Revista Vitória - Março 2019

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Ano XIII | Nº 163 | Março de 2019

REVISTA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA – ES

“ Para além do horizonte existe uma luz que não tem fim” Acontecem tantas coisas ruins. O bom uso do que nos acontece muda a vida que nos é dada viver. pág. 16



EDITORIAL

TEM FÉ, TEM OBRAS Iniciamos o ano com muito sofrimento por conta de grandes desgraças que envolveram emocionalmente a todos: as vítimas de Brumadinho e de jovens atletas do Flamengo. Em março, vem uma onda de esperança com a proposta da Campanha da Fraternidade: Fraternidade e Políticas Públicas. Esperança não porque as políticas estão bem, obrigada, mas porque a Campanha nos lembra que somos atores dessas políticas e devemos nos envolver com elas. Já diz a Carta de São Tiago (2,17) “a fé, se não tiver obras, está completamente morta”. Fé é movimento, é perceber a vida e as necessidades de quem está do lado ou distante. Nesta edição, desafios, preocupações, conselhos, esclarecimentos, solidariedade , esperança e o adeus a Dom Silvestre. Não deixe de ler. Boa leitura!

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Publicação da Arquidiocese de Vitória / ES • ISSN 2317-4102

Março de 2019

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HOMENAGEM

Homenagem a Dom Silvestre. A Arquidiocese de Vitória o aplaude e guarda sua serenidade

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ENTREVISTA

“É o sistema econômico predominante no mundo ocidental contemporâneo. Surgiu em substituição ao Feudalismo.”

ASPAS 21 O que é capitalismo?

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ATUALIDADE A dignidade humana e o bem comum

ESPECIAL A sociedade e os riscos da posse de arma

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IDEIAS Fazer bom uso do que nos acontece

BRUMADINHO Missa em solidariedade com as vítimas

Conversamos com o governador Renato Casagrande sobre políticas do governo para as áreas da saúde e segurança

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Mundo Litúrgico

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Lições de Francisco

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Campanha da Fraternidade

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Espiritualidade

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Economia Política

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Flashes do Cotidiano

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Fazer Bem

44

Catequese

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Aconteceu

28

MEU FILHO COME MAL

31

MUSEU DO TELEFONE

34

LUA: FATOS E MITOS

38

A BÊNÇÃO DO TESTEMUNHO

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CAMPANHA CONTRA VIOLÊNCIA

Viver Bem

Sugestões

Pauta Livre

Caminhos da Bíblia

Arquivo e Memória

Arcebispo Metropolitano: Dom Dario Campos • Arcebispo Emérito: Dom Luiz Mancilha Vilela • Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098–ES • Repórter: Andressa Mian / 0987–ES • Conselho Editorial: Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Vander Silva, Milena Cabral • Colaboradores: Pe. Andherson Franklin, Arlindo Vilaschi, Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Fr. José Moacyr Cadenassi • Revisão de Texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: vlorenzetto@redercres.com.br – (27) 3198-0850 • Fale com a Revista Vitória: mitra.noticias@aves.org.br • Diagramação: Paulo Arrivabene • Impressão: Gráfica e Editora GSA – (27) 3232-1266


ENTREVISTA

O QUE ESPERAR DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ESPÍRITO SANTO A Igreja Católica propõe para reflexão neste ano, o tema Fraternidade e Políticas Públicas. O objetivo é fazer com que os católicos entendam, se envolvam e cobrem das instituições competentes, políticas que atendam aos mais necessitados. A Revista Vitória conversou com o governador Renato Casagrande sobre políticas do governo para as áreas da saúde e segurança pública.

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ENTREVISTA O senhor começa um novo governo, mas também herda algumas políticas públicas. O que vai manter? Em termos de política e das ações do governo, eu vou manter praticamente tudo. Não tenho nenhum interesse em causar nenhuma ruptura nas ações da administração pública, porque considero que o momento exige responsabilidade com o dinheiro público e exige responsabilidade com as pessoas. Eu me recordo que há quatro anos, quando saí do governo, tivemos muitas rupturas: obras paralisadas, programas paralisados. Tendo lastro financeiro, vou dar sequência a todas as ações, com perfis diferentes, naturalmente, e com prioridades diferentes. Vou adotar a prática do diálogo permanente com a sociedade e com os servidores públicos. Preciso fazer isso, porque há um deficit de diálogo no estado e eu preciso mostrar a diferença com relação ao relacionamento com a sociedade e com as instituições. Quero ter uma presença mais forte do estado na área de infraestrutura, porque é uma carência que deixa o estado pouco competitivo. Quero intensificar um programa no enfrentamento ao crime, e retomar o Programa Estado Presente, interrompido na gestão passada. Isso coloca o governador diretamente coordenando 06

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as ações de proteção à sociedade. Vou dar uma atenção muito grande na área de saúde, na atenção primária e no trabalho de prevenção.

Na área da saúde o senhor já tem alguma política pensada para propor a diminuição dos problemas do dia a dia. Falta de atendimento, pessoas que ficam à espera de cirurgias ou de leitos em hospitais por tempo infinito, enfim, os procedimentos diários que afetam à população? Tudo na vida depende de capacidade de resolver as coisas. Na saúde também. Nós queremos fazer parcerias com os municípios e vamos criar no governo um Instituto de Saúde Pública para que através de bolsas, de pesquisas e estudos, a gente forme profissionais, que já trabalham na atenção primária nos municípios, com capacidade resolutiva para ir dando encaminhamentos definitivos a quem procura. A especialidade em saúde da comunidade e da família é um caminho para ter mais resolutividade na saúde.

A outra questão é fortalecer os consórcios municipais, porque esse é um trabalho que produz resultados. A gente pode vincular o atendimento na unidade de saúde ao uso da tecnologia para que alguns especialistas sejam centralizados em áreas que recebam pela Internet, por

teleconferência, exames, dúvidas que o médico lá da base tenha. Isso possibilita que esse especialista possa dar um encaminhamento sem precisar do deslocamento físico do paciente. Acho que a tecnologia precisa ser incorporada a soluções na área de saúde. Isso dará resolutividade e a gente aliviará a atenção secundária, e consequentemente o atendimento hospitalar, que é o que hoje está sobrecarregado. Resolutividade é o grande problema da saúde pública. Estamos dando à equipe da saúde total autonomia para escolher profissionais da área que tenham capacidade resolutiva. Claro que não podemos esquecer do atendimento de alta e média complexidade, que é o atendimento hospitalar. Nós precisamos ir consolidando e aperfeiçoando as parcerias que já temos numa gestão mais adequada dos nossos hospitais próprios. Estamos buscando aperfeiçoar relações com hospitais filantrópicos, vamos mudar a forma de contratação e passar por credenciamento de serviços com preços padronizados para que a gente não pague mais a uma entidade do que a outra. Isso vai melhorar e dar resolutividade ao atendimento de média a alta complexidade hospitalar, que também precisa de ter fluxo, ter velocidade.


ENTREVISTA No Espírito Santo, o hospital Doutor Jayme Santos Neves, o hospital Central e o Hospital Estadual de Urgência e Emergência, já estão privatizados. Existe um estudo em 10 Estados, incluindo o Espírito Santo, que aponta maiores gastos nesses hospitais. O senhor pensa em dar continuidade às privatizações?

O momento exige responsabilidade com o dinheiro público e exige responsabilidade com as pessoas.

Algumas unidades acho que é possível continuar, desde que o estado tenha capacidade de controlar a prestação de serviço desta organização social. Porque o serviço é desenvolvido por ela, mas é um serviço público, não é privado, quem paga é o cidadão capixaba e brasileiro dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Então tem que ter o controle. Eu não vejo problema de ter algumas unidades gerenciadas pela organização social, desde que a gente tenha unidades do estado para comparar preço e não ter um custo mais elevado do que as unidades que são gerenciadas por nós. Hoje temos dificuldades de fazer essas comparações pela desorganização da administração pública. Por isso, estamos focados em melhorar a gestão dos nossos hospitais e melhorar a relação com os hospitais filantrópicos, desde que o estado se prepare para controlar a contratação dos serviços. Não vamos ampliar porque não queremos colocar um mix de profissionais de organização social e de servidor público como acontece no HIMABA (Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves), em Vila Velha, porque isso não dá certo. No entanto, em um hospital que está iniciando, começando, como nós fizemos no Jayme Santos Neves, na Serra, produziu resultados. Cabe à administração pública controlar, através da Secretaria de Saúde, esse serviço. O senhor pensa em rever os contratos que existem com esses três hospitais?

O hospital Jayme Santos Neves, não. Vamos apenas fazer uma avaliação dos serviços e do custo desses serviços, mas funciona adequada-

mente. O hospital Central não tenho avaliação e o HIMABA estamos sim precisando fazer uma reavaliação.

Nos últimos tempos, a Grande Vitória, em especial Vitória, teve um aumento de tráfico de drogas e crimes. O senhor assumiu o governo no auge do conflito, em especial nos morros da Piedade, Moscoso e Fonte Grande onde têm ocorrido diversas operações policiais. O que tem acontecido é muito angustiante para todos. Qual a proposta para diminuir o medo e a insegurança das pessoas? Lógico, porque as pessoas veem vizinhos com problemas e é mais do que natural que estejam amedrontadas. Esses grupos de criminosos atuando no estado com tráfico de drogas e com tráfico de armas se fortaleceram muito nesses últimos quatro anos por ausência da política pública de estado. Fortalecidos passaram a brigar entre eles, cada um querendo dominar a área do outro. Quando esses grupos sentem a presença de uma política de segurança, acabam se recolhendo para uma atividade mais tímida em cada região. Esse ambiente em que nós assumimos e é nesse ambiente que estamos atuando desde o dia 1º de janeiro com muita intensidade e com março 2019

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ENTREVISTA

Cada secretaria do estado terá que ter um programa nas áreas e territórios mais vulneráveis.

muita articulação com a polícia. Estamos retomando agora no mês de fevereiro o Programa Estado Presente, um trabalho que estabelecerá metas internas de redução da violência e que estabelecerá uma política de operação policial e uma política de trabalho na área social. Porque essas comunidades são regiões que precisam da presença do estado, da prefeitura, do governo do estado, da sociedade organizada, das igrejas. Um trabalho de estado presente, nosso programa se chama Estado Presente por isso. O Estado Presente contempla as duas dimensões, a presença policial e a questão social?

Sim. Trabalha nos dois pilares. Uma integração e uma articulação das polícias; militar, civil, federal, rodoviária federal, guardas municipais, bombeiros. Uma articulação forte que eu comando em reuniões mensais, e nessa articulação tem um tra08

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balho muito forte com o Poder Judiciário e o Ministério Público, porque tem tudo a ver com o sistema prisional. Nós estamos com muito cuidado com o sistema prisional porque estamos com nove mil presos a mais do que o sistema comporta. É uma situação que vive no limite. Se o sistema prisional está desorganizado, os criminosos passam a comandar o crime de dentro dos presídios. É preciso termos (estado e sociedade), políticas públicas como esporte e cultura, para dar um pouco mais de segurança para as pessoas. Eu vou comandar isso diretamente tanto participando de reuniões da parte social e da parte social. Cada secretaria do estado terá que ter um programa nas áreas e territórios mais vulneráveis. Como será o retorno do Programa Estado Presente?

Agora, em fevereiro, voltou a parte policial. Estamos preparando os pontos focais de cada

secretaria para que sejam responsáveis pela programação e planejamento das ações numa vertente social. Aí, as Igrejas terão um papel fundamental e a Igreja Católica terá um papel de destaque pela força que tem e pela presença que tem em cada comunidade. O ministro Sérgio Moro apresentou um projeto nacional com relação à segurança e o senhor disse ter concordado com a proposta. Em que esse projeto vai ajudar o estado? Eu concordei com a linha geral da proposta. Com alguns pontos a gente está discutindo e fazendo propostas diferenciadas. Mas a síntese do programa, a coluna vertebral, tem minha concordância, porque ele endurece penas contra a corrupção, contra o crime organizado e contra o crime contra a vida. Reduz progressão de pena e deixa mais claro o trabalho do juiz e do operador da área de segurança pública. Também dá a possibilidade de usar a tecnologia para agilizar os processos de execução penal, como por exemplo, o uso da teleconferência. Só no ano passado, no Espírito Santo, que é um estado pequeno, os inspetores penitenciários fizeram 32 mil escoltas. Muitas delas, referentes a audiências que por diversas vezes nem aconteceram, por diversos motivos. Fora o trânsito, carros que quebram, etc. O pro-


ENTREVISTA jeto endurece em alguns tipos de delito, e abre caminhos para uso da tornozeleira, da teleconferência, de medidas cautelares, que não seja só a privação da liberdade. Traz a proposta da não-persecução penal com algumas medidas modernas que podem qualificar as prisões. Hoje a cultura do encarceramento é muito forte. A população quer todo mundo preso, mas nós que estamos na vida pública temos que saber fazer a diferenciação. Se encarcerarmos todas as pessoas que cometem delitos, perdemos a capacidade do trabalho de ressocialização. A gente precisa ter o sistema prisional organizado para colocar uma atividade produtiva dentro do sistema prisional, para dar oportunidade a pessoa de estudar, ter uma formação profissional, ter um atendimento na área de saúde. Tem outros pontos do projeto, como a atuação da polícia, decisão em segunda instância, privação da liberdade, que são pontos que a sociedade hoje discute e debate. De alguma forma a proposta do Sérgio Moro poderia nos ajudar nessa superlotação do sistema prisional no estado?

Pode. Se a gente avançar na tecnologia e na compreensão dos juízes. Acho que a lei é para isso; determinar algumas coisas, que hoje alguns juízes resistem, como o uso das teleconferên-

cias e tele-audiências. Há uma certa resistência não só dos juízes, mas também de alguns setores da Ordem dos Advogados do Brasil. Então, algumas propostas ficam claras e que podem permitir um alívio e deixar de fato privado de sua liberdade aqueles que cometem crimes mais graves e fazer um controle sob aqueles que cometem crimes menos graves, de menor gravidade, mas mantendo um controle sobre eles, através de centrais de monitoramento. Às vezes, a pessoa por ter cometido um pequeno delito, fica um, dois anos presa. Hoje cerca de 50 % dos presos no nosso estado são de prisões provisórias. Essas medidas serão contempladas no Estado Presente?

Sim. Mensalmente os temas importantes para o controle da segurança pública serão debatidos. Não é uma tarefa fácil. É preciso que quatro anos depois, quando a gente sair, não haja descontinuidade, mesmo que não tenha uma legislação que defina isso. A partir de 2011 conseguimos reduzir o crime contra a vida no estado. Quando eu chequei eram 52,5 homicídios por 100 mil habitantes. Hoje está em torno de 28 a 30 homicídios por 100 mil habitantes. Ainda é muito alto, porque enquanto uma pessoa estiver sendo assassinada é inaceitável, mas tem um caminhar que está sendo feito.

Quando o estado se afasta e os grupos criminosos atuam com mais intensidade, o crime contra o patrimônio aumenta muito e pessoas inocentes ou pessoas envolvidas com o crime perdem a vida. Isso gera um medo, um pânico coletivo, que dificulta até o trabalho de confiança dos instrumentos de segurança do estado. O senhor falou de diminuição no número de mortes. É verdade, mas em 2017 voltou a subir. Muitos estão dizendo que o decreto do Governo Federal que facilita a posse de arma, pode aumentar a criminalidade e o número de homicídios. O que o senhor pensa sobre isso?

Crime contra a vida em 2017 aumentou por conta da manifestação da polícia. Mas com relação ao crime contra o patrimônio, perdeu-se o controle no Espírito Santo. Eu tenho muita preocupação com essa cultura de liberar armas. A liberação de armas para o cidadão que não tem nenhum envolvimento com o crime, ter a posse e talvez depois o porte mais facilitado, pode ser uma fonte de armas para os criminosos. Eu tenho muita preocupação e muitos estudos científicos apontam que quando mais se arma a sociedade, mais violência se tem. Então eu sou contra, já manifestei minha opinião contra. Quem tem que estar bem armado é a polícia, para através março 2019

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ENTREVISTA de um trabalho de investigação, retirar as armas dos bandidos. A cultura do armamento não tem se mostrado historicamente benéfica para a sociedade. E em relação às mulheres? Nós somos o 5º estado do Brasil que mais mata mulheres.

O programa Estado Presente vai ter um recorte de trabalho para enfrentar a violência contra as mulheres e enfrentar a violência contra os jovens, jovens negros em especial. A nossa vice-governadora, Jaqueline Moraes, junto com a secretaria de Direitos Humanos e a Subsecretaria de Mulheres, estão coordenando, sob nossa liderança, como acontece em todas as secretarias, para que a gente tenha trabalhos de políticas específicas para as mulheres em todas as áreas do governo. Política para as mulheres é uma política transversal no governo. Quando damos visibilidade às mulheres, a gente reduz a violência contra elas. A Campanha da Fraternidade deste ano (Fraternidade e Políticas Públicas) tem, entre outros, dois objetivos: que os católicos entendam o que são políticas públicas e queiram participar delas sugerindo e ajudando na elaboração. O senhor pensa em incluir as Igrejas na definição das políticas? Sim. Eu penso em incluir as Igrejas, a nossa Igreja Católica, 10

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em especial, terá um papel importante porque já tem um trabalho muito intenso na área social, no acolhimento de pessoas dependentes de drogas, na área do acolhimento ao menor, ao idoso. Em todas as paróquias têm algum trabalho social. É importante que nesse debate de políticas públicas, os católicos possam aprofundar um pouco mais a sua visão sobre elas. Nós já tratamos nesta conversa do encarceramento, mas podemos falar da demanda por hospitais. Todo município quer ter um hospital e também o estado, mas o cidadão, não suporta pagar isso. Por isso, é preciso melhorar a atenção primária, o trabalho preventivo, o cuidado que as pessoas precisam ter com sua saúde, na sua família. E quando a pessoa se envolve com a religião, ela cuida muito melhor do seu corpo, porque o corpo é a morada da alma. Uma família bem organizada, bem estruturada é um alívio para a administração pública, porque acompanha o filho na escola, acompanha a caderneta de vacinação, acompanha o local onde o filho está indo fazer uma festinha. Política pública não tem a ver só com o governador, só com o prefeito, só com o deputado. Política pública tem a ver com o cidadão, com o cristão, com a família. A Campanha é uma oportunidade para debater. Se é uma tarefa que

se o cidadão pode resolver, ele resolve. Se puder ajudar na comunidade, ajude. É uma tarefa que pode ser só empurrada para o governo municipal, estadual ou federal, encaminhe. É importante que a gente compreenda o papel de cada órgão dos níveis da federação brasileira para cobrar a responsabilidade de cada um. Acredito que é uma oportunidade que a Igreja vai nos dar de poder fazer esse debate. O aprendizado e o conhecimento ajudarão a fazer a pressão sobre os gestores. A Pastoral da Saúde e a Pastoral Carcerária terão diálogo com o governador?

Total. Todas as pastorais e a Igreja como um todo têm. Nosso governo é aberto, vamos fortalecer os conselhos, colocá-los para funcionar. Os secretários estão orientados e determinados a colocar esses conselhos pra funcionar e as pastorais da Igreja terão um papel. Eu quero integrar o trabalho do governo com um trabalho social que a Igreja desenvolve e potencializar esse trabalho onde a gente puder. Nós já fizemos isso no passado, com a Fazenda Esperança e esse é um trabalho importante que a gente pode fazer juntos, Igreja Católica e Governo do Estado.

Maria da Luz Fernandes Jornalista



ATUALIDADE

A DIGNIDADE HUMANA E O BEM COMUM: DESAFIOS URGENTES NA REALIDADE BRASILEIRA

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ATUALIDADE

O

ano começou com a posse dos novos governantes eleitos para o comando dos Poderes Legislativo e Executivo, em nível estadual e nacional. O clamor por mudança nas últimas eleições resultou em renovação de mais da metade dos representantes do povo. O momento é adequado para analisar os desafios a serem enfrentados em prol da dignidade da pessoa humana e do bem comum. Neste contexto, a Campanha da Fraternidade nos orienta a fazer uma reflexão sobre Fraternidade e Políticas Públicas, com ênfase nas dimensões política e social da fé cristã: “serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27).

Desde a década de 1950 os governos brasileiros vêm adotando políticas de desenvolvimento industrial. São 70 anos de investimento intensivo na modernização da base produtiva do país para transformá-lo em uma das dez maiores potências econômicas do mundo. A industrialização tem como características o trabalho assalariado, a substituição do homem pela máquina, o crescimento populacional e o aumento da taxa de urbanização. A mecanização e automação do processo produtivo acelera o aumento da produtividade resultando em extraordinário crescimento econômico. Além do aumento da riqueza, em sete décadas houve enorme crescimento populacional subindo de 50 milhões para 208,5 milhões de pessoas, ou seja, enquanto a população mundial cresceu 2,8 vezes, a brasileira aumentou mais de 4 vezes. Neste período, a taxa de urbanização passou de 35% para 84%. Embora o Brasil seja um grande país, com 5.570 municípios, a maior parte da

população vive em apenas 5% das cidades. Portanto, somos um país industrializado, moderno, rico e urbano.

Hoje é possível afirmar com segurança que em nosso país há meios para garantir a dignidade de todos e viabilizar o bem comum através do direito e da justiça social. No entanto, a industrialização acelerada que alterou profundamente o modo de vida dos brasileiros não modificou a desigualdade social. A riqueza produzida continua sendo distribuída de forma extremamente desigual, por exemplo, atualmente apenas os seis brasileiros mais ricos detêm um patrimônio em valor equivalente aos bens dos 100 milhões mais pobres. A pobreza e a desigualdade social são sinais de injustiça e desamor. Delas nascem o abandono de vulneráveis, a falta de instrução, a violência e muitas doenças. Por isso, é necessário compreender a origem dos problemas sociais.

Em 2018 o

desemprego alcançou

13,2 milhões de trabalhadores. Hoje são

65 milhões fora do mercado. A situação de

pobreza chegou a

26.913.731 famílias, equivalente a

35% da população brasileira.

fonte: IBGE

A sociedade industrial é baseada no trabalho assalariado. Este modelo de organização socioeconômica tem

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ATUALIDADE

crises recorrentes. Cada crise aumenta o desemprego e desestabiliza a vida de milhões de famílias. Por exemplo, de acordo com o IBGE, em 2018 o desemprego no Brasil alcançou 13,2 milhões de trabalhadores. Hoje são 65 milhões de brasileiros fora do mercado de trabalho. Com isso, aumentou o número de trabalhadores por conta própria que já soma 23,6 milhões de pessoas. Porém, se uma parcela dos desempregados consegue viabilizar meios próprios para gerar renda, outra grande parte sequer possui recursos básicos para se virar na crise. O resultado é o aumento da pobreza e da miséria.

São várias as causas das crises econômicas da sociedade industrial, dentre eles, a inovação tecnológica que reestrutura a maneira de produzir e extingue muitos setores da produção substituindo o trabalho humano por máquinas. A reestruturação produtiva é responsável pelo desemprego estrutural que deixa milhares de profissionais sem função aumentando a informalidade e a pobreza. Os dados atuais sobre a situação de pobreza do nosso país são impressionantes. Em dezembro de 2018 chegou a

26.913.731 famílias baixa renda inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). Quase 27 milhões de famílias corresponde a 73.635.046 pessoas cadastradas, ou seja, temos 35% da população brasileira, consideradas oficialmente como baixa renda. O número de pobres brasileiros é 18 vezes maior que a população total do estado do Espírito Santo. É superior à população de 180 países do mundo. De acordo com os critérios oficiais, a família baixa renda é aquela com renda mensal de até meio salário-mínimo por pessoa, isto é, se a soma de todos os rendimentos dos membros da família for dividida pelo número total de pessoas, o resultado deve ser inferior a R$477,00. Dentre as famílias cadastradas, 14.142.764 se beneficiam do Programa Bolsa Família (PBF), ou seja, apenas 54% dos inscritos são atendidos. Vale informar que este benefício tem valor médio de apenas R$ 186,78 por família.

Enfim, a superação da pobreza e da desigualdade social exige vontade política. A negligência dos governantes é alimentada pela omissão dos cidadãos. Os nossos olhos se habituaram a ver os miseráveis pelas ruas compondo a paisagem brasileira. O descaso com os mais pobres é uma atitude culturalmente construída. O cuidado, também. Muitos países já demonstraram que é possível alterar a situação de pobreza e desigualdade social.

Portanto, a cultura é um patrimônio herdado que pode ser modificado. Para isso, precisamos mudar a nossa compreensão sobre os problemas sociais. Tal como nos ensinou Dom Helder Câmara, devemos ajudar os mais pobres e, ao mesmo tempo, buscar compreender a origem da pobreza.

Tânia Maria Silveira Assistente Social Assessora do Departamento Pastoral da Arquidiocese de Vitória

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ESPECIAL

A SOCIEDADE E O OLHAR SOBRE OS RISCOS DA POSSE DE ARMA

A

final, a posse de armas em casa servirá mais para defesa e proteção ou apenas mais mortes e violência?

Responder positivamente ou não é ter um pensamento linear e essa é uma questão muito complexa para ser respondida assim. Tentar prever as consequências da posse de armas exige correlacionar muitas variáveis. Aqui vamos olhar apenas uma parte desta complexidade.

As estatísticas oficiais mostram que somos majoritariamente urbanos, de classe média, com pouca escolaridade e nos sentimos inseguros dentro de casa. Separando uma geração em períodos de 30 anos, temos no Brasil três gerações convivendo. Na 1ª geração (0-30anos) temos 30% da população. Os mais velhos deste grupo tinham 16 anos quando foi aprovado o Estatuto do Desarmamento no Brasil (projeto do Gerson Camata, ironicamente morto por uma arma de fogo). Essa geração não conviveu com o Brasil “armado”. Não sabe dizer como era culturalmente comum se ter arma em casa, especialmente na região rural, quando não havia,

nem de longe, os índices de criminalidade atuais.

Em contrapartida, essa geração celular convive, desde muito jovem, com os avanços tecnológicos e com a rapidez da informação, muitas vezes distorcida e mal processada pela cultura da urgência instaurada, tornando esse grupo altamente sujeito ao stress e facilmente frustrado. Vivenciam a violência por todos os lados: do mundo real exposto na televisão ou vivido dentro ou fora da casa, ou imaginada pelos filmes e games muitos dos quais absurdamente violentos. Cresceram com a desconstrução dos valores éticos e morais, acreditando que tudo é relativo, que o individualismo é valor e as relações são superficiais e descartáveis. Os indicadores crescentes de suicídios e o amplo consumo de antidepressivos, entre outras drogas, nos mostram claramente os resultados deste ambiente. A vulnerabilidade deste grupo é visível. Arma em casa pode ser mais risco que proteção. Se olharmos a 2ª geração (31-60 anos) é possível esperar que tenham sido criados por pais mais liberais que os da

3ª geração (61-90 anos). Eles estão submetidos ao mesmo stress da 1ª geração, nem sempre estando tão preparados para enfrentar os desafios digitais, culturais e até os afetivos. Muitos passam por questionamentos que confrontam seus sonhos e suas conquistas, e se frustram. Em sua maioria criados na lógica patriarcal, precisam lidar com mulheres que estudaram mais, tem novas chances profissionais, sendo que quase 40% são “chefes do lar”. Frustração, stress e relações conflitivas não combinam com arma em casa. A 3ª geração (61-90 anos) concentra mais pessoas que foram criadas em um ambiente cultural mais autoritário, menos tolerante e mais “machista”, somando-se a fragilização profissional, social e física. Os sonhos foram ou não conquistados e a depressão facilmente ronda essas perdas. Os mais vulneráveis por arma em casa?

Os suicidas terão mais um meio, os companheiros(as) frustrados(as) ou ameaçados(as) também, mas a real preocupação fica com o 1º grupo. Acidentes? Uso para enfrentar bullying ou outras injustiças vividas? De fato, armas são perigosas e não solucionam problemas. Amar e perdoar sim.

Vânia Reis

Psicóloga - vaniareis@gap-es.com.br


IDEIAS

FAZER BOM USO DO QUE NOS ACONTECE

A

contecem tantas coisas ruins na vida! Sim, acontecem. É uma certeza. Cada um tem sua cota. Sendo assim, é bom não se deixar seduzir pela ideia de que é possível passar pela vida sem dar de “cara” com estes acontecimentos. Se é bom não se iludir, melhor ainda é agir, tirando proveito de tudo que acontece.

Bem sabemos que a vida nunca garantiu a quem quer que seja apenas as facilidades, muito pelo contrário. E se desejamos fazer a experiência da vida como satisfação e contentamento – e isso é uma grande possibilidade – tudo haverá de resultar da postura frente a esses momentos e do modo com que conduzimos o seu proveito. Há que se fazer um bom uso do que nos acontece, o tempo todo, das pequenas ocorrências às grandes. Mas, especialmente temos que aprender a fazer bom uso dos maus acontecimentos.

Temos medo de sofrer. O medo pode nos destituir de nos-

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sas forças e potencialidades. O medo pode nos impedir de crescer e de sermos quem de fato somos. O medo pode nos jogar num buraco onde só viveremos precariamente por projeção, por idealização, enganando a nós mesmos, perdendo a realidade e a vida que nela se dá. Mas o medo em si não é negativo. O medo é uma reação que nos antecipa, nos prepara, nos adverte, nos fortalece até para o enfrentamento do que vem. O medo e as dificuldades em lidar com certas realidades e situações não poderão nos paralisar. O medo de sofrer é naturalíssimo, a dificuldade em lidar com acontecimentos


ruins também, mas ser paralisado por eles não. A mesma natureza que nos dá o medo, nos dá também a coragem. Só é preciso acessá-la. E essa habilidade de acessar as forças da vida vem também do treino em olhar com desejos de aprender mais sobre nós mesmos, sobre a vida e o mundo por intermédio do que chega, do que nos acontece. Há outra coisa importante: o sofrimento nos compõe. Ele é uma importante parte desse complexo arranjo que somos. Não somos senão a composição em que os desafios, as dificuldades, os acontecimentos ruins, as perdas, as dores são elementos essenciais e importantíssimos. As notas mais elaboradas, as pinceladas mais finas, o brilho mais adequado, os movimentos mais bonitos na obra de arte que cada um haverá de fazer de si mesmo, se dão nas dificuldades.

Evitar o mal, no entanto, é um imperativo que se impõe a todos. Temos que fazer de tudo para evitar a dor, para não ter que passar por situações difíceis, para impedir que coisas ruins aconteçam. Temos que usar todos os nossos recursos,

inteligência e forças para que fiquemos livres desses momentos, mesmo e apesar de saber que nem sempre nossas estratégias, desejos e vontades se realizam com êxito.

Além desse árduo, urgente e indispensável trabalho – evitar o sofrimento e a dor – outro, não menos árduo, mas sempre frutuoso, nos é proposto: agir. Sim. Agir a partir do que nos acontece. Fazer bom uso do de tudo que nos acontece, e também – sem vacilos, dúvidas e titubeios – fazer bom uso especialmente do mal que nos acontece.

Se diante dos acontecimentos/situações ruins nos faltar esse olhar, esse desejo de fazer um bom uso de tudo que nos acontece, muitas outras situações difíceis pesarão sobre nós com peso esmagador. Ou seja, o bom uso do que nos acontece muda, define, reorganiza, potencializa, alegra, embeleza a vida que nos é dada viver. E o bom uso do mal que nos acontece ainda mais opera isso.

Dauri Batisti Padre, Psicólogo e Mestre em Psicologia Institucional

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MUNDO LITÚRGICO

RECONCILIADOS POR CRISTO

A

Quaresma, que anualmente celebramos em preparação à Páscoa, se faz motivação perene de conversão, sendo referência para o caminho que percorremos como seguimento de Jesus Cristo, em todas as etapas da nossa vida de fé. A cada dia ecoa para nós a exortação paulina, destacada pela espiritualidade litúrgica deste tempo: “Em nome de Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus.” (2Cor 5,20b). As comunidades da Igreja são espaços privilegiados e de referência para a contínua experiência da reconciliação, particularmente pela expressividade das ações litúrgicas, seja pela celebração do sacramento da reconciliação (pessoal ou comunitária), ou pelas celebrações da reconciliação sem a dimensão sacramental.

É importante os pastores, as comunidades e as equipes de liturgia conhecerem, aprofundarem ou redescobrirem o RITUAL DA PENITÊNCIA, renovado por Decreto do Concílio Vaticano II e com tradução da edição típica na língua portuguesa para o Brasil, com promulgação no ano de 1973 (Vaticano) e 1975 (Brasil).

O RITUAL ESTÁ ASSIM DISPOSTO:

A. Introdução Geral (I. Minis-

tério da Reconciliação na História da Salvação; II. A reconciliação dos penitentes na vida da Igreja; III. Funções e ministérios na reconciliação dos penitentes; IV. Celebração dos Sacramentos da Penitência; V. Celebrações penitenciais; VI. Adaptações do rito às diversas regiões e circunstâncias;

B. Cap. I - Rito para a reconciliação individual dos penitentes;

C. Cap. II – Rito para a recon-

ciliação de vários penitentes com confissão e absolvição individuais;

D. Cap. III – Rito para a reconciliação de vários penitentes com confissão e absolvição geral; E. Cap. IV – Leituras bíblicas;

F. Apêndices: Apêndice I – Absolvição de censuras; Apêndice II – Exemplos de celebrações penitenciais; Apêndice III: Esquema para exame de consciência.

Percebemos, ao enunciar as partes do Ritual, a riqueza e variedade do mesmo como motivação e orientação para as celebrações da reconciliação nas nossas comunidades, pois é de vital importância a prática da reconciliação na vida cristã: reconciliação com Deus, consigo mesmo e com os semelhantes. Na Quaresma há uma valorização e até uma intensificação das vivências penitenciais nas formas litúrgicas, mas durante o ano as comunidades também devem aprofundar e valorizar o sentido de celebrar a reconciliação, seja em outros momentos fortes da vida eclesial, ou mesmo diante das circunstâncias e necessidades de cada comunidade. A vida de comunhão fraterna é sustentada e sempre renovada pelo princípio da reconciliação, sentido de todo o ministério de Jesus Cristo, com a culminância do seu Mistério Pascal.

Em nome de Cristo, a Mãe Igreja preside, pela caridade, a reconciliação dos seus filhos e filhas, e continuamente os exorta e convoca: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6,2b).

Fr. José Moacyr Cadenassi Franciscano capuchinho, letrista, cantor, consultor de liturgia, apresentador de rádio e agente de ecumenismo e diálogo inter-religioso



ASPAS

“Os que no regime capitalista trabalham não lucram, e os que lucram não trabalham.” (Karl Marx)

CAPITALISMO É...

C

apitalismo é o sistema econômico – e político, social e cultural - predominante no mundo ocidental contemporâneo. Surgiu em meados do século XV, em substituição ao Feudalismo, que imperou na Europa na Idade Média, entre os séculos V e XV. No lugar do feudal (dono de grandes propriedades de terra) o capitalismo criou a burguesia (dona dos meios de produção) instaurando um modelo de estruturação social e econômica, cuja força motriz é a obtenção do lucro, o que leva, necessariamente, ao acúmulo de riquezas. A lógica é mais ou menos simples: quanto mais riqueza, mais empresa e mais emprego; quanto mais empresa e emprego, mais gente trabalhando; quanto mais gente trabalhando, mais desenvolvimento econômico e social. Para obter o lucro e o acúmulo de riquezas, o sistema capitalista se sustenta em alguns pilares como:

• A propriedade privada, na qual o sistema de produção pertence a uma pessoa ou a um grupo de indivíduos. São indústrias, empresas, serviços, agronegócios, entre outros. • O trabalho assalariado, ou seja, uma remuneração em troca da sua força de trabalho. • A economia de mercado, conhecida como livre mercado. Na teoria, a lei da oferta e da procura determina os preços a partir da oferta de produtos em concorrência em busca de consumidor. Entre os pontos positivos do capitalismo está o fato de valorizar a iniciativa individual, segundo as aptidões e particularidades de cada um. Pela lógica capitalista, o progresso, o sucesso, o desenvolvimento de cada pessoa depende apenas dela. Para os críticos, contudo, essa lógica não vem acompanhada da igualdade de oportunidade para todos. Ou seja, o filho do patrão tem mais opor-

tunidade de vencer na vida do que o filho do trabalhador.

Outra crítica contundente é que o capitalismo cria duas classes sociais: a dos donos dos meios de produção, que são minoria e detêm o poder e o lucro: empresários, banqueiros, fazendeiros...; a dos donos da força de trabalho: trabalhadores do campo e da cidade, que trabalham para a produção desse lucro e é a imensa maioria. Aqui está a raiz da afirmação acima de Marx. Cabe, por fim, destacar uma terceira classe social criada pelo capitalismo: a dos deserdados, excluídos do sistema, que não conseguem sequer emprego e vivem à margem da sociedade de consumo, integrando o que Marx chama de “exército de reserva de mão de obra”. A enorme desigualdade social é o ‘calcanhar de Aquiles’ do capitalismo.

Elson Faxina

Jornalista e Professor da UFPR

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LIÇÕES DE FRANCISCO

SEU CORAÇÃO ESTÁ EM PAZ?

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á três anos, numa missa celebrada na Capela da Casa Santa Marta em 08 de setembro, festa da Natividade de Nossa Senhora, Francisco em sua homilia perguntava: “Como está o coração de cada um de nós? Está em paz?”. Ao ouvir uma questão assim tão direta, dificilmente alguém conseguiria escapar de enfrentar a si mesmo e examinar sua consciência para responder.

Olhando para a humanidade atual parece-nos que esse bem chamado Paz, anda faltando. Especificamente, olhando para o nosso país, parece-nos que estamos caminhando mais na direção do ódio do que trilhando o caminho da paz. De nada adianta pedir a Deus paz no mundo, se em nós mesmos não cultivamos a paz. Ela é um dom, mas precisa ser construída a cada instante, todos os dias. Ensina-nos Francisco: “Felizes são aqueles que semeiam paz com as suas ações diárias, com atitudes e gestos de serviço, fraternidade, diálogo, misericórdia. Fazer a paz é um trabalho que devemos realizar todos os dias, passo a passo, sem nunca nos cansarmos”.

Ao ouvir uma questão assim tão direta, dificilmente alguém conseguiria escapar de enfrentar a si mesmo e examinar sua consciência para responder.

Rezamos pela paz em todas as missas, mas é preciso ser um pouco mais radical– é preciso encarar a construção da paz ao nosso redor, em nossa família, em nossa escola, em nosso trabalho e nosso país. “Não são suficientes os grandes manifestos pela paz, os grandes encontros internacionais, se depois não se realiza esta paz no pequeno, em nós mesmos”, esclarece Francisco. É nas pequenas coisas, todos os dias, que vamos construir a paz universal. “Se você não é capaz de levar adiante a tua família, o teu presbitério, a tua congregação, levá-la adiante em paz, não bastam palavras de paz para o mundo”. Podemos nos perguntar com que instrumentos vamos construir o caminho da paz entre nós. De nada adiantam as palavras esplêndidas, as orações solenes, se o coração do homem se nutre de ódio, de in-

tolerância, de desejo de vingança, de vontade de aniquilar o outro. Os instrumentos da paz não são feitos para a própria defesa, mas para a preservação da vida e da comunhão entre as pessoas. Se temos medo do outro é porque o caminho que construímos não está asfaltado com a paz.

O chamado de Jesus é muito claro quando nos diz em Mateus 5, 9 “Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus”. Ser pacificador não é mero desejo ou intenção, mas ser promotor, construtor. A paz precisa ser construída. Ela não acontece espontaneamente. E somente assim podemos ter a certeza de sermos filhos de Deus. Em outra ocasião Francisco nos diz: “É uma absurda contradição falar de paz, negociar a paz e, ao mesmo tempo, promover ou permitir o comércio de instrumentos para a não paz”. Os cristãos devem empreender seus esforços para a fabricação de instrumentos da paz e somente assim podem rezar como Francisco de Assis o fazia há centenas de anos: “Senhor, fazei de mim um instrumento de sua Paz!”.

Edebrande Cavalieri Doutor em Ciências da Religião

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HOMENAGEM

EM MEMÓRIA A DOM SILVESTRE

A ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA O APLAUDE E GUARDA SUA SERENIDADE Humildade, serenidade, caridade, humanidade, defensor dos pobres, dos injustiçados, dos perseguidos, misericordioso… a verdade é que faltam adjetivos e títulos para definir a vida e a missão de pastoreio de Dom Silvestre Luiz Scandian. Um homem que doou sua vida a Deus e que apesar de sua mansidão sabia como ninguém se colocar contra o que achava injusto, abusivo ou criminoso.

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oram 87 anos de vida, 67 anos de consagração religiosa, 60 anos de sacerdócio ministerial e quase 44 anos de vida como bispo, que seriam completados no dia 22 de fevereiro, dia em que foi celebrada a Missa de 7º dia em sua memória, na Catedral Metropolitana de Vitória. Dos anos dedicados ao episcopado, 20 deles foram no pastoreio da Arquidiocese de Vitória, “na força do Espírito Santo”, como era o seu lema.

A morte de Dom Silvestre foi uma imensa perda para a Igreja de Vitória e para a sociedade capixaba, que o viu ir se apagando aos poucos. As complicações com relação a sua saúde começaram a partir de 2010 com o aparecimento de falhas de memória que evoluíram para a doença de Alzheimer, passando a ter uma vida mais reclusa sob a atenção de cuidadores.

Em setembro de 2018 para poder receber mais cuidados foi para a cidade de Juiz de Fora, MG, onde ficou na Casa de repouso dos padres do Verbo Divino, Congregação à qual Dom Silvestre pertencia. Por conta de uma infecção foi internado no mês de outubro do mesmo ano, onde permaneceu até sua morte, ocorrida no dia 16 de fevereiro de 2019. Dom Silvestre chegou a Vitória em 1981, uma de suas primeiras ações foi realizar a Grande Avaliação (Grava). Nela compreendeu a estrutura da Arquidiocese e passou a defender o modo de ser Igreja da Arquidiocese de Vitória, com a valorização da organização em pequenas comunidades e a opção preferencial pelos pobres.

Isso o levou a apoiar os movimentos e as pastorais sociais e de direitos humanos.

Na década de 90 convocou a OAB e outros organismo da sociedade civil para fazer frente à problemática da violência no estado, o que culminou na criação do Fórum Reage Espírito Santo. Tendo como aliado Dr. Agesandro da Costa Pereira, então Presidente da OAS/ES, mobilizou a sociedade capixaba contra o crime organizado e provocou uma atitude forte da Justiça no combate ao crime. Recebia ameaças de morte, mas nunca aceitou proteção policial.

Em seus pronunciamentos públicos, como Festa da Penha, Abertura da Campanha da Fraternidade e Grito dos Excluídos era direto, simples e conciso ao mesmo tempo que era incisivo quando se tratava de Direitos Humanos e defesa da vida. Durante seu governo conseguiu trazer a visita do Papa João Paulo II (em 1991) e a realização em Vitória do XIII Congresso Eucarístico Nacional (em 1996).

DATAS IMPORTANTES: Ordenado padre em 3 de agosto de 1958. Fez licenciatura em Teologia na Pontifícia Gregoriana até 1960. Fez Sociologia na Escola de Sociologia e Política de São Paulo de 1964 a 1966. Foi Provincial na Congregação dos Padres do Verbo Divino de 1973 a 1974. Eleito bispo de Araçuaí em 24 de janeiro de 1975 e ordenado bispo em 22 de fevereiro de 1975. Foi nomeado Arcebispo coadjutor em 18 de agosto de 1981. Tomou posse em Vitória em 5 de novembro de 1981. Tornou-se emérito em 19 de abril de 2004 (nesse ano Dia de Nossa Senhora da Penha).

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PALAVRA DO ARCEBISPO

HOMILIA NA MISSA PELAS VÍTIMAS DE BRUMADINHO

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esse início de noite nos reunimos aqui para colocar diante do Senhor todas as vítimas da violência, do crime bárbaro, do descaso e da indiferença em relação à vida de irmãos e irmãs nossos que viviam a sua fé na Igreja de Jesus Cristo, presente na Arquidiocese de Belo Horizonte, em Minas Gerais.

Pessoas que tiveram as suas vidas soterradas pela lama e pelos dejetos de um modelo econômico que não se preocupa com os pequenos e pobres, mas, somente se alimenta da ganância e do poder. Quando o dinheiro se torna o objetivo principal e final, a vida é levada a óbito. Queremos nos unir a todos os que estão empenhados no resgate e assistência das vítimas, bem como, aos homens e mulheres de boa vontade, voluntários da solidariedade e da bondade que não medem esforços para se fazerem presentes nesse momento de dor e sofrimento. A palavra de Deus que acabamos de escutar nos questiona, quando no Salmo Responsorial apresenta a pergunta: Quem subirá até o Monte Santo do Senhor? Algo que é respondido na Primeira Leitura quando o autor da Carta aos Hebreus convida os irmãos e irmãs a serem atentos uns aos outros. Uma palavra de vida que implica em medir o nosso comportamento, nosso modo de viver e de

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nos relacionarmos com as pessoas, pelo crivo do Amor de Cristo.

O Salmo Responsorial cantado na Liturgia de hoje traz uma pergunta, algo que deve estar no coração de cada um de nós, ou seja: Quem subirá até o Monte do Senhor? Ao responder à pergunta que ele mesmo apresenta, o salmista indica que somente os que têm mãos puras, têm inocente coração e aqueles que não dirigem a sua mente para o crime, estão entre aqueles que se colocam a caminho da casa de Deus. De fato, aqueles que se dirigem para a casa do Senhor são todos homens e as mulheres que se reconhecem como Filhos e Filhas de Deus, promotores da Paz, e da Justiça. Por isso, a reposta a tal pergunta não diz respeito somente a uma convicção interior, mas, sobretudo, a uma proposta de vida, marcada pela presença de Deus e pela Luz de sua Palavra, pelo amor comprometido na construção da Casa Comum.

Ao refletir sobre a esperança de seguirmos confiantes rumo à Casa do Senhor, é colocado diante de todos nós o aspecto fundamental da Fé que professamos. Pois, aqueles que desejam viver em comunhão plena com o Senhor, não podem, em hipótese alguma, negligenciar a sua responsabilidade na construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário. Desse

modo, quando somos, mais uma vez colocados diante de um tamanho crime, uma tragédia anunciada e prevista, não devemos nos calar. A construção da Casa Comum, sinal do Reino de Deus nesta terra, deve ter início no coração de todos nós, discípulos e discípulas missionários de Jesus Cristo, chamados a viver as Bem Aventuranças, como promotores da Paz e da Justiça, reconhecidos como Filhos e Filha de Deus. Assim convocados pelos valores do Evangelho e unidos na defesa da vida, queremos seguir nosso caminho, rumo à Casa do Senhor.

Nesse caminho de construção de um mundo mais solidário e fraterno, todos são convocados a combater decididamente o descaso, a despreocupação com a vida e a indiferença diante da necessidade dos mais pobres e necessitados. A Primeira Leitura, seguindo o caminho proposto pelo Salmo Responsorial, aponta para a atenção e o cuidado mútuo, como forma de viver e promover a caridade. O autor da Carta aos Hebreus indica o caminho de um compromisso de Caridade Fraterna como meio de construção de novos laços


no coração da comunidade e, porque não dizer, de um mundo novo. Todos os que vivem o amor solidário, com aqueles que são promotores da Paz, os que são misericordiosos, refletem o desejo de Deus para a humanidade. De fato, aqueles que realizam as obras do amor comprometido e solidário se aproximam do modo de agir de Deus, algo que foi plenamente manifestado na vida de Jesus. O Evangelho que acabamos de ouvir também nos coloca diante de uma situação dramática, “No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro…” Os Evangelhos, ou os Evangelistas, divergem muito entre si no que se refere aos detalhes daquela madrugada do primeiro dia da semana, quando a tumba de Jesus de Nazaré foi encontrada vazia.

Num ponto único eles são unânimes. Maria Madalena. Ela é a única constante de todos os relatos. E é apontada por todos eles como a primeira dentre os seguidores de Jesus a testemunhar que algo incomum ocorrera com o corpo do crucificado após a sua morte. Ela que tivera os sete demônios libertados por Jesus, dali em diante permanece em sua proximidade. Uma vida celebrada, dilacerada, alucinada que junto de Jesus, retornou à serenidade, à grandeza e à integridade de sua vida. É quase natural que tivesse sido, exatamente, ela a primeira ir à tumba de Jesus, depois daquele resto de sexta-feira e do intermi-

nável sábado, em que, aos judeus, era proibido qualquer contato com os mortos. Pois, ninguém mais que ela há de ter sentido a perda daquela morte. O dia mal começa, aos primeiros raios de sol, bem de madrugada, como diz o texto. Quantos irmãos e irmãos nossos lá em Brumadinho, nessa madrugada estão procurando o corpo do seu ente querido... Maria Madalena vai ao túmulo de Jesus buscar o que todos os homens e mulheres buscavam: alívio para uma infinita saudade. Ela quer estar perto de quem tanto amara. Dizer-lhe de sua gratidão. Lavar com aroma o corpo daquele que lavara a sua alma com o melhor de todos os perfumes, talvez apenas enxugar as lágrimas de seu terrível vazio, perto dos restos daquele que fez tudo por ela. Nada sobrou, de Brumadinho, nada sobrou para esses nossos irmãos e irmãs, nada que objetivamente lhe servisse de consolo. Nenhum resto. É a mais absoluta desolação. Ao final, onde quer que tenham terminado esses restos mortais de Jesus e de todos os seus irmãos e irmãs, eles serão apenas as cascas de um ovo que rebentou para que, então livres das estreitezas de todos os limites pudessem alçar voo, iguais aos pássaros cuja morada definitiva não é o sepulcro, o ovo, mas a vastidão dos céus. Isso quer dizer para nós, pela nossa fé, que todas as tumbas estão vazias e o que lá encontrarmos, se encontrarmos, serão apenas resto do que é eterno.

Irmãos e irmãs, o desejo de Deus para os seus filhos e filhas é

que tenham vida plena e abundante, que sejam capazes de crescer em todas as suas potencialidades e construam, de forma solidária um mundo melhor. A medida desse mundo deve ser o Amor comprometido de Cristo, que não a compactua com a violência e a exclusão, nem mesmo se cala diante da morte de inocentes, causada pela busca desmedida do lucro.

Hoje nos unimos a todos os que perderam seus filhos e filhas, sobretudo, colocamo-nos ao lado daqueles que esperam notícias de seus entes queridos. Muitos foram levados de seus lares sem ao menos se despedirem, tragados pela ganância daqueles que fecharam os olhos, corrompidos pelo dinheiro e pelo poder. Que a nossa oração chegue ao coração de Deus que a todos conhece e acompanha, a fim de que lhes sustente nesses momentos de dor e sofrimento. Mas que a nossa oração converta nossos corações, pois, enquanto houver situações como esta nesse mundo, em nosso país, nosso trabalho, nossa missão, nosso empenho devem ser redobrados. Que o Senhor nos confirme sempre em seus caminhos, de modo que desejemos, a cada dia, seguir na direção de sua Casa, um caminho feito em comunhão com todos e todas que buscam um mundo melhor, um novo céu e uma nova terra. Amém.

Dom Dario Campos, ofm Arcebispo Metropolitano de Vitória

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VIVER BEM

MEU FILHO COME MAL, E AGORA?


VIVER BEM

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urante os primeiros anos estabelecemos um comportamento alimentar que pode seguir por toda a infância e ao longo da vida, por isso, o desenvolvimento de bons hábitos alimentares deve acontecer desde cedo, apesar de não ser muito simples. Os pais, em especial, os cuidadores diretos da criança, e também a família e a sociedade, são importantes agentes que desempenham papel de promotores de saúde, modelos e educadores na vida de pequenos, transmitindo normas, conhecimentos, atitudes e comportamentos, que influenciam a relação com a alimentação.

A verdade é que os bebês começam a vida comendo de tudo e ao longo dos anos, quando crescem, muitos deixam de se alimentar principalmente de frutas e verduras. Quem tem filhos entende muito bem o quanto é árduo ajudar as crianças a desenvolverem uma alimentação saudável e quem passa por essa dificuldade se vê constantemente em conflito. Os pais, como principais guardiões, geralmente fazem o que acham que seja o melhor para a criança e por falta de conhecimento nem sempre fazem a coisa certa. Entenda: os pais podem controlar o que, quando, onde e quanto seu filho come. Por exemplo, liberar doces e refrigerantes somente no final de

semana, deixar comer apenas um bombom ou uma balinha, dentre outros etc. Tal prática é indutora de culpa quando a criança tiver liberdade para comer e não apoia a autonomia. Está associada com o desejo da criança pelo alimento restrito, levando-a a comer em excesso com possibilidade de ganho de peso no futuro.

Crianças que não comem e não se interessam pela comida são motivo de muita angústia e preocupação para os pais que acabam, no desespero, exercendo “pressão para comer”. Essa tentativa de controle desequilibra o emocional da criança e só a afasta mais ainda da comida, contribuindo para o baixo peso.

A pressão para comer pode ocorrer também para que os filhos comam mais alimentos, limpem os pratos mesmo quando não estão mais com fome e comam alimentos saudáveis. Tais atitudes podem ter efeitos no curto prazo, mas com o tempo fazem com que a criança desenvolva aversão aos alimentos que se sentem forçadas a comer e desregulam os mecanismos naturais de fome e saciedade.

Outra tentativa dos pais para estimular os filhos a comerem alimentos saudáveis é usar mecanismos de recompensa, por exemplo, “se comer a verdura, ganha a sobremesa”. Muitos fazem isso sem saber o quanto podem prejudicar a criança. Tal atitude pode reduzir a motivação da criança para comer alimentos saudáveis, fazer a criança aumentar a preferência pelo alimento de suborno, diminuir o gosto pelo alimento alvo e dificultar que a criança experimente naturalmente novos alimentos, pois vai sempre querer algo em troca. Se seu filho tem dificuldades para comer, não tente dominar, pressionar ou impor sua vontade, faça da refeição um momento agradável em família e não um cabo de guerra. Incentive-o a provar novos alimentos, diga que tudo bem se não gostar, socialize a criança em torno da comida, coma junto com ele, leve-o para preparar um prato com você, tenha alimentos saudáveis e variados em casa, evite restaurantes fast-foods, seja o exemplo, exponha a criança repetidamente a um alimento, desligue a TV na hora das refeições, leve-o para as compras com você e acima de tudo tenha paciência.

Mariana Herzog Nutricionista e Sócia proprietária da Dietética Refeições

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SUGESTÕES

MUSEU DO TELEFONE: UMA VIAGEM NA EVOLUÇÃO DAS TELECOMUNICAÇÕES

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porta de entrada que dá acesso ao Museu do Telefone, localizado na rua Dionísio Rosendo, no Centro de Vitória, é quase imperceptível, mas ela leva a uma viagem no tempo capaz de encantar muita gente.

O encantamento pode ser tanto pelas lembranças que os aparelhos de telefones - alguns nem tão antigos assim - despertam na nossa memória, quanto pelo fato de muitos, em especial a geração mais jovem, sequer ter ideia de como esses aparelhos eram usados.

Fazer uma ligação acionando uma manivela para contactar a telefonista que completava a ligação ou realizar uma chamada rodando um disco com números, é quase inimaginável para a geração que hoje se comunica em questão de segundos com qualquer parte do mundo, apenas usando a ponta dos dedos.

O museu tem um acervo de mais de 400 peças e as visitas são agendadas e guiadas pelo comerciante Eugênio Martini, que montou o museu e é proprietário de uma loja de consertos, compra e venda de telefones bem próxima do local. Quem também atende os grupos é o estudante Mário Martini, filho de Eugênio, que

assim como o comerciante, com muita simpatia, sabe explicar a origem, a história e as curiosidades de cada peça do museu.

Uma das peças curiosas do acervo é o primeiro aparelho celular que chegou ao Brasil. O tamanho do aparelho chama atenção e a lembrança da maneira nada discreta como era utilizado pelas pessoas, ainda hoje é motivo de piada entre os que vivenciaram a época.

Também é possível conhecer modelos de aparelhos que foram sucesso no país, como o modelo italiano conhecido como Grillo e o telefone sueco Ericofon, conhecido como JK, uma espécie de homenagem ao ex-presidente Juscelino Kubitschek, ou ainda aparelhos que eram usados nos campos de batalha durante as duas grandes Guerras Mundiais. Para conhecer, ligue:

98134-4222 e agende sua visita

Andressa Mian Jornalista

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FRATERNIDADE

FRATERNIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS A FÉ NOS FAZ PARTICIPAR

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esde 1962 a Igreja Católica no Brasil realiza a Campanha da Fraternidade, escolhendo a cada ano, um tema social para ser refletido à Luz da Palavra de Deus de forma a impulsionar a ação dos cristãos para uma participação na vida pública. Para este ano o tema é Fraternidade e Políticas Públicas e o texto bíblico que serve de inspiração é do Livro do Profeta Isaías (1,27) “Serás libertado pelo direito e pela justiça”.

O texto é dividido em 3 partes. Na primeira, a explicação sobre o que são políticas públicas, como se elaboram ou deveriam ser elaboradas e os atores dessas políticas. Na segunda, textos bíblicos do Antigo e Novo Testamento, referências aos pensamentos dos Padres da Igreja e da Doutrina Social sobre justiça e direito. A terceira, princípios e valores fundamentais como solidariedade, bem comum, honestidade e sugestões de ação. O texto- base, que é o instrumento de trabalho da Campanha, define Política Pública como “ações do governo que

garantem a gestão do Estado na solução de determinado problema” e, considera que para tal é necessário que se determinem algumas etapas identificadas em cinco: “Identificação do problema – Formulação de uma solução – Tomada de decisões – Aplicação da ação ou implementação”.

No modelo democrático costumamos delegar esse processo aos políticos que são eleitos para representar o povo nessas decisões, mas o texto alerta para a importância de não apenas elegermos representantes para cuidarem disso, mas nos envolvermos em todas as formas possíveis para participar do processo. O texto aponta como formas mais comuns: Audiências Públicas, Conselhos Gestores ou de Direitos, Conferências, Fóruns e reuniões, organização da Sociedade civil e Movimentos Sociais. O texto cita que desde o início Deus vê a miséria de seu povo e desce para libertá-lo e os profetas no Antigo Testamento se empenham para conduzir o povo em direção ao direito

e à justiça. Aponta como Jesus “acolhia as esperanças religiosas de seu povo, as quais incluíam dimensões sociais e políticas bem definidas”. Relembra que para a Doutrina Social, “a política é uma forma exigente de se viver a caridade cristã, embora não seja a única”.

O propósito da Campanha é sensibilizar cada um a propor e se envolver na elaboração de políticas públicas sempre a partir do compromisso com o Evangelho e a prática da caridade. Como disseram os bispos na Conferência de Aparecida “nesta tarefa e com criatividade pastoral, devem-se elaborar ações concretas que tenham incidência nos Estados para a aprovação de políticas sociais e econômicas que atendam as várias necessidades da população e que conduzam para um desenvolvimento sustentável”. A fé nos faz participar.

Maria da Luz Fernandes Jornalista

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PAUTA LIVRE

LUA: FATOS E MITOS

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Lua cheia nascendo no horizonte encanta a todos, astrônomos ou não. Desde que “o mundo é mundo”, nosso satélite exerce um enorme fascínio, instigando nossa imaginação, enriquecendo nossas histórias, contos e cantigas. Dos gregos antigos aos índios brasileiros, este astro aparece sob diversas nuances, interpretações e explicações. Como a verdadeira natureza deste objeto celeste não era acessível às culturas antigas, muitas lendas e mitos surgiram em torno do nosso satélite natural. Um dos mais antigos mitos acerca da Lua é seu tamanho aparente. Muitas pessoas pensam que a Lua é do tamanho do Sol, e esta impressão é causada porque nosso satélite está bem mais próximo da Terra do que o Sol. No entanto, se Lua e Sol fossem colocados lado a lado, ela teria de um tamanho insignificante. E quanto às fases lunares? São realmente quatro?

A rigor, se olharmos para a lua todos os dias, ela apresentará fases diferentes, voltan-

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do a repetir-se em um período de aproximadamente 28 dias. Neste caso, haveria 28 fases. E se olhássemos de hora em hora? Então seriam 672 fases (28 dias x 24 horas).

Seja como for, as fases cheia, nova, quarto-crescente e quarto-minguante, são apenas quatro fases específicas que ocorrem em um dia e horário específicos. Outra velha crença ligada ao nosso satélite, refere-se à influência das fases sobre os cultivos de plantas ou o corte de cabelos. Como esta é uma crença muito difundida no meio rural e tem raízes históricas, alguns pesquisadores, ao redor do mundo, resolveram investigá-la cientificamente, e mostraram não haver qualquer relação. O mesmo vale para os cortes de cabelo em fases específicas.

Outro forte mito acerca das fases lunares, trata-se do nascimento de bebês. Até mesmo os médicos e enfermeiras acham que há mais nascimentos em uma determinada fase da Lua. Pesquisas ao redor do mundo também foram conduzidas para averiguar esta hipótese, mostrando que também não há nenhuma relação. Nos dias de hoje, a Astronomia nos explica o que é a Lua, bem como sua origem e evolução. Graças as observações por meio de telescópios na Terra e as missões espaciais que orbitaram ou desceram neste astro, hoje sabemos mais sobre nosso satélite do que qualquer civilização antiga. Conhecer cientificamente a lua não diminui o fascínio por ela. Muito pelo contrário, só aguça nossa vontade de conhecer mais profundamente aquela que um dia poderá vir a ser nosso segundo lar.

Sandro R. De Souza Astrônomo e professor


ESPIRITUALIDADE

NOS PASSOS DE JESUS, O CRISTO!

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ês passado, eu lhe sugeri, amigo, que o texto do Livro de Isaias 1,1-2; e Lc 4,18-19, que Jesus leu na sinagoga, e atribuiu à sua pessoa e missão redentora, poderia também ser aplicado a cada um de nós cristãos, em virtude do Batismo que recebemos. “O Espírito de Deus está sobre mim”! Somos convocados para fazermos o Caminho sob a Luz e a Força do Espírito que está sobre nós.

Gostaria de lhe propor para caminharmos juntos, sob esta Luz e Força, nos passos de Jesus, uma caminhada leve, com uma única pretensão: conhecer e reforçar nossa fé na Pessoa de Jesus.

Comecemos pela Infância de Jesus. A catequese de Mateus é dirigida aos seus conterrâneos. Ele nos leva ao Patriarca Abraão. Sua preocupação é o cumprimento das Escrituras, as Leis e os Profetas. Por isso ele inicia com a Genealogia de Jesus, “Filho de Davi, filho de Abraão...” (Mt.1,1 e 17). Portanto, as gerações desde Abraão até Davi, são catorze. Desde Davi até o cativeiro da babilônia, catorze gerações. E, depois do cativeiro até Cristo, catorze gerações.

Esse Jesus, que nós adoramos como Deus e Senhor, tem uma história. E é nessa história que o convido a entrar com o olhar da fé. Vamos adorar o Divino no Humano!

Já no início de nossa peregrinação o olhar da fé nos faz ver que Jesus, Deus e Senhor nosso, não é um Deus distante. A sua genealogia o situa no meio de nós. Ele é humano, situado no meio de um povo, como nós o somos.

Que gesto extraordinário! Deus e Senhor nosso não é um Deus distante, inatingível. Ele entra na História. Está presente! Convido-o, amigo, a fazer silêncio comigo. Diante deste primeiro passo, medite, questione... ore diante de Deus que se fez humano...

Ele se fez presente no meio de nós!

Dom Luiz Mancilha Vilela, sscc Arcebispo emérito

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ECONOMIA POLÍTICA

AMPLIAR LIMITES

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m tempos de comunicação instantânea e intensa é necessário testar nossas capacidades de seleção, análise e ação. Somos todos fortemente influenciados por redes de comunicação – da mídia de mercado aos grupos de “zapzap” – que transformam o mundo em uma vizinhança. Influência que pode afetar a forma e o conteúdo de nossas reações, tanto pelo que é transmitido pelas redes, quanto por aquilo que ela deixa de considerar como relevante. Por um lado, somos comovidos pelos que foram atingidos pela lama criminosa da Vale em Brumadinho. Por outro, nos colocamos distantes dos milhares de brasileiros que são diariamente engolidos pelo limbo do desemprego, da falta de renda para alimentos básicos. Por um lado, compartilhamos da dor de familiares de adolescentes que perderam a vida e/ou o direito de realizar o sonho da carreira de futebolista. Por outro, nos distanciamentos do crime com toda uma geração cujo futuro ficou menor com o congelamento de gastos em saúde, educação, seguridade social. Por um lado, nos comove a partida do jornalista Ricar-

do Boechat. Por outro, ficamos apáticos diante do cerceamento do direito de informar que vem sendo posto em prática pelo governo recém- empossado e que diminui a possibilidade do jornalismo comprometido com a investigação de fatos de interesse público. Por um lado, nos entristecemos com as perdas ocorridas a partir de chuvas fortes que caem sobre as cidades. Por outro, somos quase que indiferentes com crimes ambientais que ocorrem todos os dias e cujos autores buscam sustentação no abrandamento de legislação, voltada para diminuir o poder de empresas depredarem nosso patrimônio natural e ambiental.

Diante disso, haveremos que rever nossos limites de solidariedade – união de simpatias, interesses ou propósitos entre membros de um grupo; de compaixão – participação na infelicidade alheia que suscita impulso altruísta de ternura para com o sofredor. Haveremos que ampliar nossa capacidade de indignação – reação a atos de injustiça, ofensa ou revolta, praticados contra pessoas e demais seres viventes.

Revisão de limites de solidariedade, de compaixão e ampliação da capacidade de indignação necessárias para que possamos almejar o direito a esperançar. Esperançamento que precisa ser precedido de mudanças profundas no comportamento individualista que coloca os valores do mercado acima das pessoas e do meio ambiente. Individualismo que coloca o humano acima de todos os demais seres viventes; que inspira a competição entre pessoas como se a vida fosse um jogo a ser ganho a qualquer custo.

Arlindo Villaschi Professor de Economia arlindo@villaschi.pro.br

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CAMINHOS DA BÍBLIA

Imagem: Il discorso della Montagna, 1872, de Carl Heinrich Bloch.

A BÊNÇÃO DO TESTEMUNHO E DA CONVERSÃO

O

período de Quaresma é um tempo propício para fazer uma profunda revisão de vida, dos valores e das escolhas pessoais, na busca da conversão e do testemunho da fé. No Evangelho de Lucas (Lc 6 20:49), encontra-se o conhe-

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cido texto das Bem-aventuranças, que indica o caminho de uma vida vivida segundo os valores do Evangelho. De maneira especial, o texto aponta para o Testemunho da Fé, isto é, a vivência e a construção do Reino de Deus. O evangelista chama a

atenção dos fiéis para a necessidade do Testemunho de sua Fé, ressaltando o fato de que todos devem colocar no Senhor e não nas riquezas deste mundo, sua total confiança.

As Bem-aventuranças não se concentram sobre o aspecto


CAMINHOS DA BÍBLIA

moral da vivência da fé, mas, tocam a realidade concreta, a vida do dia a dia. Ou seja, quando afirma que os pobres são Bem-aventurados, Jesus não faz alusão aos pobres em abstrato, aqueles que estão perdidos e que ninguém vê. Ao contrário, Ele indica os pobres que tinha diante de seus próprios olhos, aqueles que Ele tocou com as Suas Mãos, os que alimentou e socorreu. Quando fala sobre a fome, Ele olha para os famintos de sua época, ele toca as necessidades dos que tinha bem perto de Si sente as suas dores e ouve os seus lamentos. Desse modo, os aflitos, não são homens e mulheres sem rosto, endereço, vida e sonhos, ao contrário, são pessoas reais, com suas angústias e sofrimentos, que passam por privações e estão excluídos da sociedade.

A Alegria da vivência do Evangelho, a Bem-aventurança, se encontra no Testemunho concreto da Fé, na possibilidade de tocar as realidades desse mundo, marcado pela exclusão, indiferença e violência. Sendo assim, é Bem-aventurado aquele que se coloca no caminho do discipulado missionário, reconhecendo a necessidade de aprofundar a sua relação com o Senhor, que a todos ensina o caminho da vivência dos valores do Evangelho. Algo tão necessário, principalmente diante de um cenário de dor e violência,

no qual os mais pobres são banidos do convívio social e relegados à própria sorte. Um situação de rompimento do tecido social, na qual a preocupação com a segurança pública passa somente pelo desejo de armar a população, como se tal atitude fosse a solução dos maiores problemas que existem.

O convite à vivência concreta das Bem-aventuranças não é simplesmente algo a ser feito porque muitas pessoas estão em situação de grande necessidade. Ele é dirigido ao coração de cada cristão porque é parte integrante da experiência de Fé do Cristianismo, pois, Deus foi o primeiro a sentir compaixão de seu povo sofrido. Por meio da Suas Mãos Amorosas, Jesus acolheu a todos, a todos curou e salvou, manifestando o Seu infinito amor. Por isso, os cristãos são Bem-aventurados, cheios da Alegria e da Graça do Evangelho, quando fazem de sua vida um testemunho concreto do amor e do serviço, principalmente aos que mais precisam. O texto de Lucas termina com uma série de firmes exortações, que, de certa forma, chocam, num primeiro olhar. Todavia, elas devem ser compreendidas como parte integrante do discurso anterior, visto que, elas são o seu complemento. Toda a firme exortação de Jesus na direção dos

ricos, daqueles que possuem bens, está relacionada com a nova lógica do Evangelho, proposto por Jesus. Assim, como as Bem-aventuranças devem ser entendidas concretamente, da mesma forma, as exortações finais do texto desejam tocar a vida cotidiana.

Quando Lucas toma o paralelo da pobreza e da riqueza, ele traz à tona algo que será apresentado no texto dos Atos dos Apóstolos, a partir da proposta da Comunhão Fraterna, como sendo uma marca necessária na comunidade dos discípulos missionários. De fato, a postura da partilha dos bens, a fim de que não haja necessitados na comunidade, nasce no processo de conversão contínua. Sendo assim, a Bem-aventurança da Conversão é algo a ser buscado por todos, em todos os momentos, como meio de assimilar, gradativamente, os valores do Evangelho. Desse modo, quando forem tocados os corações dos homens e mulheres, a realidade também será transformada, na direção do projeto de Deus, de uma terra sem males, para os seus filhos e filhas. Um mundo mais justo fraterno e solidário, no qual todos vivem segundo a Bênção de uma vida plena em todas as suas dimensões.

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

Professor de Sagrada Escritura no IFTAV e Doutor em Sagrada Escritura


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FLASHES DO COTIDIANO

O TAMANHO DAQUELA SAUDADE Que a vida é um ciclo, todos nós sabemos. Que a pessoa que parte para o descanso eterno pode ter a paz como recompensa é um alento que também sabemos. Mas então, por que quando alguém próximo a nós se vai o que fica em primeiro lugar é o sentimento de perda e de tristeza? Lembro de uma conversa com a minha avó quando eu ainda era muito novo. Na casa dela tinha um passarinho em uma gaiola, coisa do meu avô que gostava de cuidar dele, limpando aquela pequena prisão todas as manhãs. Colocava areia no chão da gaiola, nos recipientes iam água e alpiste. Muitas vezes ele colocava um mimo diferente como jiló.

Na verdade eu nunca prestei muita atenção neste passarinho, nunca me apeguei, mas fiquei muito triste, desconsolado mesmo, quando ele se foi. Foi aí que a minha avó sempre perceptiva veio conversar comigo:

- Não fique triste assim Julinho. - Por que ele foi embora vovó? - Era a hora dele. - Por que tem hora? Quem disse que era hora? Eu quero ele aqui. - Chega uma hora que temos que ir. - Por quê? - Nosso corpo envelhece, chega um momento em que ele precisa descansar, precisa parar. - É assim? Cansou, parou e acabou? - Não acaba. O caminho continua. - Onde? - Um lugar de paz, onde ele vai poder voar livre, encontrar os que foram antes dele e esperar os que ainda irão. - Você vai vovó? - Espero que sim Julinho. - Não quero que a senhora vá. - Todos iremos. - Juntos? - Cada um no seu tempo... - Não quero que a senhora vá antes. - Vou antes para deixar tudo mais bonito e organizado para quando você for. - Vai estar todo mundo lá? - Sim. Com um abraço forte eu não chorava mais pelo passarinho que se foi. Ainda chorava, mas era um choro diferente... “por favor, não tenha pressa de ir não, vovó.” O corpo se cansa, desgasta, se vai. Mas fica o que a pessoa representou em nossas vidas, o carinho, os ensinamentos...

Vá em paz Dom Silvestre, tenha o merecido descanso. Daqui a gente vai aprendendo a se virar com as partidas, as chegadas, as alegrias e as dores do dia a dia, tendo no coração todos os exemplos que você nos proporcionou. Obrigado!

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FAZER BEM

NOIVOS TROCAM FESTA DE CASAMENTO POR UM JANTAR PARA FAMÍLIAS CARENTES Ana Paula Mariguete, de 23 anos e Victor Ribeiro, de 24, se casaram no dia 16 de fevereiro, na igreja Santa Rita, na Paróquia São José, em Guarapari, mas abriram mão da própria festa para proporcionar um jantar solidário para famílias carentes.

O jantar foi servido para cerca de 160 pessoas do Centro Social de Santa Mônica e aconteceu na noite do dia 21 de fevereiro. O evento contou com ajuda de familiares e amigos dos noivos. Os convidados foram as crianças atendidas pelo projeto e seus familiares “O caráter decisivo para a gente bater o martelo foi um dia que a gente estava tocando em uma missa uma música que falava ‘Se uma ceia quiseres propor, não convide amigos, irmãos e outros mais. Sai à rua a procura de quem não puder recompensa te dar, que o teu gesto lembrado será por Deus’”, contou Victor.

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MEMORIAL EM HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS DE BRUMADINHO A Arquidiocese de Belo Horizonte vai construir um memorial em homenagem às vítimas da tragédia de Brumadinho. Com 20 metros de altura, o memorial será chamado de “Minas de Esperança”, terá nele o nome de todas as vítimas na base da sua estrutura e contará com seis sinos, que tocarão sempre às 12h28, horário em que a barragem se rompeu. A construção do memorial foi anunciada um mês após a

tragédia e a obra será erguida no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora do Rosário, em Brumadinho. Após o lançamento da pedra fundamental, os fiéis participaram de Missa presidida pelo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giovanni D’Aniello. A memória das vítimas também foi lembrada pelas 28 paróquias da Arquidiocese mineira e pela Arquidiocese de Vitória, com a celebração de missas, sete dias após o desastre.

PEDREIRO CONSERTA TELHADOS PARA FAMÍLIAS CARENTES Em Várzea Grande, no Mato Grosso, Luciano Fabris, de 28 anos trabalha como pedreiro. Nas redes sociais ele usa o nome “Luciano Cawboy”, como é conhecido por seus amigos e pessoas mais próximas. E foi em sua

conta no Facebook que o pedreiro ficou positivamente conhecido por mais pessoas, quando se ofereceu a consertar (de graça) telhados danificados de famílias que não têm condições de arcar com os custos do serviço.


FAZER BEM

PADARIA DOA PARTE DA SUA PRODUÇÃO AOS NECESSITADOS Uma padaria em Baixo Guandu, aberta apenas há três meses, está doando pães, bolos e biscoitos aos mais necessitados. Uma mesa é deixada do lado de fora do estabelecimento com os alimentos e na parede um cartaz com a seguinte men-

sagem “Se você não conseguiu comprar seu pão hoje, pode pegar um aqui. O Senhor é meu pastor e nada me faltará.”

FAZENDA DE ORGÂNICOS CONTRATA APENAS MORADORES DE RUA

As pessoas podem pegar os alimentos entre 18h e 19h30, os mesmos não possuem apelo comercial e estão dentro do prazo de validade.

GAROTA CRIA APP PARA AJUDAR PESSOAS COM ALZHEIMER Emma Yang, de 14 anos, criou um aplicativo que ajuda pacientes com Alzheimer reconhecerem pessoas da família. Com 7 anos Emma viu a sua avó ser diagnosticada com a doença neurodegenerativa, que causa a perda da memória. Acompanhando o sofrimento da senhora, a adolescente teve a ideia de desenvolver a tecnologia.

O Timelles, nome dado ao App, dispõe de uma ferramenta que usa reconhecimento facial que ajuda os portadores a identificarem as pessoas e recordarem memórias. Além de ajudar a avó, mais pessoas foram alcançadas e o trabalho da adolescente teve uma boa repercussão.

Em Miami, nos Estados Unidos, a Organização Verde Community Farmers Market e comerciantes locais se uniram em prol da solidariedade, gerando emprego para a população em situação de rua em hortas orgânicas. Os alimentos produzidos são vendidos para restaurantes locais. A fazenda possui 22 acres, funciona há 8 anos e estima-se que a iniciativa já tenha beneficiado dez mil pessoas, sendo que 145 famílias têm a horta como sua principal fonte de renda, além de ser uma excelente oportunidade para que essas pessoas aprendam um novo ofício. março 2019

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CATEQUESE

A VONTADE

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anto Agostinho viveu a dinâmica dos seus pensamentos atrelada à conduta de sua vida. O problema da vontade, da liberdade humana e a origem do mal moral são temas importantes na sua obra “O Livre-arbítrio”. Esses assuntos, dentre outros, incomodavam o teólogo e filósofo que buscava com árduo empenho entendê-los.

À vontade é conferida o papel de força motriz, responsabilidade na culpabilidade e principalmente como aquela que autoriza a realização de um ato. Assim, segundo Santo Agostinho, não existe liberdade sem vontade livre. Ele atribui à vontade uma força decisória autônoma que ultrapassa a racionalidade. A vontade pode optar pelo racional ou pelo irracional, dada sua força autônoma. Inclusive ela foi caraterizada como uma potência interior que, por decisão própria, decide fazer boas ou más ações.

Vontade e livre-arbítrio estão intimamente ligados, segundo Santo Agostinho. Esses dois conceitos podem ser confundidos, pois não há livre-arbítrio se não existe vontade livre. O homem com duas vontades é um homem dividido contra si mesmo, tal é a força da vontade.

O livre-arbítrio e a liberdade são definições distintas na concepção do santo filósofo. O primeiro é a capacidade de escolher enquanto o segundo é a capacidade de escolher bem e cumprir o que se escolheu. Fazendo uma reconstrução a partir da tradição judaico-cristã, Santo Agostinho apresen-

tou que o pecado original, que foi o mau uso do livre-arbítrio, deixou o homem frágil no cumprimento do querer bem, haja vista sua causa deficiente. Entretanto, a liberdade só chega ao homem quando a vontade é socorrida pela graça de Deus. Novamente é na vontade que a graça age, mesmo que a última não obrigue a primeira.

Concluiu-se portanto que a vontade é um bem em si e que o seu mau uso, fator gerador do pecado, não pode desqualificá-la como um bem. A desordem provocada pela inversão das escolhas prioritárias (quando os bens inferiores são preferidos ao Bem superior) confere culpa sobre o homem, pois somente a vontade e nada mais pode fazer o homem optar por tal inversão. Só agindo sobre a vontade é que a graça de Deus levanta o homem e o devolve à sua condição. A vontade na obra “O Livre-arbítrio” é uma força sem a qual o homem não pode viver. Peçamos a graça de Deus na construção da boa vontade em nós!

Ruan Coutinho da Cruz Seminarista do Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Penha

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ARQUIVO E MEMÓRIA Em 2008, a Pastoral da Juventude do Brasil deu início à Campanha Nacional Contra o Extermínio de Jovens. O objetivo era construir uma cultura de paz, em defesa da vida da juventude, denunciando as estruturas sociais que geram violência e morte.

Os jovens capixabas, ligados às diversas paróquias das Dioceses do Estado do Espírito Santo, também se organizaram para essa Campanha. Em 2010 realizaram um Seminário Capixaba Contra a Violência e Extermínio de Jovens, com a presença de representantes de diversas organizações. O Seminário foi uma forma de levar o debate e a reflexão até a sociedade capixaba. A partir desse Seminário, outros encaminhamentos e ações foram realizados com o objetivo de mudar essa realidade de morte.

Folder da Campanha Nacional Contra o Extermínio de Jovens e Convite para o Seminário Capixaba Contra o Extermínio de Jovens. Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc


ACONTECEU

MISSA EM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DE BRUMADINHO

No dia 31 de janeiro, na Catedral de Vitória, velas foram acessas em memória das vítimas de Brumadinho. O gesto simbólico lembrou o número de mortos (contabilizados naquele momento) que chocou todo o país. As velas foram acesas no Círio Pascal e colocadas

em frente ao altar, sobre tecidos marrons que simbolizavam a lama de rejeitos que cobriu a cidade mineira.

A missa foi presidida pelo Arcebispo de Vitória, Dom Dario Campos e teve a presença de familiares de um dos mortos da tragédia.

MISSA COM FUNCIONÁRIOS

INÍCIO DO ANO LETIVO

DOM SILVESTRE

Os funcionários da Cúria Metropolitana de Vitória lotaram a Capela Nossa Senhora das Neves na manhã do dia 06 de fevereiro para participarem da missa presidida pelo Arcebispo Metropolitano de Vitória, Dom Dario Campos e concelebrada pelo Pe. Ivo Amorim.

Com missa presidida pelo Arcebispo de Vitória, Dom Dario Campos, e aula inaugural ministrada por cônego Arnóbio Cruz o Instituto Interdiocesano de Filosofia e Teologia iniciou o ano letivo no dia 11 de fevereiro de 2019. O evento aconteceu no Centro de Estudos Dom Silvestre Luiz Scandian, na Praia do Suá e contou com a presença de professores e alunos do Instituto que chegam das dioceses de Cachoeiro de Itapemirim, São Mateus, Colatina e Arquidiocese de Vitória. No final da missa os professores fizeram juramento de fidelidade às verdades da fé contidas na oração do Credo e confraternizaram antes da aula inaugural.

A Missa de 7o Dia em Memória de Dom Silvestre Luiz Scandian, foi celebrada às 18 horas do dia 22 de fevereiro na Catedral Metropolitana de Vitória, dia em que Dom Silvestre completaria 44 anos de ordenação presbiteral. Dom Silvestre morreu na madrugada do dia 16 de fevereiro em Juiz de Fora, após cinco meses de internação por conta de uma infecção.

No início da celebração, Dom Dario agradeceu a presença de todos e comentou sobre a importância de iniciar o ano com a Eucaristia, rendendo e pedindo graças a Deus.

No final da manhã, os colaboradores da Cúria tiveram um momento de confraternização e bate-papo com Dom Dario e após a conversa foi servido um almoço.

Durante o velório foram celebradas missas de corpo presente e, às 15h missa e exéquias. Atendendo o pedido do próprio Dom Silvestre, o enterro aconteceu no Cemitério do Bosque, em Vila Velha, no túmulo onde seus pais foram enterrados.




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