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Cuidados com o Combustível Quando Operando em Áreas Remotas - Aviação Agrícola
FERNÃO CAPELO
Dr. Rogério Ribeiro Cardozo. Técnico em manutenção de Aeronaves. roger.cardozo@hotmail.com.br
O combustível aeronáutico é uma das componentes de maior impacto em praticamente todos os tipos de operações, seja ela urbana ou rural. Quando a operação se dá em locais com maior infraestrutura aeroportuária, embora sempre se devam ter cuidados especiais, fica mais a função de supervisão durante os abastecimentos das aeronaves, checagem dos testes específicos quanto à presença de água no combustível, etc.
Outra característica que deve ser observada é a validade do combustível, pois a inobservância desse fator pode acabar acarretando problemas operacionais.
Quando as operações se dão em áreas rurais que podem ser consideradas também como áreas remotas, todos os cuidados sejam a origem do combustível, disposição e armazenamento, abastecimento e cuidados ambientais recaem sobre o grupo que está realizando a operação. Este artigo não visa ensinar aos operadores, o que eles devem fazer, mas sim alertá-los de cuidados básicos com o combustível, evitando futuros problemas que podem acabar inviabilizando a utilização da aeronave por problemas de manutenção e em alguns casos inclusive provocando acidentes com a mesma durante a operação.
Para um motor aeronáutico, pode-se considerar analogicamente que seus fluídos, óleo e combustível, estão para o motor como o sangue está para o corpo humano, portanto para que se mantenha o motor saudável em uma operação, devem-se ter os cuidados necessários com estes fluídos. A gasolina de aviação – AVGAS, leva em sua composição diversos aditivos a fim de proporcionar as características necessárias a uma queima eficiente extraindo da energia calorífica produzida pela queima da mesma e transformando em energia cinética que proporcionará a tração e o torque necessário para a eficácia da operação.
A AVGAS deve possuir grande estabilidade química além de alto poder antidetonante. Essa estabilidade química é obtida através da adição de anti-oxidantes, que evitarão a precipitação de componentes e a polimerização. A polimerização é bastante comum nas gasolinas automotivas se apresentando como formação de borras gelatinosas nos tanques, tubulações e sistema de combustível. Outros aditivos também são inseridos tais como dispersantes, anti-corrosivos, dispersantes e também elementos para evitar o acúmulo de cargas eletrostáticas.
O chumbo tetraetila é um desses aditivos presentes na AVGAS e responsável pelas características antidetonantes do produto. A gasolina de aviação tem hoje, no Brasil, a coloração azul e cristalina; quando exposta à luz solar direta acaba reagindo com os raios solares provocando um esbranquecimento da mesma pela reação do chumbo tetraetila. Nessa reação ocorre a formação de cristais e a perda de características do combustível, tornando-o impróprio para a utilização segura durante a operação além de trazer prejuízo financeiro para o operador e ser um fator contrário à Segurança Operacional da missão.
Na verdade, o chumbo tetraetila nunca é usado de forma isolada, mas sim como um componente de um bem mais complexo componente antidetonante conhecido como Etil-fluído.
O Etil-fluído tem em sua composição o chumbo tetraetila (61,45%), brometo de etileno (17,85%), cloreto de etileno (18,80%) além de produtos inertes e corantes (1,9%). O composto possui cor avermelhada e o chumbo tetraetila é o componente antidetonante do composto, enquanto que o brometo de etileno e o cloreto de etileno são destinados à formação de compostos voláteis de chumbo (brometo e cloreto de chumbo), o que irá facilitar a eliminação dos mesmos junto com os gases de escapamento.
Portanto os cuidados quando da operação com aeronaves agrícolas (e todas as outras aeronaves também) deve ser extremamente meticuloso no quesito combustível devendose buscar o seu armazenamento em recipientes e áreas adequadas e que não estejam expostas diretamente a luz solar e intempéries. Os recipientes de armazenamento devem ser opacos ou estarem bem protegidos da radiação solar evitando a degeneração do combustível por cristalização e formação de borras. A filtragem do combustível na hora do abastecimento com filtros de camurça também é recomendada para evitar possível presença de água que possa estar presente no combustível.
Quem já experimentou a terrível sensação de sentir o motor da sua aeronave tossindo durante um vôo a baixa altura sabe o quão desagradável é esse sentimento. Eu já senti... e não quero repetir a experiência.
Bons vôos à todos!!!
Prof. Mestre Rogerio Ribeiro Cardozo é Técnico em Manutenção de Aeronaves, especialista em helicópteros, Administrador de Empresas e Professor Universitário; Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental. Desde 2012 escreve sobre a área ambiental e sustentabilidade tendo trabalhos acadêmicos e artigos publicados envolvendo a Administração e a Sustentabilidade, incluindo alguns trabalhos sobre os serviços aero-agrícolas orientados pelo mesmo. Na área da pesquisa desenvolveu um novo tipo de plástico totalmente produzido com resíduos de PVC e resíduo de óleo de motor aeronáutico o que lhe rendeu uma indicação para um possível Doutorado na Universidade de São Paulo na área de desenvolvimento de materiais para a construção civil (Arquitetura e Urbanismo). É também Elemento Certificado pelo Seripa V na área de Segurança na Aviação Agrícola.