Copyright2008 por Paschoal Piragine Jr. Todos os direitos reservados por: A. D. Santos Editora Al. Júlia da Costa, 215 80410-070 - Curitiba - Paraná - Brasil +55(41)3207-8585 www.adsantos.com.br editora@adsantos.com.br
Tratamento editorial: Cleide da Silva Neto Elly Claire Jansson Lopes Revisão gramatical: Elly Claire Jansson Lopes Produção e diagramação: Cleide da Silva Neto Manoel Menezes Impressão e acabamento: Editora Betânia
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) PIRAGINE Jr. Paschoal, BATALHA ESPIRITUAL - Ministrando libertação no Corpo de Cristo – Pastor Paschoal Piragine Jr. / Curitiba: A. D. SANTOS EDITORA, 2008. 64 p. ISBN – 978.85.7459.073-8 1. Experiência religiosa 3. Normas de conduta cristã
2. Rearmamento moral 4. Testemunhos de fé CDD – 248
1ª edição do autor: 2.000 exemplares – Agosto/2008 2ª edição: 5.000 exemplares – Janeiro/2009 Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios a não ser em citações breves, com indicação da fonte.
Edição e Distribuição:
BATALHA ESPIRITUAL Ministrando libertação no Corpo de Cristo
APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 1. CONHEÇA O INIMIGO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 2. POSSESSÃO DEMONÍACA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 3. OPRESSÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 4. TENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 5. ARMAS DO INIMIGO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 6. MINISTÉRIO DE LIBERTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 7. MANIFESTAÇÕES SATÂNICAS NO CULTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 8. NOSSA ENERGIA: JEJUM E ORAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 9. DICAS PRÁTICAS PARA O ENFRENTAMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 10. DÚVIDAS E OUTRAS QUESTÕES DE INTERESSE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 CONCLUSÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
i
Apresentação
Ao longo da história, a manifestação demoníaca é uma realidade, não apenas nas narrativas bíblicas como na igreja atual. O dinamismo da igreja e o crescente fluxo de pessoas que buscam orientações e soluções para conflitos espirituais, existenciais e morais exige que os líderes espirituais, atentos às necessidades que se evidenciam, estejam preparados para corresponder a essa busca e cumprir, da melhor maneira, a missão que o Senhor lhes deu. Possessão demoníaca e libertação espiritual é um assunto delicado e polêmico e, considerando que Satanás usa suas estratégias para dividir, confundir e amedrontar, é preciso estarmos alerta e bem fundamentados para não entrar no jogo do inimigo. Por esse motivo, e também atendendo ao pedido de muitos líderes, sentimos a necessidade de oferecer material específico sobre esse assunto que tem sido objeto de interesse dos cristãos. Foi elaborado para clarear pontos controversos e oferecer instrumento seguro de estudo à luz da Bíblia, trazer esclarecimentos sobre o tema, promover a unidade do corpo de Cristo e oferecer auxílio no trato com as pessoas que necessitam de auxílio nesta área.
Pr. Paschoal Piragine Jr.
iii
Possessão demoníaca e libertação Introdução postura filosófica da pós-moderniArentes, dade acata e absorve todas as coras concepções, os comportamentos, considerando válida toda e qualquer manifestação, como expressão da individualidade e da realização pessoal. Entretanto, o que se vê com mais freqüência no mundo de hoje é uma sociedade mergulhada na depressão, na opressão e nos conflitos que aprisionam a mente e o corpo. Onde está, então, essa realização pessoal? Quais as conseqüências dessa atitude de aceitação indiscriminada de conceitos e idéias? Para o cristão, essa postura opõe-se frontalmente ao que Jesus ensinou ao dizer “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (BÍBLIA, N. T. João 8:36). Isso quer dizer que nossa libertação tem a ver, necessariamente, com a aceitação da verdade de Cristo e obediência ao que Ele nos ensina. Esse ensino pode até parecer radical, mas a missão de Jesus é salvar o ser humano, libertando-o do poder do mal e, assim, redimir o universo. Sempre que pregamos o Evangelho, estamos anunciando
libertação. E aquele que aceita a Cristo como Salvador e Senhor, crendo que a sua palavra é a verdade, há de sentir o que é ser verdadeiramente livre. Porém, como vivemos em constante luta entre o bem e o mal, entre a verdade e a mentira (Rm. 6), precisamos saber que Satanás - o opositor e opressor – é guerreiro astuto e não desiste de suas malévolas intenções. Onde houver uma oportunidade, aí ele entra, para confundir, amedrontar, dividir. É isso que ele tem feito até mesmo em algumas igrejas evangélicas, deixando nelas as marcas de sua atuação. Paradoxal e visivelmente, uma dessas marcas é a atitude de alguns cristãos que, julgando-se especializados em expulsar demônios, começam a se sentir “mais espirituais” que aqueles que não se sentem capacitados para esse tipo de atuação. Resultado: igrejas divididas, inimizades, desarmonia porque a verdade bíblica não foi compreendida na sua inteireza, ou foi desvirtuada. O objetivo deste trabalho é apresentar um roteiro de estudo que facilite a compreensão do que a Palavra de Deus ensina sobre possessão demoníaca, opressão, e libertação.
1
Conheça o inimigo odo aquele que se propõe Tnecessariamente, entrar numa batalha tem, que saber quem é o seu inimigo, como ele se manifesta e age e qual o seu sistema de trabalho. O que se pensa a respeito de Satanás? Uma visão histórica, liberal, supersticiosa? Quais as concepções que se tem sobre ele e suas ações?
Quem é Satanás? A história da igreja e da sua doutrina revela que, até o final do século 19, não havia nenhuma dúvida a respeito da existência de Satanás, em nenhum ramo do cristianismo, seja na Igreja Católica, Ortodoxa ou Evangélica. Embora houvesse divergência quanto à maneira de atuar, todas admitiam sua existência como uma pessoa e como inimigo dos santos, trabalhando contra a vida deles e contra a igreja. A partir do final do século 19 e meados do século 20, alguns teólogos, influenciados pelas correntes modernas da psicologia e da psiquiatria, começaram a publicar uma vasta literatura defendendo a idéia de que Satanás não existe, não é uma pessoa nem uma força, mas um mito das culturas antigas. O que a Bíblia relata como possessão demoníaca nada mais seria do que doenças psicossomáticas ou psiquiátricas como manifestações de epi2
lepsia, dupla personalidade ou até mesmo ansiedade e, como tais, deveriam ser tratadas. Teólogos mais liberais abraçaram prontamente essa teoria e foram além, tentando desmitificar Jesus: há um Jesus histórico e um Jesus dos mitos da Bíblia. Os relatos bíblicos dos milagres, tanto do Velho como do Novo Testamento, devem ser entendidos como conseqüências de fenômenos naturais e não como intervenção direta de Deus. Tais idéias atingiram muitas igrejas evangélicas, inclusive batistas que, apesar de defenderem a plenitude da inspiração bíblica, deixaram-se enredar por essas teorias. Chegaram ao ponto de afirmar que a oração é um bom exercício de catarse, mas que Deus não vai intervir no mundo ou na vida das pessoas por causa da oração, pois ele já fez todos os seus planos. Entretanto, quem ler a Bíblia com sincero desejo de busca da verdade, com certeza a encontrará.
O que a Bíblia diz sobre Satanás? A Bíblia diz claramente, em dezenas de textos, que existe um ser chamado Satanás. Quem ele é e a sua origem é uma doutrina construída em cima de poucos textos bíblicos e necessário se faz estudá-los com muito cuidado.
Em Ezequiel 28, entendemos sua origem como um anjo que se revoltou contra Deus, sendo por isso expulso da corte celestial. Mas ele não foi sozinho; levou consigo um terço das hostes celestiais, que são Satanás e seus anjos ou demônios. Estes não são, portanto, espíritos desencarnados como ensinam os espíritas; são anjos caídos com Satanás. Na estrutura angelical, os anjos são ministros de Deus e fazem parte dos exércitos celestiais. Assim, à semelhança de um exército, eles têm uma estrutura hierárquica: anjo, arcanjo, serafim, querubim. Têm autoridade e poder delegados por Deus, soberano e único Senhor. Nessa hierarquia, Deus, na criação, confere autoridade a esses seres angelicais. Ora, se um terço desses seres angélicos caíram liderados por Satanás, isso significa que tais poderes, conferidos na criação, continuam com eles, ainda que distorcidos. Encontram-se, assim, castas demoníacas mais resistentes, conforme o relato de Marcos 9:28-29. Respondeu Jesus: “Quando entrou em casa, os seus discípulos lhe perguntaram em particular: Por que não podemos nós expulsá-lo? Respondeu-lhes; Esta casta não pode sair senão por meio de oração e jejum”.
Então: Satanás e os demônios são anjos caídos. A Bíblia ensina sobre o pecado e a queda de Satanás, mas não as razões desse fracasso. O livro de Deus não foi escrito para satisfazer a curiosidade do homem, mas para revelar o caráter de Deus. Pode-se inferir algumas idéias a partir de alguns textos biblícos. Confira:
11
Esta palavra do SENHOR veio a mim: “Filho do homem erga um lamento a respeito do rei de Tiro e diga-lhe: Assim diz o Soberano, o SENHOR: ”Você era o modelo da perfeição, cheio de sabedoria e de perfeita beleza. 13Você estava no Éden, no jardim de Deus; todas as pedras preciosas o enfeitavam: sárdio, topázio e diamante, berilo, ônix e jaspe, safira, carbúnculo e esmeralda. Seus engastes e guarnições eram feitos de ouro; tudo foi preparado no dia em que você foi criado. 14Você foi ungido como um querubim guardião, pois para isso eu o designei. Você estava no monte santo de Deus e caminhava entre as pedras fulgurantes. 15Você era inculpável em seus caminhos desde o dia em que foi criado até que se achou maldade em você. 16Por meio do seu amplo comércio, você encheu-se de violência e pecou. Por isso eu o lancei, humilhado, para longe do monte de Deus, e o expulsei, ó querubim guardião, do meio das pedras fulgurantes. 17 Seu coração tornou-se orgulhoso por causa da sua beleza, e você corrompeu a sua sabedoria por causa do seu esplendor. Por isso eu o atirei à terra; fiz de você um espetáculo para os reis. 18Por meio dos seus muitos pecados e do seu comércio desonesto você profanou os seus santuários. Por isso fiz sair de você um fogo, que o consumiu, e reduzi você a cinzas no chão, à vista de todos os que estavam observando. 19Todas as nações que o conheciam espantaram-se ao vê-lo; chegou o seu terrível fim, você não mais existirá”. (BÍBLIA, V. T. Ezequiel 28:11-19)”. 13 Você, que dizia no seu coração: “Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; eu me assentarei no monte da assembléia, no ponto mais elevado do monte santo. 14Subirei mais alto que as mais altas nuvens; serei como o Altíssimo”. (BÍBLIA, V. T. Isaías 14:13-14). 12
Assim, no ato da criação, Satanás e os demônios eram santos anjos. Deus não 3
os criou no mal ou imperfeitos, criou-os na estrutura angélica, mas eles se rebelaram, caíram e passaram a ser imundos, abomináveis e cujo intento é maligno.
Qual o propósito de Satanás contra a igreja e o mundo? Tomar o lugar que é exclusividade de Deus: o lugar da adoração. Ele se infiltra na igreja, plantando o joio no meio do trigo. Importante lembrar que fazer distinção entre joio e trigo é tarefa exclusiva de Deus; não compete a homem nenhum julgar o seu próximo.
Qual a condição de Satanás e seus demônios hoje no universo? 10
Seus filhos se prepararão para a guerra e reunirão um grande exército, que avançará como uma inundação irresistível e levará os combates até a fortaleza do rei do sul. 11“Em face disso, o rei do sul marchará furioso para combater o rei do norte, que o enfrentará com um enorme exército, mas, apesar disso, será derrotado. 12Quando o exército for vencido, o rei do sul se encherá de orgulho e matará milhares, mas o seu triunfo será breve. 13Pois o rei do norte reunirá outro exército, maior que o primeiro; depois de alguns anos voltará a atacá-lo com um exército enorme e bem equipado. 14 “Naquela época muitos se rebelarão contra o rei do sul. E os homens violentos do povo a que você pertence se revoltarão para cumprirem esta visão, mas não terão sucesso. (BÍBLIA, V. T. Daniel 10:10-14). 13 Então vi saírem da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs. 14 São espíritos de demônios que realizam sinais miraculosos; eles vão aos reis de todo o mundo, a fim de reuni-los para a batalha 4
do grande dia do Deus todo-poderoso. 15 “Eis que venho como ladrão! Feliz aquele que permanece vigilante e conserva consigo as suas vestes, para que não ande nu e não seja vista a sua vergonha”. 16Então os três espíritos os reuniram no lugar que, em hebraico, é chamado Armagedom. (BÍBLIA, V. T. Apocalipse 16:13-16).
Estes textos revelam que Satanás e os demônios estão se opondo a todos os propósitos de Deus. Satanás não é onisciente, onipresente ou onipotente como Deus o é. Ele trabalha conectado a sua rede de ação; tem um exército com o qual troca informações. Por isso, esses demônios podem revelar coisas que nos deixam intrigados: “Como ele sabe isso?” O cristãos que está ministrando libertação a uma pessoa possessa ou endemoninhada precisa saber como o inimigo age para não se intimidar nem lhe dar oportunidade de intimidação. Os demônios têm um projeto, que é afligir os homens e fazê-los cair na fé, desanimar, abandonar os caminhos do Senhor e abraçar doutrinas falsas. Esses são seus alvos nessa batalha espiritual porque Satanás quer o lugar de Deus, quer ser adorado. Por isso, difundem doutrinas falsas. A Bíblía deixa claro esse propósito. O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios. (BÍBLIA, N. T. 1 Timóteo 4:1).
Na história da igreja, aprendemos que os grandes pensadores evangélicos como Lutero e Calvino entendiam que a verdadeira batalha espiritual era uma cegueira que estava sendo lançada em
todo o mundo, tentando impedir que Jesus fosse reconhecido como único Salvador e Senhor. A luta desses teólogos era contra as heresias que se alastravam e tentavam matar a verdadeira fé.
truição da fé e afastamento da sã doutrina. Impossível viver essa duplicidade: ou estamos nas trevas ou estamos na luz. Jesus diz: “eu sou a luz do mundo”.
Entenda os vocábulos bíblicos A Bíblia também diz que o mundo jaz no maligno. O que significa isso? Satanás criou seu reino próprio e se lançou neste mundo, sendo o príncipe dele. Trabalha para controlar a cultura, os meios de comunicação, para disseminar suas idéias de tal maneira que fortalezas se criem em nosso entendimento, provocando uma cegueira espiritual tão grande cujo resultado será o afastamento de Deus. “Ele cegou o entendimento dos incrédulos”. (BÍBLIA, N.T. 2 Coríntios 4:4)
Uma observação atenta e criteriosa aos programas de televisão, aos jornais, revistas, internet, música, cinema, teatro, leva-nos a concluir que existe na cultura do mundo de hoje um movimento oculto, orquestrado pelo mal, com o propósito de estabelecer um véu de cegueira que nos impeça de ver para onde estamos indo. A Bíblia diz que ele é o príncipe deste mundo, por isso, todas as vezes que o evangelho é pregado, nós tentamos rasgar esse véu e muitas batalhas espirituais acontecem. O livro “Quebrando Correntes” de Neil T. Anderson, esclarece esse fato e diz que há em nossas igrejas muita gente inativa, inoperosa, oprimida que se torna instrumento de rebeldia. Querem viver uma vida dupla: um pé na igreja, um pé no mundo. Sexualidade corrompida, desonestidade, mentira, libertinagem. Ora, a origem dessa perversidade no mundo cristão é Satanás. Viver essa duplicidade é abrir a brecha para a des-
“Daímon” - significa demônio; no grego aparece geralmente no plural. Isso mostra que não se trata de um só, mas de uma casta. “Os demônios imploravam a Jesus: “Se nos expulsas, manda-nos entrar naquela manada de porcos”. (BÍBLIA, N. T. Mateus 8:31).
“Daimonion” é adjetivo neutro singular que também aparece no plural, empregado aproximadamente 63 vezes no Novo Testamento. “Daimonizomai” é um verbo, significa ser endemoninhado, ter demônio, ou ser possesso por um demônio; também aparece muitas vezes no Novo Testamento. Outras expressões aparecem com freqüência para definir essa situação: espírito, espírito surdo, espírito mudo, espírito de enfermidade, espírito maligno, espíritos enganadores. No Velho Testamento, vários textos falam sobre espírito de prostituição; um espírito de homicida e de discórdia estava atacando a vida de Saul. Em todas essas passagens, a idéia bíblica é de que há uma influência satânica interferindo e gerando essas paixões. Veja os textos abaixo: “Eles pedem conselhos a um ídolo de madeira, e de um pedaço de pau recebem resposta. Um espírito de prostituição os leva a desviar-se; eles são infiéis ao seu 5
Deus”. (BÍBLIA, V. T. Oséias 4:12). “No dia seguinte, um espírito maligno mandado por Deus apoderou-se de Saul e ele entrou em transe em sua casa, enquanto Davi tocava harpa, como costumava fazer. Saul estava com uma lança na mão”... (BÍBLIA, V. T. 1 Samuel 18:10). “Quando Deus enviou um espírito maligno entre Abimeleque e os cidadãos de Siquém, e estes agiram traiçoeiramente contra Abimeleque”. (BÍBLIA, V. T. Juízes 9:23).
Infere-se daí que os demônios são concebidos, segundo a Bíblia, como espíritos, ou seja: poderes não físicos que incidem sobre as pessoas e lhes causam malefícios. Outro dado digno de nota é que o Novo Testamento todo emprega uma só vez o termo “daimon” (demônio) no masculino plural, sendo as demais formas no neutro: demônios. Nas línguas primitivas, o gênero neutro designava, em geral, nomes de seres inanimados, de coisas, diferentemente do masculino ou feminino que designa pessoas. Essa distinção, mesmo nas línguas primitivas, não era absoluta; por isso, a maioria das línguas modernas, em sua evolução lingüística, perdeu o gênero neutro. Com base nesse fato, muitos teólogos, difundiram a idéia de que se “daimon” é neutro, então não é uma pessoa, é uma coisa. Passaram assim a desacreditar daquilo que a Bíblia ensina, afirmando que as manifestações demoníacas seriam simples manifestações de coisas naturais.
1
Mas, segundo a Bíblia, os demônios e Satanás são espíritos, pessoas incorpóreas capazes de possuir aqueles que os invocam e estão sem Cristo, à mercê de suas artimanhas. Muita literatura existe sobre o assunto, defendendo a idéia de que demônios não existem. Padre Oscar Quevedo1 é um nome bem conhecido nessa linha. Alguns outros teólogos afirmam que sendo espíritos imundos, espíritos da maldade, designá-los com o gênero neutro significa não lhes atribuir dignidade. Enfim, para nós, gênero neutro ou masculino não é o que mais importa. A verdade é que demônios existem e possessão demoníaca acontece.
Na cultura clássica No grego clássico, no tempo de Homero, DAÍMOM designava o divino. Não representava necessariamente o mal, representava uma divindade. Em seu politeísmo, os gregos antigos criaram uma gama imensa de deuses que, na sua concepção mitológica, habitavam o Olimpo (uma espécie de céu) e que atuariam nas mais diversas esferas da vida. Havia, assim, o deus da guerra, o da fertilidade, o da riqueza, o do mar, etc. Zeus era o pai de todos os deuses. A cultura romana tinha também seus deuses, com nomenclatura própria, numa estrutura semelhante à dos gregos. Explica-se esse fato, não só na cultura greco–latina, mas em todas as religiões politeístas, porque o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, tem
Teólogo, fundador do Centro Latino-Americano de Parapsicologia (CLAP) 6
em si o desejo inato de busca do sagrado, de busca do Ser Superior – Deus. Entretanto, criar ídolos para satisfazer esse desejo é substituir o verdadeiro culto pela idolatria e isso é obra de Satanás, que deseja tirar o lugar de adoração de Deus desviando o sentimento de busca do Deus verdadeiro para as paixões da carne, personificadas nos deuses (DAÍMOM) dos panteões gregos e romanos.
Explica-se assim o sincretismo religioso no Brasil. A influência dos mitos e da cultura indígena e estando a porta aberta com a idolatria a Maria, os negros escravos africanos implantaram seus deuses, associando-os aos seus correspondentes: o santo da guerra, o casamenteiro, o das causas impossíveis, etc. Cada santo é especialista em alguma coisa. Nada diferente dos deuses dos panteões greco-romanos.
A cultura cristã e o sincretismo religi- Período inter-bíblico e o Novo Testaoso no Brasil mento Algo semelhante acontece no cristianismo. Até cerca de 250 D.C., a adoração era exclusivamente a Deus, em nome de Jesus. A partir daí, começa a difundir-se a idéia de que Maria, sendo a mãe de Jesus, é mais acessível ao homem. Deus é muito distante; então, Maria intercede junto a Jesus e este, junto a Deus. Assim, começa o culto à virgem Maria, que foi logo combatido pela igreja cristã, como heresia. Este assunto tornou-se objeto de disputa nos concílios e abriu-se a porta da idolatria católica, com adoração aos mais diversos santos. Quando o Imperador Constantino converteu-se, ele decretou que o Cristianismo seria a religião oficial. Todo pagão deveria tornar-se cristão. Ora, é óbvio que ninguém se torna cristão por decreto. O que aconteceu então foi uma espécie de transferência da estrutura mitológica greco romana para a idolatria católica.
No período entre Antigo Testamento e Novo Testamento, a concepção passou a ser quase exclusivamente que os poderes espirituais ou os demônios eram seres antidivinos. O conceito de batalha já começa a ser identificado na literatura apocalíptica desse tempo. Eles eram os responsáveis por uma série de desgraças físicas e morais que pervertiam a religiosidade, geravam o pecado e a idolatria. Essa era, mais ou menos, a idéia popular a respeito dos demônios no tempo do Senhor Jesus. O ídolo, a estátua, em si mesma não é um demônio, mas atrás dessa instituição, dessa cegueira espiritual, existe um demônio. A Bíblia é clara a esse respeito (1 Co. 10), por isso, num processo de libertação, é necessário quebrar esses vínculos. Não porque esses objetos tenham algum poder, mas porque aquilo que eles representam tem um significado espiritual demoníaco.
7