Princípios Bíblicos do Dízimo Cristão

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Capa: Igor Braga

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) SOBRINHO, João Falcão. PRINCÍPIOS BÍBLICOS DO DÍZIMO CRISTÃO – Um novo enfoque de uma prática antiga – João Falcão Sobrinho / Curitiba: A.D. SANTOS EDITORA, 2010. 120 páginas. ISBN – 978.85.7459-210-7 1. Estudos Bíblicos 2. Interpretação Bíblica 3. Comentários Bíblicos CDD – 220 1ª Edição: Abril / 2010 – 3000 exemplares. Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios a não ser em citações breves, com indicação da fonte.

Edição e Distribuição:


DEDICADO

À memória, saudade, ao reconhecimento de

Oscar D. Martin Jr. Amigo, mestre inesquecível na compreensão e ensino da Mordomia Cristã.

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PREFÁCIO

Finalmente vemos realizado um sonho acalentado há muitos

anos. Apesar de existirem várias publicações sobre o assunto enfocado, no entanto, nada tão completo e promissor como o que agora é apresentado. O Pr. João Falcão Sobrinho é considerado uma das maiores autoridades quando o assunto é Mordomia. São várias décadas pregando, escrevendo, fazendo seminários e ensinando em instituições teológicas. Enquanto muitos apregoam que o dízimo não é bíblico e que, inclusive, foi abolido por Jesus, somos confrontados com a veracidade dos ensinamentos bíblicos e com a certeza de que, uma vez colocados em prática poderão impactar e transformar nossas vidas. O que o diferencia das outras publicações é a abrangência do estudo. O assunto é dízimo. São 13 capítulos que tratam dos seguintes temas: A Graça da Fidelidade, santidade de vida, prioridade dos valores espirituais, comunhão, esperança, amor, liberdade, gratidão e louvor, unidade da família, integridade, maturidade, a vontade de Deus e sabedoria e poder. Com a sabedoria que vem de anos de estudo e conhecimento da Palavra de Deus é um convite para retornarmos a uma vida de santidade, de dedicação e, principalmente a experimentarmos a boa, perfeita e agradável vontade do Pai Celeste. O povo cristão, bem como as instituições de ensino tem em mãos, o mais completo compêndio sobre dízimo e suas implicações doutrinárias. Indicado para edificação pessoal, escola bíblica, instituições de ensino; como material para sermões e discipulado. Pr. Adelson Damasceno Santos Editor iii.


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SUMÁRIO Introdução· · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 1 1. A Graça da Fidelidade · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 9 2. Santidade da vida · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 17 3. Prioridade dos valores espirituais · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 25 4. Comunhão · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 33 5. Esperança · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 41 6. Amor · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 49 7. Liberdade· · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 57 8. Gratidão e Louvor · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 65 9. Unidade da Família · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 73 10. Integridade · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 81 11. Maturidade · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 89 12. A Vontade de Deus · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 97 13. Sabedoria e Poder · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 105

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INTRODUÇÃO

É o dízimo uma forma de contribuição cristã? Teria passado

para a Igreja essa prática do judaísmo? Sabemos que os judeus, desde Abraão (Gn 14.20) e Jacó (Gn 28.22) ofereciam seus dízimos a Jeová. A lei mosaica regulamentou o dízimo como uma contribuição que visava manter o culto e o sacerdócio. Os cultos sustentados pelos dízimos conservavam na alma do povo judeu a promessa da vinda do Messias. A vinda do Ungido era, sem dúvida, a grande esperança que os judeus celebravam em seus rituais. Cada filho de Israel trazia como oferta ao Senhor o dízimo dos seus cereais, do seu gado e das suas ovelhas. De cada dez cordeiros que nasciam no rebanho, um era escolhido e levado para ser oferecido. O cordeiro sacrificado como holocausto pelo pecado (Lv 14.13), era uma celebração de esperança na vinda do Cordeiro de Deus como profetizado por Isaías, que haveria de tomar sobre si a culpa dos nossos pecados e as nossas dores: “Como um cordeiro que é levado para o matadouro e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca” (Is 53.7). Essa profecia se cumpriu em Jesus, que foi apontado pelo profeta João como “O Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Podemos afirmar que os dízimos ofertados, em última instância, eram dízimos para o Messias que havia de vir. Era a missão do povo de Israel ser o canal para a vinda do Redentor ao mundo (Gn 12.3). Com a vinda do reino messiânico, os sacrifícios de animais e o próprio sacerdócio foram abolidos, o que ficou explícito no momento em que o véu do templo se rasgou de alto abaixo ao ser Jesus morto na cruz. O sacrifício de Jesus foi único, suficiente, eterno e universal (Hb 9.14).

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Jesus se refere ao dízimo em uma clara alusão às dádivas que os fariseus praticavam, censurando-os por fazê-lo sem as condições prévias indispensáveis da fé comprovada na justiça e na misericórdia (Mt 23.23). Outra alusão de Jesus ao dízimo está na reprovação da atitude dos fariseus na parábola do fariseu e o publicano. O fariseu desvirtua a finalidade dos seus dízimos, orações e jejuns, tomando essas práticas como um motivo de soberba e de desprezo para com o publicano que está em pé, lá atrás contrito e cabisbaixo (Lc 18.1113). Na discussão sobre sua missão, Jesus se declarou “maior do que o templo” (Mt 12.6), portanto, maior do que o santuário que continha o altar e os dízimos. Porém, o dízimo, não foi abolido, mas redimensionado em seu significado e ampliado. A contribuição na Igreja cristã não é contabilizada pelo valor de dez por cento, mas pela generosidade que tudo põe sobre o altar. No Novo Testamento, não é mencionado o dízimo, 10% da renda de cada cristão, para o sustento da Igreja. O entendimento sobre o quantum da contribuição do Novo Testamento está exemplificado em Atos 4.32: “Da multidão dos que criam era um só o coração e uma só a alma, e ninguém dizia que coisa alguma das que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns”. 100% dos corações e 100% dos bens no altar! Totalidade de entrega! O Pastor presbiteriano Júlio Andrade Ferreira diz, com pleno acerto: “A graça da generosidade é o meu dízimo! É o dízimo cristão”.1 O dízimo da lei, tão rigorosa e até exageradamente praticado pelos escribas e fariseus, era 10% das rendas como oferta a Deus. O dízimo cristão vai além dos 10% e abrange a totalidade da renda e dos bens. Tudo o que eu entrego com amor para o sustento da Igreja é de Deus, é o meu dízimo. Eu apenas devolvo para Deus o que a Deus pertence. Mas tudo o que eu con1 Este livro também poderá ser usado para o estudo de um trimestre pela escola bíblica, por uma determinada organização interna da Igreja ou pela própria Igreja nos seus cultos doutrinários. Adicionamos a cada capítulo uma série de textos bíblicos que deverão ser atentamente lidos para maior fundamentação bíblica da matéria. Os textos bíblicos sugeridos para cada capítulo poderão ser usados como leituras diárias.

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servo em meu poder para o sustento da minha família, também pertence a Deus porque eu pertenço a Deus. Consideramos, por isso, o dízimo de 10% como um referencial inicial da contribuição cristã. O mínimo a que devem ser acrescentadas as ofertas para missões, para a ação social, para fins específicos visando o progresso do Reino de Deus. Em 2 Coríntios 8.5 temos uma gráfica ilustração do que é a contribuição cristã. Paulo afirma que os crentes da Macedônia não fizeram apenas uma generosa oferta, mas “primeiramente a si mesmos se deram ao Senhor e a nós, pela vontade do Senhor”, como estudaremos no capítulo 10. Quem já se deu por inteiro ao Senhor, não vai ficar fazendo cálculos percentuais para dar uma contribuição financeira. Dá pela graça, com amor, com generosidade porque a contribuição cristã é oferecida ao Messias que já veio ao mundo demonstrar concretamente a graça de Deus. O Monte do Calvário cumpre e dá significado ao Monte Sinai. A ética do Calvário dá significado à ética da lei. Cristo obedeceu plenamente toda a lei. O dízimo do Novo Testamento realiza a esperança do dízimo do Velho Testamento e vai além, como demonstração da graça. O dízimo da lei foi ultrapassado, foi cumprido com a vinda de Jesus. Hoje vivemos sob a égide da graça. Desse modo, quando usamos a expressão dízimo cristão, não estamos pensando no percentual da lei, dez por cento, que é o significado literal da palavra dízimo. Vamos além da literalidade e entramos na esfera do Espírito. Para nós, dízimo é um termo que abrange tudo o que o cristão oferece pela graça de Deus para a glória de Deus na extensão do seu Reino na terra. Quando dizemos que tomamos o dízimo literal de dez por cento como referencial inicial do dízimo cristão, estamos afirmando duas coisas que desejamos fiquem bem claras. Primeira: Nenhum cristão pode deixar de oferecer a Deus menos do que dez por cento das suas rendas. Sua justiça tem que 3.


exceder a justiça dos escribas e fariseus, que limitavam o dízimo a esse percentual. A segunda verdade, à luz de Atos 4.32. e 2 Coríntios 8.2, é que a marca da contribuição cristã é a generosidade da oferta, não um determinado percentual. Se você entende que a contribuição decapercentual dos ricos fariseus não serve como exemplo por ser uma obrigação da lei, siga o exemplo da graça demonstrado pela viúva pobre. No dizer de Jesus, ela depositou na arca dos dízimos tudo o que tinha, até o seu sustento. Não 10, mas 100%! O contraste que se faz entre a graça e a lei está mais relacionado com as distorções da lei criadas pelos fariseus, do que com o que está escrito na lei, nos salmos e nos profetas. O Velho Testamento tem ricos ensinos sobre a graça. Em Jonas, vemos a graça de Deus alcançando um povo gentio (Jn 4.10,11). A salvação pela graça está expressa em Sofonias 3.17. A Versão Revisada traduz graça por benignidade e misericórdia, palavras que encontramos com o conceito cristão de graça em muitos salmos. Os fariseus deturparam a doutrina da graça e só se preocupavam com o cumprimento da lei. O viver pela graça dispensa o mérito humano e os fariseus, como repetem os ramos do Cristianismo que ensinam a salvação pelas obras, preferiram confiar em seus próprios merecimentos a confiar na graça de Deus, pois a graça impõe um viver de santidade, que eles não estavam dispostos a seguir. O mau uso que os fariseus fizeram da obrigação da lei em relação ao dízimo não deve inibir a generosidade dos cristãos em contribuir para o sustento e a expansão da Igreja. A ideia da retribuição de Deus aos fiéis pela entrega dos dízimos provém de uma compreensão amesquinhada de Malaquias 3.10. Deus não promete “Maior abastança” por causa da entrega dos dízimos, mas pela sua graça, como lemos no versículo seguinte: “por amor de vós reprovarei o devorador e ele não destruirá o fruto da vossa terra” (V. 11). A abastança virá por causa do amor de Deus, não por causa da entrega dos dízimos. O dízimo cristão é encarado como graça, não como objeto de troca. 4.


Se todos os cristãos brasileiros entregassem a Deus 10% das suas rendas, as igrejas teriam meios para comprar milhares de bíblias para semear a Palavra de Deus no Brasil, para imprimir milhares de livros, treinar centenas de evangelistas, construir milhares de templos, comprar centenas de horas e espaço na mídia para fazer avançar a evangelização do Brasil e do mundo e teriam dinheiro para socorrer milhares de necessitados, dedicar verbas para recuperar milhares de drogados, enfim, para que a sua presença no Brasil fizesse a diferença, para que o salvos deste país fossem efetivamente sal da terra e luz do mundo. Que dizer então dos recursos que as igrejas teriam para investir no Reino se os cristãos praticassem o dízimo da generosidade? Numa hora de tremendos desafios, lamentamos a omissão da grande maioria dos cristãos evangélicos na prática da contribuição para a expansão do Reino de Jesus em nossa Pátria. A contribuição cristã não é uma questão de contabilidade, nem de disponibilidade, mas é uma questão de espiritualidade, de piedade cristã verdadeira. Todos os avivamentos da história, inclusive o maior de todos, o de Pentecostes, tiveram como um dos resultados constantes, a generosidade em contribuir. O desapego dos bens terrenos é proporcional à busca dos valores transcendentes. Nossa oração é por um verdadeiro, bíblico e consequente avivamento espiritual entre os cristãos brasileiros porque só assim veremos nossa pátria ganha para Cristo. Lembrando o que diz o Dr. Kendall no livro THINTING, minha esperança de convencer o leitor a se tornar um dizimista cristão nos termos da definição aqui dada ao dízimo, baseia-se em três pressupostos: 1º) Você é nascido de novo. 2º) Como um cristão salvo pela graça de Jesus, você realmente está interessado em agradar ao seu Senhor. 3º) Você crê que a Bíblia é a Palavra de Deus e deseja que sua vida seja governada por ela. 5.


Influenciadas pela herança espiritual da Igreja Católica, que tem como fontes de receitas o pagamento das cerimônias encomendadas, a retribuição financeira pelas “graças” recebidas ou esperadas, as quermesses e os bazares, muitas igrejas evangélicas, talvez a maioria, lança mão de receitas alternativas, que desestimulam a prática do dízimo cristão. O povo das igrejas não se dá conta de que, ao comprar um prato de sopa de lentilhas com a intenção de colaborar no sustento dos projetos da Igreja, está, na verdade, vendendo o direito da sua primogenitura espiritual. É minha convicção que os cristão dão mais quando dão pela graça, por amor, sem receber nenhum alimento ou objeto material em troca e que, com essa dádiva de amor, crescem espiritualmente. Nada contra as cantinas, os almoços e os chás missionários, desde que não desestimulem a generosidade da contribuição voluntária e sistemática do dízimo cristão. O sustento e a expansão da Igreja devem depender somente dos dízimos e ofertas de amor e não de receitas outras para que, ao contribuírem, os cristãos cresçam espiritualmente por se desapegarem dos seus bens terrenos. E isso não é teoria de gabinete. É experiência vivida. Quando assumi o pastorado da Igreja de Irajá, aquela Igreja estava há mais de 20 anos tentando terminar o seu templo dependendo de receitas alternativas. Feijoada, angu à baiana, mungunzá, jantares, tudo era permitido vender para levantar dinheiro para a construção, que se arrastava por mais de duas décadas! Na primeira assembléia que presidi, desafiei a igreja a acabar com todas as receitas alternativas e a depender da oração e dos dízimos e ofertas designadas para a construção. Em apenas dois anos (dois anos!), inauguramos o santuário. Refizemos a escadaria frontal, construímos toda a bancada, assentamos o piso em granitina, colocamos as janelas, fizemos o rebaixamento de teto em gesso, colocamos luminárias, tapetes e cortinas sem fazer dívida alguma, sem falhar um mês sequer na contribuição para a Causa e sem deixar de levantar as ofertas mis-

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sionárias. Tudo sem qualquer tipo de receita além dos dízimos e ofertas de amor. E tudo acompanhado com muita oração. A mesma experiência tivemos na igreja de Acari. Na Igreja da Liberdade, na Tijuca, na compra da casa ao lado do templo, na reforma e aumento do seu salão de cultos, também dispensamos qualquer receita fora de dízimos e ofertas e vimos a Igreja crescer na sua espiritualidade. Quando voltei ao pastorado da Primeira de Irajá, a Igreja ampliou o santuário e construiu um anexo de três andares em apenas dois anos, novamente sem fazer da casa do Senhor uma “Casa de Negócios”, mas dependendo somente da oração, de dízimos e ofertas dos seus membros, sem deixar de contribuir para a denominação e de levantar as ofertas missionárias. O povo de Deus dá mais, com maior alegria, quando dá por amor. Faça a experiência e se surpreenda com os resultados! A Igreja exerce uma influência pedagógica muito forte sobre os seus membros. Se a Igreja procura resolver seus problemas pela oração, as famílias da Igreja também vão encarar suas dificuldades como desafios à oração e passarão a trabalhar mais na dependência do poder de Deus do que em seus próprios planos e esforços e obterão maiores vitórias. Lembro-me de certa vez quando a Igreja da Liberdade estava orando com muito empenho e ajuntando dinheiro de ofertas especiais para comprar a propriedade ao lado do templo. O proprietário se negava a vendê-la, por se tratar de uma relíquia de família, mas Deus agiu e o próprio dono procurou um membro da Igreja para propor a venda. A Igreja conseguiu comprar a casa. Logo em seguida, uma família estava em dificuldade para legalizar a escritura do apartamento que havia comprado. O vendedor perdera a cópia do contrato com a instituição credora. O pai manifestou sua preocupação e uma de suas filhas, de sete anos, olhou bem para ele e disse: “Por que nós não oramos sobre isso? Deus não ouviu as orações da Igreja? Ele vai nos ouvir também”. A família trocou a ansiedade pela confiança em Deus em oração e em poucos dias o problema foi 7.


resolvido. Além da bênção que foi a solução do problema, aquela menina e sua irmã aprenderam, desde cedo, na prática, que Deus ouve a oração e isso foi uma grande bênção em suas vidas. Se a Igreja, porém, confiar em seus próprios esforços, não estará ensinando objetivamente as famílias que a compõe a buscarem o socorro do Senhor em oração a fim de vencer suas dificuldades e elas não crescerão na fé. A única maneira de crescer na fé é pôr a fé em prática! Depois de escrever três livros – Teologia da Mordomia Cristã, Estou Convosco e Mordomia e Missões, além de duas revistas – Crescimento na Graça de Dar (Co-autoria) e Tudo é Vosso, achei que tinha esgotado o assunto. Alguns meses atrás, porém, a liderança da Igreja de Barão da Taquara, da qual sou membro, estava procurando uma revista de mordomia. Fui dormir com essa preocupação na cabeça. Dormi e sonhei que estava escrevendo uma revista sobre o dízimo cristão. Sonhando, dei o título e esbocei treze capítulos. No sonho, achei que a ideia era válida. Acordei, levantei-me, fui para o computador e coloquei tudo na máquina. A seguir, fui pesquisando e preenchendo cada dia um pouco de cada capítulo. Aqui está, portanto, o resultado de um sonho. Acordado, há muitos anos sonho em ver os cristãos brasileiros conscientes de que são mordomos de Deus, consagrando seus bens para a consolidação e a expansão do Reino de Deus em nossa Pátria. Ao meu encontro veio o meu particular amigo Pastor Adelson Damasceno Santos, a quem tive a bênção de batizar em Acari e me pediu para escrever um livro sobre o dízimo para publicar por sua editora. Sonho dele, sonho meu, o leitor tem em suas mãos um livro que esperamos o ajude a refletir sobre a bênção, a alegria de praticar o dízimo cristão. João Falcão Sobrinho

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A GRAÇA DA FIDELIDADE

Textos bíblicos sugeridos para este estudo 2 Coríntios 9.6-8; Gênesis 14.18-24; Gênesis 28.18-22; Salmos 40.8-12; Habacuque 3.17-19; Salmos 119-89-96; Salmos 34.1-9

2 Coríntios 9.6-8

A “LEI DE PAULO”

Dízimo é graça. “Deus ama ao que dá com alegria”, diz o versí-

culo 7 do nosso texto. Vamos ler o parágrafo inteiro: “Lembrem-se: aquele que semeia pouco, também colherá pouco, e aquele que semeia com fartura, também colherá fartamente. Cada um contribua conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem contribui com alegria” (NVI). Entendamos a chamada “Lei de Paulo”: “Conforme determinou no seu coração” significa não apenas o que determinou plantar, mas o que espera colher. Não com usura e egoísmo, mas com generosidade. A fartura das bênçãos espirituais que deseja colher vão depender do que você, em seu coração, determinou plantar. Quem contribui por amor, tem alegria em dar e por isso é amado por Deus, não pelo valor que dá, mas pelo amor com que dá. Em Gálatas 6.8, Paulo declara que “Quem semeia na carne, da carne colherá corrupção; mas quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna”. O que você vai colher depende do que quer plantar. 9.


P RINCÍPIOS B ÍBLICOS DO D ÍZIMO C RISTÃO

Plante no Espírito pela compreensão espiritual dos bens que você oferece a Deus e colha bênçãos de paz, alegria e amor em seu espírito. Não encare os seus dízimos como uma plantação na carne, mas como uma semeadura no espírito, para colher, não fartura material, mas bênçãos espirituais. Em Gálatas 5.22, a Escritura diz que a alegria é fruto do Espírito. Aqui Paulo emprega a palavra xára – alegria, que tem a mesma raiz da palavra xáris, graça, a raiz xar, da qual provêm também as palavras xarisma, dom, xarismata, dons, xaristou, um verbo que significa fazer para alguém algo que causa alegria e bem estar e também xarízomai, outro verbo que significa mostrar favor, dar por bondade. Todas essas palavras são derivadas da raiz xar, alegria interior, que reflete a própria alma do povo grego, não no sentido de euforia carnal, riso, mas do prazer causado na alma pelas coisas belas e puras como as artes e a verdade (DTNT). Xáris, “graça”, para os gregos, designa o favor dos deuses ou dos imperadores, que encanta pela sua beleza moral, pois nada espera em troca senão o bem da pessoa favorecida. A diferença entre o conceito grego de “graça” e o conceito cristão é que os deuses gregos, no entender deles, concediam aos seus adoradores os seus dons como o sol, a chuva, a vida em cada semente, mas não se davam a si mesmos. Na religião cristã, servimos a um Deus que, depois de nos dar tudo de que necessitamos, se dá a si mesmo na pessoa do Filho Unigênito para morrer numa cruz a fim de nos conceder perdão, reconciliação e paz. “Graça” era, para os gregos, o favor dos deuses, mas que não incluía salvação da alma. Para os cristãos, a graça de Deus traz vida eterna, que é uma nova e superior qualidade de vida, a salvação da pena dos pecados já cometidos (Rm 6.23), a libertação do poder do mal no presente (Rm 6.18) e a certeza de plena justificação perante o tribunal da justiça de Deus no último dia. Essa alegria interior em contribuir por amor, com os seus bens para a Causa do Evangelho como é a prática cristã, também é diferente das contribuições que os 10.


1. A G RAÇA DA F IDELIDADE

judeus ofereciam nos seus altares como obrigação imposta pela lei. Os judeus traziam ao altar os seus cordeiros como sacrifícios, mas não se colocavam no altar. Os cristãos, conforme reivindica Paulo, oferecem os seus corpos a Deus, como servos da justiça, para a santificação (Rm 6.19). Dízimo é graça. O dízimo que eu entrego, ou devolvo pertence a Deus, é uma graça que Deus me concede e o Senhor me concede a graça de entregar parte dos bens que Ele mesmo me dá, para o sustento e a extensão da sua Igreja. Ofertamos porque ofertar é pela graça, não com o luto de uma perda, nem pelo constrangimento de uma coerção, mas com alegria, por amor. É algo difícil de entender por aqueles que ainda não foram alcançados pela graça da salvação. Tudo o que esta pessoa dá aos seus deuses é para pagar favores recebidos ou a receber. Ela contribui com pesar porque julga estar se desfazendo de um bem que considera seu, pessoal, pela força do dever porque, não confiando na graça, sente a obrigação de dar. Aliás, a palavra “Obrigação” nas religiões pagãs é sinônimo de “oferenda” aos deuses. Esse conceito de oferta como obrigação foi adotado por alguns ramos do Cristianismo, desfigurando o sentido da dádiva por amor. O indivíduo coloca uma esmola ao pé da imagem ou no cofre e chama esse ato de desobriga. Esse não é o conceito cristão de dízimo. Dízimo não é desobriga. É doação de amor. O dízimo é graça também porque para cada dez, pelo menos, que eu entrego, Deus me dá a alegria de desfrutar de noventa para o meu sustento e da minha família. Portanto, tudo vem da graça: Tanto os 10% e mais que eu devolvo através da agência do Reino de Deus que é a Igreja, quanto os 90% que retenho para desfrutar com minha família. Deus não me dá apenas o solo, a chuva, o sol, as energias e talentos para trabalhar, a vida que brota de cada semente que lanço na terra, mas Ele se dá a mim em Cristo pela graça (Gl 1.4). Diferentemente da ideia de graça no Velho Testamento, no Novo Testamento, a graça está vinculada a Cristo, não existe fora de Cristo. 11.


P RINCÍPIOS B ÍBLICOS DO D ÍZIMO C RISTÃO

É essa verdade que eu tenho a alegria de demonstrar em cada centavo do dízimo do Senhor que eu devolvo ao Senhor. A graça da fidelidade. Fidelidade não é uma virtude em si mesma, porém, para ser uma virtude, depende do seu objeto. Fidelidade a quem? Fidelidade a quê? Pergunta Comte Sponville. O que me dá alegria em ser fiel na devolução do que é de Deus, não é a fidelidade em si mesma, senão o seu objeto, o próprio Deus. Eu não contribuo com os dízimos do Senhor para uma instituição humana, para um levita ou sacerdote humano, mas para Deus, para louvá-Lo. Agora, convenhamos: Se o meu dízimo é entregue para agradar aos homens, deixa de ser um dom espiritual e se torna um exibicionismo carnal, deixa de ser um ato de adoração. A quem direciono meu louvor e meus dízimos? “Deus ama quem dá (a Deus) com alegria”. Deus se alegra com a fidelidade dos seus servos porque, para Deus, a maior recompensa da fidelidade é a qualidade de ser fiel e essa fidelidade é fruto da graça de Deus. O resto é circunstância. O dízimo, então, não é uma questão de contabilidade ou de disponibilidade, mas é uma questão de fidelidade que traz alegria. Ser ou não ser fiel, eis a questão que envolve todo o ser, não apenas o bolso do cristão. Alegria é dom do Espírito. A alegria é um dom do Espírito Santo, como lemos em Gálatas 5.22. A nossa alegria completa está em Cristo e sem Ele não há a alegria da alma, alegria interior. Pode até haver “alegria” carnal, mas essa não é a alegria dom do Espírito, que desce às profundezas da alma, ao inconsciente, que desce ao que é mais profundo em nosso ser, além do que o que podemos entender. Em Efésios 3.20, Paulo declara que “Deus é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera”. Note que em Gálatas 5.22,23, temos “Fruto do Espírito”, singular, como uma laranja que é um fruto único, mas tem vários gomos. A alegria é um dos nove gomos do mesmo fruto do Espírito. Isso significa que não podemos possuir ape12.


1. A G RAÇA DA F IDELIDADE

nas um aspecto do fruto do Espírito, mas temos que experimentar todos os nove. Esses nove aspectos do fruto do Espírito são interdecorrentes. Não dá para ter alegria sem ter amor, nem dá para ter paz sem ter bondade e fidelidade, não é possível ter mansidão sem domínio próprio, sem amabilidade e paciência. Não são nove dons do Espírito. É um único dom com vários aspectos. O sabor de cada gomo da laranja é igual a todos os outros. Não pode haver alegria sem fidelidade, nem fidelidade sem amor. A mansidão é outro aspecto importante do fruto do Espírito, que me leva a aceitar democraticamente o que os meus irmãos pensam e decidem como sendo a vontade de Deus na aplicação dos dízimos e ofertas que a Igreja recebe. Se perder um dos gomos do Fruto do Espírito, estou perdendo todos os nove. Fidelidade à visão. Os meus dízimos refletem a minha visão do propósito do Senhor na salvação do mundo. A graça de Jesus é tão imensa que alcança “até os confins da terra”. O cristão que perdeu a alegria da sua fidelidade está confinando sua visão ao universo secular. A Igreja é uma instituição divina, origem e finalidade de missões. Os missionários partem da Igreja para fundar igrejas pelo mundo porque evangelizar o mundo é multiplicar igrejas. Quem não entrega seus dízimos está demonstrando seu desinteresse pelos povos ainda não alcançados pela graça da salvação porque a Igreja a que ele pertence é parte do propósito de Deus para a salvação do mundo. Não dá para salvar o mundo enfraquecendo a Igreja, ou deixando de lhe dar o necessário sustento com os dízimos, pois ela é a única agência à qual Jesus deu a responsabilidade de proclamar o evangelho. Não desejo que outros contribuam para que eu tenha a alegria de ver realizado o propósito de Deus para a minha Igreja, como não quero esperar que outros contribuam para que eu tenha um lugar limpo, climatizado e iluminado onde possa adorar ao Senhor. Não desejo que outros sejam fiéis em seus dízimos para que eu tenha um pastor que alimente minha alma pela Palavra de Deus, que me conforte e encoraje na vida cristã. No meu ministério de 54 anos, conheci 13.


P RINCÍPIOS B ÍBLICOS DO D ÍZIMO C RISTÃO

irmãos que perderam a visão da fidelidade ao Senhor. Por discordarem deste ou daquele aspecto da administração da Igreja, ou por amor ao dinheiro, deixaram de entregar seus dízimos. As igrejas não deixaram de fazer a obra comissionada por Deus. Aqueles irmãos é que foram prejudicados na sua vida espiritual porque perderam a visão de pertencimento ao corpo de Cristo, que é a Igreja. Quando se arrependeram e voltaram a viver a alegria da fidelidade, eles e suas famílias foram enriquecidos novamente de bênçãos espirituais. Descansar na suficiência da graça. A pior coisa que pode acontecer a um cristão é sair da esfera da graça, como aconteceu com as igrejas da Galácia, pois a partir da queda da graça, tudo de mal pode acontecer em sua vida. Não são nossos dízimos que nos livram do fracasso econômico, moral ou familiar, mas é a graça de Deus da qual declaramos depender mediante a nossa fidelidade. Ao devolver ao Senhor os dízimos que lhe pertencem, estou demonstrando minha confiança na suficiência da sua graça. Tudo o que Deus já me deu – salvação, vida eterna, tudo o que Ele me dá – santificação do meu viver, dons e talentos, tempo e discernimento, assim como tudo o que me dará – livramento no juízo, a glória celestial, tudo é pela graça. É essa gratidão, essa confiança e essa esperança que demonstro diante do Senhor da minha vida cada vez que vou depositar os dízimos do Senhor no altar da fé na Igreja de Jesus da qual sei que sou parte! Não me conformo em colher pouco. Quero dar muitos frutos para Jesus. Por isso, quero semear muito, quero semear mais, quero ir além do dízimo, para poder obter uma colheita espiritual com fartura, que glorifique o meu Deus. Isso significa: Quanto maior for minha fidelidade, tanto maior será a suficiência da graça em meu viver. Se você, até aqui ou por algum tempo não tem experimentado a alegria da fidelidade em devolver os dízimos do Senhor, está devendo à sua própria pessoa e à sua família muitas bênçãos, vitórias espirituais e a demonstração da alegria de pertencer a uma agência local do Reino de Jesus. Você não deve nada a Deus nem à Igreja, 14.


1. A G RAÇA DA F IDELIDADE

nem ao mundo perdido. Deve a si as bênçãos que perdeu. Mas isso não é motivo para continuar perdendo a alegria da fidelidade. Comece este mês, comece agora e não pare mais de demonstrar sua fidelidade ao Senhor. Se tem sido fiel na entrega dos seus dízimos ao Senhor, aleluia! Deus tem ainda muitas e grandes bênçãos em seus celeiros para você. Nossa fidelidade a Cristo é motivada pelo amor: de Cristo por nós e o nosso amor a Cristo. Não devemos fidelidade a uma instituição, a um homem, a uma doutrina, a uma tradição, a um juramento. Nós cristãos, devemos nossa lealdade a Cristo e demonstramos nosso amor a Cristo por meio da nossa fidelidade em contribuir com nossos dízimos e ofertas para a expansão do seu Reino. O amor é para ser demonstrado. O amor represado, que não se expressa, é um amor morto. Como podemos manifestar nosso amor a Cristo: Cantando? Sim! Orando? Sim! Pregando? Aleluia! Vivendo a ética de Jesus? Glória a Deus! Todos esses são meios como podemos revelar nossa fidelidade a Cristo. Se faltar, porém, a nossa generosidade em contribuir financeiramente para a Igreja de Jesus, toda a demonstração da nossa fidelidade a Cristo estará comprometida. Não estaremos demonstrando a validade do nosso amor objetivamente, na prática. Será um amor platônico, uma fidelidade metafísica, teórica, sem base na realidade. Que a sua vida, se você é um cristão, seja marcada por uma profunda fidelidade a Cristo, de coração! Lembre-se, ainda, de que a fidelidade que traz alegria, alegria de ser fiel, não depende de circunstâncias favoráveis na vida. Quando temos alguma dificuldade em ser fiéis, maior alegria nos traz a nossa fidelidade. Muito além das bênçãos que a nossa fidelidade nos traz nesta vida, resultará para nós em celestial galardão: “Bem está servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25.21).

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P RINCÍPIOS B ÍBLICOS DO D ÍZIMO C RISTÃO

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