Revista Vitória - Junho

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Ano XIII | Nº 166 | Junho de 2019

REVISTA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA – ES

a era dos likes

Solidão e frustração na contemporaneidade pág. 12



EDITORIAL

A COMUNICAÇÃO É PARA APROXIMAR A Igreja Católica tem sido alvo de críticas, principalmente direcionadas à CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil por alguns segmentos que se intitulam católicos. Esta edição traz um breve histórico da entidade que tem seu momento maior, quando, uma vez ao ano, se reúne em Assembleia Geral com a presença de todos os bispos. Não se trata de uma defesa da CNBB, mas apenas uma forma de oferecer aos leitores alguns elementos que não figuram nos discursos acalorados das redes sociais. E, por falar em redes sociais, não deixe de ler o Atualidade que trata desse assunto com muita propriedade. É necessário usar e estar nas redes para se comunicar nos dias atuais, mas também precisamos entender essas novas formas de comunicar para que elas nos aproximem, como diz o Papa Francisco na mensagem para o dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano: “Desde quando se tornou possível dispor da internet, a Igreja tem sempre procurado que o seu uso sirva o encontro das pessoas e a solidariedade entre todos. Com esta mensagem, gostaria de vos convidar uma vez mais a refletir sobre o fundamento e a importância do nosso ser-em-relação e descobrir, nos vastos desafios do atual panorama comunicativo, o desejo que o homem tem de não ficar encerrado na própria solidão”. Boa leitura!

Maria da Luz Fernandes Editora

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Publicação da Arquidiocese de Vitória / ES • ISSN 2317-4102

Junho de 2019

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ATUALIDADE

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PAUTA LIVRE

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MUNDO LITÚRGICO

Ilusão digital

Namoro hoje

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ENTREVISTA

Discurso: o desafio de agregar algo mais às palavras. Alessandro Gomes, Mestre em Ciências das Religiões e Jornalista, fala sobre seu livro Discurso Espetacular.

O beijo na liturgia

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ARQUIVO E MEMÓRIA

SUGESTÕES

Tour panorâmico em Vitória e Vila Velha

Santo Antônio também é padroeiro de Vitória. Antes de nossa cidade se chamar Vitória, chamouse Ilha de Santo Antônio, santo que sempre esteve muito presente na religiosidade do povo.

“Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas.”

ASPAS 23

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Reportagem

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Ideias

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Lições de Francisco

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Palavra do Arcebispo

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Espiritualidade

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Caminhos da Bíblia

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Fazer Bem

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Aconteceu

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TEMPOS ESTRANHOS

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ESCOLA PARA QUÊ?

Economia Política

Flashes do Cotidiano

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CATEQUESE Orientações para o fim dos tempos

VIVER BEM Alimentação no primeiro ano de vida

Arcebispo Metropolitano: Dom Dario Campos • Arcebispo Emérito: Dom Luiz Mancilha Vilela • Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098–ES • Repórter: Andressa Mian / 0987–ES • Conselho Editorial: Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Vander Silva, Milena Cabral • Colaboradores: Pe. Andherson Franklin, Arlindo Vilaschi, Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Fr. José Moacyr Cadenassi • Revisão de Texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: vlorenzetto@redercres.com.br – (27) 3198-0850 • Fale com a Revista Vitória: mitra.noticias@aves.org.br • Diagramação e Capa: Paulo Arrivabene • Impressão: Gráfica e Editora GSA – (27) 3232-1266


REPORTAGEM

57ª ASSEMBLEIA DA CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

A

CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil reúne-se a cada ano em Assembleia Geral ordinária, podendo acontecer a qualquer momento, de forma extraordinária, para um objetivo específico ou urgente.

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REPORTAGEM

A preparação para a 57ª Assembleia que aconteceu em maio deste ano, contou com a participação de pessoas, que se manifestaram pelas redes sociais, como sendo contrárias à Conferência Episcopal Brasileira e se empenharam em criar confusão na cabeça de quem não tem proximidade com a estrutura da Igreja Católica. As defesas eram de que existem bispos fiéis à doutrina católica e outros não; que os católicos deveriam pressionar seus bispos na escolha da presidência da CNBB e das comissões e, que a tradução do missal romano não deveria ser aprovada. Esses foram os três pontos levantados para questionar a seriedade da Conferência. Não foi a primeira vez na história da entidade, criada em 1952, que os bispos foram denominados de conservadores e progressistas ou questionados sobre posturas, pronunciamentos ou atitudes. Um trecho do CPDOC/ FGV, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil diz que logo na criação da entidade já haviam diferenças: “Além de dom Jaime (de Barros Câmara), participaram da fundação da entidade bispos re06

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presentantes de diversas tendências no interior da Igreja, entre os quais dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, dom Carlos Coelho, dom Eugênio Sales, dom Fernando Gomes, dom Helder Câmara, dom José Maria Pires, dom José Távora e dom Luís Mousinho”. Em outros momentos, conta a história que as diferentes linhas de pastoral se confrontaram, como, por exemplo em 1956 quando os bispos do Nordeste, reunidos em Campina Grande intercederam por políticas que ajudassem o povo a ter uma vida mais digna e não contaram com o apoio da totalidade de membros da CNBB, ou quando em 1961 alguns membros da CNBB

“A CNBB não é um tribunal de bispos, sendo possível um posicionamento diferente entre eles no que se refere à estratégia de ação pastoral, mas nunca em relação aos pontos fundamentais”. Dom Ivo Lorscheiter


REPORTAGEM

criticaram as defesas sociais feitas pela própria entidade, ou ainda, quando na Assembleia de 1964 aumentou a Comissão Central da CNBB de 7 membros para 37, numa tentativa de que houvesse uma representatividade maior da hierarquia. Mas, sem nos determos na história, por não ser este o objetivo, o fato é que os propósitos que motivaram a sua criação nunca foram perdidos ou esquecidos pelos bispos do Brasil. Desde 1930 a Igreja Católica no Brasil, com a liderança de dom Sebastião Leme da Silveira Cintra, tentava organizar o movimento católico dos leigos (Ação Católica) e centralizar o episcopado brasileiro. As razões eram fortalecer as forças que estavam fraccionadas nas dioceses. A Ação Católica estabeleceu-se em 1935. O episcopado, com a morte de dom Leme, recuou nos avanços de organização, mas retomou em 1949 com o apoio do Núncio Apostólico, então dom Carlo Chiari. O esforço ganhou o apoio do Papa Paulo VI, então Secretário de Estado do Vaticano e a CNBB foi, no mundo, a III Conferência dos bispos a ser criada. De 1954 a 1964, a CNBB tornou-se porta-voz da Igreja Católica no Brasil. A comunhão entre os bispos e a força advinda dos documentos pa-

pais (Carta do Papa João XXIII apoiando os posicionamentos da CNBB e a Mater et Magistra do mesmo Papa, proponda uma leitura das questões sociais à luz da Doutrina Social da Igreja), e, mais tarde, com a frase do Papa João Paulo II “a imagem que vós, bispos brasileiros, projetais a toda a Igreja e no mundo inteiro: imagem de pobreza e simplicidade, de devotamento pleno, de proximidade ao vosso povo e plena inserção em sua vida e seus problemas” (Discurso à CNBB – Fortaleza 10 de junho de 1980); ou ainda quando, questionado sobre posicionamentos e orientações pastorais diferentes entre a hierarquia da Igreja, Dom Ivo Lorscheiter, respondeu em 1980: “A CNBB não é um tribunal de bispos, sendo possível um posicionamento diferente entre eles no que se refere à estratégia de ação pastoral, mas nunca em relação aos pontos fundamentais”, sinalizam que a Conferência dos Bispos do Brasil, caminha em união.

Da esquerda para a direita: Dom Mario Antônio da Silva, Dom Jaime Spengler, Dom Walmor Azevedo e Dom Joel Portella Amado

Ao centro: Dom Leomar Brustolin

Dom Raimundo Damasceno

Fortalecimento, comunhão e resposta aos apelos dos Papas que de formas diferentes repetem a afirmação do Papa João XXIII em 1962, quando se dirigiu aos bispos da América Latina e pediu para “revigorar a vida sacramental e demonstrar a urgência de uma reforma das junho 2019

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Dom Dario

estruturas sociais com o auxílio da Igreja para essa tarefa”. A estrutura da CNBB foi sendo modificada para atender as demandas. Começou com 7 membros na chamada Comissão Central, passou para 37. Depois para uma organização mais ampliada, criando regionais, iniciando com 13 e atingindo hoje 18. Inicialmente elaborou um plano pastoral, depois passou a definir diretrizes e a deixar os planos a cargo das dioceses. Primeiro as secretarias nacionais, depois nacionais e regionais, mais tarde dimensões e hoje comissões, 12 no total. Assim o episcopado brasileiro foi caminhando, não sem divergências pastorais, mas sempre com o objetivo de revigorar a vida sacramental e encontrar caminhos para ajudar o povo a ter vida mais digna.

Isso foi o que aconteceu na Assembleia deste ano: divergência na ação pastoral, mas unidade naquilo que é fundamen08

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tal. Por unanimidade os bispos aprovaram as diretrizes para os próximos 4 anos. Um processo lento que permitiu a cada um discordar e sugerir mudanças. No final a aprovação, parágrafo por parágrafo, e o compromisso de deixar que essas diretrizes orientem os planos pastorais. Na coletiva de imprensa, Dom Raimundo Damasceno, arcebispo emérito de Aparecida, disse: “Vocês sabem que o Brasil é tão grande, a realidade é tão diversa, este nosso país é imenso, de modo que a caminhada pastoral de uma diocese nem sempre coincide com a de outra diocese, porque as realidades são diferentes, a caminhada é diferente em cada Igreja Particular. Mas as diretrizes são justamente para dar um rumo ao trabalho pastoral evangelizador da Igreja, que de certo modo, nos coloca em um trabalho de conjunto, orgânico, na ação evangelizadora, embora caiba a cada diocese, e também a ca-

da paróquia da diocese, formular seu plano de pastoral. A CNBB não faz um plano de pastoral, ela apenas aprova diretrizes, que são orientações para a Igreja em todo o Brasil”.

Assim foi também o clima da eleição que aconteceu para a Presidência Geral da entidade. Apesar dos apelos antecipados de algumas pessoas, para que os bispos não votassem em ‘alguns bispos’, a eleição decorreu de maneira tranquila e os movimentos das redes sociais não afetaram o compromisso dos bispos participantes. As prévias por regionais tinham o objetivo apenas de facilitar o diálogo e as escolhas, mas até à hora do voto cada bispo poderia votar livremente em qualquer bispo. Foi assim que o Arcebispo de Vitória, dom Dario Campos, descreveu a eleição: “Tranquilo! Os bispos votaram com toda a liberdade e não havia clima de competição e nem separação de lados. Na medida


REPORTAGEM

em que aconteciam os escrutínios as escolhas e a decisão iam afunilando e o resultado atendeu a todos”.

Dom Raimundo Damasceno, em uma das coletivas durante a Assembleia, afirmou em relação à eleição: “Nós não formamos uma chapa, ou várias chapas de várias tendências, para que os bispos então sejam, de certo modo, orientados por estas chapas para a eleição. Não. É uma missão, creio que cada bispo se coloca nesse espírito de serviço, se o episcopado assim o desejar, escolher, eleger um dentre nós para ocupar qualquer cargo, seja um dos cargos da presidência, como também um cargo à frente de uma das comissões pastorais. Não há discriminação nenhuma, de pessoa nenhuma, quanto às suas ideias, quanto às suas opções pastorais [...] São 18 regionais que se reúnem, mas não é uma prévia eleitoral. Trata-se de os bispos dialogarem, conversarem entre si, porque é uma Conferência muito grande e corre-se o risco de ocorrer uma grande dispersão de votos. Como os bispos que compõem o regional são muito conhecidos entre si, isso facilita e pode nos ajudar no plenário”. Os assuntos principais foram as diretrizes para o próxi-

mo quadriênio e a eleição, mas outras discussões aconteceram e apontaram o pensamento, o rumo e, principalmente, a vontade dos bispos em conduzir a Igreja em comunhão e participação.

As diretrizes foram aprovadas, as eleições para a presidência e as comissões decorreram em clima fraterno e de diálogo. Os preparativos para o Sínodo Pan-Amazônia e Congresso Eucarístico Nacional foram aprovados com entusiasmo e a tradução do missal romano aprovada pela Conferência e enviada à Santa Sé para avaliação e aprovação final. É importante lembrar que o pedido da tradução veio da Santa Sé, em 2002 quando a 3ª edição do missal foi publicada em Latim. Desde então, uma comissão de bispos vinha trabalhando na tradução dos mais de 3.000 textos. Sobre isso dom Armando Bucciol, presidente da Comissão Episcopal para a Liturgia, disse: “A tradução buscou encontrar palavras que revelem o mistério da fé através da liturgia. Os textos foram traduzidos, por uma equipe com sólidos conhecimentos em Latim e Liturgia”.

A Assembleia dos Bispos expressa a função sinodal da Igreja, explicada por Dom Leo-

mar Brustolin, membro da Comissão do tema central da 57ª Assembleia Geral, desta forma: “A função sinodal da Assembleia se expressa especialmente na aprovação de cada documento, onde cada bispo pode colaborar com emendas e também com destaques e também nas decisões e votações que mostram um profundo senso de comunhão. Embora se vejam tantos sinais de divergência na sociedade de contrastes, e alguns até gostassem que a Igreja estivesse nesse ponto também, mas a Igreja sabe que na pluralidade há uma unidade, que é garantida pela ação do Espírito que nos assiste, que cuida da Igreja, e, por isso, a sinodalidade está garantida. Cada bispo sabe que é responsável pelo colégio do qual ele faz parte. Por isso, às vezes, mesmo se algum não concorda com algum ponto, quando é aprovado pela maioria, isso é acolhido como uma expressão da comunhão. Isso é bonito porque na sinodalidade se expressa a nossa missão”. O tema central da Assembleia foi a aprovação das Diretrizes que têm como eixo fundamental 4 pilares: A Palavra - O Pão - A Caridade - A MIssão.

Maria da Luz Fernandes Jornalista

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ATUALIDADE

SOLIDÃO E FRUSTRAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE

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eriodicamente nós depositamos em alguém ou em algo o melhor de nossas esperanças e de nossos sonhos, legítimos, diga-se de passagem, de alcançarmos de alguma forma uma vida mais feliz, mais confortável ou mais fácil de ser vivida. Alimentamos a ilusão de que seja possível, ao humano, alcançar a plenitude de uma vida feliz a partir de uma exterioridade que nos complete, nos torne mais potentes ou nos possibilite ter mais poder, mais dinheiro, mais tempo para nos divertirmos, mais tempo para descansar ou, até mesmo, mais de algo que nem sabemos o que é, mas que desejamos.


ATUALIDADE

Desejar coisas, consumir, parece, às vezes, algo intrínseco à natureza humana, como se “ter” nos constituísse enquanto sujeitos. Desejamos cada vez mais, e transformamos em mercadoria, tantas coisas que deveriam fazer parte de nossas vidas de forma natural, compartilhadas nos afetos do cotidiano com as pessoas a quem amamos e que nos amam pelo simples fato de existirmos, independente daquilo que temos. Amigos virtuais em profusão, elogios múltiplos e curtições em fotos montadas e escolhidas a dedo e publicadas somente depois de editadas e acrescidas de textos que destacam nosso sucesso, nossas conquistas, nossas viagens, nossas riquezas ou nossas belezas, ainda que cuidadosamente montadas para esse momento de exposição púbica de coisas que compõe, na realidade, a esfera privada de nossas vidas. Público e privado se misturam de tal forma que perdemos, hoje, a dimensão da importância da privacidade e da intimidade como espaços essenciais a nossa reconstituição das perdas

Amigos virtuais em profusão, elogios múltiplos e curtições em fotos montadas e escolhidas a dedo e publicadas somente depois de editadas e acrescidas de textos que destacam nosso sucesso, nossas conquistas, nossas viagens, nossas riquezas ou nossas belezas.

naturais que acontecem nos enfrentamentos da vida pública.

Depositamos nas redes sociais nossas expectativas de potencializar nossa carreira, ainda que a mesma já esteja solidamente consolidada em um emprego que nos traga relativa segurança e do qual não queremos nos desligar.

Depositamos nas redes sociais nossas expectativas de ampliar nosso inventário de amigos, como se a multiplicidade deles fosse nos tornar mais felizes, quando, no fundo, não temos tempo para dedicar nem aqueles que nos são mais chegados e compõem o rol privilegiado chamado família.

Depositamos nas redes sociais nossas expectativas de encontrar os amores, os políticos e os produtos mais adequados a atender nossa cultura de consumo que está sustentada na ideia do “se não me servir troco por outro” na próxima compra. A diferença entre necessidade e desejo não é mais feita com base em uma avaliação pessoal criteriosa e definidora da experiência de viver um projeto de vida adequado ao possível, desenhado de forma lúcida, coerente e planejada. Somos, cotidianamente, capturados pelo mercado que transforma desejos em necessidades, nos tornando prisioneiros de uma saga consumista, que também nos consome o tempo de pensar, ler, refletir, sonhar, amar, afagar e contemplar.

Quantas horas passamos na internet a procurar e namorar produtos que não precisamos e que não estão na nossa esfera de possibilidades. Quantas vezes nos frustramos pelas impossibilidades múltiplas que se nos apresentam. Impossibilidade de fazer a viagem que nossos amigos fize-

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ATUALIDADE ram e publicaram. Impossibilidade de ter os filhos perfeitos, virtuosos e comportados que os amigos apresentam no instagram e no facebook. Impossibilidade de frequentar os restaurantes de pratos sofisticados, cuidadosamente fotografados, antes de serem consumidos, quando na realidade amamos o arroz, feijão e bife quentinho, feito em casa e deliciado junto com pessoas que de nós cuidam e nos protegem.

Impossibilidade temporal, que afeta aos intelectuais, de ler todos os livros dos autores mais desejados que estão ali disponibilizados a um clique no teclado. Frustrações múltiplas e representativas de nossas impossibilidades de acompanhar tudo e todos que se colocam disponíveis ao desejo humano de dominar informações, saberes e até curiosidades que pouco haverão de acrescentar à nossa frágil capacidade de armazenamento.

Impossibilidade, para tantos, de reverter os votos depositados nas urnas, cheios de esperanças, capturados por discursos cuidadosamente alinhavados por profissionais do marketing que sabem exatamente o que se deseja ouvir e o colocam na boca dos políticos para os quais trabalham, fazendo chegar até nós, de forma direcionada, por meio de lógica algorítmica e de fake news, capazes de transformar mentiras em verdades, como se a mesma coisa fossem.

Quantas frustrações ao nos encontrarmos com o verdadeiro discurso, proferido sob a forma de decisões políticas, ou de votos em projetos de lei, que nos afetam em nossa dignidade e honra, retirando direitos e nos transformando em meros objetos para a consecução de projetos escusos, de interesses de poucos, consumindo nosso sangue, nossa saúde, nossas forças e nossas esperanças.

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Impossibilidades múltiplas. Frustrações múltiplas. Ilusões virtuais à quais nos quedamos impotentes e vulneráveis.

Mantemos o linkedin, o instagram, o facebook e os blogs sempre atualizados e alimentados, mas não alimentamos os afetos daqueles que verdadeiramente nos nutrem o espírito e nos suportam nos momentos de crise, de fracasso ou das penúrias que não desejamos ver estampadas nas páginas virtuais, já que evidenciariam nossas mazelas, incapacidades, fraquezas e abandonos sofridos. Acompanhamos, diuturnamente, todas as redes sociais que conhecemos e os grupos de WhatsApp aos quais estamos vinculados, mas nos isolamos, em uma superficialidade solitária, produtora de ansiedade, frustração e depressão. A virtualização da existência que conduz ao consumismo, também medicaliza as nossas vidas e nos torna prisioneiros sem celas, nos distanciando daqueles a quem amamos e que nos amam.

Enfim, ilusões virtuais que promovem solidão e frustrações, com as quais não sabemos lidar.

Elda Bussinguer Doutora em Bioética e Coordenadora do Doutorado em Direito da FDV


PAUTA LIVRE

NAMORO HOJE

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inha experiência de namoro foi uma coisa muito bonita. Conheci a minha namorada quando fazia o 2º grau e a gente tinha o modelo de hoje pela frente onde o casamento é quase um casamento e as recomendações dos nossos pais. A gente via muita coisa entre nossos amigos e não concordava, mas aí fomos chamados de ultrapassados, de querer ser diferente e alguns até diziam que a gente só queria mesmo obedecer a nossa Igreja, que no mundo de hoje o namoro é igual ao casamento. A gente sentiu muita pressão e conversamos muito, mas decidimos seguir o que a gente achava certo. Já esta-

mos namorando há 4 anos, não moramos na mesma casa e não dormimos na casa um do outro. Respeitamos as nossas famílias e estamos pensando muito como será o nosso futuro quando casarmos. Não queremos criticar ninguém e conhecemos muitos namorados que vivem juntos e se entendem muito bem, mas decidimos viver o nosso namoro do jeito que a gente aprendeu que é certo. Fazemos muitas coisas juntos, mas quando viajamos vamos com nossas famílias ou amigos e frequentamos um grupo de jovens que reflete sobre o que Deus quer para as famílias hoje e isso nos dá muita força e coragem.

Acho que o namoro deve ser do jeito que a pessoa acredita e um tempo para organizar a vida a dois. Essa coisa de moderno ou ultrapassado tem a ver com o que a pessoa quer para si e não com as normas que alguém diz.

O importante é estar feliz e de bem com o que faz parte da sua vida. Não acho que tem um modelo para o namoro hoje, cada um namora do jeito que quer, isso é mais de cada pessoa que das leis, eu nunca faço só porque é lei, porque a Igreja diz ou porque minha mãe não gosta, mas eu respeito a ideia de cada um e faço como eu acho que tá certo.

Rodrigo Freitas Riva Estudante universitário

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CATEQUESE

ORIENTAÇÕES PARA O FIM DOS TEMPOS

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primeiro Catecismo dos cristãos conhecido como Didaqué termina com orientações sobre o comportamento de vida, que tem por meta o Reino de Deus. Três conselhos contundentes: “vigiem sobre a vida, não deixem apagar as lâmpadas e nem soltem o cinto dos rins”; tudo isso em vista do Senhor que vai chegar.

Estes aspectos de vigilância vão garantir os frutos da oração, pois nos manterão acordados em meio ao sono do mundo. A lâmpada da fé deve continuar ardendo com o óleo dos Sacramentos, para que a visão não se ofusque ou se apague e com isso se perca a direção no caminho. O cinto na cintura bem apertado garante a continência necessária dos excessos humanos para não acomodar no caminho pelos vícios do pecado.

sociedade semeiam a desigualdade e o ódio junto com todas as consequências desastrosas que daí provêm. Por isso, o testemunho verdadeiro do cristão se faz em meio a conflitos e lutas, numa batalha constante entre o bem o mal. Ao mesmo tempo, o discernimento no Espírito Santo faz-se sempre necessário para que a Igreja realize o certo no momento adequado.

A força do cristão está na comunidade reunida. É ali, na “pausa restauradora da caminhada rumo aos céus”, que se consegue orientar a própria vida e deixar os fardos desnecessários do pecado para trás. Na comunidade reunida há a garantia da presença e da vitória de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Através deste testemunho, aos poucos, a verdade resplandece sobre a mentira. A abertura dos céus são as lentes de interpretação da história. E, ao toque da trombeta (dia do julgamento), se realizará o fim dos tempos a partir do testemunho vivido. Quem “perseverar até o fim será salvo”, superando todas as intempéries decorrentes das perseguições.

A Igreja vive historicamente uma grande prova, simplesmente, porque deve enfrentar projetos contrários aos de Jesus. Muitos em nossa

Muito nos alegra ouvir as palavras de Cristo que nos impulsiona a caminhar: “tende coragem, eu venci o mundo!”

A Igreja vive constantemente o limiar da manifestação plena do Reino. O que garante o ânimo da ação evangelizadora é o olhar fixo no Cristo que vem, mesmo que na realidade presente a injustiça e as divisões imperem como reino de morte. Através da transformação da realidade, esse final glorioso vai aos poucos sendo preparado e vivido, e a comunidade cristã já vai experimentando desde já as alegrias futuras.

Nosso Senhor já nos garante a vitória pela sua Cruz e Ressurreição e mesmo que os sinais presentes pareçam desastrosos ou impossíveis de serem superados, os Santos Mistérios são verdadeiro bálsamo e alento.

Daniel Calil Mascalubo Seminarista do Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Penha



SUGESTÕES

TOUR PANORÂMICO EM VITÓRIA E VILA VELHA

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ode passar despercebido para os habitantes locais, mas quem vem a turismo prestigia o Bustour, um passeio por alguns pontos em Vitória e Vila Velha em ônibus aberto. Ele parte da Praia de Camburi, passa em frente ao Aeroporto, Reta da Penha, Avenida Vitória, Centro, Vila Rubim e faz a primeira parada na Basílica de Sto. Antônio. Após a visita segue para o Museu da Vale, em Vila Velha, retornando à Cidade Alta em Vitória para visita ao Palácio Anchieta, sede do Governo Estadual e a Catedral Metropolitana. Depois uma parada para o almoço no Horto mercado, passagem pela Terceira Ponte, visita ao Farol de Santa Luzia e o retorno para a foto no Vitória 360.

No caminho quem é ‘de casa’ também se surpreende com alguns detalhes como a origem do lema na Bandeira do Estado,

inspirado na frase de Sto. Inácio de Loyola, a casaca em frente à Assembleia Legislativa, o significado das imagens nas escadarias do Palácio do Governo entre outros. E pode acontecer também alguma frustração como o Café no vagão de trem no Museu da Vale fechado ou aquele clique no parapente que não deu tempo. Por si só, o tour vale a pena. Agradável, micro-ônibus colorido e plotado com bom gosto e a guia atenta aos detalhes e informações corretas.

No dia do passeio, tive a agradável companhia de Edebrande Cavalieri, membro do Conselho de Pauta da Revista Vitória e Luzia França que tornaram o dia mais agradável. Muitos visitantes se deslumbraram diante das paisagens e pontos turísticos e fica a dica: vale a pena fazer o tour.

Saída do estacionamento do quiosque 1 de Camburi às quartas e sábados, domingos e feriados às 9h e o retorno às 17h. O valor é R$ 50,00 por pessoa. Contatos: 3325-2000 / 99606-3500 ou capixabaturismo.com.br

Maria da Luz Fernades Jornalista


IDEIAS

EX DUCERE – EDUCAÇÃO – CONDUZIR PARA FORA

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A

vida é um acontecimento assombroso e maravilhoso. Uma experiência inédita a cada dia; um tempo a ser cumprido; uma eternidade a ser tempestivamente buscada e vivida; um mistério sempre a ser compreendido. A vida, movimento de partículas, feixe de fluxos, articulação de forças, danças e saltos, idas e vindas, velocidades e lentidões, capturas e fugas, altos e baixos, sempre se insere numa busca incansável e ininterrupta de mudanças e crescimento e que tem um propósito: ser mais vida. Nesse movimento de se potencializar, a vida decidiu pensar, sair de si, romper o casulo dos instintos e da mera necessidade de sobrevivência, ir para fora, encontrar-se com o mundo e nele se admirar, se alegrar e se fazer perguntas.


IDEIAS

Não há nenhum outro movimento na vida - nem nos momentos que antecedem a morte - que não o do desejo de querer ser mais vida. Ela luta até não poder mais. A semente da ressurreição tem essa potência. A vida é. A vida quer. A vida se arranja para ser e continuar a ser. Esse movimento de força e beleza está presente em cada ser vivente. Esse acontecimento – que tem no ser humano como uma pequena parte um “eu” que identificamos como o “dono” da vida, um “eu” que aprende a dizer “a minha vida” – vai irresponsavelmente sendo desconsiderado, desvalorizado. Milhares de “espécies”, ou seja, milhares de milagres, fenômenos estão sendo exterminados da face da terra. Animais são cruelmente maltratados das mais inimagináveis formas no processo de se tornarem alimento. Venenos e mais venenos são aprovados no Brasil para facilitar o ganho do agronegócio. As abelhas, pobres abelhas, morrem aos milhares por causa dos pesticidas. Populações inteiras de humanos famintos são esquecidas em várias partes do globo. Só se fala da situação difícil de países cujas reservas de petróleo são importantes. Que tristeza! Como somos capazes de tratar o mundo e a sua vida dessa maneira! Não por acaso a arma (morte) se tornou símbolo de campanha eleitoral.

Mas a vida em sua longa caminhada neste planeta foi capaz de forjar a capacidade de se voltar para fora, de se enxergar, de pensar, de se ver no mundo. Essa capacidade se deu em nós (mesmo que não nos pertença e nem dependa de nós) e por estarmos nesse fluxo somos, por lógica consequência, chamados ao compromisso de nos diferenciarmos cada vez mais por essa capacidade: pensar. E se valorizamos o amor haveremos de valorizar o pensamento. O pensamento torna o amor eficaz. O pensamento tornando eficaz o amor, potencializa-o.

Por certo não amamos com base na ignorância. E como podemos favorecer o pensamento? Como podemos nos tornar mais capazes de pensar. A vida nos força ao pensamento, mas é a educação quem potencializa o pensamento porque a educação é – ou deveria ser – o processo facilitador para que a vida se volte ainda mais para o mundo, conduza-se para fora (ex ducere) para ver a si mesma no mundo. Ou seja, a educação é o processo em que facilitamos a vida no seu desejo de pensar, de nos libertar disso que fizemos de nós mesmos, e nos dirigir para fora para que criemos mais e mais conexões com o mundo. O capitalismo em seu atual estágio de desenvolvimento investe cada vez mais na constituição de um sujeito preso em si mesmo, que quer “se” realizar, que quer ser o “tal”, que quer obter o máximo de satisfação pessoal por aquilo que o dinheiro compra. Cada vez mais na corrida pelo dinheiro cada um vai se tornando prisioneiro desse “eu”.

A educação, portanto, é a chance de se contrapor a esse grande movimento egoísta de “realização” pessoal destruindo o mundo. A educação conduz-nos para além do que nossa visão egocêntrica enxerga e que o senso comum nos mostra.

Dauri Batisti

Padre, Psicólogo e Mestre em Psicologia Institucional Imagem: Huyendo de la crítica, 1874, de Pere Borrell del Caso.



LIÇÕES DE FRANCISCO

VIAJE LEVE PELA VIDA!

L

ogo que assumiu o Pontificado em 2013, o Papa Francisco publicou dez lições orientadoras da caminhada. A primeira delas fala de como viajar pela vida. De imediato, este propósito se refere ao desapego de objetos materiais e bens em geral. O próprio Papa, como cardeal, fazia questão de andar a pé o máximo que podia, usar o serviço público de transporte e mesmo quando fazia uso de carro particular, ele dispensava o motorista.

deixam felizes. Quem tem pouco é mais livre, é mais feliz.

A orientação dada e vivida concretamente nos faz pensar sobre a quantidade de coisas que carregamos pela vida. Num mundo marcado pelo materialismo, buscamos acumular muitos bens. Temos muito mais do que necessitamos. Não basta olharmos para os imóveis e móveis que compramos, construímos e acumulamos. Basta uma olhadinha em nossos armários e vamos ver tantos calçados, tantas bolsas, tantas vestimentas, que pouco ou nada são de uso cotidiano. Simplesmente guardamos para carregar pela vida.

Também determinados projetos de vida que nos propomos, trazem muito peso. Abdicamos do convívio com as pessoas e do prazer de viver a vida. Muitos jovens envelhecem atrás de projetos de realização profissional. Abdicam inclusive do prazer de constituir uma família. Vivem para os estudos e a preparação profissional.

Isso nos faz entender por que ele escolheu como residência a Casa Santa Marta e não o Palácio Apostólico. Para ele, esta casa de hóspedes (para bispos, padres e leigos) facilitava a proximidade com as pessoas levando uma vida normal. Também simplificou ao máximo o uso de vestimentas e calçados.

A leveza da vida proposta pelo Papa vai ainda mais longe. Também se refere ao que carregamos espiritualmente, psicologicamente. As mágoas e rancores muitas vezes dominam nosso cotidiano. Não se consegue pensar em mais nada. Buscamos nos livrar disso através de outro mecanismo também pesado: o desejo de vingança. Então o fardo se torna insuportável. Morremos com a cabeça cheia de preocupações que são, em geral, bobagens.

O acúmulo de bens requer não apenas dinheiro, mas tempo precioso de nossa vida. Quanto tempo se perde em meio ao guarda-roupas abarrotados só para escolher aquela vestimenta que ficaria mais adequada para o evento ou que condiz com o nosso espírito momentâneo. Mas não são as roupas e calçados que nos

A leveza da vida nos traz saúde, alegria e felicidade. O peso que carregamos nos adoece, nos enfraquece, nos enfeia. Sim, o peso nos faz feios. Não é a vestimenta mais chique que nos embeleza, mas a leveza do espírito, da alma, do coração.

Edebrande Cavalieri Doutor em Ciências da Religião

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ASPAS

“Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas” (Ministro da Educação Abraham Weintraub)

A frase acima expõe o tipo de Governo que temos desde janeiro de 2019. Nela, há cinco significados básicos para serem analisados.

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Os cortes foram anunciados de forma mentirosa. Não foram apenas para algumas universidades submetidas a uma suposta avaliação criteriosa de desempenho e sim para todas. A mentira passou a ser a forma deliberada de comunicação do Governo com a sociedade.

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Ela revela total desconhecimento do que fazem as universidades públicas brasileiras, que estão entre as mais bem ranqueadas entre todas as instituições de ensino superior. O que se faz de melhor em pesquisa, ensino e extensão é feito pelas universidades públicas, que dependem de recursos do Estado para manterem seu padrão de qualidade. Esses recursos vêm sendo reduzidos desde 2015, mas já chegaram ao limite mínimo. Mais um corte é o decreto de morte do ensino superior público.

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Ao chamar atividades que não se limitam ao ensino técnico de “balbúrdia”, o ministro prova não conhecer sequer a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (lei 9394/96). Segundo a lei, em seu art. 3º: “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: [...]

II- liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III- pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV- respeito à liberdade e apreço à tolerância; [...]

XI- vinculação entre educação escolar, trabalho e práticas sociais.” Atividades políticas, culturais, artísticas e de formação cidadã, direito à livre manifestação do pensamento e expressão de concepções sobre a sociedade e a política são princípios garantidos por lei. Porém, para o ministro, o exercício desses direitos legais, quando se chocam com sua ideologia particular e a que orienta o atual Governo, se reduz à “balbúrdia”.

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Condicionar a liberação de verbas à postura política das universidades (mesmo sendo mentira, pois o corte foi para todas) é desprezar o espírito republicano que deveria nortear a gestão pública. O uso de verbas como forma de retaliação às manifestações políticas contrárias ao Governo é coisa típica de governos autoritários e da política coronelista praticada em cidades afastadas dos grandes centros urbanos, em que os gestores se acham “donos” da coisa pública.

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Ao final, os cortes na educação superior expõem o verdadeiro objetivo do atual Governo: submeter todas as áreas essenciais à vida plena dos cidadãos aos interesses econômicos e financeiros das corporações privadas. O que se pretende é fazer caixa para pagar religiosamente os juros da dívida pública, mesmo que para isso seja necessário sacrificar o país inteiro nas coisas que ele tem de mais importante.

Maurício Abdalla Professor de Filosofia na UFES

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PALAVRA DO ARCEBISPO

O SIM DE DEUS PRECEDE O SIM DA HUMANIDADE

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ponto central da homilia de Dom Dario Campos no encerramento da Festa da Penha 2019, teve como foco principal a iniciativa de Deus que, assim como se dirigiu a Maria, dirige-se a cada um de nós, hoje. Depois transformou em pedidos e oração as necessidades que brotaram de sua reflexão.

Meus irmãos e minhas irmãs, o texto de Lucas (1, 2638), tem início com a indicação de que o anjo Gabriel foi enviado por Deus até a Virgem de nome Maria. De fato, em primeiro lugar está o sim de Deus oferecido aos seus filhos e filhas, algo presente em toda a história da salvação, desde a Criação do mundo até os nossos dias. Pois Deus deseja abraçar a todos, mesmo aqueles que se colocam longe do Seu caminho e de sua Palavra, num convite contínuo para a comunhão e para a intimidade. Apesar de toda a negação, o Senhor não desiste jamais da humanidade. Sabemos, pois, que a primeira Palavra para a humanidade inteira é o Sim de Deus, que nasce em sua incondicio-

nal gratuidade e infinito amor, próprios de um Pai desejoso de fazer comunhão com os seus filhos e filhas.

O sim de Deus precede ao Sim da humanidade, que por laços de amor é convidada a acolher a proposta divina. Desse modo, podemos dizer que no diálogo entre o céu e a terra, entre o anjo do Senhor e a Filha de Sion, mais uma vez, é proposto o desejo de Deus de comunhão com os seus filhos e filhas. Hoje a Palavra do Senhor também é dirigida a todos nós, pois, assim como Maria recebeu a visita do anjo do Senhor, nós também somos visitados por Deus, que deseja nos apresentar o seu projeto e espera de nós o nosso sim.

Deus deseja a vida plena para todos os seus filhos e filhas, algo que Jesus veio nos mostrar de modo claro, quando disse que veio ao mundo para que todos tivessem vida e vida em plenitude. Porém, ainda hoje, percebemos que estamos longe da realização do desejo de Deus, do seu projeto de vida para todos. A nossa história recente está marcada pela violência e pelas dores de famílias inteiras que perdem os seus filhos e filhas, a grande maioria jovens pobres e negros. Muitas mulheres ainda são vítimas da violência, por vezes dentro de sua própria casa, colocando o nosso Estado entre os que têm um grande índice de feminicídios no país. Muitos são os desempregados, famílias inteiras


A nossa Fé, o Batismo que recebemos pede de nós uma atuação mais ativa e efetiva, pois, apesar de nossos que vivem abaixo da linha da pobreza, marcados pelo descaso dos poderes constituídos. Carecemos de Políticas Públicas inclusivas e amplas, que favoreçam a qualidade de vida de todos, oferecendo oportunidades e possibilidades iguais para os cidadãos. Nossa sociedade ainda está marcada com a exclusão social, acirrada pelo desrespeito e a discriminação, seja por questão de sexo, cor, condição social entre outros. Não podemos esquecer a preocupação das grandes empresas com o lucro desmedido, que ainda hoje tem causado tragédias criminosas e mortes, marcando também o nosso solo do Espírito Santo, os nossos rios e mares com a poluição fruto do descaso. A nossa Fé, o Batismo que recebemos pede de nós uma atuação mais ativa e efetiva, pois, apesar de nossos muitos esforços, temos muito o que fazer em relação à nossa participação ativa e à construção coletiva de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária. Hoje todos nós somos colocados diante do desejo de Deus, manifestado, no encontro do anjo com Maria, de tocar a humanidade e de transformá-la. Pois é o desejo de Deus fazer de nossa Casa Comum um lugar para todos os seus filhos e filhas.

muitos esforços, temos muito o que fazer em relação à nossa participação ativa e à construção coletiva de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.

PRECE NA HOMILIA Na celebração da Padroeira do Estado do Espírito Santo, todos os nossos olhares se voltam para o Convento da Penha, lugar que evoca e guarda a imagem da Virgem das Alegrias. Hoje, em primeiro lugar, como membros do Corpo de Cristo que é a Igreja, chamada a ser uma Igreja em Saída, queremos nos colocar também diante da Palavra do Senhor. Trazemos em nossos corações e na lembrança as quatro Dioceses do nosso Estado do Espírito Santo, aqui representadas pelos seus bispos, pelo administrador diocesano de Cachoeiro, pelos padres, diáconos, religiosos, religiosas, seminaristas e por todo o Povo de Deus. Desejamos ardentemente que aquele encontro que ocorreu em Nazaré, na Galileia, aconteça também, mais uma vez.

Assim como Maria é a expressão plena da humanidade que abraça a sua vocação, chamado e missão, também nós hoje queremos nos deixar tocar pela Palavra de Deus e abraçar a nossa vocação.

Que, cada Igreja Particular, sustentada pela graça de Deus, diante dos inúmeros desafios da Evangelização, seja capaz de assumir a sua vocação e missão. Que a voz de Deus ecoe dentro de nossas Comunidades Eclesiais de Base, desde o Norte ao Sul do Estado do Espírito Santo, de modo que se tornem proféticas e missionárias, verdadeiros sinais do Reino de Deus. Que todos nós aqui reunidos, nos sintamos chamados a viver uma vida de comunhão com o projeto de Deus, confirmando, todos os dias, o nosso sim a ele, a exemplo de Maria.

Dom Dario Campos, ofm Arcebispo Metropolitano de Vitória

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ENTREVISTA

DISCURSO: O DESAFIO DE AGREGAR ALGO MAIS ÀS PALAVRAS

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ais do que a transmissão de uma mensagem, o discurso pode ser encarado como uma arte, pois para que uma informação seja assimilada é necessário agregar a ela emoção, entusiasmo e expressão corporal, imprimindo-lhe, além do conteúdo, forma. É sobre este assunto, com uma abordagem feita na comunicação da Igreja, que trata o livro “Discurso Espetacular”, do Mestre em Ciências das Religiões, jornalista e radialista Alessandro Gomes.

Quem é o público-alvo do livro Discurso Espetacular? O livro destina-se a padres, pastores, diáconos, seminaristas, leigos, comunicadores, acadêmicos e a todos que apreciam a comunicação e Análise de Discurso. A ideia é que todo mundo que ler esse livro tenha condição de avaliar o seu próprio discurso em situações diversas, quer seja uma homilia ou, por exemplo, uma apresentação de trabalho de faculdade, uma apresentação de tese de mestrado, doutorado ou também em situações mais simples como uma entrevista de emprego. No livro eu abordo o discurso como um espetáculo, pois ele tem forma e conteúdo, assim como qualquer fala que passa por expressões corporais, faciais ou a maneira de se vestir, por exemplo. Então, essa forma e conteúdo, as duas juntas, é que vão dar ‘cara’ para o discurso. Como foi essa abordagem?

Eu busquei o escritor francês Guy Debord em seu livro “A Sociedade do Espetáculo”, no qual trata sobre tudo aquilo que é

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ENTREVISTA

real e irreal, no discurso. O irreal é aquilo que projetamos para além de nós mesmos. Um discurso pode ter conteúdo, mas pode ser irreal, dependendo da maneira como é apresentado.

No livro, Debord dá o exemplo do espelho. Nossa imagem projetada no espelho é irreal, pois é um reflexo. Nós somos a realidade, não nosso reflexo. O discurso é a mesma coisa; vemos aquilo que não é real. Quando nos olhamos no espelho, vemos ali o reflexo de alguém, e não a pessoa, o irreal, porque é só um reflexo, algo que não tem forma palpável, mas tem forma, porque tem a forma de alguém. Então, a irrealidade do discurso, parte principalmente da retórica. Na hora de discursar, muitas vezes o falante quer que você entenda aquilo que ele quer que você aprenda e não o que é verdadeiro. É a imagem no espelho. Isso não lhe parece perigoso?

Quando partimos para a prática, por exemplo, na homilia ou em uma apresentação, o perigo está exatamente quando vamos para os modismos, para a irrealidade. Também existe o peri-

go quando quem discursa quer impor sua maneira de pensar. A pessoa que discursa tem essa noção?

Não. É instintivo. Aí tem uma outra parte do livro que eu trato do ethos, ou seja, a própria pessoa, que é o que é, e que dificilmente vai mudar completamente. O discurso quando é preparado, tem muito de quem escreve e é preciso ter cuidado, pois aí está o perigo do irreal. Quando falamos de fake news, temos que entender que não é só a informação 100% falsa, mas também é algo que quem escreve quer que o outro entenda. Existe uma forma de não cair nessa armadilha?

A gente consegue evitar, ou diminuir esses riscos, buscando conhecer quem é essa pessoa que está discursando. O que ela pensa, o que outros escritos dessa pessoa transmitem. É conhecer o discurso do outro.

A ideia é que todo mundo que ler esse livro tenha condição de avaliar o seu próprio discurso em situações diversas, quer seja uma homilia ou, por exemplo, uma apresentação de trabalho de faculdade, uma apresentação de tese de mestrado, doutorado ou também em situações mais simples como uma entrevista de emprego.

Como surgiu a ideia do livro?

Eu observava muito do discurso da Igreja (homilias dos padres). Eu lia e questionava algu-

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mas coisas para mim mesmo e isso foi um estímulo para eu me aprofundar no assunto. Nesta época eu já dava aulas e certo dia uma aluna me contou que, com base em uma aula minha, havia resolvido estudar o discurso dos políticos na eleição para governados. A experiência que fizemos juntos me despertou ainda mais para o assunto discurso. Bom, eu era da Igreja, era da área da comunicação e gostava de discurso. Foi então que procurei um curso de Ciências das Religiões para fazer um mestrado nessa área, exatamente nessa linha de pesquisa do discurso religioso midiático e entendi que eu queria pesquisar mesmo era o discurso dos padres. Passei a querer entender como os padres colocavam forma em seus discursos, pois conteúdo eles tinham. Então eu fui estudar o discurso dos padres da Igreja Católica Apostólica Romana na mídia. Daí nasce o livro.

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Qual foi a conclusão sobre como colocar forma no conteúdo? Eu cheguei a conclusão que a maneira de falar, a maneira de se movimentar, de se expressar e até o local onde o discurso acontece influencia na assimilação dessa mensagem. Foi surpreendente observar nessa pesquisa que o padre que fala dentro da igreja tem muito mais desenvoltura do que o padre que fala em uma missa campal, ou seja, fora de sua zona de conforto.

Cheguei à conclusão que se o padre não tiver forma o suficiente, a mensagem do seu discurso não passa através do rádio. O ouvinte de futebol, por exemplo, precisa “ver ouvindo”. O narrador dá detalhes usando uma linguagem criativa, metafórica sobre os lances que acontecem no jogo, para que o ouvinte possa “enxergar” o que acontece no jogo. Faz com que a pessoa “veja” o gramado, a cor do

uniforme dos times. A mesma coisa teria que acontecer com o discurso do padre no rádio e na televisão, só que no rádio temos apenas o recurso do áudio. Entretanto, quando ele sorri, gesticula e até quando franze a testa, a pessoa que está do outro lado capta melhor. O gestual é a forma. Se o padre não o faz, ele leva o ouvinte para o irreal. Tudo o que um padre, ou eu, ou você, ou qualquer um for estudar para falar, como vai ter o ethos do falante, terá sempre algo de irreal e o irreal dá abertura para o ouvinte interpretar da forma que ele quer. Só o real já dá, imagine o irreal. Que avaliação você faz sobre a forma como a Igreja se comunica hoje?

A Igreja Católica, no mundo, não aprendeu a se comunicar ainda. Existe muita deficiência porque a comunicação da Igreja é extremamente fragmentada. Cada diocese no Brasil, no mundo, cada paróquia, cada comunidade, costuma ter a sua comunicação independente. Não existe uma linha de comunicação que seja respeitada. Isso acontece não somente na Igreja Católica, mas em outras


ENTREVISTA

Igrejas e outras instituições também. Para o livro eu entrevistei várias lideranças da Igreja Católica e todos os gestores da área da comunicação, administrativa, pastoral e do clero, independente da diocese, todos foram unanimes em dizer que a Igreja se comunica mal. Mas tem receita para se comunicar bem? O que você acredita que pode ser melhorado na Igreja?

Tem. Tem que começar de cima, especialmente na formação dos padres, na comunhão entre os veículos da Igreja e uma participação, senão integral, pelo menos majoritária, dos membros da Igreja nesses veículos. É preciso que se divulgue esses veículos e que se crie a mentalidade para que eles se tornem uma fonte de informações de referência, de confiança para o público católico. Então, o discurso dessas lideranças entrevistadas, me preocupa, porque mostra que a Igreja não assumiu o diretório de comunicação e esse diretório é fruto de uma reflexão longa. Se avaliarmos Santo Domingo, Medellín Puebla, Aparecida, o resultado dessas conferências falam o

tempo todo da necessidade de usar os veículos de comunicação da Igreja até para contradizer fake news. Defendo ainda a importância dos padres pesquisarem mais a comunicação e é importante que a Igreja incentive isso. Como você acha que o público católico avalia a comunicação na Igreja?

Para eles, a comunicação da Igreja está na fala do padre. Por mais que eles digam que precisa de algo mais, o principal para eles está na fala do padre. Por exemplo; se o padre der as notícias e avisos após a missa, as pessoas gravam. Mas se é qualquer outra pessoa, a mensagem não é assimilada. As pessoas vão esquecer o que foi dito. É a autoridade falando. Se perguntarmos a um leigo qual a opinião dele sobre a comunicação na Igreja ele vai dizer que tem falhas, mas será necessário estimular para que ele fale. Porque caso contrário, ele vai dizer que está tudo bom, afinal ele pode estar sendo o espelho, ou seja, medindo a homilia a partir do que ele pensa. Agora, as lideranças vão dizer que a comunicação é falha, tem dificuldades.

Aos olhos dessas pessoas lá fora, o padre comunica bem e a Igreja comunica mal. Eles não sabem diferenciar isso. O que te surpreendeu na sua pesquisa?

O que mais me surpreendeu mesmo foi a conversa com os gestores, quando eles admitiram que a Igreja comunica mal. Para eles a Igreja não comunica bem e não tem feito nada para comunicar bem. Como foi a receptividade do seu livro e como você pretende trabalhar esse conteúdo na Arquidiocese de Vitória?

Em Campinas, a livraria Paulus e a TV Século XXI se interessaram muito pelo livro. Surgiu um convite para uma palestra para alunos e professores do Seminário de Campinas e também um convite para participar de uma formação para os membros da Pascom da Diocese de São Paulo, em outubro próximo. Aqui em Vitória, o lançamento acontece em junho. A semente está lançada e eu me coloco à disposição da Arquidiocese.

Andressa Cardoso Jornalista

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ESPIRITUALIDADE

PARA INTERNALIZAR O MISTÉRIO ANUNCIADO A ZACARIAS (CONTINUAÇÃO DO ARTIGO DE MAIO)

Z

acarias, o sacerdote do templo, sacerdote que não acreditou diante da inciativa Divina, olha para si mesmo e sua esposa, ambos idosos. Zacarias sentia-se incapaz. Faltou-lhe considerar que Deus, a quem ele servia no altar diante do povo, não era incapaz. Para Deus nada é impossível! Abraão havia acreditado na Palavra de Deus, mas Zacarias mergulhou na sua incapacidade. Como ser profeta sem crer na Palavra de Deus? Ficou mudo! Deus o silenciou até o momento em que recebesse uma nova chance, a chance de crer e obedecer aos desígnios do Senhor! No silêncio e na mudez, Zacarias fazia a experiência do mistério do Amor de Deus que tudo pode, que ultrapassa o conhecimento humano. Zacarias, além de ser sacerdote do Templo do Senhor torna-se profeta: “João é o seu nome”! (Lc.1,63). Acreditou, obedeceu e proclamou a bela notícia confirmando o desejo de Isabel. Isabel acreditara na Palavra de Deus. Aquela esposa idosa que se sentia humilhada por não ter filhos fez a experiência do Amor Miseri-

cordioso de Deus, libertando-a da vergonha que sentia perante a sociedade de seu tempo. Ela ouviu, acreditou e tornou-se mãe: “ele se chamará João”! (Lc.60).

Zacarias e Isabel experimentaram a impotência e a pobreza mais profunda do ser humano. Deus enriquece os corações vazios desse casal. Abençoa o casal com o filho profeta, João! Lucas escreve sobre esse casal: “Ambos eram justos diante de Deus e observavam irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor. Mas, não tinham filhos, porque Isabel era estéril e ambos de idade avançada” (Lc.1,6-7). Quando a pessoa humana permite que a Justiça Divina habite o seu coração, maravilhas acontecem. Eles eram justos!

Tenho para mim que, agora, seria muito bom olharmos para nós mesmos e observarmos que fomos justificados pelo santo batismo que recebemos! Será que nossos semelhantes, conhecendo-nos como somos e vivemos, podem dizer que somos justos?

Vale a pena, um momento, uma parada silenciosa... cultivemos um bom tempo de silêncio, pois “bem-aventurados os que têm um coração de pobre porque deles é o Reino dos céus” (Mt.5,3).

Os casais discípulos de Jesus têm muito a internalizar contemplando este fato: um casal justo, mas, sente-se humilhado por não ter filho... Este casal é provocado pelo Senhor, convocado a crer de todo o coração, pois para Deus tudo o que nos parece impossível pode tornar-se possível sob sua ação Divina! Quantas vezes nos encontramos em situações dificílimas que nos parecem impossíveis... mas, para Ele, Deus, o Senhor de tudo, é possível! Basta crer de todo o coração e deixar que a Vontade de Deus aconteça! O casal que busca viver na justiça que vem do Alto deixa-se dirigir pelo Senhor e não se prende ao seu limitado saber, aos seus costumes... Ele sabe. Ele é o Senhor da vida! Aquele que se abre à Justiça do Alto não perde a esperança, crê e acolhe!

Dom Luiz Mancilha Vilela, sscc Arcebispo emérito


VIVER BEM

ALIMENTAÇÃO NO PRIMEIRO ANO DE VIDA

P

ode parecer inusitado, mas a alimentação da gestante no período pré-natal e a alimentação do bebê no primeiro ano de vida determinam os hábitos alimentares na vida da pessoa.

No período pré-natal, uma variedade de sabores passa através do líquido amniótico e o mesmo ocorre durante a amamentação, esses dois fatores são relevantes e contribuem para a facilidade da criança ex32

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perimentar e aceitar novos alimentos quando estiver maior.

Portanto, a alimentação variada na gestação e no período de amamentação é extremamente importante nesse período.

Antigamente a introdução alimentar era feita por volta dos três a quatro meses de vida. Era comum a avó ofertar um chazinho mágico na chuquinha com a finalidade de aliviar as terríveis cólicas e acalmar o


VIVER BEM

Hoje sabemos o quanto a amamentação exclusiva até os seis meses é importante nos quesitos de desenvolvimento e nutrição da criança, sem necessidade de oferecer água, chá ou qualquer outro alimento nessa fase. A partir dos seis meses o bebê já está preparado para receber a alimentação complementar.

bebê. A amamentação exclusiva era privilégio para poucos e naquela época não havia tanto incentivo como nos dias de hoje. As papinhas eram preparadas como um sopão, com todos os alimentos misturados, na maioria das vezes tudo batido no liquidificador. As mamadeiras eram muitas vezes engrossadas com farinhas.

Entretanto, no decorrer dos anos a ciência da nutrição evoluiu e nosso conhecimento sobre a introdução alimentar, também. Hoje sabemos o quanto a amamentação exclusiva até os seis meses é importante nos quesitos de desenvolvimento e nutrição da criança, sem necessidade de oferecer água, chá ou qualquer outro alimento nessa fase. Além disso, a maneira como a introdução alimentar será conduzida influencia positivamente as escolhas alimentares durante toda a vida. A partir dos seis meses o bebê já está preparado para receber a alimentação complementar. A introdução deve ser lenta

e gradual com alimentos bem cozidos, se possível no vapor ou com pouca água na panela, apenas com água suficiente para ficarem macios. É normal no início ocorrer alguma rejeição de um alimento, mas logo o bebe se acostuma, o alimento rejeitado deve ser oferecido diversas vezes em momentos diferentes para ser aceito.

O ideal é que os alimentos sejam ofertados separadamente no prato sem misturá-los para que a criança se adapte aos diversos sabores e texturas. Ofereça uma alimentação bem variada para que todos os nutrientes estejam presentes e o crescimento e nutrição seja garantida. Segundo recomendações do Ministério da Saúde, até um ano o sal é dispensável e o açúcar deve ser oferecido somente após dois anos. Café, enlatados, frituras, refrigerante, balas, salgadinhos, embutidos e outros alimentos industrializados não devem ser oferecidos. Bebês têm total capacidade de perceber as sensações de fo-

me e a saciedade e comem exatamente o que seu corpo precisa. Não se deve insistir e forçar para que comam se não estiverem com fome. Essa atitude desregula os mecanismos naturais de controle de consumo e tem correlação negativa com o peso da criança. Não ofereça prêmios ou castigos, não distraia com televisão e outros artifícios para conseguir que comam. Nunca utilize alimentos como forma de distração ou para acalmar a criança se ela estiver irritada. Essa atitude contribui para o desenvolvimento da fome emocional na vida adulta. A mãe conhece as necessidades básicas da criança, ajude-a a modular suas emoções sem oferecer comida, dê colo, apoio e acalento. Seguindo essas regras básicas seu filho terá uma ótima alimentação no futuro.

Mariana Herzog Nutricionista e Sócia proprietária da Dietética Refeições

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MUNDO LITÚRGICO

O BEIJO NA LITURGIA

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beijo, simplesmente o beijo. Em sua anatomia e efeitos no corpo humano, não há como restringi-lo a uma definição (mas é necessário defini-lo?), seja como atitude instintiva ou aprendida. Ele pode ser compreendido como um gesto de amor (filial, fraterno, amistoso ou sexual), de cordialidade, de sociabilidade, mas também poderá ser uma expressão de falsidade, de traição (o beijo de Judas, por exemplo – cf. Mc 14,44). Enfim, não há uma definição absoluta sobre a função que o beijo cumpre, mas ele vem cheio de elementos de comunicação interpessoal, sendo um canal aberto de comunicação e expressão.

Nas ações litúrgicas, o beijo marca a relação de intimidade e comunhão da Igreja para com Cristo, na referência da Nova Aliança. Não se trata de fomentar uma ficção, um romantismo ou um emocionalismo, que podem ser limitados ou tendenciosos, mas se trata de explicitar, ritualmente, o autêntico amor que, em Cristo, tudo abarca – essência do seu Mistério.

A primeira recordação é o beijo que se dá no altar, no início e na conclusão da liturgia eucarística, por quem preside a celebração (também pelos presbíteros concelebrantes e

pelos diáconos; em algumas realidades, por ministros leigos que presidem a liturgia da Palavra): sinal da Esposa – a Igreja - que beija o Esposo, em amor e cumplicidade. Possivelmente, nem sempre esse gesto será feito, como também notado, com a intensidade e expressão que deveriam ter: requer aprofundamento teológico-litúrgico e a espontânea liberdade afetiva por parte de quem realizá-lo.

O livro da Palavra – Evangeliário ou Lecionário – também é beijado por quem proclama o Evangelho na liturgia da Palavra, marcando a íntima comunhão da Igreja com o Cristo-Verbo, no diálogo perene da Aliança. É este diálogo que aprofunda e amadurece a afetividade, harmonizando os cristãos para a vivência cordial e solidária do amor e da caridade, na fé renovada, na perseverança fraterna, de esperança em esperança.

Na Quinta-Feira Santa, no rito do lava-pés, é costume beijar os pés dos discípulos após lavá-los. Na liturgia da Sexta-Feira Santa todos beijam a cruz em sinal de adoração ao Cristo, em sua exaltação pascal. Em outros momentos celebrativos pode-se oportunizar de beijar o crucifixo, assim como as relíquias da Santa Cruz.

O beijo da paz entre os fiéis, na liturgia eucarística, é um dos sinais litúrgicos mais antigos das primeiras comunidades, conforme Rm 16,16 ; 1Cor 16,20 ; 2Cor 13,12 e 1Pd 5,14 (geralmente utiliza-se nas traduções a palavra ósculo). Até o século IV era costume dar o beijo antes da partilha dos dons (oferendas); daí em diante, transferiu-se o gesto para antes da comunhão eucarística, pois a comunhão com Cristo é realidade na comunhão fraterna. O beijo se faz gesto de acolhida: na liturgia de ordenação, os que foram ordenados diáconos e presbíteros são beijados pelo bispo, assim como pelos demais ministros ordenados (isto se dá conforme os costumes locais, de acordo com a tradição cultural); na confirmação, o bispo beija os crismados (a critério das conferências episcopais); no matrimônio, os esposos beijam-se em sinal de amor e aliança; na liturgia com o rito da profissão religiosa, o beijo aos neoprofessos (conforme o costume das famílias religiosas). Que a autenticidade e a dignidade do gesto de beijar em âmbito litúrgico seja a feliz comunicação da vida que brota da nova e eterna Aliança em Cristo Jesus!

Fr. José Moacyr Cadenassi

Franciscano capuchinho, letrista, cantor, consultor de liturgia, apresentador de rádio e agente de ecumenismo e diálogo inter-religioso



ECONOMIA POLÍTICA

TEMPOS ESTRANHOS

E

stranhos estes tempos da pós-verdade de que se cercam pessoas no e com poder. Pós-verdade que se constrói com base em dados e fatos manipulados pela mídia e academia de mercado de forma a deslegitimar todo e qualquer debate em torno do contraditório e de formas distintas de tratar temas de interesse coletivo.

Foi assim na construção da narrativa para que tornasse ‘legal’ o golpe na democracia em 2016. Tem sido assim desde então com o congelamento do teto de gastos em educação, saúde, seguridade social, dentre outros; com o desmonte da legislação trabalhista; com a entrega aos interesses da financeirização mundializada do patrimônio natural e tecnológico do País.

De forma semelhante, tem sido o uso da pós-verdade pelo governo com apoio da mídia e da academia de mercado, na construção de discurso em torno de sua proposta de reforma da previdência. Discurso vazio de conteúdo e pleno de argumentos baseados em números ditos confidenciais, de ameaças veladas e de compras explícitas de apoio de parlamentares.

Diante da aridez de argumentos e de falta de preparo para o exercício de governar dos atuais ocupantes do executivo e de sua base no legislativo, representa luz a mensagem ao povo brasileiro encaminhada pela CNBB em 07 de maio passado. Sua leitura na íntegra é mais do que recomendável para quem busca no exercício da fé a construção de um outro mundo possível.

Aqui, valem alguns destaques pertinentes nestes tempos de tentativa de impor um discurso único. Destaque para o chamamento de que “... precisamos ser uma nação de irmãos e irmãs, eliminando qualquer tipo de discriminação, preconceito e ódio. Somos responsáveis uns pelos outros.”... “o poder político e econômico não pode se sobrepor a esses

direitos sob o risco de violação da Constituição.” Em outro trecho enfatiza que “…as necessárias reformas política, tributária e da previdência só se legitimam se feitas em vista do bem comum e com participação popular de forma a atender, em primeiro lugar, os pobres.”... “nenhuma reforma será eticamente aceitável se lesar os mais pobres. Daí a importância de se constituírem em autênticas sentinelas do povo as Igrejas, os movimentos sociais, as organizações populares e demais instituições e grupos comprometidos com a defesa dos direitos humanos e do Estado Democrático de Direito.” Que assim seja. Que a solidariedade entre seres viventes e a cumplicidade de todas as forças vivas do País pela construção de uma Nação soberana e inclusiva vençam os sinais de barbárie que surgem por todos os lados de um Brasil que se arma demais e ama de menos.

Arlindo Villaschi Professor de Economia arlindo@villaschi.pro.br

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ARQUIVO E MEMÓRIA Construção do Santuário de Santo Antônio.

SANTO ANTÔNIO TAMBÉM É PADROEIRO DA CIDADE DE VITÓRIA A Paróquia de Santo Antônio foi erigida em 22 de maio de 1951 por decreto Canônico de Dom Luiz Scortegagna, o 4º Bispo Diocesano do Espírito Santo. Seu primeiro pároco, padre Mateus Panizza, tomou posse no dia 13 de junho do mesmo ano, dia dedicado ao santo.

Essa paróquia, desde seu início, foi entregue à Congregação dos Padres Pavonianos, que em 1956, a pedido do Bispo Diocesano Dom José Joaquim Gonçalves, começaram a construção do Santuário em honra a Santo Antônio, já que a antiga igrejinha não comportava mais o número de fiéis.

O projeto arquitetônico do templo foi do polonês Estanislau Zasbruen e a base do Santuário foi feita em forma de cruz grega. O San38

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tuário possui também uma imponente cúpula central e quatro semicúpulas em suas laterais, tendo a construção sido inspirada na arquitetura renascentista da igreja de Nossa Senhora da Consolação, em Todi, na Itália, construída no século XVI. O mestre italiano Alberto Bogani foi convidado para pintar os afrescos no interior do templo e outro artista, também italiano, Carlos Crépaz foi responsável pelos vitrais e pelas esculturas. Quinze anos depois


Procissão com a imagem de Nossa Senhora da Vitória e Santo Antônio comemorando o decreto do Papa Pio XII, que declarou os dois santos padroeiros da Cidade. Como o dia estava chuvoso cobriram a imagem com um plástico.

Dom Luiz Scortegagna abençoando a pequena capela dedicada a Santo Antônio que em 1951 seria elevada a paróquia.

de iniciadas as obras, o Santuário de Santo Antônio foi inaugurado oficialmente pelo Arcebispo Dom João Batista da Mota e Albuquerque.

Antes de nossa cidade se chamar Vitória, chamou-se Ilha de Santo Antônio, santo que sempre esteve muito presente na religiosidade do povo. No início da década de 1950, um plebiscito foi organizado por autoridades religiosas e políticas e enviado à Santa Sé, pedindo que Santo Antônio também fosse declarado padroeiro da nossa capital. Quatorze mil assinaturas foram recolhidas na época, e em 2 de outubro de 1956, o

Papa Pio XII, confirmou através de decreto que Santo Antônio e Nossa Senhora da Vitória eram, juntos, padroeiros da Cidade.

Testemunhas daquele tempo e pesquisas do padre pavoniano Gabriel Crisciotti, revelam que Dom José Joaquim Gonçalves, ao ser informado sobre o decreto enviou cartas às paróquias propondo que durante a programação dos festejos as imagens de Nossa Senhora da Vitória e a de Santo Antônio, visitassem as paróquias de Vitória e recebessem as honras devidas. Para isso planejou uma Semana Comemorativa da Oficialização pela Santa Sé dos Gloriosos Padroeiros de Vitória: Nossa Senhora da Vitória e Santo Antônio, realizada de 09 a 16 de dezembro de 1956.

Em 11 de agosto de 2008, um decreto Canônico da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, organismo da Santa Sé, em Roma, elevou o Santuário de Santo Antônio à dignidade de Basílica Menor, tornando-o a primeira Basílica do Estado do Espírito Santo. Em 2010 a Basílica-Santuário foi tombada como patrimônio histórico municipal de Vitória.

Os padres Pavonianos trabalharam incansavelmente para construir o Santuário e para atender no campo espiritual e social, os moradores da região. Administravam uma livraria no Centro de Vitória, fundaram também uma gráfica e abriram as portas para oferecer aos jovens carentes de Vitória cursos profissionalizantes.

Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc



FLASHES DO COTIDIANO

ESCOLA PARA QUÊ? Chegando à casa da minha mãe me deparei com o seguinte diálogo dela com o meu sobrinho:

- Não está na hora de ir para a escola? - Não quero mais ir para escola não...

- Como assim menino? Não existe não querer ir para escola. - Mas para quê, vó? - Para aprender, entrar em uma universidade e ter uma boa profissão. - Universidade só tem balburdia. - Onde você aprendeu isto menino. Sabe o que é balburdia? - Não. - Se estudasse saberia... - Mas meu avô nunca estudou e sempre trabalhou... - Os tempos eram outros... e a vida dele seria mais fácil se ele tivesse estudado. - Tem um monte de coisa que eu posso fazer sem precisar estudar. - Mas tem um monte de emprego que você pode ter se estudar. - Nem sei com o que quero trabalhar, vó. - Então, mas se você não estudar, estará abdicando de muita escolha que poderia ter depois. Vai fechar muita porta... - Abdicar? - Ai... volta para a escola, menino. - Já sei, vou ser gamer. - O que é isto? - Viu, vó? Você estudou tanto e não sabe. - Santa paciência, menino. Ninguém sabe tudo. - Então, para que escola? - Para não ser aquela pessoa que não sabe quase nada. - Me dê uma boa razão vó... - ... Sabe de uma coisa? Não vou dizer a resposta dela. Me diga você o que diria. Até a próxima.

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CAMINHOS DA BÍBLIA

A TRANSFORMAÇÃO DO MUNDO EM CRISTO :

“Eis que faço Novas Todas as Coisas!” (Ap 21,5)

A grande novidade que Jesus traz no Quarto Evangelho é o caminho do Amor Fraterno, que nada mais é do que a manifestação da Glória de Cristo no mundo. De fato, a Glória de Deus é a manifestação visível do Deus invisível, isto é, a sua ação salvífica na história dos homens. Segundo a afirmação do Evangelho, Jesus é a manifestação plena do Pai, a imagem visível

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Imagem: Christ of Saint John of the Cross, 1951, de Salvador Dalí.

A

grande promessa de transformação do Mundo inteiro marca decisivamente a vida da Comunidade dos Discípulos Missionários, que é chamada a ver os sinais da novidade de Cristo na história. Por vezes, esses sinais ainda em gérmen, ou seja, pequenos e frágeis estão escondidos entre os muitos sinais de morte e exclusão que ainda predominam no mundo. Porém, apesar de pequenos, tais sinais já estão presentes na vida de muitos homens e mulheres, bem como na força viva das Comunidades Eclesiais de Base espalhados pelas cidades e campos. Todos que marcados pela novidade da Ressurreição de Cristo vivem como novas criaturas, buscando no Senhor a profunda renovação de suas vidas e a força e a coragem para promoverem a renovação do mundo inteiro. Estão inseridos na sociedade e são chamados a multiplicar os sinais da ressurreição, os sinais da vida nova em Cristo, por meio do seu compromisso de Fé e, sobretudo, por um Amor Renovado.


CAMINHOS DA BÍBLIA

do Deus invisível, que continua agindo na vida dos homens, em vista de sua salvação e libertação. Algo que se manifestou de forma plena em sua Cruz, momento de sua total glorificação, segundo as palavras do evangelista. A Cruz de Cristo é a imagem concreta de um amor que doa a própria vida, capaz de chegar até as últimas consequências, para a salvação da humanidade. Desse modo, a Glória de Deus se manifesta no amor de Cristo por toda a humanidade, o que faz com que todo gesto de amor, seja uma manifestação gloriosa do Senhor.

Ao indicar o Caminho do Amor Fraterno aos seus discípulos, Jesus o apresenta como a ação gloriosa do Reino de Deus e como a fonte da vida da Igreja, por ser o amor a sua língua e o seu idioma. Ele envia os discípulos com a força do seu amor e os chama a viver esse amor no dia a dia, como um modo novo de vida que nasce a partir de Sua entrega na Cruz. Não somente um amor de palavra, mas, sobretudo, uma atitude concreta, algo que faz do cristão alguém capaz da doação total de sua vida. Um empenho sincero e constante na promoção da vida, no seu resgate, uma atitude de amor capaz de mover os corações na direção dos que mais precisam. O Amor Fraterno é a fonte da grande novidade mencionada no Evangelho e que encontra

no texto do Livro do Apocalipse a sua confirmação, quando se ouve nos lábios Daquele que venceu a morte, o próprio Jesus, as seguintes palavras: “Eis que faço novas todas as coisas”. A grande novidade do Reino está nesse amor, que vai além dos limites estabelecidos e faz surgir, nessa terra, um novo modo de vida, próprio dos discípulos e discípulas missionários do Senhor.

Não é por acaso que nas últimas páginas e palavras da Sagrada Escritura encontra-se descrito o mundo como deve ser, em seu contínuo movimento de renovação. Segundo a apresentação do novo céu e de uma nova terra, como uma realidade renovada pela presença de Cristo e como algo que continua a acontecer na história, por meio das mãos operosas dos cristãos.

A Nova Jerusalém Celeste é apresentada no Livro do Apocalipse como uma cidade, como o lugar da convivência humana, do mundo humano, numa indicação clara de que não somente o mundo é renovado, mas, também o é a humanidade inteira. Sendo assim, segundo as palavras da Igreja contidas na Constituição Conciliar Gaudiun et Spes, a esperança do Reino futuro não deve fazer com que

os homens não se preocupem com o mundo presente, mas, ao contrário, deve incentivá-los na busca de sua inteira renovação.

O amor de Cristo manifestado aos seus discípulos e à humanidade inteira, por meio de sua Morte na Cruz, torna-se o caminho único para a renovação de todo o universo. O mundo será transformado por meio de atitudes concretas de Amor Fraterno, que devem marcar a vida de todos os cristãos. Assim se apresenta a proposta de Jesus a todos os cristãos, um caminho de crescimento e amadurecimento no amor, que vai até as últimas consequências, a fim de criar uma realidade nova. A plenificação do mundo passa pela renovação de uma esperança comunitária, da passagem de um mundo marcado pelo individualismo e pela exclusão dos mais pobres, para a construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária. Sendo assim, a mudança dos valores deve ser algo a ser perseguido com insistência, pois, somente marcados pelo amor criativo de Cristo, os cristãos, os homens e mulheres de boa vontade serão capazes de atuarem na construção da Casa Comum para a humanidade inteira, da Jerusalém Celeste, dos novos céus e nova terra, onde todos terão lugar.

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza Professor de Sagrada Escritura no IFTAV e Doutor em Sagrada Escritura


FAZER BEM

ADOLESCENTES QUE VIVEM EM ABRIGO GANHAM FESTA DE DEBUTANTE Dezesseis adolescentes, entre 14 e 16 anos, que perderam suas casas e vivem em um abrigo temporário, em Fortaleza, Ceará, tiveram a chance de ver realizado o sonho de muitos jovens: ganhar a tradicional festa de 15 anos.

Os meninos e meninas da ONG Casa Abrigo, puderam celebrar o momento ao lado dos familiares e amigos, escolher o terno ou o vestido, a maquiagem, os acessórios e decidirem também qual seria a dança e playlist da festa. Tudo aconteceu graças ao grupo Abraço de Criança, que há três anos apadrinha os acolhidos pelo abrigo.

ARTESÃ TRANSFORMA GUARDA-CHUVAS QUEBRADOS EM SACOS DE DORMIR PARA MORADORES DE RUA Guarda-chuvas quebrados são transformados em sacos de dormir para pessoas em situação de rua. A ideia é da artesã Clara Gomes de Souza e surgiu quando ela viu um homem dormindo com muito frio em uma das ruas de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. A mulher uniu a habilidade com artesanatos e a vontade de ajudar o próximo. “Quando o

morador de rua recebe esse carinho, de ganhar um saco

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quentinho para ele dormir, ele se sente visto. É isso que eu acho importante, a gente ter um olhar para o outro”, disse Clara.

A artesã já conseguiu ajudar mais de 100 pessoas, entre elas, crianças e adultos. Ao fazer uma postagem sobre a boa ação nas redes sociais, mais de um milhão de pessoas visualizaram, curtiram a ideia e se dispuseram a ajudar também.

MÉDICO DO SUS SURPREENDE PACIENTES A fome era uma reclamação frequente das pacientes do ginecologista Genilson Gomes Carneiro Filho, que atende pelos SUS em São Fidélis, no Rio de Janeiro, e diante da situação recorrente o médico resolveu oferecer um café da manhã e lanche para suas pacientes. O ginecologista disse que elas chegam cedo para pegar a ficha e os atendimentos só acabam à noite. Os cafés e lanches são financiados pelo ginecologista que afirma: “Me formei médico pa-

ra atender com amor”.


FAZER BEM

VOLUNTÁRIOS TRANSFORMAM TECIDOS USADOS EM ROUPAS PARA CRIANÇAS CARENTES Transformar tecidos usados em roupas novinhas para crianças carentes é o objetivo de um grupo de voluntários de Curitiba. Os tecidos são fronhas, lençóis camisas e calças sociais adquiridos através de doações e as roupas são confeccionadas pelos próprios voluntários. Mais de 500 crianças já foram ajudadas pelo projeto que começou em 2016 e as entregas das produções já foram feitas em Porto da Folha (SE), Chapadinha (MA) e em Moçambique, na África.

Para Clara Maria Gabardo, a criadora do grupo, a recompensa do trabalho é ver o sorriso no rosto das crianças.

“A experiência de doar é profunda porque as crianças vivem em estado de extrema pobreza, muitas em meio ao lixão. O sorriso delas recompensa tudo, algumas ficam horas olhando para as roupinhas. Muitas nunca ganharam carinho, quem dirá uma roupa nova”, contou.

EMPRESÁRIO BRASILEIRO AJUDA VENEZUELANOS QUE CHEGAM NA FRONTEIRA O empresário Carlos Wizard Martins recebe e ajuda a transportar para diversas cidades do país, venezuelanos que chegam ao Brasil.

Desde agosto do ano passado, Carlos e sua esposa Vânia, montaram uma base em Boa Vista, Roraima, para acolher os migrantes. O casal dedica grande parte do tempo recebendo os venezuelanos e os encaminhando para cidades onde, com a ajuda de uma rede de apoio, são inseridos no mercado de trabalho.

Carlos também investe dinheiro na causa e já chegou a fretar um avião para levar venezuelanos para outros Estados do Brasil, onde eles passaram a trabalhar. “O que existe

é um recurso pessoal. Nós compramos passagens no Brasil para que eles sigam de Roraima para outras cidades. Chegamos a fretar um voo com 118 passageiros na época do Natal. Tem sido muito gratificante ajudar essas pessoas”, afirmou.

PROJETO DE ALFABETIZAÇÃO LEVA GARIS PARA SALA DE AULA EM BRASÍLIA

Através do projeto filantrópico “Alfabetização Cidadã”, garis que não tiveram a chance de estudar no passado, estão tendo essa oportunidade agora. O projeto surgiu de uma parceria entre a empresa que os garis prestam serviço, a Sustentare Saneamento e a Universidade Católica de Brasília (UCB).

A iniciativa nasceu em 2014, quando a empresa notou que alguns funcionários tinham dificuldade para entender os comunicados. Um levantamento feito pela própria Sustentare mostrou que 60% de seus 2,7 mil funcionários são analfabetos ou não concluíram o ensino primário. Além de atender as necessidades da empresa em capacitar os profissionais da limpeza para melhor entendimento do trabalho, muitos garis estão tendo a chance de descobrir um mundo novo por meio da leitura e da escrita. junho 2019

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ACONTECEU

ENCONTRO ANUAL DE FORMAÇÃO DOS PRESBÍTEROS

ENCONTRO PROVINCIAL DA PASCOM

Padres e bispos das dioceses do estado estiveram reunidos de 13 a 16 de maio em Domingos Martins para o encontro anual de formação dos presbíteros. Este ano o tema foi “Ceb’s para uma Igreja em saída – dimensão sociopolítica missionária e animação das comunidades” e além de ter sido um momento de partilha e encontro fraterno, o retiro foi também uma oportunidade para uma reflexão teológica pastoral.

O Centro Católico de Estudos recebeu no dia 25 de maio os participantes do primeiro Encontro Provincial da Pascom. O evento surgiu como uma necessidade apontada pelos próprios agentes de comunicação para estreitar vínculos, trocar experiências e consolidar a caminhada pastoral já iniciada. Além disso, o encontro também foi um momento para celebrar o 53º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que este ano acontece no dia 2 de junho, e refletir sobre o tema: “Somos membros uns dos outros’ (Ef 4, 25): das comunidades de redes sociais à comunidade humana”.

Eclesiologia da Província Eclesiástica, análise de conjun-

tura político-social e eclesial, e Igreja em saída, foram os assuntos abordados pelos palestrantes que finalizaram as reflexões com uma mesa redonda tendo a presença de Dom Geraldo Lyrio Rocha, padre Juliano Ribeiro e o Sociólogo Pedro Ribeiro. A participação dos padres, segundo o Arcebispo de Vitória, Dom Dario Campos, foi fantástica. “O número de padres que participaram do evento foi muito expressivo e suas colocações e reflexões muito proveitosas”, afirmou.

ENCONTRO DE ARTICULAÇÃO Também no dia 25 de maio aconteceu o Encontro de Articulação da Pastoral da Educação na Província Eclesiástica do Espírito Santo. O evento, organizado pela Equipe Executiva da Pastoral da Educação do Regional Leste 2, foi realizado no salão Pe. Gabriel, na Mitra Arquidiocesana de Vitória. Na ocasião foi feito um estudo detalhado do Documento 110 da CNBB “Pastoral da Educação: Estudo para Diretrizes Nacionais” e traçadas ações para organizar e articular o trabalho pastoral no Estado.




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