Copyright©2013 por Neemias Carvalho Miranda Dados Técnicos: A.D. SANTOS EDITORA Al. Júlia da Costa, 215 80.410-070 - Curitiba - Paraná - Brasil + 55 (41) 3207-8585 www. adsantos.com.br editora@adsantos.com.br
Capa: Igor Braga Projeto Gráfico e Editoração: Manoel Menezes Revisão ortográfica: Vânia Gusmão Coordenação Editorial: Priscila Laranjeira Impressão e acabamento: Gráfica Impressul
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação. MIRANDA, Neemias Carvalho Apocalipse – Comentário versículo por versículo – Curitiba: A.D. Santos Editora, 2013 – 448 páginas. ISBN: 978.85.7459-316-6 CDD – 235 1. Seres imateriais, os santos, os anjos, os demônios, os arcanjos, Satanás CDD – 236 1. Escatologia 2. Céu, inferno e ressurreiçao dos mortos 3. Juízo Final 4. Morte e vida após a morte 5. Imortalidade 1. O Apocalipse de São João 1ª edição – Junho/2013 – 2.000 exemplares As citações bíblicas, bem como os textos relacionados foram extraídos da Bíblia Almeida Revista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil, 2ª edição. Há outros textos usados e estão identificados no contexto. Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios a não ser em citações breves, com indicação da fonte.
Edição e Distribuição:
Reconhecimento
inha esposa Erenice e minhas filhas Vanessa e Jennifer me pres-
Mtaram insubstituível apoio na realização desse projeto.
O jovem Diogo ofereceu preciosa colaboração na integralização final da pesquisa. A senhora Vânia Gusmão leu todo o original, procedendo a correções de gramática e de estilo. O colégio de pastores da Igreja Presbiteriana de Brasília esteve sempre comigo, especialmente o Rev. Valter Moura, que leu diversos originais, fornecendo valiosas sugestões.
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Apresentação
scolher o livro de Apocalipse para escrever um comentário é um
Eato possível. Acho que alguns leitores podem pensar diferente, quem sabe, afirmando que um empreendimento como este seja mais um ato de coragem, dado ao fato de que tal livro é estigmatizado por ser o texto mais complexo da Bíblia. Não podemos negar que o Apocalipse seja realmente um livro não muito popular, por causa da complexidade de sua linguagem altamente simbólica. Embora isso precise ser considerado, o Apocalipse é um desafio para a igreja cristã já que como qualquer outro livro da Bíblia, ele também fala do evangelho. O Apocalipse, livro escolhido pelo Prof. Neemias, traz uma mensagem fortíssima sobre o evangelho - sua obra, sua glória e seu triunfo eterno. A pessoa de Jesus está clara e obrigatoriamente presente do início ao fim em todo o livro, pois ele é o “alfa” e o “ômega”. Cristo é vividamente caracterizado como aquele que triunfa no movimento da história humana e no meio da igreja, encorajando a todos quantos nele creem a viverem com esperança na vitória do Filho de Deus e, consequentemente, no triunfo do próprio povo de Deus. Assim, o Apocalipse cristaliza o que significa seguir a Cristo neste mundo. Infelizmente, o tema Apocalipse soa de forma pessimista para a maioria dos leitores, já que comunica a ideia de que algo ruim e tenebroso está para acontecer. Considerando que o texto nos fala sobre a “Revelação de Jesus Cristo”, deveríamos ter uma atitude mais otimista acerca do livro. Tudo que trata sobre Jesus Cristo é bom, eterno e triunfante. Assim, não devemos ter receio de ler a mensagem entusiástica e de esperança desse livro, pois sua mensagem central é sobre o Filho de Deus.
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O que o Prof. Neemias oferece aos leitores é uma exposição do texto do Apocalipse sem estar preso a uma das principais linhas apocalípticas, seja ela futurista, preterista, historicista ou idealista. O que o Prof. Neemias oferece é fruto de uma leitura devocional e pessoal, sem deixar de lado a análise teológica dos aspectos associados ao triunfo de Cristo na história e a relação do Senhor com a sua igreja, a quem é também assegurada a vitória. Pessoa cristã, sensível à história e à cultura humana, o Prof. Neemias vale-se de sua sensibilidade de mestre e da sua piedade cristã para colocar nas mãos dos leitores um obra que é fruto de sua própria interação com o texto, mas que sobretudo resulta da sua vivência com Jesus Cristo, Senhor do tempo e da vida. O livro, portanto, deve fazer parte da tarefa de todo cristão que se interesse por uma caminhar mais profundo com Cristo. Minha sugestão ao leitor: leia o livro do Apocalipse à medida que você lê o comentário do Prof. Neemias, fazendo duas perguntas: (1) “o que chama a minha atenção?”; (2) “quais desafios o texto apresenta a mim?”. Uma última palavra. Lembre-se que o Apocalipse é o livro da Bíblia que se inicia com uma promessa (1:3) e se encerra com uma chamada (22:8-19). Inicie, portanto, a sua leitura com uma atitude de esperança, de alegria e triunfo. Encerre a sua leitura com um ato de louvor e gratidão a Deus. É essa a proposta do Prof. Neemias. Boa leitura!
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Prefácio
e entendido como uma verdade transmitida diretamente do céu
Sao homem, por meio do apóstolo João, e não como uma obra literária deste, o Apocalipse veio complementar, esclarecer e tornar visíveis aos cristãos todas as revelações, fatos e declarações contidas no restante das Escrituras. Antes de ser desvendada a existência daquele livro com sete selos no capítulo 5, a humanidade vivia perplexa por causa da proliferação de religiões incoerentes, escolas filosóficas conflitantes, catástrofes naturais recorrentes e fenômenos sobrenaturais inexplicáveis. Aberto o livro, ficou explicitado que todos aqueles fenômenos têm causas, motivações, consequências terrenas e resultados no mundo porvir, pois são meros desdobramentos da execução de um plano divino. O elemento central desse plano é o aperfeiçoamento do homem como principal criatura, a quem está destinada a eterna administração do universo, em co-regência com o Cristo glorificado. Entrar no céu, portanto, é, no dizer da Teologia Sistemática de Franklin Ferreira, “tornar-se mais humano do que jamais se foi na Terra”. Querubins, Serafins, Seres Vivos e Arcanjos não receberam a tarefa de reinar. Eles integram a estrutura do trono de Deus e foram criados para expressar seus atributos como verdade, justiça, bondade, poder, majestade e soberania. Segue-se então que todas as criaturas, inteligentes ou não, que há nesta parte conhecida do universo ou nas que vierem a ser descobertas, bem como naquelas que vierem a existir, neste ou eventualmente em outros universos reais, alternativos ou virtuais, estarão logicamente subor-
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dinadas a Cristo e seus assessores humanos, pois isso é o que nos foi revelado conforme está no verso 13 capítulo 5. O comentário a seguir oferece uma interpretação de todos os versículos do Apocalipse, com a característica principal e única entre os demais, de não estar subordinado a nenhuma escola escatológica de interpretação.
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Sumário
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .1 1. Situação Atual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2 2. Método. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .2 3. Premissa Interpretativa Básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3 4. Sistemas de Interpretação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3 5. Autoria. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .5 6. Data . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 7. Conteúdo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 8. Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8 9. O Fim do Mundo? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8 10. Glossário Básico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .8 CAPÍTULO I. Ap 1 versos 1 a 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 CAPÍTULO II. Ap 1 versos 4 a 5a.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 CAPÍTULO III. Ap 1 versos 5b e 6. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 CAPÍTULO IV. Ap 1 versos 7 e 8.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 CAPÍTULO V. Ap 1 versos 9 a 11. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 CAPÍTULO VI. Ap 1 versos 12 a 16.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 CAPÍTULO VII. Ap 1 versos 17 a 20. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 CAPÍTULO VIII. Ap 2 versos 1 a 7. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 CAPÍTULO IX. Ap 2 versos 8 a 11. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 CAPÍTULO X. Ap 2 versos 12 a 17. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 CAPÍTULO XI. Ap 2 versos 18 a 29. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 CAPÍTULO XII. Ap 3 versos 1 a 6. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 CAPÍTULO XIII. Ap 3 versos 7 a 13. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 CAPÍTULO XIV. Ap 3 versos 14 a 22. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76 CAPÍTULO XV. Ap 4 versos 1 e 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 CAPÍTULO XVI. Ap 4 versos 3 a 5. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 CAPÍTULO XVII. Ap 4 versos 6 a 11.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 vii
CAPÍTULO XVIII. Ap 5 versos 1 a 14. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 CAPÍTULO XIX. Ap 6 versos 1 e 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117 CAPÍTULO XX. Ap 6 versos 3 a 8. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 CAPÍTULO XXI. Ap 6 versos 9 a 17 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 CAPÍTULO XXII. Ap 7 versos 1 a 17. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 CAPÍTULO XXIII. Ap 8 versos 1 a 13. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 CAPÍTULO XXIV. Ap 9 versos 1 a 21. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 CAPÍTULO XXV. Ap 10 versos 1 a 11.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174 CAPÍTULO XXVI. Ap 11 versos 1 e 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182 CAPÍTULO XXVII. Ap 11 versos 3 a 14. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188 CAPÍTULO XXVIII. Ap 11 versos 15 a 19.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198 CAPÍTULO XXIX. Ap 12 versos 1 a 6. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205 CAPÍTULO XXX. Ap 12 versos 7 a 18. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216 CAPÍTULO XXXI. Ap 13 versos 1 a 4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223 CAPÍTULO XXXII. Ap 13 versos 5 a 18. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231 CAPÍTULO XXXIII. Ap 14 versos 1 a 5. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239 CAPÍTULO XXXIV. Ap 14 versos 6 a 12.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247 CAPÍTULO XXXV. Ap 14 versos 13 a 20. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 254 CAPÍTULO XXXVI. Ap 15 versos 1 a 8.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 260 CAPÍTULO XXXVII. Ap 16 versos 1 a 9. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 272 CAPÍTULO XXXVIII. Ap 16 versos 10 a 21. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 279 CAPÍTULO XXXIX. Ap 17 versos 1 a 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289 CAPÍTULO XL. Ap 17 versos 4 a 10. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 297 CAPÍTULO XLI. Ap 17 versos 11 a 18.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 305 CAPÍTULO XLII. Estudo sobre a Babilônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311 CAPÍTULO XLIII. Ap 18 versos 1 a 11. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 318 CAPÍTULO XLIV. Ap 18 versos 12 a 24. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 324 CAPÍTULO XLV. Ap 19 versos 1 a 10. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 330 CAPÍTULO XLVI. Ap 19 versos 11 a 21. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 339 CAPÍTULO XLVII. Estudo sobre o Milênio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 350 CAPÍTULO XLVIII. Ap 20 versos 1 a 15. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 360 CAPÍTULO XLIX. Ap 21 versos 1 a 8. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 371 CAPÍTULO L. Ap 21 versos 9 a 27.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 385 CAPÍTULO LI. Ap 22 versos 1 a 21. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 402 BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .419
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Comentário sobre o Apocalipse
O contexto de onde surgiu a ideia do comentário. As diversas escolas de interpretação. Argumentos a favor da autoria apostólica do livro. Data, objetivo e glossário de termos básicos.
Introdução Apocalipse é, a um só tempo, o livro do Novo Testamento sobre o qual mais se escreve e o mais negligenciado dentre eles. Julgo serem dois os motivos que nos levaram a esse paradoxo: primeiro, a ideia generalizada de que o livro é difícil, motivo alegado por Calvino para não comentá-lo; segundo, quase todos os comentários se filiam a determinada escola de interpretação, fato que tem desnorteado seus leitores e levado muitos à desistência. Sobre o primeiro motivo, tenha-se em mente, também, o fato inquestionável de que o livro tem sido veículo de bênçãos, conforto e refrigério a milhões de cristãos em todas as épocas. No que respeita às escolas de interpretação, ofereço ao usuário uma experiência recente. Durante três anos, estudou-se o Apocalipse, versículo por versículo, em reuniões dominicais, média de setenta pessoas por aula. Desde o primeiro encontro os alunos foram cientificados do desafio que consistia em ler e analisar o livro todo,
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auferindo as bênçãos dessa leitura, sem o arrimo de nenhuma das conhecidas doutrinas interpretativas. São, basicamente, os resultados dessa experiência que queremos compartilhar por meio deste comentário.
1. Situação Atual • Uma humanidade angustiada e sem perspectiva; • Fome, guerras, degradação do ambiente, terrorismo, criminalidade; • Fenômenos assustadores como a clonagem humana, a possibilidade de vida fora da Terra, a possível existência de outros universos; • O crescente interesse dos povos por assuntos esotéricos, místicos, transcendentais; • A proliferação de falsos profetas, apóstolos e mestres.
2. Método Durante 3 anos foi ministrado na Igreja Presbiteriana de Brasília um curso de leitura e interpretação do Apocalipse, versículo por versículo, no contexto de um curso de leitura integral da Bíblia que havia se iniciado com o Gênesis. O presente comentário tomará por base as conclusões daquela classe sobre cada assunto discutido, a leitura de, aproximadamente, trezentos comentários sobre o Apocalipse, de textos sobre escatologia, em tratados de teologia sistemática e em monografias, os resumos de seminários, simpósios, conferências, acrescidos das necessárias atualizações e da realimentação promovida pelos frequentadores do site e do apanhado em produções disponíveis na web. Considerando todos os comentários que se publicaram sobre o Apocalipse, nosso método consistiu em avaliar tudo o que chegou ao nosso conhecimento, tendo em vista o potencial desses textos na edificação espiritual de um membro típico de uma igreja evangélica brasileira. 2
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3. Premissa Interpretativa Básica A BÍBLIA TEM ORIGEM TRANSCENDENTAL Instituições como o Discovery Channel, o National Geographic e o History Channel têm produzido inúmeros programas sobre temas bíblicos. A quase totalidade dessas séries parte do pressuposto de ser a Bíblia uma realização inteiramente humana, colocando-a no mesmo nível de qualquer outra produção literária. A tentativa de explicar fenômenos de origem transcendental por uma visão materialista da história, por sua vez, explica a coleção de disparates, incoerências expendidas por aqueles programas, assim como caíram no ridículo as tentativas de explicações materialistas para os milagres de Jesus, urdidas pela literatura iluminista, principalmente entre 1750 e 1850. A Bíblia, portanto, na perspectiva deste comentário, contém a vontade do Deus criador para a humanidade. Homem algum, neste mundo, poderia tê-la escrito, se não houvesse recebido de fora motivação, inspiração e meios para produzir e preservar os seus textos. Esse fato, inclusive, salta evidente a todo aquele que se aplica à sua leitura, desprovido de qualquer preconceito ou outro condicionamento.
4. Sistemas de Interpretação Através dos tempos, têm sido elaborados diversos sistemas de interpretação do Apocalipse. Os principais, e com maior ou menor influência nos nossos dias, são: • Interpretação Pretérita • Interpretação Histórica • Interpretação Futurista • Interpretação Alegórica E, tendo em vista o fenômeno específico chamado Milênio, temos: • Premilenismo Histórico • Premilenismo Dispensacionalista 3
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• Amilenismo • Pós-milenismo
A Bíblia, como se sabe, é o livro mais comentado e, dentro dela, a porção sobre a qual mais se escreve é o Apocalipse. Aquelas oito correntes interpretativas aparecem, explícita ou implicitamente, na maioria dos livros sobre este assunto. A Escola de interpretação chamada Pretérita sustenta que o livro do Apocalipse foi destinado aos cristãos do primeiro século e que as profecias nele contidas se cumpriram, basicamente, também naquele período. A Escola Histórica vê o livro como um paralelo da História, procurando ligar a cada uma de suas profecias um determinado fato ocorrido no tempo. A Escola Futurista preconiza que os fenômenos narrados a partir do capítulo 4 ainda não aconteceram. A Escola Alegórica tende a interpretar as visões do livro, não como realidades, mas como alegorias a respeito da luta cósmica entre o bem e o mal. O Pré-Milenismo histórico afirma ser provável que, após a sua volta a este mundo, que é certa, Jesus implante aqui um reino pessoal por um certo período, antes dos “novos Céus e nova Terra” previstos no livro. O Pré-Milenismo dispensacionalista diz ser absolutamente certo aquele reino pessoal de Cristo na Terra, e que ele durará exatos mil anos. O Amilenismo não nega, ao contrário do que o nome sugere, o fenômeno milênio. A corrente interpreta que o seu período de tempo é indeterminado e que o milênio já está em pleno desenvolvimento. O Pós-Milenismo entende que “mil anos” é uma expressão usada no livro para representar o governo da igreja sobre o mundo, e que Jesus voltará apenas quando aquele governo tiver completado a tarefa a ele reservada. Este comentário não se filia a nenhuma das oito escolas mencionadas, com base em três argumentos principais: 1. Elas são fruto do espírito humano; 2. Elas restringem a liberdade do cristão de interpretar; 4
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3. Se uma delas encerrasse a verdade, de modo absoluto, teria se imposto a todo o povo; ao contrário, todas elas, ainda que urdidas por grandes servos de Deus, são amplamente contestadas por outros igualmente grandes servos de Deus. Ao longo do comentário haverá menções a essas escolas a título de esclarecimento.
5. Autoria Justino de Roma, em seu “Diálogo com Trifo”, escrito por volta de 155, diz, a respeito do Apocalipse: “Além disso, houve entre nós um homem chamado João, um dos apóstolos de Cristo, que numa revelação que lhe foi feita...”. Esse livro de Justino integra um grupo de obras suas de autenticidade comprovada e que chegaram até nós. Por volta de 170, surgiu, no seio do cristianismo, um grupo de filósofos cristãos que se auto denominavam álogos. O prefixo “a” indica negação, e isto significa dizer que eles contestavam o primeiro versículo do Evangelho de João, por sua afirmação de que no princípio, era o logos (verbo, ação, organização, palavra, comunicação), caracterizando, assim, Jesus como a ligação entre Deus e os homens, sendo ele, portanto, o filho de Deus. 2 Pe 2.12 e Jd 10 empregam álogos no sentido de homens brutos, irracionais ou, na NTLH, animais selvagens. O “Theological Dictionary of the New Testament” de G. Kitel, vol IV, p.141 registra que álogo veio a ser usado frequentemente para denotar a irracionalidade da besta (irrationality of the beast). Entretanto, aquele grupo de neo-platônicos movidos por sua cegueira espiritual, só queria reconhecer em Jesus a posição de um dos muitos eons (emanações da divindade) que intermedeiam o contato do homem com o mundo transcendental. O Apocalipse, assim, não podia ser aceito por eles porque do mesmo modo como o quarto evangelho, veio a nós com a principal função de declarar e demonstrar ser Cristo o filho unigênito do Deus Eterno. Procurou-se, então, desacreditar o livro e o primeiro passo nesse sentido foi a tentativa de desvincular o Apocalipse de sua autoridade apostólica. For5
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jou-se a hipótese de que um outro João pudesse ter sido autor do livro. Um século depois, Dionísio de Alexandria, adepto da mesma corrente filosófica, disse que, talvez, tenha vivido em Éfeso um outro João que possa ter escrito o Apocalipse. Mais outro século e Eusébio, em 340, baseado, unicamente, naquela suposição, afirma que havia em Éfeso dois túmulos de João e que o outro, um presbítero, poderia ser o autor do livro em questão. Se alguém pretende negar ao apóstolo João a autoria do Apocalipse, ofereça dados, fatos e argumentos irrefutáveis. De tudo o que se apresentou até hoje contra essa autoria, há, apenas, um fato real que merece consideração: o grego do Apocalipse apresenta algumas diferenças significativas de estilo e gramática em relação ao Evangelho de João. Tais diferenças, no entanto, podem ser explicadas pelas seguintes circunstâncias: 1 – Quando da composição do evangelho, João era um cidadão influente na cidade de Éfeso, que era a sede cultural do império naquela região, onde estava, inclusive, a terceira maior biblioteca do mundo. Tinha amanuense, como era comum a pessoas de seu nível. O Evangelho, então, foi ditado a um escriba profissional. Na época do Apocalipse, ele estava desterrado em Pátmos, tendo registrado suas visões de modo precaríssimo. 2 – Conquanto motivado e inspirado por Deus, João procedeu a pesquisas e fez anotações a respeito de fatos, que foram acrescidos a sua experiência pessoal, quando da produção do Evangelho; o Apocalipse veio de súbito: “O que vês, escreve”. 3 - Tendo recebido revelações em uma extensão jamais experimentada por outro ser humano, com ordens de transmiti-las de imediato à igreja, e encontrando-se em condições materiais desfavoráveis, sua preocupação primária foi transmitir o conteúdo teológico do que viu e não burilar frases literárias, como faz todo escritor. 4 – João era um judeu que estava escrevendo em grego. Em diversos passos no Apocalipse, vê-se que ele pôs de lado regras gramaticais, construindo frases que expressassem sua teologia, pensada em termos hebraicos. Por isso a leitura do livro resultou mais fácil, porque o nível literário de seu texto é menos elevado. 5 – A cristologia do livro é a mesma daquela exposta no Evangelho de João. Em ambos os textos, são-nos reveladas a divindade e a glória de Cristo em dimensões não encontradas em nenhum outro lugar nas Escrituras. 6 – Em Apocalipse 19.13, é usado o termo logos para identificar a Pessoa de Cristo, já em sua glória e majestade, no momento em que está 6
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prestes a infligir derrota cabal às forças cósmicas do mal. Somente o Evangelho de João, em 1.1,14, e a carta de 1 João, em 1.1, empregam logos nesse sentido, uma evidência de que os três textos provêm da mesma pena. Quanto à questão sobre se ele escreveu enquanto estava na ilha ou depois de seu retorno, o próprio texto nos dá uma resposta, no episódio dos sete trovões, no cap. 10, v. 4: “Logo que falaram os sete trovões, eu ia escrever, mas ouvi uma voz do céu dizendo: Guarda em segredo as coisas que os sete trovões falaram e não as escrevas.” Afinal, a quem Jesus concederia o privilégio de tão importante revelação? Naturalmente, a alguém a quem muito amava. Grandes revelações foram trazidas, invariavelmente, a pessoas que gozavam de muita proximidade com Deus: Moisés, Jacó, Davi, Isaías, Ezequiel, Daniel, Pedro, Paulo. Este fato, no entanto, nunca é mencionado por aqueles que procuram questionar a autoria apostólica desse livro.
6. Data Domiciano foi imperador de 81 a 96. João foi desterrado para Pátmos por ele, tendo voltado a Éfeso após a sua morte, de acordo com Eusébio na sua História Eclesiástica. João afirma que recebeu a visão lá. Por esses dados, somados a outras circunstâncias, estima-se que o registro da visão ocorreu por volta do ano 95, sendo este o último livro composto dentre aqueles que formam o canon das Escrituras.
7. Conteúdo A manifestação da Pessoa de Cristo é o seu conteúdo. Ele comunica a nós diversos aspectos de Cristo que ainda não haviam sido revelados, ou o foram de modo parcial, em especial, sua majestade, seu poder e sua glória. A igreja, por exemplo, só aparece no livro quando relacionada a ele, como suas testemunhas, sua noiva, sua esposa ou seus herdeiros.
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8. Objetivo Trazer a todos os homens, desde os primeiros leitores e ouvintes, até os que presenciarem a sua volta, uma mensagem de conforto, confiança, estímulo e regozijo.
9. O Fim do Mundo? Prevalece no ideário popular o conceito de que o Apocalipse é um livro sobre o fim do mundo. Na verdade, o que se vê nele são as etapas da dramática transformação deste universo num outro definitivo, compatível com a perfeição divina, e que abrigará uma humanidade também aperfeiçoada ao máximo, como etapa final da obra criadora de Deus.
10. Glossário Básico Os termos reunidos neste tópico permeiam todo o livro e são de grande importância para a compreensão de sua mensagem. Por outro lado, sem o entendimento correto deles, o livro poderá parecer um amontoado de visões grotescas e desprovidas de uma mensagem clara e coerente. Espada
• Um objeto metálico cortante; • Julgamento
Chifre
• Apêndice ósseo de alguns animais; • Poder
Olho
• Órgão da visão; • Ciência, conhecimento, sabedoria
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A POCALIPSE
Água
Essa é uma palavra de significação complexa no Apocalipse. Além do sentido normal do termo, água é vista no livro como símbolo de povos, multidões, sendo que mar, um rio largo, um rio estreito e, às vezes, um mar específico ou um rio determinado trazem significações próprias.
Monte, Montanha
Alguém se referiu a Roma como “A Cidade das Sete Colinas”. Essa despretensiosa frase literária (não são apenas sete), tem sido tomada como base argumentativa de certas escolas de interpretação que restringem o entendimento e desviam o leitor do verdadeiro significado que, na maioria das vezes, essas palavras têm no Apocalipse e, em geral, nos textos bíblicos proféticos. Eis que sou contra ti ó monte que destrói. Jr 51.25. Por que olhais com inveja ó montes elevados, o monte que Deus escolheu para a sua habitação? Sl 68.16. Monte aí não é sinônimo de acidente geográfico, mas de entidades vivas e dinâmicas.
No capítulo I, iniciaremos a leitura comentada do texto. Tenhamos redobrado cuidado com seus muitos símbolos. Uma besta com sete cabeças, frequentemente desenhada, pintada e esculpida, nunca existiu, nem na mente de Cristo que se revelou a João, nem na mente de João que entendeu a mensagem. Sendo assim, essas representações apenas aterrorizam alguns, confundem todos e não trazem mensagem positiva a ninguém. Símbolo é um signo de reconhecimento. Jung diz: “O símbolo ... é a melhor expressão possível de um conteúdo inconsciente unicamente pressentido mas ainda não reconhecido”. Por meio daquele símbolo, João percebeu, os leitores originários também, e os leitores atuais devem fazê-lo, a verdadeira extensão da bestialidade dos reinos do mundo, especificamente dos seus sucessivos impérios mais poderosos.
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Capítulo I
A origem transcendental do livro, declarada no primeiro versículo, ao contrário do que acontece na apocalíptica judaica. O verso 3, também de modo incomum em relação aos outros textos bíblicos canônicos, assegura bem-aventurança a seus leitores e ouvintes.
Capítulo 1, versos 1 a 3. Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que, em breve, devem acontecer, e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João, 1
o qual atestou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu.
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Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo. 3
Jesus Cristo. A palavra Cristo, que em grego significa ungido, foi posta aqui com um propósito definido. O texto declara que o Jesus de Nazaré histórico é o mesmo Cristo, cuja unção por Deus fora decidida e prevista séculos antes, fato que o diferencia de todos os outros profetas em qualquer época. Deus lhe deu. Deus decidiu contemplar os humanos com certos dados sobre seu Filho Jesus, principalmente aqueles relativos ao seu poder e à sua 11