Revista Vitória - Maio 2019

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Ano XIII | Nº 165 | Maio de 2019

REVISTA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA – ES

Senhora das alegrias, modelo de mulher.



EDITORIAL

MULHERES Terminamos o mês de abril celebrando Nossa Senhora da Penha e entramos em maio, mês das mães, das noivas e de Nossa Senhora. Em comum temos a mulher, mulher-noiva, mulher-mãe, Mulher-Nossa Senhora. Entre os muitos desafios da modernidade para as mulheres, o modelo, que é Maria, pode e deve ser um estímulo para quem quer ser mulher em plenitude. Nesta edição alguns exemplos de dedicação e de entrega com destaque para a entrevista, flashes do cotidiano e a reportagem sobre a Festa da Penha. Falamos também de aposentadoria, migrantes e biodiversidade entre outros assuntos. Boa leitura!

Maria da Luz Fernandes Editora

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Publicação da Arquidiocese de Vitória / ES • ISSN 2317-4102

Maio de 2019

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NÃO TENHAIS MEDO

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MÃOS QUE CELEBRAM

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Especial

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REPORTAGEM

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ENTREVISTA

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SUGESTÕES

Festa da Penha 2019.

Mundo Litúrgico

Um lugar de aconchego que ameniza os sofrimentos do abandono e indiferença.

A VERDADEIRA RELIGIÃO Catequese

De bike com os anjos do pedal.

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Aspas

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Arquivo e Memória

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Palavra do Arcebispo

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Economia Política

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Caminhos da Bíblia

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Flashes do Cotidiano

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Fazer Bem

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Aconteceu

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ATUALIDADE Mãe contemporânea e mãe nos velhos tempos

IDEIAS A vida não é falta, mas excesso

VIVER BEM Emagrecer é uma questão de força de vontade?

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LIÇÕES DE FRANCISCO Migrantes: no coração da igreja

PAUTA LIVRE Cadê minha casa que estava aqui?!

ESPIRITUALIDADE O anúncio do Anjo Gabriel a Zacarias

Arcebispo Metropolitano: Dom Dario Campos • Arcebispo Emérito: Dom Luiz Mancilha Vilela • Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098–ES • Repórter: Andressa Mian / 0987–ES • Conselho Editorial: Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Vander Silva, Milena Cabral • Colaboradores: Pe. Andherson Franklin, Arlindo Vilaschi, Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Fr. José Moacyr Cadenassi • Revisão de Texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: vlorenzetto@redercres.com.br – (27) 3198-0850 • Fale com a Revista Vitória: mitra.noticias@aves.org.br • Diagramação: Paulo Arrivabene • Foto de capa: Tony Silvaneto • Impressão: Gráfica e Editora GSA – (27) 3232-1266


REPORTAGEM

A FESTA DA FÉ, DO AMOR E DA DEVOÇÃO A

NOSSA SENHORA DA PENHA

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o abraço e no colo de mãe sempre cabem todos os filhos. Talvez, foi por isso que o Arcebispo de Vitória, Dom Dario Campos, repetiu em todas as celebrações que presidiu durante a Festa da Penha “coloquemos no colo de Nossa Senhora todos os nossos pedidos de graças e bênçãos”. A imagem de Nossa Senhora da Penha, a Mãe das Alegrias, cuja presença sentimos ao olhar para o Convento, lá no alto do penhasco, em Vila Velha, lembra ao povo capixaba e a todos que passam por ali que recorrer ao seu colo, ao seu olhar, ao seu amor materno, é certeza de ser acolhido.

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REPORTAGEM

A Festa da Penha, hoje a maior manifestação religiosa do Espírito Santo e a terceira maior festa mariana do país, atingiu, neste ano, 2,5 milhões de romeiros, durante os nove dias de festividades.

São muitas e diversas ações religiosas e culturais que acontecem e, em todas, é muito expressivo o número de pessoas que participam: missas, romarias, shows, teatro, música, reflexões e bênçãos para todas as idades e em diferentes locais. O lugar que concentra mais eventos é o Campinho do Convento, mas outros também servem de palco à Festa da Padroeira, como a Prainha, o Santuário de Vila Velha, Catedral de Vitória e as ruas.

A Revista Vitória ouviu fiéis que participaram dos diversos eventos para saber como eles entendem a Festa, em qual momento e porque participam. No caso dos romeiros que fazem o Oitavário da Festa, grande parte deles tem costume de ir também à Romaria dos Homens ou a das Mulheres, e à Missa de Encerramento, dia de Nossa Senhora da Penha.

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colha por esses dois momentos da Festa deu-se após a retirada de um cisto de 23 centímetros no abdômen. “Depois de ter recebido a graça da cura pela intercessão de Nossa Senhora da Penha, decidi que participaria em especial desses dois momentos”.

A coordenadora do Apostolado da Oração da Área Pastoral de Vila Velha, Santa de Fátima Nespoli também garante a assiduidade no Oitavário e na Romaria das Mulheres, e afirma que participa da Festa há pelo menos 30 anos.

É o caso da costureira aposentada Maria Izabel Vieira da Silva, 65 anos, da Paróquia São José, em Maruípe. Bastante envolvida em sua paróquia – ela atua na Pastoral da Saúde, participa dos Círculos Bíblicos e do movimento Mãe Peregrina -, Maria Izabel participa pelo segundo ano consecutivo de todo o Oitavário e da Romaria das Mulheres, mas contou que vai à Festa há mais de 50 anos. A es-

Este ano, pela primeira vez Santa trouxe 30 integrantes do grupo do Apostolado para participar de todo o Oitavário.

“É a primeira vez que o Apostolado está representado na festa. Trouxemos a bandeira, estamos com as camisas, e claro, cada um com sua fita, que é nosso sinal de pertença ao Sagrado Coração de Jesus”, disse. Já Maria Rosa Pereira Nascimento, 86 anos, sua irmã, Maria Pereira dos Santos e a filha, Dilceia do Nascimento Souza e a irmã, conhecem a programação, mas participam do Oi-


REPORTAGEM

tavário, uma tradição de família à qual sua irmã Maria junta a graça que recebeu de Nossa Senhora quando sua filha ficou entre a vida e a morte da UTI após uma queda.

Como essa devoção de Maria Nascimento outros devotos têm histórias de gratidão a Nossa Senhora por graças alcançadas. É o caso de Patrícia Eggert, que, por sete anos Patrícia tentou engravidar, mas os médicos afirmavam que um problema nos ovários impedia a gestação e que a gravidez só seria possível com fertilização in vitro.

Ela foi ao Convento e pediu à Mãe Maria que lhe permitisse a graça de ser mãe e prometeu que se seu pedido fosse atendido, faria o Oitavário por sete anos seguidos. No ano seguinte descobriu a gestação, mas um exame de rotina mostrou que havia 50% de chances do bebê nascer com Síndrome de Down.

“Eu não sabia o sexo do bebê ainda e não me importava que ele nascesse com a Síndrome. Eu voltei ao Convento e pedi apenas que a criança nascesse com saúde. Reforcei minha promessa com Ela e disse que se fosse um menino, o traria ao Convento no Oitavário com uma boneca que A representasse nos braços, e se fosse menina a traria durante os sete anos vestida de Nossa Senhora”, contou. Igor Daniel De Angeli, está cheio de saúde completou oito anos em abril. Durante sete anos carregou a boneca durante os Oitavários das Festas e a promessa está paga, mas nem Igor, nem Patrícia querem parar de participar do Oitavário. “Ele já disse que quer continuar e eu, a partir do ano que vem, estarei aqui par servir”, afirmou.

Há mais de quatro séculos, acontece a Festa de Nossa Senhora da Penha, iniciada por Frei Pedro Palácios que desembarcou em 1558 no Espírito Santo com o painel de Nossa Senhora das Alegrias. Segundo os franciscanos, a primeira festa celebrada aconteceu no ano seguinte à chegada do Frei, mas foi em 1570 que a primeira festa com a imagem, recém-chegada de Portugal, foi celebrada. Hoje, esta imagem está exposta na capela do Convento e de lá para cá muita coisa mudou.

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REPORTAGEM

Já os eventos noturnos, como a noite oracional, a bênção de casais, o Concerto da Orquestra Sinfônica e a noite mariana acolhem os devotos que não conseguem ir no Oitavário por conta do horário, mas também aqueles que preferem essa programação. Na noite da bênção dos casais, os membros das equipes de serviço participam e dizem que esse “momento é especial para eles e podem participar sem preocupações”, disseram Ana e Gilmar de Itapoã.

“Estamos pensando em um projeto futuro de mudar o horário do Oitavário para mais tarde”, disse frei Paulo, guardião do Convento da Penha.

Jorge de Guarapari, Leandro e Vanusa de Cariacica, Joana e Alessandra também de Cariacica, Daniel, Lucas, Gilson, André e Luiz Antônio participam apenas da Romaria dos Homens e desconhecem o restante da programação. Marcos leva a esposa Ângela na Romaria dos Homens e depois a acompanha no domingo na Romaria das Mulheres. Leandro de Vitória estava na Catedral para assistir a palestra de pe. Joãozinho e disse que nem sa-

bia que o evento fazia parte da Festa da Penha “pensei que isso aqui era iniciativa da paróquia, mas foi muito bom e isso que é importante”. Carla e Vanessa não perdem a Romaria das Mulheres “pra gente, a Festa é esta Romaria, a mais bonita e mais animada”. Os romeiros que chegaram mais cedo à Prainha, João, Antônio, Vitor e Marcelo afirmam: “o ponto alto da Festa da Penha é a Romaria dos Homens, agora Romaria das Família. Se caminhou da Catedral até aqui, Nossa Senhora já abençoou”.

Frei Paulo Roberto, Guardião do Convento da Penha, afirma que a fidelidade à Festa é muito impressionante e que passa de pais para filhos. “A gente vê muitas crianças sendo trazidas e com orgulho sendo apresentadas à casa

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REPORTAGEM

de Nossa Senhora e à Festa da Penha. É bonito isso, e a gente nota que o Convento continua a atrair todas as gerações. Os idosos, enquanto conseguem andar fazem questão de vir participar do Oitavário. O que noto é que grande parte das pessoas que participam do Oitavário também vão às romarias e as pessoas que trabalham durante a semana participam das romarias dos finais de semana”. Frei Paulo Roberto tem razão quando afirma que devoção é passada dos pais para os filhos. A pequena Maria Helena, com apenas quatro meses,

foi levada ao Convento pela primeira vez, durante a Festa deste ano, e teve um importante papel ao representar o menino Jesus no colo de Santo Antônio durante uma apresentação no terceiro dia do Oitavário. “É uma honra para meu esposo, Antônio Coutinho e para mim que a primeira vez de nossa filha no Convento e na Festa da Padroeira tenha sido representando um papel tão importante, o menino Jesus”, disse Iasmin Guimarães, mãe de Maria Helena.

A devoção e a fé que começam na infância seguem a vida toda, afirma Maria do Socorro Fontenelli que há seis anos faz parte da equipe da corda de proteção da Romaria das Mulheres.

“Nem me lembro quando comecei a participar, acho que

desde sempre, desde criança e nunca mais parei. A Festa é maravilhosa e a Romaria das Mulheres é lindíssima. Agora enquanto trabalho para Mãe, aproveito para agradecer e pedir pela família toda. Tenho um problema sério na coluna, mas nesta hora eu nem lembro dele. Os problemas vão todos embora quando é para servir a Nossa Senhora”, garantiu.

Problemas também não existem para a cadeirante Sandra Mara Gambarini, que participa da festa há mais de 15 anos. Auxiliada por um frei franciscano que empurrou sua cadeira de rodas durante toda a romaria das Mulheres, ela conta que vai a vários momentos da Festa. Vou ao Oitavário, vou às romarias, vou às Missas de abertura e encerramento. Nada me impede de estar perto da Mãe. A cadeira de rodas não é um empecilho, mesmo porque tem sempre alguém para ajudar”, garantiu sorrindo e agradecendo a ajuda do frei.

Maria da Luz Fernandes e Andressa Mian Jornalistas

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ESPECIAL

Se existe algo que queremos ou estamos tentando fazer, mas não conseguimos criar coragem, precisamos parar de exitar para tentar. Fé é força. É preciso descer do muro e não ter medo do inesperado.

NÃO TENHAIS MEDO

Q

uem diz isso é Cristo. Viver com medo é deprimente, pois o medo bloqueia a nossa mente nos impedindo de pensar.

O medo nos impede de enxergar uma saída e de agir com equilíbrio. O medo não vem de Deus e para vencê-lo devemos deixar que Deus nos toque com Seu amor. O amor de Deus é o que nos fortalece e concede um espírito de equilíbrio.

Se por algum motivo nos sentimos desanimados. Não há problema, faz parte. Mas quando passamos por momentos assim, de desânimo ou falta de coragem, podemos nos fortalecer com o que escreve Paulo em 2 Timóteo 1:7. “Porque Deus não nos deu espírito de covardia, mas de amor e de sabedoria.”

Dai-nos Senhor o dom da Sabedoria. O medo paralisa, especialmente o medo imaginário, aquele medo que quando pensamos em fazer algo, acreditamos que não dará certo. Se pensamos em fazer vestibular, achamos que não vamos passar, se pensamos em fazer uma horta, acreditamos que não vai dar certo.

Este é o medo imaginário, paralisador, que inibe nossas ações e por isso devemos renunciá-lo, substituindo esse sentimento pela confiança em Deus, que nos capacita a viver com coragem, ousadia, e total segurança.

Deus quer que a gente viva sem medo. Em Mt 11, 28-30 Jesus nos diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e meu fardo é leve.” Sejamos ousados e acreditemos Nele para realizarmos nossos sonhos. Façamos esse pedido: Senhor, dai-me um coração destemido, confiante, ousado e livre. Senhor, ajuda-me a vencer o medo e ser tudo o que queres que eu seja. Senhor, livra-me dos meus temores e inseguranças e faz-me seguir rumo a Vitória. Amém.

Este é o sentido da Páscoa. Vencer o medo, vencer a morte, porque Deus é o Deus da vida e do amor.

Padre Maurício Cordeiro Programa de rádio A Vida em Primeiro Lugar

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ATUALIDADE

Maria 2: Como era, no seu tempo, ser mulher e principalmente ser mãe? Maria 1: Era mais fácil criar filhos na minha época! Maria 2: Mais fácil?

MÃE CONTEMPORÂNEA E MÃE NOS VELHOS TEMPOS

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e na contemporaneidade nós mulheres enfrentamos desafios por conta das mudanças, inclusive quanto à maternidade, como era ser mulher/mãe nos velhos tempos? Antes de engravidarmos somos unicamente mulheres, pessoas valiosas, com todo o potencial de amor que nos foi concedido por Deus e cheias de dons e habilidades para construir também uma carreira profissional. Mas ser mulher, esposa, amiga, excelente profissional nos basta? A minha longa experiência clínica em psicoterapia, aponta que não. Atendi muitas mulheres e pude perceber que, mesmo realizadas profissionalmente, se não tivessem tido a experiência da

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maternidade, seja por qualquer razão, sentiam que ainda lhes faltava algo. Com base nessa experiência clínica entre outras, trago em forma de diálogo, conteúdos colhidos nessa experiência, buscando responder: Mãe contemporânea e mãe dos velhos tempos, o que uma pode aprender com a outra?

Vou nomear as personagens de Maria 1 = mãe nos velhos tempos (idade acima de 50 anos) e Maria 2 = mãe contemporânea (pós-modernidade).

Maria 1: Sim, seguíamos mais a natureza humana/instinto, a intuição. Não tínhamos a quem perguntar, onde nos informar sobre como as coisas se davam, nós aprendíamos observando nossas mães, avós, tias, ou cuidando dos irmãos. Os filhos, à medida que cresciam, iam ganhando independência, logo aprendiam a comer, e se vestirem sozinhos; dávamos a eles pequenas tarefas para nos ajudarem nos afazeres quando já alcançavam certa idade e assim iam aprendendo a ter responsabilidade. Quando lhes era permitido brincar, criavam suas próprias brincadeiras. As regras eram simples: alimentar, cuidar e proteger. Esse era nosso jeito de amar. Maria 2: Entendi. Você quis dizer que era mais simples! Hoje somos cercadas de regras: não pode isso, não pode aquilo, cuidado para não traumatizar! Existem até cursos para aprendermos a ser mães! Temos muitas informações que às vezes nos confundem! Maria 1: Nossa! Isso nós não tínhamos. As vivências se encarregavam de nos ensinar, nós agíamos por instinto ou intuição, com um ou outro conselho da parteira, tia, ou de nossas mães.


Maria 2: Mas como vocês faziam quando não sabiam o que fazer? A quem recorriam? Hoje, recorremos aos médicos pediatras, à internet e as vezes também aos livros. Maria 1: Nós confiávamos muito em Deus! Recorríamos às orações, nós buscávamos na fé. Penso que isso nos tornava mulheres/ mães mais fortes, pois dávamos conta dos afazeres da casa, dos filhos, marido, da criação... Acho que hoje vocês têm mais tempo para estar com seus filhos, possuem muitas modernidades que facilitam suas tarefas domésticas. As nossas eram mais pesadas e não tínhamos tempo para brincar com nossos filhos. Apenas dar ordens. Éramos muito exigentes quanto à obediência. No fim do dia estávamos muito cansadas. Os carinhos só eram possíveis de acontecer quando dávamos banho ou trocávamos as roupas deles ainda pequenos, pois tão logo começassem a andar, a maneira de demonstrar amor era por meio de olhares, as vezes um gesto de passar a mão na cabeça, segurar nas mãos para caminhar rumo à igreja ou à escola, ou um sorriso cheio de amor. Maria 2: Embora tenhamos essas modernidades, nossa jornada de trabalho se estende para fora de casa, por necessidade ou por escolha, e com isso terceirizamos os cuidados de nossos

filhos a outras mulheres, a escola... Perdemos momentos preciosos de estar com nossos filhos. Carregamos tanta culpa por passar muito tempo longe de casa que ao chegar buscamos compensar, fazendo todas as vontades de nossos filhos, pois temos medo de perder o seu amor. E ao fazermos isso, eles ficam cheios de vontades, se tornam desobedientes e às vezes se transformam em pequenos tiranos. Também chegamos ao fim do dia muito cansadas. O que você levaria do que temos hoje para sua época? O que te ajudaria? Maria 1: O conhecimento e a assistência médica. Nós sofríamos muitas perdas de filhos e muitas mulheres morriam no parto por desconhecimento e falta de assistência adequada. Embora as crianças adoecessem menos, quando acontecia de caírem doentes tínhamos que recorrer às orações, benzedeiras e chás que não resolviam quando era algo mais grave. Tudo o que mais desejávamos era a saúde e a felicidade de nossos filhos! E você, o que traria do meu tempo para hoje, que também te ajudaria? Maria 2: Traria de volta a simplicidade, os limites e a força da fé, pois o que mais nós também desejamos, é que nossos filhos tenham saúde e sejam felizes!

Maternidade é um chamado Divino a viver o amor na sua plenitude.

Concluindo, podemos perceber que: mãe ontem, hoje e sempre, com mais ou menos recursos e atividades, deseja mesmo é estar com seus filhos, acompanhar o crescimento deles, demonstrar o amor cuidando, alimentando, protegendo, abraçando, beijando, colocando no colo ou simplesmente lhes sorrindo. O que as mães mais desejam é ver a felicidade de seus filhos! Maternidade é um chamado Divino a viver o amor na sua plenitude e para exercê-la é preciso ser mulher, ser mãe!

Ser mulher é ser canal do amor de Deus no mundo, então amar já nos realiza. Mas assim como Nossa Senhora nos trouxe o amor maior que é Cristo, todas nós mulheres também recebemos o dom da maternidade, a capacidade de nos tornarmos mães de “fagulhas do amor de Deus” que são os nossos filhos, para que experimentemos um amor do tamanho do coração Dele e sejamos mulheres plenas! MÃES! Ser mulher já é um privilégio, ser mãe é uma honra!

Suy Ferreira Nunes Bortolon Psicóloga clínica

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ASPAS

“Eu posso me vestir do jeito que eu quiser” Frase repetida por conta do assédio a mulheres

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ui convidada para escrever um breve texto sobre “eu posso me vestir do jeito que eu quiser”. No primeiro momento pensei o que escrever sobre isto? Logo eu que não sou muito ligada à moda e não me preocupo muito com isto. Mas, refletindo sobre o assunto, me veio à seguinte questão: o modo de se vestir traduz de certa forma a personalidade da pessoa: introspectiva, bem humorada, agitada, calma, rebelde. A personalidade de cada pessoa se reflete na vida, inclusive no modo de se vestir. Se a pessoa usa tons vibrantes com combinações diferentes se revela uma pessoa ousada; se usa tons neutros se revela uma pessoa mais reservada, tímida, apenas citando estes dois exemplos.

Outra questão importante! As roupas revelam as causas sociais que defendemos. Não adianta ser um militante de questões ambientais, por exemplo, e usar roupas de fábrica que não tem como princípio o respeito e a preservação do meio ambiente.

E, ainda, a pessoa revela seu lado profissional conforme a roupa que veste: seja nas áreas da saúde, jurídica, militar, religiosa, etc... Podemos concluir que nos vestimos conforme a nossa necessidade, de acordo com a realidade que estamos inseridos e as exigências do ambiente que frequentamos. Podemos nos vestir do jeito que quisermos, mas sempre com bom senso sem ferir a nossa personalidade.

Não podemos nos esquecer de que o modo de se vestir e personalidade andam juntas. Nós podemos ser elegantes, sem perder a simplicidade.

Ana Rita Esgário Assistente Social e ex-senadora

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IDEIAS

A VIDA NÃO É FALTA, MAS EXCESSO

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ossas vidas não foram criadas senão para criar. Somos movimento de criação o tempo todo.

A vida se realiza como produtora de realidades. Na verdade a vida só se realiza como máquina produtora de realidades. Somos máquinas desejantes, como diria Deleuze e Guattari. Máquinas, porque produtoras. Máquinas desejantes, porque movidas pelo desejo, essa força de viver. Por isso, ela não é estável, não é sedentária, não se adapta a padrões. Muito pelo contrário, a todo instante a

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vida é superação e reinvenção de si mesma, apropriação e reapropriação de tudo o que vai se dando com e através dela. Em si a vida é, o tempo todo, passagem, mudança, revolução, realização e busca de mais realização. Realização como força produtora de realidades, como força sobre o mundo, transformando-o e a si mesma. Como diria Deleuze, a vida não é falta, mas excesso. Nela

nada falta, mas tudo se excede. Como uma fonte que não para de jorrar. O problema na vida, portanto, não é o que faltaria, mas como conduzir o que é abundante, como fazer fluir o excesso, como dar vazão a essas tantas forças, energias e capacidades. A vida é uma força constante de afirmação - diríamos inspirados em Espinosa - por isso ela quer continuar a ser. Para tal ela se depara


IDEIAS

e se compõe com o mundo e age sobre ele para fazer valer sua potencia de realização. Se a semente caiu numa fresta da pedra ali ela tentará se realizar. Ali ela fará acontecer sua potência. Ali ela constituirá sua beleza, mesmo que como retorcida, áspera e cascuda árvore.

Mas, por que olhamos a vida sempre como incompletude e carência? Por que somos marcados por essa “espiritualidade” que a diminui? Por que estamos sempre ocupando o lugar dos que sofrem a condição humana? Por que a condição de viventes sempre é associada à condição de sofredores? Decerto há muita história para explicar isso, mas o que importa é assinalar outra possibilidade: afirmá-la e vê-la como

abundância e excesso. E essa possibilidade não nega o mal, nem o sofrimento, nem as dificuldades que cotidianamente somos convidados a enfrentar, mas, sobretudo, afirma a vida em toda e qualquer situação. Ou seja, não se nega que o mal se faz presente no viver, não se nega que não são poucos os sofrimentos que se experimenta ao viver, não se nega que a vida é uma luta, mas não se cai nessa visão triste de considerá-la sempre como falta, insatisfação, exílio, dor, carência, sofrimento. E com essa nova postura se ajuda a romper esse grande coro dos ingratos, o coro dos que receberam a vida, mas a diminuem (até em nome de Deus e da religião) e a desprezam em função de uma

idealização. Vivem, querem viver, mas esperam a vida que está lá não se sabe onde, ou talvez na obtenção dessa ou daquela coisa. O Deus de todo amor e de todas as alegrias não nos criaria para sofrer, claro que não. Criou-nos para a vida, e para a vida em excesso.

Então, a nós que pela vida ganhamos a capacidade de pensar nos é oferecida a oportunidade diária de sermos a favor dela, e não contra. Nem o céu pode pedir que desvalorizemos a vida desta ou daquela forma. A vida que se prolonga no céu só pode ser aquela que foi valorizada a cada instante e etapa, aquela que foi vivida com tanta dignidade no mundo que foi capaz de abrir um portal para a eternidade.

Dauri Batisti Padre, Psicólogo e Mestre em Psicologia Institucional

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MUNDO LITÚRGICO

MÃOS QUE CELEBRAM

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mistério celebrado na liturgia é singularmente expressado nas formas corporais e em suas inter-relações. A experiência humana para com o sagrado é comunicada cultualmente, unindo pensamentos, palavras e atos, numa dinâmica progressiva e transformadora, conforme a pedagogia do ano litúrgico. O culto requer a inteireza do ser, com atitude interior unida aos sentidos teológico, espiritual e litúrgico. E o corpo, por inteiro, expressa tal vivência, do pessoal ao comunitário, num caminho sempre crescente para a unidade daqueles que partilham a mesma fé.

Na expressão cultual as mãos possuem notoriedade, com distinta expressividade, sendo extensão da linguagem verbal, ou mesmo, de forma intuitiva, suplantando a verbalização, tornando-se o gesto a própria palavra não dita. Por exemplo, diante de uma assembleia reunida, um regente de coro motiva os cantores e a assembleia a participarem de forma orante através de um simples gesto motivador, mais a contínua regência, sem o comando verbal. Um gesto simples, mas decisivo e enfático, que, atualmente, está faltoso em muitas assembleias.

São as mãos que marcam e assimilam corporalmente, no início e na conclusão da liturgia, o sinal da fé no Mistério Pascal, sentido e razão de todo o viver e celebrar cristãos, pela graça do batismo. O toque corporal em forma de sinal da cruz (persignação), de maneira consciente e afetuosa, desperta e faz reviver a força vital e pascal de Cristo, mensageiro do Pai, continuamente recordado pelo Espírito vivificador. Mãos que transmitem a ação vivificadora e eficaz do Espírito nas liturgias sacramentais, na forma de imposição, em sinal de potencialização e transformação da pessoa ou do elemento material. Por exemplo, sobre os penitentes durante a reconciliação; sobre os diáconos no rito da ordenação presbiteral; sobre os enfermos após a unção; sobre os dons de pão e vinho, em sinal de consagração. Quem preside a liturgia sempre terá o canal de suas mãos para conclamar, exortar, indicar, edificar, consolar, abençoar, questionar, conduzir: em tudo, será um referencial e ponto de união e comunicação com a assembleia celebrante. Também as várias funções ministeriais devem ser recordadas em suas expressões com as mãos.

Mas, qual o nível de percepção de todos os que estão envolvidos nas ações litúrgicas para com os referidos gestos? Quais os desafios de comunicação daqueles que desempenham funções diante de uma assembleia? É preciso recordar que também existem dificuldades, limites e até pudor para viver com inteireza a referida dimensão para se comunicar e expressar.

Revisitando os textos das orações eucarísticas (sempre dirigidas ao Pai), destacam-se a inspiração e motivação dos gestos de entrega, súplica e intercessão de Jesus, os quais concretizam a sua Páscoa e, pela dádiva de suas mãos, a tornam Páscoa da humanidade: “Tomai todos e comei”, “Tomai todos e bebei”. Na força de sua intenção e palavras, as mãos de Jesus, em gestos de partilha solidária, são o canal de comunicação e vida plena para todos, conclamando à comunhão.

Na liturgia, as mãos são a viva recordação do próprio Criador e seus feitos: “O Senhor nos fez sair do Egito com mão forte e braço estendido, em meio a grande terror, com sinais e prodígios, e nos trouxe a este lugar, dando-nos esta terra, uma terra onde mana leite e mel.” (Dt 26,8).

Fr. José Moacyr Cadenassi Franciscano capuchinho, letrista, cantor, consultor de liturgia, apresentador de rádio e agente de ecumenismo e diálogo inter-religioso

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ARQUIVO E MEMÓRIA

A PRESENÇA DA MULHER NA IGREJA Após o Concílio Vaticano II, vimos surgir uma Igreja com maior participação dos leigos na ação eclesial e maior presença nas questões sociais. Também surgiu uma Igreja mais plural e inculturada. É marcante e crescente ao longo desse tempo a presença da mu-

lher com sua força e seu compromisso.

A ação pastoral da Igreja de Vitória sempre valorizou a presença das mulheres que doam seu trabalho, seu tempo e suas vidas pela causa do Evangelho de Jesus, colocando-se sempre a serviço do povo de Deus.

Mulheres na Festa da Penha, 1993.

Mulheres organizando a Pastoral da Criança em Nova Rosa da Penha - Cariacica, 1984.

Mulheres na CF, 1983. Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc

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VIVER BEM

EMAGRECER É UMA QUESTÃO DE FORÇA DE VONTADE?

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obesidade é considerada uma doença muito complexa, que envolve uma série de causas comportamentais, biológicas e ambientais que contribuem para seu desenvolvimento e manutenção ao longo do tempo. Dentre outros causa, retrata-se o ganho de peso como uma questão de “responsabilidade pessoal”, sendo as pessoas percebidas como irresponsáveis, preguiçosas, fracas, sem força de vontade e outras características pessoais negativas.

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VIVER BEM

peso com mais facilidade e perde comer de forma saudável ou Entretanto, não podemos dem peso com mais dificuldade se exercitar podem estar mais chamar de “falta de força de quando comparadas a outras. propensas a desistir de tentar. vontade” uma pessoa que luta contra a balança há anos e, Não podemos esquecer o O que muitos não sabem é na maioria das vezes, já tentou fator ambiental, estamos vique na obesidade existem cauemagrecer de várias formas favendo num ambiente obesosas que são incontroláveis e inzendo inúmeros tratamentos gênico, o qual também não tedependem da pessoa, a fisioe dietas, dentre muitas restrimos controle. Estamos cada dia logia. Pesquisas sérias e bem ções e sofrimento. Como exemcom mais tarefas e atribuições, conduzidas comprovam que plo temos as pessoas que provida agitada e muitos compromesmo um ano após terminacuram cirurgia bariátrica com missos, muitas vezes realmenda a dieta os hormônios de fouma extensa história de tente sem tempo e disponibilidade me e saciedade ainda não estativas de perda de peso, alpara preparar nossas refeições tão normais e iguais aos níveis gumas das quais resultaram e fazer exercício. Restando a originais de antes da dieta. Isso alimentação de fáem emagrecimento a cil acesso em restaucurto prazo, mas com rantes, padarias, caa subsequente recufés e outras opções peração do peso. EsO que muitos não sabem é que na de rua, com alto teor sa situação prosseobesidade existem causas que são de calorias. gue baseando-se na incontroláveis e independem da pessoa: a crença prevalente de Esses elementos fisiologia, a genética e o ambiente. culpabilizaçao das fisiologia, genética e próprias pessoas enambiente formam um volvidas no processo. ciclo e não podem ser A atribuição de culpa e fraqueza percebida do caráter devido ao peso contribui para o estigma da obesidade, que está associado à saúde debilitada tanto mental quanto física, fazendo com que as pessoas se sintam perdidas e se desvalorizando. Essas características internas negativas reforçam a crença de que lhes falta força de vontade e de fato por causa disso, quando enfrentam um obstáculo para se engajar num comportamento

significa que a pessoa sente naturalmente mais fome e menos saciedade, levando a um comportamento de buscar mais comida. Outro fator importante é o apetite, que após a dieta, conduz a pessoa para um consumo e preferência por alimentos mais calóricos e apetitosos.

Além da fisiologia existe também a genética, um pouco menos significativa como causa, mas também relevante. Realmente algumas pessoas ganham

confundidos com falta de força de vontade, mas sim servem para reforçar o entendimento de que realmente é difícil controlar o peso. Então, qual é a soluação para o controle do peso e emagrecimento? Pare com o auto-julgamento, reconheça seu sofrimento, pratique a auto-compaixão, cuide de si mesmo com bondade mesmo diante do fracasso e momentos difíceis.

Mariana Herzog

Nutricionista e Sócia proprietária da Dietética Refeições

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LIÇÕES DE FRANCISCO

MIGRANTES: NO CORAÇÃO DA IGREJA

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história do judaísmo e do cristianismo está permeada de movimentos migratórios. Quem não se lembra do chamado de Deus a Abraão para sair de sua terra e ir para aquela que Ele mostraria? Como esquecer o movimento do êxodo do Egito para a Terra Prometida? Como esquecer na história de Israel o aprisionamento das tribos em outros países - conquista assíria das tribos de Israel e exilio babilônico das tribos de Judá? Como não se lembrar da diáspora dos judeus no ano 70 d. C. com a destruição de Jerusalém? Enfim, parece que a história de judeus e cristãos não se construiu na vida cômoda e sossegada de sua terra natal, mas experimentaram o amargo da vida de migrantes. A experiência passada não foi suficiente para afastar de tantos governantes e tantas pessoas o ódio aos povos que procuram abrigo nos tempos atuais. Há quem se elegeu colocando no plano de governo a construção de um muro separando dois países, dividindo um

continente. O papa Francisco desde o início do seu pontificado sentiu o drama dos refugiados, dos migrantes. E sentencia que “as migrações não se resolvem com ‘barreiras’”. É preciso construir pontes e não muros, aponta o Papa.

Na recente visita ao Marrocos, ao encontrar-se com 80 migrantes da África atendidos pela Caritas Diocesana em Rabat, assegura-lhes que eles não são um “descarte humano” e sim que estão “no coração da Igreja”. O problema migratório é considerado pelo Papa como “uma ferida, grave e grande”, que “brada ao céu”.

E o Pontífice alarga ainda mais o olhar desta ferida: “Quando se constata que são muitos milhões os refugiados e outros migrantes forçados que pedem a proteção internacional, sem contar as vítimas do tráfico e das novas formas de escravidão nas mãos de organizações criminosas, ninguém pode ficar indiferente perante este sofrimento”. Conforme dados da ONU, em junho de 2018 havia no mundo 68.500.000

migrantes, sendo 52% menores de idade. Esta é a chaga humana que muitos cristãos tentam encobrir.

O sentimento cristão da compaixão não pode faltar em todas as comunidades, pois “uma sociedade sem coração representa uma mãe estéril”. O cristão que não consegue se sensibilizar por esta tragédia com compaixão e ações de acolhimento é estéril em sua fé. Trata-se de uma luta pelo direito que cada pessoa tem na terra, “direito ao futuro”, pois a terra é nossa casa comum.

Toda e qualquer ação de acolhimento aos migrantes e refugiados expressa e manifesta o “amor misericordioso de Deus”. Esta questão deveria nortear o caminho de reformas da nossa Igreja (Diocese, Paróquia e Comunidades) inserindo novas ações e novos métodos de acolhimento dos migrantes. Não pode ser apenas da responsabilidade da Caritas Arquidiocesana, mas com a mesma encontrar caminhos que possam garantir um futuro destas pessoas entre nós.

Edebrande Cavalieri Doutor em Ciências da Religião


PALAVRA DO ARCEBISPO

HOMILIA NA MISSA DE QUINTA-FEIRA SANTA

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a homilia da missa de Quinta-feira Santa, também conhecida como missa do crisma, dia da renovação das promessas sacerdotais, Dom Dario dirigiu-se aos sacerdotes da Arquidiocese e acentuou quatro pontos que estão sugeridos nas leituras bíblicas próprias deste dia.

1.

Meus irmãos presbíteros, ao ouvirmos o Salmo Responsorial, entoado hoje, podemos escutar o coração do salmista, o seu sincero desejo e compromisso diante do Senhor, que atravessou os séculos e chegou até nós, hoje reunidos aqui na Catedral da Arquidiocese de Vitória. Com ele, somos convidados a entoar alegremente, o mesmo refrão: “Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor”. São palavras sinceras que ecoam como um hino de louvor, que somente poderia nascer no coração de alguém que fez uma experiência com o Senhor. O Senhor faz ao salmista uma promessa, a de que a

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sua mão e o seu braço santo o acompanhariam para sempre, fortalecendo-o e amparando-o ao longo de toda a sua vida. Do mesmo modo, o Senhor afirma que seu amor seria o espaço de formação, no qual o seu servo seria formado para a missão e o testemunho. Sendo assim, meus irmãos presbíteros, depositemos na promessa do Senhor a nossa vida, a nossa vocação, o nosso ministério e a nossa missão, a fim de que, confirmados em seu amor e cuidado, mais uma vez, renovemos as promessas que abraçamos, pois elas são uma resposta clara à vocação que recebemos.

2.

Nas palavras do profeta Isaías, é possível reconhecer a sua memória agradecida e cheia de confiança, de maneira especial, no momento em que os filhos de Israel retornam para a sua terra, depois dos anos passados no exílio. As suas palavras manifestam que o seu coração é marcado pelo compromisso, seja pela força da unção que recebera, seja por conhecer as dores do povo machucado pelo ca-

minho, na reconstrução de sua história. Por isso, as suas palavras são vigorosas e firmes, ao apontar para a manifestação do Senhor, que conduz Israel em todos os seus passos.

A voz do profeta traz consolo e esperança para aqueles que precisavam ser fortalecidos em meio ao sofrimento, à dor e à fraqueza, situação que queria roubar-lhes a fé. Que nesta Celebração, na qual renovamos as promessas de nossa Ordenação, nos sintamos, mais uma vez, confirmados pelo chamado e enviados pelo Senhor para a missão que Ele mesmo nos confiou e espera de nós. Pois o Senhor deseja que sejamos portadores da esperança, sinais da graça e uma voz que clama por justiça e defende a vida. Principalmente dos que estão em situação de exclusão, dos indefesos e pobres, junto aos que mais precisam de conforto, de solidariedade e de compaixão. Que a nossa voz se faça ouvir


e que a nossa vida seja o maior testemunho que podemos dar, a fim de que nós sejamos verdadeiros profetas hoje, marcados com o selo da verdade e da misericórdia, onde quer que o Senhor nos envie.

3.

Ser ungido pelo óleo significa a consagração de um ser a Deus, em vista da realeza do sacerdócio ou de uma missão profética que Deus nos confia. O ungido por excelência é o Messias, o Cristo, que é o Rei, o Sumo Sacerdote e o Profeta, símbolo da alegria e da beleza, sinal de consagração, o óleo também alivia as dores e fortalece os cristãos, tornando-os mais ágeis e menos vulneráveis. Quais são os óleos usados na liturgia? Evidenciam-se três óleos: dos Enfermos, dos Catecúmenos e do Santo Crisma. Que por estes Santos Óleos, a nossa Igreja Particular de Vitória, seja portadora da graça de Deus a todos os que buscarem nela o conforto para suas vidas. Quer seja no início de suas vidas, pelo sacramento do batismo, quer seja em sua juventude, pelo sacramento da crisma, quer seja para consagração de novos sacerdotes para o serviço do povo de Deus, no Sacramento da Ordem, quer seja para dar força nos momentos em que as pessoas experimentam sua fragilidade, no sacramento da Unção dos Enfermos. Que nossa Arquidioce-

se possa manifestar a ternura de Deus em todos os momentos da vida do nosso povo.

4.

Jesus lê na sinagoga de Cafarnaum um trecho do Livro do Profeta Isaías. Todos nos aproximamos do Senhor marcados por nossas contradições e fraquezas, mas também, impulsionados por nosso sincero desejo de fazer de nossa vida um sinal da presença de Deus junto aos que mais precisam. Por isso, é justamente no diálogo entre os nossos limites, as necessidades da Igreja e de nosso povo sofrido e a confiança na graça de Deus é que nos apresentamos hoje aqui.

A nossa missão tem como fonte a nossa união íntima com Cristo, Bom Pastor, aos pés do qual fomos formados e do qual recebemos a unção no dia de nossa ordenação sacerdotal. Diante de nós se encontram os apelos de tantos irmãos e irmãs nossos, de suas vozes que clamam por justiça e esperam a manifestação de novos céus e nova terra, da nossa Casa Comum, onde todos têm lugar. Desse modo, assim como Jesus, que foi enviado pelo Pai a confrontar os sofredores, a levantar os que estavam caídos, a perdoar os pecados e a defender a vida plena para todos, também nós o somos. Ungidos pelo Espírito Santo, somos chamados a nos colocar ao

lado dos que mais precisam, a fim de nos tornarmos presença de Cristo em todos os lugares onde estivermos.

A Igreja é chamada a ser sinal de Cristo na história dos homens e desafiada a manter-se fiel aos valores do Evangelho e à sua missão. Nossa Igreja Arquidiocesana é marcada por uma história de grande fecundidade e nela reconhecemos muitas forças vivas que são frutos da graça de Deus, valores que estão espalhados em nossas Comunidades Eclesiais de Base. Reconhecemos os grandes desafios e urgências que temos diante de nós, de maneira especial no diálogo com a sociedade em vista da construção do Bem Comum, como uma verdadeira Igreja em saída. Por isso, somos chamados a nos unir aos diversos setores da sociedade, aos homens e mulheres de boa vontade, no combate das diversas situações que ainda tentam roubar a vida e a dignidade dos pequenos e pobres.

Caros irmãos, hoje, no dia em que renovamos nossas promessas sacerdotais, confirmemos o nosso sincero desejo de união íntima com Cristo, Bom Pastor, a fim de que sejamos fortalecidos e acompanhados, em todos os nossos passos, por Aquele que nos chamou a segui-lo, como verdadeiros profetas e anunciadores do Reino.

Dom Dario Campos, ofm Arcebispo Metropolitano de Vitória

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PAUTA LIVRE

CADÊ MINHA CASA QUE ESTAVA AQUI?!

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biodiversidade do nosso planeta está cada dia mais ameaçada. É o que diz o relatório “Planeta Vivo 2018”, da organização não governamental WWF (World Wildlife Fund). Populações globais de animais selvagens diminuíram em média 60% em pouco mais de 40 anos devido aos impactos da ação humana.

Um destes impactos é o aumento da urbanização sem planejamento, o que causa diminuição de florestas e áreas verdes. A ONU estima que em 2017 a população mundial chegou a 7,6 bilhões, dos quais 55% vivem nos grandes centros urbanos. Dessa forma, com cada vez menos área natural para se viver, os animais selvagens estão se aproximando das cidades e criando formas de se adaptar a esse cenário.

Podemos reconhecer diversos tipos de pássaros sobrevoando a cidade. Um exemplo é o Carcará, uma ave de rapina que se arrisca menos, ocupando áreas mais afastadas e florestadas. Muito comum ver Corujas Buraqueiras se estressando com os cachorros nos passeios na areia da praia. Aves são animais mais fácies de se adaptarem à

vida urbana já que, pela capacidade de voo, não são presas fáceis. Além disso a alimentação é farta. Enquanto no meio rural a comida destes animais está cada vez mais nociva por conta de agrotóxicos, nas cidades nós humanos provemos o necessário. Atire o primeiro grão de milho quem nunca deu comida aos passarinhos, seja num parque, numa praça ou no quintal de casa.

O Sagui da Cara Branca é uma espécie de primata endêmica do Brasil que se tornou bem tolerante a ambientes perturbados, como é o caso das áreas naturais urbanas. Alguns bandos se tornaram tão acostumados com a presença humana que não é incomum encontrá-los entrando em residências atrás de comida. A alimentação desses pequenos macacos

se baseia em insetos, pequenos vertebrados e frutas e essa flexibilidade alimentar permite que os saguis consigam viver e se adequar a variados ambientes, o que facilita o aumento da sua população. Porém, às vezes por desconhecimento, a sociedade acaba dando alimento industrializado e artificial para os macacos, que sem ter a capacidade de digerí-los adequadamente, acabam se prejudicando. Vale lembrar ainda que muitos desses animais transmitem doenças, botando em risco a saúde de quem entra em contato, prática desaconselhável. Seres Humanos também fazem parte do Meio Ambiente e por isso precisamos nos incluir no processo de equilíbrio que o mesmo tanto carece. Devemos nos tornar protagonistas na preservação para que o desmatamento e poluição, impactos causados por nós, afete cada vez menos a vida selvagem. Existem várias instituições lutando por melhor qualidade ambiental para nós e para os animais silvestres, procure a mais próxima e faça a diferença na sua comunidade!

Stéfano da Silva Dutra Biólogo e consultor do Núcleo MOVIVE

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ENTREVISTA

UM LUGAR DE ACONCHEGO QUE AMENIZA OS SOFRIMENTOS DO ABANDONO E INDIFERENÇA

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Casa de Acolhida Irmã Margarida, Instituto coordenado pela Congregação das Irmãs Franciscanas do Senhor, acolhe idosas em situação de risco e vulnerabilidade com carinho, respeito e amor estampados no rosto de quem cuida e se dedica dia e noite para proporcionar uma vida digna a pessoas abandonadas, sem família ou famílias sem condições de mantê-las. Conversamos com a irmã Maria Aparecida Ribeiro (irmã Vicentina) sobre a relação com as idosas e com a família.

As idosas chegam à Casa de Acolhida de diferentes formas. As famílias aparecem para visitar, ou somem totalmente?

Eu tenho que agradecer profundamente isso a Deus, nós temos um trabalho muito próximo às famílias. Temos o dever de fortalecer os vínculos e para isso criamos um encontro com as famílias e os amigos. É um café partilhado na tarde no último sábado de cada mês. Há sempre uma apresentação das idosas, com temas da atualidade e aproveitamos o momen30

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to para falar um pouco sobre o cuidado, o carinho, o chegar perto, o beijo, o abraço nesta ‘vó’, que um dia já foi uma senhora na sociedade, já contribuiu muito, e hoje por alguns motivos veio para a Instituição, mas está viva. Como as famílias reagem a estas provocações?

Perfeitamente bem. Eles amam vir aqui. E as que não têm família, temos os amigos e benfeitores que apadrinham essas idosas, e eles vêm para fazer a vez dos parentes.

Quantas idosas têm famílias e quantas não tem? Na realidade hoje estou com a maior parte sem família. São senhoras que foram abandonadas em hospitais e nas ruas. Franciscanas têm que acolher os mais necessitados. Gostaríamos muito de trabalhar com idosas que tivessem famílias. É tão gostoso receber os familiares, mas Deus está mandando para nós as que têm mais necessidade.


ENTREVISTA

Como a senhora avalia essa situação, de tantas idosas sem um respaldo da família, tantos idosos sendo abandonados? Pelo que a gente vem estudando e vendo, o número de idosos está aumentando muito no Brasil. O abandono familiar é sério e esta questão está muito vinculada à pobreza, ao fato de muitos idosos terem tido poucos filhos e também pelo fato de a sociedade não estar preparada para cuidar dos idosos.

Todos querem sair, querem ter o final de semana livre, querem descansar, e quando tem um idoso para dar conta, principalmente na faixa dos 70 anos, que já não estão dando conta de se cuidarem, fica difícil. As pessoas não estão preparadas para isso, muitas não têm saúde psíquica para isso e acabam adoecendo também. Os que têm famílias podem receber visitas quando?

Todos os dias temos visitas nesta casa. Pela manhã de 9h as 11h e à tarde de 14h30 às 16h. Isto é para dar possibilidade aos que trabalham e têm uma folguinha. A gente tenta facilitar par que o vínculo familiar não seja perdido, rompido. Elas perguntam pela família?

Sim, bastante. Família é uma alegria, um presente. Mesmo as

senhoras com Alzheimer, e temos várias, se sentem sozinhas e perguntam pelos filhos. Elas têm noção se a família vem, apenas uma das que estão aqui não tem essa noção. Nesses anos de trabalho com as idosas, o que mais encantou a senhora?

A gente pegar uma vida toda destruída pela situação na sociedade e pouco a pouco, ir devolvendo para essa pessoa, essa mãe, essa senhora, a graça da vida novamente, o gosto de viver. Isto me encanta. Algum caso que a encantou mais fortemente?

Tem muitos, mas o mais bonito é a dona Maria, que hoje tem 104 anos. Ela ficou abandonada na UPA da Serra e não andava, porque quebrou a perna. O filho bebia um pouco e por esse motivo deixou de cuidar da mãe. Os vizinhos acabaram denunciando e ela foi parar no hospital, e lá ela ficou abandonada. O filho também não tinha condições de ir até ela, pois desenvolveu leucemia. Ela chegou aqui com 28 quilos e nós a acolhemos... (a irmã se emociona) ... nós a acolhemos com muito amor... E depois de ter dado um banho naquela senhora, cortado o cabelinho dela, dado uma limpeza nas unhas, começamos o trabalho de alimentá-la.

Ela chamava o filho noite e dia sem parar .... (a irmã chora). Eu disse para as meninas (cuidadoras). Sabem o que é isso? Falta de alimentação na hora certa, falta de cuidados. Ela está desnutrida e com saudades. Apesar de tudo ela não esquece o filho. Aos poucos, ela foi melhorando e começou a se adaptar ao ambiente e ao medicamento. Às quatro horas da manhã, ela acordava, chamava pelo filho e pedia café com leite. Falei com as cuidadoras que podiam dar café com leite para ela sempre que ela pedisse, a qualquer hora. Começamos a dar jantar as 17h15, horário no qual todas comem, e às 20 horas o chá para as outras e para ela o café com leite. Se ela acordasse e pedisse novamente café com leite, a orientação era dar. Ela foi se adaptando e se nutrindo. Aquele organismo frágil foi equilibrando os horários de alimentos e ela parou de pedir comida e chamaio 2019

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ENTREVISTA mar o filho sem parar. Começou a engordar e ficar bonita (ela é linda!). Então, fomos à delegacia do idoso conversar com o delegado para saber das acusações contra o filho. O delegado disse: Irmã, a dona Maria Brito, segundo a sentença, foi abandonada pelo filho e está com medida protetiva, pois consta que ele judiava dela (isso não era verdade). Ele não pode se aproximar dela.

Eu escutei o delegado falar e disse: Muito bem, tá tudo certo, ela ficou abandonada sim, ficou no hospital sim, mas eu vou dizer uma coisa: eu não vou obedecer ao senhor. O senhor já imaginou uma mulher de 104 anos, que gerou um filho e chama por ele 24 horas sem parar, não poder ver esse filho? Se ele chegar lá em casa vai ver a mãe sim. Ele perguntou: a senhora garante? Sim, garanto sim. E aí o filho chegou. Ele a estava procurando e não sabia onde ela estava. Como foi o encontro?

Não tinha cena mais bela do que aquele filho chegando e

aquela mãe abraçando aquele filho. Eu percebi que ele havia bebido e o chamei. Expliquei que o estava deixando visitar a mãe, mas que o delegado havia dito que eu não podia fazer isso. Então eu disse: vamos combinar que na próxima visita você vai vir de barba feita e sem cheiro de bebida, senão eu não vou deixar, pois estou descumprindo uma ordem do delegado. Ele prometeu que faria o que eu pedi e a partir daquele dia, dona Maria não chamou mais pelo filho. Ela sentiu que eu ia deixar o filho voltar. Daquele dia em diante, dona Maria passou a comer nos horários certos, virou outra mulher, levantou o entusiasmo e quer casar (risos). É lindo, é lindo. Não tem coisa mais bela. Ele continua visitando a mãe?

Sim. Vem sempre. Há alguns dias ele ficou internado no hospital e não pode vir. Ela ficou doente, ficou enfraquecida. Pensei que ela fosse morrer. Ele não vinha, eu não sabia onde ele morava. Levei-a na UPA e ela estava com infecção urinária. Levava todos os dias para ela tomar o antibiótico lá e voltava com ela para o Instituto. Demos o antibiótico, mas continuava amuada. Perguntava pelo filho. Perguntava se iria morrer. Aí, eu e a assistente social resolvemos que no dia seguinte a primeira atitude seria ir atrás do filho. Tínhamos o nome do bairro e o nome do filho. Pedi-

mos a ajuda do pedreiro que trabalhava aqui, que foi com mais duas irmãs no nosso carro para procurá-lo. Eles acharam, mas ele estava muito mal e não tinha condições de sair de casa. Trouxeram-no para ver a mãe. Na hora que ele chegou aqui, a gente não sabia quem gritava mais de alegria, se era ela ou ele (risos). No deparamos com outro problema, ele não tinha um grão de arroz dentro de casa. Montamos uma cesta básica e o levamos em casa com os mantimentos. E aí dona Maria se reestabeleceu novamente. O filho vem de 15 em 15 dias, e é muito lindo os dois juntos. Na hora das refeições, ela pede para que a gente dê alimento ao filho também. Ela está sempre preocupada se ele está se alimentando, se está bem de saúde. Ela me pergunta isso diariamente. Na hora da oração ela reza por ele. Isto me encanta. Me encanta ver o filho se aproximar da mãe, me encanta poder ir restaurando essas relações. A maioria delas, que têm filhos, família, lembram-se de todos. Na hora das visitas, quando falta algum familiar, elas ficam tristes.


ENTREVISTA almente o abandono dos idosos é a perda dos vínculos, e vínculos é algo que se constrói no dia a dia. É um amor, uma amizade, um carinho que se constrói devagar. É isso. Instituto Franciscano, Casa de Acolhida Irmã Margarida O que é o Instituto e com que finalidade ele surgiu?

educadores tenham paciência com a idosa que está chegando. Na hora que chega uma nova idosa, ela tem um diagnóstico no papel, mas depois é que vamos perceber o que realmente aquela pessoa que chegou tem.

O que a senhora gostaria de dizer para o leitor da Revista Vitória?

Precisa paciência? A paciência com que temos que cuidar dessas idosas, também me encanta. Porque eu tenho que conscientizar toda equipe que trabalha comigo, para que eles também tenham paciência, pois precisamos esperar que os remédios façam efeito. Na hora em que elas chegam aqui, temos dois trabalhos; o de ir adaptando a idosa ao grupo e de fazer com que o grupo de

Gostaria de dizer que eles pudessem olhar com muito carinho e atenção para seus familiares e que pudessem dar uma olhada, hoje, como eles estão resguardando este vínculo familiar, como tratam os mais velhos. Como conservam a alegria de estarem juntos, sentados na mesa da refeição, batendo papo, escutando as histórias dos pais, dos avós. Que pudessem ver a questão dos idosos na atualidade não com pena, mas com alegria, tentado fazer algo para atender as necessidades dentro da possibilidade de cada família. Na realidade, o que faz re-

Somos uma instituição filantrópica criada em 1991, que hoje acolhe idosas que estão em situação de risco e vulnerabilidade. O Instituto, que é da Congregação de irmãs Franciscanas do Senhor, nasceu com dois objetivos: o primeiro de ser uma casa de retiros para nós. O segundo era para que famílias que precisassem descansar viessem para cá por uma temporada, pagando uma taxa para isto. Quando houve a mudança do serviço particular para o atendimento social? Com o decorrer do tempo, começaram a surgir as necessidades sociais de pessoas que não tinham ninguém. Então, nós fechamos o trabalho particular e partimos para o trabalho social. Mudamos o foco, voltando nosso trabalho para o atendimento ao pobre, ao necessitado, ao abandonado, aqueles sem ninguém no mundo. A gente começa a trabalhar e tem um objetivo, mas de repente, Deus fala que não é por aí.


ENTREVISTA Como é que funciona o serviço social? Nós estamos conveniados com a Prefeitura da Serra. A prefeitura tem uma verba que deve ser investida na assistência social dos idosos, mas não tem esse serviço, então as instituições fazem um convênio com ela para dar assistência os idosos do município da Serra. Cada idoso que a família apresenta um problema tem que passar pelo Cras, que faz visita a esta família, e verifica se tem necessidade de ser institucionalizado. A prefeitura da Serra está com um trabalho muito sério nesse sentido, que é de regionalizar as casas que acolhem idosos que são quatro no total. Cada casa atende as áreas próximas e desta forma fica mais organizado e facilita que as famílias visitem os idosos.

E se surgir uma necessidade aqui do lado? Vocês não podem atender? Eu posso atender, mas tenho que orientar a família a ir até o 34

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Cras de Jacaraípe. É o único caminho, mesmo sendo a minha vizinha porque eu recebo uma verba da prefeitura e tenho que estar dentro das regras do convênio. Quais são os outros recursos para manter o Instituto?

A nossa sustentabilidade é feita em parte com o convênio, parte com o aluguel do espaço que disponibilizamos para retiros, e das mãos estendidas de amigos e benfeitores que colaboram conosco. Temos muitas pessoas de Jacaraípe, Laranjeiras, Vitória que colaboram muito. Na nossa paróquia, por exemplo, todas as comunidades colaboram. É um grupo de amigos e colaboradores que doam o que podem. Quais atividades as idosas têm no Instituto?

Nossas idosas têm atividades todos os dias de manhã e à tarde, orientadas por profissionais registrados e pagos pelo Instituto: fisioterapeuta, psicóloga, nutricionista, enfermeira e artesã por conta do Instituto. A lei prevê que quando cuidamos de um idoso, não podemos apenas deixá-lo comer, beber e ver televisão. Existe uma conta para quem quiser colaborar? Sim. Temos as contas para doações: Caixa Econômica Fede-

ral: agência 3139, conta 19738, operação 003; Banco do Brasil a agência 3137-4, conta 50.500-5 e Banestes, agência 055, conta 22.742.639. Mas também recebemos mantimentos, produtos de limpeza, produtos de higiene pessoal e fraldas de escolas e de grupos de jovens que fazem suas gincanas. Ganhamos roupas, calçados, peças usadas que são colocadas no bazar que fica aberto a semana toda. Fazemos feijão-tropeiro pra vender, rifas, vaquinha e tudo que se pode pensar. A verdade é que as pessoas são solidárias e a coisa acontece. O Instituto hoje vive, em grande parte, de doações.

Maria da Luz Fernandes e Andressa Mian Jornalistas


CATEQUESE

A VERDADEIRA RELIGIÃO

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a obra A verdadeira religião, Santo Agostinho concede algumas conclusões no que concerne ao seu objetivo de apontar como se chega à felicidade, objeto da religião.

Usando a apologética e aspectos da filosofia neoplatônica, passa a defender que somente o cristianismo é a verdadeira religião. O filósofo emprega-se em mostrar que somente essa religião tem coerência com os pontos que ele apresenta como indispensáveis. A verdadeira religião tem que ser universal, no sentido que ser abrigo possível para todos, ter comunhão, para manter sua coesão doutrinal e de fé, além do aspecto histórico.

O mistério da salvação é empreendido por Deus, mas passa pela historicidade da humanidade. O cristianismo, no enredo do seu desenvolvimento, tem a sua práxis realizada no tempo e espaço. Os fiéis são chamados a viverem a exemplo de Jesus Cristo, seu Deus e modelo, por quem os mesmos devem assumir na história individual e comunitária, as mesmas posições do Mestre.

O afastamento do homem de sua essência, e por assim dizer de Deus, é fruto do mau uso do seu livre-arbítrio, origem e fonte do mal. Esse distanciamento que desintegra o homem é possível de ser superado por uma adesão ao verda-

deiro Deus, que se dá pela adesão à verdadeira religião, que dispensa os cultos incoerentes das criaturas, mas antes oferece uma ascensão da alma ao fiel.

Essa verdadeira religião é respaldada pela autoridade do Criador que concede por meio de uma instituição visível a autoridade de educar o homem, para que passe do velho aspecto para o novo. A verdadeira religião para Agostinho é o cristianismo, que julga ele ser o guardião da fé contra mutabilidade, e ser a autoridade para mediar a relação do homem com o seu Deus. Assim, só a religião que possa oferecer essa religação do homem com Deus, através da redenção operada pelo seu modelo e fundamento, dispensando sacrifícios paralelos, pode, de acordo com Agostinho, ser verdadeira. Sendo assim verdadeira, ela é um caminho sensível à qual o homem se fia para alcançar a felicidade.

Ruan Coutinho da Cruz Seminarista do Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Penha

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SUGESTÕES

DE BIKE COM OS ANJOS DO PEDAL

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sugestão deste mês é especialmente para quem se interessa por locomoção de bicicleta. Você já ouviu falar de Bike Anjo? O grupo ensina pessoas que não aprenderam a pedalar, deixaram por muitos anos e querem relembrar ou querem dicas de segurança para enfrentar o trânsito em sua região. Mas eles fazem mais. Organizam circuitos com aprendizes, oficinas básicas de assistência técnica e ainda atuam junto ao Poder Público para exigir políticas de mobilidade.

Na Grande Vitória, os bikeanos, como são chamados os participantes do Bike Anjo, fazem plantão em todos os domingos do mês.

1º domingo na Praça do Papa em frente ao Projeto Tamar. 2º domingo na Serra no Parque da Cidade. 3º domingo em Marcilio de Noronha, Viana e 4º domingo em Vila Velha na Prainha.

Quer ser um bikeano ou saber mais sobre Bike Anjo? Acesse www.bikeanjo.org e faça seu cadastro.

No primeiro domingo de abril fui ver o trabalho. Cheguei às 9h e fiquei observando e ouvindo histórias. Senhoras que não conseguiram aprender a pedalar porque não tinha bicicleta em casa ou porque tinha, mas era só para os homens; jovens que não conseguiram aprender com parentes e recorreram aos voluntários; crianças que são pressionadas pelos pais e não evoluem no aprendizado. Todos, independente da etapa em que se encontram, estão lá, felizes com os resultados e pedalando pela Praça do Papa sob o olhar atento dos bikeanos voluntários, curtindo a sensação de liberdade. Em todos os rostos a alegria pela conquista ou sonho realizado. Quer aprender a pedalar? É só se apresentar nos locais. Se não tiver bicicleta, os bikeanos emprestam. Quer assistir o trabalho dos voluntários? Vá lá nos locais de aprendizado e converse com quem participa. Você vai se encantar!

Maria da Luz Fernandes Jornalista


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ECONOMIA POLÍTICA

RESPEITO

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mídia de mercado deu tratamento enviesado à cobertura da participação do ministro da economia na Comissão de Constituição e Justiça como parte da discussão da proposta de reforma da previdência. Questionamentos de parlamentares da oposição foram diminuídos ao ser dada ênfase a uma fala que contrastava às políticas propostas pelo ministro; agressivas contra os mais pobres, brandas com os interesses dos poderosos.

O tom jocoso adotado pelo parlamentar que questionava impactos da reforma sobre os mais carentes é suave quando comparado à falta de respeito que formuladores de alterações constitucionais têm tido para com alertas vindos de instituições como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Essa desde 2016 lembra que qualquer proposta de alteração da previdência precisa ser formulada em consonância com a Constituição Federal de 1988. Nela, a Previdência é estabelecida como um direito social da gente brasileira, sem

A Previdência é estabelecida como um direito social da gente brasileira, sem qualquer conotação de concessão governamental ou privilégio do povo.

qualquer conotação de concessão governamental ou privilégio do povo.

Direito social que se soma a outros e que foram conquistados através de intensa participação democrática e consagrados por um Parlamento eleito para registrar constitucionalmente os princípios de uma Pátria inclusiva, soberana e voltada para a valorização de seu patrimônio maior – sua gente e suas riquezas naturais. A CNBB há tempo lembra que os números do Governo Federal que apresentam um deficit previdenciário são diversos daqueles apresentados por outras instituições, inclusive ligadas ao próprio governo. Alerta ser impossível encaminhar solução de assunto tão complexo com informações inseguras, desencontradas e contraditórias. Destaca ser preciso conhecer a real situação da Previdência Social no Brasil e que iniciativas que visem o conhecimento dessa realidade, devem ser valorizadas e adotadas, particularmente pelo Congresso Nacional, com o total envolvimento da sociedade.

Para além dos números, que precisam ser melhor apurados e analisados, a Conferência, desde 2016, indica que o sistema da Previdência Social possui uma intrínseca matriz ética. Ele é criado para a proteção social de pessoas que, por vários motivos, ficam expostas à vulnerabilidade social - idade, enfermidades, acidentes, maternidade e etc. -, particularmente as mais pobres. Ou seja, nenhuma solução para equilibrar um possível deficit pode prescindir de valores éticos sociais e solidários. E mais, a CNBB há muito defende que o debate sobre a Previdência vá muito além de disputas ideológico-partidárias. O debate deve ser através de diálogo sincero e fundamentado entre governo e sociedade e precisa ser buscado à exaustão.

Diálogo esse que está longe de ser respeitado atual governo e que deve ser buscado pelos parlamentares eleitos recentemente.

Arlindo Villaschi Professor de Economia arlindo@villaschi.pro.br

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CAMINHOS DA BÍBLIA

Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor”. (Jo 15,9)

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o capítulo quinze do Quarto Evangelho, conhecido como o Evangelho de João, encontra-se a afirmação de Jesus: “Como meu Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor”.(Jo 15,9)”. Jesus indica que o Amor do Pai derramado em seu coração é o mesmo Amor que Ele oferece aos seus, manifestado, de maneira especial, no fato de que o Pai o enviou para que o mundo tivesse vida. Esses elementos são a expressão do Amor de Cristo para com a humanidade, a sua entrega na cruz e a doação de sua vida. De fato, o Amor do Pai é reconhecido como dom oferecido gratuitamente à humanidade, desse modo, o mesmo pode-se dizer do Amor de Cristo, por todos os que o Pai o confiou. Na contemplação da Cruz de Cristo, todos são convidados a entrarem no mistério do Amor que se estende, se amplia, se alarga e busca alcançar a todos. De fato, nos braços abertos de Cristo na cruz, a humanidade inteira encontra um lugar para si, já que ninguém é mais estrangeiro diante daquele que a todos acolheu por amor.

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A afirmação do Evangelho não se reduz à Cruz, mas a ela dirige, isto é, o Amor que Jesus afirma ter para com todos foi manifestado em todos os seus gestos. Algo que pode ser visto na acolhida dos pecadores, dos doentes e pobres, daqueles que estavam excluídos e marginalizados, enfim de todos os homens e mulheres indistintamente. Desse modo, torna-se manifesto, uma vez mais o Amor do Pai, que envia o Seu Filho Amado para revelar ao mundo a Sua face amorosa. Por isso, quando Jesus no Evangelho diz amar os seus com o mesmo Amor que foi amado pelo Pai, Ele quer indicar que tudo o que recebeu, comunica gratuitamente aos seus discípulos e discípulas. Sendo assim, todos os que se colocam no caminho do seguimento de Jesus Cristo, como seus discípulos missionários são inseridos, por meio Dele, na comunhão do Amor do Pai. Amados e acolhidos pelo Filho e levados por Ele aos braços amorosos do Pai, que deseja, por laços de Amor e ternura gerar novos homens e mulheres, capazes de amar e servir.

O Amor do Pai manifestado em Jesus Cristo, gera em cada fiel uma resposta de Amor e seguimento, um caminho no qual todos são formados como verdadeiros discípulos missionários. Desse modo, fica claro que é o Amor a fonte na qual e sob a qual toda a vida do Cristianismo, neste caso, da Igreja se sustenta. Desse modo, quando se deseja explicar o Cristianismo somente por meio de sua moral e seus valores morais, tende-se a uma dureza muito grande. Do mesmo modo, quando se deseja aproximarse da Igreja, do Cristianismo, somente por meio dos textos Sagrados, isto é somente da Sagrada Escritura, pode-se correr o risco de se perder em tantas explicações e símbolos que, por vezes, podem parecer complexos demais. Ainda, quando essa aproximação se dá pela beleza da liturgia e dos ritos, pode-se, num primeiro


Imagem: Sermon on the mount, 1880, Henrik Olrik.

CAMINHOS DA BÍBLIA

momento, ficar encantado, mas, se não existe a profundidade dos passos seguintes, essa aproximação torna-se vazia de sentido. Quando, por fim, tal aproximação se dá somente pela dimensão solidária do Cristianismo, isto é, pelo cuidado com os doentes e pobres, sem uma profundidade maior, isto é, sem a experiência com Cristo, pode-se cansar diante da imensa necessidade que se encontra pelas ruas desse mundo. O único modo de se compreender o Cristianismo em todas as suas dimensões é reconhecendo a sua raiz primeira que é o Amor de Deus. Aquele Amor, manifestado em Jesus

Cristo, que é capaz de gerar em cada cristão uma resposta de amor, seguimento e serviço. De fato, somente quem provou por si um amor tão grande e sem medida poderá gerar amor para com os outros, ser solidário, compassivo, misericordioso. Desse modo, o segredo de toda a vida do Cristianismo, da vida da Igreja está no amor gratuito de Cristo, que resplandece sobre todos o Amor infinito do Pai. Aquele que nasceu desse amor, como nova criatura, é capaz de amar, servir, ter compaixão e doar a própria vida para que outros também tenham vida digna e plena. Assim sendo, todos são chamados a seguir o caminho até

essa fonte do Amor, a fim dela beber e ser formado como verdadeiros amigos de Cristo. Pois, os cristãos só serão capazes de responder aos apelos do tempo presente, de se colocarem e se tornarem próximos dos que sofrem, quando formados nesse amor de Cristo, que é o amor mesmo do Pai. De modo que os seus corações sejam dilatados e tomados por um Amor maior, capaz de gestos de compaixão e solidariedade, próprios daqueles que foram gerados pelo Amor de Deus e seguem Jesus Cristo como discípulos missionários.

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza Professor de Sagrada Escritura no IFTAV e Doutor em Sagrada Escritura


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FLASHES DO COTIDIANO

E O PRESENTE? Mês de maio chega e com ele vem logo a preocupação do que vou dar no dia das mães. Dia destes dentro do ônibus com um colega tivemos uma conversa muito interessante:

- E aí Julinho, já decidiu o que vai comprar de dia das mães? - Ainda não e você? - Acho tudo isto engraçado... é apenas uma data comercial. - Mas não seria um bom momento para retribuir o carinho e tudo que as mães fazem pela gente? - Carinho a gente demonstra todo o dia, não precisa de uma data para isto. - Concordo, mas você demonstra este carinho regularmente? - ... Aproveitei o silêncio da resposta do meu colega para refletir mais sobre o assunto. O que representa para as mães esta data? Para elas é importante ganhar presentes e em alguns casos terem que aturar um restaurante lotado de filhos que buscam dar uma compensação por não estarem mais presentes no dia a dia delas?

Parece que o assunto sobre o dia das mães contaminou mais gente dentro do coletivo e antes mesmo de terminar a minha reflexão eu já estava prestando atenção em outra conversa:

- Hoje no almoço vou comprar o presente da minha esposa. - É aniversário dela? - Não. Dia das mães. - Deixa de ser bobo amigo, ela é sua esposa e não sua mãe. Quem tem que dar presente são seus filhos e olhe lá, hein?

Outro drama do dia das mães se apresenta. Tudo bem que minha esposa não é minha mãe, apesar de as vezes se comportar como, ou será que sou eu que ajo como filho? Mas sou muito grato pela presença dela fundamental em nossa família, como mãe, esposa e vários papeis que uma mulher enfrenta dia após dia. Ah, mas ela merece mesmo ser lembrada por mim com carinho neste dia das mães. E as conversam sobre esta data pipocam no ônibus:

- Perdi minha mãe cedo, fui criada por uma tia e minha avó... no dia das mães são dois presentes (risos) que dou com o maior carinho do mundo.

Nossa, existem mães de todos dos tipos de estilos – e isto não é um comercial de loja de departamentos. Mãe excessivamente zelosa, mãe despreocupada, mãe brava, mãe coleguinha, mãe que acompanha de longe, mãe que invade, mãe que chora, ri, comemora e lamenta junto, ou às vezes escondido. Todas merecem nossa atenção e carinho.

Não sei se bateu uma nostalgia ou se foi consciência pesada mesmo, mas assim que desci do ônibus peguei meu celular e liguei para a minha mãe. Algo simples que faço menos do que sinto que deveria...

- Alô. -Mãe. - Julinho? Tudo bem? Aconteceu alguma coisa, meu filho? Onde você está? - Calma mãe. Só liguei para matar saudades. - Deixa de história menino que você não me engana. Domingo quero você aqui e não esquece o meu presente, hein? - (risos)



ESPIRITUALIDADE

O ANÚNCIO DO ANJO GABRIEL A ZACARIAS

T

endo contemplado o mistério do amor de Deus para com José, o justo, convido-o, agora, amigo, a contemplar comigo o mistério do amor de Deus para com Maria, a Virgem de Nazaré.

Aqui, vamos ouvir o relato de Lucas que, diz: “a mim também pareceu conveniente, após acurada investigação de tudo desde o princípio, escrever-te de modo ordenado, ilustre Teófilo para que verifiques a solidez daqueles ensinamentos que recebeste”(Lc.1,3)... este discípulo e companheiro de São Paulo inicia o relato da “Boa Nova” ou “Evangelho” de Jesus Cristo anunciando o nascimento do precursor João Batista, filho do sacerdote do Templo, Zacarias e sua esposa Isabel. Lucas faz questão de relatar que este casal era idoso e Isabel era estéril. (cfr.Lc.1,5-25). Fato notável e marcante como que a encerrar uma etapa da história da salvação e o início da Nova Etapa, ou seja, a realização desta primeira. A primeira, destacando-se como “imagem” e “figura” e a segunda, o cumprimento das promessas desde Abraão. João Batista, o último dos profetas do Antigo Testamento, a Antiga Aliança, vem ao mundo de pais idosos, mãe estéril, com a mis-

são de preparar o povo de Deus para acolher a Palavra Criadora, o Verbo de Deus. O Profeta João Batista é a Voz! A Voz que clama no deserto! O profeta anuncia que para Javé nada é impossível! Seu pai, Zacarias, visitado pelo Anjo Gabriel não acreditara no mensageiro de Javé. Ficou sem voz! Somente voltou a proclamar, em nome de Javé, quando seu filho nasceu: “João é seu nome!” Esse nome significa: “Javé é favorável”!

0 maior evento da história necessitaria de um Arauto de Deus que fizesse soar alto e a bom som a Voz que anunciasse a Encarnação da Palavra Criadora! João Batista, o filho de um casal idoso, cuja mãe era estéril, é essa voz: “Uma voz clama no deserto: “preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Todo o vale será aterrado, e todo o monte e outeiro serão arrasados, se tornará direito o que estiver torto, e os caminhos escabrosos serão aplainados. Todo homem verá a salvação”. (Isaias 40,1)”. João dizia ao povo que vinha para ser batizado por ele: “Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira iminente? Fazei, pois, uma conversão realmente frutuosa e não comeceis a dizer: Temos Abraão co-

mo pai. Pois vos digo: Deus tem poder para destas pedras suscitar filhos a Abraão. O Machado já está à raiz das árvores. E toda árvore que não der fruto bom será cortada e lançada ao fogo”. (Lc.3,4-9). Pois bem, a Voz proclama a Palavra. Herodes procurou calar a voz do profeta, mas a Palavra cumprirá sua missão como a chuva que cai na terra e produz bons frutos. A voz do Arauto cumpriu sua missão. A Palavra se fez Humanidade Nova em Terra Nova e só voltará quando tudo estiver realizado!

Com a narração do anúncio a Zacarias e a missão do profeta Joao Batista, Lucas liga magistralmente o Antigo ao Novo Testamento. Voltemos ao momento em que Zacarias, depois da conversa com o Anjo Gabriel, ficou mudo. “Ao sair não lhes podia falar, e compreenderam que tivera no santuário uma visão. Ele lhes explicava isto por acenos; e permaneceu mudo. Decorrido os dias de seu ministério, retirou-se para a sua casa. Algum tempo depois, Isabel sua mulher, concebeu; por cinco meses se ocultava dizendo: “Eis a graça que o Senhor me fez quando lançou os olhos sobre mim para tirar o meu opróbrio dentro os homens”. (Lc 1,23-25).

Dom Luiz Mancilha Vilela, sscc maio 2019 Arcebispo emérito

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FAZER BEM

GELADEIRA SOLIDÁRIA INSTALADA EM BRASÍLIA AJUDA PESSOAS COM ALIMENTOS DEIXADOS PARA DOAÇÃO Mais uma geladeira solidária surgiu para ajudar pessoas que não conseguem comprar alimentos. Desta vez é em Brasília em uma quadra da Asa Norte.

A geladeira foi instada em um local comum, por um morador. Quem precisa saciar a fome encontra alimentos de graça e quem puder ajudar com doações, exercerá a solidariedade fornecendo a geladeira. O projeto aceita doações de alimentos embalados e dentro do prazo de validade, não podendo, alimentos crus, com embalagens abertas, bebidas alcoólicas, carne crua, peixe e comida estragada.

PORTEIRO DE ESCOLA EM VITÓRIA CONSEGUE ENTRAR PARA FACULDADE Com a ajuda de alunas e professores da escola onde trabalha como porteiro, Ozelito Barbosa de Oliveira, foi aprovado em uma faculdade, com bolsa de 100% pelo Programa Universidade para Todos (Prouni).

Tudo começou há um ano atrás, no Centro Educacional Charles Darwin, onde Ozelito trabalha desde 2011. Uma secretária da instituição sugeriu que o porteiro voltasse a estudar e indicou-lhe o EJA (Educação de Jovens e Adultos).

Em um ano ele concluiu o ensino médio e em seguida começou a fazer cursinho pré-vestibular oportunizado pelo Darwin.

Ainda contou com o apoio de alunas e professores no reforço das matérias. O porteiro de 43 anos, que até então só tinha estudado até a quarta série do Ensino Fundamental, começa o curso superior de enfermagem no próximo semestre.

PROJETO DE EDUCAÇÃO VOLTADO A PESSOAS QUE VIVEM EM SITUAÇÃO DE RUA Pessoas em situação de rua terão podem voltar a estudar através do projeto Escola da Vida, em Olinda, Pernambuco. Um carrinho-escola, uma espécie de minibiblioteca, com materiais e quadros e a disponibilidade de assistentes sociais, professores e alunos da Universidade Rural 46

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de Pernambuco, os moradores de rua podem adquirir conhecimentos e se preparar para realizar sonhos como Gabrielly Marinho, 23 anos, que já sonha em ser juíza. As oficinas acontecem na rua sendo o carrinho-escola acoplado a um veículo cedido pela Prefeitura.


FAZER BEM

HOMEM FAZ COMEDOURO E BEBEDOURO DE PVC PARA MATAR A FOME DE ANIMAIS DE RUA Tubos de PVC são transformados em comedouros e bebedouros para cães e gatos sem donos em Casa interior de São Paulo.

O agente socioeducativo Marcos Fiúza faz as instalações de graça, mas conta com a ajuda de pessoas para comprar os materiais. Muitas empresas entram em contato com ele, soli-

citando a instalação dos comedouros e bebedouros em seus estabelecimentos. Para fazer o kit e ajudar os bichinhos também, você vai precisar dos seguintes materiais: um metro de cano PVC de 100 milímetros; quatro cotovelos; duas tampas; quatro abraçadeiras; oito parafusos com bucha e cola de cano.

DOAÇÃO DE ENXOVAIS PARA GESTANTES COM POUCOS RECURSOS Arrecadar enxovais para grávidas sem condições financeiras é a finalidade do projeto CrêAções de Biritiba Mirim, São Paulo. Mais de mil gestantes já foram beneficiadas.

A ideia surgiu da médica obstetra Denysa Nascimento, inspirada na mãe que tricotava enxovais para grávidas com poucos recursos e também pelo contato que tem com grávidas de periferia. A médica consegue as doações com pacientes que atende na rede particular.

“Eu arrecado roupas e itens de bebês com minhas pacientes e repasso para as gestantes carentes. Eu vejo de perto as dificuldades das gestantes de periferia e com baixo poder aquisitivo”, contou.

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ACONTECEU

VISITAS ÀS ÁREAS PASTORAIS

SEMANA SANTA

No mês de abril, as seis áreas pastorais da Arquidiocese de Vitória começaram a receber a visita de Dom Dario Campos, Arcebispo Metropolitano. As visitas têm como objetivos a apresentação do Arcebispo às lideranças; a apresentação

Durante a Semana Santa, duas comunidades carentes da Arquidiocese de Vitória tiveram celebrações presididas pelo Arcebispo, Dom Dario Campos: a Comunidade Nossa Senhora da Piedade, no Morro da Piedade, onde foi celebrado o Domingo de Ramos (14 de abril), a Comunidade Imaculado Coração de Maria, no Morro do Moscoso, na Quinta-Feira Santa, quando foi celebrada a Missa do Lava-pés. Dom Dario também presidiu a Missa do Crisma, a Paixão do Senhor, a Vigília Pascal e a Missa no Domingo de Páscoa na Catedral Metropolitana de Vitória.

da área pastoral ao Arcebispo e a apresentação do processo de realização de assembleias em vista da elaboração do novo projeto pastoral. As duas Áreas Pastorais já visitadas foram Vila Velha e Serra/Fundão.





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