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Plásticos em Oceanos/Conrad Mendoza

Texto: Conrad Mendoza Jr.

Mensagem da Ásia. É hora de fazer muito mais do que só falar da maré de plásticos nos oceanos

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Poluição por plásticos nos oceanos do mundo: a maioria de nós está pelo menos um pouco inteirada do problema. Talvez tenhamos visto fotos da Grande Mancha de Lixo do Oceano Pacífico ou lido sobre pássaros marinhos engolindo detritos.

Mas a questão ganhou nova urgência em 2018, es pe cial men te em toda a Ásia, quando um mergulhador chamado Rich Horner postou no YouTube um vídeo dele nas águas de Bali, em uma área popular chamada Manta Point. A câmera de Horner não capturou muitas das cria turas comumente encontradas por lá. Em vez disso, o que se viu foi ele nadando no que parecia ser uma galáxia subaquática sem fim de embalagens coloridas de salgadinhos, sacolas e outros tipos de lixo suspensos na corrente. Uma imagem chocante, mostrando que a humanidade está tratando nossos pre cio sos ocea nos como um aterro sanitário.

Depois que o vídeo de Horner viralizou, houve uma rea ção ini cial por parte de empresas de bens de consumo, governos e ONGs. Mas, como acontece com grande parte da resposta à poluição do plástico, tudo parecia um pouco rotineiro, ou seja, marcar presença para demonstrar preo cu pa ção pelo assunto. No final, isso não mudou nada em relação ao problema, que continuou como antes. Alguns meses depois,

uma sacola plástica de supermercado foi descoberta na Fossa das Marianas, a parte mais profunda do Pacífico.

Como diretor de desenvolvimento de negócios da Avery Dennison, moro em Cingapura e viajo pela região da ÁsiaPacífico a trabalho. Tenho observado o problema da poluição por plásticos da perspectiva de cidadão e consumidor, assim como de um empresário que vende materiais, incluindo alguns feitos de plástico e muitos que são aplicados ao plástico. Aqui está o que eu sinto: estamos perdendo a corrida contra a poluição por plásticos, e dramaticamente, na parte do mundo que chamo de lar. Em 2015, a Ocean Conservancy, citando a revista Science, relatou que oito milhões de toneladas métricas de plástico são despejadas nos oceanos do mundo todo ano, com mais da metade vindo da Indonésia, Filipinas, Tailândia, Vietnã e China.

A ONU Meio Ambiente concorda, observando que 60 por cento de todo o plástico no oceano vem de apenas seis países, todos eles da Ásia.

Não é por total falta de tentativa. Muitos consumidores em toda a Ásia estão prontos para abandonar os plásticos descartáveis e ajudar a construir uma economia circular, na qual as embalagens de plástico são recicladas em novas embalagens e ficam fora do fluxo de resíduos. Sei pelo meu trabalho com marcas de consumo que pesquisas mostram algo como 60 por cento dos consumidores que querem comprar produtos fabricados de forma sustentável, produtos que usem menos material, reutilizem embalagens existentes e reciclem embalagens usadas (fonte: inc.com). Mas, atualmente, esses produtos continuam tendo preços proibitivos para uma grande parcela da população na Ásia.

Marcas e fabricantes têm dado passos na direção certa. Muitos anunciaram metas de sustentabilidade que incluem compromissos para produzir mais embalagens recicláveis nos próximos anos. Vários estão inovando para criar embalagens que contenham mais plástico reciclado ou evitem totalmente o uso do plástico. Alguns estão fazendo parceria com ONGs. Mas, até agora, esses esforços não foram suficientes para conter a maré de plásticos. Embalagens plásticas sustentáveis continuam sendo um produto de nicho, porque as marcas sabem que os consumidores na maior parte do mundo não podem pagar o custo mais alto que esse tipo de embalagem impõe.

Enquanto isso, os governos da região ÁsiaPacífico oferecem uma verdadeira colcha de retalhos na regulamentação que apoia a reciclagem significativa de plásticos em algumas áreas, mas não em outras. O Japão, onde vivi (e separei meu lixo meticulosamente) por vários anos, costuma ser considerado um modelo para a região. Outros países estão lutando para lidar com uma quantidade avassaladora de lixo plástico e, um por um, os países da Ásia estão seguindo o exemplo da China ao proibir a aceitação de lixo estrangeiro, forçando os países a encontrar suas próprias soluções. Para muitos, o principal escoamento nos dias de hoje é o aterro sanitário.

Em suma, governo, empresas e consumidores parecem estar olhando uns para os outros, dizendo: “Vai você primeiro”. Mas, como o vídeo de Bali e inúmeras imagens semelhantes nos lembram, essa estratégia não está funcionando. Todos nós — governos, marcas, fornecedores e consumidores — devemos empreender ações efetivas o quanto antes.

Até agora, governos e corporações têm deixado para o próprio mercado a responsabilidade de resolver o problema. Todos estão esperando pelo momento em que a maior demanda por embalagens sustentáveis venha a gerar um volume alto o suficiente para que os custos diminuam e que as embalagens ecológicas se tornem a regra, e não a exceção. Contudo, passados muitos anos, isso ainda não aconteceu e nossos oceanos estão nos dizendo que não é possível esperar mais.

Ninguém gosta de mais regulamentação, mas é evidente que, para ocorrer uma mudança significativa, os governos da Ásia, especialmente no nível local, precisam criar leis e infraestrutura que facilitem a reciclagem e limitem as embalagens de plástico de uso único. Grande parte do problema dos plásticos remonta à falta de sistemas suficientes de gestão de resíduos nas localidades da Ásia, o que, acima de tudo, é um problema para o governo resolver.

Paralelamente, marcas e fabricantes de materiais de embalagem devem trabalhar juntos para aumentar a quantidade de plásticos recicláveis nas embalagens e incrementar o número de consumidores que as reciclam. É indispensável colaborar na redução do custo das embalagens sustentáveis, para que os consumidores em muitas partes do mundo, principalmente da

Em 2018, o mergulhador Rich Horner postou um vídeo seu no YouTube, nadando nas águas de Bali, no que parecia ser uma galáxia subaquática sem fim de embalagens coloridas de salgadinhos, sacolas e outros tipos de lixo. Uma imagem chocante, mostrando que a humanidade está tratando os oceanos como um aterro sanitário.

Ásia — onde a renda é baixa e o uso de plásticos descartáveis é alto — possam pagálo.

Nesse sentido, já podem ser percebidas algumas ações promissoras. Marcas de consumo global, motivadas pela crescente preocupação do consumidor, pelo espectro de mais regulamentação e uma ocasional vergonha pública por parte das ONGs, estão patrocinando iniciativas de reciclagem e explorando embalagens alternativas. No ano passado, a ONU anunciou um projeto com o governo da Suécia e o Órgão de Coordenação dos Mares do Leste Asiático para fortalecer a gestão de resíduos no Sudeste Asiático. Uma empresa chamada Circulate Capital, que se apresenta como “empresa de gestão de investimentos dedicada a incubar

e financiar empresas e infraestrutura que evitam o plástico oceânico”, recebeu aporte significativo de companhias de bens de consumo e químicas. E corporações, organizações sem fins lucrativos e outros estão trabalhando juntos como parte da AlianTodos estão esperando pelo ça dos Mares Livres de momento em que a maior Lixo, da Ocean Conserdemanda por embalagens vancy. Todas essas ações sustentáveis venha a gerar são muito positivas. um volume alto o suficiente Ao mesmo tempo, para que os custos como alguém da Ásia — diminuam e as embalagens onde a poluição do plásecológicas se tornem a tico oceânico é mais regra e não a exceção. Mas, nossos oceanos estão nos dizendo que não é possível esperar mais. terrível e impossível de ignorar —, também quero bradar: todos nós precisamos fazer mais e muito mais rápido! Porém, como acelerar o progresso do que está sendo feito? Como derrubar as barreiras que ainda impedem o governo, empresas e ONGs de colaborar de forma mais eficaz na busca desse objetivo? Como colocar nossa vasta capacidade inovadora para trabalhar a fim de nos livrarmos de embalagens de uso único e criar sistemas de gerenciamento de resíduos em toda a Ásia, que possam lidar com os rios de plástico que literalmente fluem através de nossos países? Como as empresas podem tornar essa questão uma prioridade, não apenas em nome da boa cidadania corporativa, mas em nome da gestão de riscos e da viabilidade de longo prazo de nossos negócios? Como limpar nossos oceanos, dos quais todos, em todos os lugares, dependem, antes que seja tarde demais? Esses temas foram motivo de discussão em abril na Virtual.Drupa e continuam vivos onde quer que fornecedores e clientes do nosso setor se reúnam. Devemos acompanhar esses debates com ações rápidas, decisivas e significativas. Porque, se o vídeo de Rich Horner e as incontáveis toneladas de lixo que continuam se acumulando em nossos oceanos nos mostram alguma coisa, inegavelmente, apenas falar não é o suficiente.

Conrad Mendoza Jr. é diretor de Desenvolvimento de Negócios da Divisão de Rótulos e Materiais Gráficos da Avery Dennison

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