O Sopro do Poder
Î A busca por inovações, novas técnicas, estratégias,
enfim, tudo o que é novo exerce fascínio na imaginação humana. Esta capacidade visionária acompanha o homem desde a sua criação. Ele transpôs os séculos esquadrinhando o mundo, em uma eterna procura pelo inusitado, renovando suas pesquisas e encontrando resultados, os quais se renovam constantemente, para que esta busca de soluções lhe trouxesse maior qualidade de vida. Sendo esta revelada como a eterna procura pela felicidade! O prazer pessoal sempre foi o grande motivacional que levou homens a se superarem em suas áreas de atuação. 1
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O primeiro impulso sempre é para satisfazer o eu, e depois os outros, salvo raríssimas exceções em que o criador objetiva primitivamente o bem comum da coletividade, permitindo-se usufruir os resultados da sua invenção, junto aos seus semelhantes. O novo sofre transformações flexíveis constantemente e, no presente século se renova avassaladoramente. Hoje, o cientista tem à disposição o recurso da tecnologia que o ajuda em suas pesquisas, mas, no passado... Mesmo o que hoje parece tão simples como o café já processado e pronto para ser degustado, um dia foi necessário que alguém o descobrisse. Quem já colheu um grão de café sabe das interrogações que nos veem à mente. Afinal, como foi que há tanto tempo atrás, conseguiu-se descobrir que aquele fruto insípido com uma pequena semente em seu interior poderia se transformar em um líquido apreciado nos quatro cantos do mundo? Assim são todas as outras inovações que nos trouxeram e nos trazem prazer e bem estar. O mundo está em constante evolução e o homem procura soluções no presente, que outrora já povoaram a mente de nossos antepassados. Infelizmente a busca pelo novo também tem o seu lado cruel. Não se pode esquecer as grandes invenções que tiveram o seu uso apropriado desviado para a execução do mal. O avião nasceu do sonho do homem em ganhar as alturas e, voar. Porém, o seu inventor, Santos Dumont, se suicidou quando viu que o seu sonho, quando realizado, tornou-se uma potente arma para a destruição de seres humanos. O mundo está em constante evolução e o homem procura soluções no presente que outrora já povoaram a mente de nossos antepassados.
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A eterna busca pela felicidade é a grande motivação da alma do homem à procura de inovações. Ocorre que o novo já nasce com prazo de validade estipulado e não satisfaz plenamente o desejo de ser feliz. Talvez porque os valores que os homens buscam na “felicidade” não sejam verdadeiros, por quê? O que é felicidade? Seria esta busca evolutiva a procura do novo que possa trazer satisfação? Porque esta vem e passa igualmente de forma rápida por nossas vidas. A compra de um bem desejado perde o fascínio após alguns poucos momentos e outra prioridade ocupa o seu lugar. Para a efetiva confirmação da felicidade não pode existir “meio prazer”. Ele tem que ser duradouro e constante, deve ser eterno. E, o que tem sido para o homem viver o prazer em pequenas porções? Para alguns a eterna insatisfação, para outros suas desgraça e para os que o rodeiam seus tormentos e pesadelos. O exercício do domínio sobre seus semelhantes, igualmente como o novo, tem povoado a mente dos homens através de gerações. Existem aqueles que miram a sua felicidade projetando o poder como a realização de todos os seus ideais de prazer, mas, ele não é absoluto, nem duradouro, ou constante. Ele não é eterno! Como todos os anseios dos homens, ele é mais um que se esvai à medida em que o tempo implacavelmente decorre. Porque tudo se renova. O velho se recicla e se faz novo e, o novo se torna velho, e assim sucessivamente. A compra de um bem desejado perde o fascínio após alguns poucos momentos e outra prioridade ocupa o seu lugar.
O poder tem na posição de destaque a sua realização e é por isso que os candidatos a cargos se multiplicam em incan3
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sável renovação. Gerações se sucedem e lideranças surgem sempre proclamando repetitivas promessas de campanha. Ao alçarem o poder e, mesmo sendo reeleitos para novos mandatos, haverá o dia em que alguém o sucederá. Então, novas promessas serão mescladas com as antigas e num curto período de tempo serão relegadas ao baú do esquecimento. Tudo se renova. O velho se recicla e se faz novo e, o novo se torna velho, e assim sucessivamente.
Para o simples mortal o exercício do poder tem o atrativo de ter o que seus semelhantes jamais terão. É da natureza humana se colocar como figura de destaque em meio à multidão. O prazer de sentir-se soberano é inseparável ao desejo de alcançar a felicidade. Homens em todas as camadas sociais sofrem a metamorfose do ser mais ou ter mais que os outros. Fico admirado quando a indústria automotiva lança novos modelos e em poucos dias a novidade desfila garbosa pelas ruas das cidades. Modelos dedicados a uma fatia do mercado de menos poder aquisitivo, pelo ineditismo, por representar o novo, é absorvido de imediato por altas camadas da sociedade, mesmo que alguns dias depois estejam ocupando o pátio de uma revenda de carros usados qualquer. Isto tudo para ser o primeiro a ter o sonho, mesmo que não seja o dele mesmo, mas o dos outros realizados. Mas, esta insensatez não se restringe a quem possui um alto poder aquisitivo. Ela está presente em todas as camadas sociais. Porque tudo o que não é eterno e nós desejamos, quando o obtemos, perde o valor que lhe atribuímos e, buscamos algo que possa substituí-lo. Correr atrás de uma bolha de sabão achando estar perseguindo o palpável é uma forma de realização pessoal efêmera, equivale a correr atrás do vento. O cargo é autêntico, mas o 4
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poder que dele emana é como um sopro que se esvai. A felicidade não pode estar onde conflitos são naturais, em que os interesses pessoais são latentes nas transformações humanas. Onde as ovelhas se transformam em lobos ferozes com tendência a devorar os que se opõem à realização dos seus sonhos. Nesta luta insana o homem pode perder o que lhe resta da dignidade humana, ainda existente dentro de si. Tudo o que não é eterno e nós desejamos, quando o obtemos, perde o valor que lhe atribuímos e, buscamos algo que possa substituí-lo.
A quebra de valores intrínsecos à integridade está presente na busca do poder e da posição que um cargo pode oferecer. Permitir que certos valores percam-se no caminho, pode acarretar a dissolução dos bons sentimentos da alma, a qual, no que é apregoado pelas religiões, é eterna. Por este caminho percorreram os grandes déspotas e facínoras que mancharam a história do homem sobre a Terra. A busca do prazer não pode custar a desgraça de nossos semelhantes e, mesmo o poder sendo passageiro, aquele que o exerce pode passar para a história como um ser desprezível e carniceiro. Neste contexto expomos três exemplos, já que enumerá-los todos é passível de várias enciclopédias: 1) Hitler, que exterminou milhões de judeus em campos de concentração durante a Segunda Guerra mundial; 2) Slobodan Milosevic ex-presidente da Iugoslávia que cometeu crimes de guerra e contra a humanidade, e 3) o rei Herodes que mandou matar mais de duas mil crianças só por conjecturar que uma, pudesse depois de adulta, reivindicar o seu trono. Por trás de todo déspota existe uma motivação doentia.
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O líder que usa de artifícios outros que não o da pureza de sentimentos, terá como recompensa a atração fatal da reciprocidade ainda que em maior escala. Assisti recentemente a um filme em que o dono de uma loja de automóveis vende um carro para um amigo. Este o procurou por achar que o conhecimento lhe traria a vantagem de realizar um bom negócio. Ocorre que o veículo negociado teria custado para o vendedor a metade do valor vendido ao amigo. Na concretização do negócio o comprador disse ao vendedor: Desejo sinceramente e, peço a Deus, meu amigo, que Ele lhe retribua todo o bem que você me fez ao me proporcionar a realização deste ótimo negócio. O vendedor, estupefato, viu-o partindo feliz e satisfeito. Já no escritório o telefone toca e, o gerente do banco lhe cobra o alto valor de uma hipoteca. Receber recompensas pelo ato de praticar o bem ou o mal se avolumam na medida em que são praticados. Por trás de todo déspota existe uma motivação doentia.
Conheci um homem que passou a vida com um propósito definido: Acumular riquezas. Independente desta sua gana, ele era uma boa pessoa, fácil de conviver e desfrutar da sua amizade. Certa vez questionei o seu agir interminável na busca do ter mais, dizendo-lhe que pelo fato de ter já muitas riquezas, era chegado o tempo de desfrutar dos bens que acumulara. A sua resposta me intrigou: – “Mas, eu já desfruto dos meus bens, o meu prazer é trabalhar e eu me sinto feliz quando adquiro outros bens”. Infelizmente, poucos anos depois ele veio a falecer e o desfrute de todas as suas posses simplesmente mudou de mãos. Ele não cria na finidade e nas transforma-
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ções a que estamos sujeitos na brevidade da existência humana. Por que tantos esforços, preocupações com o sobe e desce das bolsas, com os rendimentos das aplicações financeiras, se tudo isto pode ser fruto de um coração enganoso? Por que tanta sede por cargos e posições se as atribuições que lhe são decorrentes são extenuantes e podem deteriorar o corpo humano? Aquele que põe o seu coração na satisfação do ter e ser, está cavando a sua sepultura ou, condenando-se a uma vida vegetativa. Testemunhei um caso em que a posição e o dinheiro pouco fizeram na vida de um homem que alcançou o sucesso como empresário. Ele, proprietário de uma grande empresa no ramo do turismo, alcançou notoriedade e foi agraciado com vários títulos que lhe foram outorgados pelo seu dinamismo, seu empreendedorismo, sua sagacidade na realização de bons negócios. O que era bom para ele, também era para as outras empresas que o seguiam entusiasticamente, taxando-o como exemplo maravilhoso de um homem bem sucedido nos negócios. Com todos os elogios e honrarias que recebia, naturalmente aumentava o seu orgulho e a soberba em sua alma. Sobrevém que para se alcançar tal projeção se faz necessário um esforço sobre humano, porque lidar com pessoas é desgastante, mesmo em grupos pequenos. Imagine um grande conglomerado com lobos disfarçados em ovelhas querendo abocanhar partes do que lhe pertence. Nesta luta desmedida pelo poder e posição, tendo que administrar conflitos humanos, este empresário sofreu um derrame cerebral. Nos últimos anos da sua vida, ele, que foi dono de um império, ficou sob a guarda de estranhos que o ajudavam a sobreviver com o que lhe restou - suas memórias, com suas alegrias e frustrações.
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O nosso existir é feito de mudanças. Elas acontecem naturalmente desde o nascimento, até o dia em que desceremos à sepultura. Se depositarmos a nossa confiança nos desejos do nosso coração, podemos estar sendo enganados, por valores que o tempo inevitavelmente irá corroer. Desfrutar de prazeres absorvidos pelo corpo é transitório, a alegria de uma noite de prazer é absolvida pela fadiga do dia que a sucede. O sentimento da posse de um cargo de destaque não vai durar mais do que alguns poucos mandatos. Logo chega o dia da sucessão e, então a realidade pode se transformar em um pesadelo inesgotável, onde as lembranças do poder corroem a alma e o coração enganoso que jamais está preparado para viver esta verdade. Nada no mundo existe que possa dar sentido à vida, senão a eternidade. Tudo é tão efêmero! Mesmo a alegria da conquista não dura mais que poucos momentos. Tudo o que gera prazer e felicidade sobe aos céus como uma bolha de sabão, e não tendo consistência desaparece no ar. Assim são os poderosos, os que alcançam prestígio e poder, depositando neles o significado de suas existências, os quais como o vento se dissipa em meio às vaidades e desilusões. Se depositarmos a nossa confiança nos desejos do nosso coração, podemos estar sendo enganados, por valores que o tempo inevitavelmente irá corroer.
Para o homem de bom senso sua alçada ao poder não pode ser vista como a chegada a um lugar onde poderão ser satisfeitas as suas vaidades, seus caprichos pessoais... Mas sim um reiniciar a procura por novos desafios que tragam satisfação à sociedade como um todo, e, não apenas a uma fatia de privilegiados. O sábio não descansa pensando que já alcan8
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çou o topo. Ele se prepara porque sabe que a descida pode ser mais extenuante do que a subida. O verdadeiro líder não busca sentido no prazer de possuir ou ser rei. Ele se satisfaz com as coisas simples que nos cercam disponibilizadas pela natureza. Mesmo a criação de um jardim pode ser a resposta para a eterna insatisfação humana. Nele as plantas e as flores podem satisfazer o seu criador, como àqueles que com certeza o irão sempre admirar. Somente quem é dominado pela soberba do coração não acredita nesta possibilidade, pois a vaidade do homem só aceita o que a alma soberba acredita que deve ser. “O melhor uso da vida consiste em gastá-la por alguma coisa que dure mais que a própria vida”. William James O sábio não descansa pensando que já alcançou o topo. Ele se prepara porque sabe que a descida pode ser mais extenuante do que a subida. Í
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