Revista Vitória – Junho 2018

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Ano XII | Nยบ 154

REVISTA DA ARQUIDIOCESE DE VITร RIA - ES

| Junho de 2018



EDITORIAL

BUSCANDO EQUILÍBRIO Equilíbrio é o que buscamos a vida toda mesmo que a prática nos faça pender para um ou outro lado. Queremos tempo para se dedicar à profissão e tempo para se dedicar à família; para se empenhar nas tarefas e para o lazer; para fazer muitas atividades e para ficar sem fazer nada... enfim, desejamos e não conseguimos e assim vamos entre um pender para um lado ou para o outro buscando o ponto de equilíbrio. Esta edição traz algumas matérias sobre essas buscas: tecnologia que nos vigia e conecta e atenção para não criar uma 'segunda vida'. Povos com uma cultura a preservar procurando o uso correto das tecnologias. Mulheres ainda divididas entre o papel de mãe, profissional e dona de casa na relação com o marido e os filhos. Mas esta edição também traz propostas simples para viver em equilíbrio: ousar viver genuinamente a rotina na editoria Ideias e, essa tal felicidade na editoria Viver Bem. Não deixe de ler.

Boa leitura! Maria da Luz Fernandes Editora

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VIVER BEM 38 Essa tal felicidade

ATUALI

DADE TODAS AS CONVERSAS SERÃO VIGIADAS

13 REPORTAGEM 05 A tecnologia nas aldeias

10 16 18 21 22 23 24 27 29 30

FAZER BEM SUGESTÕES

33 ENTREVISTA O desafio da mulher, com Michella Zortéa

37 MUNDO LITÚRGICO

IDEIAS

Prefácios do tempo comum

ESPIRITUALIDADE ARQUIVO E MEMÓRIA PENSAR

41 LIÇÕES DE FRANCISCO Função profética dos sindicatos

43 ECONOMIA POLÍTICA

DIÁLOGOS CATEQUESE ASPAS

Importante e fundamental

44 PERGUNTE A QUEM SABE Com Pe Ivo ferreira e Pe Teodósio Cesar

46 ACONTECE

CAMINHOS DA BÍBLIA

Fique por dentro do que anda acontecendo por aí

Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela – Bispo Nomeado de Bauru: Dom Rubens Sevilha – Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098-ES – Repórter: Andressa Mian / 0987-ES – Conselho Editorial: Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Vander Silva, Lara Roberts – Colaboradores: Pe. Andherson Franklin, Arlindo Vilaschi, Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Fr. José Moacyr Cadenassi- Revisão de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin – Publicidade e Propaganda: vlorenzetto@redercres.com.br – (27) 3198-0850 Fale com a revista vitória: mitra.noticias@aves.org.br – Projeto Gráfico e Editoração: Blend Criativo - Designer: Gustavo Belo - Impressão: Gráfica e Editora GSA – (27)3232-1266.


REPORTAGEM

A TECNOLOGIA NA ROTINA DAS ALDEIAS GUARANIS EM ARACRUZ

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uando se fala em índio, vem naturalmente à mente de brancos e negros urbanos, pessoas nuas ou seminuas, vivendo na mata, morando em ocas, felizes, inocentes e contentes, sem influências de fora das aldeias, sem problemas, como se estivessem congeladas no tempo e no espaço, tendo como atividade a caça e a pesca, adorando o sol e a lua e falando uma língua incompreensível. A Revista Vitória visitou algumas aldeias no Espírito Santo na região de Aracruz e viu sim um pequeno índio nu, moradias de pau a pique no meio da mata, harmonia com a natureza, preocupação pela falta de peixe, gente feliz. Mas, viu também casas de alvenaria, intimidade profunda com o Deus Criador com lugar próprio para rezar (a casa da reza), caciques lutando por direitos e preservação da cultura e, pessoas conectadas e informadas. Então, os índios mudaram? Sim, e o cacique, Antônio Carvalho, da Aldeia Boa Esperança foi logo explicando: “as casas são de alvenaria porque não dispomos mais dos materiais que eram usados nas moradias e a alvenaria é melhor, porque não entra água e não precisa trocar a cada 5 anos. Mas, nem o próprio português, espanhol, inglês e outros não estão no mesmo jeito daquela época”. Nossa ida foi para entender se e como as aldeias são impactadas pela tecnologia.

A tecnologia nas aldeias Visitamos três aldeias Guaranis (Três Palmeiras, Boa Esperança e Piraquê-Açu). Na Três Palmeiras visitamos o lugar do artesanato e conversamos com a índia Eliane Bilhalvo de Lima. Ela explicou que vivem de artesanato, agricultura e pesca e disse que estão preocupados porque o peixe diminuiu muito na região e a agricultura não é suficiente, pois a terra não produz tudo que precisam e que a região mudou muito e para pior, porque antes tinha mais casas na aldeia e mais peixe que garantia a subsistência. Rodrigo da Silva, (vice cacique da da aldeia PiraquêAçu) informou que grande parte das terras da aldeia serviram de lixão para empresas e a Prefeitura, e, Antônio, cacique de Boa Esperança, explicou que as terras recuperadas da Aracruz Celulose estão vitória | 05


REPORTAGEM

improdutivas. Por conta disso eles precisam recorrer às compras no comércio da região para se manterem e de maquinário para preparar a terra e voltar a produzir. Entramos no objetivo da visita: como a tecnologia entra nessa relação com o mundo fora das aldeias? Como percebemos na chegada, nossos entrevistados confirmaram a existência de uma convivência com o mundo urbano, relações com as empresas Fíbria e Samarco responsáveis pelos prejuízos na agricultura e na pesca, contato com brancos e negros urbanos para vender o artesanato que fabricam e, diálogo com o governo em busca de projetos de ajuda às aldeias para que mantenham sua cultura, como disse Rodrigo “hoje fui na reunião do Ministério da Cultura, eles queriam ver se a gente tem interesse em fazer alguma coisa no site. Claro que a gente tem interesse porque a gente preserva muito bem nossa cultura”.

‘‘Hoje em dia deixar a tecnologia é difícil, já está na aldeia, o índio já está conectado a tudo, principalmente o jovem.’’ (Rodrigo da Silva, vice cacique da aldeia Piraquê-Açu)

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Para que tudo isso seja possível, os índios possuem transporte (vimos carros e motos), celulares, computadores e televisão”. Mas, por lá os instrumentos de comunicação são utilizados do jeito deles. Tanto na aldeia Boa Esperança quanto na Piraquê-Açu existem regras para uso da tecnologia: “mesmo tendo a globalização na nossa aldeia, nós sabemos escolher o que pode ajudar. A locomoção por exemplo, eu dirijo carro, mas eu sou Guarani, o meu espírito nunca vai ser mudado só porque tenho um carro. Tem que ter tecnologia, mas tem que ter o controle sobre isso. Aqui a gente

sabe até que horas pode usar, o que pode ver assistir, se for violência tem que conversar. Graças a Deus aqui na aldeia você pode ir lá na outra aldeia e sabe que vai voltar, na cidade você não sabe se vai voltar ou não. A diferença é que a gente sempre está falando sobre isso, desde quando começa a aprender a falar a Língua Portuguesa, a gente já começa a falar sobre isso. Nós sabemos como passar oralmente porque a gente sempre tem os conselhos na casa de reza (Opy). Eu sempre estou com os grandes líderes das nossas aldeias passando quais são os perigos, dizendo onde tem


REPORTAGEM

que pisar. Esses são os ensinamentos para respeitar” contou Antônio. Já Rodrigo da Aldeia PiraquêAçu acrescentou “Eu não assisto tv por opção. Deixei há 4 anos, depois eu vi que não era adequado para mim nem para meus filhos. Eu vi que não é coisa boa. Cada vez que a gente liga a tv é muita morte, político roubando, criança morrendo, é muita notícia ruim. Então, prefiro desligar a tv”. Mas Rodrigo também acrescentou “Hoje em dia deixar a tecnologia é difícil, já está na aldeia, o índio já está conectado a tudo, principalmente o jovem. A gente só tem que tomar cuidado, os caciques têm sempre que ficar atentos de ver como a tecnologia vai ser abordada dentro da aldeia, a gente precisa cuidar para o jovem se conectar bem”. Sobre a influência da TV, Eliane da aldeia Três Palmeiras disse: “eu assisto a novela Carinha de anjo, mas não muda nada, eu não tenho vontade de imitar”.

Rodrigo da Silva - vice cacique da Aldeia Piraquê-Açu

A relação com a sociedade branca e preservação da cultura Embora seja raro, alguns índios guaranis trabalham fora da aldeia e os jovens estudam fora da aldeia a partir da oitava série. Perguntamos se esse contato não introduz nas aldeias outros costumes como uso de drogas e bebida, mas a resposta é de que para essas situações, que são raras, seguem as mesmas regras: dialogar e aconselhar. “A gente sempre comunica aos jovens que não pode, sempre dá esse conselho e por isso que os mais velhos sempre dão palestra na escola sobre droga, doenças sexualmente transmissíveis”, disse Rodrigo. “A gente sempre fala que o objetivo principal da nossa aldeia é a família, que não se deve usar isso porque isso não faz parte da nossa cultura e não faz parte de outras culturas também, a gente mostra que isso não traz felicidade só traz infelicidade para a pessoa”, afirmou Antônio. vitória | 07


REPORTAGEM

Perguntamos a Antônio se as crianças e jovens escutam os ensinamentos e se existem regras. Ele respondeu: “Escutam. Muitas vezes os alunos que estudam lá foram dizem assim: o ensinamento da nossa aldeia sempre vai ser melhor”, e acrescentou: “as recomendações são gravadas no coração e na mente. A gente sempre coloca que não pode pegar ou roubar coisas de outro, a briga é completamente proibida. Mas isso é tudo oralmente, não está escrito no papel, é preciso gravar no coração. Minha avó passou para nós oralmente e a gente gravou no coração e na mente. Se eu tivesse anotado alguns valores que minha avó falou, se eu anotasse no papel eu creio que já teria esquecido, o papel já tinha 08 | vitória

desbotado ou uma goteira tinha molhado ou podia ter queimado. Então, se eu não tivesse gravado na mente e no coração tudo que ela falava do nosso criador, que o equilíbrio da natureza traz mais força para nós, porque a natureza que faz a gente estar bem, eu já tinha perdido tudo”. Se houver problemas também tem punição que pode chegar até à expulsão, quem explicou foi Rodrigo: “se fizer alguma coisa grave pode ser expulso, já aconteceu vários (se bater na mulher, se usar bebida alcoólica é expulso da aldeia). Mas isso é difícil acontecer, porque o cacique está sem-pre de plantão para “manter a ordem e a harmonia da aldeia e não deixar nada atrapalhar”, explicou Rodrigo.

Curiosidade: Todo o índio tem um nome “Nós temos um nome sagrado, o meu não é Antônio Carvalho, isso é para tirar identidade, o meu nome sagrado é Relâmpago no pôr do sol. Minha avó dizia que não podia colocar um nome sagrado no papel que foi feito pela mão do homem. O nome é revelado ao líder espiritual antes da criança nascer, não são os pais que escolhem. O nome sagrado vem para ser o alicerce da vida daquela pessoa. Por isso, não é qualquer um que pode colocar o nome na criança”.


REPORTAGEM

A Casa da Reza Essa harmonia entre eles que compartilham a vida, os recursos agrícolas e a pesca tem como base de equilíbrio o encontro para rezar no final do dia. Nas três aldeias existe a Casa da Reza, uma tradição Guarani. “Todas as noites às 18h todo o mundo tem que estar, não é só no sábado ou domingo, se chegar atrasado não pode entrar e nem sequer bater na porta, é um lugar sagrado, tem que respeitar. Esse ensinamento de ir rezar às 18h foi Deus que ensinou para a gente, não foi o padre, não foi o pastor. Dizem

que a gente adora o sol, a natureza... não, nós adoramos porque Deus criou. Todo o ser tem que respeitar o que foi criado por Deus, explicou Antônio e Rodrigo acrescentou “A gente reza toda a noite, a gente reza para todo o mundo e principalmente pelos mais velhos e as crianças. Ao anoitecer todo o mundo vai para a casa da reza, a gente canta, conta história, o curandeiro reza e não tem horário para sair porque isso envolve a parte espiritual da humanidade”.

Maria da Luz Fernandes Jornalista

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FAZER BEM

Papa leiloa Lamborghini para ajudar o povo iraquiano Um modelo de luxo da Lamborghini Huracán doada ao Papa Francisco no valor de mais de 1 milhão de reais, foi leiloado por um valor três vezes maior e vai financiar um projeto de reconstrução de casas, lugares de culto e estruturas públicas na planície de Nínive no Iraque. A doação vai ajudar cristãos expulsos pela guerra a “reencontrarem suas raízes e sua dignidade”, informou a Santa Sé. Além disso, parte da quantia também permitirá ajudar uma associação italiana que apoia vítimas de redes de prostituição e duas organizações italianas ativas na África.

Um alívio para os diabéticos Uma solução para as temidas picadas diárias para a medição de glicose no sangue. Cientistas da Universidade de Bath, no Reino Unido, desenvolveram um emplastro adesivo, parecido com um curativo, para medir os níveis de glicose pela pele. O objetivo é eliminar a necessidades de teste com picadas de agulha. As próximas etapas do trabalho incluem um aprimoramento adicional do projeto para que o emplastro cubra as medições durante 24 horas.

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FAZER BEM

Dispositivo permite menina que só tem a mão direita tocar violino O estudante de engenharia biomédica Derew Miles, desenvolveu um dispositivo para ajudar uma menina de 5 anos que não possui a mão esquerda, a tocar violino. O professor de Neiriah Rhodes solicitou à Universidade LeTourneau, a impressão em 3D do instrumento que Neiriah usava para facilitar o manuseio. Derew desenvolveu um instrumento novo, pintou de rosa, por ser a cor preferida de Neiriah e doou à menina.

Voluntariado surpresa para quem tem vontade de ajudar Para pessoas que querem ajudar outras pessoas e não sabem por onde começar, surgiu uma ótimo iniciativa nos Estados Unidos, o ônibus do Bem. As pessoas embarcam sem saber o itinerário e o tipo de trabalho e só ficam sabendo quando estão prontos para partir. Junto com a revelação da missão, os organizadores oferecem aos voluntários uma descrição da missão e um rápido treinamento para que estejam aptos a realizar as tarefas que encontrarão pela frente. Empresas também podem contar com o ônibus do bem para organizar trabalhos voluntários com seus funcionários. vitória | 11



ATUALIDADE

TODAS AS CONVERSAS SERÃO VIGIADAS

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ecentemente os escândalos envolvendo o Facebook e a empresa de consultoria britânica Cambridge Analytica assustaram milhões de usuários de redes sociais ao redor do mundo por medo destes terem seus dados utilizados para fins políticos e comerciais. Por meio de um aplicativo, a Cambridge Analytica teve acesso às informações de mais de 87 milhões de perfis do Facebook. A grande maioria se encontra nos Estados Unidos da América, cerca de 70,6 milhões e logo em seguida aparecem países como Filipinas, Reino Unidos e até mesmo o Brasil. Com isso, muitas pessoas começaram a se questionar sobre as informações que fornecemos na internet e até onde vai a nossa privacidade. Acontece que no marketing digital, um dos princípios é o seguinte: “Se você não paga por um produto, você é o produto”. Ou seja, você não paga pela maioria dos serviços do Google (Gmail, Buscador, Maps etc...) mas a empresa armazena-

mos seus dados e utiliza como segmentação de mercado e como forma de direcionar os anúncios que aparecem na internet. Hoje em dia praticamente tudo o que fazemos na internet é monitorado. O Google “lê” todos os seus e-mails, guarda todas as suas pesquisas e conhece o caminho que você faz de casa para o trabalho. Quando você comenta sobre um determinado item no Instagram, Facebook ou Whatsapp, logo em seguida diversos anúncios sobre aquele produto aparecem na tela do seu computador/smartphone. Além disso, é praticamente impossível não ter um perfil numa rede social. Temos redes sociais

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ATUALIDADE

para quase tudo: profissão (LinkedIn), imagens (Flickr e Instagram), relacionamento (Tinder), amizade e interações (Facebook) e assim por diante. O escândalo recente envolvendo o Facebook e a empresa de consultoria Cambridge Analytica deixou todo usuário de redes sociais assustado com a possibilidade de ter os seus dados invadidos ou, pior ainda, que esses foram explorados para a criação e entrega de alguma campanha publicitária. O que muita gente não sabe é que isso já acontece com diferentes serviços utilizados na internet, até mesmo para aqueles que não possuem um perfil nas redes sociais. Sabe aquele famoso ‘Termos e Condições de Uso’, que somos obrigados a aceitar toda as vezes que nos inscrevemos ou utilizamos algum serviço digital? O que muita gente não sabe é que, para além dele estabelecer as regras e condições de usos do serviço, muitos desses contratos possibilitam que as empresas utilizem os seus dados de forma indiscriminada. O documentário Terms and Conditions May Apply (2013) já fazia esse alerta. A obra analisa as políticas de privacidade do Google e do Facebook desde o iní14 | vitória

cio do século passado, comparando como foi se aprimorando a maneira como essas empresas coletam nossas informações e utilizam em benefício próprio ou de terceiros. Imagine que você chegue numa cidade e alugue um carro. No contrato de prestação de serviços, que você assina sem ler completamente, está estipulado que você vai fornecer informações sobre tudo o que tiver feito naquele período: as pessoas que entraram no carro, os lugares que você visitou, onde abasteceu o ve í c u l o, o q u e vo cê co m e u durante esse tempo, as conversas realizadas dentro do carro e assim por diante. Assustador, não? É exatamente isso que acontece com todos os serviços digitais. O Gmail lê todas as suas mensagens, o Facebook monitora todas as suas atividades, o Google registra todas as suas pesquisas, sites visitados e

até mesmo os lugares que você visita por meio do GPS do seu smartphone. Mas como chegamos a esse cenário? Em 1999 era lançado o Cluetrain Manifesto (Trêm das Evidências – em português), que continha 95 teses para todas as empresas que operavam dentro de um mercado recém conectado. A proposta do manifesto era a de superar o pensamento ultrapassado do século 20 sobre os negócios e as ideias ali presentes que procuravam examinar o impacto das Tec-


ATUALIDADE

nologias de Informação e de Comunicação (TIC) nos ambientes corporativos e na comunicação organizacional. Sim, mas qual a conexão desses dois eventos? Explico melhor. Um dos pontos principais expostos no Cluetrain Manifesto diz respeito aos mercados enquanto conversas. Quando você vai a uma feira o que mais se ouve são pessoas gritando, conversando ou pechinchando algum produto e para os autores dessa obra, os mercados sempre foram locais onde as pessoas se reuniam e conversavam entre si. Os aplicativos recentes demonstram bastante essa lógica. Os motoristas do UBER são avaliados de acordo com as corridas que os usuários tiveram, você não fala com outra pessoa, mas manda uma mensagem para o aplicativo demonstrando sua satisfação ou insatisfação com o serviço. Quando você vai alugar um apartamento pelo AIRBNB você busca os comentários das pessoas que utilizaram o serviço antes de você, assim, teoricamente, fica mais fácil de se tomar uma decisão sobre onde ficar. Uma poderosa conversação global começou. Através da Internet, pessoas estão descobrindo e inventando novas ma-neiras de

compartilhar rapidamente conhecimento relevante. Como um resultado direto, mercados estão ficando mais espertos — e mais espertos que a maioria das empresas. The Cluetrain Manifesto Dessa forma, lembre-se que quando falamos da internet, devemos partir de um princípio que se trata de um ambiente digital no qual deixamos várias pegadas, vários registros das nossas passagens. O que são essas pegadas? As postagens que publicamos (curtimos, comentamos ou compartilhamos), as buscas que fazemos, as compras, os sites visitados, os e-mails enviados e assim por diante. Não se trata aqui de falar de uma teoria da conspiração que procura controlar e vigiar tudo aquilo que fazemos. A ideia é que a gente reflita sobre o poder dessas empresas e quais são os objetivos que elas buscam ao utilizar as nossas informações. No

caso da Cambridge Analytica já há quase um consenso de que ela influenciou nas eleições americanas que deram a vitória ao Donald Trump e a saída da Ingla-terra da zona do euro. Qual será o próximo passo a partir daqui?

Felipe Tessarolo Publicitário e professor no Centro Universitário Faesa

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SUGESTÕES

MARÉ DA VIDA

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onhecer a história de vida da artista Ercília Stanciany que assina a exposição “Maré da Vida” no Centro Cultural Sesc Glória, no Centro de Vitória, já vale a visita à mostra. A artista mineira, que atualmente mora no município da Serra, usou cabeceiras de camas e pedaços de móveis encontrados no lixo para trabalhar a técnica da xilogravura, talhando com pregos e materiais perfurantes os desenhos que contam os momentos e as pessoas que marcaram sua trajetória.

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SUGESTÕES

Na técnica da xilogravura, as peças funcionam como uma matriz que podem ser usadas para carimbar diversas superfícies, e na exposição Maré da Vida, as gravuras foram estampadas com tinta preta em pedaços translúcidos de pano vermelho, dando um aspecto de leveza e beleza para a história contada. Quem visitar a mostra vai encontrar também dois tapetes feitos manualmente pela artista nas quais ela, usando materiais recicláveis, colocou tudo o que

tem grande importância em sua vida. As duas peças estão no contexto de seu novo projeto de vida, uma pós-graduação em Arteterapia. A artista chegou em Vitória de trem há 14 anos com o marido e com o filho em busca de melhores chances na vida e encontrou na coleta de lixo a sobrevivência da família. Também foi no lixo que Ercília encontrou os livros usados para estudar sozinha e ingressar no Curso de Artes Plásticas da Universidade Federal do Espírito Santo.

De uma família humilde, Ercília foi proibida pelo pai de estudar ainda criança, pois precisava ajudar em casa. No entanto, as dificuldades que surgiram em seu caminho não a impediram de alcançar o sonho de ser uma artista. A exposição está aberta ao público até o dia 15 de julho de terças às sextas-feiras. Das 11 às 20 horas (exceto feriados). A entrada é franca e a classificação é livre.

Andressa Mian Jornalista

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IDEIAS

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e a vida ligeira, apressada, cheia de coisas a consumir e desprazeres a desfrutar vai sendo vivida como se apartada de seus significados, claro é que sonharemos com um tempo e lugar especiais que nos colocarão em sintonia com aquilo que intensificaria a vibração do nosso corpo e alma. Claro que a dimensão espiritual da existência será projetada num lugar e num momento especial para além do que nos tangencia e atravessa. Claro que a satisfação em se viver será arremessada para a viagem dos sonhos, para cenários e países que parecem destituídos dos insuportáveis que vivemos e nos machucam.

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IDEIAS

Então sonhamos, sonhamos com turnês maravilhosas, com santuários que nos alcancem milagres, com experiências que a nossa “vida pequena” não tem força para nos fazer conhecer. Mas - bem já sabemos - se há um mundo melhor e bonito a ser alcançado ele não está lá. Ele está aqui, permeando as realidades, disponível e gratuito. É a que poderíamos chamar de dimensão sagrada da vida. A dimensão sagrada da vida não está fora, nem distante, nem descolada dela. A dimensão sa-grada da vida está nela como es-trutura, esqueleto, sangue. Como pele, epiderme e musculatura. E, parece, é pela cotidianidade da vida que essa dimensão poderá ser mais facilmente acessada.

A despeito da desvalorização da rotina, do que é mais simples e aberto, a vida comum, banal, não poderia ser desperdiçada, por ser, assim, a mais excelente via para acessar estes outros horizontes capazes de dar novos e consistentes sentidos à vida. Ou seja, nos permitir, tentar, ousar viver genuinamente a aparentemente “pobre” rotina pode ser um belo enfrentamento aos modos contemporâneos de existir, modos que nos enchem de expectativas por grandes momentos, que colocam a todos em busca de “sonhos”, que a muitos movimenta para que busquem ideais, lá longe, em exaustivas lutas por “realização” e que resultam quase sempre em colheitas fartas de frustrações.

Dauri Batisti Padre, psicólogo e Mestre em Psicologia Institucional

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ESPIRITUALIDADE

O tema “espiritualidade” sempre desperta o interesse dos homens e mulheres de todas as épocas e culturas. A atenção e a busca pela espiritualidade não se restringem a determinada classe social. A alma e o coração humano são dotados de uma força transcendente que os leva a peregrinar na busca sobre o sentido último da existência. Vários são os caminhos espirituais que levam homens e mulheres a buscarem as respostas e os sentidos para suas vidas. Grandes místicos percorreram caminhos espirituais que os levaram a encontrar – embora não apenas ou tão somente – respostas para suas inquietações; mas, pela via espiritual, encontraram um caminho de paz interior. Puderam encontrar um caminho de integração consigo mesmos, com o outro, com a comunidade, com o mundo, com o cosmos, com o despertar para o equilíbrio para com a natureza, para com a ecologia. E, fundamentalmente como ápice da experiência espiritual, os místicos puderam fazer a experiência do encontro transfigurante com o Totalmente Outro, com a Divindade, com Deus. A jornada pela espiritualidade desperta interesse porque a ciência não tem respostas para todas as perguntas e inquietações humanas. Em sua constituição, o ser humano é um ser aberto à transcendência. O ser humano não se satisfaz levando uma vida medíocre. Ao contrário, o homem tem sede de algo mais. Tem sede de um sentido para tudo que faz, experimenta, projeta e sonha. O ser humano tem sede de vida, de liberdade, de dignidade, de justiça e de paz. Tem desejo de realização e de expansão de suas capacidades mais intrínsecas. Todo ser humano possui em si uma força que o lança para frente, para o alto, para o transcendente. Uma força que o projeta e o faz sonhar e colocar-se a

VIDA ESPIRITUAL caminho. É essa força que o leva a superar grandes desafios, que o arranca dos espaços de comodidade. Uma força tal que não lhe permite a permanência nos espaços mais sombrios e obscuros, quer esses espaços estejam dentro ou fora de si mesmo. A vida espiritual leva o ser humano à superação de adversidades e de barreiras muitas vezes consideradas instransponíveis. A espiritualidade é a força motriz que faz do derrotado um vencedor; que transforma a fragilidade e o medo em força e coragem. O homem e a mulher espirituais são arautos da esperança e do amor. São capazes de enxergar, para além da aparente derrota da morte, a vitória da Vida. O homem e a mulher espirituais têm a capacidade de ver e de julgar para além das aparências; sem, contudo, negar ou desconsiderar a objetividade e a facticidade da vida. A espiritualidade suscita no coração humano uma excepcional capacidade de perceber o extraordinário no ordinário da vida. O homem e a mulher espirituais são capazes de se maravilhar e de se encantar com aquilo que é corriqueiro, trivial e simples. Não é possível um desenvolvimento humano pleno, integral, sem considerar a dimensão espiritual no contexto da realidade humana. Ou seja, sem considerar que a espiritualidade é uma realidade constituinte dos seres humanos.

Pe. Jorge Campo Ramos Reitor do Seminário Nossa Senhora da Penha e Vigário Geral

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ARQUIVO E MEMÓRIA

09 DE JUNHO DE 1965

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elebração do aniversário de falecimento do padre José de Anchieta com a presença dos Bispos da Província Eclesiástica do Espírito Santo, padres, autoridades civis e militares. Os índios, aqueles que o missionário Jesuíta cuidou, defendeu e amou, estiveram representados por alunos das escolas do município de Anchieta. Nesse ano, o Dia Nacional de Anchieta foi instituído por decreto federal.

Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc

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Foto: Maria da Luz Fernandes

PENSAR

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DIÁLOGOS

A ELES NOSSA ADMIRAÇÃO E GRATIDÃO

A

tribui-se a Cícero, orador e político da Grécia Antiga, a conhecida frase “A História é a mestra da vida”. Gosto dessa afirmação. De fato, para vivermos bem o presente e abrirmonos para o futuro, é necessário termos em nossa mente e coração o rico passado vivido pela humanidade com seus acertos e falhas. Tratando-se da história da Igreja no Estado do Espírito Santo, duas Famílias Religiosas se destacam de uma maneira proeminente: a Família Franciscana que esteve presente desde os primeiro s e s fo rço s d e co l o n i za çã o dessas terras. Todos temos bem presente a história dos missionários franciscanos que residiram em Vila Velha e, logo em seguida, na Ilha de Santo Antônio, hoje Vitória, onde funciona atualmente a Cúria Arquidiocesana de Vitoria do Espírito Santo. Entre esses missionários destacou-se, sobremaneira, o frei Pedro Palácios, que trouxe consigo a Estampa de Nossa Senhora das Alegrias, venerada pelo povo capixaba como Nossa Senhora da Penha. É a devoção popular mais antiga do Brasil, enquanto expressão de grande massa popular. Todos sa24 | vitória

bem como essa piedade popular veio alcançando o coração de nosso povo. Contudo, nesse mês de junho, especialmente, no dia 9 de junho, nós nos voltamos para uma outra Família Religiosa Missionária, a Companhia de Jesus. Chegou

‘‘hoje o Estado do Espirito Santo não só é conhecido pelas sua beleza natural e perspectivas econômicas e culturais, mas como o Estado onde o grande Santo Missionário Apóstolo do Brasil viveu e morreu’’ junto com os colonizadores. Chamamos os membros desta Família Missionária de “Jesuítas”. Estes e os franciscanos foram os primeiros e grandes apóstolos evangelizadores do Brasil, especialmente do Estado do Espírito Santo. Sabemos e louvamos o árduo trabalho da Companhia de

Jesus, do Sul ao Norte do Estado, tendo como destaque o apóstolo dos ameríndios, São José de Anchieta. A alegria do reconhecimento de sua santidade chegounos em abril de 2014, quando Papa Francisco decretou sua canonização. José de Anchieta foi o evangelizador que se preocupou em inculturar-se para poder e vangelizar os povos destas terras. Com-pôs um dicionário na língua dos povos autóctones, escreveu peças teatrais catequéticas etc... Visitou o Estado de norte a sul, deixando sinais do anúncio do Evangelho: o rio Cricaré passou a chamar de São Mateus, em cuja margem surgiu a dinâmica cidade que hoje conhecemos e ali nasceu a sede da Diocese de São Mateus. Em Vitória construiu o Colégio São Tiago e lecionou nesta Escola. Em Guarapari celebrou na Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Em Reritiba, hoje Anchieta, residiu por uns tempos e ali faleceu. Hoje em Anchieta temos o Santuário Nacional são José de Anchieta. Do norte ao sul e no centro do Estado percebemos os sinais evangelizadores destes beneméritos missionários da


DIÁLOGOS

Companhia de Jesus: em São Pedro de Alcântara do Itabapoana uma imagem barroca de São Pedro Apóstolo, vinda de Portugal, deu nome à cidade; em Presidente Kennedy, a Igreja Santuário Nossa Senhora das Neves; em Itapemirim, a Igreja Nossa Senhora do Amparo; na região de Vargem Alta descendo para Castelo, o córrego do ouro, por onde passaram os Jesuítas evangelizando os autóctones. Hoje o Estado do Espirito Santo não só é conhecido pelas sua beleza natural e perspectivas econômicas e culturais, mas como o Estado onde o grande Santo Missionário Apóstolo do Brasil viveu e morreu e cujo local se transformou no Santuário Nacional de São José de Anchieta no Município de Anchieta Estado do Espírito Santo.

Sim, a história da Igreja no Estado do Espírito Santo não pode jamais ignorar estas duas grandes famílias missionárias, além das outras mais recentes, todas merecedoras de nossa homenagem. Neste mês porém o destaque é para a Companhia de Jesus na figura de São José de Anchieta. Aos jesuítas nossa admiração e gratidão! Tenho certeza de que tudo tem sido realizado “Ad Maiorem Gloriam Dei’’.

Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. Arcebispo Metropolitano de Vitória

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CATEQUESE

FINALIDADE ESPECÍFICA DA CATEQUESE A partir deste mês, esta página dedicada à catequese trará textos que ajudem a compreender e vivera fé com os grandes nomes da história da Igreja Católica. Achamos por bem, a título introdutório, publicar um pequeno texto da Exortação Apostólica Catechesi Tradentae do Papa João Paulo II, publicada em 1979.

O que é catequese e como falar dela para pessoas que foram batizadas e iniciadas nos Sacramentos?

A

finalidade específica da cate-quese, no entanto, não deixa de continuar a ser a de desenvolver, com a ajuda de Deus, uma fé ainda inicial. A de promover em plenitude e de alimentar quotidianamente a vida cristã dos fiéis de todas as idades. Trata-se, com efeito, de fazer crescer, no plano do conhecimento e da vida, o gérmen de fé semeado pelo Espírito Santo, com o primeiro anúncio do Evangelho, e transmitido eficazmente pelo Baptismo. A catequese, portanto, há de tender a desenvolver a inteligência do mistério de Cristo à luz da Palavra, a fim de que o homem todo seja por ele impregnado. Deste modo, transformado pela ação da graça em nova criatura, o cristão põe-se a seguir Cristo e, na Igreja, aprende cada vez melhor a pensar como Ele, a julgar como

Ele, a agir em conformidade com os seus mandamentos e a esperar como Ele nos exorta a esperar.

‘‘Trata-se, com efeito, de fazer crescer, no plano do conhecimento e da vida, o gérmen de fé semeado pelo Espírito Santo, com o primeiro anúncio do Evangelho, e transmitido eficazmente pelo Baptismo.’’ Mais precisamente, a finalidade da catequese, no conjunto da evangelização, é a de construir a fase de ensino e de ajuda à maturação do cristão que, depois de ter aceitado pela fé a Pessoa de Jesus Cristo como único Senhor e

após ter-lhe dado uma adesão global, por uma sincera conversão do coração, se esforça por melhor conhecer o mesmo Jesus Cristo, ao qual se entregou: conhecer o seu ‘‘mistério’’, o Reino de Deus que Ele anunciou, as exigências e promessas contidas na sua mensagem evangélica e os caminhos que Ele traçou para todos aqueles que O querem seguir. Se é verdade, portanto, que ser cristão significa dizer ‘‘sim’’ a Jesus Cristo, convém recordar que tal ‘‘sim’’ se situa a dois níveis: consiste, antes de mais, em abandonar-se à Palavra de Deus e apoiar-se nela; mas comporta também, num segundo momento, o esforçar-se por conhecer cada vez melhor o sentido profundo dessa Palavra (CT 20).

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ASPAS

“EXCESSO DE INFORMAÇÃO TAMBÉM É CENSURA” Zuenir Ventura

N

ão se pode tirar do contexto, em que foi algumas vezes dita, a afirmação de Zuenir Ventura sobre o fato de que o excesso de informação torna-se um tipo de censura. E ele o diz em relação especialmente aos jovens que afirmam que, de algum modo, vivem sob censura. Tem razão o Zuenir. O que vivemos hoje está absolutamente distante e diverso do que o Brasil viveu há cinquenta anos. Atrofiada pelo poder de exceção, autoritário e ditatorial, a informação não circulava. Era um problema de natureza ética, político-ideológica mas, acima de tudo, de direitos humanos. A informação era censurada, as pessoas enganadas e os que conseguiam enxergar que o País estava mergulhado nas sombras e emudecimento eram banidos ou exterminados. Mudanças profundas têm sido experimentadas pelas sociedades em termos de seus processos de midiatização e de interação. Passamos, em poucas

décadas, do excessivo controle para a desregulamentação e total descontrole. No caso em tela, do Brasil, o fenômeno não é menos complexo. Talvez, de algum modo, até mais difícil de compreender. Se passamos de uma pré-modernidade (com imprensa, mas com uma população majoritariamente de analfabetos) para uma modernidade tardia (a rápida chegada da mídia eletrônica massiva – rádio e, em seguida, a tv), a pós-modernidade nos tomou de assalto, encontrando-nos em precária situação de educação formal e de ausência de efetivos programas e políticas públicas de fomento da cultura, da arte e da cidadania. As comunidades mais carentes buscam suas próprias soluções e caminhos. Isso também é cultura. E é o que lhes dá ainda raízes. Mas sofrem, de modo talvez ainda mais perverso, os efeitos da super oferta de informação. Boatos, fake News, a metralhadora giratória ideológica do neoconservadorismo, os conteúdos de apologia ao crime e a intolerância... a internet canaliza e faz vazar de seu leito um tsunami de discursos de ódio e banalização da vida que desestruturam os bons projetos e iniciativas de construção de uma cultura de paz. Embora o discurso cidadão e da solidariedade. Nessa perspectiva, há muita censura. A internet nos salva da desinformação.Mas como nos salvar da internet?

Mozahir Salomão Bruck PUC Minas

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CAMINHOS DA BÍBLIA

NÃO TENHAIS MEDO! CONFIAI E O VOSSO CORAÇÃO REVIVERÁ

O

medo é uma experiência própria da fragilidade da condição humana e nasce na sensação de ser colocado em alguma dificuldade, quando o homem se sente incapaz ou impotente diante de algumas realidades que a ele se apresentam. Na Sagrada Escritura, é de conhecimento geral que o mundo não acolhe e nem recebe bem os profetas, já que a maioria deles foi perseguida e rejeitada. Sabendo disso, Jesus ao se dirigir aos seus discípulos com as palavras: Não tenhais medo, tem o intuito de fortalecê-los no momento em que são enviados para a missão de anunciar o Reino dos Céus. O desejo do Mestre é o de que os discípulos não se deixem perturbar pelas dificuldades e sejam tomados e paralisados pelo medo, mas se sintam acompanhados e guiados por sua presença. A primeira vez em que o Senhor se dirige aos seus, convidando-lhes a não ter medo, está relacionada com a força da Palavra por eles anunciada. O Senhor lhes dá a garantia de que é o próprio Deus que os sustentará na proclamação da Palavra e que a fará conhecida por todos. A segunda ocorrência está ligada ao medo da morte, isto é, do limite humano e de sua fragilidade. Nesse caso, Jesus, mais uma vez, coloca a vida dos seus discípulos nas mãos de Deus, convidando-os a confiar na providência divina que nunca falha para aquele que a Deus se dirige. Por isso, o testemunho dos discípulos deve ser sem nenhum medo que paralisa e rouba o vigor, mas, 30 | vitória

corajoso e fiel, mesmo diante da violência que rouba a vida e procura ceifar a esperança. Por fim, o último convite de Jesus à confiança, que supera todo o medo, está relacionado com a certeza, que os discípulos devem ter a certeza de o olhar do Senhor está sempre pousado sobre os seus. Nada ocorre na vida daqueles que a Ele seguem e se entregam sem que o seu olhar amoroso permita, isto é, a vida dos discípulos está nas mãos do Senhor, muito mais bem cuidada do que os lírios e os pássaros dos campos.


CAMINHOS DA BÍBLIA

Com tais palavras, o Senhor convida os seus discípulos a uma liberdade de coração e a uma confiança que nascem na experiência de serem amados, acolhidos e, por Ele enviados. Pois, ao enviálos em missão deseja que levem a certeza de que o testemunho, a defesa da vida, o serviço aos que mais precisam fazem parte da Fé que professaram aos pés do Mestre. Desse modo, a superação do medo e da incerteza ocorre quando colocam no Senhor a sua confiança e se recordam de serem sempre por Ele acompanhados. Sendo assim, todos os que hoje ouvem as Palavras de Jesus e acolhem o testemunho dos primeiros discípulos, devem reconhecer, e m s e u s co ra çõ e s , o m e s m o chamado do Senhor e, a exemplo dos discípulos devem desejar abraçar, com coragem a mesma missão. Sendo assim, a superação do medo e vivência da confiança são um desafio constante na vida daqueles que desejam trilhar o caminho do discipulado missionário. De fato, no Salmo 68, o salmista convida a todos a depositarem no Senhor à sua confiança, quando afirma: "humildes, vede isto e alegrai-vos: o vosso coração reviverá". O salmo em questão se

relaciona diretamente àquele que reconhece, que percebe em sua vida os cuidados de Deus. Algo muito sentido pelos profetas, chamados a denunciarem, com coragem, as injustiças cometidas contra o povo, sem medo da perseguição por parte dos poderosos de seu tempo. De fato, diante das injúrias e mentiras que viam cair sobre si mesmos, os profetas se voltavam para o Senhor e colocavam Nele a sua total confiança. A

‘‘A coragem de ser testemunha de Cristo e defensor da vida nasce no coração dos que ao Senhor seguem’’ sua experiência de fé estava baseada na certeza de que o Senhor que os chamou e os enviou estaria sempre ao seu lado. Assim deve ser o coração de todo aquele que deseja seguir o Senhor no caminho do discipulado missionário, já que, a exemplo dos profetas e dos discípulos também enfrentarão situações difí-

ceis e passarão por provações em seu caminho. O que garantiu a coragem e a superação do medo no coração dos que decidiram abraçar o Evangelho e anunciá-lo com vigor e coragem, foi a certeza e confiança que tinham de que as promessas divinas são sempre mantidas. O Senhor sustenta o vigor do que chama para o caminho do discipulado, sustentando e dando vigor à sua vida, de modo que possam manter vivo o anúncio do Evangelho e a denúncia das injustiças, cometidas contra os pequenos e pobres. A coragem de ser testemunha de Cristo e defensor da vida, nasce no coração dos que ao Senhor seguem, pois Ele jamais os deixará sozinhos no caminho. A garantia de que a alegria não seja roubada pelo medo e de que a confiança não sucumba diante das dificuldades encontradas é a união íntima com o Senhor, que continua a dizer hoje, o que disse aos seus discípulos: "não tenhais medo".

Pe. Andherson Franklin Professor de Sagrada Escritura no IFTAV e doutor em Sagrada Escritura

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ENTREVISTA

O DESAFIO DA MULHER Os diversos papéis desempenhados pelas mulheres na sociedade atual fazem recair sobre elas uma carga pesada, e é cada vez mais comum ouvi-las reclamar dessas diversas atribuições. Ouvimos uma mulher que representa esse universo e, ao mesmo tempo, reflete sobre isso. A Mestre em Ciências Sociais Aplicadas, Doutora em Ciências Jurídicas, professora universitária, mãe de uma adolescente e de três crianças, dona de casa e esposa, Michella Zortéa Carneiro, falou um pouco sobre as multitarefas da mulher de hoje.

É difícil ser mulher atualmente? Michella - Nossa... eu diria que sempre foi difícil. Nos primórdios da humanidade a mulher concorria com o homem na disputa pela sobrevivência através da caça, coleta e fuga dos predadores. Mas, a partir do momento que humanidade se assenta e passa a desenvolver a agricultura, passando a cultivar para prover seu alimento, o poder passa a ser algo inerente aos homens e de alguma forma as mulheres passam a desempenhar um papel de submissão, de inferioridade com relação aos homens. De lá para cá isso foi sendo repetindo em todas as culturas na história da humanidade. Hoje em dia com o feminismo, movimento que foi e é muito importante, a situação não exatamente

melhorou. Digamos que melhorou em alguns aspectos apenas, porque hoje temos a liberdade de trabalhar, a liberdade para escolher com quem vamos nos casar, ou se vamos nos casar, mas me parece que os papéis sociais não estão muito bem definidos nessas sociedades modernas e por isso fica difícil para a mulher se encontrar. Quando se tem os papéis bem definidos como, por exemplo, nos países do Oriente Médio, nos quais a mulher é do lar e pronto (não estou aqui defendendo esse modelo, apenas tomando como exemplo). Então, neste tipo de sociedade, de alguma maneira se tem ali um objeto de felicidade preenchendo aqueles papéis e está tudo certo. Aqui eu diria que estamos vitória | 33


ENTREVISTA

perdidos. Não só as mulheres estão perdidas, os homens também. Porque vivemos ainda um momento de transição, de flexibilização dessas funções e, ao mesmo tempo, a sociedade impõe que os homens fiquem o tempo todo provando sua masculinidade, e as mulheres sua feminilidade. Encontrar-se é um desafio para as mulheres hoje? Michella -Penso que é tentar encontrar um equilíbrio entre a sua individualidade como mulher, como esposa, como mãe e como profissional. É um “quadripé” e isso é bem complexo. O equilíbrio não é fácil. Você diria que as mulheres estão cansadas? Michella - Estão sim. Estão cansadas porque embora os papéis sociais não estejam bem definidos, existe uma predeterminação cultural sobre isso. São valores culturais que vêm da nossa formação como pessoa, das nossas mães, que passaram para nossa geração e que se traduzem na crença de que a mulher tem que dar conta de tudo, que tem que estar sempre bem para cuidar dos filhos, das questões administrativas da casa, do marido e do trabalho, sendo o alicerce da família. A questão é que não dá para ser perfeita. A gente como mulher tinha que lançar um slogan que fosse contra essa perfeição. Temos que ser todas contra essa perfeição. É uma cobrança das próprias mulheres então? Michella - A mulher se cobra a perfeição, mas não é uma cobrança simplesmente pessoal. Há uma imposição cultural e social muito forte e que nós nem sempre nos damos conta. Eu sempre falo que 34 | vitória

para uma mulher se casar hoje, principalmente no Brasil, e se tornar uma dona de casa é preciso muita coragem. No Brasil quando a mulher não está no mercado de trabalho, se diz que a ela é “só” uma dona de casa, como se esse “só” fosse pouca coisa. Ser dona de casa é cuidar de toda a administração da casa, da alimentação da família, da educação, orientação e cuidado dos filhos, é dar atenção ao marido que representa a pessoa com quem ela escolheu para dividir a vida, e também dar atenção aos parentes, que com o tempo vão ficando idosos. Isso não é só, isso é muita coisa. Na sociedade brasileira isso é muito desvalorizado. Quando tomamos o exemplo de sociedades europeias desenvolvidas, a mulher pode se dar o direito de ser dona de casa com orgulho, pois lá ser dona de casa e desempenhar todas essas funções é algo louvável. Os papéis que a sociedade impõe para homens e mulheres mudaram ou continuam os mesmos se comparados há décadas atrás? Michella - Os papéis mudaram, só que as pessoas não se deram conta disso de uma maneira muito clara. Por aí se fala muito em novos papéis dos homens e eles têm essa noção. Mas eles foram criados de maneira diferente. Então, para os homens, ter que se encaixar nas atividades domésticas, é sofrido. A mulher hoje precisa de um parceiro que divida as funções com ela e não de um ajudante. Para eles, se encaixar nas atividades domésticas, é como se estivessem perdendo a masculinidade. E as mulheres se sentem como se estivessem pedindo uma ajuda, e na verdade elas apenas precisam que o companheiro cumpra sua parte. Espero que nós possamos caminhar para


ENTREVISTA

encontrar esse equilíbrio. Eu costumo ouvir de amigas que elas pedem ajuda ao marido, mas eu digo que isso não é pedir ajuda e sim que ele faça a sua parte, “não é um favor”. Isso tem que ser trabalhado na cabeça das mulheres, tem que estar embutido no consciente e inconsciente delas e deles, que o fato de compartilhar as tarefas da casa e o cuidado dos filhos não é um favor que os maridos lhes fazem.

Qual a mudança necessária hoje na sociedade e na família para que a carga da mulher diminua? Michella - Eu respondo esta pergunta com um questionamento. Será que nós devemos continuar tentando ser “supermulheres”? Porque é isso que estamos fazendo conosco, tentando ser “super mulheres”. Isso é mesmo necessário? Ao fazermos isso nós perpetuamos a ideologia que temos que dar conta de tudo.

Então, pelo que vem acontecendo atualmente com relação às mulheres, existe uma dificuldade nisto? Michella - Me parece que há uma dificuldade de comunicação, porque como a criação é diferente, a gente já parte para um casamento pressupondo que quem tem que cuidar de tudo é a mulher. Se ela vai para o mercado de trabalho, mais justo ainda que as tarefas sejam divididas. É necessário também que as mulheres façam uma autoavaliação e conversem com seus companheiros para que esta questão seja discutida, mostrando que se os dois trabalham, a divisão de tarefas se faz necessária. Mas não como algo imposto, mas com troca de ideias para que o diálogo não seja bloqueado.

É cada vez mais comum ver homens jovens passeando com bebês nos parquinhos, ou fazendo alguma atividade com os filhos, sem a companhia das mães. É um sinal de transformação? Michella - Com certeza. Me parece inclusive que os homens estão muito dispostos a fazer isso. Vejo meus primos mais novos, recém-casados, e eles já têm um olhar diferente com relação à paternidade e as tarefas domésticas. Se eles vêm assumindo esses papéis com a clareza de que é uma função que também é deles e que isso não fere a masculinidade deles, é um grande avanço. A partir do momento em que a sociedade aceita de uma maneira bem clara estas posições, fica mais fácil para as mulheres que elas também assumam e aceitem a necessidade de dividir as tarefas.

Esse quadro pode mudar começando com a educação dos filhos? Michella - Isso é muito importante, pois temos a tendência de reproduzir nossas mães. Dessa forma a gente impõe para as meninas as tarefas domésticas, de ajudar nos cuidados da casa, e os meninos ficam sendo esquecidos nessas funções. É importante que não fiquemos apenas no discurso, mas que coloquemos isso em prática dentro de nossas casas, atribuindo também aos meninos parte destas tarefas.

Andressa Mian Jornalista

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MUNDO LITÚRGICO

O

s textos próprios da liturgia eucarística, contidos no Missal Romano, dão o sentido do dia celebrado, particularmente dos domingos, solenidade e festas, além de sinalizar os tempos litúrgicos. Um dos elementos, dentre os referidos textos, são os prefácios do Tempo Comum, que ajudam a aprofundar aspectos importantes sobre o sentido do mistério celebrado. Eles são utilizados exclusivamente aos domingos. O substantivo prefácio vem do latim prae-fatio (de fari [dizer]); e também do grego, pró-logo (o que se diz antes). Então, prefácio, na forma litúrgica, é o que se proclama como introdução e ao mesmo tempo resumo da oração eucarística, com o sentido da ação de graças, em tom de proclamação, sendo um elogio a Deus pela sua obra no mundo, com a culminância da ressurreição do seu Filho. São nove prefácios com os seus respectivos títulos: I – O mistério pascal e o povo de Deus; II – O mistério da salvação; III - A salvação dos homens, pelo homem; IV – A história da salvação; V – A criação ; VI – Cristo, penhor da Páscoa eterna; VII – A salvação pela obediência de Cristo ; VIII – A Igreja reunida pela unidade da Santíssima Trindade; IX – O dia do Senhor. Em linhas gerais, esses prefácios elucidam o mistério pascal de Cristo e sua união com a história da salvação e do povo de Deus, recordando os efeitos da Encarnação do Verbo e sua ação salvífica, manifestada e atualizada, hoje, de forma culminante, na celebração eucarística. Uma proposta para as equipes de liturgia e celebração é organizar um momento de estudo, reflexão, aprofundamento e vivência a partir dos referidos prefácios, desde a própria equipe até uma possível formação em âmbito das comunidades,

PREFÁCIOS DO TEMPO COMUM resgatando o sentido do Tempo Comum e sua espiritualidade. O caminho da formação e aprofundamento litúrgicos também se dá por meio da relação com os textos da eucologia. Quanto mais os que celebram aprofundarem o sentido ritual, com os seus elementos próprios, mais qualidade surgirá nas celebrações, e com repercussão para a assembleia, na inteireza da vivência ritual. Os efeitos também repercutirão na vida pastoral da Igreja. Que este Tempo Comum, retomado após a solenidade de Pentecostes, seja uma etapa de aprofundamento e frutificação do Mistério Pascal, como contínua recordação da “...Ressurreição do Senhor, na esperança de ver o dia sem ocaso...” (cf. Prefácio dos Domingos do Tempo Comum, IX – “O Dia do Senhor).

Fr. José Moacyr Cadenassi OFMCap

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VIVER BEM

ESSA TAL FELICIDADE

A

busca pela felicidade é uma constante na vida das pessoas desde que elas se entendem por gente. Na verdade talvez antes mesmo disto, já que muitos bebês, ainda no útero manifestam desconforto e outras sensações. Mas se buscamos isto, será que somos capazes de definir o que é essa tal de felicidade? São tantos conceitos que envolvem esta resposta que o que pode parecer simples para você começa a complicar quando perguntamos para outras pessoas, afinal a felicidade é algo bastante particular. Se observarmos bem, perceberemos em algumas pessoas que parecem ter tudo uma constante insatisfação e por outro lado também encontramos pessoas de realidades bem humildes que parecem realizadas. Será a felicidade uma questão de expectativa e realização? Se eu esperar pouco da vida terei mais chances de ser feliz?

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Ou só serei feliz quando alcançar o topo? (sabe-se lá o que isto quer dizer) Há pessoas que posssuem o hábito de condicionar a felicidade a fatores como dinheiro, sucesso, amor e todos os tipos de realizações. Pessoas que parecem sempre correr atrás da felicidade sem nunca alcançar. Já pensou se a felicidade viesse de dentro? Se estivesse em nossos pequenos atos do dia a dia? Será que posso ser feliz apreciando um dia bonito, o café fresquinho, uma caminhada sem pressa, uma conversa sem compromisso? Existe esta felicidade sim e não pense que pessoas assim são sem expectativas ou ambições. Elas apenas encontraram a felicidade no que vivenciam e não estão sempre atrás de conceitos que muitas vezes


não são delas. Afinal desde que aprendemos a andar somos direcionados a um conceito de felicidade coletivo que nos diz que para sermos felizes precisamos de conquistas financeiras, profissionais, de relações, de posses e outras sem fim.

A exigência desta felicidade é tão grande e aumenta tanto no decorrer de nossa vida que estamos sempre em busca dela, algumas vezes chegamos a pensar que estamos perto, mas nunca de fato nos damos por satisfeitos, apesar de algumas vezes nos darmos o direito de sentirmos uma felicidade momentânea, uma dose homeopática deste sentimento para que

a nossa busca continue. Não me atrevo a dizer onde você de ve encontrar a sua felicidade, afinal ela é sua. Mas, reflita se esta felicidade que busca é um conceito seu ou se foi condicionada por padrões de outras pessoas. E olhe em volta e te n te p e rce b e r o q u e vo cê realmente precisa para ser feliz. Será que a felicidade já está pertinho de você, mas como está sempre procurando lá na frente não consegue visualizá-la? Talvez em vez de estar naquele baú de madeira de lei todo orna-

mentado ela esteja enrolada em um paninho simples. “Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”, Thich Nhat Hanh

Vander Silva Professor e jornalista

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LIÇÕES DE LIÇÕES DE FRANCISCO FRANCISCO

FUNÇÃO PROFÉTICA DOS SINDICATOS

N

a revista Vitória de maio de 2018, fizemos um apanhado do pensamento do Papa Francisco na relação entre “trabalho e justiça social”. Agora queremos dar continuidade com uma questão específica, mas também correlacionada com o conteúdo do mês anterior. E vamos buscar este tema no discurso do Pontífice com os delegados da Confederação Italiana dos Sindicatos dos Trabalhadores, ocorrido no ano passado. Seu discurso versou sobre o tema “pela pessoa, pelo trabalho”. De suas palavras, queremos refletir aqui a questão da prática sindical. São muito comuns, entre nós, as manifestações de críticas às posturas de sindicalistas. E são corretas as críticas, pois muitos sindicatos perderam sua “vocação profética da sociedade” assemelhando-se com a própria política, com os partidos políticos. Muitas vezes, os partidos tomam as organizações sindicais como braços para penetração na sociedade. O sindicato torna-se instrumento dos interesses corporativos e partidários. Muitas vezes, os sindicatos perdem sua aderência social na medida em que se afastam do lugar onde sua luta deveria ser fundamental: as periferias existenciais, os imigrantes, os pobres. A corrupção, con-forme Francisco, penetrou também no coração de muitos sindicalistas. Para o papa, é preciso “habitar as periferias” a fim de se tornar uma estratégia de ação.

E conclui seu discurso com palavras de grande profundidade: “Não existe uma boa sociedade sem um bom sindicato. E não há um bom sindicato que não renasça todos os dias nas periferias, que não transforme as pedras descartadas da economia em pedras angulares. Sindicato é uma bela palavra que provém do grego syn-dike, isto é, “justiça juntos”. Não há justiça se não se está com os excluídos”. O desafio da justiça social é essencial para a luta por um mundo melhor e se insere no contexto do Ensino Social da Igreja e nos coloca diretamente no horizonte do Reino de Deus. Não é pauta dos comunistas como muitos tentam desqualificar o conteúdo da luta, mas da fé cristã. Isso precisa ficar claro para todos os cristãos batizados. “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas as coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6, 33). Antes de orar a Deus pedindo milagres e curas tornase necessária a luta pelo Reino e sua justiça. Milagres e curas virão depois. Para os cristãos brasileiros que se dedicam à vida sindical o desafio é ainda maior, pois o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, ou seja, mais injusto. Nossos sindicatos pouco a nada conseguem ou querem fazer. O que domina seus trabalhos se refere mais à ordem partidária e não a luta por justiça, que é a função profética dos sindicatos.

Edebrande Cavalieri Doutor em Ciências da Religião

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ECONOMIA POLÍTICA

IMPORTANTE E FUNDAMENTAL por todos reconhecida a importância da política econômica em buscar o controle da inflação, das contas públicas e a liberação da taxa de câmbio. Enquanto regra geral, o chamado tripé macroeconômico faz todo o sentido em tempos de economia estável. Como essa estabilidade, tão preconizada pelos que endeusavam as virtudes da livre movimentação de bens e serviços em escala mundial, tornou-se uma permanente volatilidade desde a crise financeira de 2007/08, que essa regra geral precisa ser relativizada. Ela precisa ser contextualizada para que outras dimensões da crise sejam contempladas. Em momentos de baixo dinamismo da demanda em escala mundial e de recessão interna como a vivida no Brasil, é preciso que a política econômica seja anticíclica e priorize medidas capazes de diminuir os impactos da crise sobre o emprego e a renda. Deixar o emprego ao sabor das forças de mercado em momentos de crise pode trazer resultados econômicos nefastos. Buscar equilibrar as contas públicas através de cortes em despesas sociais, compromete a recuperação. Isso porque, a crise de demanda só se aguça com essas medidas. Desemprego e cortes em despesas sociais acabam aprofundando a crise e penalizando mais aqueles que menos têm. Um bom exemplo disso é o que vem acontecendo na maioria dos países da União Europeia. Os ajustes à

É

lá FMI e Banco Mundial que no passado foram testados em seus impactos econômicos e sociais negativos e em sua baixa efetividade na América Latina, lá repetem resultados igualmente negativos e sem efetividade. Mesmo diante dessas evidências, os condutores da política econômica no Brasil fazem vistas grossas para elas. O Nobel em Economia Paul Krugman tem sido uma voz – longe de ser a única – que busca alertar para o quão fundamental são políticas anticíclicas que privilegiem o emprego e a demanda. Essa pode ser estimulada tanto no campo do consumo quanto no do investimento. Entre ampliar o consumo e o investimento é sempre mais efetivo a médio prazo, priorizar investimentos. Melhor que eles sejam voltados para atividades que gerem empregos já que esses acabam por aumentar a renda. Aumento de renda leva a incrementos da demanda que resulta em novos investimentos, instalando-se assim o chamado ciclo virtuoso do crescimento. A simplicidade dessa virtuosidade esbarra na economia política, já que alguns agentes econômicos têm muito mais voz e poder de pressão do que os demais. No mundo inteiro – e no Brasil de maneira afrontosa - sabe-se que esse é o caso do mercado financeiro. Por isso, quando ele está satisfeito, é porque existem riscos de perdas para o setor produtivo e para a maioria da população. Eis a sutil diferença entre importante e fundamental.

Arlindo Villaschi Professor de Economia arlindo@villaschi.pro.br

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PERGUNTE A QUEM SABE

UM CATÓLICO QUE VAI PARA OUTRA IGREJA E É BATIZADO DE NOVO, FICA COM DOIS BATISMO? Desde o dia de Pentecostes a Igreja Católica vem administrando o Sacramento do Batismo a quem crê em Cristo e quer a vida eterna. A Igreja acredita que o Batismo é um sacramento que não se repete, pois é uma ação de Cristo na Igreja. Por este sacramento a pessoa renasce para uma vida nova, fazendo de nós filhos e filhas adotivos do Pai, membros de Cristo, templos do Espírito Santo, incorporando na Igreja nos configurando com Cristo. Quando uma pessoa abandona a fé católica e se une a uma outra igreja, é comum muitas igrejas solicitarem ou exigirem um “novo batismo” como garantia e pertença àquela instituição. Portanto, na compreensão da Igreja Católica não existem dois ou

Pe Ivo Ferreira Amorim

É VERDADE QUE O BATISMO PODE SER ANULADO? Uma vez batizado a pessoa recebe uma marca para sempre que não é apagada por nenhum pecado. O que se espera de um cristão batizado é que se coloque a serviço das obras de Deus, participando ativamente da Igreja, exercendo seu sacerdócio batismal pelo testemunho de uma vida santa na caridade.

Pe Ivo Ferreira Amorim


POR QUE EM DETERMINADOS CASAMENTO SE DISTRIBUI EUCARISTIA PARA OS NOIVOS? A Igreja ensina a união matrimonial do homem e da mulher, fundamentada na lei do Criador, se ordena à comunhão e ao bem dos cônjuges e à geração e educação dos filhos. Trata-se de uma união indissolúvel como Cristo afirmou: “Não separe o que Deus uniu” (Mc 10,9). Portanto, uma união que supõe uma comunhão de vida a dois, uma aliança de amor fiel e fecundo no ato humano, consciente e livre. Para viverem plenamente esta união indissolúvel, a Igreja concede aos noivos que se uniram em Matrimônio fora da missa, a Sagrada Comunhão expressando a unidade desse sacramento à mesa da Eucaristia, sustento na vivência da nova missão.

Pe Ivo Ferreira Amorim

POR QUE PARA RECEBER O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO É NECESSÁRIO CASAR NO CIVIL? Por prezar muito o bem estar das pessoas, a Igreja Católica agia e age com enorme cautela para que ninguém seja lesado em seus direitos (Verificar cânone 1071, § 1 e 3). No Brasil, tanto os direitos de ambos os cônjuges como dos filhos menores dentro de uma união estável é fortemente tutelado pelo Estado, contudo o Direito Canônico é universal, não podemos ignorar um artigo de um cânone por não nos parecer necessário. Tudo que a Igreja Católica deseja, com tal exigência, é salvaguardar o bem daqueles que procuram realizar sua celebração matrimonial conforme as normas para um casamento religioso católico. Está ela também atenta e respeitosa aos que, de alguma forma estão envolvidos em uma união anterior que acarretou compromissos e respon-

Pe Teodósio Cesar De Aquino

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ACONTECE

ENCONTRO DAS PASTORAIS SOCIAIS

Com o tema “A importânci a do leigo na sup era ção da vio lên cia”, o Encont ro das Pastorais Sociais será realiza do no dia 09 de junho e é uma oportunida de para celebrar a presença dos cristãos leigos e leigas na Igreja. O encontro, que acontece no Centro de Convenções de Vitória de 8 às 18 horas, é direcionado para os agente s das pastorais sociais e para os agentes dos projetos e ações sociais que atuam ou que já participaram desses projetos na Arquidioce se de Vitória.

MISSA FESTIVA Junho é o mês que a Igreja ded ica ao Sagrado Coração de Jesus, e na Arquid iocese de Vitória, os membros do Apostolado da Oração reúnemse para celebrar uma missa solene no dia 09 (sábado), às 15h, na Catedral Metropolitana de Vitória. Todos são convidados a levarem suas bandeiras e estandartes para este momento de fé e devoção.

PROCISSÃO LUMINOSA Dando continuidade às comemorações do Jubileu de 60 anos da Arquidiocese de Vitória, acontece no dia 10 de junho a procissão luminosa. A saída será às 17 horas da Catedral Metropolitana de Vitória e seguirá para a Basílica de Santo Antônio, em Santo Antônio. A imagem do Padroeiro será levada durante o trajeto.

CONGRESSO DE CATEQUESE “Com o trab alha r com as famí lias no processo de Iniciação à Vida Cristã!” é o tema do Congresso de Catequese que acontece no dia 16 de junho, de 8h às 17 horas, no Audit ório do Santuário de Vila Velha. Como assessor, o encontro contará com o Pe. Antonio Franc isco Lelo, editor-assistente na área de Liturgia e Catequese na Paulinas Editora. As inscrições podem ser feitas através do e-mail mitra .catequese@aves.org.br até o dia 11 de Junh o. O investimento por participante é de R$ 65,00 .


DOMUS ITÁLICA NOVA ARTE



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