Revista Vitória - Abril 2019

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Ano XIII | Nº 164 | Abril de 2019

REVISTA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA – ES

Jesus quer que sua Ressurreição seja participada por cada criatura



EDITORIAL

PARTICIPANTES DA RESSURREIÇÃO Páscoa e Festa da Penha são dois grandes eventos que se vividos intensamente fortalecem a vida dos católicos do estado do Espírito Santo. Trazemos nesta edição a programação da Festa da Penha e repercutimos em todas as editorias gestos e sinais próprios de quem tem fé e crê na força da Ressurreição de Jesus: que toda a criatura participe de sua Ressurreição. O apelo de Dom Dario Campos na Abertura da Campanha da Fraternidade, os olhares que alguns cristãos testemunham em relação aos mais excluídos, exemplos de partilha, de diálogo, de busca pelo bem comum, são parte das temáticas que propomos para sua leitura. Um destaque deste mês para nossa sociedade onde predomina a comunicação pelas redes sociais é a entrevista sobre o bem que fazem os livros lá na página 16. Boa Páscoa e boa leitura!

Maria da Luz Fernandes Editora

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Publicação da Arquidiocese de Vitória / ES • ISSN 2317-4102

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O BEM QUE FAZEM OS LIVROS

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PESCARIA FARTA É SORTE?

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ENGORDO COM FACILIDADE

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LUGAR BOM DE CAFÉ

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Entrevista

Pauta Livre

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ESPECIAL

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MUNDO LITÚRGICO

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ARQUIVO E MEMÓRIA

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FESTA DA PENHA 2019

Missionários da esperança

Viver Bem

Atitudes pascais na liturgia

Sugestões

A Festa da Penha

Reportagem Espiritualidade Lições de Francisco Economia Política Caminhos da Bíblia Flashes do Cotidiano Fazer bem Aconteceu

A programação completa

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IDEIAS Olhai os lírios. Olhai para vós mesmos.

CATEQUESE A destinação universal dos bens

PALAVRAS DO ARCEBISPO Abertura da Campanha da Fraternidade

“Uma ideologia que defende uma sociedade igualitária, onde todas as pessoas teriam os mesmos direitos a tudo”

ASPAS 15 O que é comunismo?

Arcebispo Metropolitano: Dom Dario Campos • Arcebispo Emérito: Dom Luiz Mancilha Vilela • Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098–ES • Repórter: Andressa Mian / 0987–ES • Conselho Editorial: Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Vander Silva, Milena Cabral • Colaboradores: Pe. Andherson Franklin, Arlindo Vilaschi, Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Fr. José Moacyr Cadenassi • Revisão de Texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: vlorenzetto@redercres.com.br – (27) 3198-0850 • Fale com a Revista Vitória: mitra.noticias@aves.org.br • Diagramação: Paulo Arrivabene • Imagem de Capa: Christ’s Appearance to Mary Magdalene after the Resurrection, Alexander Andreyevich Ivanov, 1835. © Todos os diretos reservados: State Russian Museum, St. Petersburg (www.rusmuseum.ru) • Impressão: Gráfica e Editora GSA – (27) 3232-1266


REPORTAGEM

OS OLHOS DO CORAÇÃO

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forma como olhamos para as pessoas depende muito mais de nós mesmos do que como elas são, como se comportam ou qual a sua condição. Pode até parecer que vamos entrar na área da psicologia, mas não é esse o caminho que vamos percorrer nesta reportagem. Conversamos com pessoas que por conta da profissão ou movidas por sentimentos de bem olham para os outros com o coração. Perguntei para a Assistente Social e Mestre em Políticas Públicas, Nilda Sartorio se sua prática profissional mudou a Nilda cidadã e a resposta foi essa: “Mudou sim. Quando olho para as pessoas que estão nas ruas, procuro olhar com respeito. Ou seja, deixo de vê-las como um problema e passei a enxergá-las com respeito”. Nilda foi Secretária de Assistência Social do município de Cariacica e do Estado do Espírito Santo e por conta da profissão ganhou grande conhecimento sobre população de rua.

“Viver a vida com o coração é sentir as feridas do mundo.”

Esse grupo da população provoca nos cidadãos os mais diversos argumentos: incomodam, querem nos enganar, nos roubar, não trabalham porque não querem, são preguiçosos, porque não voltam pra família? Aprontaram e agora fazem-se de coitadinhos; ou outros contrapostos mas que reafirmam as dis-

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REPORTAGEM

tâncias e as diferenças: coitados, não vão para o abrigo porque lá é muito exigente, foram abandonados pela família, não tiveram oportunidade, se o governo agisse não estariam pelas ruas. Seja qual for o seu jeito de entender e olhar para essas pessoas talvez o depoimento da Assistente Social possa fazer você treinar um novo olhar. “A população em situação de rua tem características muito complexas, trata-se de uma população heterogênea que vai para as ruas das cidades por motivações diversas, dentre as quais podemos destacar: conflito familiar, envolvimento com o tráfico, transtorno mental, entre outras. Nos casos em que o vínculo familiar foi rompido e não há mais possibilidades de convivência dentro de casa, estas pessoas vão para as ruas, es-

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tabelecem vínculos e desenvolvem afinidades com as pessoas que vivem na mesma situação que elas. Em muitas situações, essa realidade se mantém por várias gerações da mesma família, sem sentir a necessidade do resgate da vida em família. Penso que essa população não precisa do nosso julgamento, por estarem nessa condição de vida, ela precisa de respeito e de aceitação por parte da sociedade”.

Ao iniciar este texto fiz uma pesquisa na internet e encontrei algumas frases que podem ser chamadas de chavões ou frases feitas, mas cabem neste contexto e podem ajudar a pensar, melhor dizendo, podem contribuir na mudança do nosso olhar: “Adoro as pessoas que olham com os olhos e enxergam com o coração”. “Quem vive uma vida com o coração, somente pode oferecer honestidade e reciprocidade”. O segredo para olhar o outro é olhar com o coração.

Alguns têm o privilégio de nascer em ambientes que proporcionam um olhar natural para o outro do jeito que ele é, sem preconceito como é o caso de João José Sana, grande defensor dos Direitos Humanos. Ele justifica sua militância e defesa dos mais fracos como uma lição que vem do berço transmitidas pelos pais que são até hoje “profundamente orientados pela Palavra de Deus e pela fé em Jesus Cristo”.

“Que cada excluído seja visto como a presença de Jesus.” Maressa Monserrat arteterapeuta e artista plástica

Foi com os pais que João José aprendeu “que somos todos irmãos e irmãs e que não se deve admitir qualquer forma de discriminação contra as pessoas”. “O meu olhar em relação a qualquer pessoa e, em especial aos


REPORTAGEM mais pobres é sempre o olhar misericordioso de Deus, afinal, Jesus mesmo afirmou que está presente no pobre, no marginalizado, no sofrido”. Nessa mesma linha Ir. Barbara Kiener, Missionária de Cristo que, entre tantas atividades também atua na pastoral carcerária, afirma que ao olhar os excluídos “deixa-se interpelar por cada rosto para ver neles a presença de Deus no mundo”. “A atitude que educa e transforma o meu olhar é a compaixão”, disse e explicou: “a palavra compaixão significa literalmente ‘sofre junto’. A compaixão possibilita um olhar diferente, é a entrada da pessoa no mundo do humano. É a possibilidade de ver além dos limites da personalidade de outra pessoa, de seus medos, raivas, erros, crimes. A compai-

“Ter um olhar fraterno para os mais empobrecidos é nos revestirmos de compaixão, este é o ensinamento do Mestre jesus. Se todos tivéssemos esta atitude não estaríamos assistindo tanta violência, tanto ódio.” Maria Celia Belarmelina Secchin Agente da Pastoral do Menor

Me identifiquei, me apaixonei e acredito que educando para a vida e para Deus teremos verdadeiros cristãos cidadãos e verdadeiros cidadãos cristãos”.

xão permite ver o erro de outra maneira”. Maria Celia Belarmelina Secchin também exercita a compaixão para desenvolver seu trabalho junto à Pastoral do Menor. “Ter um olhar fraterno para os mais empobrecidos é nos revestirmos de compaixão, este é o ensinamento do Mestre jesus. Se todos tivessemos esta atitude não estaríamos assistindo tanta violência, tanto ódio. Fui conduzida pelos meus pais a olhar os mais necessitados com olhar diferente. Iniciei minha participação na Pastoral do Menor sob a coordenação das Irmãs Salesianas.

E é pela fé que Adriana Nunes Oliveira olha os idosos. Foi a fé que a fez perceber o quanto a população está envelhecendo nas comunidades da Arquidiocese de Vitória e que essas pessoas teriam necessidades específicas. Foi se aproximando e ao chegar perto passou a perceber as carências de afeto, de cuidados, as demandas e os direitos. Então Adriana passou a fazer outro exercício, “olhar ao seu redor com o olhar da pessoa idosa”. “O que a pessoa idosa espera da família, da Igreja e do Poder Público”? Adriana propõe-se não apenas olhar com o olhar da pessoa idoso, mas “com sua ação cristã sensibilizar as famílias, a sociedade, Igreja e o Poder Público que envelhecer não é um castigo, é uma bênção de Deus”. Adriana ainda lembrou de uma frase de são João Paulo II: “que cada comunidade acompanhe com uma compreensão amorosa a todos os que envelhecem”. abril 2019

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REPORTAGEM

Assim como Nilda, João José, Adriana, a arteterapeuta e artista plástica, Maressa Monserrat Euzébio Ballester, também tem o que dizer quando se trata de falar sobre ‘olhar o outro’. Ela sempre trabalhou com projetos sociais e em bairros com população mais carente: Novo Horizonte, Central Carapina, Morro São Benedito. Situações as mais diversas: dependentes químicos, alcoólatras, transtornos mentais. O olhar para essas pessoas sempre o da certeza e da esperança. “Ao olhar cada um penso que é Jesus que está ali comigo”. O aprendizado de olhar o outro como igual começou em casa com o exemplo da mãe que não se furtava a ajudar quem precisasse. “Aos 12/13 anos comecei a vender uns bonequinhos que fazia com durepox e pedras do rio. Pegava o dinheiro ia até ao Centro da cidade, comprava pão e leite distribuía no quarteirão da igreja”. Tânia Silveira, Assistente Social e Mestre em Políticas Públicas também começou cedo a olhar o outro a partir do princípio da caridade que aprendeu em casa. Ainda pequena doa-

va os produtos que estavam na despensa da casa aos pedintes sem sequer falar com a mãe. Isso a levou a algumas chamadas de atenção não pela doação, mas por fazer por conta própria. Isso a levou a querer entender as origens da pobreza e daí veio a escolha pelo estudo em ensino social. “Os mais pobres e carentes são sinais de injustiça e desamor”, afirmou e continuou “pessoas pobres e carentes estão em todas as ruas por onde ando, em bairros nobres e regiões históricas. Impossível não vê-los. No primeiro olhar destaca-se a pobreza material, depois olho além da aparência, busco olhar nos olhos destes irmãos e sempre me impressiono com a tristeza, a angústia e o desalento. O sofrimento abate qualquer pessoa”. Além do empenho pessoal o que nossos entrevistados desejam?

Nilda que “o poder público em todas as suas esferas, juntamente à sociedade em suas várias representações, promova o diálogo com essa população, em especial com os representantes do Movimento Nacional e Estadual de População em Si-

tuação de Rua, para ampliação dos debates sobre sua realidade, visando propor políticas públicas que atendam efetivamente às suas necessidades”. João José que “o olhar em relação a todas pessoas precisa ser sempre o olhar misericordioso de Deus”.

Adriana “que a Igreja, a sociedade, a família e o estado entendam que a pessoa idosa pode viver com mais qualidade, dignidade e respeito”. Maressa “que cada excluído seja visto como a presença de Jesus”.

Tânia “que diminuam as diferenças entre o gasto mensal ou anual de uma família pobre que é muitas vezes menor que o gasto com um perfume ou uma roupa de marca de outros”.

E termino com duas frases prontas: “Viver a vida com o coração é sentir as feridas do mundo”. “A vida vivida com o coração é mais intensa, mais pura e mais nobre, mas em certos momentos também dói”.

Maria da Luz Fernandes Jornalista


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MISSIONÁRIOS DA ESPERANÇA

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Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O cristão não é um profeta de desgraças. Nós não somos profetas de desgraças. A essência do seu anúncio é o oposto, o oposto da desgraça: é Jesus, morto por amor e que Deus ressuscitou na manhã de Páscoa. E este é o núcleo da fé cristã. Se os Evangelhos parassem na sepultura de Jesus, a história deste profeta teria se acrescentado às tantas biografias de personagens heroicos que gastaram a vida por um ideal. O Evangelho seria então um livro edificador e também consolador, mas não seria um anúncio de esperança. Mas, os Evangelhos não se fecham com a Sexta-feira Santa, vão além e é justamente esse fragmento ulterior a transformar as nossas vidas. Os discípulos de Jesus estavam abatidos naquele sábado depois da sua crucificação; aquela pedra rolada sobre a porta do sepulcro tinha fechado também os três anos entusiasmados vividos por eles com o Mestre de Nazaré. Parecia que tudo tivesse terminado e alguns, desiludidos e amedrontados, estavam já deixando Jerusalém.


ESPECIAL

Mas Jesus ressuscita! Este fato inesperado transforma a mente e o coração dos discípulos. Porque Jesus não ressuscita somente para si mesmo, como se o seu renascimento fosse uma prerrogativa do qual ser invejoso: sobe para o Pai é porque quer que a sua ressurreição seja participada por cada ser humano e leve para o alto cada criatura. E no dia de Pentecostes, os discípulos são transformados pelo sopro do Espírito Santo. Não terão somente uma bela notícia a levar a todos, mas serão eles mesmos diferentes de antes, como renascidos a uma vida nova. A ressurreição de Jesus nos transforma com a força do Espírito Santo. Jesus está vivo, está vivo entre nós, está vivo e tem aquela força de transformar.

Como é belo pensar que se é anunciadores da ressurreição de Jesus não somente com palavras, mas com os fatos e com o testemunho da vida! Jesus não quer discípulos capazes somente de repetir fórmulas aprendidas de memória. Quer testemunhas: pessoas que propagam esperança com o seu modo de acolher, de sorrir, de amar. Sobretudo de amar: porque a força da ressurreição torna os cristãos capazes de amar mesmo quando o amor parece ter perdido suas razões. Há um “mais” que habita a existência cristã e que não se explica simplesmente com a força da alma ou um maior otimismo. A fé, a esperança nossa não é só um

otimismo; é outra coisa, mais! É como se os fiéis fossem pessoas com um “pedaço de céu” a mais sobre a cabeça. É bonito isso: nós somos pessoas com um pedaço de céu a mais sobre a cabeça, acompanhados por uma presença que alguém não consegue sequer intuir.

Assim, a tarefa dos cristãos neste mundo é aquela de abrir espaços de salvação, como células de regeneração capazes de restituir a linfa àquilo que parecia perdido para sempre. Quando o céu é nebuloso, é uma benção quem sabe falar de sol.

Bem, o verdadeiro cristão é assim: não lamentoso e irritado, mas convencido, pela força da ressurreição, que nenhum mal é infinito, nenhuma noite é sem término, nenhum homem é definitivamente errado, nenhum ódio é invencível pelo amor. Certo, algumas vezes alguns discípulos pagarão caro preço por essa esperança dada a eles por Jesus. Pensemos em tantos cristãos que não abandonaram o seu povo, quando chegou o tempo da perseguição. Permaneceram ali, onde se era incerto também o amanhã, onde não se podia fazer projetos de nenhum tipo, permaneceram esperando em Deus. E pensemos em nossos irmãos,

em nossas irmãs do Oriente Médio que dão testemunho de esperança e que oferecem a vida por este testemunho. Estes são verdadeiros cristãos! Estes levam o céu no coração, olham além, sempre além. Quem teve a graça de abraçar a ressurreição de Jesus pode ainda esperar no inesperado. Os mártires de todo tempo, com sua fidelidade a Cristo, dizem que a injustiça não é a última palavra na vida. Em Cristo ressuscitado podemos continuar a esperar. Os homens e as mulheres que têm um “porque” viver resistem mais que os outros nos tempos de desgraça. Mas quem tem Cristo a seu lado verdadeiramente não teme mais nada. E por isso os cristãos, os verdadeiros cristãos, nunca são homens fáceis e acomodados. Sua mansidão não deve ser confundida com um sentido de insegurança e de remissividade. São Paulo diz a Timóteo a sofrer pelo Evangelho e diz assim: “Pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de força, de caridade e de prudência” (2 Tm 1, 7). Caídos, se levantam sempre. Eis, queridos irmãos e irmãs, porque o cristão é um missionário de esperança. Não por seu mérito, mas graças a Jesus, o grão que, caído na terra, morreu e trouxe muito fruto (cfr Jo 12, 24).

Catequese do Papa Francisco Outubro de 2017 (com tradução de Canção Nova)

Imagem: F. Zettler - Gamla Stan Church, Stockholm.

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IDEIAS

OLHAI OS LÍRIOS. OLHAI PARA VÓS MESMOS. OLHAI EM VOLTA E OBSERVAI. OLHAI QUE NINGUÉM VOS ENGANE.

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e falta algo em nossa existência é disposição para se voltar para a vida, para se compor com ela e para criar realidade com e através dela. A questão é que colocamos a vida, que de fato temos, em segundo lugar em função de idealizações, espiritualismos e cultivo de ilusões. Tem sido assim, infelizmente. Mesmo e apesar de apavorados com o que acontece no mundo e com o que estamos fazendo de nós mesmos, preferimos seguir como ressentidos, tristes e amargurados e, por compensação, agarrados a ilusões, a pequenos prazeres e complacentes com o rumo das coisas. Dentre outras forças que seguem na mesma direção de negar a vida, o conservadorismo cristão, em várias e diferentes configurações se levanta com uma larga pauta moral e de costumes e faz vistas grossas ao mundo e à vida que ne-

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le está e nele quer continuar. A vida se vai maltratada, espezinhada, crucificada e as pautas morais são colocadas como se por aí as coisas se resolvessem. Assustamo-nos e nos apavoramos com o incremento da violência, com a crescente desumanidade, mas nos fazemos complacentes com os que propõem a “lei do talião”. E ainda ouvimos a superficial e arrogante afirmação de que todo o que de ruim o mundo vive é “falta de Deus”. Não, Deus está presente na vida que teima em ficar no mundo. Deus está presente na nascente que volta a brotar se lhe são dadas as condições. Deus está presente na criança esquálida por desnutrição que volta a sorrir com vigor quando lhe são providenciados os cuidados necessários e a alimentação suficiente. Mas, não obstante nossos medos e pavo-


IDEIAS

res não queremos outro mundo. Reclamamos deste para nos aliviar do que nos pesa na consciência, mas estamos agarrados a ele mais do que nunca. Apesar de dizermos que é falta de Deus não o deixamos ficar entre nós através do seu modo mais usual e potente: a vida. Estamos esgotados, mas agarrados ao que nos esgota. Estamos tristes, mas não ousamos outras alegrias. Estamos ansiosos por liberdade, mas capturados por pequenos prazeres que nos são vendidos a troco do nosso tempo e vida. Até oramos ao Senhor da Vida com a sagrada expressão de Jesus “venha a nós o vosso reino”, mas sabotamos essa vinda com nossas atitudes. Então, que mecanismos são usados para que permaneçamos assim os mesmos, nos mesmos lamentos, lamurias e desculpas? Usamos os mecanismos produtores e mantenedores de ilusões. E são muitos e variados. Decerto gostamos de ilusões e as buscamos com avidez. Se são doces (e por serem doces e atraentes) são raptoras. Elas nos capturam a vida.

Perdemos a vida, essa mesma, essa complicada, prenhe de acontecimentos, linda, provocadora, sonhando outra. Perdemos o paraíso por nos expulsarmos dele escolhendo nos alimentar de ilusões. Perdemos Deus, esse absoluto em nós (A Vida), para cultivarmos prescrições e regras. Perdemos o tempo abençoado de cada dia onde a vida se apresenta em eternidades de instantes em função de uma eternidade fria e distante.

Não tem sido fácil viver. Não tem sido fácil suportar as cargas que nos são impostas. Não tem sido fácil cultivar a lucidez quando as hortas e pomares das ilusões se vão floridos ganhando tantos fieis, aplausos e poderes. Precisamos então forçar o pensamento: onde buscar forças? Na própria vida. A vida é a fonte de forças. Na verdade a vida é A força. Nela Deus é. Sim. Na vida que se dá nos fortaleceremos. Dialogaremos com o que se apresenta (Olhai os lírios. Olhai para vós mesmos. Olhai em volta e observai. Olhai que ninguém vos engane) e não desistiremos das forças que podemos extrair de cada fato e de cada acontecimento, de cada alegria e de cada dor.

Dauri Batisti

Padre, Psicólogo e Mestre em Psicologia Institucional


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ASPAS

“O comunismo existe hoje porque o cristianismo não está sendo suficientemente cristão”. (Martin Luther King)

COMUNISMO É...

C

om o nome tomado da palavra comunis, do latim, que significa comum, o comunismo é uma ideologia política, econômica e social que defende uma sociedade igualitária, onde todas as pessoas teriam os mesmos direitos a tudo, a partir da abolição da propriedade privada, das classes sociais e do próprio Estado.

O comunismo surgiu no século XIX, com o avanço da Revolução Industrial, que transformou o contexto econômico e social, levando ao desenvolvimento do sistema capitalista e do liberalismo econômico que, como tal, foram deixando boa parte da população vivendo em condições de miséria. Para modificar essa situação, intelectuais como Friedrich Engels e Karl Marx, propuseram alternativas ao capitalismo. Para eles a sociedade foi marcada por uma luta de classes. De um lado estão os donos dos meios de produção com a maior parte da riqueza gerada e de outro, estão os trabalhadores, a maioria, que ficam com a menor parte da riqueza produzida.

Para a teoria marxista, os trabalhadores são tidos pelos capitalistas como uma mercadoria e submetidos à concorrência e às oscilações do mercado. E só o deixarão de ser se tomarem consciência da situação e se organizarem para lutar e assumir o poder e a administração dos meios de produção e do Estado, de forma cooperativa em busca da distribuição justa dos bens e da renda. Com isso estaria criado o socialismo, mas não ainda o comunismo. Pela teoria marxista, em decorrência dessas conquistas, as classes sociais deixariam de existir e, com isso, chegaria ao fim também o Estado. Só a partir desse momento a sociedade teria condições de passar a viver o comunismo.

Para muitos estudiosos, o comunismo, assim entendido, jamais existiu. O máximo que os países que o tentaram conseguiram foi chegar a um estágio do socialismo em que os meios de produção passaram a ser administrados pelo Estado, como na antiga União Soviética, em Cuba e na China. Houve

também a distribuição da riqueza à imensa maioria da população, mas não sem tolher várias liberdades individuais. Aliás, aí está a grande parte do problema, alvo dos críticos, que reclamam ainda que o socialismo e o comunismo não contemplam a individualidade e nem valoriza a iniciativa de cada cidadão. A rigor, o que vimos – e a China atual comprova - é mais um capitalismo de Estado do que o comunismo sonhado por Marx e Engels. Comunismo é, fundamentalmente, uma doutrina de igualdade social. Aqui estaria, provavelmente, sua única similaridade com o cristianismo. Neste sentido, Luther King, líder e mártir pacifista da luta contra o racismo nos EUA, parece mesmo ter razão. Afinal, o cristianismo propõe uma nova sociedade, mais justa, igualitária, sem opressores e oprimidos. Como disse o Papa Francisco: “A pregação sobre a pobreza está no centro da pregação de Jesus: ‘Bem-aventurados os pobres’ é a primeira das Bem-aventuranças!”. Mas a proposta cristã não parte da organização da política e da economia, mas da transformação das pessoas e das instituições para uma vida verdadeiramente fraterna.

Elson Faxina Jornalista e Professor da UFPR

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ENTREVISTA

Estamos inseridos em um mundo tecnológico e isso é um grande atrativo para as crianças. Como você avalia o interesse delas pelos livros?

O BEM QUE FAZEM OS LIVROS

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mês de abril é celebrativo para a literatura infantil, pois comemoram-se nos dias 02 e 18, os dias Nacional e Internacional do livro infantil, respectivamente. O escritor capixava Diuliard Costa, o tio Diu, que também tem uma companhia de bonecos, fala sobre a importância da leitura na infância e sobre seu papel como ferramenta de conscientização de crianças e adultos na preservação da natureza e respeito ao próximo.

Qual a importância da leitura para as crianças? A leitura proporciona a coordenação de ideias, pois quando a criança lê, ela cria a ideia da ordem do texto e começa ordenar as situações do seu dia a dia. O texto infantil está aliado à imagem, e isso ajuda a criança a visualizar o mundo de uma forma mais simples. A leitura estimu-

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la a criatividade, pois enquanto lê, a criança vai imaginando toda a história e, além disso, todo livro traz uma mensagem, um ensinamento. É um veículo capaz de colaborar com o processo de crescimento intelectual, pessoal, social da criança. Enfim, é uma ferramenta extremamente importante no desenvolvimento infantil.

Nós, os adultos, ocupamos todo nosso tempo do dia com algo que avaliamos ser importante, mas esquecemos do tempo mais precioso que é o de estar com nossos filhos. O tempo de brincar, de ler um livro e de cultivar na vida deles o interesse pela leitura. Dar um celular ou um tablet na mão da criança durante todo o dia é mais fácil. Então, para que a criança vai querer um livro se ela não vê os pais lendo, se ela não ouve os pais lendo para ela? O fato dos livros estarem se afastando da vida das crianças, não está relacionado às crianças não gostarem de ler. A questão é que elas não estão sendo apresentadas aos livros. Isso tem que partir, inicialmente, dos pais. Não precisa ler um livro inteiro todos os dias, mas um pedacinho em cada dia. Isto já insere a crian-


ENTREVISTA

ça na rotina da leitura e consequentemente seu interesse pelos livros. Mas como lidar com a concorrência da tecnologia?

A tecnologia deve ser uma aliada, mas não substitui os livros. O contato com o papel é muito importante, mas infelizmente os livros ainda são de pouco acesso para muitos. Quanto menor o poder aquisitivo, menor a quantidade de livros em um lar. Para os que têm o poder aquisitivo maior, os filhos terão o tablete, e também os livros.

Você já participou de várias bienais do livro infantil aqui no estado e de vários eventos relacionados à literatura infantil. Mesmo diante de tudo isso; da tecnologia, da falta de estímulo dos pais, nesses eventos é possível notar se há interesse do público infantil pela leitura? Bom, há 4 anos não temos mais bienais e nem feiras que valorizem a literatura infantil, por falta de incentivo do governo. Mas em todos os eventos que já participei e os que continuo participando, é notório o interesse de todas as crianças pelos livros. Nesse eventos, estão presentes contadores de histórias, apresentações teatrais, ou seja, têm alguém interpretando os personagens e interagindo com as crianças. Isso colabora para que elas tomem gosto pela leitura.

A regra máxima hoje nas famílias é dizer que não tem tempo (...) os filhos serão muito mais gratos se os pais oferecerem para eles tempo com qualidade. Brinque, leia um livro, aproveite esse tempo. Esteja junto para que as crianças entendam que é mais importante ser do que ter.

Atualmente estamos presenciando o fechamento de muitas livrarias. Como você avalia isso? Estamos na era da tecnologia e muitas estão deixando de ser lojas físicas e migrando para plataformas virtuais. Uma loja física em um shopping, por exemplo, paga um aluguel de R$ 20 mil por mês. Com uma plataforma virtual, se gasta cerca de R$ 3 mil para manter um site no ar. Então, fica caro manter uma loja física que venda livros. Muitas tentaram se adaptar, vendendo outros produtos, mas a maioria está migrando mesmo. Você vê essa mudança como positiva?

Não. A gente precisa desses espaços sociais onde os livros fiquem expostos, sejam apreciados e ofereçam uma interação, especialmente porque nossas bibliotecas públicas não são

atrativas. Se tivéssemos ambientes diferenciados, não teria problemas nenhum, as livrarias poderiam fechar, mas não é o que ocorre. O que é ser uma biblioteca atrativa?

É ser adaptada para cada público. No caso do público infantil, que tenha cores, espaços para sentar, deitar no chão. Que tenha um ambiente de conforto para que a criança construa seu hábito com a leitura. Porque a partir dessa construção, ela será alguém que vai ler em qualquer lugar, até dentro de um ônibus. Mas o que vemos nas bibliotecas são cadeiras duras, ar condicionado inapropriado, paredes brancas, pessoas estudando que exigem silêncio, enfim, não há atrativo. O livro a Descoberta do Condor foi seu primeiro livro? Sobre o que o livro conta? Sim, eu o lancei há seis anos e fala sobre a poluição do meio ambiente. É um pássaro que morava em uma reserva ambiental e que ao viajar para conhecer outros lugares, descobre que as pessoas estão destruindo a natureza. Ele fica desolado.

Como surgiu a ideia de ter como personagem principal da história um pássaro que conta tudo isso? Esse livro foi uma inspiração de Deus. Nas apresentações da abril 2019

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ENTREVISTA

companhia de bonecos, eu falava sobre meio ambiente com as crianças usando o personagem de um rato. Então eu pensei em fazer isso usando o personagem de um urubu. A ideia era fazer o urubu explicar que ele não come lixo, e mostrar para as crianças que não se deve jogar lixo no meio ambiente, pensando que assim estariam alimentando os urubus. O artista que cria os bonecos se atrapalhou um pouco e acabou criando o Urubu Real dos Alpes Suíços (risos). Quando eu recebi o personagem eu pensei: na boa, eu moro no Espírito Santo e aqui não tem o Urubu Real dos Alpes Suíços (risos). Ninguém vai dar crédito para esse urubu aí. Então eu guardei o boneco no meu escritório e dois anos depois, eu estava trabalhando de madrugada, olhei para ele e pensei: você parece uma águia, um condor. Aí primeiro surgiu a música que está no livro... eu tô condor, eu tô condor no coração, de tanto lixo, de tanta poluição...e na mesma madrugada nasceu a história. E como foi a receptividade das crianças com essa história?

As crianças gostaram bastante. Eu sou suspeito para falar, já faço teatro de bonecos para elas há 10 anos, mas quando eu lancei o livro foi um marco. Foi algo bem significativo para mim, pois uma coisa é contar uma história, outra coisa é contar a sua história e as pessoas pararem para ouvir a história de um autor capixaba. Você acredita que o personagem do Condor consegue passar bem a mensagem sobre a importância da preservação da natureza?

Eu falo sempre que quando os pais falam, ensinam, as crianças ouvem, mas o que um personagem fala, para elas vira uma regra. Os pais brincam, abraçam, conversam, explicam, amam, mas a mágica, o lúdico só um personagem consegue. 18

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Para eles é uma pelúcia que tem vida e que reafirma o que os pais ensinaram. As crianças acham isso é incrível.

Você lançou outro livro, “Imagine só; uma história para crianças de 0 a 180 anos”. Qual é o assunto desta vez? É um livro para todas as idades. Vem em forma de gibi, que todo mundo gosta e a função deste livro é falar sobre o respeito pelo próximo. O personagem principal se chama Toinho e ele quer tudo do jeito dele, mas começa aprender com os outros personagens que a vida não é assim, que em sociedade a gente tem que respeitar as outras pessoas. Como escritor e como pai que você é, que conselho você daria aos pais hoje?

A regra máxima hoje nas famílias é dizer que não tem tempo, ou dizer que trabalham muito para dar conforto para as crianças. Trabalhar muito para dar conforto para o filho, não é o que ele te pediu. Os filhos serão muito mais gratos se os pais oferecerem para eles tempo com qualidade. Brinque, leia um livro, aproveite esse tempo. Esteja junto para que as crianças entendam que é mais importante ser do que ter. Vamos cuidar dos nossos filhos, pois eles são nosso maior tesouro.

Andressa Mian Jornalista


MUNDO LITÚRGICO

ATITUDES PASCAIS NA LITURGIA

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liturgia expressa, particularmente por gestos e palavras – alternados pelo silêncio, a realidade sempre atual da salvação em Jesus Cristo, no ápice do Mistério Pascal – sentido da fé e da celebração cristãs.

Ao vivenciar e avaliar as celebrações, é preciso sempre aprofundar os gestos e palavras, e por eles perceber as dinâmicas e os efeitos pascais na interioridade e corporeidade dos que celebram, em sinal de vivificação e transformação à luz do Ressuscitado. A ritualidade da Igreja é também um itinerário no processo de ressurreição assumido pelos fiéis, os quais são membros do corpo de Cristo. Os ritos iniciais da Liturgia Eucarística possuem elementos que afirmam a realidade pascal:

• a procissão de entrada (domingos e dias festivos) recorda o novo êxodo do povo de Deus, e é precedida pela cruz processional, símbolo do Cristo em seu Mistério Pascal: Ele é o novo Moisés, o Bom Pastor que conduz as suas ovelhas;

• o canto de entrada (abertura) elucida, em síntese (letra e música), o sentido do dia celebrado à luz do Ressuscitado; • o sinal da cruz traçado na extensão do corpo é recordação da marca e da ação pascais na vida de cada batizado e da própria comunidade reunida;

• o ato penitencial, em tom suplicante, é dirigido Àquele que é o Kyrios – o Senhor Jesus Cristo, o princípio e o fim de todas as coisas - que continuamente comunica as misericórdias do Pai, a fim de que a Igreja viva com intensidade a compaixão. Se neste momento houver o rito de bênção da água e aspersão, objetivamente recorda-se o batismo, sacramento que marca a realidade de nova criatura em Cristo; • o Hino de Louvor (“Glória a Deus nas alturas”, com reserva para os tempos de Advento e Quaresma), manifesta a glorificação do Pai no Filho encarnado e ressuscitado: é o princípio do canto sempre novo e exultante da Igreja; • a Oração do Dia, que conclui os ritos iniciais, expressa o reconhecimento da Igreja para com

o Criador, em sua contínua obra salvadora, e, por intermédio de Cristo, suplica estar em sintonia e correspondência à mesma. A Liturgia da Palavra é o anúncio perene da vida para todos, no contínuo diálogo da Aliança entre Deus e o seu povo, por meio de Cristo Ressuscitado, a Palavra do Pai. A mesa da Palavra é a referência para recordar a história da Salvação e iluminar o tempo presente com a luz vivificante e transformadora do Cristo-Verbo.

A Liturgia Eucarística grande prece de ação de graças, é vivência memorial (recordação das benfeitorias de Deus por meio do Filho) e proclamação pascal, particularmente explicitada pela aclamação memorial: “Anunciamos, Senhor, a vossa morte, e proclamamos a vossa ressurreição! Vinde, Senhor Jesus!” Os ritos finais (de envio) expressam o compromisso cristão de continuar vivendo em Páscoa nas esferas e diversidades do cotidiano, na missão de, por Cristo, com Cristo, em Cristo, “fazer novas todas as coisas” (cf. Ap 21,5).

Fr. José Moacyr Cadenassi

Franciscano capuchinho, letrista, cantor, consultor de liturgia, apresentador de rádio e agente de ecumenismo e diálogo inter-religioso



PAUTA LIVRE

PESCARIA FARTA: SORTE OU BOM PLANEJAMENTO?

O

Brasil possui condições que favorecem o desenvolvimento da atividade pesqueira, tais como o clima e a presença de uma costa marítima com cerca de 8500 Km. Além disso, detém aproximadamente 12% da água doce do planeta Terra. De acordo com dados do Ministério da Pesca, nosso país possui mais de um milhão de pescadores ativos, o que gera, aproximadamente, 765 mil toneladas de pescado.

Apesar de todas as condições supracitadas, alguns pescadores investem em pescas e não têm o retorno esperado em algumas ocasiões. Alguns dizem que é a sorte ou outros fatores que derivam do senso comum, mas alguns fatores como a fase da Lua, a temperatura, a pressão, o vento, a chegada de chuvas, a turbidez da água (aumento ou diminuição) e entradas de frentes frias estão entre os fatores mais citados em alguns artigos da área e relatados por profissionais que possuem larga experiência com a pesca. Uma alteração drástica na pressão, a chegada de frentes frias e chuvas, ou a luminosi-

dade das noites em determinadas fases da lua podem levar ao declínio da quantidade de peixes pescados. Em conversa com dois profissionais da pesca, eles relatam que a fase da lua nova é a melhor para se obter sucesso na pescaria, já que a noite fica mais escura. Um deles, com experiência de 20 anos, destacou dois outros fatores que também interferem no sucesso da pescaria: “o vento, porque dificulta os ataques na superfície” e “a água mais turva, porque os peixes mudam de comportamento”. Ele também enfatizou que os peixes parecem adivinhar quando vai chover. “Tem dias

que não pescamos bem... aí logo depois vem uma chuva forte... aí a gente entende!”, contou.

O outro, pescador há mais de 15 anos, disse que, às vezes, tudo parece estar favorável para a pescaria, mas se o dia esfria rápido, os peixes somem. “Costumam ficar mais parados em alguns lugares, mas se a gente não dá a sorte de passar a rede naquele lugar, já era! Noite perdida de pesca!”, afirmou.

Uma vez trazidos à tona os fatores que interferem na pesca, por meio de pesquisa em artigos acadêmicos e relatos de pescadores, cabe destacar que, de uma forma geral, fatores externos que levam a ruptura com a estabilidade de um ambiente aquático podem levar a um insucesso na pescaria. No entanto, o acaso também cumpre o seu papel na pesca! Desde que as condições não sejam inóspitas, tais como a presença de chuva forte, frio intenso e ocorrência de raios, vale a pena tentar a sorte!

Michell Pedruzzi Mendes Araújo Biólogo-UFES Professor da SEDU e da Faculdade Multivix

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ESPIRITUALIDADE

O ANÚNCIO DO ANJO A JOSÉ

O

s primeiros destinatários da catequese de Mateus eram os seus conterrâneos Judeus. Por isso, a genealogia de Jesus era importante. Assim descreve Mateus, dentro de seu objetivo catequético, o anúncio sobre esta pessoa admirável e extraordinária. Como se deu o nascimento de Jesus?

A Palavra de Deus, que se fez humana para assumir a história da humanidade, precisava de uma família como as demais. Aqui surge o protagonismo de José, noivo da Virgem Maria, que Mateus coloca em evidência. José, o carpinteiro, noivo de Maria de Nazaré era considerado ‘homem justo’. Esta expressão vai além do que poderíamos dizer ‘homem de bem’. José era homem de fé abraâmica! A fé o tornou justo! A Justiça do Alto o justificou! Consideremos o texto de Mateus.

Um fato inusitado em sua vida deixou José perturbado. Sua querida noiva estava grávida. A Lei de Moisés era clara a este respeito. A mulher que cometesse o pecado do adul-

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tério costumava ser apedrejada publicamente. José, homem justo, não queria humilhar a sua noiva, Maria, aplicando-lhe a dureza da lei. Não querendo difamá-la resolveu deixá-la, secretamente; enquanto assim pensava, um Anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Despertando, José fez como o Anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa” (Mt 1, 20 e).

José, filho de Davi, foi escolhido por Deus para ser o pai adotivo de Jesus, Filho de Deus, mas inserido na história humana, na família de Davi. Um berço humano que acolhe o Divino!

Este quadro tem como centro a pessoa de Jesus. Ao redor de Jesus duas pessoas ocupam lugar de destaque na espiritualidade cristã: Maria e José. No anúncio do Evangelho de Jesus, pouco se fala sobre a anunciação do Anjo a José. Mas, nele percebemos, claramente, uma vocação e uma missão! José se tornou justo pela fé, dom

“José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Despertando, José fez como o Anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa.” (Mt 1, 20 e)

precioso que recebeu de Deus, e, na escuta, “em sonho” (maneira pedagógica descrita por Mateus para narrar o Mistério da fé dialogal de José com o Anjo de Deus), ouviu uma convocação! José ouviu um chamado e uma missão!

José é chamado para cumprir um novo modo de paternidade, uma paternidade sacramental! Torna-se Sinal da Paternidade Divina! José exerce, sacramentalmente, na história da Salvação, a missão de Deus Pai, sobre o Filho de Deus que se fez humanidade. Filho adotivo de José, descendente de Davi! O nome ‘José’ significa ‘Deus acrescente’, e, o nome de ‘Jesus’ significa ‘Deus salva’.

Com o Mistério da Encarnação do Verbo de Deus surge uma família absolutamente nova na face da terra! Família encarnada, porém, em Terra Nova! Família, Sinal profético do Reino Instaurado pela Palavra Criadora.


ESPIRITUALIDADE

Dom Luiz Mancilha Vilela, sscc Arcebispo emérito

Imagem: St. Joseph’s dream, Daniele Crespi - 1620-1630. Copyright © Kunsthistorisches Museum Wien.

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VIVER BEM

ENGORDO COM FACILIDADE.

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SERÁ MESMO?

odos nós sabemos que a crescente incidência de sobrepeso e obesidade está entre os maiores problemas desafiados pela sociedade atual. Dados do Vigitel, uma pesquisa feita por inquérito telefônico em todas as capitais brasileiras, até o ano de 2017, em Vitória, mostrou que 52,6% dos capixabas estavam acima do peso, ou seja, mais da metade da população.

Já que estamos mais gordos, será que ganhamos peso com facilidade? Sabemos que algumas pessoas não. Muitas pessoas magras comem frequentemente até mais do que as com sobrepeso. É claro que a genética tem influência sobre essa questão, mas esse fato não é explicado somente pelos genes. Isso acontece também porque o corpo tem mecanismos para manter o peso existente, ou seja, nosso corpo faz de tudo para nos mantermos estáveis no peso seja ele baixo, normal ou elevado. Nosso metabolismo é muito inteligente e após o consumo de uma refeição restrita, ou seja, baixa em calorias, naturalmente tendemos a comer mais na próxima refeição. Se a pessoa consegue se controlar e mantém 24

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essa restrição calórica por alguns dias, isso leva a perda de peso, mas como consequência, o metabolismo reduz e, quando a pessoa volta a se alimentar normalmente o peso tende a aumentar novamente ou muitas vezes até um pouco mais do que o peso anterior. Após um período de restrição calórica, 95-98% das pessoas recuperam o peso perdido em até 4-5 anos. O contrário também é verdadeiro, quando excedemos o consumo de calorias, numa situação especial, por exemplo, numa festa, no período de Natal ou numa viajem, o corpo se encarrega de acelerar o metabolis-


Após período de restrição calórica,

em média

95% das pessoas

recuperam o peso perdido

em até

5 anos

VIVER BEM

mo para que não ganhemos peso, são mecanismos compensatórios. Por isso, você observa tantos magrinhos fazendo extravagâncias em relação à alimentação e não engordam.

Podemos afirmar que estamos mais preparados metabolicamente para manter o peso do que para perder, sendo assim, pode parecer estranho, mas ganhar peso não é uma tarefa fácil. São precisos vários e vários episódios de exagero alimentar para o número subir na balança.

A facilidade de ganhar peso é mais uma questão ambiental e comportamental do que o próprio metabolismo. Nos dias de hoje estamos susceptíveis a vários episódios de comer sem necessidade, e muitas vezes não comemos porque estamos com fome, mas porque é hora das refeições; nós geralmente não escolhemos o que co-

mer, mas comemos o que foi preparado por outras pessoas; nós consumimos porções determinadas por aqueles que servem a refeição nos restaurantes ou o fabricante de alimentos, no caso dos alimentos industrializados. Além disso, o convívio social tem uma influência particularmente significativa. Pesquisas comprovaram que comer junto com alguém aumenta a ingestão de caloria em 44%, enquanto que comer com seis pessoas aumenta 74%. Também a palatabilidade, a fome, a sede, a euforia e a ansiedade influenciam o consumo de alimentos.

Não podemos concluir que ganhamos peso com facilidade. Existe um forte mecanismo compensatório que nos protege do ganho de peso no nosso dia a dia. Finalizando, ao invés de restringir calorias, precisamos estar atentos ao que nos leva a comer sem necessidade.

Mariana Herzog Nutricionista e Sócia proprietária da Dietética Refeições

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CATEQUESE

DESTINAÇÃO UNIVERSAL DOS BENS

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ivenciando a temática da Campanha da Fraternidade deste ano que toma as políticas públicas como objeto de enfrentamento para a implantação da justiça social, encontramos o tema do título acima muito refletido pelos padres da Igreja, primeiros teólogos do cristianismo. A destinação universal dos bens tornou-se princípio fundamental da Doutrina Social da Igreja.

Sabemos pela história como os cristãos destes tempos enfrentaram de maneira radical a estrutura do Império Romano colocando-se ao lado dos pobres, dos escravos e proferindo uma palavra profética denunciando as coisas contrárias ao Evangelho e à dignidade humana.

O princípio da destinação universal dos bens, seguindo a regra da justiça e da caridade, foi retomado pelo Concílio Vaticano II (GS 69). Este princípio significa que não deve haver privilégio para alguns e exclusão de outros. Deve ser assegurado a todos o exercício equitativo e ordenado das coisas. Ou seja, as coisas podem ser usufruídas por todos.

O Papa João Paulo II dizia que a propriedade privada, na tradição cristã, nunca foi considerada como algo absoluto e intocável, pois ela está subordinada ao direito do uso comum dos bens, à sua destinação universal (LE 14). O “direito exclusivo da propriedade privada dos meios de produção posto como um dogma intocável na vida econômica” deve sofrer uma revisão construtiva em termos teóricos e práticos.

Os padres da Igreja enfatizam que todos os bens foram criados por Deus para todas as pessoas e assim elas deveriam usufruir destes bens sem exclusão de ninguém. O direito humano que garante a posse privada de modo abso-

luto está em sentido contrário ao direito divino. Santo Agostinho realça o Salmo 23 que diz que ao Senhor pertence a terra e a sua plenitude. Deus sustenta os pobres e os ricos. Os bens são dons, expressão do amor de Deus. Por este motivo, o princípio permite a garantia do uso universal dos bens, porque toda a criação é obra de Deus, é dom de Deus.

Na Carta a Diogneto, este princípio da destinação universal dos bens é posto como um “mistério cristão” e os cristãos se distinguem dos demais povos “pelo modo de vida social”. E São João Crisóstomo nos diz que “não se pode apropriar-se das coisas como se elas fossem pessoais”. Elas não pertencem nem ao ser humano. “Tudo o que temos provém do Criador”. Assim, a partir deste princípio era comum palavra profética de denúncia de situações que não correspondiam a este princípio. Gregório de Nazianzo, por exemplo, não economizava palavras para denunciar a opressão dos pobres devido à prática de acumulação de casa e de campo por parte de alguns, como se fossem os únicos a habitarem a terra, deixando tantos vizinhos sem nada.

Edebrande Cavalieri Doutor em Ciências da Religião

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SUGESTÕES

LUGAR BOM DE CAFÉ E DE CONVERSA

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eza a lenda que sair com um amigo para tomar um café é a melhor terapia do mundo. Brincadeiras a parte, a verdade é que sair para tomar um café tem sido um passeio escolhido por muitos capixabas e as cafeterias da cidade se tornado um lugar propício para quem deseja passar momentos agradáveis.

Os espaços das cafeterias são um convite para uma boa conversa, para ler um livro, saborear um café diferente ou um chá gelado, provar algumas delícias preparadas nesses locais e até mesmo visitar uma exposição de arte ou participar de um encontro de literatura.

livros de diversos assuntos, mas especialmente obras vinculadas às ciências sociais, filosofia política, estudos afrobrasileiros, e literatura infantil e juvenil. Então, se tiver crianças em casa, leve-as neste passeio. Elas irão se encantar com a estátua de Dom Quixote que fica na frente do espaço e que, reservadamente, lê Guimarães Rosa.

Outro espaço onde o café não reina sozinho é na Coffeetown - The American Coffee Cake, na rua João da Cruz, na Praia do Canto. A fachada e o ambiente imitam uma cafeteria americana e tornam o lugar bem aconchegante para um bate-papo, mas dentre as delícias servidas, a atração fica por conta do famoso Red Velvet Cake que pode ser acompanhado pelo chá de frutas vermelhas e que atrai todos os olhares quando é servido em alguma mesa. Para quem quer mesmo experimentar um café, a sugestão é um dos três tipos de filtrados, coados com um grão de arábica especial.

No Café do Museu, em Argolas, o que atrai mesmo os visitantes, além do charmoso ambiente de vagão de trem onde funciona o estabelecimento, é o tradicional café preto moído e passado na hora, acompanhado do pão de queijo.

No Centro de Vitória, a Cousa Bar Café, na rua Gama Rosa divide seu espaço com o Trapiche Gamão, e lá é possível saborear um bom café (a cafeteria é especializada em cafés especiais), comer bolo caseiro, apreciar e comprar obras de arte, jogar um jogo de tabuleiro e participar de algum evento literário que volta e meia acontece no local.

Também na Praia do Canto, a Dom Quixote Livraria Café, na avenida Rio Branco, foi inaugurada no final de dezembro e é outro espaço onde é possível unir a literatura, um bom papo e um café gostoso. Lá é possível encontrar

Atravessando a Terceira Ponte, na Praia de Itaparica, em Vila Velha, encontramos a Colher de Pau Cafeteria e Bistrô, na rua Ibitirama. Lá, além de cafés deliciosos, é possível encontrar bolos e tortas divinas nas versões sem glúten e low carb. O local oferece workshops e cursos básicos sobre cafés.

Enfim, são muitas opções para apreciar um bom café e seus acompanhamentos, seja sozinho ou em boa companhia. Escolha um e aproveite.


Imagem: Rafael Perugia Imagem: Roberto Seba

Café Bamboo Lugar para encontrar amigos para dividir um café ou um sanduíche. Endereço: Rua Afonso Cláudio, 254, Praia do Canto, Vitória Horário de funcionamento: segunda a sábado, das 10 às 21 horas

Carnielli Cafeteria e Delicatessen Localizado dentro do Horto Mercado, é um ambiente aconchegante e cheio de delícias da roça.

Endereço: Rua Licínio dos Santos Conte, 51 - Enseada do Suá, Vitória

Horário de funcionamento: segunda a sexta, das 9 às 10 horas e sábado, das 9 às 19 horas

Kaffa Cafeteria Um cantinho especial para quem procura tranquilidade e cafés aromáticos e também capuccino italiano, chocolate quente, drinques, licores e até mesmo cachaça à base de café. Endereço: Rua Darcy Grijó, 50, lojas 03 e 04, Jardim da Penha, Vitória Horário de funcionamento: segunda a sexta, das 9 às 21 horas

Andressa Mian Jornalista

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PALAVRAS DO ARCEBISPO

HOMILIA DA ABERTURA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2019 VITÓRIA, ES

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ostaria de saudar a todos vocês, irmãos e irmãs que hoje se fazem presentes, todos nós fomos convidados e conduzidos pelo Espírito Santo, a exemplo que aconteceu com Jesus no texto do Evangelho, a fazermos essa Caminhada de Abertura da Campanha da Fraternidade em nossa Arquidiocese. Foi o Senhor que nos chamou e nós, como profetas, pelo batismo que recebemos, devemos dizer com coragem: Eis nos Aqui, fala-nos aos corações e conduza-nos pelo Teu Espírito Santo. Saúdo, de maneira especial, o senhor Casagrande, Governador do Estado, o senhor Luciano, Prefeito de Vitória, as demais autoridades estaduais e municipais, bem como as demais autoridades civis e militares. Saúdo e acolho, com grande alegria, aos presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas e os nossos semina-

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ristas. Por fim, abraço com ternura a todos os Leigos e Leigas, sinais do Reino de Deus e profetas em nossas Comunidades Eclesiais de Base. Acolho também, a todos os irmãos e irmãs de outras denominações religiosas e movimentos sociais que se fazem presentes, nesse ato de Fé e Profetismo.

A Caminhada da Abertura da Campanha da Fraternidade que clama por Políticas Públicas, capazes de proporcionarem vida digna e plena para todos, as reflexões que ouvimos e ouviremos, ganham luz e vigor diante da Palavra de Deus que escutamos e acolhemos. Hoje, gostaria de concentrar a minha reflexão em três pontos fundamentais: O primeiro diz respeito às Tentações de Jesus, o segundo ponto apresenta a Força da Palavra de Deus e o terceiro indica o projeto de Deus para o seu povo amado e escolhido. No Evangelho, conduzido pelo Espírito Santo, Jesus se dirige ao deserto, no qual será colocado à prova, tentado pelo demônio. A palavra tentação, sempre remete a uma ocasião de pecado, ou um passo que poderia provocar total afastamento de Deus.

Porém, a palavra tentação refere-se, muito mais, a uma verificação ou uma prova, podendo ser uma ocasião ou situação que revela aquilo que, de fato, cada um é verdadeiramente. Sendo assim, a tentação, mais do que, uma ocasião de possível pecado, é uma oportunidade que permite ao indivíduo saber quem é de verdade, por onde está guiando a sua própria vida e, até mesmo quais são as razões mais profundas de suas escolhas e ações.

As tentações de Jesus, descritas no Evangelho, são três e cada uma delas toca os aspectos fundamentais de Sua vida, como também da vida de cada um dos seus discípulos missionários, de ontem e de hoje. A primeira diz respeito ao pão, ou seja, está relacionada à defesa e manutenção da própria vida. De fato, hoje nas estradas do mundo milhões de pessoas vagam sem ter o que comer e, por vezes, morrem diante do descaso da sociedade inteira. Ao responder ao demônio que não é só de pão que vive o homem, Jesus não se refere aos famintos dessa terra, aos pobres e excluídos. Ao contrário, a sua resposta é direcionada a todos aqueles que vivem para si mes-


mos, fechados no próprio egoísmo, por isso, cegos diante das necessidades dos que vagam desamparados. Uma palavra firme direcionada a todos os que procuram acumular riquezas, mas, acabam por perder à sua própria vida pois se esquecem que a vida é, em si mesma, dom para o outro. Quem vive para si, perde a capacidade de doação e de compaixão, busca a própria salvação e acaba por perder-se completamente Jesus, por sua vez, não somente vence a tentação, mas, vai além oferecendo a Sua própria ida para que todos possam ter vida plena e abundante. A segunda tentação é a do poder, um desafio tão atual hoje, pois toca as relações cotidianas, sendo causa de grande dor e sofrimento para muitos irmãos e irmãs. No Judaísmo, em muitos textos que estão fora da Bíblia, satanás é apresentado como o senhor do mundo, como o grande causador das dores da humanidade e dos problemas da sociedade. De um lado está Deus com o seu projeto para os seus filhos e filhas, e do outro o demônio, com a sua sede de poder e dominação. Porém, ainda no universo bíblico, o poder possui uma função social, pois, deve ser utilizado em prol do bem de todos e, de maneira especial, na construção do Reino de Deus, Reino de Justiça, Fraternidade e Solidariedade, da Nossa casa Comum.

Na tentação sofrida por Jesus, o poder é apresentado na direção da busca da posse e do domínio, na ruptura do que é comum e na proposta de tornar-se absoluto. Todas as vezes que, na história do Povo de Deus, o poder foi mal utilizado, causou dor ao povo e o afastamento total dos desígnios divinos, acarretando sérias consequências para o povo eleito. Jesus vence a tentação e o faz apoiado e fortalecido em Sua íntima relação com o Pai. A sua vontade é que o Reino se concretize, algo que se dá, por meio do seu serviço e de sua entrega total aos irmãos e irmãs, até chegar à doação de Sua própria vida.

A terceira e última tentação, toca a Cidade Santa de Jerusalém, o Templo, a casa do Pai, e diz respeito à dimensão religiosa. De fato, até mesmo os espaços que se referem ao sagrado, podem ser causa de grande tentação, ocasião da perda total da comunhão com o Senhor e com os irmãos e irmãs. No Evangelho, o tentador apresenta a Palavra de Deus, no intuito de levar Jesus a abandonar as suas convicções, cedendo assim, às tentações. A palavra do demônio pode responder à expectativa do milagre ou da possibilidade de que ele aconteça aprofundando no coração do homem a preocupação exagerada consigo mesmo, fazendo com

que o ele perca o desejo da constância do caminho com o Senhor.

O Deus que proclamamos e servimos manifestou a sua face em Jesus de Nazaré, nascido pobre da Virgem Maria, Ele que decidiu assumir as dores do mundo, tocou os pobres e marginalizados e morreu, por amor, na cruz. Jesus viveu a experiência profunda do Amor do Pai que o enviou a ser um sinal de amor e compaixão, por meio da proximidade e da solidariedade concreta com todos, principalmente, com os que mais sofriam. Ele desceu ao encontro de todos os homens e mulheres, desceu ao abismo da importância humana para resgatar em todos a dignidade de filhos e filhas de Deus. Ele venceu a tentação ao escolher a estrada da importância, da entrega total de Si mesmo, oferecendo a todos um caminho seguro para vencer a tentação de afastar-se de Deus e dos irmãos e irmãs. O segundo ponto, que está intimamente unido ao primeiro, diz respeito à Força da Palavra de Deus que São Paulo descreve na carta aos Romanos: “A Palavra está perto de ti, em tua boca em teu coração”. O apóstolo apresenta a força da Palavra de Deus, que é capaz de garantir a todos a salvação, fazendo surgir a vida em todos os corações, fecundando-os e fazendo brotar neles os frutos novos gerados por vigor abril 2019

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PALAVRAS DO ARCEBISPO

da Palavra. Ele reconhece que é por meio da Força da Palavra que os desígnios de Deus (seu projeto de amor), pode tocar a história humana, transformando o coração do homem e, por meio dele, a sociedade. De fato, o projeto de Deus não deve caminhar paralelo à história dos homens seja transformada “por dentro”.

Muitas vezes a Palavra de Deus é comparada com a água da chuva, que cai sobre o solo espalhando-se sobre a terra árida, fazendo com que onde a esperança foi perdida, possa nascer a novidade dos ramos e dos frutos. Assim é a Palavra de Deus que, segundo São Paulo está em nossas bocas e em nossos corações. Uma palavra que tem a capacidade e a força de inserir-se dentro da história humana e de a todos fazer vencer as tentações. Por isso, não fechemos os nossos ouvidos, nossos corações e, muito menos os nossos lábios, pois, devemos ouvir atentamente a Palavra de Deus, devemos ser tocados e transformados por Sua força renovadora e, por fim, devemos proclamá-la com toda a nossa vida. E o Senhor que venceu as tentações do mal, nos fortalecerá por meio de Sua Palavra e nos ajudará a construir espaços de vida plena para todos. Por fim, o terceiro ponto se encontra na Primeira Leitura e 32

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indica o valor da memória dos feitos do Senhor, junto ao povo eleito, algo que está unido ao projeto de Deus para os seus filhos e filhas. De fato, o autor do Livro do Deuteronômio fez memória da obra Libertadora do Senhor, sinal de sua presença junto ao povo que ele retirou do Egito, com Mão forte e poderosa. Nas palavras da Leitura é possível encontrar os passos do projeto de Deus para o seu povo, que elegeu, resgatou, conduziu e fez entrar na Terra Prometida. A vida plena é o desejo de Deus para todos os seus filhos e filhas, Ele não compactua com a maldade e a opressão, mas, indica o caminho da liberdade, da fraternidade e da paz. Desse modo, o convite da Primeira Leitura é que o povo de Deus nunca perca a sua memória, nunca deixe cair por terra o projeto de Deus de libertação e vida plena e digna para todos os seus filhos e filhas. Algo que o Senhor lhes ofereceu e cabe a eles manter sempre vivo e presente, em todos os seus passos e decisões. Meus irmãos e minhas irmãs, o Senhor Jesus venceu as tentações, por meio da força da Palavra de Deus, que foi capaz de sustentá-lo e guiá-lo em todos os seus passos, até o seu caminho derradeiro rumo a Sua Cruz. Hoje, unidos, queremos acolher, em

nossos corações, a Força da Palavra de Deus, que nos aponta o rumo da construção do Reino, onde segundo a Primeira Leitura, todos podem oferecer os frutos de suas conquistas, alegrias e vidas no altar do Senhor.

No momento em que refletimos sobre Políticas Públicas, conclamemos todos os poderes constituídos, as autoridades aqui presentes que se unam na direção de vencerem as tentações do poder desmedido, da ganância que destrói a vida e se coloquem a serviço da construção do Bem Comum. Que cada um de nós se sinta tocado e chamado pelo Senhor a dar uma resposta positiva aos apelos e urgências de nossa sociedade, principalmente dos mais pobres e excluídos. É dever de todos nós abrirmos os corações à Força da Palavra de Deus, a fim de que não percamos o rumo e a direção, vencendo, unidos ao Senhor, todas as tentações que nos impedem de sermos sinal do Reino de Deus. Que o Senhor nos abençoe e a todos nós conceda uma Santa e Fecunda Quaresma. Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Para Sempre Seja Louvado!

Dom Dario Campos, ofm Arcebispo Metropolitano de Vitória




LIÇÕES DE FRANCISCO

A MANSIDÃO DO CRISTÃO

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m fevereiro deste ano, o Papa Francisco fez uma visita aos Emirados Árabes Unidos, país predominantemente muçulmano, com uma população de quase 10 milhões de habitantes, dos quais apenas 900 mil são católicos imigrantes. Duas coisas nesta visita nos chamam bastante a atenção: o encontro com o Conselho Muçulmano de Anciãos e a referência feita na homilia do Papa à Regra XVI, com a qual São Francisco instruía os frades que iam às terras dos sarracenos e não-cristãos. É a primeira vez que um Papa visita a Península Arábica. Segue, assim, o exemplo de outro Francisco (de Assis), que há 800 anos, durante as Cruzadas, partia para o encontro com o Sultão do Egito. Sabemos pela história das enormes dificuldades para a convivência inter-religiosa entre cristãos e muçulmanos. Hoje a humanidade está dividida entre cristãos (um terço), muçulmanos (um terço) e demais religiões. A divisão religiosa também é expressão de uma divisão cultural, e por isso, há enormes dificuldades para cristãos e muçulma-

nos conviverem pacificamente. O encontro do Papa se deu com um Conselho que é uma organização internacional independente que tem por objetivo a promoção da paz nas comunidades islâmicas.

A mansidão cristã não é ficar escondido, refém de uma situação. A mansidão cristã implica na confissão da fé em Jesus Cristo.

A existência deste Conselho nos mostra que entre os próprios muçulmanos a convivência pacífica não é algo dado, natural. Há inúmeras divisões ideológicas, doutrinárias e políticas. Logo nos primeiros tempos da história islâmica encontramos sunitas, coraixitas e xiitas. A paz no mundo islâmico também é um bem necessário e indispensável para a convivência interna.

Na pregação de Francisco destaca-se o chamado para a reflexão a respeito de uma bem-aventurança. No contexto em que vivem os cristãos nos Emirados, a Regra de São Fran-

cisco torna-se princípio fundante da vida cristã. “Felizes os mansos” (Mt 5, 5). O testemunho do cristão não é de agir agredindo o outro. E a Regra franciscana prescreve: “Que não entrassem em lutas nem disputas, mas se mantivessem sujeitos a toda criatura humana por amor de Deus e confessassem que eram cristãos”. A mansidão cristã não é ficar escondido, refém de uma situação. A mansidão cristã implica na confissão da fé em Jesus Cristo. Manter-se escondido é temer o martírio, caso seja decorrente da fé professada. Ser cristão não é esconder-se, não é envergonhar-se e nem se acovardar.

Então o caminho a ser percorrido num país de minoria cristã é a busca de elementos positivos em meio à cultura do povo não cristão. E Francisco completa a homilia: “Vim também para vos agradecer pelo modo como viveis o Evangelho”, no entusiasmo do seu ritmo, formando um coro composto de uma grande variedade de nações, línguas e ritos, numa espécie de “jubilosa polifonia da fé”. Este é o testemunho que edifica a Igreja nestas terras.

Edebrande Cavalieri Doutor em Ciências da Religião

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ECONOMIA POLÍTICA

POLÍTICAS PÚBLICAS

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ntendidas de forma ampla como conjuntos de programas, ações e atividades desenvolvidas pelo Estado diretamente ou indiretamente, políticas públicas visam assegurar direitos de cidadania, de forma difusa ou para determinado segmento social, cultural, étnico ou econômico. A determinação de qual segmento atender reflete prioridades políticas e é fruto de opções explícitas ou implícitas de quem exerce o poder.

ção preferencial pelo automóvel em detrimento do transporte público.

Também antiga é a política pública voltada para o transporte rodoviário – prioridade a ela concedida desde o início do século XX com o consagrado ‘governar é construir estradas’. Prioridade que marca orçamento do poder em seus três níveis e que é registrada em nossas cidades com a op-

O processo de esvaziamento de políticas públicas voltadas para a redução de desigualdades sociais históricas no Brasil, agora ganha novos contornos com a proposta de reforma da seguridade social – já encaminhada ao Congresso; e com a declarada intenção do governo de desvinculação total

A prioridade dada ao setor financeiro - através de pagamento regular de juros e serviços da dívida - por exemplo, vem desde os tempos do império. Atravessou governos de todas as tendências ideológicas e até hoje é uma prioridade que consome praticamente 40% do orçamento do Governo Federal.

Priorizar direitos de cidadania para segmentos sociais historicamente marginalizados é fato recente em políticas públicas no Brasil. De forma orgânica e abrangente elas só passaram a ser buscadas a partir da Constituição Cidadã de 1988, quando direitos universais a serviços básicos e à cidadania plena foram nela registrados. Direitos constitucionais a serviço da cidadania que vêm sendo erodidos desde o golpe de 2016. Erosão de direitos através da PEC dos tetos dos gastos; das alterações na legislação trabalhista, proposta por um governo ilegítimo e aprovado por um legislativo também ilegítimo.

Priorizar direitos de cidadania para segmentos sociais historicamente marginalizados é fato recente em políticas públicas no Brasil.

do orçamento nos níveis federal, estadual e municipal.

Construídas sobre hipóteses falsas a respeito do equilíbrio fiscal e sustentadas em campanhas explícitas ou implícitas via mídia de mercado e redes sociais especializadas em fake news, serão significativos os retrocessos provocados por essas propostas, caso aprovadas. Socialmente provocarão empobrecimento acentuado da população. Economicamente provocarão perda de dinamismo; quebra de micro, pequenas e médias empresas; e desemprego. Resgatar o sentido de políticas públicas nos termos propostos pela Campanha da Fraternidade 2019 é uma forma concreta da CNBB e dos católicos se colocarem a favor da coesão social no Brasil.

Arlindo Villaschi Professor de Economia arlindo@villaschi.pro.br


CAMINHOS DA BÍBLIA

“Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a Ele” (Filipenses 3,8)

O

texto referido da Carta aos Filipenses, retrata a experiência pessoal de Paulo com Cristo, algo que foi para ele um “divisor de águas”, transformando completamente a sua vida e a sua compreensão religiosa, marcando de forma indelével a sua história. O seu encontro com o Ressuscitado na estrada de Damasco condicionou todas as suas escolhas, a sua postura religiosa, como também o seu modo de vida. Por várias vezes em suas cartas, o apóstolo menciona a ruptura radical que essa experiência causou em sua história, direcionando-o a uma dinâmica de vida, um processo que o levou a romper radicalmente com tudo o que se referia à sua vida passada, lançando-o num caminho de uma radical conversão e de um profundo abandono nas mãos de Deus. Toda a bagagem adquirida pelo apóstolo no decorrer dos anos que precederam o seu encontro com Cristo, assim como a sua integridade como judeu observante da Lei e perseguidor dos heréticos cristãos, são abandonadas diante do conhecimento do bem maior que é Cristo. O próprio Paulo fala das razões que poderiam ser para ele motivos de glória, quando diz: “circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu filho de hebreus” (Fl 3,5); ressaltando

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ainda a sua inquestionável postura religiosa: “quanto à lei, fui fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja, quanto à justiça que há na lei, irrepreensível” (Fl 3,5).

Tudo o que, aos olhos do mundo são riquezas e tesouros a serem custodiados, para o apóstolo perde o seu valor, torna-se perda, esterco sem utilidade em comparação ao conhecimento de Cristo, confirmando, assim, a radicalidade da mudança de paradigma de Paulo.

O apóstolo faz a experiência real do amor de Cristo na estrada de Damasco, algo que repercute por toda a sua vida. Ao contemplar o gesto da cruz, ele compreende a ação de Deus que reconcilia consigo a humanidade em Cristo. Na cruz, Paulo vê manifestado o grande amor de Cristo, pois que na morte de um só, todos morreram. Tudo isso faz com que o amor de Cristo se torne para Paulo uma força sem precedentes; ele mesmo o expressa de forma explícita ao dizer: “a caridade de Cristo nos possui” (5,14). Este amor passa a ser a fonte de todo o seu ministério, dando-lhe condições de não viver mais para si mesmo, mas para Cristo, que por ele morreu e ressuscitou. A vida de Paulo toma um rumo completamente diverso quando ele, em primeira pessoa, encontra-se com a força do amor manifestado na iniciativa divina de reconciliar consigo em Cristo toda a humanidade pecadora. A vida de Paulo, desde de o seu processo de chamado e conversão, passando pela sua radical adesão à fé em Cristo e a sua vivência como nova cria-


Imagem: The Conversion of Saint Paul, Bartolomé Esteban Murillo. Copyright © Museo Nacional del Prado.

CAMINHOS DA BÍBLIA

ção, constitui um paradigma para todo o fiel que deseja aderir à fé em Cristo. A afirmação do apóstolo de ser uma nova criação em Cristo é o resultado deste caminho que tem o seu início na experiência do apóstolo na estrada de Damasco, em seu encontro pessoal com Cristo ressuscitado. Este evento histórico e a vivência posterior a ele — o rompimento com a vida velha e a adesão à fé em Cristo — põem em evidência dois elementos muito importan-

tes que constituem, primeiramente parte da vivência pessoal do apóstolo, mas, ao mesmo tempo, numa visão mais ampla, tornam-se essenciais para a compreensão da proposta paulina da vivência da vida nova em Cristo. Em primeiro lugar, o apóstolo ressalta a centralidade do evento Cristo e de como a sua morte na cruz é o elemento chave no entendimento da divisão radical que esse acontecimento produz em sua vida. Em segundo, ele indica a sua total

adesão à fé em Cristo morto e ressuscitado como condição de possibilidade para que ele viva como uma nova criação. Sendo assim, todos os que hoje desejam viver a vida nova em Cristo, são chamados a aderirem a Ele, por meio da Fé e se colocarem no caminho de uma constante e radical conversão.

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza Professor de Sagrada Escritura no IFTAV e Doutor em Sagrada Escritura

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FLASHES DO COTIDIANO

NÃO DEVERIA SER ASSIM Estava sentado na lanchonete vendo o jornal abismado com as notícias dos violentos massacres de Suzano e da Nova Zelândia. Pensava em como o ser humano muitas vezes se entrega ao ódio e cabe à gente ficar imaginando o porquê e como isto deveria ser evitado.

Doença mental, resultado de bulling, falta de fé, jogos e programas de televisão violentos... parece que vários podem ser os motivos. - Sabe o que é isto? (perguntou a atendente da lanchonete, que em seguida respondeu) São estes jogos violentos de computador. - Será? (me atrevi ir contra o senso comum e fui além) Conheço tanta gente que joga e que seria incapaz de uma barbárie destas... - Mas gente assim não tem cara, pode ser qualquer um, em qualquer lugar, pode ser até mesmo você. (se exaltou alguém que não conheço). Enquanto vários olhares na lanchonete se viravam em minha direção, eu ia pensando que realmente pode ser qualquer um, mas cara tem sim. Hoje as pessoas postam uma série de barbaridades nas redes sociais, pessoas que pregam violência (às vezes disfarçada de posição política), demonstram preconceito e pregam o ódio.

Será que estas pessoas não podem um dia transformar este ódio no texto em ação na prática? Visto as primeiras investigações sobre os assassinos do massacre de Suzano, sim. Uma visita em vários perfis em redes sociais nos mostra que parece que tem mais gente disposta a pregar o ódio do que a paz... - Parece que todo mundo tem raiva hoje em dia. (disse a atendente)

- Mas tem muita gente da paz. (afirmou um cliente já se auto-elegendo) Aí me veio à mente que há sim muita gente da paz, mas infelizmente muitos deles estão calados, desanimados, sem esperanças de serem ouvidos. Mas, será que isto justifica o silêncio? Se quem é da paz se cala, a voz não fica só para o lado do ódio? Tantas perguntas, poucas respostas...

- Para acabar com a violência, as pessoas de paz devem se posicionar. (pensei em voz alta) - Mas fazer o quê? Dizer o quê? (indagou a atendente) - Não sei... só sei que não deveria ser assim... (paguei a minha conta e saí sem realmente saber de nada)

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FAZER BEM

PROFESSORA APOSENTADA ABRE SUA CASA PARA ALFABETIZAR ADULTOS DE GRAÇA Eunir Alves Moreira de Faria, 77 anos, é uma professora aposentada, mas a vontade de ensinar ainda vive nela. Ela colocou um cartaz em frente de sua casa oferecendo alfabetização gratuita para adultos na cidade de Patos, Minas Gerias. A varanda da casa de Eunir virou a sala de aula, com direito a mesas e cadeiras. “Eu tenho duas mesas e dez cadeiras na varanda e foi esse ambiente

que disponibilizei para proporcionar estudo a quem não tem. Colei o papel há pouco mais de uma semana e já consegui preencher todas as vagas. Inclusive, vou dar aula no período noturno para atender também quem trabalha”, disse.

HOMEM USA MOTO AQUÁTICA PARA AJUDAR PESSOAS ILHADAS NA ENCHENTE EM SP

Para facilitar o aprendizado, a professora criou uma cartilha ilustrada. São três volumes que duram cerca de 6 meses de estudo.

UNIVERSITÁRIOS FAZEM MUTIRÃO PARA TIRAR FAMÍLIA DE BARRACO Estudantes de Engenharia Civil colocaram em prática o conhecimento adquirido em sala de aula ajudando uma família a sair de um barraco comprometido e levantando uma nova casa. A nova residência foi construída com mão de obra voluntária de cerca de 40 alunos.

Tudo começou quando o professor Paulo Salmazo, da Universidade de Sorocaba, inte-

rior de São Paulo, ficou sabendo da situação dos moradores. Ele apresentou a ideia aos jovens universitários que juntos colocaram-se a disposição para pôr a mão na massa.

A área é da família da esposa de William Gligor da Silva Soares, 21 anos. No espaço de 15 m², formado por madeiras improvisadas, viviam ele, a mulher, o cunhado e duas crianças.

Rafael Almeida usou a sua moto aquática para salvar pessoas ilhadas nas enchentes de São Paulo.

Em março deste ano, ele estava em casa quando recebeu o telefonema de um amigo que sugeriu que ele usasse o transporte aquático para ajudar pessoas na região do Ipiranga, Zona Sul.

“Comecei a salvar uma pessoa, duas, quando vi já tinha socorrido umas 20 pessoas”, contou.

O distrito Ipiranga foi um dos mais atingidos pelas fortes chuvas na capital paulista. 42

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FAZER BEM

COPIADORA NO ES IMPRIME CURRÍCULOS GRATUITAMENTE PARA DESEMPREGADOS Uma copiadora localizada em um shopping de Vila Velha, há pouco mais de um mês, começou a imprimir currículos de graça para quem está desempregado. Ao passar na frente do local, uma pessoa viu o cartaz que informa: “Desempregados: imprimimos gratuitamente até 7 cópias de um curriculum”, e o postou nas redes sociais. A boa ação foi compartilhada por mais de três mil pessoas. A ideia é do empresário Marcelo Pereira da Silva, que é

responsável pela copiadora Copy Mar. Ele contou a um jornal local o que motivou sua iniciativa “As vezes a gente vê o pessoal chegando com o currículo bem simples e perguntando quanto é a cópia. Aí nota a pessoa contando moedas para pagar. Isso acabou me sensibilizando”, relatou. Marcelo possui duas unidades da copiadora em Vila Velha e, em média, recebe diariamente 20 pessoas interessadas na boa ação.

VAQUINHA SOLIDÁRIA Alunos, professores e funcionários da Unidade Escolar Júlio César da Silva, em Caldeirão, na zona rural de Piripiri, no Piauí, se juntaram em prol da solidariedade. Juntos, compraram, em segredo, uma bicicleta para um dos alunos. O presenteado foi Alan Medeiros, de 17 anos. Ele mora distante da escola e ia para o colégio com uma bicicleta caindo aos pedaços. Ao notarem a situação de Alan, os colegas tiveram a ideia de fazer a vaquinha.

“Agradeço muito a todo mundo que me deu um presente desses. O único presente que eu ganhei na vida

foi do meu pai, e faz muito tempo. De lá para cá, só vocês que compraram algo para mim, como ele. Agradeço muito”, disse Alan.

PESSOAS FAZEM FILAS PARA SALVAR MENINO COM CÂNCER

A união faz a força e a luta contra o câncer mobilizou milhares de pessoas. Quase 5 mil pessoas ficaram na fila para ver quem tinha a combinação de células-tronco compatível para ajudar Oscar Saxelby-Lee, de 5 anos, diagnosticado com leucemia linfoblástica aguda.

Segundo o médico, o tempo para encontrar o doador é de apenas três meses, e por isso, os pais do menino lançaram o apelo nas redes sociais, chamado “Hand in Hand for Oscar” (De mãos dadas por Oscar) com o intuito de que muita gente se inscrevesse, na tentativa de encontrar um doador. Mesmo com as condições climáticas diversas, mais de 4.800 pessoas quiseram ajudar. De acordo com dados da instituição de caridade que hospeda a unidade, DKMS, o recorde de doadores para um único evento foi de 2.200 pessoas. A campanha de Oscar dobrou esse número. abril 2019

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ACONTECEU

CELEBRAÇÃO PENITENCIAL DO CLERO Tradicionalmente celebrada nos períodos da Quaresma e Advento, a Celebração Penitencial do Clero em preparação para a Semana Santa, é uma convocação para reflexão daqueles que são os primeiros responsáveis pela animação do povo de Deus, para que sejam exemplo de humildade e busca incansável pela conversão

pessoa. A Celebração foi presidida por Dom Dario Campos e aconteceu no Santuário Basílica de Santo Antônio no dia 11 de março.

Na ocasião participaram os padres seculares e religiosos, diáconos, seminaristas, novas comunidades, congregações femininas e leigos e leigas consagrados.

ABERTURA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE As vítimas de Brumadinho, as mortes ocorridas durante a greve da PM, e também o período de escravidão e as injustiças socais foram lembradas durante a abertura da Campanha da Fraternidade na Arquidiocese de Vitória, no dia 10 de março,

nas ruas do Centro. A concentração ocorreu na Praça Costa Pereira e durante o trajeto até a Catedral, ocorreu o início da Celebração Eucarística com várias paradas para reflexão e oração. A Missa foi finalizada na Catedral, lotada de fiéis.

QUARTA-FEIRA DE CINZAS A Missa do primeiro dia da Quaresma foi celebrada na Catedral de Vitória e presidida pelo Arcebispo Dom Dario Campos. Na ocasião, ele esclareceu que as cinzas não são mágicas e que os

cristãos devem viver a Quaresma em atitude de conversão, lembrando ainda que os elementos essenciais para viver bem este Tempo de preparação para a Páscoa são dar esmola, orar e jejuar.

ENCONTRO COM OS TRÊS PODERES

Na tarde do dia 15 de março, Dom Dario Campos encontrou-se com representantes dos Três Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) para falar sobre o tema da Campanha da Fraternidade, que este ano traz o tema Fraternidade e Políticas Públicas. Durante o encontro os convidados que estavam compondo a mesa falaram sobre o tema e confirmaram parceria com a Igreja na elaboração das políticas públicas.

Ao final do evento, Dom Dario entregou um documento com algumas propostas como sugestão de Políticas Públicas a todos os presentes.


ARQUIVO E MEMÓRIA

A FESTA DA PENHA A Festa da Penha sempre foi um evento importante para a Arquidiocese de Vitória. Na Festa da Padroeira do nosso estado, os três primeiros Arcebispos sempre se manifestaram anunciando a Palavra de Deus, mas também denunciando injustiças e o sofrimento do povo. Dom João Batista da Mota e Albuquerque, o primeiro Arcebispo, mudava-se para o Convento da Penha nesse período, para que pudesse acompanhar tudo de perto, desde início do Oitavário até o final da Festa. A missa de encerramento foi sempre momento marcante da Festa. Foi nessa missa, no ano de 2004, que Dom Silvestre Luiz Scandian, despediu-se dos fiéis e anunciou sua renúncia ao governo da Arquidiocese, e Dom Luiz Mancilha Vilela, o início do seu pastoreio.

Dom João Batista da Mota e Albuquerque na Festa da Penha em 1959.

Dom Silvestre Luiz Scandian na Festa da Penha de 1998. 46

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Dom Luiz Mancilha. Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc


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PROGRAMAÇÃO

21 de abril (domingo de Páscoa) 5h, 7h, 9h e 11h – Missas na Capela do Convento

10h – Bênção dos Cavaleiros no Parque da Prainha

15h – Abertura no Campinho do Convento (Área Pastoral Vila Velha)

22 de abril (segunda-feira)

6h, 7h e 9h30 – Missas na Capela do Convento

15h – Oitavário com Missa no Campinho (Área Pastoral Serrana)

19h30 – Noite Oracional (Campinho do Convento, com participação do Movimento das Mães que oram pelos filhos)

23 de abril (terça-feira)

6h, 7h e 9h – Missas na Capela do Convento

15h – Oitavário com Missa no Campinho (Área Pastoral Cariacica/Viana) 19h30 – Bênção para casais no Campinho do Convento

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24 de abril (quarta-feira) 6h, 7h e 9h30 – Missas na Capela do Convento

15h – Oitavário com Missa no Campinho às 15h (Área Pastoral Benevente)

19h30 – Noite Mariana (Catedral Metropolitana de Vitória, participação do Pe. Joãozinho e a Orquestra de violões Bom Pastor - Maestro Hugo Leonardo)

25 de abril (quinta-feira)

6h, 7h e 9h30 – Missas na Capela do Convento

15h – Oitavário com Missa no Campinho (Área Pastoral Serra/Fundão)

19h30 – Apresentação da Orquestra Sinfônica do ES no Santuário de Vila Velha

26 de abril (sexta-feira)

6h, 7h e 9h30 – Missas na Capela do Convento

15h – Oitavário com Missa no Campinho (Área Pastoral de Vitória) 14h – Romaria dos Militares (Portão do Convento da Penha) 19h30 – Noite Franciscana no Campinho do Convento

27 de abril (sábado)

6h – Missa na Capela do Convento

8h – Missa da Diocese de São Mateus no Campinho

8h – Romaria das Pessoas com Deficiência (saída da Pça. Duque de Caxias)

10h – Translado da imagem de N. Sra da Penha pela Baía de Vitória (saída da EAMES até a Ilha das Caieiras) 10h – Missa da Romaria dos Adolescentes e Jovens no Campinho

15h – Oitavário com Missa no Campinho (Diocese de Cachoeiro de Itapemirim)

18h – Missa de Envio e Bênção da Romaria dos Homens (Catedral Metropolitana de Vitória) 23h – Missa de Encerramento da Romaria dos Homens no Parque da Prainha

28 de abril (domingo)

5h e 7h – Missas na Capela do Convento

8h – Missa da Diocese de Colatina no Campinho 8h – Remaria (saída da Praia do Ribeiro)

10h – Bênção dos Motociclistas na Prainha

15h30 – Apresentação do Coral da Arcelor no Parque da Prainha

16h – Romaria das Mulheres com saída do Santuário de Vila Velha

17h – Encerramento do Oitavário e missa da Romaria das Mulheres na Prainha 18h30 – Show da Banda Adventus no Parque da Prainha

– Vigília Eucarística Jovem no Campinho do Convento (abertura às 22 horas até às 7h da manhã do dia 29 de abril)

29 de abril (segunda-feira)

7h – Encerramento da Vigília Eucarística Jovem e Missa da CRB e Seminário no Campinho 8h – Romaria dos Ciclistas com saída de Cobilândia.

11h – Apresentação da Associação Cultural Coletivo do Samba (Projeto de Mestre Sala e Porta Bandeira Mirim no Campinho do Convento) 9h – Romaria dos Conguistas no Campinho do Convento 10h – Missa das Pastorais Sociais no Campinho 16h – Missa de Encerramento na Prainha

– Show de encerramento com a Banda Adventus

0h, 2h, 6h, 9h e 12h – Missas na Capela do Convento

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