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Gestão/Hamilton Terni Costa
from Revista Abigraf 309
by Abigraf
Hamilton Terni Costa
A indústria gráfica tradicional está em xeque?
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Busque saídas. Há mais do que imaginamos.
Não há, evidentemente, indústria alguma que não tenha sido afetada pelas transformações demográficas, tecnológicas, sociais e ambientais que o mundo vem passando nas últimas décadas e, em es pe cial, nesta crise da Covid19. A indústria gráfica não é, pois, exceção. O que acontece com ela, adi cio nal men te, é o impacto que teve e continua tendo com a explosão da comunicação digital e a substituição de vários produtos impressos por aplicações digitais. E, tal como se imaginava no início da pandemia, isso se intensificou e tende a pio rar. O que não significa de forma alguma que estamos falando sobre o fim da impressão ou da própria indústria. Ao contrário, como já escrevemos e palestramos inúmeras vezes em todos os cantos. As vantagens comparativas do ma te rial impresso con ti nuam intactas: rea ção cognitiva ao tato como o impacto vi sual e tátil, até mesmo odor; a transmissão de con fia bi li da de; a concentração e melhor entendimento da leitura sem dispersão; o foco. O minuto de atenção que, bem aproveitado na cria ção, leva ao interesse e pode ser o estimulador para a entrada no mundo digital para maior informação e/ou entretenimento. Os códigos e aplicações que permitem essa conexão entre o impresso e o mundo digital dão mais vida ao impresso e ressaltam essa sua importância no detonador do loop na comunicação e na ex pe riên cia do usuá rio.
Mas há uma outra questão que está no dia a dia de muita gráfica hoje. Os ne gó cios estão difíceis. Ponto. Claro que muito pela instabilidade do momento, pela chamada nova normalidade, que ainda não sabemos bem o que é, mas
que, enfim, atrapalha tudo. Desde as rupturas nas cadeias de suprimento que fizeram aumentar os custos dos materiais, dos fretes, dos insumos, até a volatilidade da demanda entre a recuperação da economia e as recaídas com novas ondas da pandemia.
Essa dificuldade não está só na questão econômica, mas há uma preocupação sobre o nível de atividade e desempenho do setor de gráficas comerciais e a demanda por impressos. Com isso, muitas gráficas buscam por alternativas para manterem o negócio. Embalagem tem sido o caminho escolhido por várias delas e o meu último artigo tratou desse ponto e dessa transição. Neste aqui eu quero trazer alternativas para os que estão procurando caminhos e novas oportunidades. Ainda que em mercados aparentemente desconectados — ou não — com a gráfica comercial, mas que podem trazer retornos bem interessantes.
Para isso é preciso olhar o mercado com outros olhos, com outra cabeça, com outra mentalidade. Pensar que o material impresso deve estar conjugado com outros serviços que resolvam os problemas do cliente. Apesar da redução de volumes, ainda há muitas oportunidades nos chamados mercados convencionais. Sempre podemos fazer as coisas de outro modo. Sempre há a possibilidade de se criar modelos de negócio dentro dos negócios existentes. Ou mesmo pensar em mercados paralelos aos que sua empresa atua hoje, mas que podem abrir novos caminhos e resultados.
Por exemplo — Que tal ajudar o seu cliente a vender? Que tal criar uma estrutura de tecnologia e de produção que permita colocar os produtos dos seus clientes mais perto dos seus consumidores e ainda por cima reduzindo custos de processos desses clientes? Especialmente em um mercado tradicional, como o de livros. Um mercado concorrido onde muitas gráficas de porte já fracassaram, especialmente na produção de livros didáticos em que custo baixo e eficiência são a base do negócio.
Há, hoje, gráficas aliadas a editoras que não somente imprimem seus livros — a maioria sob demanda —, como os promovem em sites próprios, vendem diretamente a livrarias e os colocam dentro de marketplaces como Submarino, Magalu e outros. Realizam também operações de logística e entregam livros diretamente aos compradores. Um modelo que reduz o estoque das editoras, aumenta o giro, mantém catálogos vivos e gera um modelo ganhaganha a todo o elo da cadeia de produção.
É um modelo baseado em tecnologia e capacidade de produção digital com alta performance. É o caso da Um Livro (https://www. umlivro.com.br). Em parceria com, dizem eles, mais de 40.000 editoras nacionais e internacionais e uma das maiores abastecedoras de livros da Amazon do Brasil. Usando as linhas de produção da Meta Brasil (https://www.metabrasil.com.br), ela possui mais de 4 milhões de livros em catálogo, sempre ativo, pois não há livros esgotados. Mesmo porque são produzidos após sua venda.
Um modelo parecido tem a Book 7 (https:// www.book7.com.br), da PSI7, que vende livros de suas editoras parceiras, produtos próprios, uma especialização em bíblias personalizadas e edição de livros de novos autores. Tudo sob demanda. Mantém também vendas através de marketplaces e lojas online parceiras.
São exemplos do uso potencial da impressão digital trazendo para zero o maior custo das editoras, o estoque. E há variações sobre esse modelo, empresas que trabalham na gestão de conteúdo dos clientes fazendo todo o processo de venda de livros e apostilas impressas para escolas e sistemas de ensino em franquias. Como a Ipressnet (https://www. ipressnet.com.br).
Falando em impressão digital e atendimento sob demanda, que tal um foco total em personalização? Um conjunto de produtos que podem ser totalmente personalizados e, de certa forma, cocriados pelos clientes? É a ideia do Zazzle, um site internacional de venda de produtos personalizados (https://www.zazzle.com.br) que existe já faz um bom tempo e muitos devem conhecer. Não deixa de ser um marketplace de produtos personalizados.
Há gráficas no Brasil com sites de produtos personalizados, via web to print, como a Foto Presente, da Alphagraphics Bela Vista (https:// www.fotopresente.com.br). Mas não deixa de ser uma ideia interessante a junção de algumas empresas para lançarem um site, como fizeram recentemente na Espanha 20 gráficas através do
site Printai (https://www.printai.es). Um trabalho em conjunto, cobrindo o país e abrindo mercados. Uma ideia, não? Nesse sentido, por que não analisar mercados paralelos ao gráfico, mas que estão apresentando um crescimento expressivo? Como no caso da impressão de tecidos e em suas variações. Alguns birôs de impressão têm avançado na impressão de tecidos sob demanda, de forma geral com sublimação. Também oferecem impressão de roupa e de objetos de decoração. Claro que é um mercado mais voltado a quem já está na área têxtil, por estar envolvido com essa cadeia de produção e que não tem nada a Que tal ajudar ver com papel. Mas, vamos lá. Gráficas o seu cliente a comerciais há muito já avanvender? Que tal çaram para comunicação vicriar uma estrutura sual. Muitas de comunicade tecnologia e de ção visual já avançaram para produção que permita tecidos. Por que não consicolocar os produtos derar um novo negócio? dos seus clientes Dentro do mercado têxmais perto dos seus consumidores e ainda por cima reduzindo custos de processos desses clientes? til o uso da impressão digital vem crescendo e máquinas de porte industrial começam a ser instaladas no Brasil. Mas há também o crescimento da impresEspecialmente são direta em tecidos e em em um mercado roupas com equipamentos tradicional, como digitais em menor escala. o de livros. Isso vem abrindo uma ampla possibilidade de ofertas. Olhem o site da Tudu (https://www.tudu.com. br), que pertence ao Fabio Zausner, mesmo dono da Phooto (https:// www.phooto.com.br). Faz a impressão de camisetas com uma aposta vencedora na licença de grandes marcas como a Disney, Netflix e Hello Kitty. E ganhou um enorme impulso ao trabalhar com novos artistas e designers que criam suas coleções e as disponibilizam no site. Um sucesso. Importante: as camisetas são impressas depois de compradas. Com isso a possibilidade de personalização é total, o que ajudou a atrair mais marcas e a estimular os novos artistas, além de menor imobilização em estoque. Lançado em julho de 2020, o site faturou R$ 1,7 milhão só no ano passado. É uma gráfica de camisetas ou uma estamparia? Isso importa? Se declara uma startup de moda. É o que ela é, com base em impressão.
Ainda em tecidos, me chamaram a atenção dois sites internacionais nessa área. Um deles é o Queenie’s home (https://queenieshome.com). Um site voltado à decoração personalizada. Almofadas, travesseiros, roupas de cama, toalhas e uma grande variedade de itens que seguem a mesma filosofia da personalização. Os itens não existem no estoque. Podem ser selecionados por desenhos oferecidos ou criados pelo próprio comprador. Aprovados online, são produzidos digitalmente sob demanda. Um sistema de web-to-print, mas voltado a tecidos.
Tal qual o Motiflow (https://www.motiflow.com), para criação de tecidos, papéis de parede e papéis de presente. Usando modelos prontos ou criando novos, ao gosto do cliente. Um nicho, um foco, um negócio.
Já que estou derivando para outros mercados, porque não olhar outra aplicação que é crescente (e até crescentemente explosiva) em muitas áreas? A de impressão 3D. Muito se tem falado nisso, se é parte ou não do mundo da impressão, já que é o que se chama de fabricação aditiva, onde o objeto é criado em camadas superpostas com os mais diferentes tipos de materiais. Seja como for, e até por se chamar impressão 3D, ela também vem ganhando espaço em produções relacionadas a materiais para ponto de venda e outras aplicações. Que chamam a atenção.
E negócios também podem ser criados em torno disso. Como fez o amigo Rafael Pedreira, exprofessor do Senai, consultor técnico na área gráfica e que fundou a Design in Fill (https:// www.designinfill.com.br) para o desenvolvimento de aplicações e soluções usando impressoras 3D. Um de seus maiores sucessos é o simpático robô Ingrid, que trabalha em feiras, em recepções, movimentandose e interagindo com o público. Muito interessante.
Pois bem, seja em mercados gráficos tradicionais, seja em mercados paralelos ou alternativos, as oportunidades ligadas à indústria de impressão continuam vívidas e abertas. O que não podemos é esperar que as coisas voltem para o que era antes, quando o mundo já não é mais o mesmo.
Dessa forma, temos que nos questionar e buscar outras saídas. Que existem, até mesmo dentro do próprio negócio atual. Que tal buscálas?
Hamilton Terni Costa é diretor da AN Consulting hterni@anconsulting.com.br