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O Melhor Piloto Agrícola

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Uma Milha Cinzenta

Uma Milha Cinzenta

Juliana Torchetti Coppick jutorchetti@yahoo.com.br

Em qualquer atividade, a busca pela excelência é um hábito dos profissionais de qualidade. Aliás, a palavra “excelência “ por si só, soa bastante atrativa aos ouvidos. Gostamos de colocá-la em nossos currículos e propagandas.

As divergências começam quando nos perguntamos: o que é de verdade a excelência? O que define um ótimo piloto agrícola?

Se o conceito de “excelência” se estabelece de forma deturpada, o que fazemos em nome dessa busca, ao invés de nos fazer profissionais melhores, pode nos conduzir a resultados desastrosos.

Em nossa atividade, egos inflados são mais comuns do que gostamos de admitir. Assim sendo não é raro encontrarmos pilotos ou operadores que se auto intitulam como “os melhores”.

Será que ser o melhor é ser o mais seguro, o mais rápido, o mais arrojado ou o que faz mais dinheiro? Será a excelência a junção de todas essas características? Como os leitores já devem ter percebido, hoje eu tenho mais perguntas do que respostas.

Porém, não espero que um guru surja como um daqueles personagens da ficção (uma espécie de Mestre Yoda ou Mestre dos Magos) e calmamente nos guie pelo obscuro vale das incertezas. Até porque sabemos que não existe uma receita única para o sucesso. Aliás, esse é outro conceito que varia de pessoa para pessoa.

O que somos no campo profissional, inevitavelmente reflete muito do que somos como pessoas. Nossas prioridades, valores, receios, vaidades e ambições... Cada uma dessas coisas impactará de maneira diferente na nossa equação “excelência/sucesso”.

Eu costumo usar uma técnica que vem se mostrado bastante eficiente aos longos dos anos.... Costumo observar a trajetória de alguns respeitados e experientes aviadores. Particularmente, eu presto atenção aos indivíduos com histórico mais seguro e personalidades menos vaidosas; visto que a vaidade, via de regra, é péssima conselheira. Mas um piloto veterano com a cabeça no lugar, pode ser uma fonte de sabedoria da qual vale a pena beber.

Somada à trajetória desses aviadores, eu busco informações em livros e publicações. Sempre bato na tecla de que precisamos diferenciar informação e opinião. Ter opinião não é pecado algum... pelo contrário, é um direito! Mas sinceramente, se a opinião de um aviador vai contra o manual de operações, por exemplo, eu já fico com um pé atrás.

Na dúvida, sigo o manual. Afinal, ao assumirmos o comando de uma aeronave somos responsáveis pela operação da mesma. E se eu tiver que me explicar diante de um juiz, creio que vale mais justificar minhas decisões respaldada pelo manual de operações da aeronave do que pela opinião daquele amigo “Top Gun”.

Estranhamente, na aviação agrícola parece ser mais comum se envolver em um acidente ou incidente, do que operar dentro dos limites. Panes secas, colisão com fios, operações acima do limite máximo de peso de decolagem/pouso rendem menos caras de surpresa do que fazer as coisas “by the book” (expressão que significa seguir as recomendações do fabricante da aeronave).

Sei que muitos vão dizer que na aviação agrícola, se a operação for feita seguindo o manual, não se faz dinheiro. Mas... quanto custa um acidente? Quanto custa uma trinca estrutural por constante fadiga mecânica? Qual o valor da nossa imagem profissional diante do mercado e da sociedade?

Não se preocupem em responder aos meus questionamentos pois eles são meros convites à reflexão. Aliás, eu sou extremamente cautelosa quando alguém me diz que sou “ influenciadora” ou “formadora de opinião“. Prefiro acreditar que somos todos capazes desenvolver nossos próprios parâmetros e guias para as tomadas de decisão.

Das poucas coisas que posso afirmar com certeza nesse artigo, uma delas é: nosso limite deve sempre ser menor que o do avião (e isso não é uma opinião minha. É um conceito básico de sobrevivência para se operar qualquer máquina).

É possível exceder o limite da aeronave e sair incólume da situação? Claro que sim! Creio que muitos de nós já fizeram isso alguma vez (eu já!), seja por ignorância ou desinformação. Mas insistir nisso é brincar de roleta russa. Como disse anteriormente em outros artigos, existe uma diferença enorme entre erro e violação. Quando ouço meus mentores na aviação, presto bastante atenção em como eles reagiram após um erro. E é daí que tiro minhas mais valiosas lições.

Além de ter eleito alguns veteranos como mentores, eu gosto de informação de qualidade, porque ela serve para refutar ou validar alguns hábitos que nós pilotos desenvolvemos ao longo de nossas carreiras.

Existe um guia publicado pela NAAA (National Agricultural Aviation Association) chamado “Professional Operating Guidelines” que é extremamente rico. O guia traz informação de qualidade em 60 páginas. De maneira sucinta e assertiva, a publicação trata de técnicas de voo, relacionamento com clientes, seleção e treinamento de pessoal, comunicação entre piloto-equipe de solo, entre outros assuntos.

Importante frisar que o próprio guia deixa claro que se trata de um material cujo objetivo é orientar e auxiliar, mas que cada operador é responsável por suas decisões e deve ser capaz de desenvolver a atividade aeroagrícola de maneira segura.

Sei que em muitos aspectos do nosso trabalho estamos sob extensa regulamentação, mas por outro lado ainda há muita flexibilidade no que diz respeito a maneira de operar as aeronaves. Portanto, é de bom alvitre que busquemos boas inspirações, seja figura de um mentor ou nas páginas de um bom livro.

Dizem que na vida somos os fortemente influenciados pelas pessoas com as quais convivemos, pelos livros que lemos e pelos lugares que visitamos. Eu concordo. E o mesmo vale para nossa vida profissional.

Aproveito esse artigo para dar um breve “adeus” (que na verdade será mais um “até logo”).

Nos próximos meses vou me ausentar das páginas da AgAir Update pois estarei imersa em alguns outros projetos pessoais e profissionais que vão me demandar dedicação exclusiva. Agradeço infinitamente aos que dedicaram preciosos minutos de suas vidas lendo meus artigos. Deixo vocês em boas mãos pois a revista AgAir Update tem um time de primeira.

Aqui nos Estados Unidos logo os campos estarão cobertos de neve. Pilotos e aeronaves (pelo menos os que trabalham mais ao Norte do país), estarão recarregando as energias para a próxima safra.

Recentemente passei 4 semanas no Brasil e sofri com o calor. Meus amigos e familiares brincaram dizendo que virei “gringa” e me acostumei demais ao clima frio daqui de Illinois...

Assim sendo, para provar o contrário, me despeço de vocês como uma boa mineira matuta, daquelas que jamais se esquece de onde veio...

Para todos vocês, “um abraço, um beijo e um queijo! ”.

Voem em segurança!

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