Jornal espiritismo para todos agosto de 2015

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ANO 02

Nº 16

Taubaté / SP

Agosto de 2015

O PODER DAS MIGALHAS O que é uma migalha? Que referencial podemos tomar para que possamos definir com a maior precisão possível o que é uma migalha?

No Evangelho, Jesus nos ensina que o supérfluo de um pode saciar a necessidade de outro, portanto, o que é considerado migalha para uns, é uma grande benção para outros!

A VINGANÇA E SUAS FACETAS

Pág.02 CUIDE, CADA HUM, DA SUA PRÓPRIA VIDA! Pág.03

MEDIUNIDADE INFANTIL Pág.04

O VALOR DO AUXILIO

Pág.05

A LEI DO ESQUECIMENTO É JUSTA? Pág.06

A ESTRADA DA VIDA Pág.07

JORGE HEISSEN Pág.09

Pág.03

A VIOLÊNCIA NA VISÃO ESPÍRITA Pág.12


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A VINGANÇA E SUAS FACETAS Já destaquei em vários outros textos que Kardec assevera ter origem no instinto de conservação todas as paixões e vícios do ser humano (“A Gênese” e “O Céu e o Inferno”). Por outro lado em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, a vingança é apontada como o último resquício da barbárie humana. Já foi dito que a vingança é um prato que deve ser servido frio, o que bem demonstra a ação do intelecto já desenvolvido na gestão de atitudes norteadas pelo prazer que a vingança traz… Sim, prazer… Infelizmente esse é o termo, prazer. Por que a vingança é particularmente prazerosa para a maioria das pessoas? O prazer é, grosso modo, a sensação intensamente agradável que um ato ou fato provoca no universo sensorial do ser.Quando o ser humano se sente aviltado, ofendido, seja ou não real a sua desdita, basta imaginar algo de igual intensidade ou até bem pior acontecendo com o desafeto para que uma satisfação se

insinue em sua alma… Quem sabe seja melhor assim… Talvez muitos atos tresloucados sejam evitados pelo mero prazer em imaginar o pior para aqueles que trouxeram dor moral ou física… Talvez… De qualquer modo, o ensinamento cristão aponta no contrazimute de posturas que tais… Jesus ensinou a dar a outra face. Ensinou a perdoar não sete, mas setenta vezes sete vezes… Ensinou a amar aos inimigos… Há quem oculte nos ensinamentos o desejo sorrateiro de vingança, travestindo-o em pensamentos como “Eu o perdôo, mas não queria estar em sua pele diante de Deus!!!”; ou então “Deus vai lhe dar o que merece!!!”… Quem assim pensa, pelo menos já deixou de praticar moto propriu os atos de vingança… Mas continua desejando que o desafeto sofra… Dizem que “ciúme” é desejar que outrem não tenham o que temos, e que “inveja” é não desejar que outrem tenham o que têm (o invejoso muitas

vezes sequer deseja para si o que os outros têm, apenas gostaria que também não tivessem…). A vingança é o desejo mórbido de que a dor que sentimos seja vivenciada pelos nossos desafetos. Curiosamente, o desejo de vingança ocorre até mesmo

quanto a dores que não são nossas… Nesse contexto, continuo concordando com o ensinamento de André Luiz. Tudo indica que a Vida condiciona atração e repulsão no mineral, automatismos fisiológicos no vegetal, instintos

no animal e conduta no ser humano… Depois de evos inteiros na aquisição do enorme tesouro instintivo humano, buscamos condicionar nossa conduta… É o momento da cosmoética determinar os contornos do ser…

TUDO O QUE PENSAMOS CRIA FORMA E SE PROJETA AO REDOR O Espiritismo ensina que tudo o que pensamos cria forma e se projeta de algum modo, tornando-se perceptível a Espíritos que se afinizam com o gênero de ideias dos quais sejamos emissores. Como um filme que se estende ao nosso redor através de nossa emissão fluídica, exibimos as cenas de nossas ideias e estas se tornam visíveis, atraindo ao nosso redor Espíritos simpáticos a nossa forma de pensar. Como ondas de rádio que sintonizam as estações desejadas, atraindo músicas e notícias derivadas desta ou daquela rádio, nosso pensamento emite ondas que afetam regiões equivalentes ao gênero de nossas frequências mentais e de imediato nos vemos rodeados de inúmeros Espíritos que são atraídos por nós, simpatizando-se com nossa forma de ser. É por princípio que muitas vezes nos tornamos alvo de nuvens de Espíritos que encontram em nós, por vezes, uma fonte de gozos e prazeres

EXPEDIENTE Diretoria: ACAM Colaboradores: • Diversos Editoração Eletrônica: Antonio C. Almeida Marcondes Tel.: (12) 3011-1013 e-mail: acam0000@ig.com.br O Jornal não se responsabiliza por matérias assinadas

variados e é por esse motivo que aprendemos, em Espiritismo, a equilibrar os nossos pensamentos, esforçando-nos por tê-los com qualidade, para que entremos em sintonias mais adequadas aos propósitos que desejamos conquistar, seja no estudo ou hábito espírita, seja em nossa rotina pessoal, no envolvimento com nossos semelhantes. Se desejarmos nos envolver com os bons Espíritos, é imprescindível que nos empenhemos em melhores nossas ideias e também os nossos comportamentos, pois é assim que poderemos atrair energias renovadas e em melhor sintonia com as regiões felizes. Os fluidos ao nosso redor se impregnam das nossas energias e se nos habituamos com pensamentos desarmoniosos, inferiorizados, imprimimos, por assim dizer, em nosso ambiente fluídico, essas más energias, energias deletérias, negativas, que aderem não só às energias imponderáveis nas quais estamos mergulhados, mas

também nas palpáveis, como objetos, utensílios, vestimentas e mesmo nas paredes que formam a estrutura de nosso lar. Não sabem, pois, que aquele dotado da psicometria, faculdade anímica, ao tocar em objetos, pode ler neste, cenas ocorridas em outras épocas relacionadas àquele que fora seu dono? É o fluido deixado por este, gravado no objeto,

fluido pessoal que conserva as cenas ocorridas, como se gravada em fita magnética e que pode ser percebida, esta energia, por aquele dotado desta bela faculdade. Assim, o resultado de nossa vida, nosso bom humor, nossa saúde, nosso bom desempenho, muitas vezes se ligam a essas energias confusas, criadas por pensamentos ruins, por

conversas desagradáveis, deixadas pela presença de Espíritos desorganizados e que acabam por afetar o resultado de nossa existência. Esforça-te pelos bons pensamentos, pelas boas ações. Renova tua forma de ver e entender a vida e por certo terás momentos mais felizes no decorrer de teus dias por sobre a Terra. Lionel


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O PODER DAS MIGALHAS O que é uma migalha? Que referencial podemos tomar para que possamos definir com a maior precisão possível o que é uma migalha? No Evangelho, Jesus nos ensina que o supérfluo de um pode saciar a necessidade de outro, portanto, o que é considerado migalha para uns, é uma grande benção para outros! Não podemos desprezar o poder da migalha na caridade e no trabalho junto a Jesus, pois as pequenas coisas que fazemos, na realidade são grandes atos aos olhos de Deus, de Mãe Maria e de Jesus, e cada um destes atos pode, por menores que seja, salvar uma vida ou tirar alguém do desespero ou tantas outras bênçãos que bem podemos imaginar: Um prato de comida dividido, ainda que pequeno pode tira a fome desesperadora de alguém; Uma pequena roupa, ainda que velha, pode livrar um irmão

da nudez e do frio; Uma moeda, ainda que valha pouco, pode satisfazer alguma necessidade do próximo; Um gesto, uma palavra amiga, consoladora, ainda que venha de nós, pobre pecadores, pode atenuar um sofrimento, um desespero e suas funestas consequências; Um perdão pode fazer externar o que nosso “inimigo momentâneo” tem de bom dentro de si; Um bom exemplo, ainda que vindo de pessoas falhas como nós, pode educar e fazer crescer a fé; Portanto meus irmãos em Cristo, não existem migalhas na seara do mestre, existem pequenos atos que se tornam grandes benefícios para quem está necessitado, e, como disse Jesus, seremos beneficiados com o cêntuplo do que plantarmos de bom e distribuirmos aos nossos irmãos. Lembremos que, através

destas migalhas, Jesus nos convida ao serviço, e a aplicação da lei do seu jugo, que é a Lei do Amor e da Caridade. Ninguém pode se omitir dizendo que é muito pecador ou muito pobre para se oferecer a Jesus no seu trabalho, nesta “ultima hora” que atravessamos antes da completa regeneração de nosso planeta escola, pois até as migalhas, com Jesus, são bem vindas e transformadas em grandes benesses para nossos irmãos. Estas migalhas vão se tornando o nosso tesouro no céu, aquele que Jesus ensinou que o ladrão não rouba nem a traça ou os vermes comem! Também acordemos, vejamos e agradeçamos as migalhas que alguém nos envia e que para nós são as grandes bênçãos de nossas vidas! Obrigado Senhor meu Deus, Obrigado Mãe Maria, Obrigado Jesus! Obrigado meus irmãos, pela migalha de atenção e

carinho que todos dirigem a mim a e minha família. Que todos sejam abençoados pelas migalhas de graças divinas, afinal somos

centelhas, ou migalhas divinas, tentando crescer e se tronar dignos de sermos Seareiros do Cristo. Max Almeida Leahy,

CUIDE, CADA UM, DA SUA PRÓPRIA VIDA! Importante meditação nos propõe o escritor, que, à primeira vista, poderíamos imaginar que se trata de um escritor do Oriente, um árabe, um sírio etc., etc., mas que na verdade se trata do pseudônimo de um ilustre professor de matemática brasileiro, autor de dezenas de livros não só de didáticos, mas, também de contos lindíssimos, todos eles contendo uma mensagem de elevado cunho moral e cristão, embora falasse em Alá como se fosse um maometano. “Num desses inúmeros e belos trabalhos, Malba Tahan conta que um homem foi levado a conhecer por breves minutos o Livro da Vida, um livrão onde estava escrito o que iria acontecer na vida de cada um de nós. A esse livro a pessoa só tinha acesso uma única vez e por breves instantes, durante toda sua existência terrena, e, ao lado do referido livro, havia um lápis e uma borracha para que se pudesse fazer alguma correção, no que se desejasse modificar, e, com isso, alterar o futuro do indivíduo. Uma vez diante do livro da vida, aquele homem examinou o que iria acontecer na vida de seus inimigos. E tendo ali encontrado prognósticos de felicidades, de saúde e alegrias em suas vidas no porvir, não se fez de rogado; apagou as coisas boas substituindo-as por dissabores, doenças e aborrecimentos. Quando chegou o instante de abrir a página de sua própria vida, a fim de ler o que lhe estava destinado, eis que o

cicerone o adverte de que o seu tempo havia findado, e por essa razão ele não poderia mais continuar a consulta nem por mais um segundo, o que fez com que o nosso personagem saísse dali muito triste e amargurado, pois sabia que não mais teria outra oportunidade de consultá-lo e modificar para melhor a sua vida”. Mesmo sabendo que o conto acima trata de uma ficção criada pelo inteligente autor, podemos retirar dele inúmeras conclusões para nossas reflexões, pois muitos de nós ainda vivemos muito mais preocupados com a vida do nosso semelhante do que com a nossa própria vida. Vigiamos o comportamento do nosso próximo, o que ele faz, como está vestido, como conseguiu comprar o carro novo, quando nós estamos em dificuldades permanentes; o que nos falou o nosso familiar numa hora infeliz de discussão, e que vivemos a remoer em nosso mundo íntimo, sem conseguir digerir a vontade de dar o troco. Continuamos a dar importância às coisas mesquinhas que nos acontecem, sem valorizar as coisas boas que passam sem que sequer nos demos conta, condenando as atitudes dos outros, sem nos preocuparmos em combater com urgência as nossas imperfeições que são justamente a causa dessa nossa equivocada maneira de viver. Meditemos que cada um de nós tem um determinado tempo para realizar em nosso próprio benefício a reforma íntima de

que estamos carentes de realizar e que, se continuarmos com os mesmos hábitos perniciosos de que nos utilizamos até o presente momento de nossas vidas, poderemos ser surpreendidos de uma hora para outra pela morte do corpo físico, e, só então, nos daremos conta do

tempo que desperdiçamos como juízes da vida alheia. Como nos afirmam os Espíritos Superiores, a encarnação é uma oportunidade que a Soberana Sabedoria do Universo nos concede para nosso progresso e crescimento moral espiritual rumo ao nosso destino final que é a felicidade e

a pureza espiritual, e que esse estado poderá ser apressado ou retardado, dependendo de nossa disposição de crescer, amar e servir cada dia mais e melhor. Que Jesus nos guarde e guie em sua paz, hoje e sempre! Francisco Rebouças


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A PESAGEM DA ALMA É comum falar-se no peso da consciência, mas, também a alma pode ser pesada Há mais de duas décadas, quando nosso companheiro Henrique Rodrigues visitou a URSS, na antiga cortina de ferro, para conhecer os estudos parapsicológicos dos russos, ele se deparou com um trabalho muito bem desenvolvido pelos suecos, que teve a tradução para o francês com o título de “La lourdeur de l’âme” onde narra como os pesquisadores conseguiram detectar um campo de vida que podia ser pesado. Este mesmo “campo de vida” foi estudado por Harold Saxton Burr e mereceu o título de Life’s Field, tendo inclusive, sido traduzido para nosso idioma. Na época, o trabalho do nosso querido Henrique Rodrigues mereceu severas críticas do movimento espírita brasileiro, acusando-o de querer desviar a atenção do estudo doutrinário – diga-se: evangélico, eclesiástico – com assuntos que não fariam parte de uma doutrina voltada para os ensinamentos de Jesus. O Espiritismo brasileiro já não era mais Kardec e, seu principal livro – “O Que é o

Espiritismo” – até fora excluído da relação das obras espíritas que se resumiriam a um alegado “Pentateuco Espírita”, numa demonstração tácita de que a codificação estava dando lugar a uma nova doutrina com o nome de Espiritismo e que passaria a ser mais uma seita evangélica cultuando Jesus como Cristo salvador. No que consistia a tal “pesagem da alma”? Os pesquisadores suecos usaram de espectrógrafos semelhantes aos empregados nas UTIs e salas cirúrgicas para o controle do aludido campo de vida, porém mais sofisticados, com os quais podiam avaliar o comando da vida exercido por ação de um agente – evidentemente externo – cujo campo atuaria no organismo somático para dar a ele personalidade e vida humana. As cobaias eram agonizantes em estágio final de vida que se prestaram às pesquisas. Para a aludida pesagem da alma os pesquisadores acoplaram ao aparelho espectrográfico um dinamômetro capaz de medir o peso daquele “campo de vida” e verificaram que, no momento agônico, em que o paciente se

transformava em cadáver, o dito dinamômetro registrava a perda de 2dag* (dois decagramaspeso) a menos de 10% e que, todavia, as células orgânicas persistiam vivas, apesar de o paciente se tornar cadáver. Evidentemente, para os “espíritas-evangélicos” isto não tem a menor importância, afinal, não está nos ensinamentos bíblicos do Novo Testamento, nem evangeliza ninguém para sua salvação. Sem dúvida, a definição que A. Kardec deu para “o que seja o Espiritismo” no preâmbulo do supracitado livro, de fato, tem que ser abolida para que a nova corrente espírita brasileira não seja condenada em seus critérios. Só que os estudos suecos servem plenamente para que se tenha como escopo tal estudo dentro do que Kardec previu para sua codificação. Vejamos por que: Quais as principais descobertas da pesquisa? Primeiramente, a vida é comandada por um agente externo que induz em nós um campo para que possa atuar em nosso organismo. O agente externo nada mais é do que o próprio Espírito reencarnante e seu campo foi

definido por Kardec como sendo “perispírito” e que os russos, a partir desta pesquisa adotaram como sendo o “psicossomama” (ou corpo psíquico – alma). Portanto, a experiência pode não ser evangélica, mas comprova o que A. Kardec assinalou em seus estudos. E conclusivamente, há sem dúvida um domínio de existência (para nós, a Espiritualidade) ao qual pertençam tais agentes a fim de que possam atuar sobre a energia amorfa do universo de dar-lhe e forma e vida humana,

coerente, ainda, com as pesquisas físicas de que nem as partículas subatômicas poderiam subsistir se, sobre nosso cosmo, não atuassem os ditos “agentes estruturadores” capazes de modular a energia cósmica amorfa e dar-lhe forma de partícula material. Se o Espiritismo se transformar em mais uma doutrina evangélica, onde os cientistas irão buscar os fundamentos para a filosofia da existência de vida, até mesmo, obedecendo ao preceito de Jesus quando disse que “assim como fizeres assim acharás”?

MEDIUNIDADE INFANTIL Em que idade se pode ocupar, sem inconvenientes, de mediunidade?” “Não há idade precisa, tudo dependendo inteiramente do desenvolvimento físico e, ainda mais, do desenvolvimento moral. Há crianças de 12 anos a quem tal coisa afetará menos do que a algumas pessoas já feitas…” O Livro dos Médiuns – Cap. XVIII Dos inconvenientes e perigos da mediunidade “Derramarei do meu Espírito sobre toda criatura humana. Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os jovens terão visões e os velhos terão sonhos.” Atos dos Apóstolos, Profeta Joel, cap. 2 – Vers.17 Não há dúvida de que a predição bíblica do profeta Joel, acima descrita, refere-se às manifestações mediúnicas e já alertava para o momento em que esses fenômenos seriam bastante evidentes, principalmente entre os jovens e as crianças. Ora, sendo a mediunidade um atributo natural, não se justifica haver tanta estranheza quando o Espírito, durante sua infância física, a apresenta de modo claro e inequívoco. Durante os primeiros anos de sua nova encarnação, as ligações entre o Espírito e o corpo físico são mais flexíveis. Isso permite um maior entrosamento entre o indivíduo

encarnado e aqueles que se encontram na erraticidade. A falta de esclarecimentos leva muita gente a atribuir as faculdades mediúnicas que se manifestam na infância a fantasias decorrentes da idade e as ignora. Ou, o que é pior, ridiculariza e reprime a criança, provocando conflitos interiores que podem lhe trazer, no futuro, prejuízos psíquicos e morais. Se levarmos em conta as palavras de Jesus, chegaremos à conclusão de que toda criança que manifeste sinais de mediunidade deve ser levada muito a sério. Por que o Mestre faria tal citação, se não houvesse relevantes razões para este processo? Todo médium, independentemente da idade de seu corpo físico, deve ser orientado e estimulado a buscar esclarecimentos, a fim de conhecer a utilidade das faculdades que lhe foram atribuídas pela espiritualidade. Mas, quando se trata de uma criança, essa necessidade é ainda maior, porque a criança não dispõe de vontade própria, não é dona de suas ações. Cabe ao adulto, a quem ela foi confiada, encaminhá-la e oferecer-lhe toda a segurança necessária para a sua devida preparação. A participação de crianças e adolescentes médiuns, durante as comunicações espirituais que permitiram a elaboração das obras da codificação espírita, foi de suma

importância. Por que agora seria diferente? O que leva um adulto a duvidar de uma criança que afirme estar ouvindo vozes, vendo Espíritos, ou até mesmo sendo importunada por “amiguinhos invisíveis”? Incredulidade? Comodidade? Ou algo bem mais grave, como estar se submetendo à influência de obsessores que têm por objetivo atrapalhar o cumprimento da tarefa assumida por aquele indivíduo? O PEQUENO MÉDIUM No novo romance de Roberto de Carvalho, inspirado pelo Espírito Basílio, intitulado O Pequeno Médium (Editora Aliança), as faculdades mediúnicas de um menino de 12 anos são o foco central da trama, mostrando quão útil pode ser o médium quando bem orientado e devidamente auxiliado para a consecução de suas tarefas. Mostra a responsabilidade dos adultos nessa empreitada, deixando claro que, quando cada um cumpre o seu papel e, com o auxílio indispensável do Alto, não há obra que não possa ser realizada. Vivendo com a avó, num vilarejo de lavradores, Davi é um menino com brilhantes faculdades mediúnicas. A convivência com Espíritos faz parte da sua rotina e só o deixa assustado quando o padre lhe diz que tais visões são artimanhas do demônio. Auxiliado por um Espírito amigo e por pessoas

comprometidas com o espiritismo, Davi é orientado sobre os objetivos de sua mediunidade e, por meio de comunicações recebidas,

consegue evitar que uma grande injustiça seja cometida, envolvendo vários moradores do vilarejo num processo de graves dívidas morais.


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O VALOR DO AUXÍLIO O valor do auxílio não está na intenção do pedinte, mas na intenção do doador. Quem trabalha no bem deve dar sem olhar a quem. Ante a Vida Maior, como ensina Albino Teixeira, o que vale é o que fazemos em favor do bem. Se os que nos procuram trazem o coração envenenado, a mente cheia de suspeitas injustas e o ardil nos lábios, é evidente que são os mais necessitados. Pois pode haver maior necessidade do que aquela que ignora a si mesma? Se os Espíritos Superiores não advertem o médium quanto as más intenções do consulente, é porque este deve ser socorrido e o médium precisa aprender a auxiliar até mesmo quando enganado. O resultado das boas ações é computado pela

evolução. O galhofeiro de hoje evoluirá amanhã e acabará por envergonhar-se de si próprio. Precisamos considerar que a Terra é ainda um reduto da ignorância. O consulente ardiloso ignora a extensão da sua maldade. Tanto assim que busca a verdade através da mentira. Não compreende a importância do ato mediúnico e por isso não pode avaliar o que faz. Age inconscientemente no uso da própria consciência. Pode haver maior alienação do que essa? O médium, pelo contrário, está na plena posse da sua consciência voltada para o bem. Pode haver maior integridade moral no comportamento humano? Que importa se o consulente alardear que enganou o médium? Acaso o

médium não é uma criatura humana e, portanto, falível? Quer o médium gozar da infalibilidade, quer ter algum privilegio na sua condição humana? Mediunidade a serviço do bem é aprendizado como qualquer outro. Se o médium se sentisse infalível, estaria à beira da falência. É melhor falir entre os homens ou perante os homens, por amor, do que falir ante a Espiritualidade Superior por vaidade e orgulho. A obra mediúnica sincera e nobre não é afetada por alguns episódios de prova. Os benefícios semeados através do trabalho digno não são depreciados pela maledicência e a ignorância. Os que receberam o bem de que necessitavam saberão multiplicá-lo ao seu redor.

Porque grande é o clamor dos que sofrem e mesquinho o esgar dos zombeteiros. Prosseguir no bom combate, à maneira de Paulo, é o dever de todos os

médiuns a serviço do bem. Por Irmão Saulo – Do livro: Diálogo dos Vivos, Médium: Francisco Cândido Xavier e J. Herculano Pires.

CONSIDERAR-SE ESPÍRITA O espírita não conhece a Doutrina dos Espíritos ! Infelizmente vemos muitos dos irmãos que se julgam no ideal espírita propagando idéias nobres, mas com nenhum embasamento na Codificação Espírita. Estamos muito mais preocupados nas manifestações mediúnicas que esquecemos que os espíritos das trevas também se comunicam e procuram de todas as formas interferir na propagação da doutrina. Antes do desenvolvimento mediúnico devemos desenvolver o conhecimento referente a proposta Espírita. Vemos diversos Centros e Núcleos Espíritas ministrando cursos sobre a doutrina, mas esquecendo de utilizar as obras básicas do espiritismo como pilar de sustentação desses ensinamentos. O Livro dos Espíritos como principal obra de conhecimento geral da doutrina. O Evangelho Segundo o Espiritismo, como o grande instrutor moral. A obra de luz que nos trás a explicação dos ensinamentos do Mestre. O Livro dos Médiuns como o grande revelador da comunicabilidade dos espíritos, como o grande instrutor dos fenômenos mediúnicos ensinando que todos nós somos medianeiros do plano espiritual. Escolher o que vamos transmitir depende da nossa conduta de vida, da eliminação dos sentimentos inferiores que ainda vivem em nós e principalmente da nossa instrução espiritual. Falta ainda considerar os livros que completam a codificação espírita, O Céu e o Inferno e a A Gênese, para estudos mais profundos. Fico espantado com depoimentos de pessoas que se dizem espíritas, considerando obras paralelas e conceitos absurdos como verdades

ensinadas pela doutrina. Quem estuda Kardec jamais se manifestaria dessa forma, não poderia se deixar enganar por atavismos de ordem pessoal e por novos dogmas castradores. Quem estuda Kardec, menos ainda teria idéias absurdas que a doutrina está ultrapassada e que deveria ser renovada. Por quem eu pergunto ? Quem de nós encarnados teríamos a capacidade de renovar a doutrina ou até mesmo ser intermediário de espíritos mais nobres do que aqueles que participaram da codificação da Doutrina coordenada pelo Espírito de Verdade ? Como somos pequeninos, sempre deixando que o nosso orgulho domine os nossos pensamentos e as nossas atitudes, esquecendo que estamos na escola do mundo para aprender. A Doutrina Espírita é uma doutrina libertadora que nos trás a responsabilidade das nossas atitudes, demonstra através da reencarnação o aprendizado continuo, que nos revela as provas renovadoras educando o nosso espírito para a vida verdadeira, dando-nos a oportunidade de demonstrar na carne o aprendizado sincero que tivemos no plano espiritual. Devemos lembrar sempre que os ensinamentos vem do plano espiritual para o plano físico, que o aprendizado está aqui, mas os ensinamentos vem de lá. Através do aprendizado, demonstramos como espíritos encarnados, nas nossas atitudes, a busca do aprimoramento moral, a eliminação do orgulho e do egoísmo, entendendo que as provas estão na superação das nossas más tendências reanimadas pelas paixões da vida material. Como adquirir tal entendimento sem o estudo da

doutrina ? Como não nos deixar conduzir pelo extraordinário, pela fé cega e pelas enganações do mundo sem o estudo edificador ? Só encontraremos o entendimento da espiritualidade estudando Kardec ! Sabemos que através da psicografia missionária do nosso querido irmão Francisco Cândido Xavier, a maior “antena” mediúnica de todos os tempos, foram estendidos diversos ensinamentos já explicados pelos espíritos superiores à Kardec. Como demonstrado nos estudos aprofundados da mediunidade pelo grande espírito de André Luiz. Também pela grandiosidade dos estudos de vida e nas revelações edificantes nos livros do nobre espírito de Emmanuel, isso sem considerar os demais irmãos da espiritualidade maior que também escreveram obras importantíssimas através da psicografia iluminada de Chico Xavier. Não devemos esquecer a grande obra psicológica, de uma profundidade sem igual, do nobre espírito de Joana de Ângelis, psicografado pelo maior orador espírita que conhecemos, Divaldo Pereira Franco. São trabalhos com tanto conteúdo, materiais riquíssimos, mas infelizmente pouquíssimo utilizados. Claro, o ser humano procura a solução mágica dos seus problemas, não se interessa pela busca do conhecimento que sustenta a

marcha do progresso. Quanto mais aprendermos maior é a responsabilidade, enquanto que o mágico nos trás a beleza, o encanto pelo extraordinário, dessa forma porque procurar o trabalho, a responsabilidade e o estudo que nos obrigada a fazer o certo ? Hora, seremos chamados no tribunal da justiça Divina para dar conta do que nos foi dado, e o que poderemos dizer aos emissários do Pai senão que deixamos o egoísmo, o orgulho, a preguiça e todos os demais sentimentos inferiores dominarem o nosso espírito e pedir misericórdia por mais uma

oportunidade, uma nova reencarnação ? Não nos enganemos, mesmo procurando o mágico a responsabilidade baterá a nossa porta. Somos responsáveis pelos nossos atos. A hora é essa, o momento é agora, vamos usar a oportunidade que a misericórdia de Deus nos concedeu para o nosso aperfeiçoamento moral, somando o estudo sério da Doutrina dos Espíritos e a dedicação à nossa reforma moral, conduzindo os nossos passos na sublime mensagem do divino Mestre Nazareno. “Fora da caridade não há salvação !”


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A LEI DO ESQUECIMENTO É JUSTA? Dia desses, quando proferia uma palestra num Centro Espírita, ouvi, de uma senhora, a seguinte pergunta: – A Lei do Esquecimento é realmente justa? Não seria melhor se nos lembrássemos das nossas ações em existências anteriores? Se soubéssemos quais foram os nossos crimes e quais foram os nossos inimigos, para, então, redobrarmos os nossos esforços no sentido de nos reconciliarmos com eles? O profundo silêncio que o questionamento gerou na platéia e a expectativa que se criou em torno da resposta que eu deveria dar, deixaram claro que muitos dos presentes concordavam com aquela senhora, achando que a Lei do Esquecimento é realmente injusta. Mas, vejamos porque é um grande equívoco pensarmos assim: Todos nós sabemos que muitas pessoas que enfrentam situações de violência, tais como: assaltos, seqüestros, torturas físicas e psicológicas, acidentes graves e outros sinistros dessa natureza, costumam desenvolver a chamada síndrome do pânico. Algumas vítimas ficam num estado tão delicado, que se tornam completamente improdutivas e passam o resto da vida sob tratamento neurológico, causando muita preocupação e transtornos aos seus familiares. Ora, estamos falando de situações que, muitas vezes, nem chegam perto dos traumas que certamente sofremos e promovemos em encarnações passadas, quando a violência era muito mais habitual e à vida humana se dava bem menos valor que nos dias atuais.

Basta fazermos uma pesquisa sobre os métodos bárbaros utilizados pelos dominadores para torturar, humilhar e assassinar os povos dominados, na antiguidade, para chegarmos a esta conclusão. Um desses exemplos é a empalação, um dos mais cruéis métodos de tortura e que foi vastamente utilizada por diversas civilizações do mundo inteiro, sobretudo da Arábia e Europa. A empalação consistia na inserção de uma estaca de madeira no ânus, vagina, ou umbigo do torturado. Depois, essa estaca era fincada no chão e o peso do próprio corpo do supliciado se encarregava de fazer com que ela fosse, aos poucos, traspassando-o de um extremo a outro. A morte, lenta e terrivelmente dolorosa, podia levar horas e até dias para ocorrer. O exemplo citado é só uma pequena amostra das horrendas barbáries que cometemos e a que fomos submetidos no passado.

Ora, sendo Deus justo e amoroso, e conhecedor que é da nossa natureza fraca, permite, a cada nova experiência encarnatória, que sejamos protegidos por um véu que evita a lembrança das experiências anteriores, para que retomemos o curso de trabalho e aprendizado na matéria, livres dos traumas que tais lembranças fatalmente provocariam em nós. Se nos lembrássemos de todos os sofrimentos físicos e morais que presenciamos, promovemos, e a que fomos submetidos, seríamos apenas uma massa humana impotente e improdutiva, dominada por uma coletiva e inevitável síndrome do pânico. Imaginemos se, de repente, a Lei do Esquecimento fosse revogada e nos deparássemos com uma realidade inimaginável diante de nós. Se passássemos a nos lembrar de que fomos torturados, humilhados e assassinados cruelmente por pessoas que hoje fazem parte

do nosso seio familiar e pelas quais, atualmente, devotamos o mais puro sentimento de amor. E se, ao contrário, nos víssemos como torturadores e assassinos de pessoas que atualmente compartilham conosco esse sentimento de amor puro e sincero; entes queridos como nossos filhos, pais, irmãos… Em qualquer uma dessas hipóteses, a vida se tornaria insuportável, porque, ou seríamos assaltados por sentimentos de mágoa, revolta e ódio contra os nossos antigos algozes, ou, se fomos nós os executores, seríamos devorados por um remorso causticante, que certamente nos levaria à loucura. É por este e outros motivos que a Lei do Esquecimento é, assim como todas as leis divinas, irrevogável, justa e boa! Cabe a nós agradecermos a Deus por mais essa dádiva e procurarmos fazer a nossa parte, esforçandonos para praticar o bem; amando, não somente aos nossos amigos, mas também aos

Agosto de 2015 Que Deus nos abençoe!

inimigos e jamais fazendo aos outros aquilo que não gostaríamos que nos fizessem; perdoando aos que nos ofendem, não sete vezes, mas quantas vezes forem necessárias… Enfim, seguindo os ensinamentos de Jesus, estaremos resgatando as nossas dívidas do passado, reconciliando-nos com os antigos inimigos e evitando novas inimizades. E, com toda certeza, quando o passado deixar de ser para nós motivo de revolta, trauma, vergonha e remorso, a Lei do Esquecimento não mais será necessária, uma vez que o seu objetivo é nos proteger de nossas próprias iniquidades. Mas, quando chegar esse momento, estaremos num estágio tão elevado, tão desprovidos de sentimentos mesquinhos e egoísticos, que o passado não terá mais importância para nós e as nossas atenções estarão totalmente voltadas para as boas ações do presente.

ANJOS DA GUARDA – ESPÍRITOS PROTETORES Quem cuida de seu filho quando ele não está sob seus olhos? Você diz que, na escola, os professores são os responsáveis; que em seu lar, você tem uma babá igualmente responsável. Enfim, você sempre acredita que alguém, quando você não estiver por perto, estará de olho nele. Parentes, amigos, contratados à parte, há, também, uma proteção invisível que zela por seu filho. Você pode dizer que é seu anjo de guarda, seu anjo bom. A denominação, em verdade, não importa. O que realmente se faz de importância é esta certeza de que um ser invisível debruça sua atenção sobre seu filho, onde quer que ele esteja. E também sobre você. Não se trata de uma teoria para consolar as mães que ficam distantes de seus filhos longas horas. Ou para quem caminha só nas estradas do Mundo. Refere-se a uma verdade que o homem desde muito tempo percebeu. Basta que nos recordemos de gravuras antigas

que mostram crianças atravessando uma ponte em mau estado, sob o olhar atento de um mensageiro celeste. Ou que evoquemos o livro bíblico de Tobias, onde um anjo acompanha o jovem em seu longo itinerário, devolvendo-o ao pai zeloso, são e salvo. É doce e encantador saber que cada um de nós tem seu anjo de guarda. Um ser que lhe é superior, que o ampara e aconselha. É ele que nos sussurra aos ouvidos: “Detenha o passo! Acalme-se! Espere para agir!” Ou nos incentiva: “Vá em frente! Esforçe-se! Estou com você!” É esse ser que nos ajuda na ascensão da montanha do bem. Um amigo sincero e dedicado, que permanece ao nosso lado por ordem de Deus. Foi Deus quem aí o colocou. e ele permanece por amor de Deus, desempenhando o que lhe constitui bela, mas também penosa missão. Isso porque em muitas ocasiões, ele nos aconselha, sugere e

fazemos ouvidos surdos. Ele se entristece, nesses momentos, por saber que logo mais sofreremos pela nossa rebeldia. Mas não afronta nosso livrearbítrio. Permanece à distância, para agir adiante, outra vez, em nova tentativa. Sua ação é sempre regulada, porque, se fôssemos simplesmente teleguiados por ele, não seríamos responsáveis pelos nossos atos. Também não progrediríamos, se não tivéssemos que pensar, reflexionar e tomar decisões. O fato de não o vermos também tem um fim providencial. Não vendo quem o ampara, o homem se confia a suas próprias forças. E batalha. Executa. Combate para alcançar os objetivos que pretende. Não importa onde estejamos: no cárcere, no hospital, nos lugares de viciação, na solidão, ele sempre estará presente. Esse anjo silencioso e amigo nos acompanha desde o nascimento até a morte. E, muitas vezes, na

vida espiritual. E mesmo através de muitas existências corpóreas, que mais não são do que fases curtíssimas da vida do Espírito. Pense nisso! Você pode ter se transviado no Mundo. Quem sabe, perdido o rumo dos próprios passos. Pense, no entanto, que um missionário do bem e da verdade, que é responsável por você, pela sua guarda, permanece vigilante. Se você quiser, abra os ouvidos da alma e escute-o, retomando as trilhas luminosas. Ninguém, nunca, está totalmente perdido neste

imenso universo de almas e de homens. Pense nisso!


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A ESTRADA DA VIDA A comparação seguinte pode ajudar a fazer compreender as peripécias da vida da alma. Suponhamos uma longa estrada, sobre o percurso da qual se encontram, de distância em distância, mas em intervalos desiguais, florestas que é preciso atravessar; à entrada de cada floresta, a estrada larga e bela é interrompida e não retoma senão na saída. Um viajor segue essa estrada e entra na primeira floresta; mas lá, não mais vereda batida [sem estrada]; um dédalo inextricável no meio do qual se perde; a claridade do Sol desapareceu sob o espesso maciço das árvores; ele erra sem saber para onde vai; enfim, depois de fadigas extraordinárias chega aos confins da floresta, mas abatido de fadiga, rasgado pelos espinhos, machucado pelos calhaus. Lá, reencontra a estrada e a luz, e prossegue seu caminho, procurando se curar de suas feridas. Mais longe, encontra uma segunda floresta, onde o esperam as mesmas dificuldades; mas já tem um pouco de experiência e dela sai menos contundido. Numa, encontra um lenhador que lhe indica a direção que deve seguir e impede-o de se perder. A cada nova travessia a sua habilidade aumenta, se bem que os obstáculos são mais e mais facilmente superados; seguro de reencontrar a bela estrada na saída, essa confiança o sustenta; depois sabe se orientar para encontrála mais facilmente. A estrada termina no cume de uma montanha muito alta, de onde avista todo o percurso desde o ponto de partida; vê também as diferentes florestas que atravessou e se lembra das vicissitudes que experimentou, mas essa lembrança nada tem de penosa, porque alcançou o objetivo; é como o velho soldado que, na calma do lar doméstico, se lembra das batalhas às quais

assistiu. Essas florestas disseminadas sobre a estrada são para ele como pontos negros sobre uma condecoração branca; ele diz a si mesmo: - “Quando estava nessas florestas, nas primeiras sobretudo, como me pareciam longas para atravessar! Parecia-me que não chegaria mais ao fim; tudo me parecia gigantesco e intransponível ao meu redor. E quando penso que, sem esse bravo lenhador que me recolocou no bom caminho, talvez estaria ali ainda! Agora que considero essas mesmas florestas, do ponto de vista onde estou, como me parecem pequenas! Parece-me que, com um passo, teria podido transpô-las; bem mais, a minha vista as penetra e nelas distingo os menores detalhes; vejo até as faltas que cometi.” Então, um velho lhe diz: - Meu filho, eis-te no fim da viagem, mas um repouso indefinido te causaria logo um tédio mortal, e ficarias a lamentar as vicissitudes que experimentaste e que deram atividade aos teus membros e ao teu Espírito. Vês daqui um grande número de viajores sobre a estrada que percorreste, e que, como tu, correm risco de se perder no caminho; tens a experiência, não temes mais nada; vai ao seu encontro e, pelos teus conselhos, trata de guiá-los, a fim de que cheguem mais cedo. - Vou com alegria, redargüe [responde] nosso homem; mas, ajuntou, por que não há uma estrada direta do ponto de partida até aqui? Isso pouparia, aos viajores, passar por essas abomináveis florestas. - Meu filho, replica o velho, olha bem nelas e verás que muitos evitam um certo número delas; são aqueles que, tendo adquirido mais cedo a experiência necessária, sabem tomar um caminho mais direto e mais curto para chegar; mas essa experiência é o fruto do trabalho que as primeiras travessias necessitaram, de tal sorte que não chegam aqui senão em razão de seu mérito. Que saberias, tu mesmo, se por ali não

tivesses passado? A atividade que deveste desdobrar, os recursos de imaginação que te foram necessários para te traçar um caminho, aumentaram os teus conhecimentos e desenvolveram a tua inteligência; sem isso, serias novato como em tua partida. E depois, procurando tirar-te dos embaraços, tu mesmo contribuíste para a melhoria das florestas que atravessaste; o que fizeste é pouca coisa, imperceptível; mas pensa nos milhares de viajores que o fazem também, e que, trabalhando todos para eles, trabalham, sem disso desconfiarem, para o bem comum. Não é justo que recebam o salário de seu trabalho pelo repouso do qual gozam aqui? Que direito teriam a este repouso se nada tivessem feito? - Meu pai, refete o viajor, numa dessas florestas, encontrei um homem que me disse: “Sobre a borda há um imenso abismo que é preciso transpor de um salto; mas, sobre mil, apenas um consegue; todos os outros lhe caem no fundo, numa

fornalha ardente e estão perdidos sem retorno. Esse abismo eu nunca vi.” - Meu filho, é que não existe, de outro modo isso seria uma armadilha abominável estendida a todos os viajores que viessem em minha casa. Eu bem sei que lhes é preciso superar as dificuldades, mas sei também que, cedo ou tarde, as superarão; se tivesse criado impossibilidades para um único, sabendo que deveria sucumbir, teria sido cruel, e com mais forte razão se o fizera para o grande número. Esse abismo é uma alegoria da qual vais ver a explicação. Olha sobre a estrada, nos intervalos das florestas; entre os viajores, vês os que caminham lentamente, com um ar feliz, vês esses amigos que se perderam de vista nos labirintos da floresta, como estão felizes em se reencontrarem na saída; mas, ao lado deles, há outros que se arrastam penosamente; são estropiados e imploram a piedade dos que passam, porque sofrem cruelmente das feridas que, por sua falta, fizeram a si mesmos através das sarças; mas disso se curarão, e isso será, para eles, uma lição

Agosto de 2015 ALLAN KARDEC, Obras Póstumas

da qual aproveitarão na nova floresta que terão que atravessar, e de onde sairão menos machucados. O abismo é a figura dos males que sofrem, e dizendo que sobre mil só um o transpõe, esse homem teve razão, porque o número dos imprudentes é muito grande; mas errou dizendo que, uma vez caído dentro, dele não se sai mais; há sempre uma saída para chegar a mim. Vai, meu filho, vai mostrar essa saída àqueles que estão no fundo do abismo; vai sustentar os feridos da estrada e mostra o caminho àqueles que atravessam as florestas. A estrada é a figura da vida espiritual da alma, sobre o percurso da qual se é mais ou menos feliz; as florestas são as existências corpóreas, onde se trabalha para o seu adiantamento, ao mesmo tempo que para a obra geral;o viajor que chega ao objetivo e que retorna para ajudar aqueles que estão atrasados, é a dos anjos guardiães, missionários de Deus, que encontram a sua felicidade em seu objetivo, mas também na atividade que desdobram para fazerem o bem e obedecerem ao supremo Senhor.


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Agosto de 2015

PODEMOS PARTIR DESSE MUNDO ANTES DA HORA? A hora, o momento, o instante da morte suscita ainda muita incompreensão, mesmo entre espíritas. Normalmente, o delicado assunto vem à baila quando ocorrem fatos inesperados e chocantes, com elevado número de óbitos e extrema comoção social. Os que entendem não haver momento prefixado para a morte até se louvam em textos de O Livro dos Espíritos, mas esquecidos de que estes sempre estão subordinados a um todo, cuja lógica granítica não pode ser apanhada no calor de uma preconcepção que se quer confirmar a todo custo. O n. 746 da Obra-base registrou que o assassinato é grande crime aos olhos de Deus, pois “aquele que tira a vida ao seu semelhante corta o fio de uma existência de expiação ou de missão”, aduzindo a isto que “aí é que está o mal”… A intenção foi desqualificar o crime, valorizando a vida em seus propósitos mais altos, e não propriamente afirmar o absurdo de que seria possível uma pessoa deixar de cumprir sua missão, ou de expiar suas faltas, se uma terceira tentasse e conseguisse matá-la. Houve imprecisão na retórica, mas não serve de exemplo aos mais versados na Filosofia Espírita, preconizadora da bondade e da justiça de Deus acima de tudo. O que não soa bem é que se negue a Providência e se aclame o acaso em nome do Espiritismo, tanto mais lamentavelmente num momento decisivo como o da morte. Segundo Allan Kardec: “O Livro dos Espíritos não é um tratado completo do Espiritismo; apenas apresenta as bases e os pontos fundamentais que se devem

desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação.” (Revista Espírita. Julho de 1866. Perguntas e problemas.) Todavia, não é o caso de recorrer a esta importante advertência do mestre. O próprio Livro dos Espíritos bem estabelece que “fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é” (853). Tal instrução, contudo, não prega o óbvio, o fato biológico de que viver implica necessariamente morrer. O que proclama é que o instante da desencarnação é predeterminado, e não a banalidade de que morrer é inevitável aos mortais. Até porque ao núcleo do sujeito (instante) é que diretamente se dirige o seu predicativo (fatal), com o perdão deste brevíssimo lembrete de sintaxe da nossa Língua. O Livro dos Espíritos revela, portanto, a verdade transcendente de que “qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte ainda não chegou, não morreremos”, acrescendo a isto que “Deus sabe de antemão de que gênero será a morte do homem e, muitas vezes, seu espírito também o sabe, por lhe ter sido isso revelado, quando escolheu tal ou qual existência”. (853-a.) Nesta mesma linha doutrinária, o n. 199 da Obrabase já estabelecera que a morte de uma criança “pode representar, para o espírito que a animava, o complemento de existência precedentemente interrompida antes do momento em que devera terminar”. Os Instrutores da Codificação aludem a um processo deflagrado pelo próprio espírito em vida passada, e que teve por

efeito abreviar-lhe aquela estada física, a qual findou antes do tempo que lhe fora prefixado, motivando a necessidade de uma vida futura mais breve, a interromper-se na infância. Ou será que a alguém acode o pensamento de que tal espírito deve retornar numa nova e mais curta existência porque um terceiro lhe ceifou a vida pregressa antes do momento em que devia terminar? O primeiro padeceria inocentemente o resultado de falta cometida contra si por outrem… Fora zombar da Providência! O que a Doutrina Espírita ensina com precisão é que se for destino de alguém não perecer, ou perecer de tal maneira, assim será; e mesmo a interferência dos espíritos poderá verificar-se para tanto. É o que se lê no Livro que lhes traz o nome (ns. 526, 527 e 528). No “Resumo teórico do móvel das ações humanas”, síntese dos ensinos de O Livro dos Espíritos

acerca da liberdade e da fatalidade, Kardec é muito claro: “No que concerne à morte é que o homem se acha submetido, em absoluto, à inexorável lei da fatalidade, por isso que não pode escapar à sentença que lhe marca o termo da existência, nem ao gênero de morte que haja de cortar a esta o fio” (n. 872). Assim, no caso do assassinato em foco no n. 746 da Obra-base, a existência de expiação, ou de missão, foi interrompida dessa forma porque Deus o permitiu, em função de haver chegado a hora, o instante, o momento de seu fim. Todavia, não se conclua daí que haja redução de responsabilidade do assassino. Cometeu voluntariamente um crime, dívida que haverá de saldar a seu tempo. Exceto mediante práticas suicidas, não é possível partir deste mundo antes da hora. Para uns, será o instante e

o gênero da morte uma expiação; para outros, mera prova. Conforme o axioma kardeciano: “[…] a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação”. (O Ev. seg. o Esp., cap. V, n. 9.) A morte, porém, acontecerá no momento preciso, individual ou coletivamente; sendo certo que, de modo imprevisto, ninguém desencarnará vítima de falta alheia, o que, entretanto, não supõe a predeterminação do ato equívoco, mas a infalibilidade da Divina Lei. O Juiz, neste caso, lavra em termos irrepreensíveis o seu veredictum, porquanto, “para Deus, o passado e o futuro são o presente”. (Kardec. A Gênese. Frontispício.) Aos infratores, as dívidas; às “vítimas”, a liberdade, o progresso espiritual, quer por simples prova, quer por expiação. Dr. Sérgio Felipe

entender a palavra sofrimento, devemos pensar da seguinte forma: Achamos que o prazer não alcançado, a roupa não comprada, a viagem não realizada, o carro que não conquistamos são sofrimentos, mas na verdade são frutos do nosso egoísmo. Os sofrimentos verdadeiros que nos levam a renuncia, ao entendimento das leis do Pai, são as doenças incuráveis, um filho querido envolvido na ilusão das drogas, um pai de família desempregado envolvido nos problemas do alcoolismo. Todos esses sofrimentos devem ser superados através

do amor, são reparações dos erros cometidos em outras vidas, mas que vem vividos serão luzes na senda divina do Reino dos Céus. Pensemos em nossas atitudes e conquistemos a alegria de viver na caridade sublime que Jesus nos ensinou.

AO JOVEM A juventude é o momento do auto-conhecimento, inicio de uma grande mudança íntima, pois começa o despertar para a grande responsabilidade futura. Momentos de grandes conflitos, dúvidas do porvir, e por isso muitas vezes os jovens se rebelam contra o que não sabem explicar. Alguns mesmo com grande estrutura moral familiar, se desviam do caminho que lhes trará grandes alegrias futuras, entrando assim na ilusão dos ganhos fáceis ou no gozo de prazeres nada dignos. Nesse momento de tantos conflitos e dúvidas, o jovem deve se ligar ao que realmente irá lhe trazer serenidade. Aqueles que não tiveram a possibilidade de participar da evangelização infantil encontram na mocidade o auxilio procurado, conhecerão pessoas da mesma idade que passam pelos mesmos problemas, mas que buscam luz

em vez das trevas. Grande campo de maturidade espiritual no estudo da doutrina espírita os jovens encontrarão, entenderão os seus conflitos e a diferença de pensamento deles para como os adultos. O jovem, como todos nós, busca a sua completude intima, busca algo que o satisfaz e lhe traz prazer, mas esquece que só alcançará esse objetivo no caminho do “ser” e não no caminho de “ter”, prazeres, poder e bens materiais, que na verdade só deixam um grande vazio interior. As realizações profissionais virão com o tempo, após o trabalho árduo do estudo e do aprimoramento pessoal, mas será que depois de alcançar esse objetivo eu posso menosprezar aquele que não almejou a sua busca ? Será que a minha conquista não foi alcançada por auxilio divino

através do mérito do esforço empenhado ? Se eu alcancei esse objetivo, devo eu virar as costas para o meu irmão e deixalo a própria sorte ? Colocando-se no lugar do próximo reavaliaremos a nossa conduta e trabalharemos para melhor conduzir as nossas atitudes, dessa forma os sentimentos serão outros, os conflitos deixarão de existir, pois serão substituídos pelo sentimento da caridade. Jovens, busque substituir os conflitos, as dúvidas pelo bem servir, pela atitude de auxiliar sempre. Não espere facilidades ou recompensas, mas sim a alegria que sentiras das luzes sublimes que desceras do céus até ti. Nada passa desapercebido pelo Pai, e aquele que aceitar o sofrimento em nome do Seu desígnio encontrará muita luz e alegria no verdadeiro lar. Para que possamos


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A “CARNE NUTRE A CARNE” REFLEXÕES DE UM “ONÍVORO” Um leitor e amigo sugeriume comentar sobre a alimentação carnívora. A princípio, não ignoro que a ingestão de carne deriva dos nossos vícios milenários de nutrição. Alega-se também que a nossa atual constituição física ainda depende da alimentação carnívora para a manutenção da saúde e, por consequência, da vida, pois a carne é proteína e proteína é necessária para boa formação muscular, inclusive a cardíaca. Contudo, sei que as substâncias que o nosso corpo necessita também podem ser retirados dos vegetais. É importante saber a princípio se a alimentação animal é, com relação ao homem, contrária à lei da Natureza. Os Benfeitores disseram a Kardec que em razão “da nossa constituição física, a carne nutre a carne, do contrário morremos. A lei de conservação nos prescreve, como um dever, que mantenhamos nossas forças e saúde, para cumprir a lei do trabalho. Temos que nos alimentar conforme exige a nossa organização fisiológica.” [1] Como observamos o ser humano é onívoro [2] e inclui a necessidade de carne em sua alimentação. Foi o Criador que nos constituiu fisiologicamente necessitando de carne. O complexo é nos autoconvencermos de que um dia não necessitaremos mais da carne. Sem dúvida que a frase “a carne nutre a carne” justifica a alimentação carnívora sem remorsos. Porém, há os que defendem que podemos nos esforçar para diminuir a ingestão da carne paulatinamente. Concordo! Para tais vegetarianos há indícios de que a dieta carnívora potencializa o advento de inúmeras doenças que provavelmente têm menores chances de evoluir em pessoas que fazem uso da dieta vegetariana. Este é um bom argumento para a abstenção(da carne), até porque , segundo sustentam os Espíritos, “permitido é ao homem alimentar-se de tudo o que lhe não prejudique a saúde”.[3] Os abstêmios da carne afirmam que há estudos sobre o risco cardiovascular em vegetarianos e onívoros . Constatou-se que a alimentação onívora, com excessos de proteínas e gorduras de origem animal, potencializa eventos cardiovasculares. Ao passo que as dietas à base de ovo, leite e vegetais ou só vegetais apresentaram menores riscos cardiovasculares. Entretanto os cientistas alertaram que ainda é muito cedo para se estabelecer uma relação entre o consumo de carne vermelha e laticínios e o

câncer de próstata, por exemplo, embora afirmem que as descobertas fornecem pistas para o estudo da ligação com a doença. Os abstêmios da carne garantem que a adrenalina produzida no estresse da morte, as toxinas (lixo metabólico) e a ureia que circulavam no organismo quando o animal é morto, se impregnam na carne. Fora os micro-organismos patogênicos: bactérias, vírus, protozoários (nenhum boi ou porco faz check-up antes de morrer). Lembrando que quase a metade da carne consumida no Brasil provém de abatedouros clandestinos, portanto as condições sanitárias são uma roleta- russa, porém com todas as balas no tambor. Será que a prática do vegetarianismo é uma demonstração de evolução espiritual e ser onívoro é, por si só, um sinal de inferioridade moral? Respondo com Chico Xavier que não dispensava um bife acebolado com arroz e feijão. Isso não é lenda, é fato! Pela narrativa dos evangelistas o próprio Cristo comia peixe. O Mestre nunca desaprovou alimento algum. Comumente recorria à figura do pastor e suas ovelhas. Ora, pergunto aqui, para que um pastor criava ovelhas? Seria só para adorno caseiro ou para engordá-las e em seguida comê-las? Se tal situação fosse censurável perante a vida, o Sublime Senhor não usaria essa metáfora, pois o pastor seria pior que o lobo. Sim, Jesus comia peixes, portanto comia carne (peixe não é vegetal), por isso Ele mesmo advertiu que o importante não é o que entra na boca do homem, mas o que sai dela. O que não significa aqui que a frase deva ser interpretada ao pé da letra e de modo extemporâneo para justificar o abuso da ingestão de carne, até porque o abuso é ilícito em tudo. Apesar dos nossos vícios milenários de nutrição e os intransigentes debates em torno do assunto, não creio que comer carne possa acarretar expiações futuras. Contrariamente, a carne ainda serve de base alimentar para muita gente. Além disso a atual tecnologia tem produzido a carne em laboratório, isso sinaliza um futuro sem frigoríficos, abatedouros e

matadouros que não serão mais necessários. Sem adentrar no mérito da decisão particular daqueles que não ingerem carne, que eu respeito profundamente, recorro a Kardec quando inquiriu aos Espíritos se era importante abster-se o homem da alimentação animal, ou de outra qualquer, por expiação. Os Benfeitores explanaram que “era meritório se tal abstenção fosse em benefício dos outros. Aos olhos de Deus, porém, só há mortificação, havendo privação séria e útil. Por isso é que qualificamos de impostores os que apenas aparentemente se privam de alguma coisa.” [4] A Doutrina Espírita não proíbe nada; orienta com o apelo que faz à razão. É uma questão de bom-senso! Se a “carne nutre a carne” nada me obriga a parar de comê-la. Até mesmo porque não são muitas as pessoas que se despojam de alguma coisa em benefício do próximo. Os motivos de alguns

abstêmios da carne, raramente são muito convincentes; os discursos tangem para filosofias espiritualistas que não têm maior aproximação com o Espiritismo. Faço aqui uma ajuizada advertência considerando os médiuns que lidam com serviços mediúnicos de desobsessão. Segundo André Luiz, “a alimentação, durante as horas que precedem o serviço de intercâmbio espiritual, deve ser leve. Nada de estômago cheio. A digestão laboriosa consome grande parcela de energia, impedindo a função mais clara e mais ampla do pensamento, que exige segurança e leveza para exprimir-se nas atividades da desobsessão.”[5] “Aconselháveis os pratos ligeiros e as quantidades mínimas, crendo-nos dispensados de qualquer anotação em torno da impropriedade do álcool, acrescendo observar que os amigos ainda necessitados do uso do fumo e da carne, do café

(Jorge Hessen)

e dos temperos excitantes, estão convidados a lhes reduzirem o uso, durante o dia determinado para a reunião, quando não lhes seja possível a abstenção total, compreendendo-se que a posição ideal será sempre a do participante dos trabalhos que transpõe a porta do templo sem quaisquer problemas alusivos à digestão.”[6] Referências bibliográficas: [1] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: ed. FEB. 2001, perg 723 [2] O termo onívoro vem do latim omnis, que significa todos, e por isso alguns dizem que os onívoros são aqueles capacitados para consumir qualquer tipo de alimento. Seguindo a definição de que onívoro é o ser que se alimenta de carnes e vegetais, podemos dizer que o ser humano é onívoro, embora o hábito de comer carne seja mais ligado a fatores culturais, uma vez que o aparelho digestivo humano se assemelha mais ao dos seres herbívoros. [3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: ed. FEB. 2001, perg 722 [4] XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. Desobsessão, Cap. II, RJ: Ed. FEB, 1973


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AJUDAR SEMPRE, MAS JAMAIS VIVER O PROBLEMA DOS OUTROS No decorrer de nossas vidas devemos lutar contra os sentimentos egoístas, a vaidade, a soberba que o orgulhos nos traz. Devemos sim praticar a grande reforma íntima ativando os sentimentos nobres que estão adormecidos dentro de nós. Jesus, Mestre amoroso, nos ensinou acima de todos os sentimentos a CARIDADE e a HUMILDADE. Disse-nos que fora da caridade não há salvação. Mostrou-nos através dos Seus exemplos a conduta de vida que devemos seguir, com serenidade e paciência diante dos nossos deslizes e dos deslizes dos nossos irmãos. Afinal de contas, Jesus o espírito perfeito que nos serve de instrutor e guia, ensinou-nos a paciência em forma de amor. Até hoje somos rebeldes, desassossegados pelas nossas paixões, mas mesmo assim o Mestre bondoso nos perdoa e nos acolhe em Seus braços

fraternos. Será que continuaremos reclamando dos nossos irmãos, esperando indulgências do Pai e distribuindo incompreensões ? Que caridade é essa que dizemos praticar ? Queremos a misericórdia, o perdão e a infinita bondade, mas passamos adiante o nervosismo, incompreensões, acusações e nos regozijamos com o sofrimento alheio ? Está na hora de sermos humildes, saber que quanto mais estudamos mais compreendemos que nada sabemos e que estamos longe do conhecimento universal. Está na hora de praticarmos a caridade sem interesse, com amor, mas nunca vivenciar o problema dos outros. Ajudar conforme as nossas possibilidades, sem invadir a necessidade de aprendizado do nosso irmão, se assim o fizermos seremos tão culpados na sua derrota quanto ele próprio.

IMUNIDADE ESPÍRITA Se pensas que por ser espírita estás livre das dores e das provas, das dificuldades e do burilamento, revê sua idéia e reflete. Deus é muito sábio em suas ações e não põe à prova dia a dia. Não somos privilegiados. O indivíduo pode conquistar sim, proteção maior, mas compete ao mesmo o trabalho incessante e a confiança no bem para que só assim adquira a simpatia dos bons espíritos. Ser espírita simplesmente não nos afasta de espíritos perturbadores que lutam dia a dia contra nossa ação no bem, pela simples inveja ao bem e à paz. Busca a proteção em ações que atraiam os bons ao seu redor. Ama e ajuda na medida de suas possibilidades, mas faz isso sempre. Glorifica a própria vida em benefício aos irmãos mais necessitados e procura em teu coração a presença de Deus através da prece e do desejo do bem. Quantos irmãos falham em seus compromissos por acreditarem que por terem tal ou tal cargo na casa espírita, estão por isso mesmo livres do mal. Quantos companheiross infelizes julgam-se capacitados a tudo quando na verdade não se especializam em nada, vivendo o pseudoconhecimento, a pseudaevolução. Não basta ter cargos. É necessário administrá-lo com amor; mas de um amor que vá

além da casa religiosa, estendendo-se aos nossos lares, para nossos familiares, para nossos amigos e principalmente para com aqueles que não comungam conosco das mesmas idéias. A proposta da Doutrina Espírita vai muito além de um cargo, de uma posição ou de um nome. Todo apego à fórmulas leva ao enfraquecimento das idéias nobres e abre espaço para a mesquinhez e a pensamentos pequenos que nos trazem sempre a dor e a decepção, que são seus reflexos. Busca aplicar-se, transcendendo além das fórmulas, pois fórmula é matéria, e o espírito paira sobre a matéria na sua essência por ser o reflexo de Deus. Sempre que procuras soluções nas coisas materiais, vai contra tua própria natureza e perde oportunidades, assumindo responsabilidades que poderiam ser evitadas. Na vida, somos sempre os construtores de nossa paz, e essa paz só é conquistada com a paz dos outros, com a contribuição no bem, indo além das espectativas e vivendo em harmonia com as oportunidades que a vida lhe confere. Ora e crê irmão, que Deus a tudo vê, a tudo administra. Segue em frente e reflete. Não se julgue imune. Somos alvos constantes das forças opostas. Mantêm-se vigilante e trabalha, pois Deus trabalha por ti.

Agir no bem, trabalhar sempre na caridade com humildade em nome de Jesus, mas nunca achar que o nosso irmão sofre por injustiça, pois Deus é infinitamente bom, justo e misericordioso. Façamos a nossa parte e deixemos que o aprendizado da

vida faça a sua, o sofrimento burila a alma para a eterna felicidade que nos aguarda no Reino dos Céus. Lembremo-nos sempre, o sofrimento é aprendizado de luz que Deus se utiliza para nos ensinar o caminho correto, mas não procuremos o sofrimento

voluntário e sim sermos voluntário na prática da caridade. Devemos transformar esses sofrimentos em redenção, vivendo com alegria, com felicidade e amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.

OLHANDO PARA O PRÓPRIO CAMINHO Várias pessoas estavam seguindo pelos caminhos da vida. Cada uma delas percorria uma estrada que representava a sua caminhada espiritual. Elas seguiam rumo ao único objetivo possível: Deus e a perfeição do espírito. Várias almas peregrinavam pelos caminhos do mundo, cada qual seguindo a sua trilha de vida. No entanto, algumas pessoas tinham o hábito de se preocupar muito com os passos de outras, e frequentemente olhavam para o lado. Elas intentavam descobrir como a pessoa andava, se estava caminhando corretamente, se o outro já estava mais adiantado do que ela e quem sabe pensavam em tentar atrapalhar o caminho do outro caso estivesse melhor do que nós. Alguns olhavam apenas por simples curiosidade, ou porque gostavam de tomar conta do caminho do outro. Todavia, sempre acontecia algo curioso: as pessoas que se preocupavam demasiadamente com o caminho de outras, acabavam não enxergando os obstáculos do seu próprio caminho. Como ficavam olhando

boa parte do tempo para a estrada alheia, elas esqueciam de olhar a própria estrada. O resultado não poderia ser outro: muitas dessas pessoas não viam as pedras, os buracos, a lama, os animais e outros empecilhos no caminho. Algumas não percebiam as pedras, tropeçavam e levavam um belo tombo; outras ficavam tanto tempo olhando os outros em seus caminhos que acabavam se atrasando e ficavam para trás; outras ainda ficavam distraídas tentando desvendar os passos alheios, e assim se perdiam do seu próprio caminho tendo que reencontralo depois. Mas acontecia também algo interessante: aquelas pessoas que se detinham apenas no seu próprio caminho, observando-o

Hugo Lapa

atentamente, sem ficar se preocupando com a estrada alheia, esses caminhavam mais rápido, conseguiam contornar os obstáculos e não se atrasavam prestando atenção na estrada de outros. Pessoas que se concentravam apenas em sua estrada conseguiam se adiantavam no caminho e colhiam os bons frutos das florestas do espírito que se encontravam mais a frente. Na grande estrada da existência, não fique se preocupando com os passos de outras pessoas, detendo-se naquilo que só compete e interessa ao outro. Cuida apenas do teu próprio caminho! Assim, avançarás na vereda da vida e chegarás ao objetivo primordial.


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Agosto de 2015

Advertência de Amor Fala-nos, o Evangelho do Senhor, que nos futuros dias, por Ele previstos, a dor ganharia dimensões inimagináveis, arrastando multidões ao abismo, ao desespero, fazendo que o delírio e o desequilíbrio aturdissem a Humanidade. Na simbologia profética, Ele caracterizou as horas terríveis, vestindo-as de alegorias. Vivemos hoje esses dias prometidos, sem nenhum retoque nem disfarce. Anunciam-se as horas graves da transformação dos homens, da mudança vibratória do Planeta. Ninguém se engane ou engane a outrem. Clareados pela razão da fé espírita, tenhamos a lucidez do discernimento, a perseverança da convicção e a coragem de porfiar fiéis até o fim. O martirológio prossegue atual; o circo aumentou as suas dimensões; o suplício variou de forma, porém os testemunhos à verdade, ao progresso, são os mesmos. Cultiva a paciência, mantendo, alto e nobre o ideal da fé espírita. Não reajas pelo hábito de reagires. Age pela consciência do equilíbrio.

Não podes ser confundido com aqueles que perderam a fé, que desconhecem o Reino de Deus e se utilizam dos mesmos mecanismos vis para a sobrevivência inglória no corpo e os triunfos mentirosos da ilusão. A consciência de fé proporciona a harmonia da paz, e nela a felicidade real. Convidado ao debate injusto, ao duelo nas disputas inglórias do corpo, renuncia à presunção e sê simples como as aves dos céus, os lírios do campo, confiante em Deus. Nenhum tesouro que se equipare ao bem-estar da consciência reta e pacificada, em harmonia com os Decretos Divinos. Amando o bem no lar, nos grupos sociais, de trabalho e religioso, e na comunidade, o cristão é uma carta viva de Jesus. Nela deve estar presente o Código que foi apresentado na montanha, como diretriz de equilíbrio para os outros, a exteriorizar-se de si próprio. Não te permitas contaminar pelo bafio pestilento da loucura que a todos atinge. Vitimado, banha-te na água lustral do Evangelho; retempera o ânimo; recompõe a atividade;

volta à paz. Vale o esforço a fim de que não fiques na retaguarda, com os elos escravizantes retendote na imposição, para um retorno amargurado. Avançar é a meta; seguir sempre é a diretriz. Não faltarão provocações e tentações, porque estes são dias de loucura. Não te deixes enlouquecer. São horas de agressividade. Não te permitas enfurecer. São momentos de tragédia. Não queiras sucumbir nas mãos dos maus, por motivos que não se justificam. Sucumbir, somente pela glória do serviço a Deus, do irrestrito dever da caridade na vivência suprema do amor. Ora mais, mais um pouco. Vigia mais, advertido quanto ao rolo compressor que avança inexorável, esmagando os distraídos. Os tempos, por fim, chegaram, mas recorda-te, Jesus está conosco. A ação do Bem é sempre discreta e contínua, com metas bem-definidas. Não se deixa entorpecer, quando não compreendida, nem estaciona diante dos obstáculos.

Porque não almeja promoções pessoais nem apoia individualismos, sempre se renova sem fugir às bases, perseverando tempo afora. Quando os ressentimentos aparecem, de imediato são diluídos no próprio trabalho, não havendo lugar para que se atirem espículos venenosos, umas contra as outras pessoas. Jesus é o exemplo máximo que deve servir de Modelo, porquanto, mesmo ultrajado, perseguido sistematicamente, perseverou até o fim.

Se te vinculas a Ele, perceberás o Seu ânimo invadirte o organismo, e nada poderá impedir-te de seguir adiante. Não te preocupes em criar novidades que promovem o ego, mas sustentarás o belo, o bom e o nobre onde estejam. Vitalizado por essa Energia, terás resistência para vencer as tentações da inferioridade moral, tornando-te um pouso de esperança para os desalentados e um estímulo para que se ergam os caídos, experimentando grande felicidade em tudo quanto faças, onde quer que te encontres.

A VERDADEIRA FELICIDADE Rodrigo nasceu numa favela e é um menino muito pobre. Seu pai trabalha na construção civil, mas passa a maior parte do tempo desempregado, já que a saúde debilitada não lhe permite fazer grandes esforços físicos. O único dinheiro garantido para o sustento da família são os minguados pagamentos que a mãe recebe como diarista. Todas as tardes, após a aula, Rodrigo se reúne com seus amigos para jogar futebol numa quadra de esportes existente na única praça que há próximo à favela. A quadra esportiva se situa na parte nobre do bairro. Defronte à praça, há uma linda mansão, protegida por muros bem altos, cercada por frondosas palmeiras e com um belíssimo jardim. Todas as vezes que Rodrigo olha para aquela casa, suspira fundo e pensa: “Se morasse naquela mansão, eu seria muito feliz!” Tiago nasceu em berço de ouro. Seu pai é um empresário muito bem sucedido

e sua mãe trabalha na televisão, apresentando um famoso programa de entretenimentos. Ele mora naquela linda e confortável mansão, defronte à quadra de esportes. Vive cercado de mimos, carinhos e cuidados. Todas as tardes, Tiago, que é paraplégico de nascimento, fica assistindo à algazarra que os meninos da favela fazem na praça, principalmente Rodrigo, que chega com a bola debaixo do braço. Sempre liderando o grupo, distribui as equipes e, depois, driblando os adversários com extrema facilidade, marca muitos gols que são comemorados com magníficas piruetas. Olhando para a quadra de esportes, Tiago suspira fundo e pensa: “Se tivesse aquela saúde, eu seria muito feliz! A impressão de que a felicidade está sempre fugindo de nós, ocorre devido ao esquecimento das provas que nos foram impostas, ou que

escolhemos, para a reparação de faltas cometidas em outras existências. Sendo a Terra um planeta de expiações, é natural que não encontremos aqui a felicidade suprema, mas alguns momentos de alegria que se alternarão com outros de tristezas e decepções. Ocorre que muitas pessoas insistem em se ver como ser material, ignorando ou fingindo ignorar que o objetivo final das experiências encarnatórias é a evolução espiritual, razão de nossas passagens por este planeta. É necessário não nos esquecermos de que somos as mesmas pessoas que aqui estiveram no passado, em diversos estágios evolutivos e que, embora tenhamos galgado alguns degraus nesta escalada, há ainda um longo caminho a ser percorrido. Antigos crimes precisam ser resgatados; faltas cometidas pedem reparações; vícios precisam ser expurgados, maus sentimentos devem ser suplantados… O Espiritismo veio lançar uma luz determinante sobre a questão da felicidade e dos sofrimentos terrenos. Está claro que, mais felizes, ou menos infelizes, são as pessoas que sabem se conduzir melhor na vida ou que escolheram provas menos duras para a encarnação presente. Não quer dizer que todas sejam menos devedoras, mas podem ter solicitado uma experiência menos dolorosa,

adiando para futuras oportunidades a reparação das faltas mais graves. Os menos felizes, ou mais infelizes, são os que escolheram, ou aos quais foi imputada uma encarnação de expiação e reparação de crimes mais pesados. O que ocorre é que, beneficiado pela lei do esquecimento, que tem por objetivo, dentre outras coisas, livrar o Espírito encarnado do constrangimento de saber-se faltoso em experiências anteriores, o homem se revolta. O que provoca essa revolta é a equivocada crença na unicidade da encarnação. Ora, se nós estivéssemos no corpo pela primeira e última vez, seria natural que não nos conformássemos com o sofrimento que nos é imposto, pois nada teríamos a expiar e reparar. Mas, nesse caso, onde estariam a justiça e o infinito amor divinos? Por que teríamos sortes tão

diferenciadas, se fomos todos criados pelo mesmo Deus e se somos igualmente amados por Ele? A explicação do sofrimento presente encontra-se na lei de causa e efeito, a qual determina que todo mal praticado exige uma expiação e uma reparação. Sofremos hoje, porque provocamos sofrimentos no passado e precisamos expiar e reparar as faltas cometidas. Não estamos simplesmente sendo punidos; estamos nos purificando; estamos nos elevando moralmente; estamos tentando “pagar até o último ceitil de nossa dívida”, (S. Mateus, cap. V, vv. 25 e 26.). O objetivo final de todo Espírito é a perfeição absoluta e se essa perfeição exige um estado de pureza a toda prova, é natural, portanto, que haja a penitência pelo sofrimento, pois somente através dele é que o Espírito se depura e encontra a felicidade plena que, definitivamente, não pertence a este mundo.


Espiritismo para todos

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A VIOLÊNCIA NA VISÃO ESPÍRITA Não há no Espiritismo, em seu corpo de doutrina, rigorosamente, uma doutrina criminológica que possa explicar a origem da violência. É verdade, todavia, que as suas teses cardeais incidem fundamentalmente, inevitavelmente, sobre algumas teses da Criminologia e da Psicologia Social. Uma delas, por exemplo, é a do criminoso nato. A filosofia espírita afirma que a predisposição criminal, ou a disposição para o ato violento, vem do espírito e não das glândulas, ou de condição instintiva da criatura, o que revelaria uma condição de imperfeição do Criador”. O que a ciência vê como uma deformação de ordem puramente constitucional ou como instinto primordial do homem, ou, ainda mesmo, como aprendizado ou herança eminentemente cultural, a ciência espiríta compreende por outro prisma, porque leva em consideração, sobretudo, os “antecedentes espirituais”, isto é, o conjunto de disposições e tendências do espírito, e não, propriamente, as anomalias e deficiências da constituição somática ou da estrutura psíquica ou social do indivíduo. O Espiritismo não deixa de conhecer as ações advindas das glândulas ou das pressões sociais e instintivas da criatura. Entretanto, o que ele defende é que nenhum desses fatores tem predominância absoluta porque a maior ou menor propensão para a violência depende, principalmente, do grau de atraso ou adiantamento do espírito. O germe da criminalidade ou da violência está em relação com o estado moral do espírito. As anomalias corporais são instrumentos adequados aos espíritos em determinados tipos de reencarnação, ou seja, há uma evidente correspondência entre a

constituição somática e as provas pelas quais a criatura deverá passar. O Espiritismo, entretanto, não leva suas conclusões ao determinismo absoluto. Em primeiro lugar, porque toda a sua estrutura filosófica-moral parte da premissa da responsabilidade do indivíduo pelos seus próprios atos e, depois, porque a subordinação do indivíduo as influências do organismo e das condições soçiais estão na dependência da evolução moral do mesmo. A visão espírita do que seja o livre-arbítrio e o determinismo é de fundamental importância para o que pretendemos explicar. Para o Espiritismo, eles são conceitos complementares, porque coexistem em relação ao grau de adiantamento ou não do espírito. Só existe livrearbítrio quando também está presente a responsabilidade. A Doutrina Espírita admite o determinismo, mas é importante lembrar que, em sua abordagem, encontraríamos um determinismo “divino”, que é a aquisição do estado de felicidade (uma fatalidade que foi “imposta” a todos nós), e um determinismo “relativo”, em que o espírito recebe suas sanções morais sobre a base de provas e expiações, através da reencarnações sucessivas. O Espiritismo, no entanto, possui, como um dos seus alicerces doutrinários, o livrearbítrio, quando podemos ver, na prática, criaturas que conseguem, na razão de seu desenvolvimento espiritual, vencer suas próprias inibições físicas e resistir as pressões do meio onde vivem, sem fugir das experiências do mundo e sem apelar para qualquer meio de fuga. Sendo assim, a Doutrina Espírita entende o violento como um doente espiritual e não como produto do meio social nem como resultado de uma degenerescência

hereditária e, muito menos ainda, como um ser criado com instinto destruidor, do qual ele Hessen não pode Jorge fugir. Se o indivíduo fosse fruto de seu meio, toda a sociedade bem organizada teria como produto homens de bem. Do mesmo modo, se admitíssemos a tese da hereditariedade, o grau de criminosos numa família oriunda de pais criminosos teria que ser mais elevada do que vemos normalmente. A tese instintivista, que atribui ao homem um instinto de destrutividade (em que fatalmente o homem iria se destruir), vai de encontro a visão espírita de Deus, ja que a presença desse instinto, assim compreendido, não é compatível com a percepção de um Pai de Bondade e Amor. “A Agressividade”, lembranos Joanna de Angêlis, “reponta desde os primeiros dias de vida infantil e deve ser disciplinada pela educação, na sua nobre finalidade de corrigir e criar hábitos salutares.”. A mais importante terapêutica é a prevenção. Ela

exige que todos os adultos busquem o exercício do amor, sob a inspiração da doutrina de Jesus, entendam que precisamos nos moralizar, para que possamos realmente educar as novas gerações e oferecer-lhes um ambiente mais sadio e humano. Richard Sirnonetti nos lembra que “quando a contenção da violência deixar de ser um problerna policial e se transformar em questão de disciplina do próprio indivíduo; quando a paz for produto não da imposição das leis humanas, mas da observação coletiva das leis divinas, então viveremos num mundo melhor.”. Na realidade, o que observamos nos dias atuais é a leviandade de muitos mestres e educadores imaturos, sem habilitação moral para tais propósitos, ou seja, para a educação de novos indivíduos que aportam na crosta terrestre, facilitando a disseminação da violência e da crença de que esta forma de agir é capaz de resolver os problemas da humanidade.

Agosto de 2015 Jaider Rodrigues e Roberto L. V. de Souza

O homem renovado espiritualmente deverá investir contra a chaga da violência através de sua ação reestruturante da sociedade, buscando suprimir a injustiça social, lutando contra todas as situações que fomentam a miséria econômica e instigam o ambiente pernicioso que ora vige, combatendo, acima de tudo, o orgulho, o egoísmo e a indiferença presente no coração de cada um. Nessa visão, o homem entenderá que ninguém pode se omitir sabendo que todo tributo de amor, como a paciência e todo o fruto de luz, como saber, são valiosos tesouros para o futuro na aquisição da paz tão almejada. Diz o mestre Jesus, em o Sermão da Montanha: “Bemaventurados os mansos porque eles herdarão a Terra”, numa alusão clara de que só aqueles que vencerem seus impulsos violentos, fazendo-se construtor da paz, terá a oportunidade de habitar a Terra em seu período de regeneração.”.


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