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Pai, filho e os Santos da Casa

Programa Santos da Casa é classificado como segundo melhor programa nacional de rádio de autor. “Nós éramos e continuamos maluquinhos por isto”: rezam os Santos.

- POR RAQUEL LUCAS E ANA FILIPA PAZ -

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Num ambiente de criação “providencial”, que se fazia sentir pelos corredores da Rádio Universidade de Coimbra (RUC), surgia um programa apenas de música portuguesa, o Santos da Casa, que se vinha a consagrar, 31 anos depois, o segundo melhor programa de rádio de autor a nível nacional. Caminhando numa linha ténue entre o Santo e o Herege ao longo dos anos, Fausto da Silva e Nuno Ávila construíram um espaço de divulgação e valorização da música criada por artistas nacionais com menor projeção. Nas emissões, cobrir todos os géneros e passar o maior número de projetos possível são regra. Hoje, de prémio numa mão e terço na outra, recordam os principais marcos dos últimos anos.

Fausto da Silva foi o fundador da ideia, o que se traduziu, após a entrada e saída de colaboradores, na formação do dueto divino com Nuno Ávila, dupla que se mantém responsável pelo programa. O projeto teve como inspiração outros trabalhos de rádio já existentes, que seguiam a mesma temática, dos quais Fausto da Silva fazia parte: “Fiz o “Canto Lusitano”, o “Trovas Lusas” e era para fazer o “Cá se Fazem”, todos antecedentes do Santos da Casa”, conta o radialista. Porém, alterar o nome do programa nunca foi opção.

Tudo começou com cassetes. No entanto, “com o advento da tecnologia, as coisas melhoraram e as bandas passaram a enviar o seu trabalho em CD’s e, agora, em MP3”, explica Nuno Ávila. O locutor confessa que “às vezes se torna difícil fazer a gestão de todas as músicas que chegam ao estúdio e conseguir passá-las na emissão”. Apesar de o sistema se ter revo - lucionado, de acordo com Nuno Ávila, a filosofia do programa permanece: “Mostrar tudo, dentro de todas as áreas, que achamos que tem mais futuro”.

Face ao percurso do projeto, Fausto da Silva conclui que este é um trabalho que, com muita paixão e dedicação, lhe permitiu desenvolver “visões diferentes em relação ao que acontece na música em Portugal e, acima de tudo, uma grande paixão por esta área”. Em tom nostálgico, brinca: “Nós éramos e continuamos maluquinhos por isto”. Na memória ficam as “histórias curiosas de emissões” feitas nas últimas três décadas, relata Nuno Ávila.

Ser considerado o segundo melhor programa de rádio a nível nacional deve-se ao facto de o programa dar visibilidade “a artistas que não têm espaço noutras rádios locais e nacionais”, relata Fausto da Silva. “Nós, para muitos artistas, somos um oásis!”, ri. O radialista sublinha que “existe uma relação de amizade com os artistas que não existe em muitos lados, e um vício em ver concertos, fotografar e estabelecer contacto com as produtoras e os músicos”, o que justifica esta atribuição.

De acordo com Fausto da Silva, a escolha dos artistas para cada programa é feita, muitas vezes, durante a sua realização. “Não existe critério, é uma questão de gosto pessoal e de diversificar a lista de temas”, refere. Nuno Ávila segue os mesmos passos: “a RUC dá-nos essa liberdade, às vezes há temas pelos quais me apaixono e, por isso, passo muitas vezes”. Para o locutor, as rádios que cumprem as quotas mínimas para difusão de música portuguesa “não têm o trabalho de escarafunchar os temas, ficam a bater na mesma tecla”. O Santos da Casa “divulga temas nacionais porque têm qualidade”, reitera.

Após seis anos de programa, nasce o Festival Santos da Casa. A ideia surgiu em março de 1999, no 13º aniversário da RUC. “Foi uma canseira, mas conseguimos fazer com que ficasse tudo impecável, o que nos deu vontade para fazer 25 anos seguidos de Festival”, confessa Nuno Ávila. As edições seguintes procuraram realizar-se em locais distintos, como o “mítico corredor da RUC”. O festival tornou-se nómada, uma vez que “tenta não repetir bandas e atuar sempre em espaços diferentes”, acrescenta.

Segundo Fausto da Silva, “a cidade tem muitos artistas de qualidade, mais ‘underground’, que poucos conhecem”. Nuno Ávila partilha da mesma opinião e acredita que Coimbra está “bem servida” de espaços, estúdios, editoras, programas para divulgar a música portuguesa. No entanto, considera que “ainda há muito a fazer” no que toca ao fomento do consumo cultural em Coimbra. Por isso, defende o apoio a novos músicos, para que “se possam mostrar e saltar daqui para fora”. Fausto da Silva critica a facilidade com que se apoia projetos internacionais, em detrimento dos nacionais. Nesse aspeto, “o Santos da Casa não faz milagres”, remata. A qualidade deste projeto é consensual entre a comunidade artística, que faz questão de consultar a opinião dos Santos na criação de novos projetos e agradecer o apoio do programa das mais variadas formas. Um programa de uma rádio local estar entre os melhores a nível nacional não é milagre, mas só fazia sentido serem os Santos da Casa.

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