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Clovis Castanho
from Revista Abigraf 315
by Abigraf
O Metaverso morreu. Viva o Metaverso!
Clovis Castanho é um dos poucos profissionais brasileiros que pode sustentar o título de especialista em artes gráficas 2D e 3D Formado pela Escola Senai Theobaldo De Nigris, atuou como docente da instituição por mais de 10 anos, participando da criação da Faculdade de Tecnologia Gráfica. Depois de uma década de Xerox no Rio de Janeiro, a partir de 2013 passou a se envolver com a área de experiências imersivas. Pioneiro na entrega de projetos que envolvem tecnologias de Realidade Aumentada e Virtual para aumento de performance de pessoas e processos, é hoje diretor comercial da Spot Soluções. Nesta entrevista, Clovis fala sobre as oportunidades abertas pelo Metaverso na indústria gráfica.
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Você está lançando um livro sobre o Metaverso, com um capítulo sobre a indústria gráfica. Fale sobre ele e a relação que você faz entre esses dois universos.
O livro deve ser finalizado em maio e o título provisório é O Metaverso morreu. Viva o Metaverso! Muita gente se equivoca ao achar que porque a Meta [ex-Facebook] não está indo muito bem, o Metaverso não vai para frente, quando na verdade o negócio está pegando fogo. No último levantamento que fiz, verifiquei aqui algo em torno de 250 empresas investindo em todas as frentes relacionadas ao Metaverso. O número de projetos em que tenho me envolvido só tem crescido. As empresas buscam soluções de Metaverso para as mais diferentes necessidades, seja para criar um ambiente interno de treinamento até aplicações de melhoria de performance.
Esse é um dos primeiros pontos de conexão da indústria gráfica com o Metaverso, certo?
A coisa mais evidente hoje como oportunidade para o ambiente gráfico são treinamentos realizados em ambientes imersivos. Estamos falando desde simuladores que podem fazer com que você seja treinado numa máquina offset de última geração sem necessariamente ter a máquina na sua frente, até treinamentos gerenciais de soft skills.
Na área gráfica ainda não há treinamentos com essa tecnologia, mas na manutenção dos equipamentos sim. Você acha que esse é o caminho natural para a penetração de tecnologias imersivas no setor?
Com certeza. A HP apresentou isso na ExpoPrint 2022. A Xerox tem uma divisão só de manutenção utilizando Realidade Aumentada e outras tantas empresas estão entrando nisso. Quando você entra nessa temática de manutenção ou de orientação do operador para realizar determinada atividade, a facilidade de o operador colocar os óculos e os hologramas sobre a máquina mostrarem o que deve ser feito agrega um valor enorme. Quanto mais a gráfica conseguir reduzir os tempos de máquina parada maior será a produtividade e o lucro.
Quais são as outras aplicações das ferramentas do Metaverso na indústria da impressão?
Falamos da aplicação na parte operacional e agora podemos olhar para as aplicações da Realidade Aumentada no produto gráfico, que eu divido em três categorias. A primeira, é no segmento de embalagens. Uma embalagem pode ser um grande disparador de conteúdos virtuais holográficos, por exemplo, ensinando o consumidor a usar o produto. E essa interação pode gerar dados para o marketing da marca.
O segundo segmento, é dos livros. É possível aplicar inúmeras técnicas em livros de qualquer natureza para o disparo de elementos de Realidade Aumentada, agregando valor através de uma camada digital em cima de um produto. Aí muita gente pode questionar: mas não é a mesma coisa que um QR Code, que também leva o leitor para um conteúdo digital? A questão é que o QR Code transporta o leitor para a Internet. A pessoa se desconecta do impresso. A Realidade Aumentada possibilita que o impresso seja a âncora da informação.
faz muito tempo. Voltar a conversar com a área de marketing ao invés de continuar conversando com a área de compras. O jogo se inverte, o impresso passa a ser visto como solução, não mais como custo.
Mas a Realidade Aumentada não é nova. Todos já ouvimos falar muito sobre isso, mas na prática pouquíssimo foi feito além do Papai Noel em cima do panetone, como você diz. O Metaverso muda algo em relação a esse cenário?
CONTINUAMOS FORMANDO PROFISSIONAIS PARA A ÁREA GRÁFICA COMO SE FAZIA HÁ 20 ANOS. MUDAR ESSE PANORAMA É O PRIMEIRO E TALVEZ
MAIS EFETIVO PASSO PARA ACELERAR A ADOÇÃO DESSA E DE TANTAS OUTRAS TECNOLOGIAS, ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIAS PARA ESSE MERCADO.
Boa parte das pessoas resume o Metaverso ao uso de óculos que nos transportam a um mundo virtual qualquer. Só que o Metaverso não se reduz a isso. Existem várias formas de você se valer desse conceito chamado Metaverso.
No Brasil temos um conjunto de fatores que dificultam a disseminação de projetos de Realidade Aumentada.
E no terceiro segmento, num guardachuva bem mais amplo, estão os impressos comerciais em geral, nos quais você pode colocar, por exemplo, campanhas de incentivo. Pouco antes da pandemia desenvolvemos uma campanha para uma grande rede de supermercado.
A partir do aplicativo do varejista, o consumidor apontava para a gôndola e abriase na sua frente um balão flutuante. Quando o consumidor clicava, explodindo o balão virtual, imediatamente o sistema liberava o desconto de um produto. Mas esse não era um produto qualquer. Por trás, havia um sistema conectado com a área de marketing do supermercado, que identificava qual era a loja em que o consumidor estava, apresentando ali ofertas específicas, dependendo da região, do horário e até da temperatura, a partir de dados do Climatempo. Isso abre uma porta que o gráfico perdeu
O primeiro e maior é o número reduzido de profissionais que realmente conhecem a tecnologia. Raríssimas são as empresas gráficas que oferecem algum tipo de serviço envolvendo a Realidade Aumentada. Número dois: o entendimento de que a aplicação não se restringe a um boneco, um holograma dançando sobre o impresso. A Realidade Aumentada tem de estar conectada a sistemas mais complexos que possibilitem, principalmente, a coleta de dados para as áreas de marketing.
Por que o gráfico é tão refratário à ideia de se aprofundar nesse tipo de tecnologia?
Na minha opinião o problema está, em grande parte, na formação. Continuamos formando profissionais para a área gráfica como se fazia há 20 anos. Mudar esse panorama é o primeiro e talvez mais efetivo passo para acelerar a adoção dessa e de tantas outras tecnologias, absolutamente necessárias para esse mercado.