e tradicional do homem. Um jogo de lendas e mitos que se fazem cenário de histórias poéticas deslumbrantes e profundas, comuns e fantasiosas. Meus personagens são fiéis no que acreditam e possuem a personalidade única do ‘eu poético’ que transpõe dois mundos: o da cria e o da criação . Quem dera amar se o que vivemos é a rotina que ninguém compreende e qualquer um cria universos de problema e dor. A arrogância é social. Nossa sociedade está cada vez mais carente de cultura e de conhecimento. Criamos através das notícias e conceitos sociais da existência no ambiente capitalista, máquinas humanas que perdem a capacidade do raciocínio e são cada vez mais manipuladas pelo conjunto. Não escrevo a intelectualidade e não procuro o submundo do contexto do correto, e sim a afirmação do ser como ele é, nas suas expectativas mais comuns e nos seus defeitos mais comuns, e nas suas queixas cômicas. O erro e o acerto caminhando juntos a todo instante como se fosse mais uma pessoa, no meio da multidão. 3


Nosso mundo perece, carecendo de maior cuidado com a arte. Cada dia que se passa uma floresta é cortada ou queimada, muita água é desperdiçada em atitudes banais como lavar a calçada em frente das casas, torneiras ligadas desnecessariamente. A poluição cobre a cada dia mais o azul do céu, tornando cinzenta a vida. Nos extingue a cada dia mais a ação do homem, inevitável e desenfreada. E quando um artista coloca isso numa pintura moderníssima, todos admiram, e a naturalidade dos fatos impressiona. Não procuram olhar o interior da obra, não é arte, é necessidade. Minha arte reflete não aqueles que falam e fazem a arte, mas sim aqueles de quem a arte fala. Pessoas que precisam de arroz com feijão, e não se permitem ao prazer de ler um livro e adquirir um pouco mais de cultura e vivenciar os prazeres de uma boa leitura. Antes de pensar em gostar de algum evento, logicamente pelo próprio instinto de sobrevivência o homem pensa em um cobertor pra se aquecer no inverno, a casa para o abrigar, o prato de comida que vai encher seu estômago, um emprego que garanta o sustento. Não espero que a minha arte conquiste exclamações, se fosse essa a minha intenção eu me prepararia muito mais para escrever um livro. Minha arte é como um bombom, que descascamos e apreciamos o sabor agradável do seu interior, e mesmo depois que acaba continua nos proporcionando uma sensação de realização. Me encho de paz ao saber que uma pessoa, mesmo que uma só, em algum lugar do mundo, possa pensar mais e fortalecer mais o seu sentimento pelo mundo e o apreço 4


pela busca de conhecimento. Conhecimento este que só obtém quem o procura, o qual é necessário para que o indivíduo social tenha capacidade de participar dos eventos sociais e políticos que transformam o ambiente ao seu redor. Se minhas palavras puderam alcançar o mínimo de preocupação social com o próximo, e um acréscimo de apreço pelo ser humano, nem é necessário a leitura deste livro, meu prazer já se consumou e alcançou o ápice, eu sou realizado. Obrigado!”

Belo Horizonte, 10 de Abril de 2003

Vitor Corleone Moreira da Silva

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Confraternização Ave branca voa aos olhares japoneses Sob o mesmo céu do africano que bate tambor O amor não tem rosto, nem cor ou nação Porque o sangue do índio também é vermelho Aos amigos, parentes, clã ou tribo Hoje é o dia da fraternidade Desejar amor e presentear beijos, guerra não! Onde a guerra existe não resiste gente Respeitar os turcos, judeus, muçulmanos É a paz de Deus o bem que nós buscamos Deus não pede a guerra, nos ensina a paz! Vejamos o mundo, vejamos a natureza Nos doou de graça, mundo de belezas Confraternizar! Nos amarmos mais 01/01/2003

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Religião Não conheço a religião que prega a injustiça E não sei daquela que deseja o mal Que religião defende o mau caráter Que religião apóia o crime, a morte, a dor Uma religião sem sabedoria não existe Sejam muçulmanos, cristãos ou judeus Talvez esse Deus seja um só Nós é que o sentimos de formas diferentes É livre o homem para escolher seu culto Não devemos criticá-lo pela sua prece E sim fazer o bem sem distinção de crença Se todas elas existem pra encontrarmos paz E conforto na proteção de um ser supremo São prova da própria existência de Deus 21/01/2003

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A noite é nossa Hoje vou sair pra badalar com meus amigos A noite é nossa Luzes da cidade, discoteca, o som dos carros A noite é nossa Cheiro de perfume, frio, sereno O esporte da existência, adolescência à flor da pele A noite é nossa Porque nossos instintos acordam com os morcegos A noite é nossa E o batom das mulheres convida pra amar E o universo tem gosto de um copo de bebida A noite é nossa E a extravagância nos realiza O dia não nasce antes que o sol nos dê sono 31/12/2002

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Soneto dos sonhos Os sonhos são o elixir da inspiração pra vida Nada nele existe para ferir o homem Um carrossel de esperança, uma aurora de luz Assim são os sonhos que nós sonhamos Os sonhos são feitos de vento e de nuvem E assim como nós são poeira de estrelas Mas quando se juntam no mesmo espaço Formam um universo pra se observar Pra se observar e viajar por seus confins Ninguém vive uma vida sem sonhos Porque a realidade às vezes faz doer Os sonhos são lágrimas, riso e esperança Quem não tem esperança não entende o sonho E quem não sabe sonhar certamente não viveu 20/03/2002

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DNA Palavra, intenção, poesia Conteúdo, inspiração, proposta Estilo, cultura, argumento Palavra, fato, conteúdo Esse é o DNA da poesia Estilo, cultura, intenção Sensações que provoca Realização do autor Amor, realidade, fantasia Cidade, campo, paraíso A poesia não tem limite Não se faz de um só propósito Mas visam a arte Palavra, sabedoria, poesia 14/04/2002

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Liberdade Liberdade liberdade Que provoca e conquista E se casa comigo Sem direito ao divórcio Liberdade liberdade Que acende uma chama Lá – a luz do fim do túnel E me pede pra alcançá-la Dorme e acorda comigo Diz como escovar os dentes A roupa, perfume, penteado Corrige-me a toda hora Liberdade liberdade Que me prende, que me prende 15/04/2002

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Vontades O seu perfume vem da flor da madrugada E seus cabelos são como o riacho do campo De sua boca saem palavras tão malvadas Que minhas vontades são passarinhos sem asas Que vou cansar de esperar por seu abraço E vou viver sem desfrutar do seu encanto A esperança é que alimenta o meu cansaço E aquece os quartos dessa fria casa Eu quero ter sua presença, o seu carinho E um beijo todo dia a cada aurora Para encher meus dias de felicidade Eu quero tanto realizar essas vontades Quero ser seu grão de amor e de amizade Que cresce mais e mais e mais a cada hora 24/04/2002

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Quando acaba o amor Os meus olhos procuram no vento os sonhos perdidos E a foto retocada de lágrimas conta histórias de amor O passado que era repleto de abraços e sorrisos Ficou na lembrança assim como todos os momentos Os beijos que minha pobre boca nunca mais sentirá o gosto As carícias que um dia serão dadas a outro homem Os sorrisos e sussurros que meus olhos e ouvidos não verão Ficarão pra sempre na lembrança provando que amei Amei, sim, com as forças que o meu corpo possuía Onde o coração batia no ritmo da minha sentimentalidade Que aflorava na pele, nos olhos e em todo corpo Sonhei, e fui feliz nos momentos de amor que foram compartilhados É digno do meu coração sofrer ao fim com honra Porque o que não é eterno certamente morre um dia 03/08/2009

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Dê uma chance à paz Dê uma chance à paz Vamos parar de brigar Nós todos nascemos pra amar Dê uma chance à paz Dê uma chance à paz Perdoe seus adversários Nós não somos mercenários Dê uma chance à paz Se alguém um dia errou Perdoe, já passou Os enganos são mortais Essas guerras são cenário Da extinção de humanitários Dê uma chance à paz 28/04/2002

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Figura Perfeita Nos traços Na cor Na expressão A tonalidade Escolhas A luz Sombra Figura Perante os olhos Perfeita Ao espírito Deslumbrante Figura 25/04/2002

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Garçom, quero mais bebida Garçom, quero mais bebida Na dose exata pra afogar Os enganos da minha vida Que me matam de chorar Chorar por todos ideais E pelas almas que amamos Chorar por não possuir a paz, e Não realizar o que sonhamos Se eu cair por causa do porre Levante-me ao final do expediente Com minhas mágoas, baba e feridas Hoje é o dia em que a certeza morre Que resta na vida pra gente Garçom, quero mais bebida 04/09/2002

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Soneto do amante Eu já namorei garotas muito desvairadas Umas eram meigas, delicadas como as flores Às vezes me lembro das primeiras namoradas Dos antigos casos, novos casos, mil amores Eu já namorei mulheres muito apaixonadas E que tinham lábios mais perfeitos do que flor Eu já namorei mulheres super assanhadas Que não se contentavam, aumentavam seu calor Eu já namorei garotas muito recatadas Eu já namorei muitas mulheres desquitadas E as que procuravam um cobertor pra se aquecer Bate uma saudade das mulheres que amei Mas são folhas mortas, carnavais que eu já passei Amante é um ser sozinho, sem amor e sem prazer 26/04/2002

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Soneto de fim de namoro Se você brigar comigo Não vou mais gostar de você Vou me viciar em sofrer Recordando os bons momentos E se disser que vai embora Não vou te pedir pra ficar Mas confesso: vou chorar Com você nos pensamentos Vou sentir tanta saudade Pelas ruas, na cidade Mas vá embora se quiser Eu não ficarei sozinho Buscarei outro carinho Nos braços de outra mulher 26/04/2002

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Caixa de bombons Abri a caixa de bombons e então Desfrutei de cada doce Como se aquela caixa fosse A última que eu abriria Brancos, ao leite, recheados Com castanha, coco e licor Presenteados pelo meu amor À pessoa que ela ama Guardei o bombom mais gostoso Para abrir na sua presença E derramar o licor nos seus lábios Beijá-la e fazer um carinho Ao passo que os desejos dela Se escorram em minha boca 14/02/2002

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Vem ficar perto de mim Vem ficar perto de mim Vem passar essa noite comigo Em minha cama está sobrando espaço E minha alma quer se encher com suas carícias Estou querendo me livrar da calmaria Que ataca as horas nessa madrugada fria Vem disputar comigo o cobertor E me fazer dormir com seu afeto Vem, vem ficar perto de mim Vamos fazer uma coisa gostosa O meu quarto está tão frio (e calado) Só você que me ilumina minha estrela Vem colar num abraço o seu corpo e o meu Vamos fazer uma coisa proibida (e alucinante) 23/04/2002

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Soneto do nosso amor Nosso amor é lindo Como a primavera cheia Como a aurora que clareia Como o vôo dos pardais Nossos beijos intensos Como a chuva desabando Como a uva se acabando Nos barris e nos vinhais Você me ensinou Uma fórmula de amor Sem rotina e imprevisível Espero que seja imortal Talvez exista um igual Melhor é impossível 04/08/2002

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Repete comigo esse verso A paz tem que ser preservada Repete comigo esse verso A paz tem que ser preservada Se você acredita A paz é um direito de todos A paz é a lei da igualdade Se você acredita Repete comigo esse verso Repete comigo esses versos Para tentarmos convencer Às pessoas A paz tem que ser preservada Se você deseja isso Repete comigo esse verso 02/05/2002

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Desprezo Meus olhos dizem que andei chorando E minha voz – que eu andei sofrendo O coração – que eu andei vivendo Pra ficar magoado e ser feliz jamais As minhas mágoas quando estão chegando São anunciadas pelo olhar que chora A solidão me diz que vou embora E levar na mala frutos do desprezo Foi por Ter sonhado que fiquei assim Os meus olhos dizem que eu andei perdendo Algo que nunca tive na verdade Os meus olhos choram porque em vão vivi A sonhar chorando e ser feliz sofrendo Cultivei na vida frutos do desprezo 07/06/2002

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Popularidade suja Vandalismo tomou conta Que restou da beleza dos muros Quebraram a estátua da praça Rabiscaram as marquises Eles vieram e sujaram Deixaram guimbas de cigarro Escreveram seus recados E foram embora gritando Não sobrou beleza alguma Nos muros brancos das casas Nem nos amarelos Não compreendemos direito Em quê a popularidade Confunde-se com a sujeira 02/06/2002

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Bem-te-vi O bem-te-vi cantou no galho A canção dos bem-te-vis Tentando deixar feliz Alguém que andava entristecido O bem-te-vi apontou os erros Cometidos no passado Replicando que na vida A felicidade existe Cantou alto o bem-te-vi Contou erros dessa vida Tão carente de sorrir Um que antes foi feliz Sua vida em vão viveu A espantar os bem-te-vis 27/04/2002

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Soneto de todos n贸s Nossos filhos na escola Nosso emprego, a vida Liberdade 茅 mantida E a paz preservada Nossa casa, a fam铆lia Nossa felicidade Sob Deus conduzida E por n贸s conquistada E a quem amamos E quem respeitamos Damos mais valor Das sementes que plantamos Colhendo os frutos Todos frutos do amor 17/02/2002

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Corcel branco Se um dia quiser voltar a viver a emoção Sentir que ainda há juventude em suas veias Estarei esperando Em meu Corcel branco De porta aberta e uma flor na mão Duas taças, um champanhe e o “Dancing Days” A noite esperando os astros do prazer E a vida ressuscitando as sensações da carne Estou só, contando estrelas no céu escuro Correndo pelas ruas Em meu Corcel branco Quem sabe um dia ele se canse de me acompanhar E eu caminhe sem ele na madrugada Nessa rua de subúrbio abandonada 23/04/2002

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Relato da vida Nossas vidas são complicadas Rascunhos incorrigíveis Os desenganos ao longo dela Recordamos, mesmo que machuque Às vezes que nos condenamos Maldade que nós perdoamos Que podemos fazer se a vida É a resposta e o questionário A vida é o lápis sem a folha O dedo sem a digital E a invenção sem nome A vida é um mar cheio de ondas Um relógio sem ponteiros O inexplicável que é entendido 04/05/2002

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Solidão Chuva cai De novo Saudade Solidão Chuva fria Congela Meu sonho Meu corpo Abro um vinho Tomo um gole Adormeço Sem carinho Abraço Não mereço 24/09/2002

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Soneto pra lua Ela brilha pros meus olhos Ela chora de emoção Ao ouvir nas minhas frases Palavras do coração De um mineiro ‘zé-ninguém’ Que ela chama de ‘meu rei’ Ela brilha pros meus olhos E a razão nem mesmo sei Influindo nas marés Quem passando encobrem os pés Tira o orvalho do capim Toda noite a vejo – bela Eu versejo só pra ela E ela brilha só pra mim 18/09/2002

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Chuva e lágrima A névoa se reclina sobre minha cidade Os ventos sacodem os laranjais Chove forte como jamais vi Quando o sonho morre não renasce mais E o meu, despetalada flor Tem em cada espinho algo que busquei O vento levou o amor que eu vivi Numa lágrima triste que eu derramei O furor da chuva sopra a essência da alma Horas vão morrendo e a dor não passa E o meu pensamento sob a chuva chora Guardados insanos desejos de ventura Nasce uma esperança que a alegria aflore Molhada de chuva, molhada de lágrima 23/04/2002

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Dia do escritor Escreve escritor sua trama Para aquela pessoa que aclama A arte presente em seu Dom O ideal da cultura Escreve escritor seu romance Sua fábula, seu verso amigo Escreve, descreve o perigo Escreve, descreve a gente Com inspiração e dom e arte Com a força da cultura literária Vida em palavras, ações, fábulas Que dizer sobre o seu dia Merecido, contemplado Escreve escritor escreve 25/07/2002

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Escritor Ele observava Com olhos da alma Lapidava Escrevia Raciocinava Moldava Ensinava e aprendia Com a vida Numa frase, num verso Numa opinião O livro O país, universo Mechas de cultura Páginas 25/07/2002

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Homenagem ao escritor Ele ficou horas Corrigindo erros Melhorando temas Grafia coloquial Voz quase rouca De ler em voz alta Procurando falhas ‘Aculturando’ Palavras O necessário e o desnecessário Ocultos nos rabiscos, rabiscados Criada a arte da expressão O público vê o trabalho Da criação cultural 25/07/2002

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Dia da saudade Saudade do meu amor Que a vida distanciou Tão longe, tão longe Quero ver o meu amor Saudade dos meus pais Que moram em outro país Tão longe, tão longe Quero ver os meus pais Saudade da escola Dos pagodes de cavaco Da casa, da rua, do bairro Dos meus amigos Que saudade eu sinto de mim No dia da saudade 30/01/2002

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Paternidade É linda Como aurora Como a flora Do meu país Pele macia Olhos pequenos Lábios serenos Sorriso feliz Nasceu pra alegrar Nosso lar Encher de paz Que dia lindo Sorrisos Sou pai 24/09/2002

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Receita de felicidade Um samba de roda na favela Cerveja, salgado, moça bela Domingo de bola sem novela Domingo de ‘gólo’ e de paquera Num prato bem fundo põe a canja Sorvete com gosto de laranja Olhar de malandro é que te manja Não bate, não cospe nem esbanja Amigos (amigos) aos montes Em busca de novos horizontes Pra toda a tristeza se acabar Receita de quem é feliz por inteiro Feliz (feliz) não é quem tem o dinheiro Feliz (feliz) é o que sabe amar 11/09/2002

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Soneto louco Cinco e cinco é 55 Pé-de-atleta medalha de ouro Doente de amor na U.T.I. Dente-de-leite nasce em vaca Mão-de-vaca tem pé de vaca Coleira em língua solta Não quero ser mordido Três vezes três 333 O novelo na novela O cigarro e a cigarra Não ria do rio Se é loucura quem se importa Abre a porta e exporta Raciocínio irracional 09/09/2002

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Decepção amorosa Meu desejo ficou Esperança acabou Alegria sumiu Uma luz se apagou O sorriso morreu A paixão esfriou Tempestade caiu Ilusão faleceu Triste fim de quem ama Madrugada sozinho Só, com o travesseiro Vai mais cedo pra cama Mendigando carinho Quer amor verdadeiro 15/09/2002

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O coração e a moça Coração reclinou Aos olhares da moça Mergulhou como louça Pra quebrar no chão frio Coração desmaiou Como o fim da seresta Como o orvalho na floresta Sob a luz do sol do estio Desde então, por ela Derramou os gemidos Nas cordas de um violão Porque ela foi embora Só restando agora Ouvir chorar coração 20/04/2002

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Tente outra vez Não devemos perder a fé Às vezes nada sái direito Esse é um péssimo defeito Desistir de sonhar Tentar de novo Sem talvez ou retranquismo Jogar fora o pessimismo Pra tristeza acabar Ouvir a canção do amor Que o sonho cultivou Nos olhos pequenos E se algo deu errado Deixar a tristeza de lado Pois errando é que vencemos 23/04/2002

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Mulher Mulher, dádiva de Deus Que nos ama, acompanha E às vezes nos maltrata Sem você nada somos Nada, pois você que adoça Nossas vidas, nossos dias Com sua presença E com tudo que nos faz Mulher, rainha do amor Que às vezes pode ser cruel E nem mesmo assim perde o encanto Mulher, batalhadora Vaidosa, dos pés à cabeça Perfeita, da cabeça aos pés 08/03/2002

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Por trás das cortinas Por trás das cortinas Um homem cheio de problemas O aluguel do seu trailer A saudade dos pais Por trás das cortinas Um homem deixa cair uma lágrima E se lamenta por sua fraqueza Como se chorar fosse defeito Por trás das cortinas Um homem olha triste pro espelho Enquanto passa maquiagem Abrem-se as cortinas E surge de trás delas um palhaço Pra alegrar seu público 01/03/2002

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Dia do silêncio Hoje que não quero falar sobre nada Em homenagem ao dia do silêncio O silêncio é a certeza De que não magoaremos ninguém As palavras nos envenenam Com elas podemos humilhar Quem fala menos comete menos erros Quem ouve mais aprende mais Alguém sabia Quem este dia sete de maio É também o dia do oftalmologista Hoje eu declaro feriado Para minhas cordas vocais Não falarei nada 07/05/2002

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Namorados Você é assim tão diferente, seu jeito Quando olha pra mim com raiva procurando briga Quando me procura com saudade Adoro, adoro tudo Mas há uma linguagem que sempre funciona E que anula os nossos preconceitos Em relação aos estilos, a roupa, as idéias São os nossos beijos Adoro quando vem me ver denguinho E seria melhor se os seus carinhos Não tivessem que ir embora com medo dos pais Quando estou com você me sinto tão calmo É como se o mundo parasse para observar Enquanto namoramos num banco de praça 12/06/2002

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Soneto do namoro O namoro é a maior forma de humildade Temos que viver as mágoas do parceiro Dois segundos se passam, já bate a saudade Ficamos ciumentos, tentamos disfarçar Quando namoramos temos que saber ouvir E quando dizer, não usar palavras amargas O namoro é como o sol e como a lua Não tem força quando uma nuvem os encobre Mas quando estamos a sós O tempo pára, os problemas desaparecem Só conseguimos pensar no amor As estrelas se derramam sobre nossos corpos O namoro é como a lava que escorre de um vulcão Quente, devastador e incontrolável 12/06/2002

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Amor de mãe À mãe querida tantas vezes protetora Que deu carinho, deu afeto e deu amor Ao filho ingrato que nunca lhe deu valor Ao filho ingrato que ela ema e que perdoa Seguiu destino sem dizer adeus nem nada Único filho, pelo mundo sem porteira Correndo os riscos das paixões tão passageiras Provando os beijos dessa vida enganadora À mãe que tantas vezes perde o sono À mãe que foi deixada no abandono Que dá a vida por seu filho aventureiro Amor de mãe não é de brincadeira É amor (amor) que dura a vida inteira Porque amor de mãe, é verdadeiro 26/04/2002

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Falecido amor E não há mais diálogo Não há toque nem querer O orgulho foi capaz De ver o amor morrer Aflito pedindo piedade Com a face desfigurada Carregando a saudade E angústia estampada – nos olhos Lembranças, perdidas migalhas Desejos, correção das falhas Que não podem ocorrer O amor não é eterno Amor que morre no inverno Não retorna a renascer 10/03/2002

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Superação Às vezes competimos Procurando vencer Perder não é defeito Desistir é ridículo Perder com honra Não tira o mal-estar Mas revela qualidades De um competidor Às vezes perdemos Por um erro de outro Que carregamos juntos Conhecimento que aflora Reflete nas falhas Então vencemos 28/06/2002

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Vento O vento é como o prazer da poesia Ambos são agradáveis ao espírito Só que o vento diferentemente É o mesmo vento, não muda... O vento vem e carrega As folhas secas, furtivamente... O prazer interno que a poesia alcança O vento não pode Não pode porque não possui intenção O vento vem e refresca Sem saber o bem que provoca E mesmo sem saber Se parece com a poesia no sentido De nos deixar tão leves como a folha seca 19/12/2002

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Beijos Existe o beijo apaixonado O beijo frio e insípido Existe o beijo carinhoso Da mãe, da irmã, da tia O beijo ardente, devastador... O beijo quente (que não pára no beijo) Existe aquele beijo tão sonhado Que vira sonho na cabeça de um garoto tímido O beijo da reconciliação, do adeus Beijo de cinema, beijo falso, beijo de morte O beijo experiente e o primeiro beijo (inesquecível) Tantos nomes, tantas formas, tantos beijos Fórmulas indecifráveis, inatingíveis... O melhor beijo é o beijo sincero 19/12/2002

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Bem também se alegrar Balões coloridos, crianças Bebida, comida, conversa E você aí triste Vem também se alegrar Música, poesia, teatro O mundo lá fora, a vida E você cansado Vem também se alegrar Com os eventos que nos fazem bem Com a guerra pelos ideais Com a paixão e a conquista Tanta coisa existe E você triste – deixa disso Vem também se alegrar 21/03/2002

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Os soldados Toca o sino do quartel Soldado corre Aos poucos toda a tropa se aglomera De fila em fila para o treinamento Marchem! Vamos à guerra Fila por fila, armados Preparados para o combate Arranca o caminhão Dois grupos, campo de batalha Guerra simulada, munição de tinta Treinamento que esgota Ao fim o general diz que treinam Para estarem preparados para o dia Que as munições forem reais, e o sangue 25/08/2002

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A importância da arte Que seria da história sem a arte de se fazer um navio E sem a arte de contar como ele foi construído? Que seria da história sem a arte de encarar os fatos? De entender os fatos e superar os fatos? Que seria do homem sem a arte de se comunicar E produzir a arte que agrada sua alma? Que seria do homem sem a arte de evoluir No que veste, no que come e no que aprecia? Que seria, sem a arte que transforma o bárbaro em culto? Que seria dos campos sem a arte de pacificar? A vida é verdadeira arte! A arte é vida! Que seria um país sem a arte da sua bandeira? Que seria sem a necessidade de se demonstrar A importância da arte em nossas vidas? 12/08/2002

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Sem título O sol nos oferece a luz Para aquecer e iluminar o dia Os pássaros o seu canto Para apreciarmos A água o frescor O vinho a embriagues que amacia A religião a proximidade com deus O passar do tempo a evolução A justiça – tenta – oferecer segurança O amor – tenta – felicidade A ciência o conhecimento E o artista? O que oferece Oferece a cultura Que se relaciona a tudo isso 14/12/2002

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Soneto do soneto O soneto é diamante lapidado Como estrela que brilha à noite e dorme ao dia Uma gota de magia em quatorze versos Um vazio e um preenchimento no universo O soneto é como a rosa Que se entrega à mulher amada Para ela despetalar Em cada estrofe e em cada verso E o poeta Artisticamente borda em um soneto A vida, o amor, a razão Fugindo e provocando momentos felizes ou perversos Com destino aos olhos e ao coração Composto de quatorze versos 25/09/2002

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Minha cidade Árvores, avenidas, belezas O povo, o céu, a natureza Na cidade que me viu nascer Praças, pichações, bar É o melhor pedaço do mundo Se eu for embora não me acostumo Quando lembrar dessas ruas sujas Com certeza sentirei falta Sujas, mas não trocaria Por Veneza, Roma, Assunción Nem por New York ou Paris Porque esta é a cidade que eu gosto É o melhor pedaço do mundo E aqui eu sou mais feliz 02/02/2002

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Amigos Nós sempre seremos amigos De farra, de matar saudade Quando a vida nos separa Só aumenta a amizade Porque na distância Desejamos coisas boas Aos nossos amigos (bons amigos) Que seguem a vida em busca do ouro Amigos em qualquer idade Amigos (amigos) de verdade De olhar pra trás e respirar bem fundo Nós sempre seremos amigos Lutando contra os perigos Espalhados pelo mundo 26/04/2002

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On铆rico Adormeci Sonhei com ela Minha Cinderela Deslumbrante, bela Um sonho bom De um amor real Puro e imortal Doce e sem igual Um beijo macio Na beira do rio N贸s dois nos amando De repente acordo E percebo que eu S贸 estava sonhando 15/03/2002

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Alma penada Que saudade daquelas festas na vila Da seresta, quermesse, quadrilha de outros tempos Que saudade daquele tempo em que existia vida E os dedos podiam tocar violão Que saudade do mangue, do meu rancho Do pito, do grito das crianças correndo Do mito, do apito quando o trem passava Soltando fumaça pelo ar do campo A vida é como o ribeirão que passa A vida passa rápida como o pássaro que voa A vida é como um bom tablete de chocolate Esse é o erro do qual me arrependo Só depois que a vida acaba eu compreendo De fato o quanto é importante viver 30/06/2002

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Recomeço Estou só Verdade Tão só De amor Carente Vivendo Volta Vem me ver Amar Beijar Abraçar Recomeçar Nosso amor Outra vez 24/09/2002

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A esperteza é do povo Me engana que eu gosto Da sua cara de otário Pensando que pode Me passar pra trás (malandragem) Na escola que você aprendeu Eu fui professor Para um aluno distraído Que deu aula pra você (malandragem) É, o seu diploma de biltre Não quer dizer que você É o inventor da esperteza – malandragem E de fato além disso A esperteza é do povo Como o sol é do céu 30/12/2002

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A orgia dos fungos Eles surgiram Eram s贸 dois Pequenos, indefesos Mas cresceram Uma orgia Uma festa imensa Se espalham como grama Ou c茅u ficando nublado Virei os olhos Pisquei Olhei de novo Eram s贸 dois Mas quando fui ver Eram dois milh玫es 23/12/2002

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Sertão rachado As minhas mãos tão calejadas de plantar E os pensamentos com vontade de colher Vida difícil! Qual a razão de viver? O horizonte dá vontade de chorar Se vou embora dá vontade de voltar Sertão rachado que tanto me faz sofrer Sonhei à noite um sonho de eterno prazer Eu via a água jorrando da terra ao ar Eu via a relva verdinha...azulão cantando Eu via a chuva caindo e os frutos brotando No riacho seco, um barco de pescador Esse é o sonho sertanejo que ando sonhando O corpo sofre e a alma morre esperando Os dias de rei, pro rei das rosas beija-flor 23/04/2002

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Carência Nossa canção tocando Nossas vidas se passando A saudade atormentando E você, por que não vem Me fazer companhia Proporcionar alegria Juntos sob a melodia Despertar o nosso bem Supra-sumo do amor alcançar Sob os beijos o mel se espalhar Até o dia amanhecer Melhor do que ficar sozinho Na esperança de um carinho Esperando por você 04/09/2002

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Mar de rosas Seria bom se tudo Fosse um mar de rosas Sem guerra ou covardia Com paz, com alegria Quem dera alguém tirasse Os espinhos do mar Que são a inveja, a cobiça A traição, injustiça Que vida! Que paraíso! O amor, o prazer e o delírio Seriam ondas nesse mar E eu um viajante Num barco rumo ao horizonte Num mar de rosas 13/06/2002

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Fogo O fogo vem e arrasa A mata, o pano, o graveto A floresta se desgasta Com os estragos que ele faz Impulsiona um veículo Acende uma lareira Acende o cigarro Só é vencido pela água O fogo não tem culpa pela destruição Só reflete o que há no coração De quem o cria pra queimar O mesmo fogo serve pra aquecer No frio do inverno, proteger Criar avanços, iluminar 13/06/2002

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Sem título Quem dera se um dia A humanidade amasse Tanto um pobre quando nasce Quanto um rico que falece Quem dera a fantasia Da criança fosse eterna Tanto à beira da cisterna Quando ao berço em que adormece Os homens pensassem não só Naqueles dos quais precisam Mas também nos inimigos O mundo seria melhor As tristezas sumiriam E acabavam-se os gemidos 13/06/2002

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Sem título Escrevo porque sinto a paz No significado das minhas palavras Bonitas ou feias, singelas Verdadeiras ou falsas...imortais É bom viver e realizar Dedicarmos Escrever é viver em um lápis O que a realidade proíbe Uma só palavra Pode conduzir um povo inteiro Se for a intenção do que escreve Eu escrevo por isso Faço um reino com palavras E posso no meu reino reinar 05/04/2003

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Reatar Cadê você Pra onde foi Levando Sorrisos Reata A relação Volta Recomeçar Porque eu gosto Eu quero Vem Tudo em mim Ainda espera Você 07/09/2002

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Homenagem a Guimarães Rosa Grande pai da arte Escritor de eternos ideais Filho ilustre de Cordisburgo Cidade de Minas Gerais Sua obra – nos romances Um regionalismo novo O retrato da cultura O retrato desse povo Grande Guimarães Rosa Hoje é o dia em que nasceu Vinte e sete, mês de Junho Suas idéias são idéias De uma gente que luta Com o sangue, a alma e o punho 27/06/2002

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O ‘escrevedor’ de cartas Sentado num banquinho O escrevedor de cartas escreve Cartas para as pessoas Na rodoviária Pessoas que não sabem ler E do resto sabem tudo Trabalhar, sonhar, sofrer Só não sabem ler Das cartas que ele escreve Muitas se perdem pelo caminho Antes de chegarem ao serviço postal Mas o escrevedor de cartas Não deixa de ser a voz Dos mudos no mundo das letras 20/02/2002

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É sempre assim É sempre assim Tem dias que estamos com raiva E dias quem acalmamos a raiva De quem está com raiva É sempre assim À deriva num lago de vida E o vento nos leva pra lá E o vento nos trás pra cá Tem dias que estamos por baixo Tem dias que estamos por cima E dias que estamos no meio É sempre assim Não importa como estamos Estamos, isso é o que importa 27/09/2002

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Nunca é tarde para aprender Existem pessoas que dizem Que não sabem nada Que não foram nada Na vida Mas nunca é tarde Para dar-se o início No estudo valioso Que reclamam a falta Nunca é tarde porque na vida Estamos sempre aprendendo Com experiências novas Aquilo que menos sabemos É o que mais aprendemos Se quisermos 28/09/2002

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Valor da vida Se o homem não se valorizar É sua vida que perde o valor Não para os que o amam Mas para ele mesmo Com o passar do tempo Até os que o amam Sentem a desvalorização Vendo-o se castigar Amigos consolam e animam Mas o sopro de vida é individual Vem de dentro pra fora E para se valorizar O homem não pode ser economista Porque a vida não tem preço 13/05/2002

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Estrela cadente Dizem que a estrela cadente Realiza desejos humanos Quando ela mergulha E morre Como pode a estrela Fazer isso Se a sua própria vida acaba E sua força se esgota O desejo dela É ficar no espaço Brilhando, brilhando Se a estrela mergulha Como é que pode Realizar desejos 12/11/2002

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Soneto de Natal O Natal não existe por causa do presente Nem pela visita do Papai Noel Mas para que as pessoas provem mais do mel Do que o gosto amargo do que é feroz Natal é pra refletirmos no que temos feito Banir do corpo nossos preconceitos Percebermos que somos menos que o céu Porque o céu existe acima de nós Sem preocupação com a ceia, o presente e o vinho Satisfaz a alma presentear carinho Melhor que a matéria, o espiritual Então é Natal! Que tens? Não liga? Natal não é ouro, é o prazer pela vida Amor e paz...’hô hô’ é Natal 20/12/2002

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Novo ano Novo ano, esperança Novo ano, alegria Muita paz! Que a vida Dê motivos pra rir Ano bom! Que bom Novo ano de amor O ano que morre Renasce outra vez Um abraço amigo Em seu próximo Abra o champanhe O ano renasce Assim como o sonhos De todos nós 26/12/2002

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A estrela fria Vejo no céu brilhando Uma estrela solitária e fria Uma estrela que de tão vazia Quase se esconde no céu escuro Toda noite fica procurando Um tesouro mágico sobre a cidade Que tem nome de felicidade Que não posso dar-lhe pois também procuro A estrela Não tem voz, não ouve, não me compreende Mas queria outras estrelas E fica assim Fico observando e ela não sabe Que buscamos uma coisa só 02/06/2002

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Viver cada momento A vida já é um motivo pra que a morte Fique nos esperando...pacientemente Devemos viver cada momento Extraindo deles o supra-sumo da realização Estamos vivos e isso significa inevitavelmente a morte É necessário aproveitar cada segundo de vida Viver intensamente Pra que as páginas estejam cheias de versos Uma grande festa, que é a juventude E me canse o bastante pra que na velhice Não me arrependa, e receba o descanso Quando os pulmões recusarem o oxigênio Quando os olhos não puderem mais olhar E o coração parar de bater 30/12/2002

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