Revestidos - o triunfo

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SANTOS


Copyright©2019 por Elaine Sousa Todos os direitos reservados por: A. D. Santos Editora Al. Júlia da Costa, 215 80410-070 Curitiba – Paraná – Brasil +55(41)3207-8585 www.adsantos.com.br editora@adsantos.com.br

Capa: APS Editoração: Manoel Menezes Coordenação editorial: André Portes Santos Revisão: Priscila Laranjeira Mariana Gomes Santos Impressão e acabamento: Gráfica Patras Crédito das imagens: Envato Elements Pty Ltd.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) SOUSA, Elaine Cristina Campos e Revestidos – O Triunfo – Vencendo as Crises Existenciais, Emocionais e Espirituais / Elaine Cristina Campos e Sousa, A.D. Santos Editora, Curitiba, 2019. 256 páginas.

ISBN – 978.85.7459.510-8 1. Aspectos Religiosos – Cristianismo

2. Vida Espiritual CDD – 152.46

1ª edição: Abril de 2019. Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios a não ser em citações breves, com indicação da fonte.

Edição e Distribuição:


Dedicatória

Ao meu Senhor e Salvador Jesus Cristo, a quem amo incondicionalmente; Ao Espírito Santo, que adestra as minhas mãos para a batalha; Ao meu amado esposo, meu melhor amigo, fiel companheiro, com quem passarei o resto da eternidade; Aos meus filhos, que me tornaram plena e que me motivam a continuar perseverando; Aos meus amados amigos, companheiros de ministério. A estes, todo meu amor!

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Prefácio

Nesses últimos tempos percebo entre nossas igrejas um alto índice de pessoas que procuram atendimento em suas necessidades emocionais. Parece haver um descerramento para esta, digamos, dimensão da existência humana como talvez nunca antes. Isto se dá pelos dados estatísticos alarmantes de doenças psiquiátricas graves que acometem lideres, pastores, suas respectivas famílias e claro, membros de nossa congregações. Durante um bom tempo, ter depressão era sinônimo de fé fraca. Isto parece estar mudando gradualmente, mesmo entre igrejas mais conservadoras ou com outras percepções e teologias que tragam alguma explicação plausível para o volume literalmente assustador de pessoas com os mais complexos quadros que chegam até nós. Felizmente, encontramos na bíblia todas as balizas norteadoras dos processos através dos quais pessoas podem ser recuperadas.

A exposição ao público impõe sobre o líder uma alta responsabilidade e a necessidade dele mesmo, o líder, ter “recursos”, conhecimento, e habilidades para lidar com esses casos ou, humildemente, encaminhar a quem o faça com mais propriedade.

Pastores não são psicólogos nem médicos. E o inverso, também é verdadeiro. Cada qual tem uma dimensão especifica de atuação. v


O pastor e líder com sua Bíblia, a inerrante Palavra de Deus que se aplicada, pode sim estruturar psiquismos em disfunção. Quadros mais graves, não devidamente diagnosticados, carecem da intervenção profissional. De qualquer forma, vejo, como disse, uma mudança na atitude frente ao adoecimento das emoções. Nossas vidas são dinâmicas e nossas questões mudam de matiz, conforme os eventos da vida vai acontecendo. Pessoas morrem. Pessoas perdem o emprego. Pessoas caem, sofrem, se desesperam. Bons cristãos pensam em tirar a própria vida em momentos de absoluto desespero e adoecimento. Ansiedades desarmonizam a vida, nesse pulso absurdamente rápido em que somos impulsionados. Quando os mártires se escasseiam e pastores cometem suicídio, passou da hora de entendermos quão relevante será a resposta da igreja de Cristo numa perspectiva de amor e graça, curativa, restauradora, acolhedora e não julgadora das mazelas alheias. Somos gente. Somos humanos. Ainda assim, com toda esta fragilidade que envolve nossa estrutura, temos a chance de recomeçar a partir de qualquer estado, quem sabe, se adaptando a forçosas mudanças na vida e dando a si mesmo, uma chance da reedição pessoal, da reinvenção no curso do desenvolvimento em todas as suas fases. O Criador criou pessoas à Sua Imagem e Semelhança para que esses sejam tal como Ele: criativos, “que governem o jardim”, que nomeiem as coisas, e sobretudo, que façam uma boa “filosofia”de si mesmos. vi


Vejamos o que nos entregou o Dr Viktor Frankl, que desenvolveu a ideia do “inconsciente espiritual” após sua experiencia no campo de concentração na II Grande Guerra. “O ser humano não é completamente condicionado e definido. Ele define a si próprio seja cedendo às circunstâncias, seja se insurgindo diante delas. Em outras palavras, o ser humano é, essencialmente, dotado de livrearbítrio. Ele não existe simplesmente, mas sempre decide como será sua existência, o que ele se tornará no momento seguinte.”

Nós homens, em Deus, ressignificamos sofrimentos e com isso, nasce a beleza de uma restauração genuína e contínua, aspecto também ignorado por muitos. É disso que Viktor Frankl nos fala, como tantos outros. Creio nas manifestações sobrenaturais de Deus na cura de todo tipo de adoecimento, seja os de natureza física ou emocional, muito embora não haja uma dissociação radical possível entre esses aspectos, pois o que somos em termos de nosso corpo, o somos na alma e no espírito. Para cada fenômeno “psicológico” há um correspondente “fisiológico”. Sabemos pelas escrituras que no processo de ser restaurado é que vai se formando em nós, a doce figura de Jesus Cristo, que em plenitude de comunhão com as pessoas da trindade (Deus Pai – Deus Filho – Deus Espírito Santo). Ele sim, pleno e perfeito, completa a absolutamente estável, pode ceder a mim e a você a estabilidade que buscamos em nossas intempéries da caminhada, seja no caos interior quanto no exterior. A autora consegue fazer com grande habilidade a ponte entre o que temos nas escrituras junto de alguns construtos vii


teóricos, bem como sua evolução histórica até uma possível conceituação de adoecimentos reconhecidos e catalogados em nossos manuais diagnósticos comparados e apresentados com suas devidas correlações (sem “misturar as FM’s) junto de nosso mais pleno e vivo manual psico-existencial/espiritual: a bíblia. Recomendo uma leitura sem pressa, como quem descobre uma linda paisagem cheia de revelações através das quais, uma pessoa pode ser plenamente restaurada. Assim, convido você a esta boa, suave e agradável leitura! A Deus e a Seu Filho Jesus, Glória e honra para sempre!

Boa leitura!

Daniel Camaforte

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Sumário

Dedicatória........................................................................... iii Prefácio...................................................................................v Sumário................................................................................ ix Introdução........................................................................... 11 SAÚDE EMOCIONAL..................................................... 13 I. No Princípio............................................................... 17 II. A Crise do Éden....................................................... 25 III. Crise Existencial...................................................... 39 IV. O Lado “Bom” da Crise .......................................... 53 V. Crise de Identidade................................................... 67 VI. As Mudanças das Gerações e o Comportamento Humano......................................................................... 81 VII. Análise Transacional.............................................. 91 VIII. O Deserto da Alma............................................ 107 IX. Lidando com os Males do Século......................... 125 X. Somatização Emocional – Abordagem biológica e psicológica ................................................................... 137 ix


XI O Sucesso no Século XXI...................................... 147 XII. Algumas Doenças Emocionais, suas Causas e Consequências............................................................. 161 XIII. Suicídio............................................................... 197 RESTAURAÇÃO ESPIRITUAL.................................... 219 XIV. A Árvore da Vida – Cristo Plantado no Éden... 223 XV. A Saúde Emocional de Jesus Cristo e as Bem-Aventuranças...................................................... 235 XVI. O Triunfo Sobre a Morte................................... 247 Conclusão?........................................................................ 251

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Introdução

O Espírito do Soberano Senhor está sobre mim porque o Senhor ungiu-me para levar boas notícias aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros, para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que andam tristes, e dar a todos os que choram em Sião uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido. Eles serão chamados carvalhos de justiça, plantio do Senhor, para manifestação da sua glória. Eles reconstruirão as velhas ruínas e restaurarão os antigos escombros; renovarão as cidades arruinadas que têm sido devastadas de geração em geração. (Isaías 61.1-4)

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SaĂşde Emocional

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No princípio Deus criou... (Gênesis 1.1)



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No Princípio

No princípio Deus criou... (Gênesis 1.1)

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que você consegue enxergar na narrativa dos três primeiros capítulos de Gênesis? Literalmente, de lá surgem todos os principais ensinamentos que servirão de base para a compreensão de tudo o que diz respeito ao ‘existir’, e isso vai desde um Deus Criador e tudo o que O cerca – poder, soberania, vontade, atributos, sua atemporalidade, amor, sensibilidade, justiça, zelo, até a concepção do comportamento humano, suas emoções, sentimentos, desejos, medos, crises, força, desvios, quedas, recomeços. Além disso, importantes revelações estão inseridas nesse cenário, dentre elas, Jesus Cristo, o Espírito de Deus e o diabo, sendo estes, importantes e cruciais para o desenvolvimento emocional e espiritual do indivíduo, entendendo, no entanto, que Jesus Cristo e o Espírito de Deus são essenciais para essa formação e edificação, enquanto que o diabo para a destruição de tudo o que Deus preza, incluindo eu e você. 17


Revestidos - O Triunfo

Conhecer as minúcias dos acontecimentos do Éden abrirá o entendimento com relação à nossa própria existência, nosso comportamento ético e moral, e mais ainda, nossa instabilidade ou estabilidade emocional e espiritual. Pare por um pouco antes de dar continuidade a esta leitura, feche seus olhos, respire bem fundo e se imagine no exato momento em que Deus inicia todo o processo criador. Você está lá, como expectador, observando o estrondoso feito do Soberano. Você consegue sentir o som que surge do silêncio, o cheiro do mais puro ar, algo indescritível e nunca sentido ou percebido antes. É estonteante, esplendoroso e assustadoramente incrível. E lá está o Espírito, sobre a imensidão das águas, esperando o momento exato em que Deus dará a ordem. E como a voz de um estrondoso trovão, o Criador ordena, e o Logos sai a executar. A glória é indescritível. Será que temos condição de mensurar o que virá depois? Ou ainda de imaginar de fato a cena, a não ser por aquilo que já temos como base de informação? Não existe outra forma de entendermos a estrutura humana, a não ser pela perspectiva de quem a criou. Mas, algo interessantíssimo acontece nas diversas explicações dadas a respeito da formação do indivíduo: todas elas colaboram, mesmo que de maneira inconsciente, parcial ou não, com a ideia encontrada no Éden: a existência de todas as coisas só surge a partir de outra já existente. Obviamente, encontramos várias teorias que relatam de forma muito criativa o surgimento do Universo, sua estrutura e tudo o que o compõe, mas, para nós, o Eu Sou, criou todas as coisas. E quando pensamos na ideia do existir a ‘partir de’, fica mais fácil compreendermos o porquê da nossa forma de agir, pensar, sentir, acreditar. 18


I. No Princípio

No ato da criação percebemos um Deus meticuloso, que pensa de forma estratégica em cada detalhe do seu projeto, que não pula processos e, acima de tudo, zela pelo ser criado. É notório o fato de que a Terra era um caos, completamente desfigurada, improdutiva, pobre e sem vida. A partir daí um maravilhoso relato passa a ser narrado de forma a conduzir a todos os que se põem diante de tal explanação, a um momento de intensa perplexidade. E logo no início desse tão estonteante e poderoso feito, nos deparamos com uma grande semelhança que existe entre a Terra, antes da “ordem”, e a dura realidade do homem sem Deus – ambos, sem forma, vazios, e em total escuridão! “Muitos cristãos (...) encontram-se derrotados pela mais psicológica das armas que Satanás usa contra eles. Essa arma tem a eficácia de um míssil mortal. Seu nome? Baixa autoestima. Essa arma de Satanás provoca um sentimento visceral de inferioridade, inadequação e insignificância. Tal sentimento escraviza muitos cristãos, a despeito das maravilhosas experiências espirituais e do conhecimento da Palavra de Deus. Embora compreenderam sua condição de filhos e filhas de Deus, estão amarrados, presos por um terrível sentimento de inferioridade e acorrentados a uma profunda sensação de inutilidade”. (Healing for Damaged Emotions, p.49) apud, (MANNING, O IMPOSTOR QUE VIVE EM MIM, 2007, p. 24)

Esse sentimento de vazio tem trazido tormento e angústia à vida de muitas pessoas. Não há como descrever a sensação que norteia a mente daqueles que vivem no limite da dor. E isso Satanás conseguiu incutir com propriedade em muitos corações, essa sensação de inutilidade, de irrelevância, de desamparo. Ele, tenta a todo custo convencer as pessoas, de que elas são simplesmente objetos nas mãos de um Deus que não se importa. Por essas e outras razões, o Senhor nos chama para 19


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mais perto, para o lugar onde não poderemos ser tocados, a não ser pelo seu amor. Ele sabe que o diabo é sedento por destruir os começos, roubar as primícias, aniquilar os projetos. Foi assim no Éden com Adão e Eva; no Egito, investindo na morte dos meninos hebreus; e em Jerusalém com a morte dos meninos até dois anos. Mas em todos esses casos, nós vemos sua intensão: destruir os planos de Deus. Entretanto, para toda investida das trevas, o Senhor já tem a solução: no Éden nos deu a Árvore da Vida; no Egito, poupou Moisés, o libertador do povo de Israel; e em Jerusalém, nos apresenta o Salvador do Mundo, aquele que destruirá para sempre o inimigo das nossas almas. “O Senhor é refúgio para os oprimidos, uma torre segura na hora da adversidade”. (Salmos 9.9)

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Disse Deus: “Haja...” (Gênesis 1.3a)




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A Crise do Éden Disse Deus: “Haja...” (Gênesis 1.3a)

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ntes de formar o homem e a mulher, todo um ambiente foi criteriosamente elaborado, e tudo foi pensado de forma a trazê-los para um lugar propício à produtividade, ao equilíbrio emocional, físico e espiritual. Deus “educou” toda sua criação sobre situações que, para nós, algumas vezes passam despercebidas, ou não damos tanto valor como poderíamos dar – “E o Senhor Deus ordenou ao homem: “Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá”. (Grifo da autora – Gênesis 2.16-17). O que Deus está dizendo é, simplesmente: “Sejam obedientes e respeitem os limites”. Muitas coisas incríveis estão relatadas em Gênesis e elas precisam ser apresentadas de maneira a cumprir seus objetivos, trazer esclarecimento e conhecimento ao ser criado. Quando olhamos essa narrativa de Gênesis 2.16-17, por exemplo, podemos cair no mesmo empasse debatido por inúmeros teólogos 25


Revestidos - O Triunfo

e estudiosos, quando o assunto é Deus como criador do mal. Nessa narrativa, de forma específica, vemos a alusão do ‘bem e do mal’, como sendo algo posto por Deus (sendo representado por um fruto, ou uma árvore), no caminho do homem. Entretanto, de forma bem objetiva, e para fácil compreensão, o que é o mal? O mal é simplesmente a ausência do que é bom. Então, o mal, nesse contexto, é a escolha que o homem faz, em desobedecer às orientações de Deus, optando por seguir suas próprias escolhas, dando ouvidos à voz do diabo, e com isso, atraindo para sua vida, tudo aquilo que o diabo tem e é – maldade. Deus não criou o mal, nem o homem para viver no contexto da maldade, mas, deu-lhe o poder de escolher qual caminho a seguir. Partindo desse princípio, todas as escolhas que fazemos na vida, nos acarretará consequências, e muitas vezes não conseguimos mensurá-las, mesmo porque, naturalmente, pouquíssimas pessoas, ou quase nenhuma, se preparam para as consequências danosas de suas escolhas, que contrapõem a soberana vontade do Senhor. Nessa jornada, Deus traça um plano estratégico onde todo um caminho é construído de maneira que o homem possa compreender de forma muito simples em que direção deve andar, ao passo que todo esse trajeto é iluminado, e fora disso, tudo é terreno hostil e perigoso. Por essa razão, o Senhor separa a luz, das trevas, pois, “que comunhão pode ter a luz com as trevas?” (2 Coríntios 6.14). Logo, a partir dessa opção pelo mal, passa a existir dentro desse ser criado uma tendência ao perigo, de escolher caminhos difíceis, que demandará mais esforço; e vez por outra, ele opta por andar à beira de um abismo, muito arriscado e sombrio. E, mesmo sabendo de todos os males que poderão acontecer em sua vida, há os que preferem arriscar – Lúcifer que o diga. Talvez alguns possam até culpar a Deus de alguma coisa,

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II. A Crise do Éden

com questionamentos infundados ou desprovidos de qualquer conhecimento do Altíssimo, e assim, surjam com perguntas do tipo: – “Se Ele não queria que tropeçássemos em meio à escuridão, por que então criou a noite?” Simplesmente para sabermos que sempre existirá um caminho seguro a ser trilhado, e com certeza não será o caminho da “noite”. Sun Tzu, em seu livro A Arte da Guerra, traz uma orientação interessante quando o assunto é a movimentação de um exército. Ele diz: “Um exército deve escolher os lugares altos, evitar os baixos, valorizar a luz e fugir das sombras” (p.94). Toda estratégia de combate ou de guerra bem-sucedida, partirá do princípio do posicionamento, do conhecimento da força (tanto inimiga quanto da própria), da visibilidade, dentre outras coisas. E esta última é extremamente importante, visto que de nada adiantará todo um aparato se a visibilidade do inimigo e do terreno a ser percorrido é desconhecida, difícil e nebulosa. Tudo o que existe tem um porquê, uma causa. Isso não quer dizer que não sofreremos as lutas e aflições naturais do ser humano, Deus não ensina assim. Ele nos garante que “mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem” (Salmos 23.4). Entretanto, esse caminhar por “trevas” não pode partir de uma escolha pessoal; isso precisa ser aplicado em nossa vida da mesma forma que enxergamos o pecado – ele não pode ser planejado, deve ser acidental. É fato que os que optam por permanecerem arriscando-se entre abrolhos, se encaixam-se na descrição: “Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz. Vocês não ouvem porque não pertencem a Deus”( João 8.47). E vale ressaltar algo muito importante: essa luz que nos guiará “no vale da sombra da morte”, não poderá ser “artificial”, tem que ser a Luz do Senhor! E essa tem sido uma das grandes armadilhas montadas contra a humanidade. 27


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As pessoas estão sendo atraídas e engodadas pela mentira, pela falsidade, por elementos artificiais, que têm como o único objetivo distanciar ainda mais o homem dos caminhos de Deus e da sua ideia original. E tudo isso gera insegurança, instabilidade, debilidade, confusão mental, crises existenciais, sentimentos de morte e abandono, apatia física e espiritual, negligência, abandono afetivo, entre outros. Em Gênesis 2.15, Deus expressa a ideia inicial para Sua obra prima: “O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo”, e não cabe aqui a questão da intensidade do trabalho, mas a forma como ambos estavam sendo amparados, orientados e supridos em todas as suas necessidades, para que os mesmos conseguissem levar adiante todo esse processo de maneira bem-sucedida. Logo, em Gênesis 3.1-5, um grande conflito existencial passa a tomar forma no coração e na mente de Eva, e posteriormente, se apodera de Adão – o desejo incontrolável de ter o que Deus tinha. Observe no relato bíblico, que Deus lhes fez uma proposta um tanto quanto simples “não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gênesis 2.16), entretanto, no decorrer da jornada, uma nova ideia foi trazida, e agora lhes era apresentada mais uma opção, mais um caminho a ser trilhado, e este, aparentemente era bem mais interessante do que a proposta inicial. Esse mesmo cenário encontrado no Éden, também é percebido de forma natural no comportamento humano: o indivíduo se mantém seguro e confiante de suas escolhas, até que de repente, a verdade de alguém é trazida como sendo mais vantajosa de ser acreditada e vivida. A partir daí a insatisfação passa a ser uma dominante, e mesmo sabendo que essa nova proposta poderá ser bem mais difícil de ser alcançada, nem assim ela deixa de ser tentadora. E aquele que recebe a proposta, no afã de demonstrar que sempre sabe o que é melhor e

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II. A Crise do Éden

que está no controle de tudo, acaba abandonando algo de valor inestimável, não percebendo o perigo dessa troca. Observe o que acontece com relação às novas tecnologias. Normalmente aquilo que servia, passa a não servir mais, e ainda que o novo objeto de desejo beire à futilidade, isso não é levado em consideração. Na verdade o indivíduo compreende que, com todas essas aquisições, o seu poder está sendo demonstrado, e nesse caso, o “eu poderoso” precisa se manter abastecido com essas ferramentas “psicológicas” que passam a ideia de superioridade e autoridade, mas que na verdade, muitas vezes o que está subtendido é que, essa foi a forma que ele encontrou para ser aceito, ou ainda, suprir uma carência. O que se percebe, é que de acordo com a proposta que as pessoas recebem, ou ainda, de quem lhes faz a proposta, elas podem instantaneamente mudar sua opinião a respeito de algo que antes julgava imprescindível à sua existência. Nisso vemos o poder da influência sobre as pessoas, principalmente na vida daquelas que são inseguras quanto suas decisões, sentimentos e que não têm uma personalidade bem definida. Esse tipo de comportamento é percebido na vida de muitos de forma escrachada, onde por exemplo, de tempos em tempos se deixam ditar pela moda do momento e aquilo que um dia julgou feio e brega, agora passa a fazer parte do seu objeto de desejo, não importando se beira ao ridículo. Tudo isso porque alguém, tido como “entendido no assunto, falou que essa seria a nova tendência. No caso de Adão e Eva, encontramos algo que merece ser observado. A proposta que Eva recebeu veio de forma impactante, de um ser diferenciado, que se destacava dentre os demais, visto sua condição, sua autoridade, conhecimento. Mas, Adão, em contrapartida, recebeu a mesma proposta 29


Revestidos - O Triunfo

de alguém que lhe era comum, familiar – sua companheira. Algumas coisas muito intrigantes são encontradas nessa cena e causam certa curiosidade. A primeira delas: 1) A serpente era familiar a Eva? 2) Ela era íntima da serpente? 3) Era comum animais falarem? 4) Quem era a serpente nesse cenário? O que ela representava para ser comparada por Eva com o próprio Deus, no que diz respeito à orientação? A partir dessa ordem, encontramos o valor que Adão e Eva deram a Deus, ou ainda o nível que eles O colocaram e colocaram Suas orientações: a) Eva ouve a serpente; b) Adão ouve Eva. O simples fato de parar para ouvir uma proposta que contrapunha a de Deus, imediatamente abriu uma porta perigosa no subconsciente dos dois – andar em harmonia com o diabo. Obviamente, existem aqueles que não abrem mão daquilo que acreditam e lutam com todas as forças para defenderem suas ideias, crenças e posições. Logo, quando as propostas estão recheadas com promessas de poder, domínio e sucesso, todo um cenário passa a ser construído na mente humana, e muitas dessas pessoas, inclusive àquelas que lutam por suas crenças e valores, em um determinado momento param para fazer uma análise dos benefícios que essas novas possibilidades poderiam trazer, caso fossem postas em execução. A quem diga que todo o homem tem um preço. O de Judas foi 30 moedas de prata. Qual o seu preço? O que é inegociável em você? Com relação a Cristo, há os que dizem ir até à morte por causa do seu nome, contudo, não conseguem resistir sequer, às mais simples tentações diárias. Vale salientar que, tanto a negociação feita no Éden, quanto aquela feita por Judas, tiveram como “juros” a morte. Por que seria diferente com os “negociantes” modernos? Algo que também podemos encontrar numa situação como essa, é que, tanto o distanciamento como a proximidade daquilo que se acredita ou se defende, pode interferir nas esco30


II. A Crise do Éden

lhas. Talvez alguns defendam que esse posicionamento não se encaixa no caso ocorrido no Éden, e ainda citem Gênesis 3.8 – “Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim”, relatando logicamente, que Deus sempre esteve próximo a eles. Todavia, dizer que Deus sempre estava próximo a Adão e Eva, necessariamente não quer dizer que eles estivessem sempre com Deus. A crença do indivíduo na existência de Deus e no Seu poder, não revela que este Lhe entrega o domínio de sua vida, nem o poder de decisão. E nisso nós vemos o caos se instalar: o simples fato de crermos na existência de um Deus Todo Poderoso não significa que Ele é o nosso Senhor, e com isso, nos distanciamos de suas ordenanças e partimos rumo à desordem. Afinal, só damos ouvidos à voz de Satanás se estivermos nos distanciando de Deus. No Evangelho de João, no capítulo 15, encontramos um texto extraordinário que revela o caminho da estabilidade, segurança, prosperidade e do equilíbrio, tanto na área emocional quanto espiritual: “Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim” ( João 15.4). “Ou fugimos da nossa realidade, ou forjamos um falso eu na maior parte admirável, suavemente cativante e superficialmente feliz. Por trás de alguma espécie de aparência que, esperamos, mostre-se mais agradável, ocultamos o que sabemos ser ou sentimos ser (aquilo que imaginamos ser inaceitável e não amorável). Ocultamo-nos por trás de rostos bonitinhos, que vestimos em benefício público. E com o tempo podemos até esquecer que estamos nos escondendo, começando a pensar que o rostinho bonito que assumimos é como realmente somos percebidos”. (Tugwell, 1980) 31


Revestidos - O Triunfo

Quando nos distanciamos do Senhor, uma grande lacuna passa a existir em nossa mente. Um vazio imensamente doloroso que gera insegurança, dúvidas e questionamentos infundados, mas que atormentam nossa alma com um poder de destruição avassalador. Daí em diante, ficamos vulneráveis aos dardos inflamados do maligno, que são gerados a partir dos nossos maiores temores e sofrimentos. Na verdade, nós mesmos equipamos o diabo, visto que ele se “nutre” a partir dos nossos dramas existenciais, emocionais, espirituais e por nossas fragilidades carnais, e tendo ciência da nossa fraqueza, usa todo esse armamento para destruir o que ainda nos resta. Ao falarmos de distanciamento, também somos levados a outro importante acontecimento vivenciado no Éden: a interrupção da poderosa oração. O homem falava com Deus, andava com Ele, se relacionava, provavelmente fazia suas refeições ao lado de Deus, entretanto, toda essa intimidade da oração foi perdida. Quando deixamos de nos relacionar com o Senhor, abrimos brechas para as trevas e a voz enganosa do diabo passa a soar mais forte aos nossos ouvidos. Ele começa a colocar em nosso coração a insatisfação, a tristeza, a decepção, a ingratidão, a murmuração, a dizer que o Senhor se esqueceu de nós, e principalmente, que Ele não nos ama, e por “não” nos amar, não nos dá o melhor, nos abandonou. Entretanto, esse Amor que é inquestionável, nos convida à reaproximação, à conversa aberta e franca a respeito daquilo que sentimos e que não podemos ocultar aos Seus olhos – “Mas o Senhor Deus chamou o homem, perguntando: “Onde está você?” (Gênesis 3.9). Mesmo sabendo dos atos praticados por Adão e Eva, e tendo a consciência da gravidade de suas escolhas, Deus os procura, e com isso demonstra sua real intensão. Ele os chama para a reaproximação. Mais uma 32


II. A Crise do Éden

vez, é pré-anunciado o próximo passo de Deus com relação à restauração da humanidade. “Deus diz que devemos parar de nos esconder e, abertamente, nos aproximar Dele. Deus é o pai que correu na direção do filho pródigo quando ele voltou para casa, hesitante. Ele chora por nós quando a vergonha e a falta de amor-próprio nos imobilizam. Quando ficamos apavorados por algum motivo, a primeira coisa que fazemos é nos cobrir. Adão e Eva se esconderam, e todos nós, de um jeito ou de outro, seguimos o mesmo exemplo. Por quê? Porque não gostamos do que vemos. É desconfortável – ou mesmo insuportável – confrontar nosso “eu” verdadeiro.” (MANNING, O IMPOSTOR QUE VIVE EM MIM, 2007, p. 23)

Aqui podemos encontrar um ponto extremamente perigoso para aqueles que andam em crise – a solidão. Ela intensifica todas as agruras enfrentadas no momento da dor. Por essa razão, o Senhor diz: “Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso” (Mateus 11.28). Saber que existe a possibilidade de se ter uma conversa franca, sem que haja a necessidade de se omitir os verdadeiros fatos que oprimem e aprisionam, onde não é necessário esconder desejos, vontades, fingir emoções saudáveis , ou ainda mascarar o pior de todos os sentimentos, traz uma sensação de confiança, segurança, e acima de tudo, esperança. E em Deus, é possível encontrar esse porto seguro: “Ele fortalece ao cansado e dá grande vigor ao que está sem forças” (Isaías 40.29). O sentimento que nutrimos por aquilo que amamos, nos faz querer a aproximação. Entretanto, quando nosso conceito de valor muda, uma grande reviravolta também ocorre em nossa mente. E isso acontece com muita frequência nos relacionamentos afetivos, conjugais, profissionais. Observe que aquilo que fora conquistado anteriormente, aos poucos 33


Revestidos - O Triunfo

vai perdendo o seu valor, e isso acontece simplesmente porque deixamos de nutrir em nosso coração o sentimento de gratidão, amor, fidelidade e passamos a dar lugar a outros sentimentos, como ambição ruim, egoísmo, insatisfação, ingratidão, etc. Isso quer dizer que não é permitido elevar o nosso conceito em relação ao padrão de qualidade? Que não podemos desejar algo a mais para satisfazer os desejos do nosso coração? NÃO! Entretanto, alguns valores precisam ser preservados para que o equilíbrio emocional, espiritual, físico e sentimental possa se manter pleno. “Quando preciso buscar uma identidade externa a mim, sou então atraído pelo acúmulo de riquezas, poder e honra. Posso também encontrar meu centro gravitacional nos relacionamentos. Quando extraio vida e significado de qualquer outra fonte que não o fato de eu ser amado, estou espiritualmente morto. Quando Deus é relegado a segundo plano, por trás de qualquer badulaque ou bugiganga, troquei a pérola de grande preço por fragmentos colorizados de vidro”. (MANNING, O OBSTINADO AMOR DE DEUS, 2007)

No momento em que Adão e Eva optaram por seguir um caminho completamente diferente do original, perderam sua identidade; suas funções iniciais na criação foram reconfiguradas e ambos foram convidados a partir rumo ao desconhecido, sozinhos, sem nenhum tipo de auxílio, a não ser com os fardos infinitamente mais pesados a serem carregados. E com esse peso a mais na “bagagem”, toda e qualquer edificação seria muito mais penosa. Então, uma nova adaptação foi necessária para que os mesmos pudessem dar continuidade às suas novas realidades. Agora eles estavam carregando alguns elementos fundamentais para a criação de um ambiente de crise: abandono, solidão, medo, incertezas, sem direção, sem identidade; 34


II. A Crise do Éden

não eram mais os “dominadores” do mundo, e sim reles mortais com uma difícil tarefa a ser executada. Quem eles eram agora? O que deveriam fazer? Quem os orientaria? Ou com quem eles contariam? Eis uma grave crise existencial iniciada no Éden, e infelizmente, muitos decidem replicar.

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“Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo” (Romanos 7.19).



III

Crise Existencial “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo” (Romanos 7.19).

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omo percebemos anteriormente, a crise existencial passou a ser uma das principais companheiras do ser humano, não diferente de tudo o que nos cerca, ela também passou a ser estudada de forma mais intensa, mesmo porquê, o ser em “construção” precisou buscar respostas plausíveis ou reconfortantes para suas inquietações. Com isso, algumas teorias surgiram no decorrer dessa caminhada e a grande maioria delas, partiu para encontrar suas respostas em lugares completamente opostos ao que encontramos relatado nas Escrituras. “Ao lançarmos um olhar mais abrangente e observarmos o homem na sua totalidade física e temporal, poderemos novamente unir as coisas. É o que se esperava que as religiões (do latim religare, que quer dizer unir) fizessem, ao dar ao ser humano a sua dimensão verdadeira, que é, antes de tudo, espiritual. Então, talvez poderemos compreender a razão de ser do homem e, portanto, também as razões do seu mal-estar”. (Fonte: file:///C:/Users/adjam/Downloads/ Diga-me%20Onde%20Doi%20e%20eu%20te%20direi%20 por%20que.pdf )

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Algumas áreas específicas da ciência, ficaram encarregadas de trazer à luz, pelo menos em tese, as respostas para os principais dilemas existenciais. Essas áreas, por sua vez, são divididas da seguinte forma: – EPISTEMOLOGIA (Significa ciência, conhecimento, é o estudo científico que trata dos problemas relacionados com a crença e o conhecimento, sua natureza e limitações. É uma palavra que vem do grego – Fonte: www.significados.com.br). O “eu” busca conhecer o que lhe cerca; como foram criadas todas as coisas, qual sua utilidade, etc. – ONTOLOGIA (Ontologia é o ramo da filosofia que estuda a natureza do ser, da existência e da própria realidade – Fonte: www.significados.com.br). Aqui se aplica a questão direta da identidade: Quem eu sou? – TELEOLOGIA (A teleologia é uma doutrina que estuda os fins últimos da sociedade, humanidade e natureza – Fonte: www. dicionarioinformal.com.br). A suma é: de onde eu vim, e para onde vou? – AXIOLOGIA (Axiológico é tudo aquilo que se refere a um conceito de valor ou que constitui uma axiologia, isto é, os valores predominantes em uma determinada sociedade – Fonte: www.significados.com.br). Nesse ponto percebo: O que realmente tem valor para mim? Em suma, o homem sem Deus não sabe quem é; quais suas origens e seu destino final; e, por não entender o preço que foi pago para o seu resgate, não consegue valorizar tudo o que há de melhor preparado pelo Senhor para o seu deleite. Só a partir do momento em que o indivíduo se volta para o pleno conhecimento da Verdade, é que todos esses questionamentos são respondidos satisfatoriamente, então a vida passa a tomar 40


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um rumo mais seguro e produtivo, e o nosso olhar a respeito do mundo passa a ser muito mais amplo e de fácil compreensão. Para o entendimento científico, a crise existencial não tem nada a ver com posição social, formação acadêmica, raça, crenças, profissão, ou qualquer outra condição humana. Quando olhamos através desse prisma, vemos que Adão e Eva tinham todos os recursos necessários para terem uma vida de pleno sucesso e felicidade: eles dominavam sobre todos os demais seres criados, não tinham concorrentes, ou colegas de trabalho que quisessem lhes “puxar o tapete”, não sofriam com problemas de saúde ou financeiro, viviam em meio a grande fartura, também não precisavam estar provando nada a ninguém, entretanto, suas posições superiores na criação, não foram suficientes para que os mesmos encontrassem prazer em sua forma de existir. Com isso, entende-se que a crise existencial surge a partir do momento em que a pessoa é exposta a um novo ambiente, ou ainda, quando surgem novos desafios ou problemas e os recursos que antes foram suficientes para resolver algumas questões, agora estão escassos ou perderam sua função. De acordo com Caplan (1964, apud Beatriz Montenegro, Intervenção em Crise e Prevenção de Suicídio, Unyleya), a crise divide-se em quatro fases: FASE 1: Elevação inicial de tensão do impacto do elemento novo que aciona as respostas habituais, homeostática, para resolução de problemas. FASE 2: Falta de êxito na resolução do problema, elevando-se a tensão a um estágio de perturbação e ineficácia. FASE 3: Nova elevação da tensão que ultrapassa um terceiro limiar e atua como estímulo interno para mobilizar recursos internos e externos para solucionar o problema. Novos métodos são acionados para enfrentar a situação. O indivíduo pode ressignificar 41


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o problema e encontrar novas formas de lidar com ele. É possível que haja resignação ativa e renúncia de certos aspectos intangíveis das metas. Ele poderá tentar resolver o problema por tentativa e erro, ou em ação ou em pensamento abstrato, identificando as alternativas possíveis para solução do problema. Em consequência do esforço empreendido e sua redefinição, o problema pode ser resolvido, gerando consequências positivas para o indivíduo e ressignificando seu papel diante do grupo. FASE 4: Se o problema não pode ser resolvido satisfatoriamente, nem evitado pela renúncia à necessidade ou distorção da percepção, a tensão ultrapassa um novo limiar e torna-se insuportável com o tempo, atingindo um ponto de ruptura. Por mais plausíveis e esclarecedoras que sejam as explicações científicas para todos esses dilemas, todas elas sempre sinalizarão para Deus. Ninguém melhor do que o Criador, para resolver as questões da criatura. O Salmo 139.1-16 nos revela isso: “Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me sento e quando me levanto; de longe percebes os meus pensamentos. Sabes muito bem quando trabalho e quando descanso; todos os meus caminhos te são bem conhecidos. Antes mesmo que a palavra me chegue à língua, tu já a conheces inteiramente, Senhor. Tu me cercas, por trás e pela frente, e pões a tua mão sobre mim. Tal conhecimento é maravilhoso demais e está além do meu alcance, é tão elevado que não o posso atingir. Para onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde poderia fugir da tua presença? Se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha cama na sepultura, também lá estás. Se eu subir com as asas da alvorada e morar na extremidade do mar, mesmo ali a tua mão direita me guiará e me susterá. Mesmo que eu dissesse que as trevas me encobrirão, e que a luz se tornará noite ao 42


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meu redor, verei que nem as trevas são escuras para ti. A noite brilhará como o dia, pois para ti as trevas são luz. Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe. Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas obras são maravilhosas! Disso tenho plena certeza. Meus ossos não estavam escondidos de ti quando em secreto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu embrião; todos os dias determinados para mim foram escritos no teu livro antes de qualquer deles existir”. Entende-se, portanto, que o cerne da questão existencial está no fato do indivíduo não estar satisfeito com a forma do seu “eu” existir, com isso, ele parte em busca de um outro “eu” que a seu ver, é bem melhor do que como ele se percebe no momento. Com isso, um turbilhão de incógnitas e insatisfações passam a se instalar em sua mente elevando o nível de estresse. Por esse motivo o Senhor nos alerta: “Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” (Mateus 6.21). Infelizmente, muitos ainda não compreenderam o valor que tem o Tesouro Incorruptível. Não haverá proposta mais atraente do que a de estar rendido aos pés do Altíssimo. Entretanto, muitos se perdem, lançando-se de forma intensa na busca por suprir suas faltas de maneira, muitas vezes irracional, apegando-se à elementos finitos e de valor duvidoso, ao passo que esses elementos se “deterioram”, levam junto toda esperança de plenitude, de satisfação e alegria. Quando cedemos ao engano, assumimos a postura de querer provar para nós mesmos, em primeiro lugar, e para o próximo, que conseguimos ‘dar conta do recado’, e com isso, nos sobrecarregamos com funções, as quais, não fomos preparados para assumir. Todos nós temos um limite a ser respeitado, mas infelizmente, no afã de querermos sempre mais, nos lançamos 43


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muitas vezes de forma inconsequente, em projetos sem objetivos claros, ou, que estão além das nossas forças. No momento que começamos a proceder assim, ficamos emocionalmente fragilizados, o medo e a angústia passam a tomar uma maior proporção. Quando Adão e Eva quiseram assumir uma posição que não lhes cabia, uma grave crise de identidade foi percebida e os frutos colhidos por eles foram tremendamente difíceis de serem digeridos. Ao pararmos para entender o ápice da crise humana, percebemos que esta se deu a partir do momento em que o homem se distanciou Daquele que sabe todas as coisas, que tem o domínio do ter e do existir, que conhece as profundezas da alma humana, seu desejos, fraquezas, limitações, medos e sonhos. Por essa razão, o Senhor diz: “Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro. Então vocês clamarão a mim, virão orar a mim, e eu os ouvirei. Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração. Eu me deixarei ser encontrado por vocês”, declara o Senhor”... ( Jeremias 29.11-14). Vemos então, que ao sermos apresentados a um novo ambiente, somos forçados a desenvolvermos novas aptidões, novo modo de vida, e até mesmo um novo olhar a respeito dos nossos limites e da nossa força. Por isso, é imprescindível que haja um conhecimento mais profundo sobre nós mesmos ou do que nos tira do “prumo”, um olhar muito mais atento a tudo o que nos faz perder o equilíbrio. Em Gênesis 4.7, Deus revela que todos estão sujeitos às tentações e à queda, entretanto, também diz que é possível vencermos cada situação que somos expostos e que ameaçam tirar a nossa paz. 44


III. Crise Existencial

“...saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo” (Gênesis 4.7b). Logicamente Deus não criou o homem para viver crises existenciais, mas, como Ele sempre tem um plano perfeito para colocar o caos em ordem, possibilita tirarmos grandes ensinamentos de toda situação difícil por nós enfrentada. Por isso, vale sempre salientar, que o processo de crise também tem sua importância no desenvolvimento humano, pois o indivíduo precisa passar por diversas situações para poder conhecer de fato quem é, qual sua função no mundo e até onde pode chegar. Assim como em tudo na vida, a crise também tem dois lados: o positivo e o negativo; cabe a nós decidirmos qual deles se sobressairá. Precisamos, no entanto, encontrar as respostas para os sentimentos que nos dominam. “Só quando resolvemos cada um dos conflitos, a personalidade pode continuar a sua sequência normal de desenvolvimento e adquirir a força para enfrentar o conflito da próxima fase. Se o conflito em qualquer uma das fases permanecer mal resolvido, teremos menos probabilidade de nos adaptarmos aos problemas que surgirão posteriormente. Ainda é possível um resultado positivo, mas este será mais difícil de obter.” (Schultz, 2006)

A crise existencial é o estado emocional em que o ser humano vê a própria vida sem sentido ou significado. O indivíduo não consegue se nutrir emocionalmente de maneira adequada, o que torna pouco a pouco, problemática sua relação com o meio externo. Na visão de Sartre (1997), no auge da crise existencial, a pessoa se percebe como um ser que não tem condição de dirigir a própria vida rumo a um alvo, mesmo porque, ele nem mesmo sabe o que de fato deseja a sua alma, apenas tem a consciência de que está no lugar errado, fazendo o que não gosta; ele é um ser inacabado, e por conta dessa sua 45


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condição, se vê como alguém que não consegue construir um caminho seguro; ao contrário, segue rumo a um futuro incerto; não se satisfaz com sua condição e mesmo não estando satisfeito, não consegue mudar o quadro em que se encontra. Ele se vê inapto para a conquista, impotente e desprovido de toda e qualquer capacidade. De repente o indivíduo percebe-se perdido, e tudo aquilo que ele tinha ou compreendia como algo de valor, importante e imprescindível, perde todo o significado. O vazio de sua alma agora torna-se mais claro e visível; ele apenas não compreende as causas desse vazio. Logicamente, quando Deus criou a humanidade, Ele não a fez em instabilidade, é por essa razão que quando esta se vê diante de suas crises, não consegue lidar com elas, nem consegue sobrepô-las tão facilmente; porque, em sua essência não existe o caos, ao contrário, Deus colocou o caos em ordem, e só depois veio a Sua obra prima – “Era a terra sem forma e vazia”... (Gênesis 1.2a) Todo esse sentimento, essa sensação de estar perdido e só, sem “norte” ou algo pelo que lutar, tem trazido decadência emocional a um grande e assustador número de pessoas no século XXI, visto que esses sentimentos se enraízam e se avolumam de tal forma, que a sensação de incapacidade é mais forte do que qualquer outra coisa. Estas por sua vez, lutam pela causa alheia, o trabalho que executam não lhes traz prazer ou satisfação, a não ser uma obrigação dolorosa e extremamente angustiante, que oscila entre a luta pela sobrevivência e o desejo em abandonar tudo e fugir. Logo, como essa segunda opção é mais difícil, o indivíduo segue, sem perspectivas, sem coragem de se reconhecer necessitado de ajuda, e sem amor por si mesmo, o que é necessário e importante, e que pode mudar tudo ao seu redor. Elas não entendem de fato o que lhes causa alegria ou prazer. Tudo é questionado, principalmente o existir. 46


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Se tornam dependentes do outro em praticamente todas as questões, e quando o outro não corresponde suas expectativas, grande é o descontentamento e a frustração, e tudo isso apenas faz com que o vazio se torne ainda mais latente. Em seu livro O Silêncio de Adão, (CRABB, 1998) relata de forma simples, algo muito importante a respeito da dependência do outro: “A maioria de nós naturalmente pensa dessa forma. Queremos crer que alguém sabe exatamente o que devemos fazer para consertar nossos problemas, e – dependendo do tamanho dos nossos problemas – estamos dispostos a fazer qualquer coisa que esse alguém sugerir. Tornamo-nos uma cultura de PERITOS e SEGUIDORES, todos determinados a entender as minúcias da vida” (Pág. 64).

Observe que grande parte das pessoas que estão vivenciando uma crise existencial, foge para bem longe de Deus. Talvez esse seja um reflexo do Éden, visto que a partir do momento que pecaram, Adão e Eva fugiram e se esconderam quando perceberam que Deus se aproximava, como todos os dias fazia, conforme encontramos em Gênesis 3.8. Talvez, esse nosso distanciamento seja porquê, assim como eles, nós temos a consciência de que não podemos esconder nenhum detalhe do olhar do Senhor – Ele não se encaixa no contexto dos “PERITOS E SEGUIDORES” – Ele simplesmente É! De acordo com (Caplan, 1964) a crise é o desequilíbrio entre o problema e a solução desse problema, ou seja, existindo o problema, a solução, ou os recursos para resolvê-los precisam estar presentes e caso isso não aconteça, ela se instala. Então, analisando o comportamento de Adão e Eva baseado nesse conceito, temos: 1) O Problema: um novo caminho estava sendo apresentado pela serpente; 47


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2) A Solução do Problema – de acordo com o pensamento de Eva: ceder à voz da serpente que garantia uma condição de superioridade, maior do que a original, e mais ainda, a chance de ser igual a Deus no conhecimento. Entretanto, se o caso fosse inverso, como de fato é, teríamos: 1) O Problema: ter cedido à voz do enganador; 2) A Solução do Problema: voltar a condição original de comunhão com Deus. “O Espírito e a noiva dizem: “Vem! “E todo aquele que ouvir diga: “Vem! “Quem tiver sede, venha; e quem quiser, beba de graça da água da vida” (Apocalipse 22.17). Podemos encontrar alguns sintomas muito importantes naqueles que estão vivenciando a crise existencial, e que precisam estar atentos para que esses sintomas não se tornem patológicos: 1. Sensação de estar só e isolado; 2. À procura de sentido pra vida; 3. Frustração por não ter o que quer; 4. Não concluir o que começa; 5. Não se sentir amado; 6. Se sentir incapaz; 7. Não se sentir valorizado; 8. Baixa autoestima; 9. Não percebe a beleza das coisas; 10. Medo de mudança; 11. Se torna dependente do outro. 48


III. Crise Existencial

Ainda outros sinais são evidenciados com muita intensidade: 1. Não sente prazer em estar na presença de Deus, em oração ou em adoração; 2. Não tem uma vida devocional; 3. Desacredita em muita coisa que lê na Palavra; 4. Questiona os desígnios do Senhor e sua forma de atuação; 5. Ridiculariza a fé dos que estão ao seu redor; 6. Questiona a existência do céu e do inferno; 7. Faz mau juízo das pessoas; 8. Coloca em dúvida algumas questões que um dia defendeu com relação à fé; 9. Convive friamente com o pecado e isso não lhe causa temor; 10. Passa a achar normal atos e posicionamentos desaprovados por Deus. “Ó, Deus, provei de tua bondade, e ela tanto me satisfez quanto me fez desejar por mais. Tenho a dolorosa consciência de minha necessidade de mais graça. Envergonho-me de minha falta de desejo. Ó, Deus, trino Deus, quero desejar-te; anseio por ansiar-te por inteiro; estou sedento de mais sede de ti. Mostra-me a tua glória, peço-te, para que eu possa te conhecer de fato. Por tua misericórdia, inicia dentro de mim uma nova obra de amor. Dize à minh’alma: “Manifesta o meu amor, amada minha, e vem comigo”. Então, dá-me graça para me erguer e te seguir desde essa planície escura por onde tenho vagado há tanto tempo”. (TOZER, 1985)

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“Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.12-13).



IV

O Lado “Bom” da Crise

E

m Eclesiastes capítulo 3.1-8, encontramos de forma simples e muito bem detalhada, os altos e baixos encontrados na vida humana, e não existe outro caminho a ser trilhado que possa trazer o alento para a alma cansada, a não ser a total rendição à soberania de Deus, caso contrário, os conflitos se instalarão fazendo com que a fase seguinte seja ainda muito mais penosa: “Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter, tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz”. A palavra crise em chinês é composta por duas outras palavras: PERIGO + OPORTUNIDADE = 危机 (Wéijī). 53


Revestidos - O Triunfo

Sabemos que não é fácil lidar com a crise, com tudo o que ela traz e suas consequências. Entretanto, toda a situação se torna ainda mais problemática quando o indivíduo que passa por ela não consegue se nutrir física, emocional e espiritualmente para lidar com todas as questões que a envolve. Compreender o processo natural da existência, faz com que aceitemos com mais serenidade os desafios impostos pela vida. Desde o nascimento todos passarão por diversas fases, mas, todas elas têm um objetivo positivo, principalmente na vida daqueles que acreditam na soberania do Senhor – “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito” (Romanos 8.28). E vale salientar ainda, que todos nós, pelo menos os que cremos, estamos numa jornada rumo à eternidade, e até chegarmos ao nosso destino final, passaremos por importantes situações que nos conduzirão ao desenvolvimento, tanto emocional, quanto físico, sentimental e espiritual. Quando o povo de Israel saiu do Egito rumo à Terra Prometida, um longo caminho lhe aguardava, e não era um caminho comum, simples de ser percorrido, ao contrário, era um território inóspito, cheio de armadilhas e perigos incontáveis. Entretanto, o trajeto se tornou ainda mais desgastante devido a postura equivocada que foi assumida por esse povo no decorrer da jornada. Por isso, em quem, ou no que cremos, as escolhas que fazemos, as companhias que buscamos, os conselhos que ouvimos e a quem nos apegamos, definirá se seremos vitoriosos no final. Para os hebreus libertos do Egito, todas as manifestações do poder de Deus, Sua atuação sobrenatural, Sua companhia, Sua proteção e Seus cuidados, não foram suficientes para que eles entendessem a maravilhosa graça que estava sendo manifesta no deserto. Na verdade, se eles tivessem 54


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