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ENTREVISTA

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Renault D22

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Temos a obrigação de explicar aos agricultores o que ganham com a digitalização

A maquinaria inteligente, os sistemas de monitorização e as técnicas de inteligência artificial estão na agenda do primeiro laboratório colaborativo português dedicado à agricultura. O objetivo é construir uma ponte entre quem produz inovação e quem a vai aplicar na prática.

POR JOÃO SOBRAL

No recém-criado Smart Farm CoLAB – Laboratório Colaborativo para a Inovação Digital na Agricultura, o Professor José Barata Oliveira é coordenador científico e a Doutora Cátia Pinto é secretária executiva e investigadora. Falámos com ambos via zoom para percebermos que caminhos vai trilhar esta instituição.

A MISSÃO DE UM LABORATÓRIO COLABORATIVO

Cátia Pinto, que tem um percurso profissional focado na digitalização das comunidades microbianas do solo, começou por nos falar do que faz um laboratório colaborativo. “Existe um gap entre aquilo que é a investigação e desenvolvimento e a sua aplicação a nível industrial. Os laboratórios colaborativos vêm permitir a transferência do conhecimento entre as entidades científicas/universidades para responder às necessidades da produção, criando assim valor e competitividade ao sector agrícola.

Para cumprir este propósito, a instituição rodeou-se de parceiros que estão ligados ao setor agrícola em patamares distintos. Na lista estão universidades, empresas de logística e distribuição, e também fabricantes de alfaias, como é o caso da Tomix e da Stagric. “Tentámos cobrir diferentes setores de atividade, sobretudo nas áreas da fruticultura, horticultura e viticultura”, sintetizou.

O OESTE COMO PRIMEIRO ENFOQUE

José Barata Oliveira, cujo percurso profissional e académico está ligado à engenharia eletrónica e à robótica, explicou por que é o SFCoLAB está sediado na região do Oeste. “A Câmara Municipal de Torres Vedras quis e acreditou que era possível fazer um laboratório colaborativo. Além disso, a região do Oeste tem os agricultores mais novos do país e há aqui determinados produtos que são específicos, como a pera rocha. Esta região é o ponto de partida mas a nossa visão é Portugal inteiro. Temos estabelecido contactos com produtores de várias regiões”, esclareceu.

FRUTICULTURA, HORTICULTURA E VITICULTURA

Quisemos saber se é objetivo do SFCoLAB vir a expandir-se à produção animal ou às grandes culturas e José Barata desfez a dúvida. “Sim, mas teremos primeiro de ancorar estas três áreas: fruticultura, horticultura e viticultura. O nosso grande objetivo é a digitalização, que tanto é para tomate, como é para pêra, como é para trigo, porque a tecnologia é a ferramenta para se produzir de forma sustentável, com maior qualidade e conseguindo que toda a cadeia de valor ganhe”, adiantou.

Cátia Pinto

“Somos intermediários na transferência de conhecimento e de tecnologia para aplicação às necessidades reais”.

O SUCESSO DA TECNOLOGIA DEPENDE DAS PESSOAS

O setor da investigação vai gerando resultados, disponibilizando novas ferramentas, seja para combater doenças, seja para utilizar a água de forma mais eficiente, seja para monitorizar as culturas, mas os processos têm de ser reorganizados. “O problema da utilização da maquinaria ou de qualquer inovação é precisar muito do efeito humano. Para que funcione, é preciso envolver as pessoas”, alerta José Barata.

COMUNICAR COM O AGRICULTOR

O SFCoLAB participará em programas de investigação e uma parte importante do trabalho será feita também no domínio da comunicação e da formação. “O grande drama da inovação está na transferência de conhecimento para o utilizador final. Temos a obrigação de chegar junto dos agricultores para lhes explicarmos que a digitalização não é uma moda, mas que é sim algo com que eles têm a ganhar”, acrescentou José Barata. “Precisamos de gente que não fique só no seu laboratório mas que também vá ao terreno e que encontre uma linguagem de interação com o agricultor”, concluiu. ¢

Para percebermos que caminhos vai trilhar o recém-criado Smart Farm CoLAB falámos, via zoom, com a Doutora Cátia Pinto e com o Professor José Barata Oliveira.

JOSÉ BARATA

“Os profissionais do ramo tecnológico não olham ainda para a agricultura como um sítio de futuro para eles”.

EM SÍNTESE

A RASTREABILIDADE DOS ALIMENTOS É UM EXEMPLO DE DIGITALIZAÇÃO

A food traceability (rastreabilidade alimentar) é uma das peças que formam o puzzle da digitalização. “Quando o consumidor olha para as maçãs no supermercado, pode perceber qual foi o trajeto que elas fizeram e qual é a pegada de carbono que têm associada”, afirmou José Barata. A obtenção desta informação requer o envolvimento de toda a cadeia de valor: produtor, armazenista, transportador, retalhista e consumidor.

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