Ano XII | Nº 153
| Maio de 2018
REVISTA DA ARQUIDIOCESE DE VITÓRIA - ES
A busca do pág. 16 símbolo perdido Especial - 38
Entrevista - 34
Reportagem - 05
Uma análise sobre o porte de arma ao cidadão
Cantando a gente Aprende a transformar
A lembrança de um Brasil que não queremos
EDITORIAL
TESTEMUNHAR A FÉ A corrida eleitoral já deu sinal de partida e, se ainda existem indecisões ou indefinições o fato é que nem os mais otimistas olham com confiança para a eleição de 2018. Faltam líderes, faltam propostas, faltam perfis de candidatos apaixonados pela nação e pelo povo. Sobram discursos enganosos e radicalismos extremos que na prática não introduzem nenhuma mudança expressiva para a realidade que está posta. A classe política está desacreditada e em casos como este a tendência das pessoas é procurar alternativas radicais, que façam rupturas com o modelo que não satisfaz. Por onde seguir? Esta edição propõe algumas reflexões para o momento atual tanto do ponto de vista religioso quanto civil, afinal a fé só existe em humanos que estão inseridos na realidade atual e é nela que faz sentido ter e testemunhar a fé. Boa leitura!
Maria da Luz Fernandes Editora
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ESPE CIAL DIÁLOGOS 24
Porte de arma ao cidadão comum.
38 ATUALIDADE 16
05. Reportagem 11. Espiritualidade 13. Economia política 14. Fazer bem 21. Catequese 22. Ideias 27. Aspas 28. Caminhos da bíblia
31. Pensar 33. Sugestões 34. Entrevisa 36. Mundo litúrgico 40. Viver Bem 42. Lições de Francisco 44. Acontece 46. Arquivo e memória
Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela – Bispo Nomeado de Bauru: Dom Rubens Sevilha – Editora: Maria da Luz Fernandes / 3098-ES – Repórter: Andressa Mian / 0987-ES – Conselho Editorial: Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Vander Silva, Lara Roberts, Marcus Tullius e Rômulo Benha – Colaboradores: Pe. Andherson Franklin, Arlindo Vilaschi, Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Fr. José Moacyr Cadenassi- Revisão de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin – Publicidade e Propaganda: vlorenzetto@redercres.com.br – (27) 3198-0850 Fale com a revista vitória: mitra.noticias@aves.org.br – Projeto Gráfico e Editoração: Blend Criativo - Designer: Gustavo Belo - Impressão: Gráfica e Editora GSA – (27)3232-1266.
REPORTAGEM
A LEMBRANÇA DE UM BRASIL QUE NÃO QUEREMOS
O
conturbado momento político do Brasil, faz com que alguns pensem em repetir experiências que, na visão de grande maioria e de todos os nossos entrevistados, traria ao país novamente os desrespeitos às pessoas e cerceamento da liberdade. O país vive algumas semelhanças com o período pré-ditadura militar, que teve início com o Golpe 1964 e durou mais de 20 anos. Naquela época havia um governo enfraquecido e um parlamento extremamente conservador, denúncias de corrupção, uma imprensa conivente e manipuladora agindo em concordância com o governo. Também havia manobras para tentar conter o crescimento da oposição no país e o clamor de alguns grupos para que os miliares tomassem o poder, com a justificativa que somente eles colocariam ordem no país. Os brasileiros estão assustados e a aparente apatia da população gera um clima de insegurança e de desorientação. Um apelo pelo retorno dos militares ronda o Brasil. Pesquisa de opinião realizada em dezembro de 2017 pelo Instituto Paraná Pesquisas mostrou que 43, 1% dos brasileiros defendem a volta da intervenção militar. O apoio à volta do regime militar é maior entre os
jovens de 16 a 24 anos, chegando a 46,1% e menor entre os mais velhos, de 60 anos ou mais, com 37,2%. Para entendermos o que se desenrola no atual contexto, é necessário relembrarmos a história a partir do Golpe Civil e Militar de 64, um golpe apoiado pela sociedade civil, por donos de veículos de comunicação, empresários, pelo governo dos Estados Unidos, pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e por setores conservadores da Igreja Católica, que em nome do combate ao Comunismo e à corrupção, e em nome de Deus e da família, defenderam a tomada do poder pelos militares, com a destituição do presidente João Goulart. Na época Jango pretendia realizar diversas reformas no Brasil, como a reforma agrária, a reforma política, a urbana, a bancária e a universitária, e tal situação não agradava os interesses dos grupos dominantes. O que se viu depois da tomada do governo pelos militares foi uma sequência de atos desumanos, conhecidos como Atos Institucionais (AI), que afetaram toda a sociedade, deixando sequelas físicas e psicológicas nos brasileiros, além de muitos mortos e desaparecidos. O AI 5, instalado em dezembro de... maio/2018 | vitória | 05
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1968 durante o governo do general Arthur da Costa Silva, foi considerado o mais perverso, concedendo ao general e a seus sucessores poderes absolutos como o direito de pôr em recesso, por tempo indeterminado o Congresso Nacional, as Câmaras de Vereadores e Assembleias Legislativas. Com isso, o Poder Executivo ficou autorizado a legislar em todas as matérias e a exercer todas as atribuições previstas nas Constituições e nas Leis Orgânicas dos Municípios. Foi neste período que se acirraram as perseguições políticas e qualquer manifestação, reunião e até mesmo um encontro entre amigos poderia gerar desconfiança e acabar em prisão, tortura e morte. Estudantes, intelectuais e engajados políticos, foram as principais vítimas do sistema que contestavam. Um clima de terror se instalou no país e os brasileiros foram impedidos de votar, de emitir opiniões sobre o regime, e até mesmo de sair de casa após determinado horário. A imprensa e a classe artística sofreram perseguições e censura. Em 2014, depois de dois anos e sete meses de trabalho, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) confirmou, em seu relatório final, 434 mortes e desaparecimentos de vítimas da ditadura militar no país. O documento comprovou a prática sistemática de detenções ilegais e arbitrárias, tortura, execuções, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres por agentes do Estado brasileiro da época. No Espírito Santo não era diferente, lembramos aqui que a prisão e a tortura aconteceu para um grupo de jovens de Colatina que participavam da Igreja de Vila Lenira no qual, além do estudo do Evangelho eram feitas discussões sobre a realidade social. Renato C. Gama era um desses jovens. “Era um grupo sem nenhuma pretensão de reação ao sistema, apenas discutíamos temas sociais, mas 06 | vitória | maio/2018
fomos denunciados por ligações ao comunismo. Fomos presos e sofremos todo o tipo de tortura psicológica possível. Nada foi provado contra nós, mas o fato trouxe repercussões que levamos para toda a vida”, relata. A lembrança deste período também é difícil para Perly Cipriano, que foi preso e torturado neste período, cumprindo uma pena de 10 anos após ser julgado e condenado por subversão. Fui preso três vezes, a terceira no Nordeste, sendo condenado a 94 anos e oito meses de prisão. Passei por muitas prisões e a última foi o ...
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‘‘...temos que destacar o papel da Igreja no Espírito Santo, que nas figuras de Dom João Batista da Mota e Albuquerque, Dom Luiz Gonzaga Fernandes e Dom Aldo Gerna realizaram uma grande luta em favor dos direitos humanos, da liberdade de expressão, contra a tortura e contra a desigualdade social vividos no regime.’’
Complexo Penitenciário Frei Caneca,.no Rio. Foram anos terríveis, com maus tratos, tortura e nenhuma dignidade. Quando eu saí da cadeia, no terceiro dia, voltei para a militância. Eu só pensava nisso, em continuar a luta contra o regime”, conta. A professora de História do Instituto Federal do Espírito Santo e mestre em História Política pela Universidade Federal do Espírito Santo, Dinorah Lopes Rubim Almeida, explica que após o golpe, a reação passou a acontecer quando as bases sociais se organizaram, e é o que vem acontecendo no Brasil novamente. “Contra a forte repressão do regime surge a luta armada, organizada de maneira muito forte em várias partes do Brasil, inclusive no Espírito Santo, na região do Caparaó. No entanto, esta reação não consegue atingir o objetivo, que era de derrubar o governo. Em 1975 a gente começa a organizar outro tipo de resistência à ditadura, a chamada resistência democrática com a participação do movimento estudantil, da imprensa alternativa, das associações de moradores, da associação de profissionais liberais, do movimento sindical, dos movimentos sociais, da classe artística, do movimento feminista, e também da Ordem dos Advogados do Brasil e da Igreja Católica, que ao verificar as atrocidades do regime começaram a combatê-lo. Aqui temos que destacar o papel da Igreja no Espírito Santo, que nas figuras de Dom João Batista da Mota e Albuquerque, Dom Luiz Gonzaga Fernandes e Dom Aldo Gerna realizaram uma grande luta em favor dos direitos humanos, da liberdade de expressão, contra a tortura e contra a desigualdade social vividos no regime. A mestre em História Social das Relações Políticas pelo Programa de Pós Graduação em História da Ufes, Erilaine Ribeiro da Silva, teve acesso aos arquivos da Delegacia de Ordem Político Social... maio/2018 | vitória | 07
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(DOPS), e é enfática ao afirmar que a atuação eclesial destes bispos incomodou o regime. Segundo seus levantamentos, Dom João, chegou a ser taxado como elo de vários movimentos no estado. Ela concluiu que as comunidades Eclesiais de Base (CEBs) deram sustentabilidade a muitos movimentos que ainda hoje lutam a favor dos direitos humanos e de igualdade social. “Em meio a esse tempo de intolerância e a essa ameaça à
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democracia que estamos novamente vivendo, é importante frisar a postura que a Igreja teve. O legado incansável de lutas dos bispos repercute não só nas comunidades eclesiais, mas também nos Centros de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH), na luta por liberdade de expressão, nas pastorais sociais que ainda mantém reflexões, na luta das mulheres, e principalmente, repercute na ideia que a gente tem hoje de ditadura nunca mais”,
comenta. Ainda dentro deste contexto de atuação da Igreja no Estado, 12 jovens foram convidados por Dom João para trabalhar no Centro de Documentação da Arquidiocese de Vitória (Cediv), atuando nas áreas social, econômica e política, orientando a Arquidiocese de Vitória nessas áreas e produzindo material que eram usados nas formações dos leigos..... “Dom Luiz Fernandes era um gênio. Ele sabia que esta atitude...
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ajudaria a criar uma consciência política nas pessoas mais simples. O Cediv produzia cartilhas informativas para esta função. Então, quando os bispos lançaram a cartilha nacional “Exigências cristãs para uma ordem política”, em 1976, nós a lançamos em linguagem popular em 1977, aqui. A Arquidiocese lançou também o manual do eleitor, que começava a desenhar o papel do cristão na política, e as pessoas começaram a entender a importância de escolher o programa dos partidos, de analisar esses programas, de conhecer as histórias e os projetos dos candidatos”, comenta Dante Pola. Para Dante, a Igreja de Vitória produzia um arsenal teórico e teológico voltado para o Evangelho com grande poder de conscientização política, econômica e social. O ex-deputado Claudio Vereza afirma que a resposta ao trabalho da Igreja de Vitória, acontece quando começam a aparecer por todos os lados os movimentos populares de bairro e os grupos de oposição na área sindical e urbana. “Por exemplo, a Comissão Pastoral da Terra se organiza a partir desse trabalho. Com relação à
‘‘A resistência é demorada, é construída, o processo é lento, mas ela acontece de boca a boca, dentro das universidades, dentro de movimentos. Devemos ter a atitude da não conformidade, mas não é simplesmente ir para a rua desordenadamente. Isso tem que ser muito bem organizado.’’ Pastoral Operária, o Cediv foi responsável pelos primeiros boletins e informativos. A partir desse trabalho iam surgindo os grupos de oposição sindical para tomar as diretorias dos sindicatos
rurais, que teve início com os trabalhadores rurais de Colatina, e urbanos, que começa com a construção civil. O movimento foi pegando força e foi se desenvolvendo”, conta. Renato lembra que o Movimento Pela Moradia, muito forte em Vila Velha, foi outro retorno do trabalho começado pela Igreja. “A vinda de trabalhadores do interior do Espírito Santo para trabalhar na construção dos complexos industriais que chegavam ao estado colaborou para a problemática da moradia e para um grande problema social. Milhares de pessoas vinham para a Grande Vitória à procura de emprego e não tinham lugar para morar” lembrou Renato. Pela atuação em todas essas frentes, Dante afirma que, no ES a redemocratização passou quase que integralmente pela Igreja Católica. “Para a Comissão de Justiça e Paz, Dom Luiz Fernandes chamava até pessoas que não eram ligadas a Igreja, muitas nem tinham religião, mas ele chamava, pois era uma luta do ser humano. Isso foi fundamental aqui”, afirma. Na opinião da professora Dinorah, a atuação de todas essas frentes que se organizaram com a ajuda da Igreja em várias partes do Brasil, e que a partir de 1975 se unem aos estudantes e tomam as ruas, colaboraram fortemente para o fim da ditadura e para a conquista da democracia. “Não podemos dizer que esta resistência democrática conseguiu tudo que queria, porque todo o processo de abertura política no Brasil, foi dominada pelos militares. No entanto, não podemos menosprezar esses movimentos que exerceram muita pressão. A anistia não foi a anistia sonhada e planejada, pois era esperado que acontecessem eleições através do voto direto em 1985 e ela não... maio/2018 | vitória | 09
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acorreu, mas todo esse movimento teve um certo peso histórico. Esse reflexo se dá em 1988 com muitas reivindicações desta resistência sendo incorporadas à Constituição”, observa. Com relação ao atual momento político do Brasil, a professora Dinorah afirma que há novamente um golpe. Mas, destaca que a resistência contra tudo isso está acontecendo também, com as bases sociais se organizando e acrescenta “seria muito bom ver o povo de novo na rua”. Segundo Perly Cipriano a população ganhou certo grau de consciência e quem conquista direitos não quer perdê-los. Também para ele a reação contra tudo o que tem ocorrido no Brasil está em andamento, mas é lenta e por isso é necessário paciência. Dante também vê esperança, mesmo que as circunstâncias pareçam dizer o contrário. “Esses movimentos que a gente vê nas praças, que chamamos de a turma da poesia marginal, a turma da periferia, coisas que os jovens da periferia têm feito por aí, e que muitos de nós não está nem sabendo, também surtirão efeito. O pessoal que se expressa através da arte, da música, da poesia também está passando seu recado”, comentou. A reação acadêmica, segundo Dinorah, já começou. Quatorze universidades brasileiras estão oferecendo o curso “O Golpe de 2016”, para ela é de grande importância que os historiadores se mobilizem, abrindo uma discussão, esclarecendo fatos e explicando como o golpe foi articulado para chegar ao impeachment da presidente Dilma em 2016. Em sua opinião, isso também contribui para que os movimentos estudantis e os diretórios acadêmicos se organizem, queiram resistir, queiram conflitar, queiram debater. “Está tendo muito debate nas universidades e é
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claro que isso não está sendo divulgado pela grande mídia, porque isso alerta e informa a população”, comenta Dinorah. Para ela, o que precisa acontecer agora é que os movimentos sociais, estudantis e associações de base se politizem ainda mais, e é necessário tempo, talvez um tempo que não temos paciência para esperar. “A resistência é demorada, é construída, o processo é lento, mas ela acontece de boca a boca, dentro das universidades, dentro de movimentos. Devemos ter a atitude da não conformidade, mas não é simplesmente ir para a rua desordenadamente. Isso tem que ser muito bem organizado” defende. Quanto ao apoio de parte dos brasileiros à volta do militarismo, a professora é enfática em dizer que temos uma sociedade ainda muito conservadora, que não aceita mudanças, e por isso, essa mentalidade de que os militares resolveriam o problema. “Sabemos que eles não resolvem nada. Como políticos nós sabemos que eles foram cruéis em todos os países que atuaram como governantes. Não acredito que eles venham a tomar o poder, porque Temer não é bobo e fez logo um acordo com os militares colocando-os na intervenção do Rio de Janeiro para tentar se aproximar deles e evitar que agissem contra o Estado. O que está faltando mesmo é conhecimento por parte dos brasileiros de saber, de conhecer a própria história. Eu como professora de história lamento profundamente que essa ignorância venha a se espalhar pelo país.”, conclui.
Andressa Mian Jornalista
ESPIRITUALIDADE
SUA VIDA TEM SENTIDO?
A
vida não é fácil pra ninguém, mas para quem tem fé, ela é bem menos complicada. Por exemplo, toda pessoa em algum momento da vida vai se perguntar: Por que eu nasci? Qual o sentido da vida? Como viver o dia a dia? O que é essencial ou secundário? O que é certo ou errado? Na realidade são somente duas as questões fundamentais para o homem: qual o sentido da vida, isto é, onde ela vai terminar; e a segunda é o que fazer no dia a dia entre o berço e o túmulo, ou seja, ter um sentido na vida. Para nós que cremos ambas as questões são claras e definidas. Quanto ao sentido do final da existência a resposta é simples e direta: o final da nossa existência é o céu, a vida eterna. Porém, é
Obs. O Papa Francisco nomeou-me bispo diocesano de Bauru – SP, por isso encerro minha participação na Revista Vitória. Se algum artigo que escrevi lhe fez bem peço-lhe, como pagamento, duas coisas: agradeça a Deus e reze por mim.
inútil querer entender e explicar com palavras humanas como será o céu. Simplesmente cremos. O dom da fé exige de nós uma boa dose de humildade, inclusive humildade intelectual. O orgulho intelectual do homem moderno é um dos empecilhos à fé. Quem não acolhe e não cultiva o dom da fé, caminha na vida sem rumo exatamente como um andarilho de beira de estrada: caminha o dia inteiro de lugar nenhum para lugar algum! Logo ela vai se cansar de caminhar e desanimar. Quando a maturidade, a velhice e a morte vão se aproximando, cai no desespero. Quanto à segunda questão, isto é, como conduzir a vida, a resposta para quem tem fé é também muito simples, podendo ser resumida numa frase: Fazer o bem é o que dá sentido à vida de alguém! Para nós cristãos o que preenche o nosso dia a dia é combater o bom combate em todas e quaisquer circunstâncias, ou seja, seguir Jesus que “passou fazendo o bem” (Atos 10,38). Se você vive angustiado e enrolado perguntandose sobre o sentido da sua vida, trocando os pés pelas mãos, tomando decisões erradas, etc., isso pode ser por dois motivos: falta de fé ou falta do que fazer. Tome a decisão de buscar a Deus e saia da sua preguiça e egoísmo, comece a ajudar toda pessoa que cruzar o seu caminho que, lhe garanto, você vai ser a pessoa mais feliz desse mundo. Faça o teste.
Dom Rubens Sevilha, ocd Bispo nomeado da Diocese de Bauru
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ECONOMIA POLÍTICA
DESAFIOS AO TRABALHO A celebração de primeiro de maio, alude a manifestações em 1886 de trabalhadores na ruas de Chicago, EEUU, reividicando a redução da jornada para oito horas semanais. Ganhou densidade política fora dos Estados Unidos e passou a simbolizar a luta por melhores condições de trabalho e remuneração compatível para trabalhadoras e trabalhadores. Melhorias e ganhos que foram conquistados ao longo de boa parte do século XX através de ações políticas mobilizadas por sindicatos de trabalhadores, com apoio de partidos defensores do estado de proteção social. Ações políticas e apoio de partidos que perderam impacto a partir dos anos 1980 com a ascensão da ideologia neoliberal e do encantamento conservador como as virtudes do mercado globalizado. Mercado globalizado que reduziu preço de bens e serviços às custas da diminuição da participação da massa salarial na renda em praticamente todos os países e de uma exponencial exploração de recursos naturais sem possibilidades de renovação. Massa salarial reduzida pelas possibilidades crescentes de substituição do trabalho humano por processos cada vez mais executados por máquinas. Máquinas que substituem tanto a mão de obra em esforços repetitivos quanto cabeças pensantes em serviços baseados no processamento de dados vindos de fontes diversas. O salto da produção determinada pelas possibilidades no início do século XX da automação
mecânica – bem caracterizada por Chaplin em 'Tempos modernos' – para aquelas da automação digital é significativo. Salto com implicações sociais intrigantes como mostradas na série 'Black mirror' que fala sobre a forma como a sociedade lida com tecnologias e faz constatações negativas sobre como aquelas disponíveis já impactam muitos. Impactos sociais, culturais e econômicos que deixados por conta do arbítrio do altar do mercado financeiro certamente tenderão à concentração de renda, à alienação política e à exclusão social. Concentração, alienação e exclusão sempre debitadas aos perdedores no chamado jogo de mercado. Entender o que legitima o arbítrio do mercado financeiro – destaque para a ideologia incorporada no que é veiculado pela mídia de mercado e pela academia produtivista – é importante. Importante para que o enfrentamento com o que interessa a uma minoria diminuta de pessoas no mundo, seja feito com a participação de gente comprometida com o bem comum. Bem comum em termos das relações entre humanos e de nós com os demais seres viventes. Bem comum cada vez menos considerado nos discursos e nas práticas de sistemas políticos, sociais e econômicos desenhados e operacionalizados pela classe dominante, em escala global / nacional / local. Desvendar e se opor ao desenho e à operacionalização de políticas voltadas aos interesses maiores da classe dominante são grandes desafio do trabalho nesta segunda década do século XXI.
Arlindo Villaschi Professor de Economia arlindo@villaschi.pro.br
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FAZER BEM
AGRADECIMENTO DE FILHO
Menino dá economias a médico que curou sua mãe de câncer Um menino de 5 anos emocionou o médico que curou sua mãe de câncer. O menino entregou ao médico u m e n v e l o p e co m s u a s economias (45 centavos) e fez um pedido: que o médico usasse o dinheiro em pesquisas para encontrar c u ra p a ra a d o e n ç a . O médico italiano Peter Caldarella operou a mãe do menino que tinha câncer de mama no ano passado.
TRANSFORMANDO PARA MELHOR
Caças níqueis transformados em computadores para crianças Máquinas que eram usadas para o jogo foram transformadas em computadores para crianças carentes. As máquinas caça-níqueis foram apreendidas em cassinos clandestinos no Espírito Santo e seriam destruídas, por serem frutos de apreensões. O Instituto Nacional de Erradicação da Carência Escolar e Social (Ineces), em Vitória, é o responsável pela reutilização das máquinas, vinte delas já viraram três computadores para a sala de informática do projeto social Arca de Noé, em Cariacica. O projeto atende cerca de 70 crianças e adolescentes, que frequentam o espaço quando não estão em aulas.
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“ Esta manhã o filho de um dos meus pacientes de cinco anos deu-me este envelope para agradecer pelo cuidados com sua mãe, e no interior estava suas economias, que ele queria me dar para pesquisa do câncer.” Peter Caldarella, Médico
FAZER BEM
BRAINY MOUSE
Jogo é disponibilizado para estimular e educar autistas Aplicativo para ajudar na inclusão e na alfabetização de crianças autistas é lançado pela brasileira Ana Sarrizo. O jogo Brainy Mouse, trabalha a leitura da esquerda para direita, formação de palavras usando sílabas, interação com cores, sons e outros “dispositivos cognitivos”. Ele auxilia na autonomia desses jovens por meio da escrita e da leitura, disse a criadora do game. “Ele é indicado crianças em fase de alfabetização e que precisam desenvolver interação. Pode ser adotado por profissionais de saúde, professores, pais e cuidadores de crianças autistas”. O jogo estará disponível na Google Play e na Apple Store.
CONTOS À LA CARTE
Caixa automático substitui recibos por contos literários
Uma máquina que disponibiliza contos literários está fazendo muito sucesso pelo mundo. A Short Édition, empresa francesa criou uma espécie de caixa eletrônico para incentivar a leitura. O display da máquina oferece três opções para os visitantes: leitura de um, três ou cinco minutos de duração. Em seguida, um conto é impresso em um papel em formato de recibo de acordo com o tamanho escolhido. As histórias são escolhidas por meio de um concurso virtual onde o escritor interessado envia seu material e um júri escolhe quais contos serão disponibilizados nas máquinas. A ideia é que o aparelho seja levado para outros países e que ocorra um intercâmbio cultural.
HONESTIDADE
Frentista acha bilhete premiado e devolve ao dono. Um frentista do Kansas, nos Estados Unidos, deu uma lição de honestidade. Enquanto trabalhava encontrou um bilhete de loteria premiado, que valia 1 milhão de dólares, e saiu procurando pelo dono para devolvê-lo. Ele verificou se havia o nome do proprietário escrito, mas não estava, o que significa que qualquer um poderia sacar o dinheiro. Mesmo assim, em vez de ficar com o bilhete premiado, o atendente ligou para a loja marcada no recibo para ver se poderiam encontrar o comprador e conseguiu. O dono foi encontrado, ele contou como perdeu o bilhete e ficou muito grato ao trabalhador. maio/2018 | vitória | 15
ATUALIDADE
A BUSCA DO SÍMBOLO PERDIDO
“ Vocês vieram aqui porque querem se casar. Poderiam fazê-lo no civil, mas querem fazê-lo na Igreja, então, por que casar na Igreja? ” Com essas palavras ou semelhantes, um jovem casal foi interrogado no momento do juramento, isto é, um diálogo entre os noivos com o pároco para verificar as predisposições necessárias para assumir o matrimônio religioso validamente. Esta frase por um lado é gravemente errônea; por outra, esconde uma grande verdade. Casar-se no civil não é o mesmo que se casar na Igreja, ao menos não o é para duas pessoas que, tendo sido batizadas na Igreja católica, não a tenham abandonado mediante um ato formal. Desde o Concílio de Trento, 1545, a Igreja estabeleceu que os casamentos dos católicos fossem celebrados, em princípio, na presença de um sacerdote e de duas testemunhas comuns. Daí tornar-se necessário enfatizar que entre 16 | vitória | maiol/2018
católicos não tem o mesmo significado casar-se na Igreja “no Senhor” e casar-se no Estado, perante um seu funcionário. Contudo, um casamento celebrado com todas as bênçãos do bispo e na catedral de uma cidade pode ser perfeitamente nulo, quer dizer, inexistente, caso as partes não se entreguem
reciprocamente, ou seja, deixem de prestar um consentimento interior livre, verdadeiro e real. Um casamento com muito luxo, não só porque se desenrola na catedral e é presidido pelo bispo, mas também porque é celebrado diante de uma multidão de convidados e que se torna público porque dele dão notícia todos os meios de comunicação. Ora, apesar de todas as aparências de que ali começa a existir
um casamento, pode ocorrer que tal união venha a se constituir somente nisso, um casamento aparente e nada mais. O casamento, portanto, não é concretizado pelas aparências sociais, pelos ritos civis, sagrados ou outros inventados da moda atual, e sim pelo consentimento dos cônjuges. E assim é precisamente porque o casamento não é cerimônia, mas a união do homem e da mulher nascida pelo consentimento matrimonial, ou seja, do pacto em que um e outro se entregam e se
aceitam mutuamente. Se esse “sim” não é d i t o co m o coração, se esse “sim” não se faz acompanhar da verdadeira vontade de se entregarem e se aceitarem mutuamente, estamos na presença de uma pura cerimônia, mas ali não haverá casamento. Não é cerimônia que faz o casamento, são os cônjuges, com seu consentimento real, com mútua entrega de suas pessoas. Tem se tornado cada vez mais comum pedidos dos jovens casais de namorados ou noivos realizar a celebração do seu matrimônio fora da Igreja, ou seja, fora do espaço sagrado. Há também os pedidos mais “criativos” (para não chamar de criatividade selvagem ou fantasia) para se incluir na celebração. O que achamos “legal” incluir na liturgia do casamento pode ser uma visão enganosa da cultura dominante nos últimos séculos que acentua como mais importante do casamento um elemento que não tem relevância maio/2018 | vitória | 17
ATUALIDADE
humana e existencial. Não são poucas vezes que a cerimônia “legal”, seja religiosa seja civil, não possui absolutamente conteúdo matrimonial. Por exemplo, o uso de placas que precedem a noiva ou o noivo com a seguinte frase: “fuja enquanto é tempo”, “como é que eu vim parar aqui?” e “agora é tarde para fugir, amor!”. No casamento, deve-se distinguir o nível interpessoal – o poder soberano dos esposos - do nível social. Ambos os níveis são essenciais, e por isso se pode falar de dois co-princípios constitutivos do casamento: o principio consensual e o principio formal. Para que um casamento possa ser considerado válido, é necessário que se cumpram esses dois princípios. Portanto, eu não posso manipular a liturgia do matrimônio ao meu bel-prazer. Então, como fazer para que os elementos rituais do sacramento do matrimônio sejam experiências verdadeiras e conduzam os casais à sua finalidade última? Como fazer para que o barco não naufrague num mar de “criatividades” vazias? A experiência quando é verdadeiramente humana, não pode separar-se da reflexão e da busca de um sentido. O poeta T.S. Eliot exprime essa ideia na sua obra Quatro Quartetos: “Tínhamos a experiência, mas tínhamos perdido o sentido. Mas aproximar-se ao sentido restabelecia a experiência de modo diferente”. Tínhamos a experiência, mas era incompleta, pois faltava uma reflexão, uma luz; somente a compressão do sentido consente uma real experiência da vida e do mundo. Assim, podemos concluir que experiência e a reflexão sobre o significado não se opõem; antes, o significado faz parte da experiência e a faz plenamente humana. O matrimônio tem um significado próprio 18 | vitória | maio/2018
enquanto implica uma entrega mútua dos esposos, de caráter pessoal e corporal, e abrange um projeto de vida aberto à comunidade familiar. Essa união é fruto do amor e da decisão voluntária do casal, mas se insere na vontade da própria natureza humana e na intenção do Criador. O sacramento do matrimonio significa e realiza o “mistério” da Igreja num momento e numa situação singular da vida humana. Quando os noivos cristãos se sentem chamados a unir-se em matrimônio, a “tornar-se um só corpo”, para realizar o projeto que Deus teve ao criar o homem e a mulher, convertem-se em sinal da união que existe entre Cristo e sua esposa, a Igreja. Quem realmente se entrega e aceita ao outro como esposo (ou esposa) está respondendo a uma vocação divina, ainda que não esteja consciente disso. O número 68 da Exortação Familiaris Consortio oferece diversas orientações pastorais para a celebração do matrimônio e a evangelização dos batizados não-crentes. O núcleo central desse número consiste em recordar a peculiaridade do matrimônio com respeito aos demais sacramentos: “... ser o sacramento de uma realidade que já existe na economia da criação: o mesmo pacto conjugal instituído pelo Criador 'desde o princípio'. A decisão do homem e da mulher de se casarem segundo este projeto divino, a decisão de empenharem no seu irrevogável consenso conjugal toda a vida num amor indissolúvel e numa fidelidade incondicional, implica realmente, mesmo que não de modo plenamente consciente, uma disposição..
ATUALIDADE
de profunda obediência à vontade de Deus, que não pode acontecer sem a graça. Portanto, inserem-se já num verdadeiro e próprio caminho de salvação, que a celebração do sacramento e a sua imediata preparação podem completar e levar a termo, dada a retidão da intenção deles”. A Igreja recorda, ainda, a todos os membros a urgente “...necessidade de uma evangelização e catequese pré e pós-matrimoniais, feitas por toda a comunidade cristã, para que cada homem e cada mulher que se casam o possam fazer de modo a celebrarem o sacramento do matrimonio não só válida, mas também frutuosamente” (FC, n. 68).
Pe. Renato Criste Covre Mestre em teologia do matrimônio e família
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16 | vitรณria | abril/2018
CATEQUESE
SALVE, RAINHA! “Salve Rainha, mãe de Deus, és Senhora, nossa mãe, Nossa doçura, nossa luz, doce Virgem Maria. Nós a ti clamamos, filhos exilados, Nós a ti voltamos nosso olhar confiante. Volta para nós, oh mãe, Teu semblante de amor. Dá-nos teu Jesus, oh mãe, quando a noite passar. Salve Rainha, mãe de Deus, és auxílio do cristão, Oh mãe clemente, mãe piedosa, doce Virgem Maria.“ Nossa Senhora da Vitória! Nas comemorações do Jubileu de 60 anos da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo, a imagem de sua Padroeira está peregrinando pelas Paróquias. Maria a caminho, mais uma vez. Maria que vem a nós...E no nosso encontro carinhoso, momentos de fé, amor, devoção, louvor, agradecimento. De confiança irrestrita, de alegria pela proximidade da imagem da Mãe, que nos remete a Jesus, nosso Salvador. Ao voltar nosso olhar para Maria, lembramos que “(...) na simplicidade das mil ocupações e preocupações quotidianas de cada mãe, como providenciar a alimentação, a roupa, o cuidar da casa… Precisamente essa existência normal da Nossa Senhora foi o terreno onde se desenvolveu uma relação singular e um diálogo profundo entre Ela e Deus, entre Ela e o Seu Filho.” (Papa Francisco). Nela vemos o amor, o comprometimento e confiança plena em Deus. A
coragem em aceitar a maternidade divina, a preocupação com os necessitados e aflitos. Do encontro com Maria aprendemos a nos doar, a olhar com misericórdia para o irmão, a servir com amor. É um caminho de santidade que fazemos com ela, a peregrina. Que esta peregrinação de Nossa Senhora da Vitória nos mostre que “(...) crer Nele significa “oferecer sua carne” com a coragem de Maria, para que Ele possa continuar habitando entre nós. Significa oferecer nossas mãos, nossos pés, nossos braços, nossa mente e s o b retu d o o fe re ce r o n o s s o coração… Assim somos instrumentos de Deus, porque Jesus age no mundo através de nós”. (Papa Francisco)
Fabíola Gouveia Limeira Professora e leiga
maio/2018 | vitória | 21
IDEIAS
VAMOS CONVERSAR SOBRE SOLIDÃO?
T
anto queremos companhia, tanto queremos estar com outros e conectados por imagens e mensagens que, afinal, haveremos de admitir: temos andado sozinhos. Vamos conversar? Pois bem, pra começar, bom é dizer que há saberes que nos são acessíveis somente quando damos voz ao que se movimenta em nós. Certos saberes não se configuram em atitudes a não ser que antes elaboremos em conversas o que se passa em nós e no mundo. E outro motivo para isso é que, de um modo ou de outro, esta é uma realidade que nos atinge a todos, ainda mais nos tempos atuais. Na verdade a proposta da conversa sobre solidão através deste texto (ou sobre qualquer outro assunto) não necessariamente tem o “ideal” de chegar a acordos ou conclusões. Antes, a conversa quer ser a tentativa de aproximar corações, pois que tão difícil quanto admitir a solidão é a experiência de defini-la, explicá-la, dar-lhe sentidos e encontrar-lhe potências. A alternativa que restará se dela não falarmos é carregá-la como peso pela vida afora. E sabemos que ao nos indagarmos sobre a vida e o mundo estaremos, no fundo, nos perguntando sobre o que estamos fazendo de nós mesmos. Bem, sobre a solidão, o que cada um pode...
22 | vitória | maio/2018
IDEIAS
constatar? A Solidão é uma experiência de todo ser humano, mas parece ser vendida como se fosse a realidade apenas de alguns infelizes. Ela é difícil de ser confessada, pois sempre é associada com aspectos negativos tais como lamúria, sentimentalismo, incompetência, fraqueza e fracassos. Ignora-se em decorrência dessa dissimulação da realidade toda uma potência de vida que pode estar no solitário. A ignorância dessas realidades faz com que se proponham ilusões românticas permanentemente às pessoas, vendidas às tortas e às direitas, como se o romantismo fosse capaz de dar conta de toda uma situação de sofrimento que tem suas raízes em muitas outras causas. Mas fica assim: parece que é só encontrar sua cara (barata) metade e tudo está resolvido.
“Ao invés de choro a solidão pode estar a cantar um protesto às mortificações constantes e permanentes aplicadas a todos pelos modos contemporâneos de viver.“
romantismo como solução aos solitários. O amor romântico não é solução para tudo. É preciso prestar atenção às outras forças que falam no e pelo solitário. Ao invés de choro a solidão pode estar a cantar um protesto às mortificações constantes e permanentes aplicadas a todos pelos modos contemporâneos de viver. A falta (carência) para a qual a solidão remete talvez evidencie que a sociedade com o consumismo que lhe é inerente não é capaz de preencher, saciar, dar sentido à vida humana. A solidão de tantos desmascara essas exageradas propostas de felicidades que são vendidas de infinitas maneiras. Ao invés de pensar no que falta ao solitário talvez fosse interessante observar de que outros possíveis mundos ele está belamente povoado. Ainda, a solidão não deixa de se configurar nas suas dobras e redobras como poderosa resistência aos controles a que estamos submetidos. Quando mais integrados no mundo contemporâneo mais controlados, disciplinados e adoecidos estamos. O solitário ao se manter um pouquinho à parte do mundo que aí está pode ser portador - não de um adoecimento ou uma síndrome qualquer que passa pela inabilidade de convívio e integração social - mas de um movimento de saúde a que haveríamos de prestar atenção.
É preciso (se pudermos falar assim sem ser arrogante) desvincular a solidão desses aspectos negativos que lhe são sempre postos e do
Dauri Batisti Padre, psicólogo e Mestre em Psicologia Institucional
maio/2018 | vitória | 23
DIÁLOGOS
COMUNICAÇÃO: MENTIRA OU VERDADE
O
mês de maio, além de ser o mês de Maria vai se tornando também o mês da comunicação cristã. Aliás, Maria é a Mãe do Comunicador por excelência: Jesus que se revelou como Caminho Verdade e Vida. Pois bem, o Santo Padre neste mesmo assunto, comunicação, manifestou sua preocupação com as falsas notícias que estão tornando-se comuns como se fossem verdadeiras. Isto é muito grave e poderá causar graves consequências. Porém, na mídia, além da preocupação com as falsas notícias tenho ouvido e visto propagandas exaltando a importância e a necessidade do respeito que devemos ter entre nós seres humanos. Não sei se trata de uma reação às falsas notícias ou defesa de certas atitudes que marginalizam pessoas e grupos específicos da sociedade. Contudo, tenho para mim que o comunicador cristão ou não cristão, mas pelo menos ético, na sua maneira de ser, para exercer bem sua profissão e tornar-se, por isso, um verdadeiro anunciador de notícias, precisa 24 | vitória | maio/2018
cultivar no seu coração a verdade. A verdade é uma virtude que pode ser expressa nas atitudes de respeito e de honestidade. O cidadão cristão ou não cristão, responsável e empenhado em comunicar bem, obedece três princípios que norteiam a sua vida plasmada na verdade: O primeiro princípio é: honestidade consigo mesmo. Comunicador que não é honesto consigo mesmo não merece crédito! A pessoa humana aprende desde o berço valores inegociáveis que influenciam na maneira de se comunicar. Por exemplo ser honesto não é uma virtude, mas uma obrigação que ele aprendeu desde o seio materno. Costuma-se dizer “é uma questão de caráter”. O segundo princípio é: honestidade com o outro, seja quem for este outro. Ele, honesto jamais será um devastador de um outro ser humano como ele. Ele sabe que não tem direito de violar ou destruir o outro com sua comunicação. Não seria comunicação e sim destruição de u m s e u s e m e l h a n te . O n o s s o semelhante é nosso espelho, tratálo mal é projetarmos nossos problemas nele. A Sagrada Escritura diz: Não faças a ninguém o que não...
DIÁLOGOS
queres que te façam” Tb 4,15. “Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas” Mt 7,12. O terceiro princípio é: honestidade com Deus. Deus é Amor, Verdade e Vida. O comunicador cristão deve ser portador da verdade com amor e cultivador da vida!
No coração deste comunicador não há lugar para falsas notícias. A referência do comunicador cristão é Deus. O comunicador não é dono da verdade. Ser honesto com Deus é reconhecer sua limitação diante do Absoluto n o a p re n d i za d o co n s ta n te daquele que se revelou amor e não ódio ou destruição. O
comunicador é um construtor de pontes da vida. Penso, pois, que além de gastarmos muito tempo com as falsas notícias parece-me mais urgente a formação de bons comunicadores e autênticos veículos de comunicação que levem a sério a auto-censura e a boa comunicação.
Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. Arcebispo Metropolitano de Vitória
maio/2018 | vitória | 25
ASPAS
‘‘O AMOR VIROU CONSÓRCIO, COMPROMISSO DE NINGUÉM’’ Pe. Zezinho, SCJ
A
lguns compositores cristãos em suas canções, falam da seriedade do matrimônio cristão, e uma das que mais nos leva a uma profunda reflexão é a canção “Utopia”, de autoria do Padre José Fernandes de Oliveira, SCJ, conhecido Popularmente como Pe Zezinho que na décima estrofe nos diz :“O amor virou consórcio, compromisso de ninguém”.. Se prestarmos atenção, a frase nos remete à ideia do desrespeito do amor entre o casal. Entende-se por Consórcio um tipo de compra desejada, onde paga-se um lance recebe-se o produto e quando o mesmo não tem mais serventia, vende-se, tentando-se outra compra, como um objeto qualquer. Tal pensamento tem produzido uma verdadeira calamidade na sociedade pelo crescente número de divórcios a cada dia, causando o aniquilamento da família e tendo como consequências crianças e jovens desorientados na vida. O matrimônio não pode e nem deve ser consórcio... O matrimônio deve partir de uma vocação (chamado) e de uma decisão planejada (a dois) firmada nos sólidos alicerces do compromisso e da fidelidade.
Um casal tido como cristão não vive seu Matrimônio "de qualquer jeito", como se o casamento fosse uma formalidade que serve aos desejos egoístas de duas pessoas que querem apenas “Uma celebração dos Sonhos”... O casamento não é uma invenção criativa da mente humana e sim uma instituição divina, uma dádiva pelo qual Deus demonstra o seu propósito para a humanidade. Podemos dizer então que a união do casal é a esperança de se ter famílias comprometidas com a construção, não de casas, mas de corações abertos à vida, à doação e ao compromisso vivido no dia a dia, mediante o exercício da paternidade / maternidade responsável ao redor da mesa buscando alimento e força n a Pa l a v ra d e D e u s , n a Eucarística, e outras celebrações. Infelizmente muitos que se dizem cristãos parecem não entender este propósito divino concebendo uma visão equivocada de que o enlace matrimonial seria apenas um evento social marcado por uma bela festa, roupas especiais, fotos, flores e com ideias como “vamos experimentar, para ver se dá certo” ou “Se não der certo separa”. O casamento não é um consórcio e o amor muito menos. E sabe porquê? Consórcio a gente faz para adquirir objetos. Consórcio não se aplica a pessoas e amor jamais será um negócio. Pe. Zezinho, sabiamente, percebeu isso em 1975. Já passou um bom tempo, não deixemos o amor virar consórcio.
Carlos José Fernandes Diácono Permanente Arquidiocese de Vitória-ES
maio/2018 | vitória | 27
CAMINHOS DA BÍBLIA
DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS SEGUNDO AS ESCOLHAS DO BOM PASTOR
N
ão faltam na história da humanidade homens interessados em serem seguidos e amados, reverenciados por seus feitos e realizações, por suas palavras e grandes propostas. Aqueles que conclamam os seus seguidores a darem as suas vidas pelos ideais que apresentam, pelas propostas que trazem e pelas palavras que proferem. Todavia, o que emerge do relato do Quarto Evangelho é bem diferente, visto que, Jesus, ao se apresentar como o Bom Pastor, não pede que ninguém dê a vida por Ele, ao contrário, é Ele mesmo que afirma oferecer a sua vida pelos que o seguem.
caminhos tortuosos do mundo. Sendo assim, o seu pastoreio é verdadeiro, pois assume o lugar daquele que é capaz e, de fato o foi, de dar a sua vida para que as suas ovelhas tenham a vida em plenitude. Desse modo se verifica a diferença entre o mercenário e o Bom Pastor, já que o primeiro, preocupa-se consigo mesmo e com os seus próprios interesses, ele, ao ver o perigo, abandona o rebanho e foge. Os verbos abandonar e fugir são significativos para determinar a postura dos mercenários e revelam ainda mais a sua preocupação consigo mesmo e o seu descuido para com o rebanho.
‘‘Formados na escola do amor e solidariedade do Bom Pastor, são capazes de gestos e atitudes concretos de amor, solidariedade e compaixão, principalmente com os excluídos e necessitados’’ Em suas palavras e atitudes, o Bom Pastor se coloca à frente do rebanho, expõe-se aos perigos, assume as consequências de conduzir as suas ovelhas nos 28 | vitória | maio/2018
Já o Bom Pastor, por sua vez, é determinado pela sua decisão em proteger as ovelhas diante dos perigos e, por isso, é capaz de dar a sua vida pelo rebanho a ele
confiado. Isso porque Ele tem uma relação de intimidade e conhecimento com as suas ovelhas, é capaz de compadecer-se e de cuidar, algo impossível para o mercenário. Assim se dá a presença do Bom Pastor, que oferece a sua vida para que as ovelhas tenham vida em abundância. Os discípulos de Cristo, formados na escola do Bom Pastor, recebem nos cuidados do seu pastoreio os maiores ensinamentos para a sua missão. De fato, em sua intimidade com Cristo e confiando em seu grande amor, todos são introduzidos na comunhão com o Pai. Nessa relação contínua e constante são também formados, pelas palavras e gestos do Pastor a terem o mesmo cuidado para com os irmãos e irmãs. Sendo assim, a missão do cuidado para com o outro, por meio de um amor fraterno e solidário, nasce da relação de profunda intimidade com o Pastor, que nos revela o infinito amor do Pai. É o Pastor que conhece as ovelhas, sabe de suas necessidades e se coloca ao lado delas, principalmente das ..
pequenas e pobres. Por isso, na relação contínua com o Pastor, os filhos e filhas de Deus, chamados a serem discípulos de Cristo, aprendem a reconhecer as dores dos que vão perdidos e são capazes de se colocarem ao lado dos que sofrem, com compaixão e solidariedade. Desse modo, o amparo recebido, os cuidados e a proteção do Pastor se tornam "lugar" de aprendizado e forma-
ção para todos os que do Bom Pastor se aproximam. Pois, formados na escola do amor e solidariedade do Bom Pastor, são capazes de gestos e atitudes concretos de amor, solidariedade e compaixão, principalmente com os excluídos e necessitados. Em momentos tão difíceis, nos quais se multiplicam diante dos olhos os muitos mercenários em todos as esferas da sociedade, é urgente que os cristãos se aproximem do Bom Pastor e assumam para si mesmos a sua missão de cuidar e defender os pequenos dessa terra. Que Deus, por sua graça, toque nos corações de todos, fazendo surgir em todos os ambientes verdadeiros filhos e filhas seus, capazes de gestos próprios daqueles que foram formados na escola do amor do Bom Pastor que é Cristo.
Pe. Andherson Franklin Professor de Sagrada Escritura no IFTAV e doutor em Sagrada Escritura
maio/2018 | vitória | 29
20 | vitรณria | abril/2018
Foto: André Fachetti
PENSAR
maio/2018 | vitória | 31
SUGESTÕES
PRAÇA DOS NAMORADOS PARA TODOS OS GOSTOS
O
local “praça” cumpre uma função milenar em todas as culturas urbanas. As praças em nossas cidades eram muitas, mas a ganância imobiliária foi aos poucos decretando sua morte quase imperceptível. Não é o caso da Praça dos Namorados, especialmente o que nela acontece aos sábados e domingos à noite há mais de 20 anos. Virou tradição mencionar “feira da
Praça dos Namorados”. Pois é! Ali nestes dias quase 200 expositores apresentam produtos como brinquedos, artesanato, objetos de decoração, esculturas em metais e pedras, muitos espaços para crianças e jovens brincarem e, sobretudo, muitas co m i d a s d e l i c i o s a s . E ca s o alguém queira ampliar sua diversão e cultura, ao lado também tem outra praça com nome sugestivo – “da ciência”. Desta forma, o que parecia ser um lugar apenas para encontro de namorados, acabou virando um espaço de encontro de cultura e ciência. Tudo isso faz desta praça um convite permanente para ser ocupada por pessoas de todos os
bairros, pois situa-se num dos lugares de maior acesso e por onde praticamente metade da frota de ônibus circula. A praça é sempre o lugar para as pessoas vivenciarem experiências diversas. É preciso viver a praça e não passar por ela ou deixar que ela seja apenas uma referência de localização. A praça é nossa! Este não é o programa da TV de tempos passados. É o programa que cada pessoa pode fazer e ser um ator com papel central no dia-a-dia deste lugar. Encontro entre amigos, entre famílias, entre casais, entre crianças e jovens, com muita cultura popular e maravilhosas comidas! Este é o roteiro para os sábados e domingos à noite.
Edebrande Cavalieri Doutor em Ciências da Religião
maio/2018 | vitória | 33
ENTREVISTA
CANTANDO A GENTE APRENDE A TRANSFORMAR
O
bairro de periferia onde nasceu e as dificuldades
sociais que vivenciou na infância não impediram
a maestrina Alice Nascimento de fazer da música
uma ferramenta para modificar o contexto em que estava inserida. Aos cinco anos ela colocou na cabeça que queria aprender a tocar piano e na adolescência, quando conseguiu trabalhar e pagar um curso, desenhava em uma tábua o teclado do instrumento para não esquecer a lição. Atualmente Alice é regente do Algazarra Coral, um projeto social que possibilita dezenas de jovens a também encontrar um caminho diferente através da música.
Todo mundo pode cantar ou é necessário ter uma voz bonita, um dom? Alice - Sim, todo mundo pode cantar. A música não é apenas para quem tem uma linda voz. Nós somos seres
cantar sem olhar para si. É impossível aprender técnica vocal sem ter que olhar para dentro. As pessoas até conseguem tocar um instrumento por bastante tempo sem olhar para dentro de si, mas cantar não, elas têm que
musicais, nosso coração bate de forma musical, rítmica, a
olhar. O som precisa passar pela traqueia, precisa vibrar
gente caminha de forma rítmica, a gente fala de forma
na cabeça, a gente precisa ouvir a voz do outro porque
melódica. Acontece que algumas pessoas demonstram mais
também cantamos em grupo e isso tudo é uma constru-
facilidade para a música, um carisma vocal maior, mas somos
ção como pessoa e é um crescimento fantástico.
musicais e a desafinação, é na maior parte das vezes, apenas falta de experiência musical, de orientação musical.
Você trabalha a música dentro de um contexto social, com jovens de periferia que convivem com problemas sociais complexos. A música tem um papel transformador? Alice - Eu tenho certeza. A música transforma, a arte transforma, a expressão artística transforma. A música vem, entra e move de uma forma que é impossível não se modificar, porque ela sensibiliza, ela vai tocar em todos os pontos sensíveis das pessoas e vai ajudar a questionar, a refletir. Quando se trata da música vocal, isso é potencialmente mais forte, porque é impossível você 34 | vitória | maio/2018
Os jovens ou as crianças que chegam para cantar no coral têm essa consciência? O que você acha que as faz chegar até você? Alice - Elas estão lá para cantar. A música é fascinante e está inserida em todo o contexto da nossa sociedade. Ela está inserida nos ritos religiosos, nos meios de comunicação e em todos os meios de entretenimento. Então é natural que as crianças e os jovens tenham esse fascínio, de querer lançar mão da música para se expressarem através dela. Acredito que é isso que os faz ir até alguém que os oriente. Agora, o que os faz permanecer, que é a essência do projeto, é eles experimentarem acessar a expressão artística musical. Essa é a minha teoria.
ENTREVISTA
Alguma transformação nesses jovens e crianças marcaram você? Alice - Sim, em muitos. Teve uma história que me
trabalhar a sua expressão artística, fica incompleto. Não estou dizendo que trabalhar esta expressão é suficiente para livrar as pessoas de qualquer coisa, mas quando
marcou muito, a experiência que tive com um menino
isso acontece a pessoa vai ter olhado muito mais para
que era muito fechado, que ninguém conseguia se
ela, vai ter se conhecido, conhecido seus limites, suas
aproximar dele no coral. Essa criança estava lá porque
vontades, sua essência.
era um projeto social e enquanto ele estava ensaiando a mãe podia trabalhar. Não era algo que ele queria, mas era
Quando olha para a juventude você vê esperança?
muito importante que ele ficasse lá porque ele não podia
Alice - Olha, apesar de eu ser bastante racional por um
ficar sozinho em casa. Na época eu sugeri que a gente iniciasse um trabalho de coro para os pais das crianças que participavam do projeto para tentarmos acessar melhor a comunidade, e para a felicidade de todo mundo a mãe dessa criança veio participar. Aos poucos eu fui entendendo a história. O menino, uma criança que não foi muito aceita, fruto de um relacionamento que não tinha dado certo. Na época, a mãe estava vivendo outro relacionamento e tinha tido uma outra criança. Então, quando a gente percebeu isso, após criar vínculos com
lado, eu vejo sim. Eu vejo bastante esperança porque é uma juventude que discute preconceito. Quando eu tinha 16 anos, a gente não discutia preconceito, é uma
como se fosse hoje; ela desabou chorando e falou “eu vou
juventude que está discutindo política, do jeito deles, mas está. Quando eu tinha a idade dessa meninada, eu sequer sabia o que acontecia no mundo. E olha que eu era bastante preocupada com o meu futuro por causa da minha história, do contexto em que eu estava inserida, de menina de favela que precisava batalhar para vencer. Então, eu vejo uma juventude um pouco menos encanada, um pouco menos estressada no sentido de regras, dessas regras que realmente não ajudam muito e ao mesmo tempo discutindo coisas de fato importantes,
para minha casa porque eu amo meu filho”. Essa família
como por exemplo, o preconceito em todas as suas
ela, comecei a conversar até que lá na frente, ela entendeu o que estava acontecendo com o menino. Eu lembro
tem contato comigo até hoje e em vários outros momen-
formas. A juventude de hoje em dia discute o respeito e
tos essa mãe verbalizou que o contato deles com o coral
eu acho isso fascinante.
mudou a vida da família inteira.
A música tem função de resgate? Alice - Olha, eu acho sim. Eu acredito que, por exemplo, uma pessoa que se sabota, que se machuca, que se agride usando algum tipo de entorpecente, algum tipo de droga, está pedindo socorro. Eu acredito que a linguagem artística tem a função de despertar no ser humano o seu lado sensível, colaborando para que ele faça escolhas positivas. A música é uma forma de expressão, independente de ser uma profissão ou não, e penso que o ser humano que não tem a oportunidade de
Andressa Mian Jornalista
maio/2018 | vitória | 35
MUNDO LITÚRGICO
O ESPÍRITO SANTO NA AÇÃO LITÚRGICA
A
liturgia é obra que se dá pelo dom da Igreja, realizada pelo Pai em Cristo, na unidade do Espírito Santo. É a vitalidade do corpo de Cristo, formado pelos batizados. O Espírito Santo é que potencializa as ações litúrgicas da comunidade de fé, para que a memória dos feitos criadores de Deus, por intermédio do seu Filho Jesus Cristo, sejam reconhecidos em cada etapa da história (cf. Jo 14,26). Ao focar a dimensão do Espírito, não se trata de declarar uma ação isolada do mesmo, mas de reconhecer a unidade da ação trinitária, na distinção de cada pessoa e na mesma natureza divina, ou seja, os Três são um só Deus. B e m ce l e b ra o p re fá c i o d a Santíssima Trindade, conforme o Missal Romano: “Tudo o que revelastes e nós cremos a respeito 36 | vitória | maio/2018
de vossa glória atribuímos igualmente ao Filho e ao Espírito Santo. E, proclamando que sois o Deus eterno e verdadeiro, adoramos cada uma das pessoas, na mesma natureza e igual majestade.” A assembleia reunida para celebrar é ação do Espírito: ele conclama e ao mesmo tempo move a interioridade dos que se dispõe a celebrar o mistério de Cristo. Ele, ainda, reúne e inclui, em consciência e eficácia, os que andam dispersos, a fim de que vivam a unidade do único povo de Deus, em Cristo (cf. Jo 11,52 e Jo 12,32). Ao preparar a comunidade para reviver a obra ressuscitadora de Cristo – o seu mistério pascal, pelo ápice da liturgia, o Espírito Santo dá legitimidade e eficácia às ações sacramentais celebradas pela Igreja. O gesto ritual de invocação ao Espírito sobre as pessoas e os elementos materiais, denominado de epíclese (do grego “epi-kaleo”, “c h a m a r s o b re” ) , s i g n i fi ca a transformação dos mesmos. Na liturgia eucarística há duas epícleses. A primeira é a que o presbítero pronuncia sobre os dons de pão e vinho, com as mãos estendidas sobre eles, dizendo: “Por isso, nós vos suplicamos: santificai pelo Espírito Santo as
oferendas que vos apresentamos para serem consagradas, a fim de que se tornem o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, que nos mandou celebrar este mistério.” A segunda epíclese, depois do memorial e da oferenda, é a que o presbítero pede a Deus que envie o seu Espírito sobre a comunidade que vai participar da Eucaristia, a fi m d e q u e e l a ta m b é m s e j a transformada: “Olhai com bondade a oferenda da vossa Igreja, reconhecei o sacrifício que nos reconcilia convosco e concedei que, alimentando-nos com o Corpo e o Sangue do vosso Filho, sejamos repletos do Espírito Santo e nos tornemos em Cristo um só corpo e um só espírito.” Ainda, o gesto da epíclese é vivenciado sobre a água, os óleos, os crismandos, os ordenandos, os doentes e os noivos, dando eficácia a todos os sacramentos. A comunicação do Espírito Santo é a obra continuada da salvação, e memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, ápice e magnitude da criação!
Fr. José Moacyr Cadenassi OFMCap
ESPECIAL
E
m meio à crise institucional da segurança pública em todo o Brasil, cidadãos passam, dentre outras soluções, a pensar na possibilidade de portar armas de fogo para se proteger da criminalidade. Uma onda armamentista que ecoa também a insatisfação com a ineficiência do Estado no enfrentamento à violência. Centrar a análise apenas na possibilidade de venda legal de armamento pode ser, contudo, um foco muito simplista para uma temática complexa. O papel institucional da segurança pública guarda relação com o monopólio legítimo da força, e tem ligação com a formação do Estado moderno e com o pacto social, em busca da paz. Abrindo mão de parcela de sua liberdade individual, teriam os cidadãos a garantia de segurança, e não um estado de guerra e seus inevitáveis conflitos sociais. Da ineficiência estatal em cumprir sua parte do contrato, contudo, o inconsciente coletivo busca, na individualidade, sanar o problema que se apresenta no cotidiano. A liberação do porte de armas surge como panaceia para a segurança pública. Contudo, armar o cidadão é solução? Importante registrar que em 2005, a sociedade rejeitou, no referendo sobre o desarmamento, a proibição da venda de armas de fogo. Ficou posteriormente regulamentado que poderia ser adquirido o armamento, para posse em sua residência ou trabalho, desde que preenchidos certos requisitos. Para portar a arma requisitos mais rígidos são exigidos, contudo a critério discricionário da autoridade policial, o que frustra aqueles que pensaram poder transitar livremente com armas de fogo. Em termos pragmáticos, e observado o contexto histórico, há coerência na concessão do direito ao cidadão - cumpridos requisitos rígidos - em ter... 38 | vitória | maio/2018
PORTE DE ARMAS PARA O CIDADÃO Uma discussão sobre a eficiência do Estado.
armamento em casa ou no trabalho, especialmente áreas rurais. Porém expandir tal entendimento para o porte, onde o cidadão estará com a arma em pronto emprego a seu alcance, nos trará uma volta a realidade de “todos contra todos”, o “velho oeste” em que qualquer discussão, por mais tola que seja, pode ensejar a morte de um pai de família - inclusive do que porta a arma.
Ademais, temos que lembrar: Cristo pregou o pacifismo. Dessume-se então que o cidadão quer na verdade é segurança, e não a arma de fogo em si. Pede arma de fogo por acreditar que ela proverá sua segurança, o que acaba por ser em grande contrassenso. Cabe então, ao Estado, ser assertivo na segurança pública, sem conclusões simplistas e de pouco efeito, como a recente criação do Ministério da Segurança Pública. No passado, outro exemplo: a gratificação por ato de bravura instituída pelo governo Moreira Franco no Rio de Janeiro, quando o criminoso, ao perceber que em vez de preso seria morto, fortaleceu seu poder bélico, gerando uma corrida armamentista que contribuiu para o caos atual. Para além das soluções simplistas, a segurança pública deve ser vista como política pública. No Brasil, reinventar a roda é característico de cada novo Governo. Esquece-se o arcabouço de proteção social, muda-se o nome de programas anteriores e se projeta o marketing de ocasião. O mantra da sensação de segurança tem sido a nova miopia a nos dificultar enxergar saídas reais.
Edmar Camata Especialista em Gestão Integrada de Segurança Pública, ex-Secretário Geral da ONG Transparência Capixaba
maio/2018 | vitória | 39
VIVER BEM
TOLERÂNCIA PARA CHEGAR BEM EM CASA Q
uando era mais novo uma campanha de trânsito ficou em minha cabeça. Nela era dito “Perca um minuto de sua vida, mas não perca sua vida em um segundo”. Já nos idos dos anos 80 era pedido aos motoristas mais paciência no trânsito. Hoje, possivelmente devido aos estresses provocados pelas exigências e imediatismos de nossa vida moderna, parece que estamos cada vez mais apressados e insensíveis às campanhas que nos pedem mais serenidade. A intolerância dos motoristas e pedestres no trânsito chegou a níveis absurdos que provocam situações surreais. Parece anedota, 40 | vitória | maio/2018
mas já vi gente buzinando para o sinal fechado. Observe bem, a pessoa em questão não estava tocando a buzina para outro motorista que estava parado no sinal, ele era o primeiro na “fila” e direcionava a raiva dele ao insensível semáforo. Você já observou no trânsito aqueles motoristas que trocam constantemente de faixa, às vezes arriscando ultrapassagens mas co n t i n u a m p ra t i ca m e n te n o mesmo lugar no engarrafamento? Não adianta se estressar, hoje em dia as cidades têm mais carros do que elas comportam, portanto, a conta é simples, perderemos tempo no trânsito cada vez mais. Falta aquela empatia de nos colocarmos no lugar do outro. Uma
desatenção não pode ser punida com xingamentos, uma ultrapassagem descuidada não é necessariamente uma fechada e muito menos um convite para a briga, e também ninguém está a salvo de um pneu furado ou de uma falha mecânica. O que pode amenizar o estresse é a conscientização de todos sobre a n e ce s s i d a d e d e s e r m o s m a i s tolerantes, sermos menos rigorosos com os outros motoristas e com os pedestres. Não vai causar um estrago em nosso dia se esperarmos alguém passar pela faixa de pedestre, ou aguardarmos o veículo da frente se movimentar, ou respeitar a preferência estabelecida no código brasileiro de trânsito, mas pode causar uma dor de cabeça para toda uma vida cedermos ao estresse, mesmo por um curto momento e provocar um acidente sério.
Os dez mandamentos do trânsito. Em 2007, A Santa Sé emitiu para a boa convivência nas estradas o que a impressa logo apelidou de “Os dez mandamentos do trânsito”.
1. Não matar. 2. A estrada deve ser para ti um meio de conexão entre pessoas e não um local com risco de vida. 3. Cortesia, sinceridade e prudência te ajudarão a lidar com eventos importantes. 4. Seja caridoso e ajude o próximo em necessidade, especialmente vítimas de acidentes. 5. Carros não devem ser para ti uma expressão de poder e dominação, e uma ocasião para pecar. 6. Caridosamente convença os jovens e os não tão jovens a não dirigir quando não estiverem em condições de fazê-lo. 7. Ajude as famílias de vítimas de acidentes. 8. Una motoristas culpados e suas vítimas, no momento oportuno, para que possam passar pela libertadora experiência do perdão. 9. Na estrada, proteger os mais vulneráveis. 10. Sinta-se responsável pelos outros. N o t râ n s i to, p e n s e n a s pessoas que lhe querem bem e que esperam que você chegue sem problemas em casa e lembre que cada motorista e cada pedestre q u e v o cê e n co n t ra r n o caminho também são amados por alguém.
Vander Silva Professor e jornalista
maio/2018 | vitória | 41
LIÇÕES DE LIÇÕES DE FRANCISCO FRANCISCO
TRABALHO E JUSTIÇA SOCIAL
A
temática do trabalho tem preocupado o Papa Francisco desde os primeiros dias do pontificado e sempre ele correlaciona com as questões da economia atual e não tem dúvidas de que “o trabalho é a base da democracia”. Somente assim podemos pensar a justiça social a partir do mundo do trabalho. Mas a “economia atual está doente” porque grande parte dos empresários, que são a base fundamental para o trabalho, tornaram-se especuladores, incapazes de criar trabalho e produtos. Portanto, o desemprego é a chaga que não cicatriza no mundo globalizado de hoje. Muitos empresários, segundo o Papa, “vêem a empresa e os trabalhadores como meios para obter lucro. Demitir, fechar, mudar a empresa constitui nenhum problema para eles, porque o especulador usa, instrumentaliza, alimenta-se de pessoas e meios para alcançar os seus objetivos de lucro". Em alguns comentários Francisco nos garante que o “trabalho é sagrado”, pois expressa o fato de sermos criados à imagem de Deus. O mercado divinizado não pode ser posto como único agente para dar direção às relações de trabalho; trata-se de uma responsabilidade humana e social. A perda de postos de trabalho tende a se constituir em grave dano social. E o Papa nos diz que nas famílias onde há desempregados nunca é domingo ou dia de festa, pois se sabe que na segunda-feira ou no dia seguinte não há trabalho. Por isso, os governantes devem envidar todos os esforços para encontrar postos de trabalho para que todos possam estar contemplados com este direito de cidadania. 42 | vitória | maio/2018
A luta por um trabalho é compromisso fundamental de cada cristão, pois tem a ver com a dignidade das pessoas. Infelizmente nos dias atuais vemos decrescer esta dignidade quando uma pessoa é obrigada a aceitar um trabalho escravo ou com valores remunerativos extremamente reduzidos. A diferenciação salarial por motivo de sexo ou raça é a comprovação da prática da injustiça e da falta de democracia em qualquer sociedade. Não é possível que com tanta tecnologia à disposição do homem ainda há no mundo 767 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza, ou seja, que sobrevivem com menos de dois dólares por dia. Não é possível que num país como o Brasil quase 1/5 da população sobrevive abaixo da linha da pobreza, mesmo trabalhando no campo onde “plantando-se, dá”. Na Encíclica Laudato Si está escrito: “A beleza da terra e a dignidade do trabalho são feitas para estarem juntas”. No Brasil, em tempos passados, um Documento Episcopal dizia que o “Grito da Terra era o Grito dos Pobres”. Em nosso meio, a ausência de terra para cultivar representa o equivalente à falta de trabalho. Então a equação ficaria formada desta forma: TRABALHO – SALÁRIO – TERRA. É o tripé da justiça social para a qual a fé cristã compromete todos os batizados.
Edebrande Cavalieri Doutor em Ciências da Religião
ACONTECE
SEMANA DE ORAÇÃO PELA
UNIDADE DOS CRISTÃOS "A mão de Deus nos une e liberta"(Êxodo 15 1-21) é o tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2018, que conta a n u a l m e n te co m a o rga n i za çã o d o Conselho das Igrejas Cristãs (CONIC). Este ano a Semana será realizada de 13 a 20 de maio e as celebrações acontecem com a participação das igrejas Presbiteriana Unida, Luterana, Católica e ainda com o Centro de Estudos Bíblicos (CEBI). Para alcançar um número maior de participantes, a celebração de abertura, marcada às 19 horas do dia 13, será realizada em dois locais; na Igreja Presbiteriana Unida, na Rua Sete de Setembro, Centro de Vitória e na Igreja Evangélica de Confissão Luterana, em Bento Ferreira. A importância de celebrar a Semana está em orientar os cristãos para uma espiritualidade de acolhida, escuta, aproximação e respeito entre diferentes formas de viver a fé em Jesus Cristo.
ACONTECE
FORMAÇÃO PARA O LAICATO Para aprofundar o conhecimento da doutrina entre os leigos e leigas da Igreja, a Comissão para o laicado promove uma formação no dia 05 de maio, no Centro de Treinamentos Dom João Batista, em Ponta Formosa com o tema “O laicato nos diversos areópagos”. A assessoria do encontro, que acontece de 8 às 12 horas, será do Pe. Kelder José Figueira, pároco da Paróquia Santa Teresa de Calcutá. Serão disponibilizadas 120 vagas e as inscrições, cujo valor é de R$ 15,00, devem ser feitas pelo e-mail mitra.folhetocaminhada@aves.org.br
ENCONTRO DE COMUNICADORES Para vivenciar o 52º Dia Mundial das Comunicações Sociais, celebrado este ano no dia 13 maio, a Comissão para a Comunicação do Departamento Pastoral, realiza no dia 05 de maio, o Encontro de Comunicadores da Arquidiocese de Vitória, com a assessoria do Pe. Rafael Vieira, assessor da Comissão Episcopal para a Comunicação da CNBB. O evento será realizado de 9 às 16 horas no Centro de Treinamento Dom João Batista, em Ponta Formosa, e é direcionado aos membros da Pastoral da Comunicação (PASCOM), do Ministério de Comunicação da RCC em nossa Arquidiocese e a profissionais da área de comunicação. O investimento dos participantes é de R$ 20,00 e o pagamento será feito via boleto bancário enviado à Paróquia. As inscrições devem ser feitas através email: mitra.pastoral@aves.org.br
maio/2018 | vitória | 45
ARQUIVO E MEMÓRIA
OS ENSINAMENTOS DE DOM JOÃO BATISTA
E
m 1966, Dom João Batista da Mota e Albuquerque, então arcebispo de Vitória, depois de ter participado ativamente do Concílio Vaticano II, conversou com vários grupos sobre os rumos da Igreja e a formação das comunidades Eclesiais de Base. Nessa foto em reunião da Acares - Associação de Crédito e Assistência Rural do Espírito Santo, organização que trabalhava pela melhoria das condições de vida e saúde das famílias rurais, Dom João fala aos lavradores e trabalhadores do interior do Estado.
Giovanna Valfré Coordenação do Cedoc