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O Pior da Aviação Agrícola, UM ACIDENTE— Antenas e Sol na Cara, Inimigos do Piloto
Como piloto, tento não ser apenas reativo, tento antecipar-me ao avião e também trato de aplicar isso em minha vida pessoal. Mas quando acontecem eventos catastróficos, sempre prevalece o instinto humano de autopreservação e emerge o “homem reativo”.
O grande filósofo e pensador, Viktor Frankl, falando sobre o significado da vida, disse: “Uma reação anormal a uma situação anormal é o comportamento normal”. E foi isso que me motivou a escrever este artigo, meu lado de “homem reativo”.
O pior da aviação é um acidente. Enquanto não acontece, enquanto não leva um colega, enquanto não acontece conosco, é algo abstrato de que se ocupam os “teóricos” que apresentam seminários de segurança na aviação. Mas os acidentes, sem dúvida são o pior da aviação.
Ontem de manhã recebi a notícia de que um piloto agrícola tinha morrido. Teve um acidente. Não conhecia este piloto, mas ele trabalhava na empresa de um amigo. Prontamente, busquei me informar mais, e a cada mensagem que recebia, mais me doía o coração.
O amigo que me informava me contou que tinha tomado um mate com ele naquela manhã. O piloto então decolou e devido à fumaça dos incêndios na região, não viu uma antena de telefonia celular, colidiu com a mesma e (o mais triste) caiu a apenas 100 metros de sua casa.
ANTENAS, AUXILIARES E INIMIGAS
Sem dúvida nenhuma, hoje o mundo depende das antenas; a tecnologia nos auxilia e, bem usada, facilita a vida do homem. Mas para nós, pilotos agrícolas, além de ser uma ajuda, as antenas são um perigo. Simples assim.
Embora estas antenas devam estar sinalizadas por pintura, luzes estroboscópicas e outros meios, do ponto de vista do piloto, todas essas sinalizações muitas vezes não significam nada, é como se não existissem.
Vê-las ou não, depende de fatores como pára-brisas sujo, névoa, fumaça, distrações na cabine e sol na cara. Todos estes fatores fazem parte do cotidiano do trabalho de um piloto agrícola.
O QUE PODEMOS FAZER PROATIVAMENTE COMO PILOTO?
1. Perguntar. Como norma general, pilotos agrícolas fazem safras repetidamente na mesma região geográfica. Há exceções, mas essa é a regra geral. Então, o mais importante, mesmo quando não formos da região, é conhecer a área, através de auxílios como mapas ou, o mais importante, perguntando aos pilotos locais.
2. Usar a tecnologia de bordo a nosso favor, a maioria dos sistemas DGPS (Diferencial Global Position System) que usam os aviões agrícolas hoje em dia tem uma função que permite marcar a posição de um obstáculo simplesmente apertando um botão. Assim, quando a distância entre a aeronave e o obstáculo estiver dentro do tempo de aviso, o AgNav dará um alerta na barra de luzes e na tela, para chamar sua atenção. O arquivo pode ser baixado do equipamento e compartilhado. Outros sistemas DGPS certamente também devem ter esta função. O AgNav é o que conheço.
3. Crie um banco de dados e o COMPARTILHE, a segurança operacional deve estar acima da concorrência, e como pilotos e empresários devemos ser generosos com nossos colegas. A FAA tem a disposição dos pilotos o Digital Obstacle File (DOF), o qual é atualizado a cada 56 dias e descreve todos os obstáculos conhecidos para os usuários de aviação nos Estados Unidos, com uma cobertura limitada do Pacífico, Caribe, Canadá e México. Podemos ser proativos e ajudar a nossas autoridades de aviação, mostrando-lhes o exemplo da FAA.
4. Cheque a área de aplicação, os obstáculos devem ser o principal item a controlar antes de começar a aplicação. Defina as vias de escape e como enfrentar estes obstáculos. Com um avião carregado, não é fácil de desviar de um obstáculo.
5. Voos de translado, a maioria das antenas não passam de 500 pés de altura, então porque fazer um voo de translado a menos de 1.000 pés AGL? Nos manuais de procedimento das empresas deveria estar claro que os translados devem ser feitos a uma altura de segurança, inclusive com o avião carregado.
Estes simples conselhos (de piloto veterano) não devolverão a vida a EVERTON (o nome do piloto da história), mas podem ajudar outros colegas a evitar o pior da aviação.
Parece um clichê aos que não são da aviação, que muitas vezes se impressionam que desejamos “bom voo” a um colega que está prestes a voar. Não é um clichê, é a expressão de um desejo de coração. Eu simplesmente acrescentaria, “BOM VOO, E QUE REGRESSES SÃO E SALVO”.
Martin da Costa Porto é piloto agrícola e instrutor de voo uruguaio. Tem mais de 25 anos e 11.000 horas de experiência na aviação agrícola, e 3.000 horas como instrutor de voo. Atualmente, voa um Air Tractor AT-402B turbo-hélice no Uruguai.